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À luz do art 1º/2 do CSC “são sociedades comerciais aquelas que tenham por objetivo a
prática de atos de comércio e adotem o tipo de sociedade em nome coletivo, da sociedade por
quotas, de sociedade anónima, de sociedade em comandita simples ou de sociedade de
comandita por ações.”, ou seja, este artigo só nos indica quais as espécies de sociedades que
podem existir e que se consideram comerciais aquelas que têm o intuito de praticar atos de
comércio, existindo neste preceito um elemento material (relativo à prática de atos de
comércio) e um elemento formal (é um elemento essencial porque a entidade que adote um
tipo de sociedade comercial irá se regular pelo Direito das Sociedades). O art 1º/4 refere que
as sociedades que não tenham por objeto a prática de atos não comercias também se regulam
pelo Código das sociedades, podendo adotar os tipos de sociedades referidos supra.
Admitindo que estamos perante uma sociedade, temos que ter igualmente em conta o art
980º do CC, relativo ao contrato de sociedade. Este preceito refere que este é um contrato
pelo qual duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício
em comum de certa atividade económica, que não seja de mera fruição, a fim de repartirem os
lucros resultantes dessa mesma atividade.
Neste caso existem apenas dois sócios e administradores (A e B).
No que toca à primeira sociedade, Solar do Arneiro Lda, esta é uma sociedade por quotas e
por isso A e B são solidariamente responsáveis pelas entradas estabelecidas no contrato social
(art 197º/1). Refere o nº3 do mesmo artigo que só o património social responde para com os
credores pelas dívidas da sociedade. A e B respondem perante a sociedade, pela realização das
entradas dos seus consórcios, porém, não assumem nenhuma responsabilidade perante os
credores da sociedade. Com isto, verificamos que esta responsabilidade é uma
responsabilidade limitada.
Em relação à segunda sociedade, VitArneiro – Exploração vinícola SA, esta corresponde a
uma sociedade anónima. Por isto, A e B respondem pelas suas próprias entradas e não pelas
dos consórcios, à luz do art 271º, estes não respondem pelas dividas da sociedade. Com isto,
os sócios têm uma responsabilidade duplamente limitada em duas vertentes. Na vertente
externa porque estes não respondem perante os credores e pelas dividas da sociedade e na
vertente interna, estes não respondem por nenhuma divida sem ser pela sua própria entrada.
Por último, a sociedade Arneiro e Arneiro, SNC corresponde a uma sociedade em nome
coletivo. No disposto do art 175º, na sociedade em nome coletivo o sócio responde
individualmente pela sua entrada, respondendo pelas obrigações sociais subsidiariamente em
relação à sociedade (os credores sociais só podem exigir o cumprimento aos sócios quando o
património social se esgote) e solidariamente com os outros sócios (os credores da sociedade
podem exigir a qualquer sócio a totalidade da divida). Em suma, A e B respondem perante a
sociedade pela sua obrigação de entrada e respondem perante os credores da sociedade pelas
obrigações desta.
3. O negócio do vinho alvarinho está a correr bastante bem aos irmãos Arneiro, que
sonham agora em lançarem-se na exportação. Para efeito, a VitArneiro, SA. necessita
de contrair um financiamento bancário, o que exige a constituição de uma hipoteca.
Todo o património imobiliário (incluindo os hectares da vinha) é propriedade da
Solar Arneiro, Lda. Para além disso, António necessita de um financiamento pessoal
que exige igualmente a constituição de uma garantia real.
É o art. 160º do CC que articula a matéria da capacidade nas pessoas coletivas. Neste artigo
temos a consagração do principio da especialidade. A capacidade das pessoas coletivas é
limitada por este principio. Esta redação está praticamente constituída no art. 6º/1 CSC.
O principio da especialidade está espelhado no CSC, no seu art. 6º.
A interpretação que é mais compatível com o sistema e com a lógica das sociedades
comerciais e o art. 6º é uma interpretação que tenta fazer apelo a uma diferenciação entre o
objeto imediato (atividade comercial concreta da sociedade) e mediato (realização nos termos
que estão traçados no art. 980º CC). Com isto, o principio da especialidade é limitativo da
capacidade jurídica das sociedades em função do objeto mediato.
Como já sabemos, a sociedade tem por objeto a realização de lucros, ou seja, os atos que a
sociedade realize que sejam contrários com o objeto mediato (produção de lucros)
confrontariam com o principio da especialidade.
O problema da capacidade das sociedades tem sido alvo de críticas nomeadamente quanto à
concessão de garantias pela própria sociedade.
O art. 6º/3 veio proibir as sociedades de prestar garantias, salvo se existir justificado interesse
próprio da sociedade garante ou se se tratar de sociedade em relação de domínio ou de grupo.
De acordo com o Prof. Menezes Cordeiro, estas exceções de certa forma consomem a própria
norma. O interesse justificado é definido pela própria sociedade, por meio dos seus órgãos.
