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Constrói tua

Vitória
Índice

Este livro... 9
Onde está tua fortuna? 15
Faze um amigo 21
Por que os homens não se entendem? 29
O domínio das emoções 37
Vence o teu medo 43
Conselhos aos impacientes 45
A ginástica da vontade 51
Vence o teu sofrimento 61
Saúde e saúde 67
Eis o teu inimigo: os maus pensamentos 73
Alegra-te com a alegria dos outros 79
Os que servem à morte 81
Aprende a aumentar teu prazer 83
É o homem escravo das suas instisfações? 89
O medo das responsabilidades 97
Onde estão os mais valiosos? 107
Como vencer o pessimismo 111
A persistência ao teu alcance 115
Devemos fazer hoje que podemos deixar 121
para amanhã?
Onde está a felicidade? 127
O bem e o mal dependem de ti 135
O valor da vida 141
Justiça 147
Se os jovens acreditassem nos adultos... 155
Prever a derrota é meia derrota 161
Por que falhamos? 167
Vence a tua morte 173
Tua aliada: a imaginação 181
Entusiasmo, a maior das virtudes 187
Pensar, sentir e agir 193
A potência do homem 199
A liberdade 205
A dignidade do homem 211
A delicadeza: tua arma secreta 217
A felicidade no matrimônio 225
Meditações quotidianas 231
Mark Kimball

Constrói tua
Vitória
“Cuida da tua vida e não renunc-
ies nunca ao teu livre-arbítrio; não
imites aqueles maus comediantes
que só podem cantar em coro...”

EPICTETO
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 9

Este livro. . .

“Cada individualidade mor-


al contribui para mudar a face do
mundo, cada ser livre é criador.”

SECRÉTAN
10 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 11

Todo homem pode ser o seu próprio psicólogo. Pode


esta afirmação parecer um tanto exagerada, mas a análise de
cada um de nós, análise feita com cuidado e boa vontade,
nos oferece um pleno conhecimento de nossas condições
psicológicas e nos permite, a pouco e pouco, que nos con-
heçamos, e que, munidos de boa vontade, possamos auxiliar
a nós mesmos em nossa vida para que a tornemos melhor,
mais sã, mais cheia de satisfação.
Ouve-se às vezes uma crítica à literatura chamada
otimista, essa literatura como a de Smiles, de Marden, de
Atkinson e de tantos outros autores modernos. Acusam-na
de ser apenas otimista, de fugir à realidade da alma humana,
de que o homem já nasce com suas tendências e qualidades
que vêm do berço, e que nada poderá modificar o destino
traçado para a vida de cada um. Somos, assim, verdadeiros
autômatos, estamos desde todos os tempos determinados a
sermos aquilo que o destino gravou no seu grande livro da
existência. Tudo quanto fazemos, dizem esses autores, não
podíamos deixar de fazer. Quem é bom ou quem é mau,
quem é justo ou quem é injusto, quem é alegre ou quem é
triste, já nasceu assim e levará pelo resto da vida essa carga
12 Mark Kimball

aos ombros que nunca mais o abandonará.


Desta forma esgrimem contra a literatura otimista e
moral de todos aqueles que desejam colaborar numa vida
melhor para os seus semelhantes. Louvam suas intenções
porque as julgam belas e dignas, mas negam que possam
conseguir os resultados almejados, porque tudo já está de-
terminado e os acontecimentos que se sucedem não podem
ser impedidos ou modificados no seu curso.
Tal teoria é a maior mentira e a maior falsificação que
se tem feito dos conhecimentos científicos. Nós afirmamos
intransigentemente a liberdade do homem.
Coloquemo-nos em qualquer ponto de vista. Se formos
religiosos, se admitirmos os princípios éticos das religiões,
a liberdade humana está intrinsecamente admitida. Se nos
filiarmos ao chamado materialismo e nos basearmos nas
conquistas da ciência moderna, não poderemos de forma
alguma negar ao homem uma escolha e uma liberdade.
Se colocados deste ponto de vista, analisarmos a
evolução psíquica nos seres vivos, se penetrarmos num
museu de história natural, verificaremos ali, como já disse
Monod, toda a história da liberdade. Os seres primitivos
superiores tinham a espinha dorsal mais desenvolvida que
o cérebro. Mas, à proporção que os animais vão atingindo
formas mais elevadas, o cérebro vai crescendo à custa da
espinha dorsal. A liberdade, para um materialista honesto,
já não pode ser negada porque ela é a maneira de ser dos
seres mais desenvolvidos que são os homens, cuja parte
cortical do cérebro é a sede da escolha, do julgamento, da
preferência de algo a algo. Querer reduzir o homem a um
simples animal vertebrado seria confundi-lo com qualquer
irracional. O homem, contudo, é racional, pensa, mede,
compara, escolhe. Essa qualidade é que o fez homem, que o
tomou homem, que lhe permite enfrentar as situações difí-
ceis, vencê-las, adaptando o mundo mais a si mesmo do
que ele ao mundo, pois o homem é um animal que adapta
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 13

o mundo a si mesmo em vez de adaptar-se ao mundo. A in-


teligência superior de que dispõe lhe permite analisar cada
instante e ESCOLHER, fazer isso ou aquilo.
Os que querem transformar o homem num simples
autômato negam ao homem a sua hominilidade, negam
ao homem a sua característica mais elevada que é a de ser
homem, de ser racional, de poder escolher, de poder dom-
inar a natureza como a domina através da sua ciência e da
sua técnica, de poder construir o seu mundo de acordo com
os seus desejos.
É fundamentada nessa qualidade do homem que se con-
strói toda a literatura otimista. A vida de cada ser, a história
humana, nos comprova com fatos empolgantes que real-
mente o homem conhece uma escolha. E os exemplos sur-
gidos dessa própria literatura otimista, na qual se inscreve
este livro, são suficientes para provar que ela não é uma
ingenuidade, pois muitos, milhares, milhões foram aqueles
que, graças à leitura desses livros e à prática de seus con-
selhos, conseguiram vencer as maiores batalhas que a vida
lhe ofereceu.

* * *

Volvemos a nossa afirmação feita no início: todo homem


pode tomar-se sou próprio psicólogo. Na realidade cada um
de nós é seu próprio psicólogo como é seu próprio médi-
co. Quem conhece melhor nossas necessidades do que nós
mesmos? Isso não implica que um médico ou um psicólogo
possa nos conhecer em muitos aspectos muito melhor do
que nós nos conhecemos. Mas, verdadeiramente, cada um
do nós é seu próprio médico do corpo, como o é da alma.
Conhecemos nossas qualidades, tendências, afetos. E pode-
mos conhecer cada vez mais, cada vez mais profundamente,
a ponto do podermos nos guiar, nos dirigir e impedir que
sejamos presa de muitos males que afligem a vida humana.
14 Mark Kimball

A literatura otimista oferece essa grande vantagem:


nos ensina a conhecermo-nos. Favorece-nos em nossa vida
quotidiana, dá-nos uma série de exemplos que muitas vez-
es vivemos e nos permite que empreguemos um pouco de
atenção para com esse grande companheiro que somos nós
mesmos, nosso grande amigo, nosso grande e desconhecido
amigo, que precisamos conhecer para poder amar, que pre-
cisamos conhecer para poder ajudá-lo nos seus momentos
mais graves.
Este livro que ora oferecemos aos leitores é uma obra
vivida, cheia de experiências de um homem que devotou
grande parte de sua existência, não só em conhecer-se e em
dominar-se, em vencer todas as dificuldades que se apre-
sentaram, como em auxiliar também os seus semelhantes.
Este livro tem um fim proveitoso e nada mais deseja
do que ser útil aos seus leitores: quer oferecer a cada um
essa convicção necessária e benéfica de que não somos ap-
enas uma máquina, um autômato, mas que somos algo que
tem autonomia, que dá regras a si mesmo, que escolhe, que
prefere, que avança ou recua porque quer, e que, levado
por esse querer, pode superar sua própria fraqueza, pode
conquistar suas vitórias, pode aumentar seu bem-estar,
pode tornar mais bela e mais agradável a sua vida e pode
contribuir também para tornar livres, bons e fortes os seus
semelhantes.
Essa é a grande ambição deste livro.

