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Concordância e
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
_________________________________________________________________________________
N193c
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-2773-6
Morfossintaxe ............................................................................ 33
Os estudos gramaticais............................................................................................................ 33
As unidades linguísticas e os níveis de análise................................................................ 36
Por que morfossintaxe............................................................................................................. 40
Os critérios formal e sintático para a classificação morfológica................................ 42
Pontuação .................................................................................241
A função básica dos sinais de pontuação........................................................................241
Quando pontuar.......................................................................................................................243
Ambiguidades de sentido e pontuação..........................................................................245
O uso da vírgula no período simples................................................................................247
O uso da vírgula no período composto...........................................................................250
O uso do ponto e vírgula.......................................................................................................252
O uso dos dois-pontos...........................................................................................................253
O uso das reticências..............................................................................................................254
O uso do travessão...................................................................................................................255
O uso dos parênteses..............................................................................................................255
O uso das aspas.........................................................................................................................256
Apresentação
Você ainda pode contar com dicas de estudo para cada um desses assun-
tos, sugestões de leituras complementares, uma farta referência que dará suporte
a cada tema tratado e estudos linguísticos com os quais você irá praticar e testar
os conhecimentos adquiridos.
O objeto dos estudos linguísticos
13
O objeto dos estudos linguísticos
Refletindo sobre a posição dos autores quando, na mesma obra, afirmam que
“A língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta, não no
sistema linguístico abstrato das formas da língua nem no psiquismo individual
dos falantes” (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 1929/1982, p. 121) (grifo nosso).
14
O objeto dos estudos linguísticos
Percebeu por que não podemos tratar a língua como um código ou um sis-
tema de sinais autônomos, sem história e fora da realidade social dos falantes?
A língua é muito mais que um mero sistema de formas fonológicas, sintáticas e
lexicais. Como afirma Franchi (1992), a língua é uma atividade constitutiva com
a qual podemos construir sentidos. Não pode ser confundida com gramática,
ortografia ou léxico, pois ela se manifesta nos processos discursivos, concreti-
zando-se em variados gêneros de texto e recorrendo a diferentes linguagens
(verbal e não verbal).
Marcuschi (2001) considera a língua como uma forma cognitiva porque com
ela expressamos sentimentos, ideias, desejos; como uma forma de ação social,
pois com ela podemos agir realizando coisas; e, também, como um sistema sim-
bólico, uma vez que é constituída por um conjunto de signos que pode significar
muitas coisas, mas cujos significados não podem ficar “prisioneiros” no interior
das estruturas morfológicas ou sintáticas, ou seja, apreendidos de forma descon-
textualizada. Para esse linguista, a atividade comum entre produtor e receptor
engajados na interação oral ou escrita não pode ser reduzida a um simples pro-
cesso de codificação (na produção) e de decodificação (na recepção).
15
O objeto dos estudos linguísticos
A linguagem é vista por esse linguista (que apresenta seu postulado a partir
de uma abordagem sociointeracionista), sobretudo, como forma de ação e, nesta
perspectiva, deve ser analisada como atividade e não como estrutura. Entretanto,
o autor nos adverte para um problema que demanda muita reflexão: como cons-
truir uma teoria que equacione estrutura e atividade, que case adequadamente,
por exemplo, sentença e enunciado ou sentença/enunciado/enunciação?
as variantes linguísticas;
17
O objeto dos estudos linguísticos
O autor deixa em aberto outros possíveis enfoques pois, como ele afirma, essa
relação não é exaustiva e nem obedece a uma ordem lógica de problematização.
18
O objeto dos estudos linguísticos
19
O objeto dos estudos linguísticos
Isso significa que as pessoas, para exercer a linguagem, para usar a língua
e para produzir sentidos devem manter o cuidado com a adequação social do
produto linguístico em conformidade com as suas representações da situação
de produção.
Como afirma Neves (2000, p. 53), “só haverá exercício pleno da linguagem se
as escolhas e arranjos estiverem adaptados às condições de produção, incluin-
do os participantes do ato linguístico”. Para a autora, quanto mais a interpreta-
ção estiver próxima da intenção, mais bem sucedida terá sido a comunicação,
incluindo-se até a possibilidade de que a intenção tenha sido uma interpretação
ambígua. Dentro dessa “moldura pragmática que governa a interação”, afirma
a autora que o que se faz é produzir sentido, tanto quem produz o enunciado
quanto quem o recebe.
20
O objeto dos estudos linguísticos
Nesta seção vamos discutir a tese assumida por Saussure (1975) ao definir
o objeto da linguística como sendo a língua (e não a linguagem) definida
como um sistema, cujas unidades são, para o autor, de natureza relacional no
encadeamento linear, ligadas por “relações sintagmáticas”.
21
O objeto dos estudos linguísticos
língua X fala
sincronia X diacronia
significante X significado
sintagmático X paradigmático
social X individual
Texto complementar
22
O objeto dos estudos linguísticos
[...]
3. listar os artigos;
4. classificar os artigos;
23
O objeto dos estudos linguísticos
(1)
[...]
(2)
a. O preço da entrada é X.
b. O preço de uma entrada é X.
c. O preço de entrada é X.
24
O objeto dos estudos linguísticos
(3)
a. João levou seu sobrinho ao parque. O menino pulou no lago
para nadar.
b. João levou seu sobrinho ao parque. Um menino pulou no lago
para nadar.
(4)
a. O grupo do Rio, composto pelos países latino-americanos, deci-
diu que...
b. O grupo do Rio, composto por países latino-americanos, decidiu
que...
(5)
a. A menina de ontem trouxe este recado para você.
b. (?) Uma menina de ontem trouxe este recado para você.
c. Uma menina trouxe este recado para você.
25
O objeto dos estudos linguísticos
Em (5) observamos que (5a) só pode ser usado com o artigo definido por
causa do identificador (de ontem) que se coloca para menina, o que marca
que é uma menina conhecida dos interlocutores. É por isso que (5b) soa estra-
nho, se tivermos uma situação em que “ontem” só se conheceu uma menina.
Para que (5b) seja visto como um texto bem construído, adequado, é preciso
que “ontem” os interlocutores tenham tido contato ou conhecido várias me-
ninas. Neste caso (5b) é adequado e indica que uma das meninas de ontem
trouxe o recado, mas se especifica com precisão qual delas. O texto (5c) só
poderá ser usado em uma situação em que o falante teve contato anterior
com a menina, o ouvinte não. Neste caso a menina é conhecida do falante,
mas não foi referida anteriormente para o ouvinte; assim, usa-se o artigo in-
definido para apresentá-la no texto, como desconhecida ou de forma impre-
cisa (se considerarmos que os dois tiveram contato com várias meninas no
dia anterior, mas não há como especificar qual delas).
(6)
a. João dançou com uma menina.
b. Jô-ão-dan-çou-com-U-MA-me-ni-na.
c. Is-so-vai-dar-UM-bo-de.
d. O- Jô-ão-tem-UM-na-riz.
Nos textos de (6) temos uma oposição entre um texto que tanto pode
ser escrito quanto oral (6a), com entonação normal de uma sequência de-
clarativa e textos que só podem ocorrer na língua oral (6b, c, d), em que
se tem uma pronúncia/entonação silabada com ênfase entonacional no
artigo (tom de voz mais alto), geralmente com um certo alongamento da
vogal “u”. Assim, (6a) significa que João dançou com uma menina X, que
o locutor não sabe quem é. Já em (6b), pela entonação silabada e ênfase,
tem-se mais o sentido de que a menina é muito especial em algum aspecto
(beleza etc.). É uma espécie de superlativo que aparece também em (6c)
(o problema que vai ocorrer é muito grande) e (6d) (o nariz de João é um
nariz muito grande, notável, muito feio). Para Nunes J. (2001), em casos
semelhantes a (6c), em que se tem uma expressão idiomática, a entonação
silabada é obrigatória. A entonação comum só aconteceria sem o artigo
(Isso vai dar bode). O texto de (6d) também não pode ocorrer sem esta
entonação a não ser que se vá qualificar explicitamente o nariz: (*João tem
26
O objeto dos estudos linguísticos
um nariz) parece não ocorrer no português, mas “João tem um nariz feio/
bonito/chato/aquilino” ocorre normalmente.
(7)
a. O meu lar é o botequim.
b. O meu lar é um botequim.
27
O objeto dos estudos linguísticos
Dicas de estudo
A Prática de Linguagem em Sala de Aula: praticando os PCNs, organizado por
Roxane Rojo (São Paulo, EDUC/Campinas (SP), Mercado de Letras, 2000).
Este livro trata das novas descobertas de textos inéditos de Saussure que
estão provocando a (re)discussão sobre aquilo que se considerava a visão saus-
suriana de língua, na forma como foi interpretada pelos discípulos que publica-
ram o Curso de Linguística Geral. Os novos manuscritos de Saussure demonstram
que ele não fechou as portas para o sentido, o uso, o texto ou a enunciação.
Ao contrário, ele tinha uma visão ligada à análise da língua em uso que ia além
daquela que seus discípulos deixaram entrever no curso. Nestes novos textos,
Saussure lembra que a linguagem é discurso, ainda que para ele a unidade de
análise vá até o item lexical ou o sintagma.
Estudos linguísticos
1. Explique com suas palavras por que a língua enquanto prática social tem o
enunciado concreto como realidade fundamental.
28
O objeto dos estudos linguísticos
2. A partir do que foi tratado, complete a tabela com alguns traços diferencia-
dores das concepções de língua que foram discutidas nesta aula e que con-
duzem a diferentes abordagens.
29
O objeto dos estudos linguísticos
Referências
ANTUNES, Irandé. Lutar com Palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola
Editorial, 2005.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 7. ed. Tradução de: CHELI-
NE, A. et al. São Paulo: Cultrix, 1975.
30
O objeto dos estudos linguísticos
Gabarito
1. Porque a língua, enquanto prática social, emerge na interação verbal e o
enunciado (e não a frase gramatical) constitui a realidade da língua em fun-
cionamento.
2. Língua como estrutura formal – comporta vários níveis como: fonema, mor-
fema, vocábulo, sintagma, oração e período; todos os elementos desses ní-
veis se articulam segundo regras do sistema etc.
31
Morfossintaxe
Os estudos gramaticais
Para o linguista inglês John Lyons (1981, p. 54) “a linguística é descritiva,
não é prescritiva”. Dizendo isso ele afirma que ela é uma ciência descritiva,
ou seja, não normativa, por tentar descobrir e registrar as regras segundo
as quais se comportam os membros de uma comunidade linguística.
33
Morfossintaxe
34
Morfossintaxe
Estudos descritivos
Para Travaglia (1996, p. 27), a gramática descritiva faz uma descrição da estru-
tura e funcionamento da língua, de sua forma e função. Neste caso, saber gramá-
tica, segundo o autor, significa ser capaz de distinguir, nas expressões de uma
língua, as categorias, as funções e as relações que entram em sua construção,
descrevendo com elas sua estrutura interna e avaliando sua gramaticalidade.
São duas abordagens da língua que evidenciam dois tipos de gramática, pois
em uma sala de aula do Ensino Fundamental ou Médio, por exemplo, diferentes
graus de detalhamento e diferentes formas de abordagem se fazem necessários
(os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa – PCN – recomen-
dam os gêneros de texto como objeto de ensino, consequentemente, a aborda-
gem dos mecanismos linguísticos e discursivos se faz de uma forma contextua-
lizada, ou seja, relacionada ao uso). Segundo Perini (1998), o grande perigo em
reduzir a gramática a um ensino puramente normativo é transformá-la em uma
doutrina absolutista, dirigida exclusivamente à “correção” de “erros” linguísticos.
A cada passo, o aluno que procura escrever encontra essa arma apontada contra sua cabeça:
“não é assim que se escreve (ou se fala)”, “Isso não é português” e assim por diante. Daí só
pode surgir aquele complexo de inferioridade linguística tão comum entre nós: ninguém
sabe português – exceto, talvez, alguns poucos privilegiados, como os que se especializam em
publicar livros com listas de centenas ou milhares de “erros de português”. (PERINI, 1989, p. 33)
35
Morfossintaxe
36
Morfossintaxe
A sequência “filme foi” não é uma construção, pois não há relação entre as
duas palavras, há apenas uma “vizinhança contingente”. Mas “o filme” constitui
uma construção, pois as duas palavras contraíram entre si uma função.
Sobre esse assunto, Perini (1998, p. 44) fala em “constituintes”: “certos grupos
de unidades que fazem parte de sequências maiores, mas que mostram certo
grau de coesão entre eles”.
