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Recurso de Anulação

Caso Prático

Sob proposta do Banco Central Europeu e


invocando o n.º 4 do art. 165.º TFUE, a Comissão
Europeia adoptou ontem uma directiva que estipula
para todos os Estados-Membros a extinção do
programa Erasmus até ao fim de Maio de 2018.
Alberto, estudante da FDUC que se preparava para
aceder àquele programa em Setembro, pretende
reagir.
Como o aconselharia?
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 2
Questão

¡ O que interessa a Alberto é controlar o


comportamento das autoridades nacionais?
§ NÃO. Alberto pretende controlar a conduta da própria
União Europeia, dos seus órgãos e instituições.
¡ OU SEJA, há um mecanismo jurisdicional junto
do Tribunal de Justiça que não faz qualquer
sentido utilizar:
§ A Acção de incumprimento

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 3


Os mecanismos jurisdicionais junto do
TJUE
¡ Podemos categorizar os MECANISMOS
mecanismos judiciais no JURISDICIONAIS NO TRIBUNAL DE
Tribunal de Justiça em dois JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA

grupos
§ Controlo do cumprimento do
direito europeu pelas Autoridades
Nacionais (acção ou omissão):
Acção de Incumprimento Controlo dos Estados- Controlo das Instituições
§ Controlo do cumprimento do Membros e Órgãos da UE
direito europeu pela própria SISTEMA
ACÇÃO DE
União, pelas Instituições e INCUMPRIMENTO JURISDICIONAL DE
Órgãos da UE: CONTROLO DAS
▪ Sistema jurisdicional de controlo INSTITIUIÇÕES
das instituições.
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Sistema Jurisdicional de Controlo das
Instituições
¡ Para reagir contra a actuação das instituições
comunitárias, existem quatro mecanismos:
§ Recurso de anulação / Acção de Anulação (263.º TFUE)
§ Acção para cumprimento / Acção de controlo das
omissões (265.º TFUE)
§ Excepção de ilegalidade (277.º TFUE)
§ UMA DAS MODALIDADES DO REENVIO
PREJUDICIAL: Reenvio Prejudicial de Validade (267.º
TFUE)
¡ Estes mecanismos são complementares.
§ O Recurso de Anulação surge como o mecanismo
principal de controlo da actividade das Instituições
§ Os demais mecanismos suprem as suas insuficiências
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Recurso de Anulação (263.º TFUE)
OBJECTIVO:
• Visa controlar a legalidade dos actos mas sem que o Tribunal interfira no
conteúdo do acto!
• É este mecanismo que permite qualificar a UE como União de Direito (Ac. Os
Verdes). Isto é, o respeito conferido ao Direito, no seio da União, é tal, que
este primado do direito impõe que se reconheça aos actos jurídicos europeus a
susceptibilidade de serem objecto do controlo de legalidade por órgãos
jurisdicionais.

PRINCÍPIO DA UNIÃO DE DIREITO:


Impõe que estejam sujeitos ao controlo de legalidade todos os actos que
produzam efeitos jurídicos em relação a terceiros, independentemente da sua
designação, forma ou natureza!
Isto é, o princípio impõe que tanto sejam sindicáveis os actos típicos como os actos
não tipificados!

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Recurso de Anulação (263.º TFUE)
PORQUÊ A Só o TJ e o TG podem
COMPETÊNCIA DO TJ E controlar a legalidade dos actos
NÃO DOS TRIBUNAIS
comunitários.
NACIONAIS?
Vimos que o TJ jamais pode • NUNCA um tribunal nacional
fazer controlo de legalidade dos de um Estado-Membro pode
actos internos, esse controlo é revogar, por exemplo, uma
competência exclusiva dos
Directiva Comunitária, com
tribunais nacionais – só estes
pode anular ou revogar actos ou fundamento na sua ilegalidade!
normas ilegais. • Daqui resulta que os actos
Também o controlo dos actos comunitários gozam de uma
comunitários é competência presunção de legalidade que só
exclusiva dos tribunais os tribunais ORGANICAMENTE
ORGANICAMENTE
comunitários!
comunitários podem infirmar!
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Recurso de Anulação

¡ Para que o TJ anule um acto comunitário, têm de


estar cumpridos 5 PRESSUPOSTOS:
1. O ACTO TEM DE SER PASSÍVEL DE
RECURSO;
2. Tem de haver um sujeito com LEGITIMIDADE
PASSIVA;
3. Tem de haver alguém com LEGITIMIDADE
ACTIVA;
4. Tem de se estar dentro do PRAZO;
5. Tem de haver FUNDAMENTO DE ANULAÇÃO.
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1. Actos Passíveis de Recurso
Não Novidad
¡ resul tem por
O artigo 263.º/1 dispõe que o recurso de anulação e doobjecto:
§ Actos legislativos; quais tava Trat
quer d o Tra ado
§ Actos do Conselho, da Comissão e do BCE que acnão
tos, sejam do a de Lisbo
tarecomendações
nem pareceres. embo admi a
Os V ra a j ssibi
e rdes) efeitos
§ Actos do PE e do Conselho Europeu destinados a produzir uriem
s lidad
o afir prudê
relação a terceiros; mass ncia
§ Actos dos órgãos ou organismos da União destinados a produzir efeitos e em (
relação a terceiros.
¡ Isto é:
§ Todos os actos europeus, independentemente da sua forma ou designação, desde
que produzam efeitos externos (para fora do quadro orgânico da UE).
¡ RESUMINDO - Requisitos de recorribilidade:
§ 1. O acto deve ser organicamente comunitário: isto é, não é susceptível de
recurso determinado acto emanado pelas autoridades nacionais de um Estado-
Membro, ainda que em execução de uma regra comunitária;
§ 2. O acto deve ser destinado a produzir efeitos jurídicos obrigatórios – não
entram os pareceres e as recomendações.
§ 3. O acto deve ser decisório, final (não pode ser um acto preparatório), produtor
de efeitos externos e definitivos, afectando a esfera jurídica de terceiros.
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No nosso caso:
¡ O acto é susceptível de recurso?
¡ É um acto legislativo?
§ Não. Não foi adoptado por processo legislativo ordinário nem por processo
legislativo especial.
¡ É uma directiva (valor infra-legislativo).
§ Pode ser impugnada?
¡ Temos de ver os 3 requisitos de recorribilidade:
§ Acto organicamente comunitário?
▪ SIM, foi adoptado pela UE (uma instituição, órgão ou organismo).
§ Produtor de efeitos externos?
▪ SIM. Os seus efeitos dirigem-se NÃO para a própria UE mas para TERCEIROS. As
directivas vinculam Estados-Membros.
§ Produtor de efeitos obrigatórios e definitivos?
▪ SIM. A Directiva é obrigatória quanto aos objectivos (deixando às autoridades nacionais
liberdade quanto à forma e quanto aos meios).

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Hipóteses

¡ Um regulamento europeu determina isenção


de propinas para estudantes deficientes.
§ O MCTES adopta uma portaria definindo “estudante
deficiente”.
§ Pode impugnar-se a portaria com um Recurso de
Anulação no TJUE?
¡ NÃO! Não é um acto organicamente europeu.
§ Pode impugnar-se no plano interno (D. Administrativo
III)

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Hipótese 2:

¡ Quando se diz que um acto é impugnável no


TJUE, estamos a falar de que tribunal?
§ TJ ou TG?
¡ Vale a regra geral (art. 51.º ETJ):
§ Em princípio, todas as acções se propõem no
TRIBUNAL GERAL. Deste, há recurso para o TJ.
§ Só há 3 Excepções a esta regra:
▪ Acções em que os Estados-Membros são parte;
▪ Acções de impugnação de ACTOS LEGISLATIVOS;
▪ Processo de Reenvio Prejudicial.
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Hipótese 3
¡ O Parlamento Europeu adoptou uma decisão que reparte o
tempo de intervenção dos euro-deputados pelos Grupos
Políticos Europeus. A decisão é um acto impugnável?
§ É um acto organicamente comunitário?
▪ Sim. Foi adoptada pelo PE.
§ É um acto obrigatório e definitivo?
▪ Sim. A decisão é obrigatória para os destinatários que designar.
§ Produz efeitos externos?
▪ A questão é duvidosa... Vincula só o PE (e nesse caso não pode ser
impugnada) ou vincula os Grupos Políticos Europeus (e nesse caso
pode)?
▪ O TJ decidiu no Ac. Direitas Europeias c. Parlamento que este acto é
organizativo e, por isso, um acto INTERNO da UE, não recorrível.

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2. Legitimidade Passiva
 Contra quem se recorre?
¡ O 1.º parágrafo do 263.º tem uma nova redacção face ao ex-art
230.º TCE:
§ A norma anterior plasmava uma lista que parecia taxativa de
quem podia aparecer do lado passivo no recurso de anulação.
¡ Na nova redacção, fala-se de todos os órgãos ou instituições que
adoptam actos impugnáveis:
§ Conselho;
§ O Conselho Europeu;
§ A Comissão;
§ O BCE;
§ O Parlamento Europeu.
§ Outros órgãos e organismos da UE.
¡ QUE QUER ISTO DIZER? COMO ESCOLHER CONTRA QUEM
INTERPOR O RECURSO CONTENCIOSO?
§ Contra o órgão que praticou o acto!
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
No nosso caso prático

¡ Quem tem legitimidade passiva?


§ A Comissão Europeia, a instituição autora do acto.
§ É contra esta que se interpõe o recurso de anulação.

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3. Legitimidade Activa
Quem pode interpor um Recurso de Anulação de um acto comunitário?
Há 3 classes essenciais de recorrentes:

I. Recorrentes Privilegiados (263, 2.º parágrafo, in fine):

I. QUEM SÃO: Estados-Membros, Parlamento Europeu, Conselho, Comissão.


(O Parlamento Europeu só passou a esta classe com o Tratado de Nice!)

II. DESIGNAÇÃO: Chamam-se recorrentes privilegiados porque beneficiam de


um direito de recurso praticamente incondicionado! Isto é, não precisam de
provar um interesse para agir.
• Presume-se desde logo este interesse na ordem jurídica objectiva:
estão interessados na legalidade pública comunitária.
• ISTO É: podem recorrer de actos que não lhes digam respeito, que não os
afectem

EFEITOS PRÁTICOS: Podem recorrer de qualquer acto comunitário,


MESMO QUE NÃO LHES DIGA RESPEITO.
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3. Legitimidade Activa
RECORRENTES INTERMEDIÁRIOS ou
RECORRENTES INTERESSADOS OU DEMANDANTES COM PRIVILÉGIO PARCIAL
(263.º/3.º§):
I. QUEM SÃO: Tribunal de Contas, BCE e Comité das Regiões.
II. DESIGNAÇÃO: São uma classe de recorrentes que se aproxima da classe dos privilegiados,
pois não necessitam de provar um interesse para agir (que são OS destinatários dos actos e
discordam dele).
• CONTUDO, devem mostrar estar lesados nas suas prerrogativas, nos poderes que o Tratado
lhes atribuía.
• Isto é, apesar de não terem de provar o interesse em agir (que o acto se lhes aplica), só podem
recorrer contra actos que ponham em causa as suas prerrogativas, conferidas pelos
Tratados.
III. EFEITOS PRÁTICOS: Podem recorrer de qualquer acto, ainda que lhes não diga respeito
nem sejam por ele visados, desde que afecte as suas prerrogativas.