O AUTOR.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 15

Onde está a
tua fortuna?

“Há aqueles que parecem ri-


cos e nada têm, e há os que pare-
cem pobre e têm muitas riquezas.”

SALOMÃO
16 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 17

Já pensaste bem em que consiste a tua fortuna? Cer-


tamente todos sabem em que consiste a fortuna desejada,
aquela que aspiram a alcançar, aquela que desejariam um
dia obter. Como hoje a medida da fortuna é comumente
considerada o dinheiro, não são poucos, mas a maioria, que
desejam a fortuna pelo dinheiro. Quem tem dinheiro, acres-
centam, tem todas as possibilidades, na vida, de gozar os
maiores benefícios. Não resta dúvida de que na ordem atual
que prepondera no mundo é o dinheiro o "abre-te sésamo"
para muitas satisfações. O dinheiro pode oferecer e oferece
muita coisa que a simples vontade e a boa vontade, sem o
auxílio dele, não o conseguem.
Mas perguntamos: é só o dinheiro que nos poderá dar
as grandes satisfações desejadas na vida?
Quem não tem dinheiro, quem não conseguiu obter essa
espécie de fortuna, deve torturar-se a ponto de se considerar
um infeliz, um derrotado, um vencido, um homem a quem o
destino negou as melhores satisfações?
Naturalmente que tal atitude seria a de um desespero ao
qual não aconselharíamos ninguém que a ele se entregasse.
Nem tampouco proporíamos que o conformismo à sua situ-
ação fosse a melhor norma.
18 Mark Kimball

Fechar os olhos às grandes injustiças da vida, à situação


de muitos a quem a "chance" permitiu que tivesse melhores
probabilidades que outros e gozassem dos favores da fortu-
na, não o aconselharíamos. Mas longe de nós também esta
afirmar que esse fato deva amargurar a vida.
Uma análise da vida como ela é, do regime imperante,
pode mostrar a ti, leitor, que o que acontece no mundo é
quase sempre fruto do acaso, da falta de escrúpulos. Como
muita gente sem escrúpulo enriquece, é natural que a ri-
queza seja hoje motivo de desdouro e de antipatia dos po-
bres e explorados, porque todos sabem que a riqueza de
quase todos os poderosos é construída sobre a miséria de
muitos.
Este livro não é uma obra de sociologia nem muito
menos de política e aqui não cabe uma crítica dos prob-
lemas sociais. No entanto não se pode deixar de salientar
que os partidos de esquerda exploram exageradamente es-
sas diferenças sociais para a sua propaganda, aumentando,
assim, muitas das angústias humanas. Em princípio, aceit-
amos que na sociedade existem clamorosas injustiças e que
muitos são vítimas da crueldade dos que dominam. Mas,
todos aqueles que desejam uma transformação das coisas,
que aceitam que a história humana deve continuar e que a
ordem social existente é a melhor para os ricos, mas a pior
para os pobres, e se lutam e desejam que ela seja transfor-
mada, devem, no entanto, não amargurar a sua vida por não
terem o que outros têm.
Uma das maiores amarguras que muitos sofrem é essa.
Há uma frase popular bem expressiva: o rádio do vizinho
sempre é o melhor. Realmente muitos têm seus olhos volta-
dos somente para o que é dos outros. Tudo quanto pertence
aos outros é melhor.
Ora, quem sente assim, já tem a possibilidade de en-
contrar um caminho para se libertar dessa perspectiva tão
danosa. E dizemos por que: quem sente assim pode concluir
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 19

logo que está "doente". Ver o que é dos outros como melhor
é um sintoma de que está sofrendo de alguma coisa.
Portanto precisa desde logo prestar bem atenção para
essa “doença”.
E como curar-se? Será, perguntemos em primeiro lugar,
que tudo quanto tens não presta? Nem tua vida? Ora, exam-
ina bem e verás quão injusto estás sendo para ti mesmo.
Se “quiseres” ver, descobrirás em tua vida muitas fortu-
nas. Não para que te satisfaças com o que tens, se és pobre
e necessitado. Nunca iriamos aconselhar aos necessitados
que se conformem com sua miséria e deixem os ricos e po-
derosos usufruírem de suas fortunas arrancadas aos pobres.
Isso seria uma clamorosa injustiça. Mas daí julgar que tudo
quanto se tem de nada vale, há um passo muito largo e uma
atitude muito injusta para consigo mesmo.
Procurar dentro de nós e em nós e à nossa volta as for-
tunas que a vida nos oferece é trabalho fácil e útil.
Cada um de nós tem em si uma grande fortuna, que
pode ser maior, que pode ser aumentada. O que nos angus-
tia é a inveja. Invejar os que pela falta de escrúpulos, pelo
aproveitamento das necessidades humanas enriqueceram,
é invejar o que não merece inveja. Seria como invejar o
ladrão que enriqueceu. Invejar não é um grande mal quando
invejamos comedidamente, quando invejamos o que é bom,
o que é belo. Mas ficar apenas na inveja é que está o vicio-
so. A inveja quando construtiva, quando nos leva a olhar e
valorizar o que temos, quando leva a sobrelevarmo-nos, a
vencer nossas fraquezas, é uma força poderosa.
Ama o pouco que tens e não calunia a ti mesmo. Ama-
te a ti mesmo com tuas fraquezas e com tuas faltas. Se o que
tens é pouco e mereces mais, luta pelo que mereces. Mas
luta com dignidade, com hombridade, com orgulho, com
altivez, sem nunca caluniares a ti mesmo nem denegrires as
tuas vitórias. És pobre? Mas és honesto? És digno? Então
és rico, tens sempre uma força que ninguém há de vencer
20 Mark Kimball

e que por seu turno vencerá as dificuldades. E lembra-te


de uma grande verdade da vida: os verdadeiros vitoriosos
foram os que souberam fazer de suas fraquezas sua força,
foram os que não se deixaram amargurar por suas faltas e
as transformaram em estímulos para obter grandes vitorias.
Procede com eles.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 21

Faze um amigo

“A melhor maneira de fazer


um amigo é torna-se um amigo.”

EMERSON
22 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 23

Nada mais belo que a amizade, proclamam os moralis-


tas. E poemas, obras-de-arte, extraordinárias e imensas, fo-
ram criadas para homenagear um dos mais belos sentimen-
tos que elevam o homem acima de si mesmo: a amizade.
No entanto, a vida nos apresenta um dos espetácu-
los mais tristes: os homens não têm amigos e muitos dos
chamados amigos são apenas companheiros que as “provas
de fogo” demonstram que não mereciam o título honroso
que lhe davam.
Entre os que dizem que os homens não são capazes de
amizade e os que credulamente acreditam em todo aquele
que se diz amigo, devemos nos colocar numa posição inter-
mediária.
Há exemplos na história de todos os dias de grandes e
profundas amizades. São fatos da vida que ninguém pode
negar. Ora, se tais fatos existem e se reproduzem, a amizade
é, portanto, possível entre os homens.
A amizade é uma das mais belas afeições que podem
ligar dois seres humanos e nada devia ser tão cultivado pe-
los homens.
De um homem que não tem amigos devemos descon-
24 Mark Kimball

fiar. Ou exigiu demais de seu semelhante ou é um doente


mental. No primeiro caso deve ele procurar examinar que
conceito exagerado fez da amizade, no segundo deve procu-
rar um psiquiatra para que o estude.
Nunca o homem deve abandonar a grande missão de
ter um amigo. Mas a amizade se constrói. É um trabalho
contínuo, lento, paciente e cuidadoso, e cada um pode
e deve ter um amigo. Se todos os homens fizessem, pelo
menos, um grande amigo quanto se poderia já ter feito em
benefício do homem.
Leitor, não é difícil fazer-se um amigo: basta que não
exijas dele mais do que deves exigir, e dá a ele aquilo que
podes dar. Nessa mútua compreensão de capacidades de
cada um está a base principal da amizade, pelo menos o
alicerce onde se pode construir uma profunda e duradoura
amizade.
Não basta que se tenha simpatia por uma pessoa, não
basta que ela pense como nós ou tenha os mesmos gostos
que temos, é preciso, também, que não queiramos dessa
pessoa mais do que pode licita e honestamente nos dar.
Quem quer amigos para deles se aproveitar não quer
amigos.
* * *
Poucos são os que estão satisfeitos de si mesmos, e a
maioria dos homens vive entre a angústia do que desejava
ser e do que é na realidade. Cada homem constrói para si
a imagem do herói de seus sonhos, daquele que desejava
ser e a angústia que o absorve em suas malhas poderosas
consiste na triste realidade de sua vida que é por ele menos-
prezada ou na construção e admiração daquele homem que
desejava ser.
Ora, tal atitude representa uma profunda inseguridade
interior de quem não sente no posto que julga devia ocupar.
Que faz em regra geral quem é vítima dessa situação? Ou
nega os valores dos que estão na posição que não ocupa,
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 25