37
Morfossintaxe
38
Morfossintaxe
Temos três formas livres (cartas, estavam, rasuradas) constituídas por mor-
femas lexicais nomeando substantivo, verbo e adjetivo, respectivamente:
cart- ; est-; rasur-;
39
Morfossintaxe
Você quer ver por quê? Separe as palavras da frase, a seguir, em duas categorias:
40
Morfossintaxe
41
Morfossintaxe
Veja que mesmo tendo o mesmo radical, essas palavras são de classes gra-
maticais diferentes, assim, foi preciso você combinar o sentido de cada “forma”
ao contexto dos versos para selecionar a palavra mais adequada, aquela que, na
articulação com os outros componentes linguísticos, produzisse sentido dentro
da nossa realidade linguística. As palavras constituem grupos morfológicos, mas
ao se combinarem em frases/textos para produzirem sentidos, adquirem uma
função sintática.
42
Morfossintaxe
Numa interação de um filho, no dia do seu aniversário, com seu pai que acaba
de chegar, o filho diz:
43
Morfossintaxe
Verbo:
É uma palavra que indica um processo situado no tempo, seja ação,
estado ou fenômeno. (critério semântico)
Texto complementar
O objeto da Sintaxe
(AZEREDO, 2001, p. 9-13)
44
Morfossintaxe
o enunciado deixa ou faz entender se acha explícito nele; parte de seu sen-
tido já está no conhecimento do interlocutor (informação implícita/impli-
cada) ou constitui um dado prévio qualquer no conhecimento do locutor
(informação pressuposta).
[...]
A cada instante pode-se estar pronunciando uma frase nova. Afinal, nin-
guém pode garantir que a frase que inicia este parágrafo e a que estou escre-
vendo agora não são inéditas. Eu não as tinha memorizadas, muito menos o
leitor, e, apesar disso, não houve qualquer dificuldade para produzi-las e en-
tendê-las. Nós não apreendemos o significado de cada uma das frases possí-
veis como se nada tivessem em comum uma com as outras. Todas elas, acei-
tas como estruturas da língua pelos usuários, se criam graças a um sistema
de unidades – sons, palavras, afixos, acentos – e regras que as combinam.
[...]
45
Morfossintaxe
Exatamente como em 6:
46
Morfossintaxe
Todos esses fatos mostram que uma língua como o português reúne duas
espécies de unidades mínimas no plano do conteúdo: unidades renováveis,
inventáveis a qualquer momento, cuja substituição não interfere no arranjo
interno da frase; e unidades que garantem a existência daquele arranjo. As
primeiras unidades, ditas semantemas ou morfemas lexicais, pertencem a um
conjunto aberto (léxico) e constituem a base dos substantivos, verbos e adjeti-
vos; as últimas, ditas morfemas gramaticais, pertencem a um sistema fechado
(gramática) e exprimem certas relações entre as unidades lexicais no interior
da frase (como o em 6), acionam a criação de unidades lexicais a partir de
outras (como o –eiro de prisioneiro em face de prisão) expressam distinções
obrigatórias que caracterizam os membros de certas classes (como o “m” de
encarceravam, opõe graficamente esta forma ao singular encarcerava) etc.
47
Morfossintaxe
Temos neste último fato uma questão teórica delicada. Chego e cheguei
são realizações concretas de uma diferença gramatical; lexicalmente, estamos
diante de uma mesma unidade, o verbo chegar. No caso das formas vou/fui
temos, por outro lado, uma profunda diferença fonológica que, à primeira
vista, desautoriza associá-las a uma mesma unidade lexical; porém é evidente
que os falantes do português estão aptos a elaborar a proporção segundo a
qual vou está para fui, assim como chego está para cheguei, isto é, valho-me
de fui para atribuir a um sujeito eu o ato de ir situado no passado, exatamente
como me valho de cheguei para atribuir a um sujeito eu o ato de chegar situa-
do no passado. Fui e vou diferem, portanto, fonológica e gramaticalmente,
mas não quanto ao léxico, onde representam o mesmo lexema /ir/.
Dicas de estudo
PERINI, Mário. Princípios de Linguística Descritiva. Introdução ao pensa-
mento gramatical. São Paulo: Parábola, 2006.
48
Morfossintaxe
Estudos linguísticos
1. Analise as proposições a seguir como abordagens pertencentes à gramática
normativa ou descritiva, e descreva o motivo da sua análise.
a) A frase: “Me dá dois suco e três pastel” contraria uma regra morfossintá-
tica do português. O correto, sob o ponto de vista normativo, seria dizer:
“Dê-me dois sucos e três pastéis”. Como tal construção não contradiz a
“lei” do sistema, dizemos que é uma construção gramatical.
49
Morfossintaxe
50
Morfossintaxe
Referências
AZEREDO, José Carlos de. Iniciação à Sintaxe do Português. 7. ed. Rio de Janei-
ro: Jorge Zahar Editor, 2001.
GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
Gabarito
1.
52
Morfossintaxe
53
O estudo da Sintaxe
As leis sintáticas
A língua, tomada como um código composto de unidades, realiza-se
pela interação perfeita e harmoniosa entre todos esses aspectos. Todos os
falantes concretizam seus atos de fala, exercem sua competência comuni-
cativa baseados nessas unidades. Contudo, nem todas as construções são
possíveis na língua, nem todas podem ser consideradas “bem formadas”.
(1) No mundo de hoje a violência parece até que virou parte da rotina
que a cada dia há uma.
55
O estudo da Sintaxe
Percebeu? Estamos falando da força das leis ou regras que constituem a gra-
mática da língua. Mas vamos focar a nossa atenção às leis sintáticas.
Para Sautchuk (2004, p. 36), as leis sintáticas “são tão relevantes que a elas
se reserva a manutenção da própria identidade da língua”, funcionam como
“uma espécie de guardião da inteligibilidade da superfície linguística de um
texto, pois são o elemento gerador e disciplinador das unidades linguísticas
que compõem as frases de um texto”.
Sintaxe
1
A simbologia (*), colocada ao lado de uma sequência linguística, significa que ela é agramatical. Exemplo: “menino o”(*).
56
O estudo da Sintaxe
Para Silva e Koch (1995, p. 11), o termo frase tem uma abrangência muito
grande, assim, ela prefere ficar com a concepção de frase como unidade comu-
nicacional, ou seja, “todo enunciado suficiente por si mesmo para estabelecer
comunicação”.
Como afirma Mattoso Câmara Jr. (1967), a frase deve ter um propósito defini-
do em termos comunicativos e uma entonação que lhe assinala nitidamente o
começo e o fim. Será frase, portanto, qualquer palavra ou grupo de palavras su-
ficiente para atender ao objetivo do falante: estabelecer a comunicação. Como
no exemplo:
Para Bechara (2004), mesmo assumindo formas tão variadas, as frases reser-
vam traços comuns, como:
57
O estudo da Sintaxe
A frase pode ter verbo ou não. Quando é desprovida de verbo chama-se frase
nominal, e não constitui oração.
(3) Adeus!
(4) Rua Belo Horizonte
Ainda que nas frases nominais as forças das leis sintáticas sejam exercidas, é
apenas quando a frase contiver linguisticamente em si todos os dados da comuni-
cação que chegamos ao nível da oração. A oração é a frase verbal que se presta a
uma análise sintática de seus constituintes, e nela podemos encontrar, de maneira
clara ou oculta, um núcleo verbal. Dessa forma, a oração reúne, na maioria das
vezes, duas unidades significativas, a que chamamos sujeito e predicado.
58
O estudo da Sintaxe
(5) Seus pais viajaram ontem à noite. Foram de avião. O carro está na oficina.
59
O estudo da Sintaxe
Frase e oração
Dentro da terminologia gramatical, convém distinguir frase, período e ora-
ção. O termo mais abrangente é frase – a menor unidade autônoma da comu-
nicação.
60
O estudo da Sintaxe
[...] unidade de comunicação linguística, caracterizada, como tal, do ponto de vista comunicativo
– por ter um propósito bem definido e ser suficiente para defini-lo, e do ponto de vista fonético
– por uma entoação, que lhe assinala nitidamente o começo e o fim. É assim a divisão elementar
do discurso, mas pertencente à estrutura linguística por obedecer a padrões sintáticos vigentes
na língua [...].
(17) Ana estudou pouco. Não conseguiu um bom resultado na prova. Que
estresse!
61
O estudo da Sintaxe
O autor complementa que é possível fazer uma lista de todas as palavras da nossa
língua (os grandes dicionários chegam perto disso), porém é impossível fazer
uma lista dessas unidades – sintagmas, frases, orações, períodos –, pois elas são
em número indefinido. “Todos os dias ouvimos ou lemos frases que nunca vimos,
e não obstante as entendemos perfeitamente” (PERINI, 2006, p. 61). Vejamos o
exemplo:
62
O estudo da Sintaxe
Morfema: -o
Vocábulo: menino
Sintagma: o menino
Para Dubois Charlier (1981), a frase é uma construção formada por constituintes,
ou seja, blocos significativos que funcionam no eixo horizontal da língua, formados
a partir de uma ou mais unidades linguísticas, de nível imediatamente inferior.
63
O estudo da Sintaxe
b) “com férias” e “na praia” são constituintes imediatos do bloco superior “so-
nha com férias na praia”.
A palavra sintagma pode designar tanto uma palavra (constituída por lexema
e gramema (s)) quanto uma sequência de palavras organizadas em um bloco de
sentido e mantendo relações de dependência. Como no exemplo:
64
O estudo da Sintaxe
1 2 VERBO 3 4
Naquela tarde, os pássaros cantavam sobre os galhos das árvores.
No outono, as folhas caíam do telhado durante a chuva.
O velho prédio da rua foi demolido pelos operários.
durante toda a
Cantaram para casa.
viagem
65
O estudo da Sintaxe
Para um ouvinte da língua, essas duas palavras não estão apenas dispostas
em uma ordem linear, elas estão organizadas estruturalmente dentro de um
sistema linguístico. Dessa forma, ele acaba atribuindo a elas uma gramática –
formas e funções. Em um processo de interação verbal, o enunciador, ao produ-
zir uma frase, faz uma dupla escolha: a dos conteúdos que quer veicular (plano
do conteúdo), e a do arranjo gramatical que dará forma a eles (plano da expres-
são) (CARONE, 1986).
Texto complementar
[...]
66
O estudo da Sintaxe
[...]
67
O estudo da Sintaxe
[...]
É nítida a ausência de atuação dos professores de Língua Portuguesa em
habilitar o aluno-escritor no domínio das estruturas e das relações sintáticas
como eixo disciplinador para o qual convergem os fatores de textualidade,
ou em demonstrar como a falta desse domínio age como eixo detonador das
falhas e das imperfeições microestruturais do texto. Eis um trecho de reda-
ção de aluno universitário:
Coisas que cometemos sem pensar em nosso cotidiano, quando agimos de formas incorretas
que nos levam a ser incoerentes com nossas atitudes.
[...]
68
O estudo da Sintaxe
A base definiria as regras que permitem gerar, por exemplo, “a mãe enten-
de uma coisa”. E a parte transformacional da Sintaxe definiria as regras que
permitem que se chegue, também, por exemplo, a “a mãe entendeu por que
a criança chorava” ou a outras inúmeras possibilidades de estruturas.
[...]
Dica de estudo
HENRIQUE, Claudio Cezar. Sintaxe Portuguesa para a Linguagem Culta
Contemporânea: teoria e prática. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2005.
Nesta obra o autor aproveita cada noção da teoria gramatical para mostrar
a sua presença e a sua repercussão no uso das construções da língua, contri-
buindo para que o leitor perceba que a gramática da língua é um meio para a
aprendizagem consciente e reflexiva.
69
O estudo da Sintaxe
Estudos linguísticos
1. Explique, com as suas palavras, o que entendeu por sequências linguísticas
“agramaticais”. Dê exemplos.
2 colheres de açúcar
Açúcar e canela
70
O estudo da Sintaxe
Modo de preparo
Misture todos os ingredientes até ficar uma massa não muito mole, nem
tão dura. Deixe aquecer uma panela com bastante óleo para que os bolinhos
possam boiar. Quando estiver bem quente comece a colocar colheradas da
massa e abaixe o fogo para que o bolinho não fique cru por dentro.
71
O estudo da Sintaxe
Referências
AZEREDO, José Carlos de. Iniciação à Sintaxe do Português. 7. ed. Rio de Janei-
ro: Jorge Zahar Editor, 2001.
LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. 8. ed. Rio de Janeiro: Globo,
1987.