Exemplo: Imaginemos que determinada Base Jurídica mandava aprovar um acto dirigido aos Estados através
de Processo Legislativo Ordinário, após consulta ao Comité das Regiões. Foi adoptado sem que o CR fosse
ouvido
Apesar de o Comité das Regiões não ser destinatário do acto, pode recorrer.
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3. Legitimidade Activa
¡ III. Recorrentes Comuns ou Recorrentes
Ordinários (263.º/4.º§):
§ Particulares em geral (pessoas singulares e
colectivas).
§ Outros órgãos ou organismos que não sejam
classificados como recorrentes privilegiados ou
recorrentes interessados.
¡ Têm de provar interesse PESSOAL em agir. Só
podem recorrer de actos de que sejam
destinatários.
§ A sua legitimidade activa depende de
circunstâncias excepcionais cuja verificação têm
que demonstrar. Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Interesse em Agir (263.º/4§ TFUE)

Interesse em Agir

III. Actos
Regulamentares
II. Actos dirigidos
que lhe digam
I. Decisões que a outrem que lhe
directamente
lhe sejam digam directa e
respeito e não
dirigidas individualmente
careçam de
respeito
medidas de
execução

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Recorrentes Ordinários

¡ Diz o 263.º/4º parágrafo que podem


recorrer:
§ 1. Das decisões que lhe sejam
dirigidas.
▪ Neste caso, não se exige qualquer
requisito material: basta seja uma
decisão dirigida a determinada pessoa,
qualquer que seja o conteúdo.
▪ Essa pessoa pode sempre reagir.
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Recorrentes Comuns
¡ 2. Dos actos que não lhes são dirigidos (porque são dirigidos a
outra pessoa ou porque são actos normativos) que lhe digam
directa e individualmente respeito.
§ ISTO SIGNIFICA QUE nao se pode recorrer contra actos
gerais.
▪ A única hipótese um recorrente comum reagir contra estes é
provando que se trata, afinal, de um acto que lhe diz directa e
individualmente respeito.
▪ Ou seja, que aquele acto não era, afinal, um acto geral
¡ Ao abrigo deste caso, os particulares só podem reagir contra
actos que MATERIALMENTE são decisões:
§ O que se diz é que um particular só pode reagir contra actos
que, apesar de parecerem um acto geral, são na verdade uma
“decisão disfarçada de acto geral”.
§ Quis evitar-se que a escolha da FORMA do acto impedisse o
exercício do recurso por particulares.
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Legitimidade dos Particulares para
impugnar actos gerais

¡ Quando é que um acto, mesmo sob


a forma de um acto geral, diz
directa e individualmente respeito
ao recorrente?
¡ Temos DOIS requisitos:
§ O acto tem de dizer directamente
respeito ao recorrente;
§ O acto tem de dizer individualmente
respeito ao recorrente.
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Legitimidade dos Particulares no
Recurso de Anulação
¡ Que significam as duas condições?
§ O Tribunal interpretou aquelas disposições no Acórdão de 15 de Julho
de 1963, Plaumann.
§ A Doutrina vai, unanimemente, classificando como muito restritiva a
interpretação dada às duas condições. 
¡ PRIMEIRA CONDIÇÃO - AFECTAÇÃO DIRECTA: o acto deve
dizer directamente respeito ao recorrente:
§ Um acto diz directamente respeito ao recorrente quando, sendo
dirigido a outrem, tem por efeito imediato privá-lo de um direito ou
impor uma obrigação, de tal modo que o coloca em situação
análoga à que se acharia se fosse o destinatário de uma decisão. 
§ Isto é, um acto diz directamente respeito ao recorrente quando,
apesar de não lhe ser dirigido, directamente, sem intervenção do
Estado, lhe impõe uma obrigação ou o priva de um direito!
▪ Muda a sua situação jurídica sem aplicação de regras intermédias,
de fonte nacional ou europeia.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Hipótese

¡ Um Regulamento Europeu que disponha: “Os


cidadãos europeus devem pagar 200 euros por
ano à Comissão”.
¡ Este acto diz-me DIRECTAMENTE
RESPEITO?
§ SIM! O Regulamento é um acto obrigatório em todos
os seus elementos e goza de aplicabilidade directa.
§ De forma imediata e automática muda a minha
posição jurídica, impondo-me uma obrigação.

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Hipótese 2
¡ Uma Decisão Europeia dirigida a Portugal, que dispõe:
“Para cumprimento dos critérios de convergência, o Estado
Português deve reduzir os gastos com o ensino superior
público”.
¡ Esta decisão (dirigida a outrem) diz-me directamente
respeito?
§ A decisão é obrigatória para os destinatários que designar. Portugal
terá de obedecer.
§ MAS, não muda DIRECTA e AUTOMATICAMENTE a minha
posição jurídica!
▪ Não me impõe uma obrigação nem retira um direito;
▪ Isso poderá vir a acontecer, dependendo da acção das autoridades nacionais.
¡ LOGO: Não me diz directamente respeito.
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Modificações do Locus Standi dos
particulares no Recurso de Anulação
¡ Há, no entanto, SINAIS DE
FLEXIBILIZAÇÃO deste conceito.
§ HIPÓTESE: Decisão da Comissão
Europeia dirigida ao Estado Português que
dispõe: o Governo Português deve revogar
os auxílios que concede à empresa X”?
¡ Diz DIRECTAMENTE respeito à empresa X?
•Pela definição tradicional inicial do Ac. Plaumann,
NÃO!
•Não lhe tira AUTOMATICAMENTE um direito.
Ordena ao Estado que lhe tire um direito.
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Afectação DIRECTA
(Ac. International Fruit Company)
¡ MAS (Acórdão International Fruit Company - 1971) SE:
§ O acto europeu não tira um direito nem impõe uma
obrigação, mas determina que o Estado retire um
direito ou imponha uma obrigação:
▪ O Estado está obrigado a agir sem qualquer margem
decisória; e
▪ Não é crível que Estado vá desobedecer;
¡ Deve considerar-se que aquela decisão diz directamente
respeito à empresa X.
§ Jurisprudência reafirmada nos Acs. Simmenthal (1979);
Salerono (1985); Dreyfus (1998) e Regione Siciliana
(2005).
§ Dá-se oportunidade à empresa X que recorra do acto, já
que, na prática, é ele que vai mudar a sua situação jurídica.
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Legitimidade Activa dos Particulares
¡ SEGUNDO REQUISITO: O Acto deve dizer
individualmente respeito ao recorrente.
§ É neste segundo requisito que, alegadamente, reside a
interpretação restritiva do TJ.
§ Quanto à afectação directa, como vimos, o TJ vem
flexibilizando a letra dos Tratados, aceitando
¡ Um acto diz individualmente respeito ao recorrente ele é
só é atingido pelo acto em virtude de certas qualidades
que lhe são próprias ou devido a uma situação de facto
que o caracteriza em relação a qualquer outra pessoa.
¡ Isto é, só diz individualmente respeito a alguém um acto
que o atinge POR CAUSA:
§ De qualidades que lhe são próprias;
§ De uma situação de facto que o caracteriza.
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Hipótese
¡ Quanto ao Regulamento “Os cidadãos europeus devem pagar
200 euros por ano à Comissão”.
¡ Posso eu recorrer dele?
§ Temos de apreciar a LEGITIMIDADE ACTIVA para actos
que não me são dirigidos.
§ AFECTAÇÃO DIRECTA:
▪ Importa saber se o acto, de forma automática e sem intervenção de
outras normas, me retira um direito ou impõe uma obrigação.
▪ O regulamento comunitário diz-me directamente respeito.
§ AFECTAÇÃO INDIVIDUAL:
▪ Importa saber se este acto me atinge por causa de características que
me são próprias, que me distinguem das outras pessoas.
▪ Não me diz individualmente respeito.
▪ Sou atingido sem qualquer referência NEM a qualidades que me
são próprias NEM a situações de facto que me caracterizam.
▪ Sou atingido como qualquer outro cidadão europeu.
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3. Legitimidade Activa dos
Particulares
¡ Imaginemos o seguinte Regulamento (acto GERAL): “Os
cidadãos europeus cujo nome seja Afonso Patrão devem
pagar 200 euros por ano à comissão”. 
§ O regulamento diz-me directamente respeito? SIM: coloca-me na
mesma posição de um destinatário de uma decisão - de forma
automática impõe-me uma obrigação.
§ Dirá individualmente respeito? SIM! Porquê? Porque eu sou
atingido pelo regulamento em virtude de uma qualidade que me é
própria, que me distingue em relação à restante comunidade
jurídica: O meu nome.
 
¡ OU SEJA: Eu posso recorrer deste regulamento. Só
tenho de provar o interesse em agir.
§ O que é provar o interesse em agir? É provar que o acto
me diz directa e individualmente respeito.
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QUESTÃO
¡ Mas existem com certeza outras pessoas com o
mesmo nome. Isso não afasta a legitimidade activa?
§ NÃO. Para que o particular tenha legitimidade, não tem de
ser o único atingido.
§ Tem é que ser atingido em virtude de uma característica
distintiva!
▪ Ainda que existam outras pessoas com o mesmo nome, o
NOME é uma característica distintiva, que me individualiza.
¡ Claro que se existissem milhões de pessoas com este
nome, deixaria de constituir uma característica
distintiva.
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3. Modificações do Locus Standi dos
Particulares no Recurso de Anulação
¡ Quanto à afectação INDIVIDUAL
§ Só pode ser atacado um acto geral se, além de produzir efeitos na
esfera jurídica de determinado particular sem necessidade ou
possibilidade de intermediação ou margem de apreciação, se o
pretenso recorrente for atingido em virtude de certas
qualidades que lhe são próprias. 
§ MAS ATENÇÃO 
§ No caso Unión de Pequeños Agricultores, de 2002, o
Advogado-Geral JACOBS vem propor nova concepção.
▪ O Advogado-Geral chegou à conclusão de que quanto mais
forem as pessoas atingidas pelo acto, mais difícil é provar a
legitimidade activa:
▪ Se atingir todos os cidadãos europeus, nenhum tem
legitimidade;
▪ Se atingir o que tem a característica X, esse já tem
legitimidade. Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
3. Modificações no Locus Standi dos
Particulares no Recurso de Anulação
¡ JACOBS vem dizer:
§ Não há razões para que quanto maior for o âmbito de aplicação de um
acto, menos seja a legitimidade dos particulares.
▪ Pelo contrário, quanto mais os afectados, mais grave é a eventual
ilegalidade do acto.
§ Então, deve bastar que o acto, de forma directa, lhe afecte a situação
jurídica. O número de pessoas abrangidas pelo acto não deve relevar.
¡ O Tribunal NÃO ADERIU à tese do Advogado-Geral.
¡ MAS, o TG, no Acórdão Jego-Queré de 2002, veio aceitar esta
doutrina
§ O TJ veio revogar esta interpretação em recurso, por considerar contra
legem.
¡ OU SEJA: apareceram indícios que o locus standi dos
particulares esteja prestes a alterar-se!

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Tratado de Lisboa: 263.º/4.º§, última
parte - o Alargamento da Legitimidade
¡ NOVIDADE:
§ Além dos actos que “digam directa e individualmente
respeito ao recorrente”, alarga-se a protecção dos
recorrentes comuns.
§ Admite-se a impugnação dos “actos regulamentares que
lhe digam directamente respeito e não necessitem de medidas
de execução”.
¡ Para “actos regulamentares que não necessitem de
medidas de execução”, bastará a AFECTAÇÃO
DIRECTA.
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Questão
¡ O que são “actos regulamentares que não necessitam de
medidas de execução”?
§ O conteúdo da expressão teve de ser definido pelo Tribunal de
Justiça.
¡ O Tribunal fez uma interpretação MUITO RESTRITIVA:
§ Proc. C-583/11 P - Inuit: Actos regulamentares são actos que
constituem o chamado “Direito Terciário da UE” - actos que
desenvolvem o direito comunitário secundário E que não são
adoptados por processo legislativo
▪ Ex. Um regulamento europeu sobre condições uniformes de atribuição da
carta de condução (direito comunitário secundário) delega na Comissão
o poder de decidir qual o desenho uniforme da carta de condução.
▪ O acto da Comissão será acto regulamentar.
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Afectação Directa
¡ O que significa “que não careçam de medidas de execução”?
§ NÃO é simplesmente a afectação directa! Apreciação Mais
restritiva!
§ Quando o Tratado diz “que não careçam de medidas de execução”
tal implica que não careça de QUALQUER ACTUAÇÃO DO
ESTADO, mesmo que não tivesse qualquer margem de apreciação!
¡ ENTÃO, QUE TIPO DE ACTOS SE CONSEGUE IMPUGNAR
POR VIA DESTA TERCEIRA CATEGORIA?
§ Na práticas, os actos proibitivos de direito terciário: aqueles em que
automaticamente se retire um direito a uma generalidade de pessoas.
§ Ex. Acórdão TRICLOSAN: um Regulamento da Comissão que
proibiu a comercialização, no espaço europeu, de um medicamento.