nega as qualidades do outro que deseja ter para si ou então


exalta exageradamente o tipo de herói que desejava ser.
Desta forma desestima o que realmente é para exaltar:
as virtudes do tipo ideal a quem dá todas as qualidades e
todas as perfeições.
Ou então busca exaltar suas fraquezas desestimando to-
das as qualidades superiores dos outros que lhe estão longe
e que dificilmente julga poderia alcançar. Neste caso apre-
cia a si mesmo exageradamente e faz de si próprio seu prin-
cipal argumento.
O sentimento de inferioridade leva a exaltar aqueles
que ele julga num plano superior. Em regra geral, essa pes-
soa que ele julga superior não é um herói popular, mas um
amigo, ou então a própria mulher amada. É muito comum,
neste caso, que a pessoa que engendra a figura de um herói
fazer do seu amigo esse herói. Atribui ao amigo um valor
maior do que realmente possui este, e eis aí a razão por que
muitas vezes o amigo o decepciona, por ter ele esperado do
amigo muito mais do que realmente poderia dar.
E quando vê falhar o amigo do qual esperava além do
que realmente podia, esse doente mental vira-se contra a
vida e a acusa e acusa a todos os homens de não valerem
nada, de serem falhos, de que todos os grandes valores são
apenas aparentes.
Esse doente nervoso se decepcionara de todos os
homens, embora sejam eles leais e honestos, porque exige
de todos mais do que realmente eles podem oferecer.
E desta forma quer justificar, depois, os erros que com-
ete porque os atribui a todos.
Ora, não se deve exigir de um amigo além daquilo que
poderíamos oferecer a ele. Como pedir de alguém mais do
que aquilo que podemos dar? Essa a grande injustiça que
muitos praticam e essa injustiça é fruto das decepções e das
acusações que esses derrotados fazem depois da vida.
Como querem que outros lhes deem o que não seriam
26 Mark Kimball

capazes de dar em circunstâncias idênticas?


Essa injustiça é uma das mais vulgares e, para evitá-la,
pois grandes são os prejuízos que ela gera na vida, deve
cada um observar de quanto seria capaz de fazer em certas
circunstâncias em benefício de outrem, para exigir depois
de si aquilo que poderia fazer.
Muita gente diz, criticando a um rico, que se fosse rico
faria isso e aquilo. Muitos pobres já falaram assim. E, de-
pois, quando as oportunidades da vida lhes permitiam que
enriquecessem, vendo-se nas mesmas circunstâncias dos
que antes eles criticavam, procediam muito pior do que
eles. Os maiores carrascos dos pobres foram ricos que já
foram pobres. É isso um argumento contra os pobres? Ab-
solutamente não, mas é uma prova de que é fácil julgar os
outros quando em situação diferente da nossa, mas quando
estamos na mesma situação procedemos como eles e muitas
vezes até pior.
Referente à amizade, que essas lições sejam aproveit-
adas. Não devemos querer construir amizades apenas para
termos delas benefícios. Um verdadeiro amigo nada exige
de seu amigo. Só pode esperar dele aquilo que faria por ele
se se invertessem os papéis.
Por outro lado, não se deve construir uma imagem fictí-
cia dos amigos, imaginando-os mais benfeitores do que
realmente são ou podem ser. E caluniar depois os homens
porque não procederam para conosco como desejaríamos
que procedessem é uma das injustiças maiores que pode-
mos fazer, além de amargurar a nossa vida, enchendo-a de
desgostos e angústias que são os mais fortes destruidores da
vontade e da vitória.
Para seres um vitorioso não deves exigir dos outros
mais do que és capaz de dar e não acuses nunca os outros
dos teus fracassos. Já dissemos e repitamos: só há fracasso
para os fracassados, para aqueles que já criaram em si mes-
mos o clima do fracasso. Quem sabe se alimentar das suas
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 27

pequenas vitórias estará apto a conquistar as grandes.


Não responsabilizes os outros dos teus erros, se tens às
mãos a possibilidade de não cometê-los.
Não temas os teus erros e aproveita cada um dos que
cometeste como um sinal de atenção para o futuro. Foi er-
rando que Lincoln tornou-se grande, foi errando que todos
os grandes homens conseguiram sua vitória. E se em tal sit-
uação conseguiram foi porque em vez de responsabilizarem
os outros de seus erros, em vez de se queixarem da vida,
procuraram estudar o porquê de seus erros e ao estudar-
em-no dentro de si acharam o caminho que lhes levaria a
conseguir vitórias.
Os homens não são tão bons nem tão maus como pin-
tam os otimistas e os pessimistas. Olha dentro de ti e verás
que não és tão bom como às vezes julgas nem tão mau como
muitas vezes te acusas.
Podes estar certo de que, toda a vez que és pessimista
ou otimista demais, estás doente. Vê o mundo com olhos
humanos, compreendendo o mal e o bem, e poderás con-
struir a ti mesmo como és: humano, profundamente huma-
no.
28 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 29

Por que os homens


não se entendem?

“Todo coração humano é


humano”.

LONGFELLOW
30 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 31

Basta uma observação superficial através da história da


humanidade para verificarmos que os homens têm mantido
entre si lutas tão violentas, morticínios, choques tão pro-
fundos, obstinações tão intransigentes que não são poucos
aqueles que concluem que os homens não se entendem.
São os homens inimigos uns dos outros? É o homem um
adversário de seu semelhante? Estas perguntas têm tido na
filosofia e na literatura respostas de todos os quilates, ora
otimistas, ora pessimistas.
Há os que acreditam que ainda chegaremos a um rei-
no de verdadeira paz entre os homens, em que os homens,
movidos pela boa vontade e pelo amor, tratarão fraternal-
mente uns aos outros, e poderemos, finalmente, viver na
terra aquela era em que se construirá a humanidade, não
mais como uma palavra sonora, mas como um fato real e
objetivo.
Outros, porém, fundados nas experiências dos fatos
que se desenrolam quotidianamente, concluem que jamais
os homens chegarão a se entender nem a realizar uma época
de maior aproximação humana.
Entre o otimismo de uns e o pessimismo de outros po-
32 Mark Kimball

deremos dizer que é nobre o desejo dos primeiros, mas é


totalmente falsa afirmação dos segundos. Um homem que
penetra na vida levando dentro de si a convicção de que
seus semelhantes são seus inimigos, nunca poderá ele re-
alizar uma grande obra, e a sua vitória, se acaso possa obter,
será à custa de lágrimas e de sofrimento de seus semelhan-
tes. Este livro se destina aos que desejam vencer sem que
a sua vitória seja a esteira de lágrimas e de dores dos seus
semelhantes, pois a verdadeira vitória, a grande vitória é
aquela em que, ao nos exaltarmos, exaltamos também os
nossos irmãos.
Por que os homens não se entendem? Se realmente
se verifica uma ausência maior ou menor de aproximação
entre os homens, concluir daí que essa separação é uma
fatalidade inerente à própria natureza humana é proceder
desarrazoadamente. Uma análise cuidadosa da vida social
nos poderá mostrar quais os verdadeiros motivos que im-
pedem esta aproximação. Se as causas que geram os desen-
tendimentos entre os homens não são fundadas na própria
natureza humana, mas sim nas condições sociais em que o
homem vive, e nestas condições podemos incluir também
a própria formação mental e psicológica de cada um, pode-
mos concluir que é possível evitar a maior soma de desen-
tendimento e preparar o homem para alcançar essa época de
plena fraternidade e de comunhão.
Vamos examinar pequenos fatos da vida que geram de-
sentendimentos:
Escolhamos, como exemplo, dois homens que se colo-
cam à frente de um quadro. Não se trata propriamente de
dois profundos entendedores da pintura, mas de dois am-
adores que apreciam a arte pictórica. Aceitemos, para ex-
emplificar, que um desses homens considere o quadro que
admira como uma obra-prima, enquanto o outro o considere
uma obra medíocre. Estamos em face de duas apreciações
de caráter puramente subjetivo que divergem totalmente
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 33