Gabarito
1. Sequências linguísticas agramaticais são “sequências” de elementos que, na
cadeia sintagmática da língua, não constituem sentido e não expressam uma
mensagem. Exemplo: As Ikalkeves kazs petameh no tartes (*).
72
O estudo da Sintaxe
73
A estrutura sintagmática do português
Constituintes imediatos
Perini (2006) dá uma grande ênfase à importância de se conhecer os
constituintes imediatos da frase, que ele denomina de “partes naturais”.
75
A estrutura sintagmática do português
O receptor não entende “o trabalho de”; também não entende “de Pedro é”,
porque esses não são blocos constituintes de sentido. Os blocos que estruturam
a frase e que ele entende são: o trabalho/ de Pedro / é bom.
1 V 2 3 4
1 V 2 3 4
(4) Aqueles meninos / fizeram / sua cabana / atrás da árvore / com flores amarelas.
76
A estrutura sintagmática do português
3, 4, 1, V, 2
V, 2, 3, 4, 1
Observe que alguns deslocamentos não são possíveis, como por exemplo:
4/3/1/2/V; pois contradiz uma lei sintática da língua.
77
A estrutura sintagmática do português
SN SV
(8) As crianças / corriam pelo quintal atrás da bola.
(9) (Nós) / Vimos o desfile pela TV.
(10) / Choveu.
E posteriores ao verbo:
Em (c) o núcleo do sintagma também tem por base uma palavra substantiva,
(perfume), portanto é um SN.
SN
(12) Todos os nossos muito queridos colegas professores.
78
A estrutura sintagmática do português
Observe que os elementos desse extenso sintagma nominal não são permu-
táveis livremente, o que indica que cada um tem uma função diferente. Cada
termo e cada função desse termo se caracteriza, portanto, por suas proprieda-
des posicionais únicas.
Veja, por exemplo, o elemento todos. Esse termo só pode aparecer em primei-
ro lugar, outra posição causa uma agramaticalidade:
Os tipos de sintagmas
Diante do que já foi tratado, tomando-se o núcleo verbal da oração como ponto
de referência, podemos isolar e decompor quatro diferentes tipos de sintagmas:
Para Silva e Koch (1995), o SN pode ter como núcleo um nome ou pronome
substantivo (pessoal, demonstrativo, indefinido, interrogativo, possessivo ou re-
lativo). Como nos exemplos:
SN SV
(13) Eu li o livro.
(14) Esses são os meus.
(15) Quem irá hoje?
(16) (Os livros)/que li são ótimos.
(que é um pronome relativo = os livros)
79
A estrutura sintagmática do português
Observe:
SN SV SPrep SPrep
(20) As rosas / enfeitam minha casa / na primavera / nos fins de semana.
(21) Homens / taparam os buracos / da pista / na madrugada.
Verifique os exemplos:
80
A estrutura sintagmática do português
81
A estrutura sintagmática do português
82
A estrutura sintagmática do português
(33) Este meu anel de ouro/ aquele dourado anel caro demais/ nenhum
anel com gravação dourada.
Dubois Charlier (1981) demonstra que o sintagma nominal pode ser consti-
tuído por pré-determinantes + núcleo substantivo + modificadores (circunstan-
ciais e adjetivais), como nos exemplos:
83
A estrutura sintagmática do português
Sintagma nominal
Núcleo
Determinante Modificadores
do SN
(34) Os dois carteiros de farda.
Como você pode observar nos exemplos (34) a (37), o SN é constituído por
determinantes antepostos ao núcleo do SN e por modificadores pospostos ao
núcleo do SN.
84
A estrutura sintagmática do português
Como se vê, os SNs são formados por constituintes que funcionam para efei-
tos de relações internas ao SN maior. Conforme Perini (2006), o caráter hierárqui-
co da estrutura de constituintes faz com que eles se encaixem uns dentro dos
outros, de tal maneira que o maior tem as propriedades de sua classe dentro do
domínio maior, e o menor (ou os menores, porque pode haver vários) funciona
apenas dentro de seu domínio mais restrito.
Sintagma verbal
O sintagma verbal (SV) é um dos elementos básicos da oração. Esse tipo de
sintagma tem o verbo (V) ou a locução verbal como núcleo, podendo constituir-
se apenas por esse núcleo – exemplo (38) – ou apresentar diversas configura-
ções, quando acompanhado de outros tipos de sintagmas.
Exemplos:
O sintagma verbal não pode deixar de estar presente em uma oração, e terá
sempre a mesma função no eixo sintagmático: a de predicado.
Podemos concluir que uma estrutura gramatical é muito mais do que uma
simples sequência de elementos: é, entre outras coisas, uma hierarquia de cons-
tituintes. O conhecimento da estrutura sintagmática do português é uma impor-
tante ferramenta para o processamento dos enunciados, pois os “arranjos sintag-
máticos” representam o padrão de construção de frases em nosso idioma.
85
A estrutura sintagmática do português
Texto complementar
Categorias da descrição gramatical
(AZEREDO, 2001, p. 31-35)
[...]
A hierarquia gramatical
A estrutura gramatical do português comporta vários níveis. O morfema
é a menor unidade dessa estrutura; e o período, o maior. Acima do nível dos
morfemas acha-se o dos vocálicos; acima deste, o dos sintagmas, a que se
superpõe o das orações. Esquematicamente, temos: PERÍODO – ORAÇÃO –
SINTAGMA – VOCÁBULO – MORFEMA.
E exemplificando:
86
A estrutura sintagmática do português
Observemos:
87
A estrutura sintagmática do português
16 – O prisioneiro fugiu.
O “e” inserido em 15 não está, por conseguinte, ligando o verbo “desatou”
à forma “fugiu”, nem tampouco a forma “fugiu” ao substantivo “dentes”, que
a precede; O “e” está unindo sintaticamente toda a sequência “desatou o nó
das cordas com os dentes” à forma capaz de substituí-la, “fugiu”. Isto constitui
prova suficiente de que toda esta sequência opera como uma unidade fun-
cional, da mesma sorte que a unidade simples “fugiu”.
Agora que sabemos por que a divisão inicial e a 3 são compatíveis, con-
clui-se que uma unidade de nível mais baixo pode combinar com uma uni-
dade superior para compor outra unidade neste mesmo nível. É o que se dá
em “desatou o nó das cordas com os dentes”: “desatou”, que é um vocábulo,
combina-se com os dois sintagmas – “o nó das cordas” e “com os dentes” –
para formar um sintagma mais complexo: verbo + sintagma + sintagma.
Em diagramas, teremos:
Divisão 1 Divisão 2
Período Período
Convém deixar bem claro que nem sempre o sintagma resulta da união
de vocábulos, assim como o vocábulo, nem sempre resulta da união de mor-
femas. A diferença entre uns e outros é, portanto de nível e não de tamanho
ou complexidade interna. Assim, como vimos em 15 e 16, “fugiu” é um vo-
cábulo em um nível e ocupa a posição de sintagma em outro, e “os meninos
brincavam com uma pazinha” é oração em um nível e período em outro. Em
ambos os casos estamos diante de uma unidade – sintagma ou período –
formada de uma única unidade do nível imediatamente inferior.
[...]
88
A estrutura sintagmática do português
Dica de estudo
PERINI, Mario A. Para uma Nova Gramática do Português. São Paulo:
Ática, 1991.
Estudos linguísticos
1. Apresente, no mínimo, quatro variações relacionadas às possibilidades de
deslocamento da posição de um sintagma na frase a seguir.
1 2 3 V
Todos os dias, / no quintal de casa, / as crianças / brincam /
4 5
muito alegres / com o cachorrinho.
a) Possibilidade 1:
b) Possibilidade 2:
c) possibilidade 3:
d) Possibilidade 4:
2. Faça a decomposição dos SN de acordo com o que foi tratado no item “Sínte-
se da estrutura do sintagma nominal” desta aula.
a) A caneta vermelha.
89
A estrutura sintagmática do português
Referências
AZEREDO, José Carlos de. Iniciação à Sintaxe do Português. 7. ed. Rio de Janei-
ro: Jorge Zahar Editor, 2001.
Gabarito
1. a) Possibilidade 1: V + 5+ 3+ 4+ 1+ 2.
b) Possibilidade 2: 2 + 1+ 3+ V + 5 + 4.
c) Possibilidade 3: 3 + 1+ V + 4 + 2 + 5.
d) Possibilidade 4: 5+ 1 + 2 + 3+ V + 4.
2.
90
A estrutura sintagmática do português
91
A significação na construção dos enunciados
os componentes do significado;
a ambiguidade;
a redundância semântica;
a paráfrase sintática.
Componentes do significado
O processo de interpretação de um enunciado é complexo e muitas
vezes ficamos em dúvida sobre dois tipos de fatores que interferem no
seu funcionamento: os recursos linguísticos acionados e os recursos
cognitivos ligados ao conhecimento do mundo e ao contexto. Para nós,
professores de Língua Portuguesa, trata-se de um problema comum:
ao analisar se um enunciado é bem formado em relação às regras do
português, devemos considerar os aspectos cognitivos para “explicar”
os sentidos do enunciado? Ou devemos considerar apenas aspectos
léxico-gramaticais do sistema da língua para atribuir uma interpretação
semântica ao enunciado? Perini (2006) nos dá a sua contribuição para
essa reflexão.
93
A significação na construção dos enunciados
Isso se deve ao fato da relação entre palavra e significado não ser unívoca,
ou seja, uma palavra não está ligada intrinsecamente a um único significado.
Embora as palavras tenham um conjunto mais ou menos delimitado de signifi-
cado (a que podemos chamar de “campo semântico”), é no funcionamento da
frase e, mais amplamente, no funcionamento do enunciado concreto, que pode-
mos atribuir-lhes significação. De acordo com Perini (2006, p. 45), o “significado
de uma palavra nem é produto inteiramente do contexto em que aparece, nem
é totalmente determinado de antemão”. Vejamos os exemplos:
Segundo Perini (2006), diferentes operações mentais são aplicadas para que
possamos construir o significado de uma expressão linguística. O autor levan-
ta conjecturas sobre o processo em que se dão essas operações. Vejamos um
exemplo:
94
A significação na construção dos enunciados
existe uma relação entre cabelos e Maria, porque essas palavras estão co-
nectadas pela preposição de;
dos itens lexicais usados, sabemos que cabelos pode ser uma parte do cor-
po e Maria, uma pessoa.
95
A significação na construção dos enunciados
Assim, em (4), para saber o que o enunciador está querendo dizer, recorre-
mos ao nosso conhecimento da língua e vemos a forma do verbo conseguir, no
presente do indicativo, que nos informa que ele não está perguntando sobre um
fato passado.
Observe que tanto em (6) como em (7) os elementos são idênticos: o gato/
o rato/ perseguiu. Mas a disposição dos elementos em relação ao verbo é
diferente.
Em (6), o verbo perseguiu está indicando a voz ativa, pois o sujeito o gato é o
agente do processo verbal indicado pelo verbo perseguiu, enquanto que o rato é
o objeto direto do verbo, exprimindo o paciente do processo verbal.
palavras, mas também o significado das estruturas da língua, das suas formas
de organização.
Ambiguidade
Os fenômenos relativos à ambiguidade constituem um importante campo
de estudos da Semântica. Todo falante sabe que dar o significado das palavras
não é tarefa fácil, pois os efeitos contextuais podem direcionar o significado das
palavras para diferentes caminhos. Dentro da questão da ambiguidade, Can-
çado (2008) inclui fenômenos como a polissemia, a vagueza, a homonímia etc.
Nesta aula, vamos nos deter no fenômeno da ambiguidade, relacionando-a aos
estudos morfossintáticos. Os exemplos citados por Cançado (2008) demonstram
essa relação:
O verbo quebrar tem o mesmo sentido em todas as ocorrências? Será que existe
um sentido geral em que se encaixe o verbo quebrar nesses diferentes contextos?
Convidamos você a refletir sobre isso e pensar na resposta a essa questão.
Sintática – uma sentença pode ser ambígua porque a Sintaxe prevê diver-
sas maneiras de combinação de palavras em constituintes (em sintagmas).
Dessa forma, uma frase será ambígua quando puder ter mais de uma es-
trutura sintática.
98
A significação na construção dos enunciados
1
Unidade mínima de significação dentro de um campo semântico.
99
A significação na construção dos enunciados
Quanto à ambiguidade sintática, Perini (2006) nos dá uma ilustração com dois
exemplos:
Segundo o autor, essa é uma frase ambígua, porque podemos entender que
Rafael pediu bolo de chocolate ou, então, qualquer tipo de bolo (mais sorvete
de chocolate). O que cria essa dupla possibilidade de interpretação é a estrutura
sintática: a expressão de chocolate é adjunto adnominal somente do termo sor-
vete ou da expressão bolo e sorvete?
