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Pós-Graduação em “Tecnologias de Comunicação e Multimédia” 2006/2007

A Empresa da “Nova Economia”: O Impacto


das Tecnologias de Informação e
Comunicação nas Empresas
João Pedro A. X. Teixeira
Rua Amália Rodrigues, lote 86, n.º 41
5300-443 Bragança, Portugal
+351914971401
Jpaxt2001@yahoo.co.uk

RESUMO

Com este trabalho pretende-se analisar o impacto das Tecnologias de Informação e


Comunicação (TIC) a nível da estrutura de gestão e arquitectura empresarial. Como
veremos, as TIC influenciam a estratégia de negócio, propondo um modelo dinâmico e
a Internet, quando integrada nos subsistemas de gestão proporcionam ganhos de
eficiência, criando uma vantagem competitiva. Por outro lado, as TIC proporcionam um
maior crescimento económico decorrente de alterações nos processos organizacionais,
soció-culturais e de mercado, bem como alterações nas características dos produtos.
Tudo isto prestando especial atenção à inovação e aprendizagem que garantirão o
próprio progresso das TIC.

Palavras-chave

TIC, Gestão do Conhecimento, Webização Empresarial, Crescimento Económico, E-


Marketplaces.

1 INTRODUÇÃO

“Para os países na vanguarda da economia mundial, o equilíbrio entre o conhecimento


e os recursos modificou-se, chegando ao ponto do conhecimento se transformar no
factor determinante para os níveis de vida – mais importante que os factores terra,
capital ou trabalho. As actuais economias desenvolvidas, bastante avançadas
tecnologicamente, estão realmente baseadas no conhecimento.” [1]

“Nova Economia”? “Sociedade de Informação”? “Sociedade do Conhecimento”?


“Terceira Vaga”? Network Economy? Apresenta-se uma nova era em que incorpora

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características diferentes da era industrial e que através do potencial das tecnologias


de informação e comunicação conduzem à virtualização das relações e serviços.

Esta nova era, dá origem a expectativas ambiciosas em muitos domínios de actividade


e o crescimento explosivo da Internet cria uma expectativa de difusão do
conhecimento, mais rápida e intensa, em todo o espectro da sociedade. As
oportunidades criadas pelas TIC permitem o desenvolvimento de novas empresas, com
a capacidade criativa, adaptadas aos novos modelos organizacionais da sociedade,
oferecendo mais emprego qualificado e sustentável a longo prazo. Por outro lado, a
indústria pode ambicionar níveis mais elevados de competitividade, modernizando-se e
obtendo ganhos de produtividade que se adeqúem ao novo contexto internacional. O
Estado deverá tornar-se mais aberto e transparente recorrendo ao chamado e-
government, possibilitando uma interacção maior entre o cidadão e os organismos
públicos. Culturalmente, espera-se uma identidade mais reforçada com uma maior
participação das comunidades locais e regionais nos movimentos culturais,
beneficiando para tal do acréscimo à acessibilidade, à cultura e à educação decorrente
da diluição do conceito de distância.

Assim sendo, no capítulo 2 procedo ao enquadramento do conhecimento como factor


decisivo do desenvolvimento das TIC, no capítulo 3 analisa-se as transformações
empresariais à luz deste novo paradigma, no capitulo 4 abordo o surgimento das
economias de rede e dos E-Marketpalces e, por fim, no capítulo 5 apresento uma
conclusão.

2 UMA ECONOMIA BASEADA NO CONHECIMENTO

Segundo a teoria económica, os principais factores produtivos são o capital e o


trabalho. No entanto, desde alguns anos um terceiro factor de produção começou a
surgir – o conhecimento – como gerador de riqueza numa economia. Como elemento
exógeno do processo produtivo, o conhecimento esteve sempre presente e possibilitou
o desenvolvimento económico, mas nos últimos anos este adquiriu uma importância
muito maior, devendo-se principalmente a duas questões: por um lado as novas
técnicas de medição, que permitem agora uma melhor visão do conhecimento, por
outro lado, o desenvolvimento das TIC, sua difusão e distribuição através de todos os
sujeitos que configuram a economia.

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Definitivamente, as actuais economias encontram-se submersas num processo de


transformação que significa a passagem de uma economia industrial a uma outra
baseada no conhecimento.

