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VIABILIZAÇÃO DAS URE (WTE) - UMA PROPOSITURA DE AÇÕES

VIABILIZAÇÃO DAS URE (WTE)


UMA PROPOSITURA DE AÇÕES
Eng..: Sebastião Carlos Martins

Parte A

Os investidores do Brasil, diferentemente dos investidores de países desenvolvidos,


ainda não se conscientizaram de que o sucesso de seus empreendimentos passa,
inexoravelmente, por um bom estudo de viabilidade técnica e econômica, e iniciam os
seus investimentos com base em exemplos vistos em outros empreendimentos,
esquecendo-se de um fator primordial: cada projeto é único, e como tal, deve assim ser
visto, dedicando-se, inicialmente, à sua avaliação prévia de resultado, situação que lhes
será assegurada por um estudo de viabilidade econômica/ financeira, inserido no
contexto sócio, politico, ambiental e técnico, e este ultimo pelo ajuste de sua
conformidade com as mais modernas e eficientes tecnologias aplicáveis existentes.

Destaca-se, ainda, a necessidade de s e somar, aos estudos determinísticos de um


projeto, a sua análise de risco, realizada por softwares específicos de aferições
probabilísticas (Simulacao de Monte Carlo para geração de energia a partir do RSU),
de resultados dependentes de valores incertos dos parâmetros que lhes dão
sustentação de cálculo, a exemplo do que ocorre nos projetos de mineração e
exploração de petróleo, que demandam conhecimento avançado de estatísticas, e
onde os técnicos acabam por subestimar tais necessidades, para não exporem suas
próprias fragilidades na tomada de decisões.

Mesma situação ocorre nos projetos das usinas de recuperação de energia


(URE/WTE) e das usinas fotovoltaicas, onde os valores que dão sustentação aos
cálculos da TIR (Taxa Interna de Retorno) se fundamentam em parâmetros de cálculo
de variabilidade probabilísticas e não determinísticas.

Somando-se ao comportamento intrínseco do empresariado brasileiro, existe uma


estrutura burocrática que impede o fluir natural e harmônico da verificação de
conformidades dos projetos perante seus enquadramentos às leis, normas e outras
formas de aferição de conformidade, e que podem levar, circunstancialmente à
corrupção, atrasos e aumento dos custos dos projetos, se comparados aos similares
oferecidos por países desenvolvidos, que primam pela economicidade, celeridade e
eficiência na análise de iguais premissas, que fundamentam a liberação de novos
investimentos.

Normalmente, a visão do empresariado nacional não se apoia em adoção de medidas


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preventivas, por considerá-las como uma despesa dispensável, já que diminui a sua
lucratividade, e acaba recorrendo a profissionais específicos e qualificados somente em
situações quando já existem prejuízos financeiros expressivos estabelecidos, e que
p o d e r i a m ter sido evitadas com o apoio de profissionais competentes.

Infelizmente são poucos os empresários que têm a visão de que cada projeto é “único”
e não se pode simplesmente utilizar “Ctrl+C e Ctrl+V” nesta área. Por esse mo t i v o ,
os projetos ou não saem do papel, ou acabam custando mais caro (estouro de verba)
ou, o que ocorre na maioria das vezes, não geram os resultados esperados, onde o
empresário acaba por justificar esse “fracasso” como algo inerente à natureza dos
investimentos, sem reconhecer a própria falha, por não ter adotado medidas de
maneira mais profissional, através da contratação de serviços consultivos
multidisciplinar, sérios, pontuais, atualizados que, certamente, evitariam prejuízos
materiais e emocionais.

As despesas vistas como desnecessárias pelos empreendedores na contratação de


profissionais experientes e multidisciplinares, contemplando a análise risco, resultam em
sensíveis economias na execução das obras e redução dos custos de garantia do projeto.

Eng..: Sebastião Carlos Martins


Email: scm.sistemas@gmail.com
Fone : (31) 99645-0801
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Parte B

1) Introdução

Neste anexo apresentamos um resumo dos custos da energia fotovoltaica nos Estados
da Federação, bem como suas respectivas evoluções, ressaltando sua tendência de
baixa, resultado da evolução tecnológica dos inversores e módulos, bem como do apoio
dado pelo governo em prestigiar tais modalidades de geração de energia e sua
respectiva inserção na matriz energética através dos leilões processados nos anos de
2014, 2015, 2016, 2017 e 2018 (vide item 4).