Ou seja, enquanto o verbo propus tem um sujeito explícito (eu – mesmo que
não expresso; neste caso, a desinência verbal é que distingue o sujeito), o verbo
ir não tem explicitado o sujeito: tanto pode ser eu como João.
100
A significação na construção dos enunciados
A mudança de posição dos sintagmas nominais “de cabra” e “em pó” não
corrigiu a ambiguidade da frase. No primeiro cartaz, entende-se: “cabra em pó”
(ou seja, não é o leite que é em pó, e sim, a cabra); no segundo, “pó de cabra”
(ou seja, beba leite, onde? Em pó de cabra). O receptor percebe que houve um
desvio em relação às leis sintáticas e semânticas da língua e que é preciso evitar
essa construção.
Por exemplo, observe o texto publicitário de uma marca de joias, ilustrado por
uma colher cheia de macarrão com os seguintes dizeres:
101
A significação na construção dos enunciados
Redundância semântica
A redundância semântica ocorre quando o conteúdo dos constituintes nu-
cleares se repete no significado dos modificadores ou dos constituintes secun-
dários, tendo como consequências frases tautológicas (ou seja, frase que diz a
mesma coisa, que não acrescenta informação nova, que não apresenta progres-
são na informação).
(19) Meu casamento com Carlos deu errado porque não poderia dar certo.
(20) Genética é uma coisa hereditária.
Paráfrase sintática
Segundo Ilari (2007), podemos dizer que duas sentenças são paráfrases, uma
em relação à outra, quando descrevem, de maneiras equivalentes, um mesmo
acontecimento ou estado de coisas. Para o autor, podemos classificar as paráfra-
ses em dois segmentos:
102
A significação na construção dos enunciados
103
A significação na construção dos enunciados
Ou seja, a escolha por uma frase dita “sinônima” nunca é um processo inocen-
te. Vejamos um caso da passagem da voz passiva para voz ativa:
(21) é uma frase a respeito de Pedro ou a respeito do beijo dado por Pedro,
já (22) é uma frase a respeito de Maria ou a respeito do beijo que Maria recebeu.
(21) não ocorreria em uma história, por exemplo, que Maria fosse o foco narrati-
vo, da mesma forma, (22) não ocorreria em uma história que Pedro fosse o foco.
Texto complementar
Ambiguidade sintática
(CANÇADO, 2008, p. 68-69)
Verifique o exemplo:
104
A significação na construção dos enunciados
(47)
a. Alugo [apartamentos e casas ] [de veraneio].
b. Alugo [apartamentos] e [casas de veraneio].
(48)
a. O magistrado [julga] [as crianças culpadas] .
b. O magistrado [julga] [culpadas] [as crianças].
105
A significação na construção dos enunciados
(49)
a. O Cruzeiro venceu [o São Paulo jogando em casa].
b. [O Cruzeiro jogando em casa] venceu o São Paulo.
Veja as estruturas:
(50)
a. Estou com vontade [de comer chocolate de novo].
b. Eu estou [com vontade de novo] de comer chocolate.
Dica de estudo
ILARI, Rodolfo. Introdução à Semântica: brincando com a gramática. 7.
ed. São Paulo: Contexto, 2007.
Estudos linguísticos
1. Diálogos como os que seguem soam estranhos, à primeira vista, pois para
negar uma fala usa-se outra com valor sinônimo. Entretanto, eles são perfei-
106
A significação na construção dos enunciados
107
A significação na construção dos enunciados
Referências
BEARZOTI FILHO, P. Sintaxe de Colocação – teoria e prática. São Paulo: Atual,
1990.
GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
ILARI, Rodolfo; GERALDI, João Wanderley. Semântica. 6. ed. São Paulo: Ática,
2002.
PIETROFORTE, Antônio V.; LOPES, Ivã C. Semântica Lexical. In: FIORIN, José Luiz
(Org.). Introdução à Linguística II. São Paulo: Contexto, 2003. p. 131-132.
Gabarito
1. Os diálogos são construídos a partir de paráfrases – sentenças que descre-
vem, de maneiras equivalentes, um mesmo acontecimento ou estado de coi-
sas. A diferença entre as duas sentenças parafrásticas de cada diálogo pode
ser usada como um meio para alcançar certos efeitos de sentido – como a
ênfase em um dos aspectos da frase. Por exemplo, dizer que “João e Maria
separaram-se” é diferente de dizer “Maria se separou de João”: no primeiro
108
A significação na construção dos enunciados
caso, parece que houve um comum acordo entre o casal na hora da sepa-
ração, a motivação para a separação não partiu de um sujeito apenas; no
segundo caso, é a mulher que teve a iniciativa da separação.
2.
109
Sintaxe e Semântica
111
Sintaxe e Semântica
A ordem
Para Carone (1986), a ordem não pode ser confundida com a linearidade:
esta é uma contingência da linguagem verbal, que se desenrola na cadeia
linear da fala, dentro da linha do tempo em que um elemento se segue ao
outro, sucessivamente.
A ordem das palavras pode ser o fator determinante de uma conexão sintá-
tica e constituir padrões de colocação que vão estabelecer a ordem normal da
língua. Em português, a ordem normal, ou seja, a ordem de maior frequência é a
ordem direta, tal como é apresentada a seguir.
Esses padrões de ordem não são rígidos, invioláveis, como ocorre com a
ordem rígida dos morfemas no vocábulo, razão pela qual a autora denomina de
sintagma bloqueado, pois sua ordem não pode ser modificada.
Essa é uma das razões pelas quais é importante procedermos à análise dos
constituintes imediatos, ou seja, dos sintagmas do enunciado.
A ordem é aspecto explorado pela gramática da língua nas questões que en-
volvem a sintaxe de colocação, de regência e de concordância. Passaremos a nos
deter em outros aspectos dessa temática.
113
Sintaxe e Semântica
Como você pode observar, uma mesma frase pode ser escrita em várias
ordens. Analisando os enunciados, qual deles podemos considerar que está es-
crito na ordem mais comum, ou seja, no modo como normalmente falamos e
ouvimos? A resposta deverá ser de acordo com o enunciado que passa a mensa-
gem de forma mais clara. E essa clareza se deve, em grande parte, à simplicidade
e à objetividade obtida pela ordem dos termos na construção.
Ou ainda:
A construção mais comum é a número 17. Esta é a que parece ser mais natu-
ral aos nossos ouvidos. Essa é a chamada ordem direta.
114
Sintaxe e Semântica
O lugar do verbo pode ser ocupado por uma locução verbal. E, por comple-
mentos, entendemos os objetos (direto ou indireto), os predicativos (do sujeito
e do objeto) e o agente da passiva.
Esse modelo pode variar de acordo com o tipo de predicado da oração. Assim:
Predicado verbal na voz ativa – sujeito (S) + verbo (V) + objeto direto
(OD) + objeto indireto (OI):
S V OD OI
(18) Os noivos queriam / oferecer / uma festa / aos familiares
S V AP
(19) O Brasil / foi descoberto / por Cabral.
S V PS
(20) As flores / são / um bálsamo.
S V OD PO
(21) Ele / tinha / a cabeça / coberta.
Quando não aparece algum dos termos da oração, não se altera a posição
dos demais, como no exemplo em que o sujeito está oculto:
S V OD
(22) Nós / merecemos / a vitória.
V OI
(23) (?) Merecemos / a vitória.
115
Sintaxe e Semântica
Neste caso, enquadram-se as orações com verbos impessoais, nas quais não
há sujeito:
V OD
(24) Haveria / uma passeata.
S V PS AAdv
(25) O circo / estava / repleto / naquela noite.
V PS S
(26) É / muito inteligente / seu garoto.
OI S V
(27) De flores / todas as pessoas / gostam.
S V AAdv OD
(28) O avião / recebeu / em São Paulo / os atores premiados.
sujeito predicado
(29) A menina de tranças / pulou corda na pracinha.
E, pelo fato de ser o sujeito o último elemento a entrar, ele é também o pri-
meiro a sair, no momento da decomposição da oração, ou seja: o sujeito é o
constituinte que tem menos aderência em relação ao verbo.
116
Sintaxe e Semântica
Vejamos os exemplos:
(30) As meninas pulam corda. – (*) Cordas são puladas pelas meninas.
(31) Maria levou um tombo. – (*) Um tombo foi levado pela Maria.
(32) Eu faço parte da equipe. – (*) Parte da equipe é formada por mim.
Observe a diferença entre: pular corda e pular a corda. Note que pular a corda
admite a transformação para voz passiva: a corda foi pulada – mas, nesse caso, o
sentido produzido é outro.
(33) (*) O filme foi assistido pelos meninos (os meninos assistiram ao filme).
Isso prova que há constituintes que podem atingir um grau de aderência tão
grande que acabam se tornando estáveis como um vocábulo, caracterizados
pela inseparabilidade e irreversabilidade de suas partes. É o caso, por exemplo,
do predicado nominal. Neste, temos um elemento inseparável do verbo: o pre-
dicativo do sujeito. Também são exemplos de núcleos dissociados os tempos ver-
bais compostos, a voz passiva e as locuções verbais, que não podem ser dissocia-
dos, pois o significado do constituinte é “global” (CARONE, 1986).
A tabela a seguir, baseada em Luft (1987), sintetiza a ordem direta nas orações:
117
Sintaxe e Semântica
(LUFT, 1987)
Casa 1 Casa 2 Casa 3 Casa 4
Sujeito Verbo Complemento Circunstância
Predicado
verbal ativo Objeto Objeto
direto indireto
(1)
Predicado
verbal passivo Agente da passiva
(2) Verbo ou
Adjuntos
Sujeito locução
Adverbiais
Predicado verbal
nominal Predicativo do sujeito
(3)
Predicado
verbo-nominal Objetao Predicativo
direto do objeto
(4)
(1) Os operários construíram uma ponte.
João deu uma rosa a Maria.
(2) Uma ponte foi construída pelos operários.
(3) João está apaixonado.
(4) João considera Maria uma linda mulher.
Ordem direta nas orações.
Agora que já tratamos da ordem dos vocábulos nas orações, vamos pensar
na ordem direta nos sintagmas, ou seja, nos grupos de palavras, pois dentro dos
termos da oração também podemos perceber uma ordem direta e uma ordem
inversa. Veja os exemplos:
118
Sintaxe e Semântica
Mesmo com a ordem direta dos termos nessas orações, podemos perceber
que a segunda soa de um modo mais claro aos nossos ouvidos. Isso acontece
porque é mais natural, para o falante do português, que as palavras se organi-
zem de certa maneira nos sintagmas. Vejamos as disposições mais comuns das
palavras ao se organizarem em grupos:
Adjetivos (adj.) e locuções adjetivas (loc. adj.) vêm após o núcleo substan-
tivo (subst.):
Por que será que os exemplos (40), (41) e (42) são agramaticais? Para o autor,
é a semântica desses sintagmas que explica a ordenação dos termos.
119
Sintaxe e Semântica
Agora, o gato não é o sujeito da oração, mas sim, o menino. Entretanto, o gato
continua sendo o agente, aquele que pratica a ação.
120
Sintaxe e Semântica
Nesse caso, o cachorro é tanto o agente, pois é ele que pratica a ação de arras-
tar, mas também é o paciente, pois é o elemento que sofre o movimento.
X abraçou Y
O que aconteceu com Y foi que ele foi abraçado por X (Y = paciente)
Texto complementar
122
Sintaxe e Semântica
[...]
Neves (2000, p. 200) diz que a primeira observação sobre a posição que o
adjetivo ocupa no sintagma nominal diz respeito ao fato de existirem dife-
renças no comportamento das duas grandes subclasses – os qualificadores
e os classificadores. Os classificadores, usados como adjuntos adnominais,
podem ser pospostos – posição menos marcada, como em (6) e (7) – ou ante-
postos – posição mais marcada, como em (8) e (9), frequente em textos literá-
rios. Quando anteposto, produz, em geral, o efeito de maior subjetividade.
123
Sintaxe e Semântica
[...]
Dica de estudo
GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna: aprenda a escrever,
aprendendo a pensar. 7. ed. Rio de Janeiro: 1978. p. 262- 271.
Trata-se de uma obra clássica, de 1978, mas que é uma fonte de consulta
importante para os estudiosos da linguagem. Veja o tópico “Como conseguir
ênfase” (4.3 a 4.3.2), no qual o autor faz uma abordagem que pode nos ajudar
a compreender o tema desta aula.