uma da outra. Um poderá ouvir a apreciação do outro sem


que entre ambos suceda nada de desagradável. Mas diga-
mos que aquele que julgou o quadro uma obra-prima queira
impor ao outro a mesma apreciação, ou vice-versa. Neste
caso a divergência, que era apenas de apreciações, passa
para um terreno de divergência de caráter completamente
diferente. Cada um sentirá em si uma intromissão, ou uma
violência ao querer o outro impor-lhe a sua apreciação. Tal
fato provocará a reação, e essa reação tomará uma inten-
sidade relativa às condições psicológicas de cada um dos
indivíduos.
Poderá um responder ao outro: você julga assim, eu jul-
go diferentemente. Mas digamos que o que julgou o quadro
uma
obra-prima não se contente com esta simples apre-
ciação do outro e continue impondo a sua apreciação. O
segundo reagirá, e nesses momentos é comum observar-se
que esta reação é muitas vezes mais intenda do que a ação
provocadora. E poderá assistir-se também a um conflito
que pode chegar até às vias de fato entre dois homens que
manifestem um ao outro as suas apreciações estéticas.
Por que não se entenderam os dois? Simplesmente
porque não quiseram permanecer dentro da sua apreciação
e não quiseram respeitar a apreciação do outro. Ambos
poderiam permanecer em perfeito acordo desde o momen-
to em que cada um reconhecesse que a sua apreciação era
pessoal e que cabia o direito a qualquer um de apreciar dif-
erentemente.
Aplique o leitor esse singelo exemplo aos fatos sociais
e verificará que a maioria, a maioria quase absoluta das di-
vergências humanas decorre precisamente do fato de uns
quererem impor aos outros as suas apreciações, as suas in-
terpretações, os seus pontos de vista.
Os homens não se entendem porque os homens jul-
gam que entender consiste em pensar igual. Entender não é
34 Mark Kimball

pensar igual, e sim respeitar o pensamento divergente dos


outros. Se observamos a política verificaremos que os par-
tidos políticos são as maiores fontes de divergências hu-
manas, porque cada um, julgando-se senhor da verdade,
quer transformar a sua convicção partidária em verdade
universal para todos, e aqueles que a não aceitam são por
ele julgados como movidos por má-fé ou por ignorância.
Em vez de expor as suas ideias e opiniões procura impô-la,
e sucede então o que se verifica entre os dois apreciadores
acima citados.
Leitor amigo, aproveita esta lição para tua vida. Não
construirás amigos — e lembra-te de que os amigos são
profundamente necessários na nossa existência — se não
soubesse respeitar as suas opiniões.
Não queiras nunca impor-lhes as tuas opiniões. Ouve-
as respeitosamente, declara-lhes que merecem toda a con-
sideração, mas que, sem pretender diminuir o seu critério de
apreciação, reservas-te o direito de discordar como também
compreendes que a tua opinião não seja aceita pelo teu ami-
go. Se procederes assim construirás amizades porque no
respeito às ideias do teu semelhante terás contribuído para
fortalecer uma amizade verdadeira, pois aqueles amigos
que surgem na tua vida unicamente porque pensas como
eles não são os teus melhores amigos.
As mais profundas amizades são construídas entre pes-
soas de índole diferente, em que as apreciações divergem,
em que os pontos de vista seguem perspectivas opostas, mas
onde existe respeito à opinião alheia, respeito mútuo. Essas
amizades são as mais profundas e duradouras. A amizade
entre os iguais é uma amizade natural, produto da homoge-
neidade de opiniões. Ela firma-se apenas nessa homogenei-
dade, não é construída por uma afeição vitoriosa, vitoriosa
porque vence divergências de apreciações. A amizade entre
dessemelhantes, entre diferentes, entre desiguais é construí-
da sobre vitórias, mas uma vitória que não é a derrota do
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 35

outro amigo, mas uma mútua vitória em que cada uma das
partes mantém suas apreciações pessoais e respeita a apre-
ciação da outra.
Essas amizades são as mais profundas e duradouras.
Bem vês, leitor, que não te é difícil evitar os desenten-
dimentos entre ti e os teus semelhantes. Da tua parte sabes
como proceder e se divulgares essas ideias aos que te cer-
cam poderás talvez não transformar os outros para serem
como tu és, mas muito será possível conseguir, pois que,
na maioria dos homens, há o desejo de viverem irmãmente,
só que nem todos sabem como proceder para alcançar essa
situação de fraternidade.
Auxilia teus semelhantes a conquistar essa posição de
respeito mútuo e terás contribuído para que os homens al-
cancem essa era de compreensão, que hoje nos parece tão
distante, porque assistimos à intransigência daqueles que,
se julgando possuidores da verdade, querem impor aos out-
ros as suas perspectivas.
36 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 37

O Domínio das
emoções

“Paciência e delicadeza é poder.”

LEIGH HUNT
38 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 39

É a capacidade de dominar suas emoções o que bem


diferencia o homem dos animais. O animal manifesta logo
o que sente e reage de acordo com os seus impulsos. Com
o homem se dá o inverso: é um ser capaz de controlar, de
dominar seus Impulsos. Por isso se diz que o homem é um
animal ético, isto é, moral, porque pode agir ou deixar de
agir segundo as normas e costumes estabelecidos pelo am-
biente em que vive.
Quando mais civilizado e culto é um povo, maior a sua
capacidade para dominar as emoções. Os homens primi-
tivos e bárbaros manifestam o que sentem à proporção que
sentem. O fim da educação da criança consiste em torná-
la capaz de dominar as emoções. A criança chora, grita,
agita-se à proporção das suas emoções. Numa idade mais
avançada, domina seus Impulsos.
Admiramos o homem que é capaz de dominar seus mais
fortes Impulsos e os grandes vitoriosos na vida são aqueles
que melhor sabem dominá-los. Se cada um de nós agisse de
acordo com a emoção que sente, o mundo teria uma forma
bastante diferente da atual e viveríamos ainda como vivem
os animais. A nossa cultura e a nossa civilização organiza-
40 Mark Kimball

da, bem ou mal, sobrevive só porque os homens são mais


ou menos capazes de vencer e iluminar suas emoções.
Mas dominar ou desviar suas emoções não consiste pu-
ramente em aniquilá-las. A psicologia profunda da atuali-
dade estuda exuberantemente os casos em que esse domí-
nio pode trazer males imensos aos homens. Assim não é
qualquer domínio que serve, é preciso escolher aquele que
melhor favorece ao homem. E no âmbito individual não
basta apenas dominar suas emoções martirizando-se, mas
levá-las para um fim útil, benéfico ao indivíduo e à socie-
dade.
Um homem quando se deixa dominar por suas emoções
sofre uma redução da personalidade. Não é mais senhor
de si, mas escravo de suas paixões, como se diz. Quantos
crimes se processam na sociedade, e os mais hediondos,
precisamente por aqueles que não são capazes de dominar
suas emoções? Há exemplos todos os dias. E o arrependi-
mento que sobrevêm depois não sana o ato praticado e não
são poucas as vezes que vemos pessoas dizerem: “Eu não
devia ter procedido assim. Deixei arrastar-me pela minha
ira!”
Quanto mais um homem é capaz de dominar suas
emoções, mais capacidade tem para vencer. Dirão: “É fácil
dizer que me devo dominar, mas, na verdade, quando me
enfureço não consigo me dominar. Que devo fazer?”
No decorrer deste livro oferecemos uma série de ex-
ercícios práticos que cada um pode facilmente executar, e,
quando realizados cuidadosamente, oferecerão a cada um a
capacidade de dominar suas emoções.
Todo aquele que executa as regras que nele expomos é
capaz de atingir a um grau tão forte de domínio de si mesmo
que as emoções serão facilmente domináveis.
Rememore o leitor os fatos praticados durante a sua
vida nos quais encontra os erros que praticou. Quantas vez-
es fez o que não deverá fazer? Quantas vezes se arrepend-
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 41

eu do que fez? Quantos prejuízos lhe sucederam porque se


deixou arrastar por seus impulsos?
Basta o leitor fazer um exame diário de sua vida para
ver quantas vezes errou durante um dia e quantos atos pra-
ticou que poderia não ter praticado.
Esse exame diário dos atos da vida, rememorando cada
um dos momentos de cada dia, ao lado dos exercícios sim-
ples que propomos, permitirá a cada um adquirir esse domí-
nio de si mesmo tão necessário depois para a conquista da
vitória na vida.
42 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 43