Iguais mecanismos e incentivos deveriam contemplar a geração de energia elétrica


pelo uso dos resíduos sólidos urbanos (RSU) processados nas Unidades de
Recuperação Energética (URE/WTE), sem o que esta modalidade e geração de
energia pela recuperação dos recursos energéticos contidos nos RSU jamais sairá do
contexto especulativo, principalmente quando sua existência vem contrapor os
interesses dos empresários que se beneficiam com a utilização de aterros sanitários,
prática que vem decaindo nos países desenvolvidos e que aqui encontram um campo
fértil de proliferação através das beneficies concedidas pelos gestores municipais,
estaduais, federal e órgãos de controle ambiental.

“Pela relevância da importância do apoio governamental na criação de


mecanismos que venham a facilitar a geração de energia elétrica a partir dos
resíduos sólidos urbanos (RSU/MSW), conforme, aliás, preconiza a Lei
12.305/2010 e a Portaria 274/2019, transcrevemos o trecho do artigo de
autoria de Eng. Paula Comarella Nogueira e nos mostra o comportamento dos
países responsáveis pela introdução e evolução tecnológica da energia
fotovoltaica na sua matriz energética.”

“Por oportuno esclarecemos que a Lei 12.305/2010 determina uma escala de


prioridade para sua utilização do RSU, agora melhor caracterizado pela
Portaria 274/2019, destacando-se que dele se extraia todos os seus recursos
econômicos antes de sua disposição final em aterros sanitários.

Art. 1º Disciplinar a recuperação energética dos resíduos sólidos urbanos, em


atendimento ao disposto no art. 37 do Decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de
2010.
Parágrafo único. A definição prevista no inciso I deste artigo inclui o tratamento
por oxidação térmica (incineração) e outros processos, tais como pirólise,
gaseificação ou processos de plasma.”
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Iguais procedimentos e incentivos contemplaram, nos países europeus e asiáticos, a


geração de energia elétrica pelo aproveitamento dos recursos energéticos dos RSU,
contribuindo de forma relevante na limpeza do meio ambiente causada pelos lixões e
inadequados aterros sanitários.

Portanto, com vista à obtenção de resultados semelhantes, conclamamos a ABREN


(Associação Brasileira de Recuperação Energética) e respectivos associados que
promovam um consistente e amplo estudo da viabilidade técnica econômica de
aproveitamento dos recursos energéticos dos RSU, contemplando, inclusive a sua
análise probabilística de resultados, vistas no link Simulacao de Monte Carlo para
geração de energia a partir do RSU, de formas a consubstanciar a ações
governamentais na implantação de um planejamento integrado nos diferentes
Ministérios que, direta ou indiretamente, tenham ações temáticas vinculadas com o que
prescreve a Lei 12.305/2010 e Portaria 274/2019, pelo que, objetivando a consecução
de tais finalidades, o autor deste trabalho apresenta a sugestão de se atribuir ao um
único Ministério a responsabilidade da gestão integrada dos Ministérios do Meio
Ambiente, Infraestrutura, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, dado a
necessidade da organização de ações estratégicas de governo para a promoção de leis
e mecanismos que obtivem a consecução de ações pertinentes.

Procedidas as sugestões acima, passaremos a apresentar o trabalho de autoria da


Eng. Paula Comarella Nogueira, da UFRJ, que nos contempla com as medidas
adotadas para a implementação bem sucedida da energia fotovoltaica no contexto
energético mundial e nacional.

2) Modelos de incentivos governamentais

Em nenhum país, no continente europeu, a energia elétrica gerada a partir de


sistemas fotovoltaicos atingiu paridade com as tarifas praticadas pelas concessionárias.
Em 2012, o custo médio da geração fotovoltaica residencial foi estimado em USD 0,30
por KWh enquanto a tarifa residencial media, estava com media avaliada em USD 0,1
por KWh, ou seja, cerca de 60% menor do que o custo de geração solar.

Figura 14 - Custo Médio da Eletricidade por fonte. Fonte: IRENA (2014)


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Uma vez que gerar energia a partir da luz solar é tão caro e desinteressante para
o investidor privado, é justificável questionar o como foi feito para que países como a
Alemanha, Itália, Espanha, EUA e China tenham instalado uma potência considerável
nos últimos anos, e o mais importante, tendo a maior parte desse potencial sido
instalado com investimento privado, mostrando que se trata de um investimento
lucrativo. (RIBEIRO, U. 2012).