124
Sintaxe e Semântica
Estudos linguísticos
1. Escreva, com as suas palavras, como a ordem dos sintagmas na oração ou a
ordem dos termos dentro do sintagma pode alterar o sentido do enunciado.
Dê exemplos.
2. Leia o trecho a seguir, recortado do livro Com todas as Letras: o português sim-
plificado do jornalista Eduardo Martins (São Paulo: Moderna, 1999. p. 123).
Depois, analise os comentários feitos pelo jornalista – veja que ele caracteriza
um “erro” muito comum de português. Discuta esse “erro” a partir do que você
aprendeu sobre papéis temáticos.
125
Sintaxe e Semântica
Você com certeza leu ou ouviu (mais de uma vez, até) frases como: pre-
sidente opera o coração./papa retira o apêndice./artista faz operação plástica./
jogador opera joelho.
Algumas delas lhe causa estranheza? Repare que todas elas apresentam
um grave erro de estilo: não é o presidente quem opera, nem o papa quem
retira o apêndice. O artista também não faz operação plástica, nem o joga-
dor opera o joelho. Todas essas são tarefas do cirurgião.
Claro, são formas populares de exprimir esse tipo de situação. Você pode
usá-las em conversa com os amigos. Mas, na linguagem formal, escrita, elas
devem ser evitadas. Assim, diga, por exemplo que o papa foi operado de apen-
dicite, ou que o presidente sofreu uma operação no coração. Ou ainda que o
artista se submeteu a uma operação plástica.
126
Sintaxe e Semântica
Referências
BEARZOTI FILHO, P. Sintaxe de Colocação – teoria e prática. São Paulo: Atual,
1990.
CALLOU, D.; SERRA, C. A variação na ordem dos adjetivos nos últimos quatro
séculos. In: RONCARATI, C.; ABRAÇADO, J. (Orgs.). Português Brasileiro: contato
linguístico, heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: FAPERJ, 2003. p. 191-205.
CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. São Paulo: Ática, 1986.
ILARI, Rodolfo. Introdução à Semântica: brincando com a gramática. 7. ed. São
Paulo: Contexto, 2007.
LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. 8. ed. Rio de Janeiro: Globo,
1987.
NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática: conhecimento e ensino. In: AZERE-
DO, J. C. (Org.). Língua Portuguesa em Debate: conhecimento e ensino. Petró-
polis: Vozes, 2000. p. 52-73.
PERINI, Mário A. Princípios de Linguística Descritiva – introdução ao pensa-
mento gramatical. São Paulo: Parábola, 2006.
PONTES, Eunice. Sujeito: da sintaxe ao discurso. São Paulo: Ática, 1986.
Gabarito
1. A ordem das palavras no sintagma ou a ordem dos sintagmas na oração, não é ar-
bitrária, ou seja, livre das leis do sistema. Pelo contrário, a ordem obedece a certos
padrões de colocação em cada língua, o que as torna diferentes. Por exemplo, o
artigo deve vir sempre antes do nome e nunca depois – expressão agramatical:
*menino o. Mesmo quando o sistema permite mobilização, a alteração da ordem
é sempre uma questão da escolha do falante, ela pode enfatizar certos termos,
dar expressividade a certos textos literários ou mesmo mudar completamente o
sentido da frase, como no exemplo: grande mulher/mulher grande.
2. O erro discutido pelo jornalista pode ser analisado em termos de “papéis te-
máticos”. Quando falamos, por exemplo, “o presidente operou o coração”, o
“presidente” está assumindo o papel temático de “agente” da ação de operar.
Entretanto, o papel que ele deveria estar assumindo na frase era o de “pa-
ciente” da ação de operar, porque quem faz a operação é o médico; o presi-
dente é operado pelo médico.
127
Sintaxe de concordância nominal
Relações de concordância:
termo regente e termo regido
Em português, a concordância consiste em adaptar o termo subordi-
nado ao gênero e/ou número e/ou pessoa do termo subordinante. Perini
(1995) fala em harmonização de flexões entre os constituintes da língua.
129
Sintaxe de concordância nominal
SN
(1) * Eu / quer comprar roupas novas.
A discordância, o que está errado, está em quer e não em eu, pois a concor-
dância parte do verbo para o sujeito, e não do sujeito para o verbo.
130
Sintaxe de concordância nominal
131
Sintaxe de concordância nominal
Como você pode observar, o sujeito é o único termo que não recebe seta,
isto é, que não é subordinado. Tudo parte dele e prossegue, tudo volta para ele
conforme a indicação da seta.
Veja outro exemplo dessa relação, neste caso, o adjunto adverbial se antepõe
ao predicado, a ordem é invertida, e a seta vira-se para a esquerda, assinalando
essa inversão na ordem:
132
Sintaxe de concordância nominal
Acreditamos que esses casos são suficientes para demonstrar a relação entre
os termos da oração e as relações existentes, bem como o comportamento de
um termo para com outro, o que nos remete para o aspecto da língua deno-
minado processo sintático, fundamental para a compreensão das relações entre
termos determinantes e determinados que causam a concordância.
Muitas palavras da nossa língua são marcadas como femininas – saia, chuva,
mão – ou masculinas – paletó, vento, pé. Segundo Perini (1995), embora essa
marca de feminino ou masculino tenha certa relação com a oposição entre o
sexo feminino e o masculino, para a descrição da gramática da língua, ela deve
ser considerada como um traço puramente formal/linguístico, pois descreve
parte do comportamento morfossintático do termo analisado.
Por outro lado, temos palavras que não são propriamente marcadas no léxico
da língua como femininas ou masculinas. Como elas não são marcadas, são sus-
cetíveis de variação de gênero, apresentando ora uma forma masculina ora uma
133
Sintaxe de concordância nominal
Quanto à variação de número, Perini (1995) coloca que, em sua grande maio-
ria, as palavras variam em número: se um termo da língua possui a característica
linguística de número, ele pode se manifestar no singular ou no plural, mesmo
que as formas manifestadas sejam idênticas fonologicamente – (o) lápis, (os)
lápis. Na nossa língua há raríssimas exceções em que a palavra só ocorre no sin-
gular – ouro – ou no plural – férias. Dessa forma, segundo o autor, podemos dizer
“as palavras variam em número, e não que possuem número” (PERINI, 1995, p.
183). (grifos do autor).
Concordância nominal
Segundo Almeida (1988), a sintaxe regular de concordância designa o pro-
cesso pelo qual uma palavra (ou sintagma) se acomoda, na sua flexão, com a
flexão de outra palavra de que depende, ou seja, à qual se subordina. Para o
autor, os termos que devem se concordar, acomodar-se são:
134
Sintaxe de concordância nominal
No que se refere à concordância nominal, Perini (1995) propõe que não fale-
mos em concordância entre termos nominais, mas sim, em discordância.
SN / SPrep
(14) Todos os amigos / de [minha irmã].
[SN]
Neste exemplo, podemos afirmar que a frase inteira “está no masculino plural”,
uma vez que o núcleo desse sintagma é amigos, que é do gênero masculino.
136
Sintaxe de concordância nominal
137
Sintaxe de concordância nominal
Casos especiais
A concordância entre o adjetivo e o substantivo pode ser uma fonte de am-
biguidades quando o adjetivo se relaciona com mais de um substantivo. Nesses
casos, é preciso estar atento com a clareza do enunciado, pois o receptor fica sem
saber se o adjetivo se refere a apenas um dos substantivos ou aos dois. A segun-
da regra é a da eufonia (isto é, som agradável), que fica por conta do estilo. Pode-
-se enumerar algumas regras gramaticais e, imediatamente, citar exemplos de
autores consagrados que contrariam essas mesmas regras. Seria, portanto, um
trabalho inútil. Entretanto, chamamos a atenção para algumas possibilidades
apresentada pela gramática normativa:
138
Sintaxe de concordância nominal
(21) Temos que optar pelo caminho e pela vida mais harmoniosos.
(22) Temos que optar pelo caminho e pela vida mais harmoniosa.
139
Sintaxe de concordância nominal
140
Sintaxe de concordância nominal
É bom esclarecer que a norma culta pede que, nesses casos, a corcondância
do adjetivo, em gênero e número, deve levar em consideração a forma de trata-
mento. Exemplo: “Vossa Majestade [gênero gramatical feminino] atenciosa”.
141
Sintaxe de concordância nominal
Texto complementar
A (difícil/fácil) tarefa:
o ensino da concordância nominal
(BRANDÃO, 2007, p. 79-81)
142
Sintaxe de concordância nominal
(i) a gente tira [as espinhas miúdas] (i) é mais parecido com [as receitas estrangei-
ras]
(ii) [muitas pessoa] aparece aqui (ii) eles têm [muitos produtos]
(iii) tem [esses tipo de rede] (iii) eu como [essas frutas assim mais conhe-
cidas]
(iv) aparece [outras nuvens cinzenta] (iv) procuro tirar [as outras coisas]
(v) forma [aquelas onda perigosa] (v) não gosto d[esses regimes brutos]
(vi) mostrar [as minhas rede nova] (vi) todo tempo é tomado [nas minhas ativi-
dades]
(vii) esse peixe anda [nas parte mais baixa] (vii) existem [os peixes mais comuns] né?
(viii) hoje em dia [cinquenta mil cruzado (viii) tem [mil e um curso]
mais ou menos]
(ix) para o barco [naqueles cantinho] (ix) procuro tirar [as outras coisas]
(x) a gente marca [todos os ponto] (x) o ovo entra em [quase todos os produtos]
(b) enfatizar que todos esses padrões são funcionais, isto é, atingem os
mesmos objetivos comunicativos e, por isso, são igualmente válidos;
143
Sintaxe de concordância nominal
Dicas de estudo
BRANDÃO, Silvia Figueiredo. Concordância nominal. In: VIEIRA, Silvia Ro-
drigues; BRANDÃO, Silvia Figueiredo. Ensino de Gramática: descrição e
uso. São Paulo: Contexto, 2007.
ANTUNES, Irandé. Lutar com Palavras: coesão e coerência. São Paulo: Pa-
rábola Editorial, 2005.
Este livro nos ensina como agir na produção textual, ou seja, não se trata de
dominar a língua enquanto uma forma, e sim, de saber como usá-la de maneira
adequada nas mais diversas situações da vida diária, nos mais diversos graus de
formalidade ou informalidade que se oferecem e nos quais devemos produzir
gêneros textuais variados.
144
Sintaxe de concordância nominal
Estudos linguísticos
1. Descreva a oração a seguir como uma sequência de termos subordinantes e
subordinados, tomando como ponto de partida o sujeito:
145
Sintaxe de concordância nominal
Referências
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Metódica da Língua Portuguesa.
35. ed. São Paulo: Saraiva, 1988.
ANTUNES, Irandé. Lutar com Palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola
Editorial, 2005.
KURY, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. 9. ed. São Paulo:
Ática, 2002.
LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. 8. ed. Rio de Janeiro: Globo,
1987.
MORAES, Marcus Vinícius de Melo. Balada do Morto Vivo. In: ______. Antologia
Poética. 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 7. ed. Tradução de: CHELI-
NE, A. et al. São Paulo: Cultrix, 1975.
146
Sintaxe de concordância nominal
Gabarito
1. A relação entre os termos é a seguinte:
2. A alternativa correta é (a). Esse sintagma inteiro está no feminino plural por-
que o núcleo desse sintagma é alunas, que é do gênero feminino.
147
Sintaxe de concordância verbal
149
Sintaxe de concordância verbal
Concordância verbal
A concordância verbal é um tema muito valorizado nas aulas de Língua Por-
tuguesa, sobretudo, na avaliação da produção textual dos alunos. Ela recebe
uma conotação intimamente relacionada à sua caracterização sociolinguística,
ou seja, ligada ao uso.
150
Sintaxe de concordância verbal
Para sintetizar, podemos dizer que a concordância verbal pode ser entendida
como um conjunto de condições de harmonização entre o sujeito (termo re-
gente) e o núcleo do predicado das orações (termo regido) (PERINI, 1995). E é
sobre esse fenômeno sintático estabelecido entre o sujeito e o verbo, ou seja, a
concordância verbal, que vamos continuar a nossa reflexão.
(ALMEIDA, 1988)
151
Sintaxe de concordância verbal
Para Vieira (2007), há outros usos que vão além dessa regra geral de concor-
dância verbal. A autora considera esses usos como “regras particulares, parti-
cularidades, exceções”, e recebem tratamento diferenciado, como os casos que
veremos a seguir1:
(9) A idade, o sexo, a escolaridade, a classe social, entre outros, são fato-
res determinantes das normas linguísticas.