Neste novo contexto, é conveniente gerir correctamente os processos que incentivam à


criação, uso e difusão do conhecimento, convertendo-se esta na tarefa principal de
qualquer economia ou empresa inserida num mundo em constante mudança. É assim
que surge o conceito de gestão do conhecimento, conceito esse que explicarei
seguidamente, bem como a sua ligação com a empresa do século XXI. A gestão do
conhecimento pode então ser entendida como “o processo que continuamente
assegura o desenvolvimento e aplicação de todo o tipo de conhecimentos pertinentes a
uma empresa com o intuito de melhorar a sua capacidade de resolver todo o tipo de
problemas e assim contribuir para a sustentabilidade das suas vantagens
competitivas”[2], ou por outras palavras é a “arte de transformar a informação e os
activos intangíveis em valores constantes para os clientes e trabalhadores”[3]. O
conhecimento tanto na sua categoria de input como de output possui um papel
importante e decisivo no processo de crescimento económico: o investimento em
factores intangíveis cresce mais rapidamente que o investimento em factores físicos; as
empresas que possuem maior investimento em conhecimento apresentam maiores
vantagens competitivas e os trabalhadores com mais formação são normalmente
aqueles que possuem uma melhor remuneração. Consequentemente, somos levados a
pensar que as actuais alterações não se reduzem a um âmbito meramente parcial da
economia, ou a um sujeito económico em particular, sendo sim transformações globais
que afectam não só as regras que pautam as economias modernas no seu conjunto,
bem como as transformações a nível social e empresarial, ou seja uma alteração de
paradigma.

Falar de uma economia baseada no conhecimento implica necessariamente partir do


anterior paradigma económico. Desde os princípios do século XX que a economia era
conhecida como uma economia fordista, cujo nome deriva dos métodos de produção
utilizados nas fábricas de automóveis da Ford nos Estados Unidos da América. Este
modelo económico caracterizou-se pelo aproveitamento da produção em massa, das
vantagens das economias de escala como motor da produção e na especialização das
tarefas produtivas. Neste contexto, qualquer investimento realizado tinha como

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objectivo melhorar o capital fixo da empresa – o principal recurso – o que exigia uma
certa rigidez do processo produtivo, num mercado perfeitamente estandardizado. No
entanto, desde alguns anos a esta parte, o uso intensivo em TIC provocou uma
transformação do paradigma onde assentavam as economias modernas. As formas de
apelidar esta alteração são diversas, desde economias pós-industriais (dando ênfase à
descontinuidade com a economia industrial) a economias pós-fordistas (evidenciando o
fim do paradigma organizativo baseado na especialização e parcelamento do processo
produtivo). A expressão que adopto para esta nova fase é a de uma economia baseada
no conhecimento e esta pode definir-se como a economia baseada na produção,
distribuição e uso do conhecimento e informação. No entanto, do ponto de vista teórico,
a importância crescente do conhecimento e de actividades inovadoras como principais
motores do crescimento económico não são um fenómeno recente. De facto desde os
economistas clássicos a Schumpeter que sempre foi dada uma grande importância à
inovação e à acumulação de conhecimento como veículo para o crescimento
económico a longo prazo. Agora, as razões pela qual o conhecimento ganhou nos
últimos anos um protagonismo maior que o verificado até aí são aquelas já referidas
anteriormente: o desenvolvimento de indicadores, métodos de medição e utilização das
TIC. A justificação estatística deste processo de evolução foi levado a cabo pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que ao
analisar os sectores dos serviços
intensivos em conhecimento tais
como a educação, comunicação e
informação constata que estão a
crescer muito rapidamente,
estimando-se mesmo que mais de
50% do PIB das principais
economias pertencentes à OCDE
estão baseadas no conhecimento
(Figura 1).
Figura 1: Valor Real Acrescentado dos Serviços Baseados
no Conhecimento

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3 A EMPRESA DO NOVO PARADIGMA

No século XXI os sistemas de informação vão cumprindo os objectivos a que se


propunham anteriormente, no entanto na “nova economia” incorporam-se como um
novo factor produtivo. As TIC actualmente não são só uma ferramenta de suporte para
a estratégia de negócio, mas também um elemento indispensável para algumas
estratégias e inclusivamente podem ser a base para definir e configurar novos negócios
ou redefinir os antigos (Figura 2).