Ve n c e t e u m e d o

O pior de todos os medos é o medo do inexistente. O


nervoso, depauperado pelo próprio medo, inventa um fan-
tasma, e quantas vezes todos os nossos temores são pura-
mente fantasmas criados pela nossa imaginação.
Tomem muitos que isto suceda ou não suceda, que aq-
uilo possa sobrevir inesperadamente e enchem-se do ter-
ror do que ainda não aconteceu, mas que pode acontecer.
Ora, se apreciar o leitor cada um desses casos, verá que
podemos aumentar nossos terrores até o infinito. Basta im-
aginar que tudo quanto há de mal pode acontecer, porque
acontecem coisas más e boas. Digamos que alguém crie
fantasmas dessa espécie: hoje gozo saúde, mas amanhã po-
derei estar doente; hoje atravessei uma rua de movimento
sem maior perigo, mas amanhã poderei ser atropelado por
um automóvel; o emprego que tenho hoje poderei perde-lo
amanhã; minha mulher que goza saúde poderá adoecer e
obrigar-me a muitas despesas para as quais não estou devi-
damente preparado, etc.
Quem pensa assim e põe-se a viver todas essas pos-
sibilidades, dando a elas um tom quase de fatalismo, está
criando fantasmas para a sua vida e deixa-se empolgar pelo
44 Mark Kimball

terror do que pode acontecer. E muitos medos de nervosos


que vivem atribuladamente a vida consistem em dar uma
realidade mental às possibilidades desagradáveis que po-
dem suceder ou não.
Ora, tais pensamentos já são uma predisposição para
que eles aconteçam.
Muitos psicólogos têm estudado casos de desastres que
têm sua causa no fato de muita gente viver preocupada com
a possibilidade do desastre. Há até quem os chame ironica-
mente de “atropelados natos”. Vivem a pensar na possibi-
lidade de ser atropelado e, em vez de manter apenas uma
prudência natural e controlada quando andam nas ruas,
vivem sob a férula de um verdadeiro terror de que algo
possa acontecer e, quando menos se espera, um descuido,
aparentemente inconsciente, leva-os a um desastre às vezes
fatal.
Um exame diário de teus medos, leitor, é uma necessi-
dade utilíssima para a tua vida. Deves, cada dia, examinar a
ti próprio da seguinte forma:
Pergunta: de que tenho medo?
Tenho medo disto, disto e daquilo. Examina cada um
de teus medos e verás que são sempre possibilidades que
julgas mais ou menos realizáveis. Verás que muitas des-
sas possibilidades crescem apenas porque pões nelas uma
acentuação exagerada, e que essa acentuação é que te cria o
pavor de que sofres.
Julgar que possa adoecer é preparar-se para a doença.
Julgar que possa fracassar em alguma coisa é preparar-se
para o fracasso.
Um exame de todas essas possibilidades que são pura-
mente irreais e vivem apenas na imaginação, e libertar-se
delas por uma análise cuidadosa, verificando que elas não
representam senão medos, é dar um grande passo para a
libertação do medo.
E repetimos a nossa frase anterior: o pior de todos os
medos é o medo do inexistente.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 45

Conselho aos
impacientes

“Quem tem paciência tem o que


quer.”

EMERSON
46 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 47

Muitos não compreendem por que os chineses são


tão pacienciosos. A paciência manteve aquele povo sem-
pre forte nos momentos mais agudos e mais difíceis. Só
a paciência poderia ter permitido que ele atravessasse as
grandes borrascas de sua existência.
Pois a paciência é um dos maiores medicamentos da
alma. Os que já nascem pacienciosos sabem perfeitamente
quanto de tranquilidade se espraia pela vida. Os que são
irritadiços, apressados não compreendem o valor da paciên-
cia. Mas essa é extraordinariamente útil e acessível a todos.
Deve o leitor conquista-la, pois não é difícil chegar a ser
paciencioso.
A paciência é útil na vida para enfrentar as situações
perigosas e difíceis, e para evitar muitos fracassos que são
apenas o resultado de uma falta de paciência ante os mo-
mentos difíceis.
Imaginemos que um homem quer derrubar uma árvore.
Que faz ele? Atira-se contra ela com todas as suas forças,
faz ingentes esforços, e a árvore permanece imperturbável
ao trabalho esgotante do impaciencioso.
Vem outro, paciencioso, procura uma ponta de pedra,
48 Mark Kimball

afia-a de encontro a outra, amarra-a com cipós num longo


pedaço de madeira o põe-se a golpear a árvore.
O Impaciente imita aquele, mas põe-se a golpear desor-
denadamente, apressadamente, ansioso de ver a árvore no
chão. Mas cansa-se logo, e desanima.
O paciencioso fere a árvore vagarosa, mas rijamente.
Poupa as suas forças intercalando pausas e, com elas, for-
ma um ritmo no seu trabalho. O cansaço demora a vir e ele
consegue, por fim, fazer a árvore ruir.
Eis um exemplo simples do trabalho paciencioso e do
impaciencioso.
A utilidade da paciência é imensa para o homem. É
preciso para a conquista das vitórias na vida, para as quais
deve tender todo homem, a paciência na sua ação, isto é, a
sabedoria de esperar.
É a velha sabedoria da gota de água que fura a pedra.
Lembra-te de que qualquer dor que sentires poderia
ainda ser maior.
Sei que não basta dizer ao que sofre que seja forte. O
que sofre sente a dor e os conselhos não bastam para aliviar
os sofrimentos, mas os conselhos ajudam.
Uma dor não existirá sempre. Qualquer sofrimento será
um dia aliviado.
É preciso, no entanto, buscar o alívio mais rápido que
for possível, mas nem sempre esse alívio está fora de nós e
sim em nós.
Observem-se pequenas experiências da vida: digamos
que alguém vai tomar uma injeção. Se sua atenção estiver
localizada no local onde vai ser picada a agulha, a dor, em-
bora pequena, será maior do que se essa atenção estiver dis-
persada para outras coisas. Muita gente sofre muito porque
dá muita atenção a um sofrimento passageiro.
Uma educação feita contra a dor, emprestando a está
um conceito de castigo ao homem, tem sido uma das causas
do exacerbamento da dor. Ora, a dor é própria da vida e
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 49

nosso trabalho é aliviar o sofrimento. Nunca, porém, poder-


emos exterminar a dor nem o devemos fazer.
Educar cada um nessa concepção de que o sofrimento
é próprio da vida e muitas vezes benéfico, já é dominar em
grande parte a dor. Quanta gente que não se cuida porque
não sente dor? Os piores doentes são os que não sofrem, por
isso não se cuidam devidamente. É uma verdade de cada
dia. Só isso já basta para provar que ela é uma acautelado-
ra de nossa vida. A dor é uma sentinela avançada. Quando
sentimos uma dor é porque algo em nós está sendo atacado
e não doente. Logo a dor é própria de nosso corpo e não um
castigo imposto pelos deuses.
Não nos desesperarmos quando sofremos é a melhor
maneira de combater a dor.
50 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 51

A Ginástica da
vontade

“Tudo é possível para aque-


le que assim o considera.”