152
Sintaxe de concordância verbal
153
Sintaxe de concordância verbal
(19) Travessa dos Sonhos é o nome que o autor ou autores do conto dão
à rua do bairro.
identidade ou equivalência:
(33) Só com o fim da permissão para fumar em lugares públicos é que pu-
demos colocar cartazes com a proibição nas últimas semanas. Haja vista as
denúncias sobre o desrespeito a essa lei que ocorrem na repartição.
(34) O emprego dos tempos verbais é muitas vezes uma relação livre; hajam
vista o do presente como futuro, o presente histórico, o pretérito imperfeito em
lugar do perfeito (CÂMARA JR., 1978).
155
Sintaxe de concordância verbal
Sujeito ligado por com – o verbo fica no singular se o falante quiser enfa-
tizar o primeiro elemento ou o verbo vai para o plural se o destaque é para
o todo do que se fala:
156
Sintaxe de concordância verbal
(37) “Santinha eram olhos míopes, quatro incisivos claros à flor da boca”
(Manuel Bandeira)
(39) “Para meu desapontamento, a maioria dos nomes anotados não dis-
punha de telefone.”
(Carlos Drummond de Andrade)
O relativo que vem antecedido das expressões um dos, uma das (+ subs-
tantivo) – o verbo de que ele é sujeito, normalmente, vai para a 3.ª pessoa
do plural. Entretanto, o verbo pode aparecer no singular caso o falante quei-
ra destacar o sujeito do grupo:
157
Sintaxe de concordância verbal
Observe esse exemplo dado por Cunha e Cintra (1985, p. 506) no qual o
poeta Camilo Castelo Branco brinca com a concordância para conseguir a
expressividade literária que deseja:
(44) Há neles muita lágrima, e o [=aquilo] que não é lágrimas são algemas.
158
Sintaxe de concordância verbal
Said Ali (1971, p. 280) também reconhece a existência dessas soluções diver-
gentes, quando afirma que “há, contudo, condições em que se despreza o cri-
tério da forma e, atendendo apenas à ideia representada pela palavra, se faz a
concordância com aquilo que se tem em mente”.
Para Dubois et al. (1978), o estilo supõe escolha, decisão, depende da intenção
do enunciador e se manifesta no discurso, no ato de linguagem, na execução
individual:
E como cada indivíduo tem em si um ideal linguístico, procura ele extrair do sistema de que se
serve as formas de enunciado que melhor lhe exprimam o gosto e o pensamento. Essa escolha
entre os diversos meios de expressão que lhe oferece o rico repertório de possibilidades, que é
a língua, denomina-se estilo e o campo de estudo que o abriga denomina-se estilística.
159
Sintaxe de concordância verbal
160
Sintaxe de concordância verbal
(49) “Foi D. Duardos e Flérida aposentados no aposento que tinha o seu nome.”
161
Sintaxe de concordância verbal
Você pode observar que temos quatro exemplos de concordância verbal que
fogem à regra geral já apresentada, mas que, nem por isso, estão incorretos. O
que ocorre nesses exemplos é que a concordância não é feita segundo a forma
gramatical do núcleo dos sintagmas nominais com a função de sujeito, e sim,
pelo sentido que essas palavras encerram; por isso essa concordância é chama-
da de concordância ideológica e forma uma figura de sintaxe que denominamos
silepse.
Observe os exemplos:
162
Sintaxe de concordância verbal
Texto complementar
163
Sintaxe de concordância verbal
Em sua pesquisa, Lemle & Naro (1977, p. 50) propõem que o ensino
deve enfatizar os aspectos em que a variedade do aluno mais difere do
padrão que se pretende ensinar. Assim, sugerem, segundo os resultados
obtidos com o controle da variável saliência fônica, que os exercícios foca-
lizem os verbos regulares no presente e no imperfeito do indicativo, visto
que nesses tempos há menor diferenciação fônica entre as formas singular
e plural e, portanto, menor tendência à concordância. No que diz respeito à
posição e à distância do sujeito em relação ao verbo, propõem que os exer-
cícios privilegiem as estruturas de sujeitos pospostos e distantes do verbo, que
propiciam maior tendência ao cancelamento da marca de número do verbo.
164
Sintaxe de concordância verbal
[...]
165
Sintaxe de concordância verbal
166
Sintaxe de concordância verbal
Dicas de estudo
GALVÃO, Jesus Belo. Língua e Expressão Artística: subconsciência e afe-
tividade na língua portuguesa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
167
Sintaxe de concordância verbal
Estudos linguísticos
1. Explique o traço de redundância que existe na frase a seguir, em relação às
marcas de concordância verbal: “Os homens da limpeza pública chegaram
rapidamente”.
168
Sintaxe de concordância verbal
169
Sintaxe de concordância verbal
Referências
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Metódica da Língua Portuguesa.
35. ed. São Paulo: Saraiva, 1988.
170
Sintaxe de concordância verbal
Gabarito
1. A concordância entre os termos do enunciado está marcada de forma redun-
dante: a) pela flexão do determinante (o-s); b) pela flexão do termo determi-
nado (homen-s); c) pela flexão do verbo (chegara-m).
171
Sintaxe de regência
Sintaxe
Os fatos sintáticos
que geram os dados de análise
Os estudos de Sintaxe implicam considerar os fatos sintáticos da língua
e, a partir deles, buscar dados para as análises e descrições. Sobre isso,
173
Sintaxe de regência
Como no exemplo:
174
Sintaxe de regência
SN V SN SPrep SPrep
175
Sintaxe de regência
Platão e Fiorin (1996) se referem a esse fenômeno como coesão por retoma-
da anafórica e cita pronomes, verbos, numerais e advérbios como termos que
servem para retomar outros. Mas, os autores também se referem às retomadas
por palavras lexicais como substantivos, verbos e adjetivos. Perini (1989) deno-
mina a relação entre o termo referido e o termo referente como termo retomado
e termo retomante.
(5) Meus pais foram à reunião. Eles ficaram até ao final das discussões.
(6) No aniversário da vovó, Maria e João ficaram noivos. Naquele dia, a fa-
mília estava feliz.
Naquele dia: termo retomante: tem um papel remissivo, ou seja, faz remissão
a “no aniversário da vovó” (retomada anafórica por uma palavra lexical, ou seja,
por um substantivo que substitui o termo referido).
(7) André e Pedro são fanáticos torcedores de futebol. Apesar disso, são dife-
rentes. Este não briga com quem torce para outro time; aquele o faz.
No exemplo (7), apresentado por Platão e Fiorin (1996), o termo isso retoma o
predicado “são fanáticos torcedores de futebol”; este recupera a palavra “Pedro”;
aquele recupera o termo “André”; o faz recupera o predicado “briga com quem
torce para o outro time”. São, portanto, termos anafóricos.
176
Sintaxe de regência
Em (9), a interposição do “e” nada alterou a função das unidades que se adi-
cionam por “e”. Os dois termos ligados por “e” se apresentam na função de predi-
cativo do sujeito (saudável e linda), portanto estão em relação de subordinação
ao núcleo do SN-sujeito (criança).
A ligação mediata é comparável a dois canos unidos por uma luva, como
faz o bombeiro na instalação hidráulica de nossas casas: em gramática é a
preposição que funciona como uma luva.
177
Sintaxe de regência
Com base nas relações que acabamos de ver, os esquemas apresentados por
Luft (1987) podem nos ajudar a visualizar essas relações de regência.
Regência verbal:
178
Sintaxe de regência
179
Sintaxe de regência
verbos intransitivos;
verbos pronominais;
180
Sintaxe de regência
Esquecer, lembrar.
181
Sintaxe de regência
Informar: Bechara (2004) recomenda que esse verbo deve apresentar ob-
jeto direto de coisa e indireto de pessoa, ou vice-versa.
182
Sintaxe de regência
Regência nominal
A maioria dos autores aponta a relação que existe entre a regência verbal e
a regência nominal. Uma das maneiras pela qual podemos detectar a regência
dos nomes é compará-los aos verbos que relacionam com eles, uma vez que os
nomes (substantivos e adjetivos) derivados normalmente mantêm a mesma re-
gência dos verbos e adjetivos dos quais se derivam. Observe os exemplos:
183
Sintaxe de regência
Solecismos
Os desvios quanto à norma culta que se referem à regência nominal são en-
contrados na gramática normativa com a denominação de “solecismos”. Bechara
(2004) apresenta alguns casos de regência nominal que, frequentemente, são
causas de solecismos, como os que veremos a seguir:
184
Sintaxe de regência
(39) “Entrei e saí de casa.” (porque entrar pede a preposição em e sair pede
a preposição de).
185
Sintaxe de regência
Os jornais informaram o
VTD Dar notícias, esclarecer
público consumidor.
186
Sintaxe de regência
Quadro-resumo com as regências de alguns verbos (VI: verbo intransitivo; VTD: verbo transitivo
direto; VTI: verbo transitivo indireto; VTDI: verbo transitivo direto e indireto).
Texto complementar
187
Sintaxe de regência
cios), ‘conteúdo’, ‘causa’ (tremer de febre), etc. – o que sugere que há várias
preposições de.
[...]
Complemento/adjunto
Nessas questões de regência de verbos e nomes, o que se tem normal-
mente em vista é “regência em sentido restrito”, ou seja, aquela complemen-
tação determinada pelos traços semânticos do núcleo regente.
188
Sintaxe de regência
Não são poucos os casos em que não é clara a diferença entre comple-
mento e adjunto.
[...].
Dicas de estudo
Perini, Mário A. Para uma Nova Gramática do Português. São Paulo: Áti-
ca, 1991.
A partir de uma crítica das bases teóricas da gramática tradicional, esse estu-
dioso da Sintaxe do português apresenta uma proposta de renovação do ensino
gramatical. O autor dá atenção especial a três pontos: a falta de coerência inter-
na em alguns pontos, o caráter normativo e prescritivo da gramática e o enfoque
centrado em uma variedade da língua: o dialeto padrão escrito, com exclusão
de todas as outras variantes. Ele acredita que todos esses pontos necessitam ser
repensados para que tenhamos uma gramática satisfatória.
189
Sintaxe de regência
LUFT, Celso Pedro. Dicionário Prático de Regência Verbal. 8. ed. São Pau-
lo: Ática, 2003.
Estudos linguísticos
1. Explique a “tripartição” de abrangência dos campos de estudo da Sintaxe
proposta por Luft (1987).
190
Sintaxe de regência
191
Sintaxe de regência
Referências
APOTHÉLOZ, Denis. Papel e funcionamento da anáfora na dinâmica textual.
In: CAVALCANTE, M. M.; RODRIGUES, B. B; CIULLA, A. Referenciação. São Paulo:
Contexto, 2003.
AZEREDO, José Carlos de. Iniciação à Sintaxe do Português. 7. ed. Rio de Janei-
ro: Jorge Zahar Editor, 2001.
LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. 8. ed. Rio de Janeiro: Globo,
1987.
______. Dicionário Prático de Regência Nominal. 4. ed. São Paulo: Ática, 2003.
_____. Para uma Nova Gramática do Português. São Paulo: Ática, 1991.
PLATÃO, F. S.; FIORIN, J. L. Lições de Texto: leitura e redação. São Paulo: Ática,
1996.
Gabarito
1. A Sintaxe abrange três campos de estudo: a sintaxe de concordância, a sinta-
xe de regência e a sintaxe de colocação.
192
Sintaxe de regência
193
Crase: questão de sintaxe de regência
SN V SN SPrep SPrep
195
Crase: questão de sintaxe de regência
Conforme Luft (1987), a regência é uma das três vertentes dos estudos sintá-
ticos que compreendem os fenômenos de vinculação entre termos regentes e
termos regidos.
concordância
Sintaxe regência
colocação
196
Crase: questão de sintaxe de regência
Com base nas relações que acabamos de ver, podemos esquematizar essas
relações da seguinte forma:
197
Crase: questão de sintaxe de regência
Regência verbal:
SN V SN (ou SPrep)
Filhos lembram os bons conselhos.
Filhos se lembram dos bons conselhos.
Regência nominal:
SN SPrep
Ele ficou surdo às suas recomendações.
198
Crase: questão de sintaxe de regência
Como você observou, todos os verbos dos exemplos (04) a (09) são termos
regentes e o termo regido é introduzido pela preposição a. Da mesma forma, os
nomes (substantivos) que se derivam desses verbos também são regidos por um
termo introduzido pela preposição a.