Estratégia de Estratégia de Negócio


Negócio

Sistemas de
Informação

Tecnologias
Sistemas de Tecnologias
Informação

Figura 2: O Impacto das TIC a Nível Empresarial

3.1 As Formas de Gestão do Século XXI

A gestão da empresa da “Nova Economia” tende a ser cada vez mais complexa.
Existem princípios e teorias que se mantêm (benchmarking, gestão de conhecimento,
etc.), mas vão se incorporando novas visões e formas de gerir adequadas ao novo
ambiente, utilizando obviamente as possibilidades apresentadas pelas TIC.

A planificação das empresas a nível departamental vai progressivamente caindo em


descrédito, pois a estratégia não pode circunscrever-se a planos pré-estabelecidos
devendo ser uma reflexão permanente da organização empresarial. Neste sentido,
perfila-se um novo conjunto de termos e conceitos que reflecte um estado de
permanente alerta e de acção contínua na empresa do século XXI.

Por seu lado, a relação entre os agentes que intervêm na gestão empresarial são
também mais complexas, requerendo uma maior proximidade, transparência e
confiança. Para tal é talvez necessário estabelecer um vínculo que não seja
meramente contratual, concebendo-se a empresa como um projecto aberto. É claro

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que este projecto aberto não deve ser realizado apenas com o exterior, ou seja é
necessário uma interacção entre a empresa e o trabalhador que estabeleça novos
cenários, naquilo a que poderemos designar de projecto compartido. A aplicação das
TIC a ambos projectos propicia a criação da empresa virtual em que as barreiras do
tempo e do espaço desaparecem completamente. É claro que definir e desenhar o
futuro é, cada vez mais, uma tarefa complicada sendo necessário, por essa razão e
para garantir o futuro do êxito empresarial que valores como a antecipação, inovação e
flexibilidade constituam os elementos chave da cultura do empresário. Desta forma
surgirá uma empresa que transborde vitalidade, componente esta imprescindível com
vista a incorporar a tempo e eficazmente as novas oportunidades de negócio que se
perfilam no mercado.

Inserido na sociedade de informação o conhecimento configura-se um novo activo que


deve também ser gerido. Como já verificamos anteriormente o conhecimento é um
recurso chave na empresa do século XXI e o capital intelectual é o que estabelece a
projecção da empresa no futuro pelo que só os profissionais se apresentam como um
autêntico activo com copyright. Em suma são as pessoas que fazem a diferença nas
empresas e estabelecem as vantagens competitivas essenciais. Neste sentido, a
redução das estruturas hierárquicas devem ser acompanhadas por uma importante
descentralização das funções directivas – é neste sentido que os projectos aberto e
compartido actuam. A liderança assume neste processo um papel importante,
essencial para transmitir e consolidar a visão e os valores empresariais que constituem
a empresa, afastando-a de um conceito assente numa simples soma de componentes
individuais. Tudo isto deverá ser realizado sem nunca esquecer a função social da
empresa e os seus compromissos com a sociedade envolvente.

Em suma, neste novo paradigma há que conseguir combinar adequadamente, o local e


o global, o próximo e o afastado, o particular e o universal. A forma de conseguir
conciliar estes pressupostos assenta, sem dúvida, na Internet, ou seja a gestão da
empresa do século XXI passa obrigatoriamente pela integração desta. Um dos
conceitos que demonstra bem essa integração é o da “webização empresarial”. A
“webização empresarial” é uma designação recente que serve para responder ao
desafio criado pela existência de novos mercados onde, como referi, toda a
organização empresarial passa pela estratégia. No entender de Dr. Francisco Murteira