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Voltando ao caso prático…
¡ Que recorrente é Alberto?
§ Recorrente Comum:
▪ Deve demonstrar interesse em agir.
¡ O que é demonstrar interesse em agir?
§ Ou que o acto impugnando é uma decisão que lhe é dirigida
(263.º/4.º§, primeira parte);
§ Ou que o acto impugnando é um acto regulamentar que lhe
diz directamente respeito e não carece de medidas de
execução (263.º/4.º§, última parte);
§ Ou que o acto impugnando lhe diz directa e individualmente
respeito (263.º/4.º§, segunda parte).
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 37
No nosso caso
¡ 1. Não é uma decisão que lhe é dirigida:
§ Trata-se de uma Directiva, dirigida a todos os Estados-
Membros.
¡ 3. Não é um acto regulamentar;
§ Trata-se de um acto adoptado com base no Tratado e não
com base num outro acto de direito derivado.
¡ 2. Alberto tem de provar que a directiva lhe diz
directa e individualmente respeito.
§ Só nesse caso vai provar a sua legitimidade activa.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 38


Legitimidade Activa
¡ AFECTAÇÃO DIRECTA:
§ Pela definição tradicional - não se preenche. A directiva não lhe retira
automaticamente um direito: obriga o Estado a retirar ao Alberto esse direito.
§ MAS, desde o Ac. International Fruit Company que se passou a entender
verificada a afectação directa sempre que o Estado não tenha margem decisória
e não seja crível que desobedeça. É O CASO!!
¡ AFECTAÇÃO INDIVIDUAL:
§ Não se preenche. Alberto é atingido como qualquer outro estudante europeu.
Não é atingido em virtude de qualidades ou características que lhe são próprias.
¡ LOGO: Não se preenche desde logo este
requisito do recurso de anulação.
¡ Não será possível que Alberto desencadeie o mecanismo.
¡ MAS, devemos analisar ainda assim os demais pressupostos.

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O que já concluímos:

¡ 1. Acto é recorrível
¡ 2. Legitimidade Passiva: Comissão Europeia
¡ 3. Legitimidade Activa: Alberto não tem:
§ É recorrente ordinário: ainda que provasse a
afectação directa, não provaria a afectação
individual.

¡ MAS:
§ Apesar de já sabermos do insucesso deste recurso,
vamos analisar os demais pressupostos.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 40
4. Prazo de Interposição
¡ O prazo de interposição do recurso é de 2 meses (último parágrafo
do artigo 263.º). 
§ QUESTÃO: a contar de onde?
¡ Dispõe a norma que é a contar, “conforme o caso”, da publicação,
da notificação ou, na falta desta, desde o dia que o recorrente tomou
conhecimento do acto.
§ Imaginemos uma directiva (não legislativa) dirigida a Portugal e
Espanha.
§ Não tem de ser publicada, mas, como vimos em DUE-I, são
normalmente publicadas.
§ Foi publicada a 1 de Março e foi notificada à República
Portuguesa e ao Reino de Espanha a 1 de Abril.
▪ A 30 de Maio, pode Portugal recorrer?
▪ Foi notificado há menos de 2 meses, mas a directiva foi publicada há
mais de 2 meses.
▪ Qual o critério? Portugal está em tempo ou não?
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
4. Prazo

¡ Repare-se na formulação: “a contar, conforme o


caso, da publicação do acto, da sua notificação ao
recorrente ou, na falta desta, a contar do
conhecimento do acto”. 
¡ Parece que os critérios são subsidiários.
§ Ou seja, SÓ SE NÃO HOUVER
PUBLICAÇÃO é que damos valor à notificação.
¡ Neste caso, como houve publicação, não damos
valor à data da notificação.
§ O TJ já afirmou esta interpretação (Acórdão Alemanha
c. Comissão, de 1998) e, é o TJ a instituição
responsável pela interpretação dos Tratados.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 42
4. Prazo de Interposição
¡ SEGUNDA QUESTÃO: O que é notificação para
estes efeitos?
§ Será que estamos perante uma notificação só quando o acto em
si mesmo é notificado ou é suficiente a notificação de uma
súmula do conteúdo do acto, por exemplo através de um
comunicado?
§ Por exemplo, a Comissão notifica o particular dizendo: “Foi hoje
emitida decisão a respeito do seu pedido X. A decisão indefere o
seu pedido”.
¡ O TG fixou jurisprudência (Acórdão BAI, de 1996), no
sentido de que é necessária a notificação do acto
recorrível no seu todo.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Dilação dos Prazos quanto aos Actos
Publicados
¡ Uma vez que, quando os actos são publicados, pode
suceder que o interessado não conheça o acto dentro do
prazo, estabelecem-se DILAÇÕES DO PRAZO no
Regulamento de Processo.
§ O prazo nem sempre começa a contar no momento dado como
relevante.
¡ DILAÇÕES PREVISTAS (podem ser cumulativas):
§ Dilação Geral por publicação: O prazo começa a contar 14
dias depois da publicação.
§ Dilação pela distancia: 10 dias.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 44


No nosso caso

¡ A directiva foi adoptada ONTEM.


§ Logo, ainda estamos em tempo, pois ainda nem sequer
foi publicada.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 45


5. Fundamentos de Recurso (263.º, 2º
parag.)
¡ O Tratado plasma um elenco de fundamentos que parece
taxativo:
§ Violação de Formalidades Essenciais
§ Incompetência
§ Violação dos Tratados
§ Desvio de Poder
¡ E se se pretender interpor um recurso de anulação com
fundamento em manifesto erro de apreciação
(fundamento extremamente frequente - a UE enganou-
se)?. 
§ Deve inscrever-se o fundamento invocado num dos fundamentos
possíveis, os únicos que geram a nulidade do acto.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
5. Fundamentos de Recurso
¡ 1. VIOLAÇÃO DE FORMALIDADES ESSENCIAIS.
§ É um vício que se manifesta quando:
▪ O acto não foi adoptado com respeito de todas as formalidades
previstas no Tratado; OU
▪ Quando o acto tem fundamentação insuficiente, como manda o artigo
296.º e 297.º.
¡ IMAGINEMOS:
§ O Conselho, deliberando por maioria qualificada e sob proposta da
Comissão, após consulta ao parlamento europeu, adopta uma directiva
sobre política de emprego, fundamentando a acção na base jurídica no
artigo 149.º do TFUE.
§ HÁ FUNDAMENTO!
▪ O artigo 149.º, determina processo legislativo ordinário E MAIS
consulta do Comité Económico e Social, o Comité das Regiões e o
Comité do Emprego.
▪ Foi seguido o procedimento comum.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Violação de Formalidades Essenciais

¡ Recorde-se (DUE - I) que o dever de


fundamentação abrange:
§ Referência a todos os pareceres e propostas obtidos no
âmbito do processo legislativo;
§ Indicação da Base Jurídica (Princípio da
Especialidade);
§ Indicação das razões pelas quais não foram
contempladas propostas contidas em pareceres e
recomendações.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 48


5. Fundamentos de Recurso (263.º, 2º
parag.)
¡ 2. INCOMPETÊNCIA: A incompetência revela-se
quando um órgão age em matéria que é competência de
outro órgão. Pode ser parcial ou total.
§ Parcial: O Conselho, sob proposta da comissão, adopta um acto
que devia ser adoptado em PLO, pelo Conselho E pelo PE. Isto
é, só parcialmente é que o Conselho era incompetente.
§ Total: A Comissão adopta uma directiva, invocando uma base
jurídica que não lhe atribui essa competência. Não tinha
competência NENHUMA para o fazer.
¡ ATENÇÃO! A incompetência é sempre interna (entre os
órgãos e instituições da UE).
§ No domínio externo (a UE adopta actos em a
competência era dos Estados) não é este o fundamento
para anulação.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
5. Fundamentos do Recurso
¡ 3. VIOLAÇÃO DE TRATADO ou de NORMAS RELATIVAS À SUA
APLICAÇÃO: Equivale, no plano interno, ao fundamento da violação de lei
ou da violação da Constituição.
§ Acontece sempre que um acto de direito derivado viole direito originário;
§ Acontece sempre que um acto não legislativo europeu viole um acto
legislativo europeu.
¡ ATENÇÃO: É equiparado a Violação dos Tratados a violação de princípios
gerais de direito comuns aos Estados-Membros
§ Podem ser anulados, por exemplo, actos comunitários que constituam um abuso de
direito.
§ É também neste fundamento que inscrevemos a violação da repartição de
competências entre UE e EMs, por violação, consoante os casos, dos P.s da
Especialidade, Subsidiariedade e Proporcionalidade (recordar estas matérias!!).
¡ Exemplo: O Conselho, sob proposta da Comissão, justificando com a necessidade de
reforçar o mercado único, adopta uma directiva que impõe que os Estados-membros
apliquem impostos sobre as importações de produtos provindos dos outros Estados-Membros.
§ Viola-se o artigo 30.º TFUE que proíbe a existência de direitos aduaneiros entre os
Estados-Membros. Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
5. Fundamentos do Recurso
¡ 4. DESVIO DE PODER:
§ A autoridade comunitária prossegue fins diversos dos
invocados;
§ A autoridade comunitária visa tornear um processo
especialmente previsto no Tratado.
¡ Esta definição abrange algumas ilegalidades que
cabem nos conceitos que vimos antes (violação de
tratados, incompetência, ou violação de
formalidades essenciais)!
§ Verificar-se-á sempre que o acto divirja das razões que
presidiram à atribuição de poderes de acção à UE.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Fundamentos de Recurso
¡ Como vimos, o recorrente deve sempre tentar inscrever num dos
4 fundamentos a razão da interposição do recurso.
§ MAS se não o fizer? Se for interposto um recurso com
fundamento em “erro de direito” ou “erro de apreciação”?
¡ Neste caso o TJ entende que prevalece o Princípio da União de
Direito face a um princípio de Taxatividade.
§ Isto é, se alguém invocar «erro manifesto de direito» em vez de
invocar, por exemplo, violação de Tratado, o Tribunal deve
conhecer, na mesma, da questão em causa. 
§ O Tribunal entende que tem sempre jurisdição, mesmo que o
recorrente não inscreva o seu fundamento num dos 4 motivos
previstos no Tratado.
§ Isto é, o Princípio da União de Direito implica que possam ser
conhecidas outras causas de invalidade jurídica, desde que se
venham a reconduzir aos fundamentos de invalidade
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
No nosso caso

¡ Temos vários fundamentos:


§ Violação de formalidades essenciais: Diz-se na base
jurídica que os actos são adoptados por PLO.
§ Incompetência: A Comissão não podia ter adoptado
este acto. Era o Conselho e o PE ou só o Conselho.
§ Desvio de Poder: A Comissão prossegue finalidades
diversas daquelas que são invocadas (proibir o
programa Erasmus não melhora o intercâmbio entre
estudantes europeus)

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 53


Efeitos do Recurso
¡ Se o recorrente reunir
CUMULATIVAMENTE RECURSO DE ANULAÇÃO
(ART. 263.º TFUE)
estes 5 pressupostos, o
Tribunal dá provimento
ao seu Recurso.
¡ Se faltar algum dos
pressupostos, o Tribunal Reunião dos 5
Pressupostos:
Ausência de algum dos
pressupostos:
NÃO DÁ provimento ao PROVIMENTO DO NÃO PROVIMENTO
RECURSO DO RECURSO
recurso.
¡ Quais os efeitos desse
Acórdão? Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Improcedência do Recurso
IMPROCEDÊNCIA DO RECURSO:
Significa que a presunção de legalidade dos actos
comunitários não foi posta em causa. O acto mantém-se em
vigor.

QUESTÃO: Será que esta pronúncia impede que,


posteriormente, se ataque novamente o acto?
Impede que o MESMO RECORRENTE ataque acto com o
MESMO fundamento.
Não impede que se ataque com fundamento diverso!!!
• Se foi declarado válido porque não existia desvio de
poder, pode voltar a interpor-se recurso por se entender
que há violação do Tratado, por exemplo.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 55
Procedência do Recurso

¡ Se o recurso for
PROCEDÊNCIA DO RECURSO
julgado procedente, (ART. 263.º TFUE)
podem surgir DOIS
EFEITOS:
§ Efeito Anulatório
(existe sempre) - 264.º
Obrigação de
TFUE Efeito Anulatório
Execução
(necessário)
§ Obrigação de execução (eventual)

(nem sempre existe) - 264.º TFUE


266.º TFUE
266.º TFUE

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 56


Efeito anulatório (264.º TFUE)
PROCEDÊNCIA DO RECURSO:
Se o recurso é considerado procedente, significa que
aquele acto comunitário é inválido. Os efeitos constam, em
primeiro lugar, do artigo 264.º TFUE.