199
Crase: questão de sintaxe de regência
prep. art.
obediente a a mãe
regente à regido
200
Crase: questão de sintaxe de regência
Segundo Baccega (1989), não há como opor gramática e estilística, pois elas
se completam dentro dos estudos linguísticos. Para a autora, o sujeito da in-
teração é o produtor do sentido, e disso ele deve estar consciente. Podemos
dizer, assim, que as escolhas linguístico-discursivas do falante estão condicio-
nadas a cada texto, ao sentido que ele quer expressar. E esse fato não é diferen-
te quando falamos no uso ou omissão do artigo definido. Vejamos o exemplo
dado pela autora:
201
Crase: questão de sintaxe de regência
202
Crase: questão de sintaxe de regência
203
Crase: questão de sintaxe de regência
Advérbios
analogicamente favoravelmente preferivelmente anteriormente
Nomes
abandono agressão aspirante aberto ajuda assalto
1
Lista adaptada de Kury (1982, p. 120-124).
204
Crase: questão de sintaxe de regência
Verbos
abraçar-se aderir agradar agregar apegar-se assistir
205
Crase: questão de sintaxe de regência
apenas uma preposição exigida pelo termo regente, se ele é apenas um artigo
admitido pelo termo regido, ou se ele é uma fusão das duas vogais.
A regra mais prática para se identificar o uso da crase é passar o termo regido
para o masculino (usar um termo equivalente).
Observe o exemplo:
Em (18) a crase é solicitada, pois temos a fusão de uma preposição “a” + artigo
“a” – o exemplo (19) explicita essa fusão. Em (20) temos apenas o artigo “a” – esse
fato é visível em (21). Em (18) o termo regente pede a preposição “a” – dirigiu-se
a (algum lugar) – e em (20) isso não ocorre – visitou (alguém, alguma coisa).
MASCULINO FEMININO
a + o = ao a + a=à
206
Crase: questão de sintaxe de regência
Entre palavras iguais: Face a face, gota a gota, ponta a ponta, parte a parte.
Antes de nomes próprios de lugar que não admitem o artigo “a”: Fui a
Brasília, a Belém, a Manaus, a Roma, a Paris, a Londres.
207
Crase: questão de sintaxe de regência
Texto complementar
Crase
Noções preliminares
(KURY, 1982, p. 99-100)
3.º Lendo-se correntemente este verso (de dez sílabas métricas) de Castro
Alves:
“Quan / do eu / pa / sso / no / Saa / ra a / mor / ta / lha / da“
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
208
Crase: questão de sintaxe de regência
É este um dos três casos de dois aa que se craseiam num só, escrito à:
1.º caso – encontro da preposição a com o a inicial dos demonstrativos
aquele(s), aquela(s), aquilo – que passam a escrever-se àquele(s), àquela(s),
àquilo.
2.º caso – encontro da preposição a com o artigo definido feminino a, as,
que passa a escrever-se à, às.
3.º caso – encontro da preposição a com o pronome demonstrativo a, as
que passa a escrever-se à, às.
Dicas de estudo
NEVES, M. H. M. Que Gramática Estudar na Escola? Norma e uso na lín-
gua portuguesa. São Paulo: Contexto, 2004.
209
Crase: questão de sintaxe de regência
Estudos linguísticos
1. Explique por que razão a crase está incluída na sintaxe de regência.
210
Crase: questão de sintaxe de regência
b) Está prestes........morrer.
Referências
BACCEGA, Maria A. Artigo e Crase. São Paulo: Ática, 1989.
Gabarito
1. Porque a relação entre o verbo e o termo subordinado implica a regência
verbal e a relação entre um nome e o termo subordinado implica a regência
nominal. Como a relação entre termo regente e termo regido pode ocorrer
com a presença de um transpositor, conector ou preposição, então incluí-
mos a crase na sintaxe de regência (verbal e nominal).
212
Crase: questão de sintaxe de regência
213
Sintaxe de colocação
Podemos iniciar a nossa reflexão sobre o tema desta aula com os versos
do poema “Pronominais”, de Oswald de Andrade (1980, p. 22-33):
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
215
Sintaxe de colocação
Por exemplo:
Sabemos que a maneira de falar se renova mais rápido do que o modo como
se escreve, já que o texto escrito requer uma certa padronização para ser com-
preendido por mais pessoas durante mais tempo. Além disso, a oralidade prece-
de a escrita e é muito mais utilizada.
Você já deve ter ouvido frases em forma de tópicos, e não mais organizadas
no padrão sujeito e predicado, em que se começa a frase com um tópico e depois
passa para a ação como, por exemplo, “a casa, roubaram os portões dela”.
É uma construção oral que já chamou a atenção dos especialistas, mas ainda
não chegou às gramáticas. Esse caso comprova a ideia de que o português não
padrão – aquele utilizado informalmente – tem sua própria lógica e regras in-
ternas. Outro uso que tem chamado a atenção dos estudiosos das normas é o
que se faz com o gerúndio: “Assim que eu ler o contrato, vou estar enviando os
demais documentos”. Esse uso – denominado “gerundismo” – tem se tornado
comum, ainda que o consideremos de extremo mau gosto.
Assim, você percebeu que temos aqui uma questão polêmica sobre o uso da
língua, no caso dessa aula: onde colocar o pronome oblíquo átono em nossos
enunciados orais e escritos? E é sobre essa questão que vamos tratar.
pronomes pessoais retos: eu, tu, “você”, ele/ela, nós, vós, “vocês”, eles/elas;
pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o/a, lhe, se, nos, vos, os/as, lhes;
pronomes oblíquos tônicos: mim, comigo, ti, contigo, si, consigo, ele/ela,
nós, conosco, vós, convosco, eles/elas.
Por exemplo:
217
Sintaxe de colocação
(6) Perguntei-lhe se ela aceitaria nos ajudar, mas ela não o quis.
(Sintagma nominal substituindo a oração nos ajudar)
(7) Aquelas frutas são muito procuradas e o são com razão: são deliciosas.
(Sintagma nominal substituindo o adjetivo procuradas)
Próclise O pronome proclítico é aquele colocado antes do verbo. Ex.: Eu não a vi hoje.
218
Sintaxe de colocação
(10) Louvava-a.
(11) Eu olhei-o, assustado.
dar + a = dá-la
vender + as = vendê-las
encontrar + o = encontrá-lo
ver + os = vê-los
trouxeram + a = trouxeram-na
põe + as = põe-nas
amam + o = amam-no
dão + s = dão-nos
219
Sintaxe de colocação
Ênclise
Segundo Bearzoti Filho (1990), a norma culta impõe, necessariamente, a ên-
clise como sendo a posição correta sempre que o verbo iniciar um grupo de
força, ou seja, sempre que vier após uma pausa (na fala: um silêncio; na escrita:
um sinal de pontuação) ou iniciar uma oração coordenada sindética aditiva1. Ve-
jamos alguns exemplos:
Próclise
A próclise deve ocorrer sempre que houver palavras, ditas atrativas, agindo
diretamente sobre o verbo, ou seja, essas palavras têm o poder de atrair o pro-
nome para antes do verbo.
1
Segundo Bearzoti Filho (1990), a norma culta não é tão rigorosa no caso das orações coordenadas, mas, ainda assim, a ênclise é a mais recomendável.
220
Sintaxe de colocação
advérbios (não, agora, ainda, amanhã, antes, hoje, quase, tão, melhor,
pior etc.)
a conjunção “nem”:
Orações subordinadas:
221
Sintaxe de colocação
Orações optativas (que exprimem desejo), quando não iniciadas pelo verbo:
Mesóclise
A mesóclise é exigida com os tempos verbais do futuro do indicativo, desde
que não haja justificativa para a próclise (é importante registrar que a norma
culta não aceita a ênclise com verbos no futuro do indicativo):
222
Sintaxe de colocação
Caso haja fator de próclise, o pronome pode ser colocado antes do verbo
auxiliar ou depois do infinitivo/gerúndio:
Caso haja fator de próclise, o pronome deve ficar antes do verbo auxiliar:
Colocação pronominal
no uso coloquial da linguagem
Segundo Vieira (2007), as reflexões sobre a colocação pronominal tomam
feições muito particulares, pois esse é um tema bastante implicado com o fenô-
meno sociolinguístico. Para a autora, as possibilidades de colocação pronominal
são favorecidas por fatores diversos, não só estruturais, mas também estilísticos
e rítmicos. Vejamos uma fala da autora:
[...] a ordem dos clíticos pronominais constitui forte ilustração de um fenômeno que advém da
inter-relação de diferentes níveis gramaticais, legítimo caso de interface que, por isso mesmo,
ainda não se encontra de todo elucidado na(s) gramáticas do português. (VIEIRA, 2007, p. 122)
Para Perini (1989), essas dificuldades estão atreladas à diferença entre as varie-
dades brasileira e europeia da língua portuguesa. Dessa forma, o usuário da língua
costuma vacilar entre o respeito à norma padrão europeia – aquela que predomina
nas gramáticas escolares e nas mais tradicionais – e a adaptação ao uso brasileiro.
224
Sintaxe de colocação
Tais usos demonstram que a diferença entre a norma padrão e o uso colo-
quial da língua vem transformando a colocação pronominal num fato de estilís-
tica. Como diz Melo (1976), a gramática registra e sistematiza os fatos da língua; a
estilística os interpreta à luz da expressividade, examinando o que está adequa-
do ou inadequado à situação linguística real, de uso concreto.
Colocação pronominal:
fatores ligados à sonoridade do enunciado
A colocação dos pronomes pessoais oblíquos átonos está condicionada a fa-
tores de três ordens: prosódica, sociocomunicativa e sintática.
Por ser uma unidade que é delimitável por pausa no corpo do vocábulo, a
sílaba tem uma importância fundamental no eixo sintagmático da nossa língua.
É na sequência das sílabas, por exemplo, que podemos perceber o fenômeno da
intensidade, responsável pelo contraste entre sílabas fortes – tônicas – e fracas
– átonas.
225
Sintaxe de colocação
(51) sólida, barro, poderoso, material, café, sabiá, sabia, médico, cântico
São sílabas tônicas: só-; bar-; – ro-; -al; -fé; -á; -bi-; mé; cân-
São sílabas átonas: todas as demais, retirando as sílabas tônicas dessas palavras.
226
Sintaxe de colocação
No grupo de força, pode-se observar vocábulos que perdem seu acento pró-
prio para unir-se a outro que os segue ou que os precede. Dizemos que tais vo-
cábulos são chamados clíticos (que se inclinam) ou átonos (porque se acham
destituídos de seu acento vocabular). Aquele vocábulo que, no grupo de força,
mantém sua individualidade fonética é chamado de vocábulo tônico.
Classe de palavras enclíticas: os pronomes me, te, se, nos, vos, o, a, os,
as, lhe, lhes, quando pospostas ao vocábulo tônico.
A prosódia que, como você já viu nesta aula, se preocupa com o conhecimen-
to da chamada sílaba tônica, classifica os vocábulos quanto ao número de sílabas
em monossílabos (se têm uma sílaba), dissílabos (se têm duas sílabas), trissílabos
(se têm três sílabas) e polissílabos (se têm mais de três sílabas).
227
Sintaxe de colocação
Ou seja, a autora cita as palavras de Mattoso Câmara Jr. quando este afirma
que, na língua portuguesa o vocábulo fonológico é definido pela pauta prosó-
dica, determinada pelo acento tônico. A autora, expert da obra de Câmara Jr.,
define como vocábulos formais a maioria dos nomes e verbos, mas também arti-
gos, preposições etc., excetuando-se os pronomes clíticos. Os pronomes clíticos,
portanto, não constituem vocábulos formais.
Em (53), temos três formas livres: sim, onde, lá. Mas, também, encontramos
três formas presas: à, se, de, me.
Azeredo (2004) não se refere a “formas livres” e “formas presas”, contudo de-
monstra, no exemplo a seguir, que os monossílabos átonos, inacentuados, vêm
228
Sintaxe de colocação
Em (54), temos oito monossílabos, dos quais cinco são átonos: por, por, sem,
o, no, ou seja, se apoiam nos vocábulos vizinhos portadores de acento próprio
(/porfavor/, /porlá/, /sempôr/, /opé/, /notapete/), formando com eles segmentos
que se pronunciam como grupos coesos de sílabas: são vocábulos fonológicos.
No exemplo (54), três são monossílabos tônicos: lá, pôr, pé, ou seja, são pronun-
ciados com acento próprio.
O fato prosódico do qual estamos tratando se apresenta com uma relativa com-
plexidade, uma vez que é a esse fator que se pode atribuir a próclise do pronome.