CHAUNING
52 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 53

Não é do âmbito deste livro o estudo da vontade se-


gundo a psicologia, isto é, não cabe tratar aqui das diversas
teorias sobre gênese da vontade: se é ela livre ou determi-
nada, se é de origem física ou divina, etc. Interessa aqui
um aspecto puramente útil ao homem, um aspecto objetivo,
prático: qual o valor da vontade para a conquista da vitória.
Pode o indivíduo dirigir a sua vontade? Pode orientá-la
para fins úteis? Pode acentuá-la, fortalecê-la, desenvolvê-la?
Pode o homem com a vontade dominar seus impulsos prej-
udiciais e torna-los individual e socialmente úteis?
Uma grande soma de perguntas novas surge a todo o
instante, sem que precisemos entrar no terreno puramente
filosófico do assunto.
Nossa afirmativa é: o homem pode desenvolver sua
vontade, pode aumentá-la e dirigi-la em seu benefício e
transformá-la em sua grande aliada para a conquista da sua
personalidade e da sua vitória na vida.
Realmente o emprego da vontade aparenta-se difícil a
muitos, e não são poucos os autores que proclamam que a
direção da vontade é o que existe de mais espinhoso, desani-
mando assim a muitos que julgam estar esse bem tão afasta-
54 Mark Kimball

do deles, tão distante, que já penetram desanimados no es-


tudo do emprego da Vontade em seu próprio benefício. Não
queremos ser exageradamente otimistas, mas afirmamos
que a vontade e seu aproveitamento dirigido em benefício
do homem é o que há de mais fácil e mais acessível a to-
dos, inclusive até àqueles que são chamados de “fracos de
vontade”.
Procedamos uma leve apreciação dos fatos de cada um
e o leitor bem nos pode ajudar no exame de sua vida pessoal
e colaborar com seus próprios exemplos em prol da nossa
opinião.
Quantas vezes, pela vontade, o leitor fez ou não fez aq-
uilo que desejava?
Quantas vezes, pela vontade, o leitor resolveu tomar
uma atitude ante um fato qualquer que, por inércia, por co-
modismo, pareceu-lhe mais conveniente permanecer indif-
erente?
O leitor pode responder por nós e, cada leitor, temos
certeza, terá centenas e até milhares de exemplos em favor
da nossa opinião.
É por acaso um homem que é chamado de fraco de von-
tade, apenas um autômato em todos os atos de sua vida,
fazendo apenas aquilo que seus impulsos propõem? Abso-
lutamente, não! Um homem completamente sem vontade
não existe, ou seja, um homem que nem uma vez seja capaz
de contrariar ou dirigir um impulso, não existe. Todos nós,
mais ou menos, somos capazes de querer fazer isto ou aqui-
lo, de deixar de fazer isto ou aquilo.
Pois bem, se assim somos, se tantas vezes realizamos
nossa vontade, perguntamos: não é possível aumentar essas
vezes, aumentar sempre até alcançar um pleno domínio de
si mesmo?
Vejamos se é possível.
Segundo a psicologia de profundidade que hoje obtém
um tão elevado lugar no conhecimento humano, depois dos
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 55

grandes trabalhos de Freud, Adler, Jung, Steckel, Reik etc.,


continuados por milhares de especialistas, vemos que o
homem é capaz de poder dominar seus impulsos até quando
julga que não o é.
Segundo nosso ponto de vista, o simples fato de duvidar
dessa possibilidade já é uma prova de fraqueza, ou melhor
uma preparação interior para a fraqueza, uma predisposição
do homem para a fraqueza. Não que julguemos que basta a
cada um sugestionar-se de que é capaz de guiar a sua von-
tade, para quem seja suficiente para guiá-la. Acreditamos
firmemente na força da sugestão pessoal, mas esta, por si
só, não é suficiente para tudo. É preciso mais, é preciso um
treino contínuo da vontade, um exercitar-se sem descanso,
diariamente, em cada momento, e se for feito assim, a con-
quista da vontade e da auto-direção estará em breve con-
seguida.
Digamos que o leitor, hoje, deseja ir a um cinema. Está
ansioso, por exemplo, por ver um filme cuja publicidade
muito o impressionou. É um desejo que não o deixa, que o
toma todo em seus braços. Durante todo o dia, nas horas de
serviço, a lembrança do filme lhe está na mente. Está ansio-
so que passem as horas para chegar o momento em que irá
apreciar o filme.
Mas o leitor, querendo fazer uma pequena ginástica de
auto-domínio resolve deixar de ver o filme hoje para vê-lo,
somente, daqui há dois dias.
Esse pequeno exercício, tão simples, tão fácil, lhe dará
a certeza de que é capaz de vencer os seus desejos. Exem-
plos como este podem ser multiplicados e cada um ofere-
cerá ao leitor duas sensações extraordinárias:
1) uma sensação de vitória, de autodomínio;
2) uma satisfação, porque todas as vezes que vence-
mos, somos felizes.
Não pregamos mortificações que cheguem até ao ex-
agero, até ao sacrifício de si mesmo, como o fazem as re-
56 Mark Kimball

ligiões que muitas vezes chegam a pregar a tortura, a aut-


oflagelação, o emprego de formas dolorosas para vencer
os impulsos. Tais processos ainda bárbaros não tornam o
homem mais forte, porque não o entusiasmam nem o fazem
feliz. A felicidade para o homem está cm conseguir vitóri-
as. E para conseguir vitórias é preciso entusiasmo. O que
pregam esses flageladores é precisamente derrotas e não
vitórias.
Aquele, por exemplo, que tem um determinado desejo
e flagela-se, fere seu corpo, enterra em suas carnes pontas
contundente para mortificar o seu corpo, quando vence os
seus desejos não obtém uma vitória, mas uma derrota de si
mesmo. A própria palavra mortificação diz tudo: é morte e
não vida. Ele se mata e não vive. E o que pregamos é vida,
grande amor à vida, grande desenvolvimento dos impulsos
de vida.
Ora vejamos: num campo de batalha a vitória de um
exército sobre outro é composta de pequenas vitórias. É
a vitória daquele setor e daquele outro, daquele grupo e
daquele outro grupo, de um, outro, de muitos indivíduos,
fazem a grande vitória final.
Pois assim é na vida: as pequenas vitórias que cada um
pode experimentar em cada instante sobre seus maus im-
pulsos ou sobre as dificuldades ou sobre seus desejos for-
mam a vitória final.
* * *
Embora não queiramos estudar em que consiste a von-
tade, devemos dar a nossa opinião singela: o homem tem
uma variedade de impulsos que o impelem para as mais
variadas direções, impulsos ativos e passivos, impulsos
para realizar ou para não realizar. A vontade é manifestada
na vitória do impulso mais forte sobre os impulsos mais
fracos. Assim alguém pode dizer: “Faço tal coisa porque
quero!” E, no entanto, está apenas obedecendo a um impul-
so mais forte. Ora, dentro do homem há reservas infinitas de
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 57

outros impulsos que combinados a um mais fraco, torna-o


mais forte e capaz de ser vitorioso sobre os outros.
Digamos, por exemplo, que alguém sente o impulso de
beber. É um impulso forte que é maior que o de não beber,
como produto, digamos, da educação, das leituras, etc., e
da convicção que tem de que a bebida é prejudicial à saúde.
Mas, sendo forte esse impulso poderá essa pessoa dizer:
“Eu bebo porque quero. Se eu quiser não bebo”, e bebe.
Está ele convencido de que obedece apenas à sua vonta-
de, mas, na realidade, obedece a um impulso mais forte.
Digamos que essa pessoa, pelo pleno conhecimento de si
mesma, compreende que está apenas obedecendo a um im-
pulso mais forte. O simples fato de alguém dizer: eu resolvi
fazer isto ou aquilo, eu quero fazer isto ou aquilo, comprova
que antes se encontrou numa encruzilhada. Quando alguém
decide fazer algo é porque esteve entre duas soluções pos-
síveis: a de fazer esse algo ou de não fazê-lo. E quando re-
solveu fazer é preciso que examine se está obedecendo ap-
enas ou está mandando. Muitos atos de vontade são apenas
obediência a uma ordem interior e outros o emprego combi-
nado de forças interiores para dominar o impulso contrário.
Assim é preciso distinguir cuidadosamente o ato de
vontade do ato de obediência a um impulso. O ato de von-
tade mais completo consistiria no seguinte: há um impul-
so forte para fazer algo e um fraco que o contrapõe. Se o
indivíduo aceitar o domínio do primeiro pode julgar que
está realizando um ato de vontade, mas realmente está ap-
enas obedecendo ao impulso mais forte. O ato de vontade
pessoal seria aproveitar o impulso mais fraco e alimentá-lo
com outros impulsos, isto é, querendo não fazer o que pre-
tendia fazer. Aí então é que se verifica a vitória. No caso
daquele que julga que bebe porque quer, porque escolheu
entre o desejo de beber e o de não beber: se o impulso de
beber é mais forte julgará que está realizando um ato de
escolha. Mas resolvendo dar mais força ao impulso de não
58 Mark Kimball