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Nabo a “‘webização empresarial’ consiste em incorporar, progressivamente, a Internet


na cadeia de valor das actividades empresariais, aprofundando a integração entre
sistemas de informação, os negócios e os mercados, imprimindo descentralização,
‘empowerment’, e responsabilização acrescidas a cada indivíduo. Dito de outro modo, a
webização permite às empresas emergirem com mais facilidade dos dogmas que as
tornaram míopes em relação ao incremento de produtividade e ao explorar de novas
oportunidades, enquanto maximizam os seus valores tradicionais, como a marca,
activos e competências acumuladas durante a sua actividade.”[4] Porque é bom não
esquecer que apesar de podermos considerar a webização uma inovação radical,
existem certos valores que se mantêm. Na “webização” a Internet actua a nível da
“formulação da estratégia, das práticas de gestão, assim como das novas formas de
organização, na reformulação do processo produtivo, na formação e comunicação
interna e externa, na gestão de recursos humanos e no aprofundar da relação entre
parceiros, fornecedores e clientes sem esquecer o marketing relacional”[5]. Não
devemos esquecer, no entanto que este projecto necessita de uma fase de análise e
de estar em relacionado com a estratégia predefinida da empresa. Para além disso, é
necessário ser decomposto em projectos menores e de baixa complexidade que visem
a obtenção de benefícios expectáveis. O processo de “webização” não deve ser
exclusivo dos ambientes tecnológicos das organizações e é a solução viável em
ambientes hiperconcorrênciais.

3.2 O Papel das TIC no Novo Paradigma

As Tecnologias de informação e comunicação são um dos motores principais da


organização empresarial. A sua rápida evolução nos últimos anos propiciou a sua
aplicação em empresas cada vez mais especializadas. Se, nos anos 70 foram
utilizadas na mecanização dos processos administrativos e nos anos 90 para obter
uma organização a nível informático, actualmente transformam-se no núcleo em que
assenta a estrutura e organização das empresas virtuais. Por outro lado, cada vez mais
negócios se apoiam na informação: se na década de 90 se falava no alinhamento dos
sistemas de informação com a estratégia de negócio, hoje em dia podemos falar numa
definição da estratégia de negócio em sintonia com a utilização das TIC.

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No quadro abaixo vemos um resumo da evolução das TIC nas últimas três décadas e a
sua aplicação na organização empresarial. O factor Internet continua a ser o principal
factor de mudança no conjunto das TIC no que diz respeito à inovação, tendo um forte
impacto nas tendências verificadas nos últimos anos e prevendo-se um impacto ainda
maior no futuro. Para além disso, temos que considerar ainda a contínua
miniaturização dos componentes microeléctricos e a diminuição dos custos e logo dos
preços destes, aumentando o nível de fiabilidade e facilidade do seu uso; a continua
evolução dos sistemas e produtos que utilizam TIC, convertendo-se em ferramentas
válidas para o uso doméstico e empresarial; a contínua melhoria dos processos de
interacção humana como os sistemas automatizados com o objectivo de se conseguir
interfaces de manejamento fácil e, por fim, a progressiva migração do analógico para o
digital, do fixo para o móvel e da voz e texto para o multimédia, independentemente da
distância dos sistemas em si (Quadro 1).

197X 198X 199X 200X


Terminais Computador Pessoal Apresentação Network TV/PC
gráfica (GUI) Computing
Bases de dados Bases de dados Bases de dados
hierárquicas relacionais Bases de dados Bases de dados multifuncionais
Tecnologias

distribuídos orientados para objectos


Cabol/Assembler L3G Unix XML
Windows Browsers Java
Transmissão de Cliente/Servidor
dados Redes Internet Sistemas generalizados
Fax
Auto-estradas Telefonia móvel Comunicação
de informação por satélite
Contabilidade Controlo da Produção Sistemas de Sistemas de decisão Gestão do
gestão conhecimento
Administração Fornecedores/Serviços
Aplicações

de recursos Controlo de custos E.I.S. Trabalho em


grupo
Sistemas BackOffice Robótica Tele-serviços
Comércio
Marketing/Vendas Correio electrónico Tele-trabalho electrónico

Quadro 1: O Papel das TIC

De acordo com o quadro, o impacto das novas tendências centra-se principalmente:

– No protocolo IP, que progressivamente se converte numa bandeira para todo o


conjunto das TIC;

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– Nas aplicações, que passam a ser compatíveis com a web, convertendo-se no


interface de facto para todos os conteúdos interactivos e multimédia;

– Na constante focalização dos conteúdos de informação que favorecem a


convergência dos meios, mercados e tecnologias na área das TIC;

– A nível da sociedade e dos indivíduos, no que diz respeito ao mercado de consumo


doméstico;

– No crescimento do comércio electrónico, com especial ênfase para a segurança;

– Na importância da Intranet e Extranet dentro da arquitectura comunicacional das


organizações.