Esse uso pouco frequente das formas o, a, os, as aliado ao uso mais frequente
das formas –lo, -la, -lo, -las é responsável por uma peculiaridade: justamente os
pronomes átonos mais comuns são iniciados por uma consoante (me, te, lhe,
229
Sintaxe de colocação
se (como reflexivo)). Afirma Azeredo (2004, p. 198) sobre esse fenômeno que “a
posição proclítica pela qual são usados favorece o relevo fonético desses prono-
mes, tornando-os semitônicos”.
Assim, considerando Bagno (2002), na fala brasileira, nos usos coloquiais, fica
bem nítida a pronúncia semitônica desses pronomes (em contrapartida com a
pronúncia átona dos europeus), com certa independência de acento fonético.
Esse fato leva ao uso da próclise ao invés da ênclise, o que ainda causa “horror” a
alguns professores de português:
As formas oblíquas átonas o, a, os, as são substituídas pelo uso de ele, ela,
eles, elas, quando relativas à pessoa de quem se fala:
As formas oblíquas átonas te, lhe (mais raramente) são substituídas pelo
uso de você, vocês, quando se referem ao interlocutor.
230
Sintaxe de colocação
(60) Nunca se viu pessoa mais estudiosa. (verbo na forma simples: próclise)
(61) Se a seleção do Brasil vencer a final, na África do Sul, ninguém mais lhe
vai dar essa atenção. (locução verbal: próclise ao auxiliar)
(64) Dada a confusão daquele momento, João nem lhe perguntou onde
fora. (a partícula atrativa exige a próclise)
Texto complementar
231
Sintaxe de colocação
“A preguiça é a chave da pobreza – Quem não ouve conselhos raras vezes acerta – Fala
pouco e bem: ter-te-ão por alguém.”
Esse Terteão para mim era um homem, e não pude saber que fazia ele na página final
da carta. As outras folhas se desprendiam, restavam-me as linhas em negrita, resumo da
ciência anunciada por meu pai.
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Sintaxe de colocação
[...]
233
Sintaxe de colocação
(1) Tradicional-normativa
Orientar a escolha da ênclise como opção preferencial, especialmen-
te na modalidade escrita, excetuando-se os contextos gramaticais
ditos “atratores” ou os contextos com futuro do presente e futuro do
pretérito.
Propor o uso da mesóclise em contexto com verbo no futuro do pre-
sente ou do pretérito em início absoluto de oração.
(2) Progressista
Orientar a opção do aluno na concretização de uma norma objetiva
do PB mais “genuína” ou original, que prevê não só a pouca produtivi-
dade de clíticos (especialmente o, a(s), lhe(s), nos, vos), mas também a
escolha da próclise sem qualquer restrição na modalidade oral e, por
consequência, na escrita. Desse modo, a ênclise seria uma variante a
ser evitada, numa espécie de combate à pressão normativa suposta-
mente causadora da variação em alguns contextos morfossintáticos.
234
Sintaxe de colocação
Dicas de estudo
FILHO, Paulo B. Sintaxe de Colocação. 8. ed. São Paulo: Atual, 1990.
Estudos linguísticos
1. Dê uma definição para:
Pronome enclítico.
Pronome mesoclítico.
Pronome proclítico.
235
Sintaxe de colocação
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Sintaxe de colocação
b) Qual é o verso escrito de acordo com essa regra e qual o verso em que
ela é transgredida?
237
Sintaxe de colocação
Referências
AZEREDO, José Carlos de. Iniciação à Sintaxe do Português. 7. ed. Rio de Janei-
ro: Jorge Zahar Editor, 2001.
______. Língua Materna: letramento, variação & ensino. São Paulo: Parábola,
2002.
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Sintaxe de colocação
Gabarito
1. Pronome enclítico é aquele colocado após o verbo; pronome mesoclítico
é aquele intercalado ao verbo; pronome proclítico é aquele colocado an-
tes do verbo.
2.
a) É a regra segundo a qual não se pode iniciar frase com pronome pessoal
oblíquo átono.
239
Pontuação
241
Pontuação
palavras gráficas;
frases e partes de frases;
parágrafos e capítulos;
sinalização semântica ou extralinguística.
A pontuação da palavra
Os limites das palavras se dão pela utilização de três sinais: a) branco; b) o
apóstrofo; c) o traço de união.
Os outros sinais pontuais (que podem ser colocados entre duas palavras) só
podem aparecer onde há branco.
A pontuação da frase
Aqui podem ser incluídos quatro aspectos:
242
Pontuação
(4) Ele sentiu, é bem verdade, que não havia solução – as provas disso
eram evidentes –, contudo a afirmação “tentemos mais uma vez”, era
constantemente repetida por todos.
A pontuação metafrástica
São assim chamados todos os sinais que marcam os limites de sequências de
ordem superior à frase. Segundo Rocha (1997), em geral, estes sinais referem-se
à utilização do espaço em branco da página:
Quando pontuar
Consultando alguns estudiosos da pontuação, percebemos que vigoram duas
posturas para interpretar a questão: uma que vê a pontuação, dentro do sistema
geral da escrita, como “desligada” da fala, e outra que considera a pontuação
como elemento do sistema da escrita, mas sujeito a influências da oralidade.
243
Pontuação
1 2
(5) A palavra – dom celeste que foi dado ao homem –, que não é conce-
dida ao animal, é uma dádiva para o homem.
Unidade intercalada 1 – dom celeste que foi dado ao homem: essa unidade se
infiltra na oração principal que é : a palavra é uma dádiva para o homem.
1 2
(6) Os livros, pouco valorizados pelos homens, contêm, muitas vezes,
sábias soluções para os problemas humanos.
Sobre esse emprego das vírgulas, De Nicola e Infante (1997) afirmam que esse
é um uso consagrado, mas que acaba por separar o sujeito (os livros) do predica-
do (contêm sábias soluções para...); por essa razão, seu emprego só se justifica por
motivos de clareza e não por motivos lógico-sintáticos.
Como você pode observar, o uso dos sinais de pontuação dá diferentes opções
ao enunciador, contudo uma pontuação inadequada produz efeitos desastrosos
à comunicação e pode provocar efeitos de sentido não intencionados.
(10) Levar uma pedra para Europa uma andorinha não faz verão.
(11) Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe do fazendeiro era também o
pai do bezerro.
Segundo o autor, para outros, no entanto, que creem que apenas no Dia do
Juízo Final se poderá estar no paraíso, o versículo:
Bearzoti Filho (1990) afirma que o mesmo acontece nos seguintes períodos:
Em (14), a pessoa diz que seus clientes sempre retornam, porque são todos
tratados com simpatia. Em (15), fica subentendida a ideia de que há clientes
que não são tratados com simpatia, e só aqueles que são tratados desse modo
voltam ao estabelecimento comercial.
246
Pontuação
cutor, pois se trata de uma “pergunta retórica”, que certamente será respondida
pelo próprio enunciador.
(16) Você pensa que o meu pai ganhou esse dinheiro em um jogo de lote-
ria? Engano! Ele trabalhou muito!
Enumerações
Intercalações
Supressões
247
Pontuação
Se o último desses núcleos for introduzido pela conjunção “e”, não se usará
vírgula.
248
Pontuação
(27) [Na semana passada], a banda chegou ao Brasil para uma apre-
sentação única.
circunstancializador de tempo: adjunto adverbial
Segundo Bechara (2004), o vocativo, por ser um termo que não faz parte
nem do predicado, nem do sujeito, deve sempre ser separado por vírgulas, em
qualquer posição na frase.
249
Pontuação
250
Pontuação
251
Pontuação
Observe os exemplos:
No final de cada um dos itens, exceto do último, numa lista de pedidos con-
siderados, conclusões etc.:
252
Pontuação
253
Pontuação
(57) Não quero ir ao cinema porque... porque... eu estou com dor de cabeça.
Agora, vamos ver alguns casos em que a reticência é usada com finalidades
expressivas:
254
Pontuação
(63) “As armas e os barões assinalados,/ [...] Cantando espalharei por toda
a parte”. (Camões).
O uso do travessão
De forma objetiva, o travessão é usado, no discurso direto, para indicar a fala
de personagens ou a mudança de interlocutor nos diálogos.
(68) Guto, já abraçando os amigos – pois o ônibus estava para partir –, disse:
– Não chorem, daqui a três meses estou de volta!
255
Pontuação
em que se proferem, de regra, em tom de voz mais baixo” (KURY, 1982). A partir
dessa proposição, podemos ter a utilização dos parênteses:
(71) A atriz, apesar dos seus cinquenta anos, era linda (é claro que as apli-
cações de botox ajudaram bastante).
Importante: se dentro da citação feita ocorrer outra, esta virá entre aspas
simples.
256
Pontuação
Para destacar palavras usadas fora do seu contexto natural (sentido figurado):
Para concluir, podemos dizer que os sinais de pontuação, além de seu caráter
objetivo (no sentido de sinal gráfico), são revestidos também de alta subjetividade:
cada pessoa recorre a eles de modo peculiar, a partir da intencionalidade do discur-
so. Mas não podemos deixar de salientar que a observação das regras básicas aqui
apresentadas, aliada à observação da pontuação nos textos que lemos e à prática
regular da produção de textos, torna possível o emprego adequado da pontuação
de forma a enriquecer e a tornar mais claros os enunciados que produzimos.
Texto complementar
257
Pontuação
um professor que o fizesse como um novelista do século XIX, poderia ter seu
texto corrigido, dele eliminando-se vírgulas a torto e a direito. (1985: 5).
Ainda sobre a flexibilidade da pontuação em relação ao gênero, Halliday
(1989: 37-38) explica que há registros em que a pontuação é reduzida ao mínimo,
como na linguagem legal. Neste caso, as marcas de pontuação, segundo ele,
seriam instáveis demais para que se ficasse na sua dependência. Além disso,
seria possível fraudar o documento, inserindo, alterando ou eliminando a pon-
tuação. Por esta razão, adotou-se como norma que o texto legal ideal restringiria
ao máximo a pontuação. Na verdade, este tipo de texto não é para ser lido oral-
mente, dispensando as pausas para respirar. E para o propósito de documentar
evidências em possíveis casos de dúvidas, bastaria a simples leitura silenciosa.
Finalmente, há que se apontar ainda a forte influência que exercem atual-
mente a pontuação publicitária, a jornalística e a dos quadrinhos, chegando a
subverter os usos clássicos. A grande variedade de impressos produzidos hoje
em dia (jornais, revistas, folhetos, catálogos, prospectos, afixos, panfletos etc.)
vai alterando as referências existentes e criando novos estilos de pontuar.
Ilustrativo dessa tendência é o emprego da vírgula violando a norma gra-
matical no anúncio publicitário seguinte:
Fast Print
Impressão Rápida
Onde a pressa,
é amiga da perfeição.
Um outro exemplo, agora no texto jornalístico é, por exemplo, o emprego
novo que Gilberto Dimenstein faz dos dois-pontos. Em matéria de A Folha de
São Paulo, datada de 22/08/93, podemos verificar como o articulista poupa
as conjunções integrantes e deixa falar os títulos pela simples aposição de
dois-pontos (ver passagens em itálico):
Como você reagiria?
Já tinha concluído ontem minha coluna mostrando como o massacre
dos Ianomamis simbolizava a vulgarização da violência. Mas mudei de ideia
depois de ler o artigo, também sobre violência, publicado ontem, escrito por
uma das personalidades mais respeitadas (justamente, diga-se) do país: Dom
Eugênio de Araújo Sales, cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro. Confesso: senti
medo. Não por mim, mas pelos outros.
Ele classifica o aborto como assassinato. Informa que nenhum defensor do
aborto pode ostentar o título de católico. A pena: excomunhão automática. O
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Pontuação
259
Pontuação
Dicas de estudo
CHACON, L. A pontuação e a demarcação de aspectos rítmicos da lin-
guagem. DELTA: Documentação de Estudos em Linguística Teórica e
Aplicada, São Paulo: PUC, v. 13, n.1, 1997. Disponível em: <www.scie-
lo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501997000100001-
&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 15 out. 2008.
Estudos linguísticos
1. Reescreva as frases abaixo utilizando a vírgula se for necessário e justifique
seu emprego:
260
Pontuação
261
Pontuação
Referências
BEARZOTI FILHO, P. Sintaxe de Colocação – teoria e prática. São Paulo: Atual,
1990.
Gabarito
1.
263
Elvira Lopes Nascimento
Concordância e
Regência
Concordância e Regência
Concordância e
Regência