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ARTICULADORES – DA SINTAXE DA FRASE À SINTAXE DO TEXTO

ARGUMENTAR: conduzir o leitor a determinada conclusão através de proposições, conectores e


operadores:

1) Orientação argumentativa

1.1) O acidente foi grave, portanto os envolvidos continuam internados.


Proposição 1 Proposição 2

P1 portanto P2
Se P1 então P2
Visto que P1 é de se esperar que P2
P2 tanto que P1
P2 porque P1
P2 já que P1

Argumento Conclusão
Mesma orientação argumentativa

1.2) O acidente foi grave, mas os envolvidos já receberam alta.


P1 P2

P1 mas P2
Embora P1, P2
P2, apesar de P1

Argumento Conclusão esperada


X
Conclusão apresentada
Orientação argumentativa contrária

2) Implícitos
Acidentes podem ser graves ou não.
Acidentes graves levam os envolvidos a permanecerem internados.
Acidentes graves não levam à liberação imediata dos envolvidos.
A gravidade de um acidente pode ser medida.

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ARTICULADORES

Os articuladores (também chamados nexos ou conectores) são conjunções, advérbios e


preposições responsáveis pela ligação entre si dos fatos denotados num texto.
Eles exprimem os diferentes tipos de interdependência de sentido das frases no processo
de sequencialização textual. As proposições, isto é, as sentenças declarativas podem se relacionar
indicando causalidade, disjunção, finalidade, oposição, etc.

(GIERING, M.E. et al. Análise e produção de textos. São Leopoldo, Unisinos)


1. Relação de adição

Os conectores articulam sequencialmente frases cujas proposições se adicionam a favor de


uma mesma conclusão. Trata-se dos articuladores: e, também, não só... como também, tanto...
como, além de, além disso, ainda, nem, etc.
Nápoles é uma linda cidade. Não somente nos passeios à beira-mar, mas também na
Vecchia Napoli, uma teia de ruelas atravessadas por varais.

P1 não somente P2, mas também P3


(informação já esperada) (informação inesperada, argumento + forte)

2. Relação de condicionalidade

Essa relação é expressa pela combinação de duas proposições, uma introduzida pelo
articulador se ou caso (antecedente) e outra pelo então (consequente), que pode vir implícito.
Sendo o antecedente verdadeiro ou possível, o consequente também o será.

Proposição 1: Se você anda sentindo cansaço, fadiga, falta de concentração,


antecedente

Proposição 2: (então) pode estar ocorrendo em seu organismo uma queda de energia.
consequente

Na relação de condicionalidade, estabelece-se, muitas vezes, uma condição hipotética, isto


é, cria-se com a proposição introduzida pelo articulador se ou caso uma hipótese, que condicionará
o que será dito na proposição seguinte. Em geral a proposição situa-se em um tempo futuro.

Se as guerras forem eliminadas e a produção for organizada cientificamente, (então)


é provável que quatro horas de trabalho por dia bastem para dar comodidade a todos.

O emprego do articulador se estabelece uma condição hipotética: a eliminação das guerras.


A segunda proposição – a redução das horas de trabalho – se projeta em função da primeira.

O articulador se pode também introduzir uma generalização, isto é, um fato que pode, por
hábito, regra ou norma, sempre acontecer:

• Se as luzes estão acesas, João está em casa.


• Se colocamos o açúcar na água, ele se dissolve.
• Se a palavra é proparoxítona, leva acento.

3. Relação de causalidade

A relação de causalidade é expressa pela combinação de duas proposições, uma das quais
encerra a causa que implica uma determinada consequência.

• Nesse momento de transição de tantas coisas, talvez devamos ler muito os ficcionistas e os
poetas porque eles escrevem uma literatura mais aberta da nossa realidade transitória.

• Como são sólidas e já tem caixa alto, as companhias japonesas conseguem tomar
financiamentos a juros de 4% ao ano.
• As intoxicações alimentares podem causar problemas tão grandes que acabam
ocasionando a morte.

4. Relação de temporalidade

É a relação por meio da qual se localizam no tempo ações, eventos ou estados de coisas do
mundo real, expressos por meio de duas proposições.

No Brasil, quando se trata da educação do primeiro grau ou do pré-escolar, o que


está na mente de todo mundo é a criança das cidades.

a) A concomitância de fatos:

Enquanto a recessão nos Estados Unidos produz marolas em economias do mundo


inteiro, a brasileira vitima apenas os brasileiros.