As TIC estiveram sempre presentes na base do desenvolvimento empresarial,


condicionando o modelo de relação interna. Assim, nos anos 70 a existência de
computadores potenciou as mecanizações massivas e proporcionou uma tendência
organizativa baseada na administração. Nos anos 80 aparecem a micro-informática, as
linguagens avançadas, as telecomunicações, etc.. Esta situação originou uma
preocupação menor em relação aos custos e maior em relação aos clientes e à
qualidade do produto ou serviço, passando então de uma empresa centralizada para
processos de intensa descentralização. Neste momento as TIC colocam-nos, com a
implementação das vias de informação, telefonia móvel, multimédia e realidade virtual,
na esteira da empresa virtual e da gestão do conhecimento.

Em definitivo os processos de globalização e de incorporação progressiva e massiva


das TIC supõem novas formas de organização empresarial. Desta forma se passa de
um modelo industrial para um outro baseado na gestão do conhecimento. O modelo
industrial baseava-se numa adequada gestão dos recursos naturais, matérias-primas,
recursos financeiros e recursos humanos, entendidos, no entanto, mais como um stock
do que como um fluxo de mudança permanente. Como vemos na figura 4 a cobertura
das TIC têm sofrido uma grande evolução desde a década de 70. Hoje em dia as TIC
passaram de um mero elemento produtivo para um autêntico motor da estratégia
organizacional, pois não só colaboram na reestruturação e optimização dos processos
como também possibilitam e potenciam a aparição de novos negócios que se baseiam
nessas próprias tecnologias.

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Empresa virtual

Processos orientados para o cliente

Descentralização

Serviços pessoais

Controlo – Integração

Mecanização
1970 1985 200X
Figura 3: A Cobertura das TIC

3.3 Riscos e Oportunidades Para as Empresas

Todo este cenário gera, obviamente, alguma incerteza e abre caminhos onde existem
certos riscos. Tendo em conta este panorama de mudança deve-se ter em conta
diversos aspectos:

– Em primeiro lugar, devemos acatar a evidência: não estamos frente a uma moda
nem ante uma teoria passageira. A alteração existe e não é uma alteração
conjuntural, mas sim estrutural, que afecta e continuará a afectar fortemente as
formas da produção, relação e gestão das organizações empresariais;

– Em segundo lugar, evitar soluções rápidas e pensar estrategicamente. Apesar dos


tempos actuais estarem associados a uma velocidade vertiginosa é necessário
analisar e valorar as mudanças estratégicas. As oportunidades e ameaças que se
associam às vantagens competitivas devem ser analisadas adoptando-se medidas
oportunas, que em alguns casos devem materializar-se em experiências piloto;

– Em terceiro lugar deve-se inovar de forma contínua. Tal como na era industrial,
nesta nova era deve-se inovar mediante a incorporação de novas tecnologias e a
optimização das existentes, principalmente as de recente incorporação, (E-mail,
Internet, Extranet, telefonia móvel, etc.), cuja entrada foi muito brusca;

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– Em quarto lugar é necessário preservar aquilo que é essencial, ou seja é necessário


preservar alguns aspectos essenciais da era anterior, pois a mudança é muito
importante mas as leis da natureza e das relações humanas persistem;

– Por último, temos que ter em conta que todo o período de transição gera um clima
de caos associado ao confronto entre as formas de trabalho actual e as novas que
agora se incorporam.

3.4 As TIC e o Crescimento Económico: Cinco Lógicas de Actuação Para a


Mudança

Neste ponto e recorrendo a um trabalho de investigação realizado por Joris Meijaard [6],
abordo cinco lógicas que, conjuntamente, parecem explicar a essência da “nova
economia”. Estas sequências casuais tratam a vários níveis a relação entre as TIC e o
crescimento económico.