Dispõe o artigo 264.º que o Tribunal anula o acto


inválido. Com que efeitos?
EFEITOS EX TUNC. Efeitos retroactivos. Tudo se passa
como se o acto inválido NUNCA tivesse existido na União.
E os efeitos são erga omnes. A anulação impõe-se a toda
a União Europeia.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 57


Anulação EX TUNC:
¡ Este princípio tem excepções: O Tribunal pode declarar “subsistentes” alguns
dos seus efeitos (art. 264.º TFUE).
§ Que quer isto dizer? Subsistentes?
¡ Imaginemos um Regulamento que determina serem permitidos edifícios construídos até à
extrema do terreno com janelas abertas.
§ O Tribunal anula o regulamento, com o fundamento que a regulação de relações civis entre particulares é
competência exclusiva dos Estados-Membros, isto é, Violação dos Tratados.
¡ À partida, efeitos retroactivos da anulação.
¡ MAS, se o TJ entender que se justifica, pode ressalvar efeitos em duas
modalidades:
§ Situações constituídas ao abrigo de um acto inválido. Isto é, esta expressão dá abrigo a
que o Tribunal possa excluir a retroactividade da declaração de nulidade dos edifícios já
construídos. Vem dizer: “o regulamento está anulado, mas consideram-se validamente
construídos os prédios edificados entre a entrada em vigor do regulamento e a data de
hoje”
§ Manter a vigência do acto inválido: Isto é, a expressão “subsistentes” permite que o
Tribunal diga que o acto é inválido MAS, uma vez que os Estados-Membros
deslegalizaram, ao nível nacional, essa matéria, o regulamento mantém-se válido até os
Estados-Membros voltarem a adoptar medidas de legislação nacional nessa área.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


2.º Efeito de um Acórdão Anulatório
¡  MAS PODE SURGIR UM SEGUNDO EFEITO.
§ Automaticamente, nasce uma obrigação para a instituição ou
órgão comunitário que produziu o acto: APLICA-SE O
ARTIGO 266.º TFUE.
§ Isto é, anulado o acto, a instituição que produziu o acto deve
imediatamente tomar as medidas necessárias para
executar o acórdão.
¡ OU SEJA:
§ O Tribunal não pode, ele próprio, substituir-se às instituições e
praticar o acto válido.
§ MAS limita a liberdade de acção das instituições (porque as
instituições não podem repetir a invalidade) e cria a
obrigação às instituições de praticar os actos necessários.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Obrigação de Execução
¡ ESTE EFEITO NEM SEMPRE EXISTE:
§ Há situações em que para reposição da legalidade bastou o
afastamento da ordem jurídica comunitária de um acto
inválido .
¡ MAS SUPONHAMOS:
§ Uma empresa solicita à Comissão a autorização para se coligar
com outra, nos termos dos Tratados. Imaginemos que se trata de
uma decisão negativa da Comissão, não fundamentada.
§ Se a decisão for anulada, isso basta para a assegurar os
interesses do Particular?
¡ NÃO! Há casos em que não basta anular o Acto Inválido.
¡ NESTES CASOS, a Comissão tem de emitir nova decisão, por
força do 266.º: tomar as medidas necessárias à execução do Acórdão
§ Em que prazo devem agir?
▪ O Tribunal tem entendido que deve agir num «prazo razoável».
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 60
Excepção de Ilegalidade
Caso Prático

A Comissão, ouvido o Parlamento Europeu, e


invocando os artigos 191.º e 192.º TFUE,
adoptou um regulamento, publicado em 1 de
Dezembro de 2016, que proíbe a
comercialização, no espaço comunitário, de
gasolina com chumbo. A companhia petrolífera
portuguesa GASOL, SA tomou hoje
conhecimento deste regulamento e pretende
discutir a sua validade.
Imagine que é Advogado da GASOL. Como vai
reagir? 

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Resolução
¡ Perante o eventual incumprimento de normas
europeias, a primeira questão a colocar é:
§ Pretende-se controlar o cumprimento do direito europeu
por parte das Autoridades Nacionais ou das Autoridades
Europeias?
¡ Para controlar o cumprimento de regras europeias por
parte de autoridades nacionais:
§ Acção de Incumprimento
¡ Para controlar o cumprimento de regras europeias por
parte de autoridades comunitárias:
§ Sistema jurisdicional de controlo das Instituições.
¡ NO CASO: Pretende-se controlar a legalidade do
comportamento DA PRÓPRIA UE.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução
¡ Temos um acto cuja validade pretendemos discutir. Qual é o expediente
adequado?  
§ O Recurso de Anulação.
¡ Será que podemos recorrer a este expediente?
§ Temos que verificar os pressupostos.

¡ 1. É um acto passível de recurso?


§ SIM.
§ Porquê?
§ Já vimos que são passíveis de recurso todos os actos organicamente europeus
destinados a produzir efeitos externos e obrigatórios.
§ O Regulamento:
▪ É um acto organicamente europeu (foi adoptado pela Comissão);
▪ É obrigatório em todos os seus elementos (cfr. 288.º TFUE);
▪ Vincula todos os sujeitos da sociedade europeia - produz efeitos para fora do
quadro orgânico da UE.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Resolução do Caso Prático
¡ 2. Fundamento:
§ In casu, o acto padece de invalidade com base em vários
fundamentos:  
▪ Incompetência: A Comissão não é o órgão competente. O artigo
192.º diz que o acto é adoptado através do procedimento de PLO.
Isto quer dizer que os órgãos competentes para adoptar o acto eram
o Parlamento Europeu e o Conselho.
▪ Violação de Formalidades Essenciais: O artigo 192.º impõe que os
actos adoptados neste domínio sejam precedidos de consulta ao
Comité Económico e Social e o Comité das Regiões.
▪ Desvio de Poder: De facto, a Comissão tentou tornear uma
obrigação decorrente do Tratado. Tentou fugir ao procedimento de
co-decisão e tentou evitar a pronúncia dos Comités.
§ O ideal é convocar todos os fundamentos na peça
processual de petição do recurso.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Resolução
¡ 3. Legitimidade Passiva?
§ A Comissão. Interporíamos o recurso contra a Comissão porque foi quem
adoptou o regulamento.
¡ 4. Legitimidade Activa?
§ É o problema mais complexo.
▪ A GASOL NÃO É recorrente privilegiada
▪ Também não é um dos Recorrentes interessados;
▪ É dos RECORRENTES COMUNS. Isto é, tem de provar interesse em agir:
¡ Afectação Directa:
§ Tem de produzir efeito negativo no recorrente, retirando-lhe um direito ou
impondo-lhe uma obrigação, colocando-o na mesma posição de um
destinatário de uma decisão.
▪ VERIFICADO: Sem intervenção do Estado ou de qualquer norma
subsequente, retirou-lhe o direito de vender gasolina com chumbo.
¡ Afectação Individual:
§ Tem de demonstrar que a GASOL foi atingida por determinadas
características próprias, que a distinguem das demais empresas e
pessoas.
§ NÃO VERIFICADO: Foi atingida como qualquer outra empresa. Não
está individualizada pelo Regulamento.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Prazo
¡ 5. Prazo:
§ O prazo é de 2 meses.
§ A contar de onde?
▪ Da publicação ou da data em que a GASOL teve
conhecimento do acto?
¡ Os critérios são SUBSIDIÁRIOS:
¡ O primeiro critério é a publicação.
§ Ou seja, o prazo terminou a 1 de Fevereiro de 2017
(mais eventuais dilações).
¡ NÃO PODE SER IMPUGNADO O ACTO.
§ Estamos fora do prazo
§ A GASOL não tem legitimidade activa.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 67
Soluções

¡ Então é impossível à GASOL atacar aquele


acto que é inválido?
§ NÃO.
§ O sistema jurisdicional da UE prevê outros
mecanismos de acesso ao direito.
§ Há 2 Mecanismos Complementares para suprir as
insuficiências do Recurso de Anulação:
▪ Excepção de Ilegalidade
▪ UMA DAS MODALIDADES DO REENVIO PREJUDICIAL:
Reenvio Prejudicial de Validade
 
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Excepção de Ilegalidade ou de
Inaplicabilidade (277.º TFUE)
¡ É um mecanismo que visa complementar os requisitos
apertados do 263.º:
§ Prazo;
§ Falta de legitimidade dos particulares.
¡ FUNCIONAMENTO
§ É uma questão incidental de ilegalidade de um ACTO GERAL que
permite, com o fundamento nessa ilegalidade, afastar a aplicação
desse ACTO COMUNITÁRIO.
▪ Numa questão em que se mobilize determinado acto geral comunitário, o pode
invocar-se a sua ilegalidade e afastar a sua aplicação. 
¡ Que quer dizer a remissão para o artigo 263.º “meios
previstos no 263.º/2”?
§ Quer dizer que se podem lançar mão dos fundamentos do artigo 263.º
para arguir a ilegalidade. Isto é, torna-se necessário inscrever o vício
num dos 4 fundamentos de ilegalidade. 

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Excepção de Ilegalidade
¡ Características:
§ Só pode ser invocado num processo que corra num tribunal
organicamente comunitário (TG ou TJ).
§ Pode ser utilizado por qualquer parte, seja Instituição, seja
órgão, seja Estado ou seja particular.
§ Não está submetido a qualquer prazo.
§ Apenas produz efeitos dentro do processo. Isto é, verificada a
ilegalidade pelo TJUE, a única consequência É A
DESAPLICAÇÃO, NAQUELE PROCESSO, DO ACTO ILEGAL.
§ Só pode ser invocado EM VIA DE EXCEPÇÃO.
▪ Não pode intentar-se uma “excepção de ilegalidade”. É um
expediente que pode ser usado no quadro de outra acção ou
recurso, enquanto mecanismo ao dispor no seio de uma
acção.
▪ A propósito de outro litígio, incidentalmente invoca-se a
ilegalidade do acto europeu.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Excepção de Ilegalidade
¡ Apesar de parecer um mecanismo muito protector,
não é fácil conjecturar situações onde possa
ser utilizado.
§ Vejamos o nosso caso prático:
§ Temos um regulamento ilegal. Pode o particular invocar a
excepção de ilegalidade?
§ Aí já não tem de provar a legitimidade nem o prazo!
¡ Mas não pode.
§ Porquê? Porque só o pode fazer quando for parte num
processo que corra no TJ.
¡ E isso é quase impossível...
§ Quem zela pelo cumprimento daquele regulamento são as
autoridades nacionais.
§ Não pode a Comissão propor uma acção contra a GASOL
no TJ por incumprimento do regulamento...
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Em que situação poderia ser útil a
excepção de ilegalidade?
I. A utilizar no quadro de uma Acção de II. A utilizar no quadro de um recurso de
Incumprimento anulação em que haja legitimidade dos
¡ A GASOL, por considerar o acto particulares.
comunitário ilegal, continua a vender ¡
Suponhamos que o Regulamento
gasolina com chumbo.
¡ O Estado Português, por considerar
atribui à Comissão Europeia o poder
de multar as empresas que infrinjam
ilegal o acto comunitário, não
o regulamento.
persegue a GASOL. ¡ A GASOL, por considerar o acto
¡ Há uma acção por incumprimento
comunitário ilegal, continua a vender
contra o Estado.
¡ Na acção por incumprimento, o
gasolina com chumbo.
¡ A Comissão Europeia multa a
Estado defende-se invocando a
GASOL.
excepção de ilegalidade. ¡ A GASOL interpõe recurso de
§ O regulamento não pode ser anulação da decisão que lhe aplicou
aplicado, logo o Estado é a multa.
absolvido. ¡ Nesse processo, como questão
§ MAS: Só é útil ao Estado, que já incidental, invoca a ilegalidade do
era recorrente privilegiado…
Direito da União Europeia II Regulamento.
- Afonso Patrão
Hipótese
¡ Um Regulamento Europeu vem proibir a
comercialização de certo produto, conferindo à
Comissão o poder de agir em caso de
incumprimento. Esse produto está patenteado a
favor de uma única empresa. Se houvesse
fundamento de invalidade, a empresa poderia
impugnar?
¡ Trata-se de um recorrente comum: tem de
demonstrar interesse em agir.
¡ O acto retira-lhe directamente um direito, e
individualiza a empresa.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 73
Se deixar passar o prazo...
¡ Apesar de ter legitimidade para impugnar, pode s
empresa não se preocupar com isso e, mesmo
depois do prazo, se vier a sofrer um acto da UE,
invocar a excepção de ilegalidade?
¡ NÃO!
¡ O TJ já declarou que a excepção de ilegalidade
não pode ser utilizada por quem estivesse em
condições de impugnar directamente o acto.
¡ É um mecanismo subsidiário e, por isso, só pode
ser utilizado quando não havia possibilidade de
recorrer ao mecanismo principal.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 74
Acção de Controlo das Omissões

Acção para Cumprimento


Caso Prático
A CP pretende inaugurar uma ligação
ferroviária directa Lisboa-Berlim.
Apesar de o artigo 91.º TFUE prever a
adopção de regras aplicáveis aos
transportes internacionais entre Estados-
Membros, a CP chegou à conclusão que
não havia qualquer regulação comunitária
da matéria. Descontente com a situação,
entendendo que as Instituições são
obrigadas a regular a matéria, pretende
reagir.
Pode fazê-lo? Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução
¡ Perante o eventual incumprimento de normas
europeias, a primeira questão a colocar é:
§ Pretende-se controlar o cumprimento do direito
europeu por parte das Autoridades Nacionais ou
das Autoridades Europeias?
¡ Para controlar o cumprimento de regras europeias
por parte de autoridades nacionais:
§ Acção de Incumprimento
¡ Para controlar o cumprimento de regras europeias
por parte de autoridades comunitárias:
§ Sistema jurisdicional de controlo das
Instituições.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução
¡ O QUE A CP QUER FAZER é controlar o
comportamento das Instituições.
¡ Para isso, há um mecanismo judicial regra – o
recurso de anulação.
¡ Podemos utilizar o recurso de anulação?
§ NÃO: não temos nenhum acto. O problema aliás é a
UE não ter agido.
¡ Estamos perante uma obrigação para
instituições comunitárias que não foi
cumprida. Que fazer?