beber, apelando para suas forças interiores, mobilizando-as


para não fazer o que lhe aparece como desejoso, combinan-
do suas forças interiores para tal fim, vence o querer ante-
rior por um outro querer, isto é, não bebe. Então se verifica
a vitória.
Muita gente julga que um homem de vontade é um
homem torturado, de feições impressionantes, que faz
alarde de sua vontade. No entanto, um homem sereno, tran-
quilo, manso, pode ter uma vontade muito mais forte. Não
consiste em torturar a si mesmo o ato de vontade. A edu-
cação da vontade não se faz por violências sobre violências.
É um trabalho lento como explicamos, por longos exercíci-
os relativamente fáceis, mas que com o decorrer do tempo
se tornam poderosos porque cada vitória que se processa
aumenta a capacidade de vencer.
É nossa opinião que a conquista da vontade não é uma
tarefa tão difícil que muitos devam abandoná-la a meio do
caminho. Assim certos professores de matemática tornam
está tão obscura, tão difícil, afirmam ser tão tortuosa que
muitos alunos já entram no seu estudo vencidos e desani-
mados.
No entanto a matemática, como tudo, é simples se sim-
plesmente for mostrada, e o papel do professor está precis-
amente em torna-la cada vez mais simples, em ensinar ao
aluno a vencer as dificuldades que se antepõem.
Assim, na educação da vontade, dizer-se que atingir
a uma vontade dominante é uma tarefa, difícil, tortuosa,
ingente, é desaminar a muitos, porque na realidade não é
tão difícil e é até fácil. Já afirmamos que não nos move
um otimismo exagerado, pois já demos diversas provas do
que cada um pode fazer neste sentido e quantas vezes pode
vencer.
Outro exercício fácil: em face de qualquer fato é preci-
so ter calma para julgá-lo. Um julgamento apressado pode
levar-nos a um resultado certo, mas quase sempre nos leva
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 59

ao erro. Examinar cada fato calmamente é uma forma de


exercer um domínio sobre o julgamento precipitado.
Aqueles que andam apressadamente todo o dia, porque
suas funções assim o exigem, devem tirar alguns instantes
para caminhadas lentas, em lugares calmos e rememorar os
fatos do dia. Pensá-los lentamente, analisá-los, ver os er-
ros cometidos, as precipitações feitas. Dessa forma poderá
muito educar a sua vontade, porque no raciocinar, calma e
ponderadamente, já se faz um grande exercício da vontade.
A educação é lenta, mas fácil. A educação apressada é a
mais difícil. Muitos encontram maiores dificuldades porque
têm pressa em resolvê-las.
Um conselho: cada um, diariamente, deve traçar um
plano de pequenas vitórias pessoais. Por exemplo: amanhã
não farei isso que costumo fazer, farei aquilo que hoje não
fiz. Experimente cada um desses pequenos exercícios que,
inesperadamente, verá que poderá, quando menos julga, re-
alizar atos surpreendentes que foram muitas vezes julgados
difíceis de realizar.
60 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 61

Ve n c e o t e u
sofrimento

“Todo arco-íris exige nuvens e


tempestade.”

VICENT
62 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 63

“Todos sofrem na vida! A vida é um vale de lagrimas...”


Essas frases pessimistas têm construído mais derrotas do
que vitorias. Todo aquele que vê apenas na vida motivos de
tristeza é já um vencido ante a existência.
Olhar o mundo como um “vale de lágrimas” é uma
grande infâmia que se faz à vida, porque a vida está cheia
de momentos de alegrias e de prazeres sãos.
Se sofremos, muitas vezes também, em compensação,
conhecemos grandes alegrias e, se não podemos extirpar da
vida todas as amarguras, podemos, no entanto, aumentar os
momentos de alegria e de bem-estar.
Se alguém quando se encontra num momento de sofri-
mento, numa amargura moral, vive apenas entregue à visão
desse sofrimento e dessa amargura, aumenta a amargura e o
sofrimento. Quando nos sobrevêm algum fato desagradáv-
el, o grande erro que cometemos é tornar esse momento
maior do que realmente é.
Digamos, por exemplo, que alguém sofre uma contra-
riedade. Que faz? Pensa o tempo todo na contrariedade.
Pode, assim, aliviar no do sofrimento? Ao contrário, o au-
menta.
64 Mark Kimball

Sabe-se por experiência, e experiência feita muitas vez-


es na vida pelos grandes homens, que, ao sobrevir um mo-
mento de sofrimento, uma dor qualquer, o desviar o pensa-
mento da dor e pensar nos momentos alegres ou em coisas
superiores e belas, a dor diminui de intensidade. As dores
físicas encontram hoje, graças ao grande desenvolvimento
da ciência médica, meios de alívio.
Mas uma dor moral só encontra alívio no próprio in-
divíduo. Não há remédio para as dores da alma.
Atenção continuada para a dor aumenta a dor, assim
também a atenção continuada a um sofrimento moral.
Não basta conformar-se como pregam tantos. A con-
formação não alivia o sofrimento propriamente e quando o
alivia é porque penetraram outros elementos, tais como o
desvio da atenção para fatos mais agradáveis, para pensam-
entos superiores.
Muitos médicos já observaram que a leitura de um liv-
ro agradável diminui muitas dores e as religiões tem apre-
sentado casos de domínio dos sofrimentos morais com o
uso de seus processos religiosos, como preces, etc.
Deixar-se abater por uma dor é um dos maiores males
que pode suceder a quem deseja vencer na vida.
Não é fácil vencer-se um sofrimento moral, dizem mui-
tos, e as palavras e os conselhos não nos fazem diminuir a
intensidade do sofrimento. Se há muito de verdade nessas
afirmações, há também muito erro, pois, na realidade, um
conselho às vezes oferece um motivo de alívio, e a soli-
dariedade de quem assiste à dor e oferece um lenitivo com
palavras, tem minorado muitos sofrimentos.
Mas a grande força para minorar um sofrimento está
em cada um de nós.
A leitura de grandes obras, sobretudo obras de pensam-
entos profundos, nos oferece elementos para a meditação e
para a vitória de nossos sofrimentos.
Embora possa parecer que não, a leitura desses livros,
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 65

feita com calma, serenam muito o sofrimento de cada um.


A leitura das máximas é sempre necessária, não só quando
nos sobrevêm o sofrimento, mas, antes até, porque são uma
verdadeira couraça à influência do desânimo e nos prepa-
ram para vencer nas horas de amargura.
A leitura de obras estoicas, como o “Manual de Epite-
to” e os “Pensamentos” de Marco Aurélio, tem sido muito
benéfico para todos.
Aqueles que procuram um lenitivo para as suas dores,
nos prazeres fortes ou no álcool, praticam o pior, porque
esses processos, por artificiais como são, em vez de minorar
o sofrimento, tornam os homens misantropos, levando-os
a odiar os que se mostram alegres, e a fugir do convívio
social e entregam-se totalmente ao seu sofrimento. É essa
uma das práticas mais prejudiciais que se conhecem, pois
os resultados são inversos aos desejados.
A dor moral é uma dor subjetiva, é uma dor que tem,
não há dúvida, reflexos físicos, mas que não se pode mino-
rar com drogas. A dor moral tem que ter um medicamento
também moral. A arte, por exemplo, a apreciação de obras
artísticas, muito auxiliam. Mas a mais forte de todas as
soluções encontra-se na galvanização do sofrimento pelo
estoicismo. Todos nós, quando sofremos um abalo moral
profundo, julgamos que a nossa dor é a maior do mundo.
Mas se nos lembrarmos que outros sofrem mais do que nós,
que nosso sofrimento não é o único, que o sofrimento é
inerente à vida humana e que devemos suplantar o sofri-
mento pela nossa vontade, num ato de superação de nós
mesmos, que esse sofrimento que parece nos abalar e nos
destruir pode servir até de exaltação de nós mesmos e sobre
ele podemos ainda construir nossa personalidade e nossa
vitória, tudo isso nos pode auxiliar a vencer o sofrimento.
Lembremo-nos de que nenhum grande homem viveu
sem sofrer, e ninguém vive sem sofrer. O que hoje nos tor-
tura já torturou milhões antes de nós e ainda torturará mil-
66 Mark Kimball