3.4.1 Lógica n.º1 – processos organizacionais

A primeira sequência está relacionada com os processos internos e externos de


negócio, ou seja, os sistemas de actividades que criam valor económico. O uso de
tecnologias de informação cria oportunidades críticas que podem afectar os processos
negociais, particularmente na criação de alternativas em relação às estratégias,
coordenação e comunicação. Por outro lado, os potenciais custos de interacção dentro
e através dos limites organizacionais também estão a mudar, criando novas
oportunidades e gerando mais eficiência. A alteração dos limites nas empresas cria
novos desafios em relação à Investigação e desenvolvimento (I&D). A inovação e a
aprendizagem deverão ser organizadas diferentemente, principalmente entre
organizações.

As novas tecnologias possibilitam a existência de novos mecanismos e soluções que


tornam mais eficientes a organização de inputs, capital e trabalho, na criação de valor.
Não é certo, no entanto, que a produtividade e a performance económica melhore
neste momento. É claro que o conjunto de oportunidades aumenta e a capacidade de
lidar coma informação melhora, ajudando a tomada de decisão, mas a performance só
se verificará se a informação correcta for incluída e se estivermos sempre um passo à
frente em relação às novas alternativas. Se forem cometidos erros é claro que a
performance rapidamente se deteriorará. Será bom não esquecer que em relação à

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organização dos processos económicos, o efeito das TIC é muito complexo. A


quantidade e qualidade de informação relevante aumenta, a complexidade das
tomadas de decisão aumentam e a capacidade de lidar com a informação também
aumenta, no entanto, também o risco de perder antigas ferramentas que eram
eficientes aumentam substancialmente. Ou seja torna-se imperioso que as pessoas
saibam como e quando devem utilizar as novas tecnologias.

Concluindo, o crescimento económico, segundo esta lógica, é conseguido pela


alteração dos custos relativos de interacção, que afecta a gestão das estruturas de
valor das organizações.

3.4.2 Lógica n.º2 – processos de mercado

A segunda sequência lógica diz-nos que o crescimento económico poderá ser


conseguido através de alterações nos processos de mercado, ou seja relativamente ao
impacto das novas ferramentas de processamento de informação nos mecanismos de
distribuição dos bens e serviços desde o B2C (business to consumer), ao B2B
(business to business). Mais especificamente as TIC poderão eliminar uma parte das
ainda existentes imperfeições de mercado.

Grande parte da inércia na responsabilidade das empresas poderá desaparecer devido


a alterações na cadeia de valor a nível organizacional (como o demonstrado na
primeira lógica), e devido a alterações nas operações de mercado. Em principio o
equilíbrio entre a procura e a oferta será conseguido de uma forma mais rápida e mais
barata, o que pode ser verdade nos mercados de inputs e nos mercados de produtos
finais.

O atenuar das imperfeições de mercado pode ter várias faces, seja através de leilões
virtuais, intermediários “market-making”, diversas formas de bolsas on-line, etc. O
atenuar das imperfeições de mercado pode aumentar a concorrência no mesmo, no
que toca a diversos produtos, permitindo uma melhor eficiência na distribuição do
mercado. No entanto, os riscos inerentes ao poder de mercado também aumentam,
devido principalmente ao número de competidores que continua a aumentar e às
oportunidades de abusar desse poder de mercado. Para além disso, a definição do
mercado deixa de ser meramente geográfica e sim baseada nas características dos
produtos, levando a uma melhor organização da cadeia de mercado a nível global. De

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uma forma lenta mas segura, o comportamento dos consumidores modificar-se-á e o


mercado tenderá a aumentar, bem como aparecerão diferentes economias de escala.
A partir deste ponto o crescimento económico será conseguido como o estabelecido na
primeira lógica.

3.4.3 Lógica n.º3 – características do produto

A terceira sequência lógica pela qual as TIC podem gerar o crescimento económico
está relacionada com as inovações produtivas. Para compreender esta questão é
necessário analisar dois tipos de produtos distintos: os produtos novos dos sectores
TIC e os produtos renovado dos sectores mais antigos. Os primeiros (hardware e
software) podem ser vistos como bens intermediários inovadores ou então
componentes. São aplicados na economia maioritariamente como investimentos no
processo de inovação. Os segundos (produtos intensivos em informação) podem ser
vistos como inovações que criam novos mercados e substitutos para produtos já
existentes.