Não se pode exigir de nenhum escritor, enquanto escritor, a adesão a uma estrutura
política partidária.

b) Um tempo progressivo:

À medida que sobe o nível do mar, as comunidades litorâneas defrontam-se com


duas escolhas fundamentais: retirar-se da praia ou rechaçar o mar.

c) Tempo anterior:

Entre na luta a favor da natureza antes que ela vá a nocaute.

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ARTICULADORES TEXTUAIS

O encadeamento de segmentos textuais de qualquer extensão (períodos, parágrafos,


subtópicos, sequências textuais ou partes inteiras do texto) é estabelecido, em grande número de
casos, por meio de recursos linguísticos que se denominam articuladores textuais ou operadores
de discurso.
Tais articuladores podem relacionar elementos de conteúdo, ou seja, situar estados de
coisas de que o enunciado fala no espaço e/ou no tempo, bem como estabelecer entre eles relações
de tipo lógico-semântico; podem estabelecer relações entre dois ou mais atos de fala, exercendo
funções enunciativas ou discursivo-argumentativas; e podem, ainda, desempenhar, no texto,
funções de ordem meta-enunciativa.
(KOCH, I.G.V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez)

Articuladores textuais, ou marcadores discursivos, são expressões linguísticas, provenientes


das classes de conjunções, advérbios, preposições, envolvidas na construção do sentido do texto.
Eles relacionam segmentos textuais de qualquer extensão (períodos, parágrafos,
sequências textuais ou porções maiores do texto) e contribuem para a interpretação do enunciado,
com três funções relevantes: cognitiva, por guiarem o interlocutor no percurso interpretativo do texto;
enunciativa, por remeterem ao próprio evento da enunciação; argumentativa, por apontarem a
orientação argumentativa do texto.
(MARINHO, J.H.C. Articuladores textuais. Glóssário. CEALE, UFMG)
1. Organizadores textuais

Ordenam o texto em uma sucessão de segmentos complementares: em primeiro lugar/em


segundo lugar, depois/em seguida/enfim/por último/por fim, por um lado/por outro lado.

2. Marcadores metadiscursivos

Atribuem um ponto de vista a partes do texto, servindo para o locutor comentar a formulação
do enunciado ou a própria enunciação:

2.1. Atitudinais ou afetivos

Encenam a atitude psicológica com que o enunciador se representa diante dos eventos de
que fala o enunciado:

Infelizmente, nem sempre se pode confiar nas notícias veiculadas pela grande imprensa.

2.2. Atenuadores, com vista à preservação das faces:

Talvez fosse melhor penar em modificar o atual estatuto, que, ao que me parece, apresenta algumas
lacunas que poderão que poderão criar problemas futuros.

No meu modesto modo de entender, creio que deveríamos refletir um pouco mais sobre essa
questão.

2.3. Comentadores da adequação do tema ou dos termos utilizados:

porque... a assistência odontológica... implica evidentemente... em custos...


demasiadamente elevados para o: ... o público ou para a coletividade... ou a grande massa
como nós... chamamos habitualmente... sabemos por exemplo... que... toda e qualquer
cirurgia... no campo médico... propriamente dito... implica... obrigatoriamente... em
despesas... as mais elevadas... despesas essas que os associados não têm realmente
condições... de: ... conseguir... um meio ou uma maNEIra... digamos assim... de levar
adiante aquela coisa (...)
sabemos por exemplo... que o sindicato... dos comerciários para falar de um assunto que
nos toca... pati/particularmente... possui uma granja na cidade de Carpina... e que
proporciona... àquela iMENsa... LEva... de associados... um lazer realmente magnífico... um
momento de:... descanso... um momento de feliciDAde... podemos dizer assim... a todos
aqueles... que vão... até lé em busca de PAZ de sossego e de tranquilidade... (NURC-RE,
DID 131: 18-34)

3. Marcadores conversacionais

Operam o “amarramento” de porções textuais (aí, daí, então, agora, aí então), extremamente
frequentes em textos falados, embora com muitas ocorrências também em textos escritos,
especialmente quando se deseja dar a estes uma feição semelhante à da fala, como é comum na
literatura infanto-juvenil:

(...) nessa casa minha mãe teve infecção dentária teve reumatismo ficou dois meses
paralítica de cama... daí que meu pai (chamou-nos e) (disse) “ah o negócio é assim é... cada
um de vocês vai ter que aprender a: ... fazer serviço de casa”... porque n/Naquela ocasião
se pagava... cento e vinte mil réis por uma empregada... meu pai oferecia um CONto de
réis... que eram sete ou oito vezes mais... ( ) ninguém queria trabalhar... porque via QUATRO
MOLEQUES ENDIABRADOS... e a dona de casa estendida numa::.. cama... então todos
nós começamos a trabalhar... (A língua falada culta na cidade de São Paulo).

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