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 78


Resolução
¡ Existe uma acção especificamente destinada a
controlar AS OMISSÕES ILÍCITAS das Instituições.
§ ACÇÃO PARA O CUMPRIMENTO / ACÇÃO DE CONTROLO
DAS OMISSÕES (265.º TFUE)
¡ O Tratado chama-lhe “recurso por omissão”.
§ Não parece fazer sentido chamar-lhe assim. Esta acção não reage
contra nenhum acto.
§ É uma acção que pretende o cumprimento dos Tratados; ou
uma ACÇÃO que pretende controlar as OMISSÕES.
§ Há uma omissão da autoridade comunitária que é, por si só,
violadora do Direito da União Europeia.
¡ ATENÇÃO! Tem de haver uma obrigação de agir por
parte de uma Instituição ou Órgão. Caso contrário, não
existe qualquer ilicitude na omissão.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Acção para Cumprimento
¡ Tem uma fase pré-contenciosa. De facto, o artigo 265.º,
no segundo parágrafo, dispõe que o “recurso só é
admissível se a instituição em causa tiver sido
previamente convidada a agir”.

¡ I. FASE PRÉ-CONTENCIOSA
§ O demandante convida a instituição a agir. Isto é, tem de a
alertar que entende haver um incumprimento por omissão,
convidando a instituição em causa a praticar o acto em falta.
§ Passam 2 meses do convite sem que a instituição tenha agido:
Neste momento o demandante passa a ter o direito de propor a
acção para o cumprimento.
§ Isto é, O demandante pode passar à fase contenciosa.
▪ Em que prazo? No prazo de 2 meses. Só pode propor a acção no prazo de
dois meses a contar do momento em que passaram dois meses do convite!
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Acção para o Cumprimento
¡ Para que serve esta fase pré-contenciosa?
§ 2 Funções:
▪ Evitar a conflitualidade, dando oportunidade à instituição de
agir sem que o TJ tenha de intervir.
▪ Fixar o início do prazo em que se pode propor a acção. 

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Acção para Cumprimento
¡ Hipótese:
§ Convidando a instituição comunitária a agir, suponhamos que esta emite uma
decisão com o seguinte teor: “Acusamos a recepção do convite para agir.
Entende-se que não existe qualquer obrigação de acção por parte da UE em
matéria de transportes, pelo que esta Instituição não emitirá qualquer acto”. 
§ Podemos passar à fase contenciosa da acção para o cumprimento?

¡ NÃO! Porque houve um acto, mesmo que diga só que não vai haver
nenhum acto. Temos uma actividade da instituição comunitária.
Simplesmente é um acto que, no nosso entender, viola os Tratados.
§ Então isto significa que o meio correcto é o Recurso de Anulação e não a
acção para cumprimento.

¡ Outra hipótese: A Instituição envia uma carta dizendo que está a


analisar a questão ou pratica um acto diferente daquele que foi pedido.
§ Isso não põe termo à omissão: Assim, pode passar-se à fase contenciosa!

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Fase Contenciosa
¡ Depois de convidada a Instituição a agir, pode
propor-se a acção: passamos à Fase
Contenciosa.
¡ QUEM TEM LEGITIMIDADE PASSIVA?
§ É o órgão que tem a obrigação de praticar o acto. Por
isso é que o artigo 265.º se refere à Comissão, ao
Conselho ao Parlamento Europeu, ao BCE e ao
Conselho Europeu e a qualquer órgão ou organismo da
União.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Fase Contenciosa
¡ QUEM TEM LEGITIMIDADE ACTIVA?
§ Temos 2 classes de demandantes.
¡ Demandantes Privilegiados: São os Estados e as
Instituições.
§ Não têm de provar qualquer interesse em agir.
Basta que haja um dever jurídico de agir para
qualquer instituição comunitária e podem intentar a
acção.
¡ Demandantes Comuns:
§ Todos os demais sujeitos.
§ Só podem agir para intimar a UE a praticar um acto
a eles dirigido.
§ Só podem pedir a emissão de uma decisão a seu
respeito. Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Efeitos do Acórdão
¡ Se o Tribunal declarar a omissão, pode ele praticar o
acto em falta? 
§ NÃO!
§ Aplica-se o 266.º TFUE(o mesmo do recurso de anulação).
§ Isto é, cria-se a obrigação, para a instituição, de praticar o acto em
falta.
¡ O Tribunal não pode, ele próprio, substituir-se às
instituições e praticar o acto. MAS limita a liberdade de
acção da instituição (porque tem de respeitar a
fundamentação do Acórdão).
 Hipótese: Na pendência da acção, a Instituição
demandada pratica o acto em falta. A acção deve
continuar?
§ Não! O TJUE definiu que a prática do acto priva a acção
judicial do seu objecto.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução do Caso Prático
¡ A CP quer propor a acção.
§ Estamos perante um dever jurídico de agir?
▪ SIM. O artigo 91.º impõe que o PE e o Conselho adopte regras de transportes
internacionais entre os Estados-Membros. Se a UE não agiu, pode ser
intimada a agir.
§ Legitimidade Passiva:
▪ É do Conselho e do Parlamento Europeu, uma vez que o acto deve ser
adoptado em co-decisão.
§ Legitimidade Activa:
▪ Há 2 classes de demandantes.
▪ Em que categoria se insere a CP?
▪ É uma empresa pública.
▪ Será considerada Estado?
§ NÃO. O TJ tem considerado que, para efeitos de legitimidade activa
(no Recurso de Anulação e na Acção para Cumprimento), “Estado” são
apenas as autoridades governamentais.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Acção para Cumprimento
¡ É demandante comum:
§ Apenas pode exigir a adopção de decisões
que lhe sejam dirigidas.
▪ CP NÃO TEM LEGITIMIDADE.
▪Porquê?
▪ Porque pretende que a UE adopte um acto
geral, não um acto dirigido a si. Não quer
uma decisão dirigida à CP: Quer um
regulamento ou uma directiva que estabeleça
as regras de transporte.
¡ LOGO, não pode lançar mão deste
procedimento.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 87
Caso Prático
¡ A Grécia decidiu proibir a entrada de cidadãos
portugueses no seu território nacional. Uma vez que tal
acção constitui violação do Direito da UE, a Comissão
enviou uma carta de notificação por incumprimento, com
vista à instauração de uma acção por violação dos
Tratados.
A Grécia não deu qualquer justificação. A Comissão deu-
se por satisfeita e não emitiu nenhum parecer
fundamentado.
A República Portuguesa pretende intentar uma acção
para o cumprimento, entendendo que a Comissão está a
abster-se ilicitamente de emitir o parecer fundamentado.
Pode fazê-lo?

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Resolução

¡ Não Pode!
¡ A Comissão não tem um dever legal de
agir. Intentar ou não intentar uma acção por
violação dos tratados nos termos do artigo
258.º é poder discricionário da Comissão.
¡ Que aconselhamos Portugal a fazer?
§ A intentar uma acção por incumprimento nos
termos do artigo 259.º, contra a Grécia.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Direito da União Europeia II

Medidas Provisórias
Caso Prático

A Comissão, invocando que o artigo 191.º


TFUE incumbe a União Europeia de proteger a
saúde das pessoas e atendendo ao surto de
gripe suína, adoptou ontem um regulamento
ordenando que os proprietários de suínos
nascidos em 2018 os devem abater no prazo
máximo de 1 mês.
A República Portuguesa discorda deste
regulamento e pergunta que pode fazer para
evitar o abate.
Quid Iuris? 
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução
¡ Perante o eventual incumprimento de normas
europeias, a primeira questão a colocar é:
§ Pretende-se controlar o cumprimento do direito europeu
por parte das Autoridades Nacionais ou das Autoridades
Europeias?
¡ Para controlar o cumprimento de regras europeias por
parte de autoridades nacionais:
§ Acção de Incumprimento
¡ Para controlar o cumprimento de regras europeias por
parte de autoridades comunitárias:
§ Sistema jurisdicional de controlo das Instituições.
¡ NO CASO: Pretende-se controlar a legalidade do
comportamento DA PRÓPRIA UE.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução
¡ O mecanismo regra para controlar o
comportamento das Instituições é o Recurso
de Anulação.
¡ Podemos lançar mão desse mecanismo?
¡ Temos de analisar os pressupostos.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Recurso de Anulação
¡ O Acto é impugnável?
§ Sim. É um regulamento, é produtor de efeitos
externos, logo pode ser impugnado.
¡ Legitimidade Passiva:
§ A Comissão. Foi a instituição que produziu o
acto.
¡ Legitimidade Activa:
§ Também se verifica. É um Estado-Membro
que pretende interpor o recurso, é um dos
recorrentes privilegiados, logo não tem de
provar interesse em agir.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Recurso de Anulação
¡ Fundamento:
§ Incompetência: da Comissão, uma vez que os actos tomados na
política comunitária do ambiente exigem os requisitos do 192.º: Co-
decisão, depois de consultados o Comité das Regiões e o Comité
Económico e Social.
§ Violação de Tratados: Violação do Princípio da Proporcionaldiade,
pois não parece que esta seja a medida menos intrusiva para atingir o
objectivo prescrito pelos Tratados.
§ Desvio de poder: a UE invoca que está a proteger o ambiente e não
parece ser esse o objectivo mas sim a saúde.
¡ Prazo:
§ Estamos em tempo, o recurso deve ser interposto no prazo de dois
meses.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 95


Recurso de Anulação

¡ O Recurso vai ser aceite.