O que aconteceu nestes países foi a intervenção do governo, através de ações


positivas para o mercado fotovoltaico com o intuito de auxiliá-lo a se desenvolver até
que este seja capaz de manter-se por conta própria. Os instrumentos de incentivo à
adoção de fontes renováveis / fotovoltaicas são variados, havendo grandes diferenças
entre os sistemas criados em um país ou no outro.

O Feed in Tariff é o mecanismo de incentivo mais difundido e adotado em todo


o mundo, com uma quota de mercado aproximadamente 58% em 2014 (IEA 2015).
Subsídios diretos e reduções de impostos estão em segundo lugar, com uma quota de
16,1%, seguido por net-metering com 16%, conforme a figura 17.

Figura 15 - Distribuição de incentivos à geração FV, 2014. Fonte: IEA (2015)

É importante destacar que os mecanismos utilizados para incentivar a geração


solar fotovoltaica não se restringem a esses sistemas, tendo cada país utilizado uma
receita própria de combinações de diversos incentivos. Abaixo verificam-se as práticas
utilizadas em países com destaque na capacidade instalada mundial:

Quadro 1 - Mecanismos de incentivo à geração solar em 2015.


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2.1) Feed In Tariff

Este programa é o principal instrumento de incentivo às tecnologias renováveis


conectadas à rede na Europa, sendo em alguns países, aplicada não somente para o
caso da geração fotovoltaica, mas também para a eólica e a biomassa.

O feed in tariff (FiT), em linhas gerais, consiste no pagamento de uma tarifa


(usualmente com valores acima das tarifas finais de energia), pelas concessionárias de
energia locais, para a geração de energia produzida pelas instalações de energia solar,
este valor é chamado de buy-back rate. Os preços pelos quais o kWh é comprado
variam de um país para o outro, respeitando as tarifas locais, o local em que o gerador
distribuído é instalado, seja na ponta ou na base, as tarifas sazonais e a agressividade
do programa em cada país.

Nos locais onde o incentivo é mais incisivo, o buyback rate chega a ser até dez
vezes ao que seria pago pela energia convencional, e em alguns casos a empresa
operadora da rede é obrigada a comprar a totalidade da energia gerada pelo
consumidor, e não somente a quantidade injetada na rede. O custeio dessa tarifa em
geral é assumido pelos tesouros nacionais (modelo espanhol) ou rateado por todos os
consumidores de energia (modelo alemão). (ESPOSITO, A.; FUCHS, P. 2013)

A eletricidade produzida pelo sistema FV e injetada na rede é paga a um preço


pré-definido e garantido por um período fixado de tempo. Os exemplos mais bem-
sucedidos de FiT podem ser encontrados na China, Alemanha, Itália (até 2013) e
Japão, para mencionar alguns.

O principal objetivo é estimular o crescimento do mercado fotovoltaico, reduzindo


o payback time do investimento, com o pagamento das taxas especiais. Esta, inclusive,
pode permitir não só a redução da conta de luz como também lucro, no médio a longo
prazo.

A tarifa feed-in oferece três tipos de benefícios financeiros (ALVES, C. 2014):

• Compensação monetária (tarifa) por toda a energia produzida pelo sistema


FV, independentemente desta ser consumida localmente ou ser exportada
para a rede.
• Compensação monetária (tarifa) pela energia exportada para a rede elétrica
(caso haja mais produção que consumo).
• Compensação monetária (tarifa) pelo autoconsumo da energia produzida.
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Os mecanismos FiT são bem conhecidos pelo seu sucesso no desenvolvimento das
energias renováveis em larga escala, principalmente na Alemanha - onde foram
introduzidos pela primeira vez -, Dinamarca e Espanha. A grande vantagem deste
sistema, do ponto de vista do produtor FV, é a certeza com que este receberá suporte
financeiro à longo prazo, o que reduz consideravelmente os riscos de investimento
nesta tecnologia (POULLIKKAS, 2013)

A Alemanha adotou o mecanismo de Feed-in Tariffs em 2000, e logo se tornou


um dos principais mercados para a indústria fotovoltaica mundial. Em 2015 a produção
fotovoltaica alemã gerou 38.5TWh e representou 7.5% de todo consumo líquido de
eletricidade do país. (WIRTH, H. 2016). Além disso, em 2012, o consumo de 28TWh de
energia FV evitou a emissão de 18,6 milhões de toneladas de equivalentes de CO2.

Figura 16 - Distribuição do consumo líquido de eletricidade - Alemanha 2015.