Por outro lado, em primeiro lugar, os produtos intensivos em informação possuem


custos marginais baixos o que implica a existência de novos argumentos e
considerações para grande parte dos empresários e decisores. Torna-se então
importante uma constante avaliação dos retornos de investimento. Em segundo lugar, o
aumento das economias de escala é um aspecto chave para a “network economy” e
para os seus produtos. Os payoffs para o cliente marginal são mínimos para os
primeiros utilizadores da rede, mas tornam-se relativamente grandes para o mesmo
cliente marginal quando a rede é bastante utilizada. Mais importante, os payoffs dos
consumidores, que pagaram anteriormente, estão a aumentar à medida que rede
aumenta. Em terceiro lugar, a gestão do conhecimento pode cultivar a as
externalidades da rede. Então, o crescimento das oportunidades a nível do
processamento de informação e comunicação nas redes trazem duas vantagens: uma
para o utilizador individual e outra para a rede como um todo.

No entanto, a aumento das economias de escala pode trazer uma desvantagem já que
um mercado com produtos nestas condições pode rapidamente tender para o
monopólio. Isto significa que vai existir uma grande competição pelo domínio do
mercado que gera por sua vez uma ineficaz destruição de capital como consequência

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final de uma discriminação de preços levada a cabo pelo monopolista com


consequência nefastas para o consumidor.

3.4.4 Lógica n.º4 – processos soció-culturais

As TIC são um importante catalizador para um grande número de tendências culturais


e sociais. O âmbito dos processos de informação e comunicação geram todo o tipo de
incentivos para uma revolução cultural. Na década anterior assistimos a uma tendência
crescente para uma globalização económica, social e cultural. Os exemplos da Coca-
Cola e da MacDonalds são típicos, mas a UE (União Europeia), ASEAN (Associação
das Nações do Sudeste Asiático), NAFTA (Acordo de Comércio Livre da América do
Norte), MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), etc. são também símbolos. A
globalização torna as organizações mais abertas à criação de parcerias fora do país de
origem. Como resultado a globalização cria um feedback na eficiência das
organizações, dos mercados e, como veremos na sequência lógica seguinte, na
inovação e aprendizagem. Ou seja, no mínimo as oportunidades criadas pelo
desenvolvimento das TIC facilitam a internacionalização e o desaparecimento das
barreiras alfandegárias.

A relação entre o consumidor e o vendedor/produtor alterou-se, afectando a


organização da cadeia de valor (lógica 1), dos mecanismos de mercado (lógia 2) e do
processo de aprendizagem e inovação (lógica 5). É a inovação que fornece ao
consumidor o empowerment e é este que fornece o combustível para a inovação no
mercado.

3.4.5 Lógica n.º5 – inovação e aprendizagem

É, provavelmente o mais importante mecanismo da “nova economia” e como


verificamos, a gestão do conhecimento é fulcral para o crescimento económico.
Convém, no entanto, referir que este mecanismo é o mais importante de todos porque
tem a particularidade de englobar todos os restantes. Primeiro, como mencionado na
lógica 3, o processo de continua aprendizagem e de inovação produz um aumento nos
retornos de escala e na manutenção de custos marginais baixos. Em segundo lugar, e
como o mencionado na lógica 2, a melhoria dos mecanismos de mercado beneficia
directamente a eficiente distribuição dos incentivos à inovação e logo a eficiente
distribuição dos retornos correspondentes. Em terceiro lugar, e como o mencionado na

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lógica 1, a correcta exploração das eficiências produzidas traduz-se na existência de


unidades de produção mais pequenas e mais competentes. Daqui pode surgir um
boom na inovação que, obviamente interage com as oportunidades inerentes do
conhecimento. Por último e de acordo com a lógica 4, a globalização e o poder dado ao
consumidor fortalecem o conhecimento com base no processo de inovação e, no final a
obtenção de melhores bens e serviços.

4 AS REDES EMPRESARIAIS E OS E-MARKETPLACES

O modo de encarar a gestão tem vindo a sofrer alterações profundas. Fenómenos


como a globalização dos mercados e os avanços na área das novas tecnologias de
informação, aliadas à necessidade de conjugar flexibilidade estratégica com custos
baixos, têm implicações significativas no modo de gerir as organizações. Assim a
virtualização das organizações tem sido uma das grandes respostas aos desafios do
mundo actual.