Com isto é notório que, quando se presta uma garantia, é fácil invocar o interesse próprio
justificado.
Contudo o art. 6º/3 tem de ser combinado com o seu nº1. Não faria sentido que a lei proibisse
a prestação de garantias por parte da sociedade, podendo existir uma justificação de interesse
próprio desta na prestação dessas garantias.
A meu ver, aqui pode existir uma violação do art. 6º/3 relativo à garantia real prestada a A,
dado que a sociedade tem por objeto a realização de lucros, os atos que a sociedade pratique
que sejam contrários com o objeto mediato (produção de lucros) acabam por afrontar com o
principio da especialidade. Com isto, a constituição de uma garantia real para financiamento
pessoal de A parece contrária a esse fim e por isso violaria o preceito da norma.
Por outro lado, quanto ao financiamento bancário que a VitArneiro, S.A. que precisa e exige a
constituição de uma hipoteca, do meu ponto de vista parece que estamos perante uma
situação de interesse justificado próprio da sociedade garante, já que, como referi supra, o
objeto mediato da sociedade é a produção de lucros, podendo englobar, precisamente, o
aproveitamento dos hectares de vinha (que pertencem à sociedade garante), para a produção
de vinho. Com a isto, a possibilidade de utilização dos hectares pode representar um aumento
dos lucros da sociedade garante (a Solar Arneiro) e por isso podemos afirmar que há um
interesse próprio justificado da sociedade em conceder a garantia.
4. Uma conhecida publicação da área do turismo e lazer fez uma reportagem sobre o
Solar do Arneiro. A reportagem em causa era bastante desfavorável ao
empreendimento e divulgava dados incorretos, alguns deles completamente falsos...
A sociedade Solar Arneiro, Lda. moveu uma ação contra a referida publicação,
pedindo a condenação da mesma no pagamento de indemnização por violação do
direito ao bom nome e à imagem, a fixar nos termos do artigo 496º/3 do CC. A e B,
moveram igualmente uma ação contra a publicação, pedindo uma indemnização por
violação dos seus direitos de personalidade. Quid juris?
As sociedades são centros de imputação de normas jurídicas, estas são capazes de ser titular
de direitos subjetivos ou de se encontrar sujeita a obrigações.
Com isto, realçam os direitos de personalidade, destacando-se os direitos ao bom nome e à
honra. O direito ao nome é um elemento essencial nas sociedades comerciais (art 9º/1/a ).
Como refere o enunciado, a reportagem feita sobre o Solar do Arneiro foi uma reportagem
bastante desfavorável ao empreendimento e ainda divulgaram dados incorretos. Posto isto,
estamos perante um problema de violação de direitos de personalidade, mais precisamente
um problema de violação do direito ao bom nome e à imagem da mesma.
Temos que averiguar a capacidade da sociedade para intentar uma ação, esta matéria está
prevista no art 6º do CSC. Este mesmo artigo, no seu nº1 na parte final, refere que fica excluída
da capacidade, os direitos e deveres inseparáveis da capacidade singular. Todavia o art. 12º/2
CRP refere que as pessoas coletivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos direitos
compatíveis com a sua natureza, não ficando por isso de lado, o direito ao bom nome e o
direito à honra.
Concluindo, a sociedade é titular de direitos de personalidade como o direito ao bom nome e o
direito à imagem, tendo também capacidade para intentar uma ação que permita garantir que
os mesmos direitos estão a ser respeitados.
É importante referir ainda que, os direitos de personalidade começaram por ser configurados
quanto a pessoas, existindo duas dimensões: a externa e interna. No direito ao bom nome,
falamos do direito à honra com uma proteção externa e uma dimensão interna.
As pessoas coletivas não têm um substrato humano que lhes permita o sofrimento da
construção da dimensão interna, mas temos a dimensão externa. A dimensão da honra tem
impacto na sua rentabilidade e na sua possibilidade de desenvolver a atividade comercial.
O art. 496º CC deixa clara a pretensão indemnizatória da ofensa ao direito ao bom nome das
pessoas coletivas. Neste ponto, já apresentei o direito em causa, faltando saber qual o tipo de
dano que aqui é sofrido, se é um dano patrimonial ou não patrimonial. Se verificarmos, os
danos morais estão associados ao sofrimento. Os danos não patrimoniais não são
transponíveis para as pessoas coletivas isto porque as pessoas coletivas não têm características
da pessoa humana (não choram, não sentem dor) então, se a pessoa coletiva não sofre, não é
suscetível deste tipo de danos. Com isto, a ofensa do bom nome e reputação das sociedades é
dano patrimonial indireto, não sendo possível existir uma indemnização por danos não
patrimoniais.
Assim, e tendo apenas sido violado o direito à imagem e ao bom nome da sociedade, A e B
podem propor a ação enquanto representantes da sociedade, não enquanto pessoas
singulares, já que os seus direitos de personalidade não foram violados, mas sim os da
sociedade enquanto pessoa coletiva titular de direitos e obrigações.