§ Mas terá algum efeito prático?
§ É que o TJUE vai demorar a decidir a causa.
Muito provavelmente, quando decidir, todos os
suínos já foram abatidos.
¡ Quid iuris?
¡ Além do recurso de anulação, devemos
lançar mão das MEDIDAS PROVISÓRIAS.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Medidas Provisórias
¡ Estão previstas nos artigos 278.º e 279.º TFUE.
¡ Características:
§ 1- Acessoriedade: Existe no quadro de um litígio num
tribunal comunitário. Não pode ser pedida apenas uma
medida provisória. Esta é acessória de uma acção
principal.
§ 2- Provisoriedade: Só produz efeitos até à decisão da
questão principal.
§ 3- São medidas conservatórias: Asseguram apenas a
protecção dos direitos de molde a impedir a produção
de lesões irreversíveis desses mesmos direitos.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Medidas Provisórias
¡ HÁ DUAS MODALIDADES:
§ Art. 278.º TFUE: Suspensão de eficácia de um acto
impugnado.
▪ É o procedimento adequado para ser utilizado com o recurso de
anulação.
▪ EXIGE que o recurso tenha sido interposto previamente! Não vale a
regra portuguesa de requerimento da providência antes de proposta a
acção principal. 
§ Art. 279.º TFUE: Medida provisória não especificada:
▪ Aqui o Tribunal pode decretar as medidas que entender necessárias.
▪ Pode impor obrigações de fazer ou não fazer até à decisão sobre a
questão principal. Muitas vezes atribui à Comissão o dever de controlar a
execução do Despacho.
▪ Tem de estar já proposta a acção principal (“nas causas submetidas à
sua apreciação”), seja qual for o mecanismo judicial em causa. (também
pode ser um recurso de anulação!)
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Medidas Provisórias
¡ REQUISITOS (o requerente tem de os provar):
§ Urgência: Necessidade de evitar prejuízos graves e
irreparáveis.
§ Fumus bonus iuris (probabilidade séria de existência
do direito)
§ Provisoriedade dos efeitos da medida requerida. Não
pode requerer-se uma pedida que cause efeitos ad
aeternum.
¡ ENTIDADE QUE DECRETA:
§ O Presidente do Tribunal (art. 85.º RPTJ e art. 106.º
RPTG), por Despacho.
§ É uma excepção ao Princípio da Colegialidade.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Voltando ao Caso
¡ Além do recurso de anulação, a República
Portuguesa deve solicitar o decretamento de
Medidas Provisórias
¡ QUAL?
§ A suspensão de eficácia daquele regulamento.
¡ QUE TEM DE PROVAR?
§ Urgência: Verificada. Se o regulamento for aplicado, ainda
que o recurso tenha provimento, há prejuízos irreparáveis.
§ Fumus Bonus Iuris: Basta demonstrar que, em princípio,
há razões para ganhar o processo principal (o recurso de
anulação)
§ Provisoriedade dos Efeitos Requeridos: Só se pede a
suspensão do Regulamento até se decidir a acção principal.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 100
Resolução

¡ Assim, a providência será decretada pelo


Presidente.
¡ DE QUE TRIBUNAL?
§ Aquele onde estiver a correr o processo principal
¡ QUAL É?
§ O TJ em sentido estrito, pois trata-se de um
recurso interposto por um Estado.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 101


Competência Consultiva do TJUE

Justiça Comunitária
“Contencioso Comunitário”
¡ Aquilo a que chamamos “contencioso
comunitário” deve ser entendido em sentido
amplo.
§ Se fosse entendido em sentido estrito deveria
obrigatoriamente existir um litígio entre duas partes.  
¡ Há situações em que o TJ intervém que não
correspondem a um contencioso! Aliás, a mais
importante função do TJ é uma função de cariz
NÃO CONTENCIOSO:
§ A colaboração com os tribunais nacionais (não há
portanto qualquer litígio) no processo de reenvio
prejudicial! - art. 267º TFUE.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
A Função Consultiva

¡ Além do Reenvio Prejudicial, o TJ


desenvolve uma importante função
consultiva, igualmente não contenciosa e
prevista no art. 218.º TFUE.  
¡ Este capítulo deve denominar-se, por
isso, Contencioso Comunitário em
sentido amplo, ou Justiça Comunitária
ou Sistema Jurisdicional Comunitário.
 
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 104
A Competência Consultiva

¡ O artigo 218.º TFUE, plasma o mecanismo de


celebração de Convenções Internacionais com
outras organizações internacionais ou com
outros Estados.  
¡ Neste processo há uma fase facultativa: artigo
218.º/11 TFUE:
§ Antes de a União se vincular
internacionalmente a um Tratado, pode ser
pedido um parecer ao Tribunal de Justiça
(sentido estrito).
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Competência Consultiva

¡ O processo é necessário uma vez que as


convenções, nos termos do art. 216.º/2
TFUE, são obrigatórios para as
instituições da União e para os Estados
Membros.  
§ Ora, os tratados que a UE celebra podem
ser incompatíveis com os Tratados!
§ É importante evitar previamente essa
incompatibilidade, o que sucede através
deste mecanismo.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
O Processo do art. 218.º/11 TFUE
¡ LEGITIMIDADE ACTIVA (Quem pode desencadear este
processo?):
§ Estados-Membros;
§ Parlamento Europeu;
§ Conselho;
§ Comissão.
¡ LEGITIMIDADE PASSIVA (contra quem se utiliza este
mecanismo?):
§ Não existe.
§ O processo tem natureza não contenciosa, logo, não há
um litígio.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 107


Competência Consultiva TJ
¡ Características deste mecanismo:  
§ FACULTATIVO: O TJ só intervém se tal for
requerido.  
§ PRÉVIO: O TJ só pode intervir se o acordo
ainda não tiver sido concluído.
▪ Só pode haver intervenção do TJ enquanto
estivermos perante UM PROJECTO DE
ACORDO.
▪ Isto é, se a União celebrar o acordo, o TJ já
não tem competência para intervir.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Modalidades
¡ TEM DUAS MODALIDADES (107/2.º RPTJ):  
§ Compatibilidade do projecto de acordo com os Tratados.
▪ Trata-se de averiguar a substância do projecto de acordo
internacional e as disposições materiais dos tratados.  
§ Competência da União para celebrar:
▪ Trata-se de averiguar se:
▪ a União está a actuar numa área em que tenha
competência exclusiva (i);
▪ a União, actuando numa área de competência
concorrente, respeita o Princípio da Subsidiariedade
(ii);
▪ a União está a actuar ilicitamente numa área da
Competência exclusiva dos Estados-Membros. (iii).  
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 109
Competência Consultiva TJCE
¡ DUAS NOTAS IMPORTANTES:
§ Assim que for requerido o parecer do TJ, tal facto
é notificado às restantes Instituições e aos
restantes Estados-Membros. (107.º/1 RPTJ)  
§ Se estivermos perante a segunda modalidade,
este mecanismo pode existir MESMO ANTES
de existir qualquer projecto de acordo.
▪ Imagine-se que um Estado discorda do início das
negociações para determinado acordo por entender
que é competência dos Estados.
▪ Nesse caso, pode imediatamente requerer o Parecer
ao TJ.  
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 110
Efeitos
¡ O Parecer é vinculativo?
§ O Art. 218.º/11 TFUE dispõe: “Em caso de parecer negativo, o
acordo projectado não pode entrar em vigor, salvo alteração deste
ou revisão dos Tratados”.
¡ QUE QUER DIZER?
§ Que se for declarada a incompatibilidade, esta não pode
manter-se.
§ OU SEJA:
▪ Se o parecer for positivo: NÃO VINCULATIVO. A União pode
celebrar ou não celebrar o acordo.
▪ Se o parecer for negativo: VINCULATIVO. A União só pode celebrar
o acordo revendo os Tratados ou o acordo em causa.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Reenvio Prejudicial
Reenvio Prejudicial

¡ Plano do Estudo.
§ 1. Modalidades
▪ Reenvio de Interpretação/Reenvio de Validade
▪ Reenvio Facultativo/Reenvio Obrigatório
§ 2. Sujeitos
§ 3. Obrigatoriedade do Reenvio de Validade

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Caso Prático
Alberto, cidadão português, pescador, propõe contra o IFAP (Instituto
de Financiamento da Agricultura e Pescas) uma acção, no Tribunal
Administrativo e Fiscal de Lisboa, exigindo o pagamento de um
subsídio para renovação da sua frota pesqueira, previsto em
determinado regulamento comunitário:
“Os armadores de navios de pesca têm direito a um auxílio de 100.000
Euros, a pagar pelas autoridades nacionais, para substituição de
navios com mais de 20 anos por navios novos”.
O IFAP considera que Alberto não preenche as condições necessárias
para ser abrangido pelo termo “armador” do regulamento comunitário,
uma vez que considera que o “armador” é o proprietário dos navios
que não exerce aí a sua actividade. Assim, recusa-lhe o pagamento.
Alberto, pelo contrário, entende que a única interpretação possível
para “armador” é a de proprietário de qualquer barco pesqueiro, exerça
ou não aí a sua actividade, estando disposto a recorrer para o STA se
o seu pedido lhe for negado.
Como deve agir o juiz de Lisboa?

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Resolução
¡ Está em causa um litígio entre o Pescador e o IFAP que
coloca em causa a aplicação de um regulamento
comunitário.
¡ PODE UM REGULAMENTO SER APLICADO NUM
TRIBUNAL NACIONAL?
§ SIM!
§ Os regulamentos comunitários gozam de aplicabilidade directa,
sendo aplicáveis na ordem jurídica interna sem qualquer acto de
recepção.
¡ E se houver legislação nacional em sentido contrário?
§ Aplica-se o regulamento: Princípio do Primado do Direito
Comunitário.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 115


Resolução

¡ Pode o Tribunal Nacional interpretar


direito comunitário?
§ SIM!
§ Os Tribunais Nacionais são os Tribunais Comuns
de Direito Comunitário. Interpretam e Aplicam
direito comunitário.
¡ SURGIU UMA DÚVIDA DE
INTERPRETAÇÃO DE DIREITO
COMUNITÁRIO. Como proceder?

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 116


Resolução
¡ Estamos perante o caso típico de Reenvio Prejudicial. É a
mais importante actividade do TJ.
¡ Para que serve?
§ É um instrumento que tem várias funções: 
1. Permitir, através de uma verdadeira relação de cooperação, que o TJ colabore
com os tribunais nacionais para a plena realização da boa administração da
justiça.
2. Garantir uma uniformidade da aplicação do direito comunitário. Uma vez
que:
▪ O sistema de direito comunitário torna os tribunais nacionais dos Estados-Membros os
tribunais comuns de direito comunitário (aplicam e interpretam o direito comunitário)
▪ As tradições jurídicas dos Estados-Membros são manifestamente diferentes,
3. Permitir que em qualquer tribunal se possa suscitar a apreciação da validade
das normas de direito comunitário derivado.
¡ ATENÇÃO!
§ É um mecanismo de natureza não litigiosa.
§ Não há qualquer litígio no processo de reenvio (só há no Tribunal
nacional)!
§ Há cooperação! Os tribunais nacionais pedem a cooperação dos
tribunais organicamente
Direito comunitários.
da União Europeia II - Afonso Patrão
Reenvio Prejudicial (art. 267.º
TFUE)
Há duas grandes Modalidades de Reenvio

Reenvio de Reenvio de
Interpretação Validade

Qualquer das
modalidades se
subdivide:

Reenvio Reenvio Reenvio Reenvio


Facultativo Obrigatório Facultativo Obrigatório
(267.º/2) (267.º/3) (267.º/2) (267.º/3)

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


I. Reenvio de Interpretação

119
Reenvio Prejudicial de
Interpretação
¡ De acordo com o artigo 267.º TFUE, o Tribunal de Justiça
pode ser chamado a colaborar quando, num determinado
processo a correr num tribunal nacional, for suscitada uma
questão de interpretação:
§ do Tratado;
§ dos actos adoptados pelas instituições, órgãos e organismos da
União.
¡ Como funciona?
§ Num determinado litígio, a correr num tribunal nacional e em que é
necessário aplicar uma determinada norma comunitária, levanta-se
uma questão sobre a interpretação dessa norma.
▪ Uma das partes alega, ou o juiz oficiosamente suscita a dúvida.
§ A decisão do momento, da forma do despacho de reenvio ou
das perguntas a colocar são exclusivamente do juiz nacional.
Nem são das partes, nem são do TJ.
§ O juiz suspende a questão principal, suspende o litígio, e
pergunta ao TJ qual é a interpretação correcta. Faz verdadeiras
perguntas ao TJ! Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Reenvio Prejudicial de
Interpretação
¡ O TJ responde. Que efeitos tem a resposta?
§ O TJ não pode resolver a questão principal. Esta é da
competência exclusiva do tribunal nacional!
¡ Fixa a interpretação.
§ Não resolve o caso, pronuncia-se sobre a interpretação a dar ao
caso.
▪ A Interpretação tende a ser abstracta.
▪ Todavia, porque tal não é possível, o TJ avalia a interpretação da
norma à luz do caso concreto.
§ O juiz nacional é obrigado a seguir a interpretação fixada pelo
TJ, se a norma for aplicável ao caso.
¡ À partida, a pronúncia tem efeitos APENAS NAQUELE
PROCESSO.
§ Isto é, não se fixa a interpretação com efeitos erga-omnes, mas apenas para
aquele processo.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Reenvio Prejudicial de
Interpretação
¡ O Reenvio é Obrigatório?  
§ O Reenvio é obrigatório quando da decisão do
tribunal nacional não caiba recurso ordinário
(267.º/3§).
▪ Isto é, se daquele caso não couber recurso, suscitando-se
uma questão de interpretação de uma norma comunitária,
o juiz é obrigado a remeter a questão ao TJ.
§ Se couber recurso daquele tribunal, o reenvio é
facultativo (267.º/2§).
▪ O juiz pode reenviar ao TJ ou fixar ele próprio a interpretação que
lhe parece correcta para a norma cuja interpretação foi
questionada.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução do Caso Prático
¡ Há possibilidade de recurso!
§ O Juiz pode fazer uma de duas coisas.
▪OU decide ele se Alberto é ou não abrangido
pelo conceito de “armador”;
▪OU suspende a acção e formula uma questão
ao TJ: “O conceito de armador no
Regulamento X abrange os pescadores
proprietários de navios e que aí exerçam a
sua actividade?”
¡ Se a questão fosse colocada no STA?
§ O Tribunal seria obrigado a suspender a
questão e a perguntar ao TJ qual a
interpretação correcta a dar a esta norma.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução do Caso Prático
¡ Imaginemos que o Tribunal reenviou, em reenvio facultativo.
O TJ entende que o conceito de “armador” abrange os
pescadores proprietários de navios.
¡ Pode o TJ responder?: “O Alberto é armador para efeito do
Regulamento. Deve ter direito ao subsídio.”
§ NÃO! O TJ faz apreciações das normas de direito comunitário sem
aplicar a norma ao caso concreto. Não entra na situação
concreta onde se suscitou a questão interpretativa.
▪ O que o TJ deve responder é se o conceito de armador abrange
os pescadores individuais. Utiliza os dados fácticos do caso
apenas para compreender plenamente a dúvida do Juiz nacional.
▪ O Tribunal nacional é soberano no processo. Até pode vir a
entender que, afinal, aquele regulamento não é aplicável à causa.
O TJ não se pronuncia sobre o processo.
§ Há, tendencialmente, uma SEPARAÇÃO DOS MOMENTOS DE
INTERPRETAÇÃO e APLICAÇÃO.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Resolução do Caso Prático
¡ Imaginemos agora que o TJ respondeu: “O Conceito de
armador abrange os pescadores.” 
¡ O juiz nacional não concorda e pergunta se, tendo em conta
que se tratava de reenvio facultativo, pode adoptar outra
interpretação.
§ Não pode. A partir do momento em que o TJ se pronuncia sobre
determinada interpretação, a interpretação é fixa para aquele
processo. O juiz nacional é obrigado a seguir aquela
interpretação se concluir que a norma é aplicável!
¡ Suponhamos agora que o IFAP interpõe recurso para o
STA. O STA está vinculado por aquela interpretação?
§ SIM! A interpretação fixada pelo TJ vincula aquele processo. Não
só o tribunal a quo como todos os tribunais que, em sede de
recurso, venham a apreciar a mesma questão. 