Um número crescente de empresas apresenta estruturas organizacionais que têm


muito pouco a ver com as tradicionalmente divulgadas pelos manuais de gestão e
administração. Assim, centrando na sua actividade core competences, têm vindo a
apostar em estratégias de desintegração vertical, assentes em redes de unidades
económicas interligadas por interesses comuns e por uma forte coordenação das
actividades. Tais redes consubstanciam-se no estabelecimento de parcerias com
concorrentes, na crescente individualização das relações com clientes e numa redução
do número de fornecedores.

A Nike, por exemplo, internamente desenvolve apenas o design dos seus produtos,
bem como o respectivo marketing. Toda a produção é realizada por outsourcers que
operam como verdadeiros parceiros e não como simples fornecedores de serviços. Na
sua globalidade formam uma network que funciona em larga escala como se uma só
empresa se tratasse. As unidades económicas envolvidas na rede sejam elas clientes,
fornecedores ou mesmo concorrentes tendem a ser encarados como parceiros no
negócio. Com uma forte componente de cooperação, as empresas procuram tornar-se
mais ágeis num mundo caracterizado por mutações rápidas e difíceis de prever. Sendo
então verdadeiras constelações de empresas, são mais eficazes no aproveitamento de
oportunidades de mercado, bem como no modo como lidam com eventuais ameaças,

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mas também mais eficientes na utilização de recursos. Pode-se falar mesmo de uma
sobreposição entre estratégias e estruturas. As organizações em rede comportam-se,
em larga medida como se constituíssem uma única grande unidade económica. Deste
modo conseguem compatibilizar custos de produção baixos com flexibilidade
estratégica, uma coisa que era vista como impossível.

A fluidez das relações de troca não só de produtos e serviços mas, principalmente, de


informação é um dos requisitos para o sucesso das redes. Daí que a existência de
“espaços” onde essas trocas se processem com facilidade e flexibilidade funcione
como um dos factores catalisadores da virtualização das organizações. Se esses
espaços existem a nível virtual estamos a falar de um mercado que não existe na sua
forma física, ou seja um “e-marketplace”. Os “e-marketplaces” são ambientes virtuais
que, permitindo o estabelecimento de relações de comércio electrónico entre
empresas, possibilitam o acesso a conteúdos, o desenvolvimento de acções de compra
e venda. Estes são considerados a pedra basilar da “nova economia”. Com efeito, o
envolvimento num mercado deste tipo é actualmente o objectivo primordial de qualquer
empresa que queira aprofundar a sua estratégia no âmbito dos negócios virtuais. As
acções de compra e venda tendem a ser automatizadas, através de uma rede
informatizada, proporcionando significativas reduções de custos e um aumento na
eficácia das empresas. Todas as fases de transacção entre comprador e vendedor,
desde a negociação até ao pagamento, passando pela gestão e consulta do catálogo,
processamento de encomenda e respectiva entrega poderão ser abrangidos por estes
mercados electrónicos. A grande tendência actual passa pela conexão entra vários “e-
marketplaces” de modo a potenciar as vantagens anteriormente enunciadas. Os “e-
marketplaces” são, a curto prazo, a grande infra-estrutura de comercialização dos
negócios mais dinâmicos, e a médio prazo, serão certamente uma condição necessária
à sobrevivência de grande parte das empresas, na medida em que quem estiver de
fora ficará excluído de muitos e certamente melhores negócios. No fundo os “e-
marketplaces” traduzem uma ligação em rede entre várias empresas, ligação essa que
embora não exista no mundo físico, existe no mundo virtual.

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REFERÊNCIAS

[1] UNCTAD, (2002): “E-Commerce and Development Report 2002”, Nações Unidas,
Nova Iorque e Genebra.

[2] ANDREU, R e SIEBER, S. (1999): “La Gestion del Conocimiento”, in


http://www.pcw.net

[3] PRICEWATERHOUSECOOPERS, (2000): “La Gestion del Conocimiento: El Tercer


Factor”, Knowledge Management, Espanha, in http://www.pcw.net

[4] e [5] NABO, Francisco Murteira, (2002): “Os Percalços da Nova Economia”, Diário
Económico

[6] MEIJAARD, J. (2001), “Making Sense of the New Economy: New Economy, New
Entrepreneurs!”; The Netherlands Ministry of Economy Affairs, in http://www.ez.nl

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