Fonte: Fraunhofer ISE (2016)

2.2) Net Metering

O net metering consiste numa política energética de incentivo à geração


descentralizada, baseada na aplicação de um medidor bidirecional capaz de medir o
fluxo total de energia dentro de um período, permitindo ao consumidor compensar
parte ou a totalidade dos seus consumos, através da energia produzida pelos seus
sistemas fotovoltaicos.

Créditos são acumulados nas concessionárias quando há excedentes de


energia (geração solar supera consumo local). Débitos são acumulados quando o
inverso ocorre (o consumo local supera a geração solar). Há um balanço realizado
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pelas concessionárias no momento do faturamento das contas de energia, no qual


créditos acumulados compensam débitos.

O Net Metering representa uma ótima solução para incentivar os consumidores


a investir em geração, já que se trata de um modelo com baixíssimo custo de
aplicação. Esse modelo de comercialização de energia é o que predomina nos EUA e
o que foi regulamentado no Brasil por meio da Resolução ANEEL REN 482/2012.

3) Incentivos Financeiros

Os incentivos financeiros são um dos principais meios de incentivo para a energia


de origem solar fotovoltaica, estes são representados tanto pela obtenção de crédito
em linhas especiais, quanto pela redução de impostos. Os créditos tributários podem
ser considerados da mesma forma que os subsídios diretos uma vez que permitem
reduzir o investimento PV inicial. Os créditos tributários foram utilizados em uma grande
variedade de países, desde Canadá, EUA, para a Bélgica (até 2011), Suíça, França,
Japão, Holanda e outros.

No Brasil, regionalmente, medidas de estímulo à expansão da matriz fotovoltaica


vêm sendo tomadas por diversos Estados. Em 2015 o CONFAZ (Conselho Nacional da
Política Fazendária - Ministério da Fazenda) através do Ajuste SINIEF 2, revogou o
Convênio que orientava a tributação da energia injetada na rede. Cada estado passou
a decidir se tributa ou não a energia solar que é injetada na rede da distribuidora.

Essa postura foi adotada inicialmente pelos Estados de São Paulo, Goiás e
Pernambuco, e posteriormente por Rio Grande do Norte, Ceará e Tocantins, incluídos
pelos Convênios nº 44/15 (em 3/6/2015) e nº 52/15 (em 30/6/2015). Mais tardiamente
(em 18 de dezembro de 2015), por meio do Convênio ICMS 157/15, os Estados de
Acre, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul foram incluídos
nas disposições do Convênio ICMS 16/15.

CONVÊNIO ICMS 157, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2015, publicado no DOU de


22.12.15, pelo Despacho 240/15:

Dispõe sobre a adesão dos Estados de Acre, Alagoas, Minas Gerais1, Rio de
Janeiro, e Rio Grande do Sul ao Convênio ICMS 16/15, que autoriza a
conceder isenção nas operações internas relativas à circulação de energia
elétrica, sujeitas a faturamento sob o Sistema de Compensação de Energia
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Elétrica de que trata a Resolução Normativa nº 482, de 2012, da Agência


Nacional de Energia Elétrica - ANEEL.

Inegavelmente, o cenário recente do setor elétrico brasileiro, com baixos níveis


nos reservatórios e acionamento perene das usinas termelétricas a fim de suprir a
demanda, indicou um aumento substancial das condições de viabilidade da adoção da
alternativa fotovoltaica. Dados divulgados pela Federação das Indústrias do Estado do
Rio de Janeiro (FIRJAN) em maio de 2015 demonstram que o custo da energia para a
indústria no Brasil é 194% superior à média do custo Alemanha e 161% acima da
média chinesa, países com maior capacidade instalada de geração FV, além de
atualmente termos a energia mais cara num painel de 27 países selecionados.

Figura 17 - Custo comparativo entre energia elétrica Brasil e de países


selecionados. Fonte: FIRJAN (2015).

4) Custos da Energia Foto Voltaica médio por Estado

Tabela B1 – Custos da Energia Foto Voltaica – Fonte EPE (2017)


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4.1) Custos da Energia Foto Voltaica médio por Estado

Tabela B2 – Custos da Energia Foto Voltaica – Fonte EPE (2018)

4.2) Evolução dos Custos da Energia Foto Voltaica

Tabela B3 – Custos da Energia Foto Voltaica – Fonte EPE (2017 a 2018)

4.3) Evolução dos Custos da Energia Foto Voltaica (Leilões 2014 a 2018)

Tabela B4 – Custos da Energia Foto Voltaica – Fonte EPE (2017 a 2018)

Eng..: Sebastião Carlos Martins


Email: scm.sistemas@gmail.com
Fone : (31) 99645-0801

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