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Caso Prático
Alberto, português, partiu com 3 amigos para férias no Brasil. O avião
partiu com 24 horas de atraso imputáveis à transportadora, pelo que,
nos termos de certo regulamento comunitário, ser-lhe-á atribuída uma
indemnização de 200 Euros.
Depois das férias, propõe uma acção contra a TAP, no Tribunal de
Pequena Instância Cível de Lisboa.
A ré alega que o regulamento não é aplicável aos voos em causa,
como o voo Lisboa - Rio de Janeiro.
A norma cuja interpretação é questionada diz “O presente regulamento
é aplicável aos voos com destino a um Estado-Membro, com partida
num Estado-Membro ou entre Estados-Membros”.
O tribunal português é obrigado a reenviar a questão para o
Tribunal de Justiça?

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Resolução
¡ Temos um litígio a correr num Tribunal Nacional?
§ SIM.
§ Entre o Alberto e a TAP.
¡ Há uma dúvida de interpretação de uma norma
comunitária aplicável ao caso?
§ Sim.
§ Suscitou-se uma dúvida de interpretação de uma
norma comunitária directamente aplicável.
¡ ENTÃO PODE HAVER REENVIO
PREJUDICIAL DE INTERPRETAÇÃO.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 127


QUESTÃO: O Reenvio é
obrigatório ou facultativo?
¡ O Problema põe-se porque este tribunal não é
um Tribunal supremo.
§ Contudo, uma vez que a alçada do tribunal é
superior ao valor da acção, não cabe recurso
desta decisão, nos termos da legislação
processual portuguesa!
¡ QUESTÃO:
§ O Reenvio é obrigatório ou facultativo?
§ Isto é, será que quando o Tratado fala em “órgão
jurisdicional cujas decisões não sejam susceptíveis de
recurso” se está a referir aos Tribunais Supremos?
§ Ou será que temos que ver se, no caso concreto, a
questão é susceptível de recurso?
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução
¡ A solução para este problema é objecto de uma
DIVERGÊNCIA DOUTRINAL:
§ MOTA CAMPOS: Só há reenvio obrigatório para os Tribunais
Supremos. Os tribunais de instância, mesmo que naquele caso não
haja possibilidade de recurso, não estão sujeitos à obrigação de
Reenvio.
¡ Argumentos:
§ Argumento Literal: “órgão jurisdicional cujas decisões não sejam
susceptíveis de recurso” manda atender à natureza do tribunal e não à
possibilidade ou não de recurso.
§ A entender-se que os tribunais de instância têm obrigação de reenvio
quando não for possível recurso, isso significa uma imensa sobrecarga
do TJ.
§ Se os tribunais nacionais de instância erram, também não se pode
recorrer. Um erro de interpretação do direito comunitário num caso de
pequena monta não causa nenhuma brecha no ordenamento jurídico
comunitário.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução
¡ GORJÃO-HENRIQUES: o reenvio deve ser obrigatório
sempre que em concreto não haja recurso das
decisões dos tribunais.
§ O objectivo da uniformidade da aplicação do direito implica
que as decisões definitivas estejam sujeitas à interpretação do
TJ das normas comunitárias. O valor da uniformidade da
aplicação do direito comunitário é importante também nos
casos de pouca monta.
¡ O TJ JÁ SE PRONUNCIOU: No Acórdão COSTA/ENEL,
de 15 de Julho de 1964, que os tribunais de instância de
que, em concreto, não caiba recurso, são obrigados a
reenviar a questão para o TJ.
¡ OU SEJA, o Tribunal será obrigado a reenviar a
questão, pois, em Portugal, não há recurso das acções
com valor de 200 euros.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Isenção de Reenvio
¡ CONTUDO,
¡ O TJ estabeleceu 3 casos em que o tribunal nacional está isento de
reenviar, AINDA QUE ESTEJAMOS PERANTE UM CASO DE REENVIO
OBRIGATÓRIO:
§ Falta de pertinência da questão suscitada no processo:
▪ É o caso de ser suscitada uma dúvida de interpretação de uma norma comunitária mas o juiz
nacional entende que essa norma não é aplicável!
▪ Vai decidir apenas com base no direito interno, ou com base noutra norma comunitária cuja
interpretação (ou validade) não foi questionada. É manifestamente impertinente para a
resolução da questão.
§ Existência de anterior decisão do TJ:
▪ Se o TJ já se tiver pronunciado, o tribunal nacional fica dispensado de fazer o reenvio. Não
fica proibido, mas fica dispensado, desde que pretenda aplicar a norma com o sentido
fixado pelo TJ
§ Total clareza da norma em causa:
▪ Teoria do Acto Claro. Se o acto não suscitar qualquer dúvida, é pouco razoável obrigar os
tribunais nacionais a enviar a questão para o TJ, mesmo se o reenvio fosse obrigatório. Assim,
no acórdão CILFIT, o TJ acabou por admiti-lo.
¡ CONCLUSÃO: O reenvio seria obrigatório,
§ MAS: estamos perante uma isenção de reenvio. Porque a norma do regulamento
é absolutamente clara: o Tribunal está desobrigado do reenvio. Pode fazê-lo,
mas não tem essa obrigação!Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
II. Reenvio de Validade

132
Caso Prático
¡ António, cidadão português e produtor de
azeite, foi impedido de comercializar o seu
produto pela Agência para a Segurança
Alimentar e Económica (ASAE). A ASAE
justifica o impedimento no facto de um
Regulamento do Conselho, publicado em 2003,
fixar a acidez máxima em 5%, tendo o azeite
produzido por António naquele ano a acidez de
7%.
António entende que o regulamento é inválido,
por falta de fundamentação, uma vez que não
indica a base jurídica em que se funda.
Quid iuris?
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução do Caso Prático
¡ Alberto quer impugnar aquele regulamento comunitário.
§ Qual o expediente indicado?
§ RECURSO DE ANULAÇÃO.
¡ Vamos ver os Pressupostos:
§ Acto é recorrível?
▪ Sim, é um Regulamento.
§ Fundamento?
▪ Violação de Formalidades Essenciais. A falta de fundamentação preenche
este pressuposto.
§ Legitimidade Passiva?
▪ Conselho. O órgão que adoptou o acto.
§ Legitimidade Activa?
▪ NÃO EXISTE: o regulamento não lhe diz directa e individualmente
respeito.
§ Prazo?
▪ Expirado. O Regulamento é de 2003 e o prazo era de 2 meses.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução do Caso

¡ Que pode Alberto fazer?


§ EXCEPÇÃO DE ILEGALIDADE?
▪ Seria adequada, mas Alberto teria de estar num
tribunal comunitário, e aí invocar a ilegalidade, o que é
muito difícil de suceder.
§ OUTRA POSSIBILIDADE: REENVIO
PREJUDICIAL DE VALIDADE.
▪ É a segunda modalidade de Reenvio Prejudicial

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Reenvio Prejudicial de Validade
¡ Como funciona?
§ Num determinado litígio, a correr num tribunal nacional
e em que é necessário aplicar uma determinada norma
comunitária, suscita-se uma questão sobre a validade
dessa norma – uma das partes alega, ou o juiz
oficiosamente suscita a dúvida.
§ De acordo com o artigo 267.º TFUE, o Tribunal de
Justiça pode ser chamado a colaborar quando, num
determinado processo a correr num tribunal nacional,
for suscitada uma questão de validade dos actos
adoptados pelas instituições, órgãos e organismos da
União;
¡ PORQUE NÃO DO DIREITO ORIGINÁRIO, TAL COMO O
REENVIO DE INTERPRETAÇÃO?
§ Porque o Direito Originário é o parâmetro de validade do
direito derivado. Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Reenvio de Validade
¡ O juiz nacional suspende a questão principal, suspende
o litígio, e pergunta ao TJ se a norma é válida. Faz uma
pergunta! Pergunta: O Regulamento X é válido?
§ Se o TJ considerar válido, o Tribunal a quo é obrigado a
aplicar a norma.
§ Se o TJ considerar inválido, o tribunal nacional está
proibido de aplicar a norma.
▪ Mas exclui-a da ordem jurídica comunitária?
▪ NÃO! Apenas tem efeitos no Processo.
§ MAS a partir do momento em que o TJ considera determinada
norma inválida, entendeu o TJ (Acórdão CILFIT) que os
tribunais nacionais estão dispensados de perguntar ao TJ
se a norma é inválida sempre que haja lugar à sua
aplicação. Podem sempre não aplicar a norma.
▪ Mas também podem voltar a colocar a questão ao TJ, esperando
que este decida de forma diferente.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 137
Resolução do Caso

¡ Alberto pode intentar uma acção contra a


ASAE num Tribunal Nacional.
§ Nessa acção, suscita a questão de validade do
regulamento comunitário.
§ O Tribunal Nacional suspende o litígio e pergunta
ao TJ: “O Regulamento X é inválido por falta de
fundamentação?”
§ O TJ decide e o processo nacional continua.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Sujeitos do Reenvio Prejudicial
¡ O Processo de Reenvio Prejudicial tem dois sujeitos:
§ O tribunal nacional, que suspende a questão principal e pede a colaboração ao
TJ,
§ O TJ, que decide a questão prejudicial.
 I. O TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
§ Quando se pede o auxílio da instituição “Tribunal de Justiça da União Europeia”,
estamos a falar no TJ ou no TG? 
§ APENAS AO TJ. (a matéria não está conferida ao TG pelo art. 256.º/1 TFUE)
▪ Porquê? Porque a função do reenvio prejudicial é a de garantir a unidade da
interpretação do Direito Comunitário. Ora, se assim é, não é pertinente pôr dois tribunais a
ter esta função, que podia originar diferenças jurisprudenciais.
¡ ATENÇÃO: Com o Tratado de Nice abriu-se uma porta: 256.º/3§ TFUE:
§ Se o Estatuto o disser, pode o TG ser competente para o reenvio em
matérias expressamente identificadas pelo estatuto.
O Estatuto nada estabelece. Por enquanto, é competência exclusiva
do TJ.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Sujeitos do Reenvio Prejudicial

Caso Prático:
Joaquim foi confrontado com um artigo no Diário de
Coimbra que o difamava. Entendendo que tinha
direito de resposta, formulou uma carta ao director
do Diário de Coimbra onde pedia a publicação da
sua resposta.
O Diário de Coimbra não publicou a resposta e
Joaquim recorreu para a Entidade Reguladora para
a Comunicação Social.
No âmbito da decisão, o Diário de Coimbra suscitou
uma questão de interpretação de um regulamento
comunitário sobre a liberdade de imprensa.
A ERCS pode recorrer ao 267.º TFUE?
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução do Caso Prático
¡  O problema que aqui se coloca é o de saber o
que são órgãos jurisdicionais nacionais para
efeitos do 267.º.
§ Será que a ERCS é um órgão jurisdicional nacional
para efeitos do Tratado sobre o Funcionamento da UE?
¡ Não é um tribunal!
§ É constituída por vogais: alguns indicados pela
Assembleia da República e outros representativos da
opinião pública (indicados pelos jornalistas,
consumidores, donos dos órgãos de comunicação
social e Governo). 

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Órgão Jurisdicional Nacional
¡ O TJ decidiu no acórdão VAASEN-GÖBBELS, em 1966, quais os requisitos
para que se aplique o 267.º:
1. Origem legal do órgão: verifica-se! A ERCS é prevista na Lei.
2. Natureza Permanente:
§ Também se verifica. Através deste requisito excluem-se os tribunais ad hoc.
3. Obrigatoriedade de Sujeição à sua Jurisdição:
§ Também se verifica. O incumprimento das decisões da ERCS constitui crime de
desobediência.
4. Respeito pelos princípios processuais (due process of law):
§ Em 1966, quando estes requisitos foram afirmados, o TJ exigiu o respeito pelo
princípio do Contraditório. Mais tarde, em 1998, no processo Dorsch Consult
Ingenieurgeshesllschaft mbH entendeu que o contraditório não era requisito essencial,
mas quase sempre determinante.
§ Também se verifica
5. Aplicação de regras de Direito:
§ Resolve os litígios com regras de direito e não com base em critérios de equidade
§ A ERCS está vinculada ao direito.
6. Natureza Independente:
§ Tem que ser uma entidade externa às partes! Isto foi afirmado no Acórdão CORBIAU,
em 1993.
§ A ERCS é absolutamente independente.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução

¡ Então, a ERCS apesar de não ser um


Tribunal, é um órgão jurisdicional nacional
para efeitos do art. 267.º.
¡ Pode ou Deve (consoante haja ou não
recurso das suas decisões) colocar
questões prejudiciais de interpretação ou
de validade ao TJ.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 143


Caso Prático

Zulmira, estudante da FDUC, quando


estudava Direito da União Europeia, encontrou
um regulamento europeu, do Parlamento
Europeu, publicada em 2012, que dispõe que
os Estados devem tomar todas as medidas
adequadas para que os cidadãos europeus
professem a religião cristã. Entendendo que
este acto é inválido, pretende reagir.
Quid iuris?

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Resolução
¡ Qual é o meio adequado para reagir contra um
regulamento ilegal?
§ Recurso de Anulação.
¡ A Zulmira deve verificar se pode lançar mão deste
processo. Vamos verificar os seus pressupostos.
§ 1. É um acto passível de recurso?
▪ SIM. Não é recomendação nem parecer. É um regulamento. Bastava
que fosse acto organicamente comunitário que produzisse efeitos
externos e obrigatórios.
§ 2. Fundamentos:
▪ Violação de Tratado, em 2 medidas:
▪ A UE não tem competência para legislar em matéria de liberdade religiosa. Quem
tem essa competência são os Estados-Membros.
▪ Esta disposição viola os princípios gerais dos direitos dos Estados-Membros.
▪ Violação de formalidades essenciais: nãi indica a base jurídica, o que constitui uma
falta de fundamentação Direito da União Europeia II - Afonso Patrão
Resolução
§ 3. Prazo:
▪ Já não está em prazo! Era de 2 meses a contar da publicação.
§ 4. Legitimidade Passiva:
▪ O órgão que adoptou o acto! Parlamento Europeu.
§ 5. Legitimidade Activa:
▪ Zulmira não é recorrente privilegiada. Também não é recorrente
interessada/intermédia. Como pode recorrer? Se provar interesse
em agir.
▪ Isto é, tem de provar que o acto lhe diz directa e individualmente
respeito.
▪ Directamente respeito: Diz. Retira-lhe automaticamente um direito como se
fosse a destinatária de uma decisão.
▪ Individualmente respeito: Não diz. A Zulmira não é atingida em virtude de
certas qualidades que lhe são próprias. É atingida como qualquer outro
cidadão europeu.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Resolução
¡ Não pode reagir:
§ Não está em prazo e não tem legitimidade! 
¡ Para suplantar estas limitações, os Tratados estabelecem dois
mecanismos alternativos:
§ 1. Excepção de Ilegalidade:
▪ Na excepção de ilegalidade, quem a invoca não precisa de estar dentro do prazo e também não tem
de provar qualquer interesse em agir.
▪ MAS: só pode ser utilizada quanto a actos gerais e só se for proposta contra a Zulmira uma acção
num Tribunal Comunitário. Só se a Zulmira for demandada num tribunal comunitário é que pode
lançar mão deste mecanismo. O que é muito raro suceder.
§ 2. O outro mecanismo, (mais útil), é precisamente o reenvio prejudicial.
▪ Desde que corra um litígio num tribunal nacional em que aquele regulamento seja aplicado, o
Tribunal Nacional pode ou é obrigado a suscitar a questão junto do TJ!
¡ Imaginemos que a Zulmira é muçulmana. Que pode fazer?
§ Pode continuar a professar a sua religião e esperar que corra contra ela uma acção por
violação da norma. Quando chega ao tribunal nacional, suscita a questão de
invalidade do acto comunitário, devendo (ou podendo) o Juiz nacional reenviar o
problema ao TJ.
§ Pode ela própria intentar uma acção para, no processo, suscitar a invalidade da
directiva. Propõe, por exemplo, uma acção num tribunal português, pedindo a
condenação do Estado a não aplicar aquela norma com fundamento na sua invalidade.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Resolução
¡ Vamos supor que Zulmira propõe a acção.
§ ORA O Juiz, neste processo, num tribunal de 1ª instância, está inclinado a
considerar que a norma é inválida. Que deve fazer?
§ Estamos num caso de reenvio facultativo!
▪ Deve ser obrigado a reenviar?
▪ Deve desaplicar o regulamento, porque é inválido?
▪ Se não quiser reenviar, é obrigado a aplicar o regulamento?
¡ O TJ deu a solução no Acórdão FOTO-FROST.
§ Os tribunais nacionais (reenvio facultativo) podem apreciar a validade de um acto
comunitário e, se não considerarem procedentes os fundamentos de invalidade
que as partes invocam perante eles, podem rejeitar esses fundamentos
concluindo que o acto é plenamente válido.
▪ Isto é, se a questão for suscitada e entenderem que o acto é válido, o reenvio é facultativo.
Podem decidir ou reenviar.
§ Pelo contrário, os tribunais nacionais não são competentes para declarar a
invalidade dos actos das instituições comunitárias. Isto é, se entenderem que
o acto é inválido, devem reenviar, mesmo que o reenvio seja facultativo.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Argumentos
¡ Argumentos TJ da doutrina Foto-Frost:
§ Exigência de uniformidade na aplicação do direito comunitário. Se se
permitisse isto, alguns tribunais aplicariam e outros não.
§ Coerência do sistema de protecção jurisdicional instituído pelo Tratado.
Os Tratados estabeleceram um sistema completo de vias de recurso e
de procedimentos destinados a confiar exclusivamente ao Tribunal de
Justiça a fiscalização da legalidade dos actos das instituições.
 GORJÃO-HENRIQUES DISCORDA:
§ Viola a letra do artigo: O artigo 267.º não estabelece qualquer
diferença de regime entre o reenvio de validade e o reenvio de
interpretação.
§ Viola o sentido do reenvio: O reenvio é a prova que os tribunais
nacionais são os tribunais comuns de direito comunitário. Só é
chamado o TJ quando não há possibilidade de recurso. Ora, é
incompreensível que tenham autonomia para afirmar a validade do
acto mas não tenham para afirmar a invalidade do acto.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão


Análise de alguma jurisprudência

¡ Um advogado francês foi impedido de patrocinar


uma causa no tribunal regional alemão de Colónia.
§ O advogado francês considera que isso é violador do
direito comunitário e, assim, remete um requerimento
à Ordem dos Advogados francesa para que declare a
violação do direito comunitário e inste junto do
tribunal alemão.
§ A Ordem dos Advogados remeteu ao TJ uma questão
prejudicial perguntando se há violação do direito
comunitário.
¡ Podia fazê-lo?
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 150
Decisão Börker (Junho de 1980)

¡ O TJ considerou-se INCOMPETENTE.
§ Não existe um litígio!
§ É necessário que tenhamos um litígio a correr num tribunal
nacional para que possamos lançar mão do reenvio
prejudicial. Aqui não temos nem um tribunal, nem um litígio!
Temos um requerimento à Ordem dos Advogados.
¡ Não cabe reenvio prejudicial.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 151


Acórdão Boussac
¡ Na Alemanha, previa-se que certo procedimento judicial
para cobrança de dívidas (rápido e barato) apenas podia ser
utilizado para as dívidas em moeda alemã (Marco Alemão).
¡ BOUSSAC era devedor de uma empresa alemã que lhe
vendeu grandes quantidades de tecido, em moeda
francesa.
¡ A empresa alemã requereu a utilização deste
procedimento, apesar de a dívida ser em francos.
¡ O Juiz, antes de recusar a acção, formulou uma questão
prejudicial:
§ O facto de aquele procedimento abranger apenas as
obrigações contraídas em marcos viola o artigo 18.º TFUE?
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 152
Acórdão Boussac
¡ O TRIBUNAL ALEMÃO NÃO PODIA TER FEITO ESTA PERGUNTA.
§ Porquê? Porque não é uma questão de interpretação ou validade de
um acto jurídico comunitário. É uma questão de conformidade de
direito nacional com direito comunitário.
¡ MAS o TJUE aceitou a pergunta.
§ Reformulou a questão: entendeu que o o juiz nacional quis perguntar
foi: “O artigo 18.º do TFUE é contrário a uma norma nacional que
confira ao credor um procedimento simplificado para transacções em
moeda nacional?”
¡ O importante nesta decisão foi o facto de o TJ ter conferido ao
Reenvio Judicial a função de apreciação da conformidade
entre o direito comunitário e o direito interno.
§ Não decidiu da conformidade. Mas emanou uma decisão que permitiu
ao juiz nacional descobrir a resposta à sua verdadeira questão.

Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 153


Acórdão Mazzalai (1976)
¡ Um tribunal italiano colocou uma questão ao TJ sobre a
interpretação de uma norma de uma directiva (que não é
directamente aplicável) que não produz efeito directo.
¡ Ou seja, não aplicável ao caso concreto.
¡ O TJ deverá responder?
§ O importante neste acórdão é que o TJ se considerou COMPETENTE para
analisar a questão.
§ De facto, sendo uma questão irrelevante para a causa, o tribunal nacional
estava dispensado de recorrer ao reenvio. Mas essa é uma decisão exclusiva do
juiz nacional!
§ O Princípio da separação das jurisdições impõe que o TJC não recuse a sua
competência, mesmo entendendo que a questão é irrelevante!
¡ O TJ só pode rejeitar o reenvio se for manifesto que a norma cuja
interpretação é pedida NÃO TEM QUALQUER CONEXÃO COM O
CASO.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 154
Ac. World Wildlife Fund (1999)
¡ O tribunal de superior de Bolzano (2ª instância),
reenviou uma série de questões prejudiciais ao TJ, a
propósito da reconversão do aeroporto de Bolzano,
onde se suscitaram dúvidas sobre o cumprimento das
obrigações comunitárias em matéria de ambiente.
¡ Os recorridos (a sociedade Aeroporto di Bolzano) enviaram
a seguinte observação ao TJ:
§ O caso não era admissível naquele tribunal superior! De
acordo com a lei processual italiana, nunca devia ter sido
admitido recurso para aquele tribunal superior! Isso viola
a lei italiana.
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 155
Ac. World Wildlife Fund (1999)

¡ O TJ determinou não poder conhecer do


problema processual
¡ O TJ só interpreta o direito comunitário, não
é competente para averiguar se o processo
podia ou não podia correr naquele tribunal -
 ESTÁ IMPEDIDO DE CONHECER DE
DIREITO NACIONAL.
¡ Tendo recebido questões prejudiciais de um
tribunal nacional, é obrigado a pronunciar-se
Direito da União Europeia II - Afonso Patrão 156

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