hões depois de nós. A nossa vida é assim: cheia de alegrias e


de tristezas, de gozos e sofrimentos. Não caluniemos a vida
porque sofremos. Ela não é boa nem é má. A vida está colo-
cada muito além do bem e do mal, porque ela suplanta o
bem e o mal, ela vence o bem e o mal. Nós, também, deve-
mos nos colocar acima do bem e do mal, e suplantá-los pela
nossa vontade, realizando desse modo a nossa superação.
Conhecemos uma pessoa que nas horas de sofrimento
tinha esta frase verdadeiramente heroica: “O que eu sofro
hoje não há de ser para sempre”.
Um sofrimento moral não é para sempre. Não que de-
vamos recalcá-lo. Mas devemos vencê-lo. Se somos cul-
pados do que sucede conosco, temos muitas maneiras de
compensar o erro praticado. Se ele não proveio de nossa
culpa, então não nos deve ele empolgar em sua teia, e de-
vemos recebê-lo estoicamente como algo que o destino nos
deu, e suplantamos o destino ao colocarmo-nos acima dele.
Em suplantar sua própria dor está a maior superação do
homem e a sua maior vitória.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 67

Saúde e saúde

“Saúde não é condição da


matéria, mas do espirito.”

MARY BAKER EDDY


68 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 69

Houve um filósofo que disse estas palavras: “Se per-


guntares a um jovem qual dos dois prefere, se ser um
homem virtuoso, um santo, ou um homem forte, de grande
força, seus olhos brilharão e declarará desejar o segundo”.
Julgaríamos mal se julgássemos mal este jovem por desejar
ser forte. A juventude quer sempre a força, quer a saúde,
quer ser capaz de realizar os atos mais elevados que fisi-
camente podem caber a um homem. Só jovens doentios e
mórbidos poderiam desprezar esta força. Mas erraríamos
inapelavelmente se daí concluíssemos que só a força pode
dar a felicidade à juventude.
Pode um homem ser virtuoso, cumpridor dos seus de-
veres, um santo até, e ser um homem forte. Desejar a força,
a saúde, é um justo anseio de todos e uma humanidade
saudável é uma humanidade potencialmente feliz, isto é,
ela está apta a usufruir da vida todos os bens que a vida
lhe pode dar. É desnecessário dizer que a saúde é o maior
bem que o homem possui fisicamente e que deve cuidar
dela com todo o seu empenho e carinho, evitar mal gastá-
la, perdê-la em atos desnecessários, em abusos desmedidos,
porque é a saúde um bem que raramente se recupera depois
70 Mark Kimball

de perdido. Tudo quanto a higiene e a eugenia ensinam aos


homens para conservar a saúde, para melhorá-la, não deve
ser desprezado, e, como este livro não é um breviário de
higiene nem de eugenia, não trataremos aqui das normas
que cada um deve seguir para a conservação de sua saúde.
Queremos falar é de outra espécie de saúde: é a saúde
do espírito.
Ponhamos de lado as complicadas discussões filosófi-
cas e psicológicas em torno das relações entre o corpo e o
espírito. Se uns afirmam que o espírito, o psiquismo huma-
no na sua fase mais elevada, que é a inteligência, a vontade,
o raciocínio, independem do corpo, isto é, independem das
modificações que possa sofrer o corpo humano, outros há
que afirmam que o espírito humano é dominado, dirigido
pelo corpo que sofre as influências deste.
Há filósofos que afirmam que uma ideia é uma força,
que esta ideia node pode exercer influências extraordinári-
as sobre o corpo, enquanto outros negam esse poder das
ideias. Não só as ideias podem favorecer o homem fisica-
mente como também espiritualmente. Nós nos colocamos
nesta posição. Sem querer penetrar na teia intrincada das
razões filosóficas, exporemos em linhas gerais o que pen-
samos no tocante a este assunto. Negar-se a influência das
ideias sobre as próprias ideias seria negar todo o trabalho
educativo, pedagógico.
Quem estuda, apreende uma série de conhecimentos
novos, mas quem adquire estes conhecimentos, a não ser
que seja profundamente estúpido, não fica restringido ao
âmbito desses conhecimentos. A própria soma de conhe-
cimentos novos adquiridos permite que o homem prepare
seu espírito para a descoberta por si mesmo de novos con-
hecimentos, e também facilita-lhe a compreensão mais
simples de problemas mais complicados. Desta forma se
vê que a educação, como uma ginástica espiritual, não se
cinge apenas a uma aquisição de conhecimentos que se vão
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 71

superpondo uns sobre os outros, automaticamente. Um con-


hecimento adquirido favorece a aquisição de um novo con-
hecimento, e a aquisição desse novo conhecimento, por sua
parte, permite um desenvolvimento maior ao conhecimento
anterior e assim sucessivamente. Dessa forma há uma in-
teração, isto é, age um sobre o outro, uma ação entre os
conhecimentos. Um homem sábio, estudioso, não aumenta
seu conhecimento apenas por quantidades, isto é, quantita-
tivamente, e se dá quanto ao conhecimento um fenômeno
que não se observa nos fatos puramente físicos: é que o
novo conhecimento exerce uma ação sobre o conhecimento
anterior, o que numa imagem mais simples seria o mesmo
que se dizer que o efeito exerce uma ação sobre a causa, o
que não se verifica nos fatos físicos. Esta característica dos
fatos psíquicos não tem sido bem estudada pelos filósofos e
psicólogos. Mas ela nos serve de grande lição para a vida. O
desenvolvimento intelectual de uma pessoa, e o aumento de
conhecimentos oferecem ao homem novas armas poderosas
para a conquista da sua vitória. O pensamento claro, exato,
favorece a descoberta e a conquista de verdades necessárias
para a ação do homem na sociedade. Mas o que desejamos
salientar desde o início é que não devemos desconhecer o
poder extraordinário das ideias. Se examinarmos os fatos
corriqueiros que se observam entre os doentes mentais,
os maníacos, verificaremos que uma ideia exerce uma in-
fluência poderosa sobre um homem sem que exista con-
stitucionalmente, isto é, no seu organismo, nenhuma falha
que possa aparecer como causa dessa mania. Por exemplo,
um doente mental, que sofre da mania da perseguição, ex-
aminado por um clínico, se apresentará como um homem
fisiologicamente normal, sem apresentação de qualquer de-
feito físico. No entanto este homem saudável é dominado
por uma das manias mais perigosas, mais terríveis que pos-
sa sofrer uma pessoa. Um psiquiatra, ao examinar este in-
divíduo, verificará que a sua doença tem como causa apenas
72 Mark Kimball

ideias e não defeitos de ordem puramente física.


Negar a influência das ideias sobre a atuação dos homens
seria não só negar toda a história humana como reduzir o
homem a um simples autômato, a um animal sem nenhuma
capacidade criadora. As ideias exercem um grande poder
sobre os homens e desta forma se um homem tiver ideias
boas, elevadas, nobres, o efeito que elas poderão provocar
serão correspondentes a estas qualidades.
Um homem dominado por ideias más sofrerá fatal-
mente os efeitos dessas ideias, por este motivo é que não
podemos deixar de aconselhar aos nossos leitores que ten-
ham o maior cuidado com o seu maior inimigo: o mau pen-
samento.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 73

Eis teu inimigo:


os maus pensamentos

“Nada é bom nem mau, o pen-


samento é que o torna.”

SHAKESPEARE
74 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 75

Bons e límpidos pensamentos, pensamentos agradáveis


e cheios de mansidão, ajudam o homem em sua luta. Um
mau pensamento, um pensamento de quem prefere que
um mal suceda a outrem, muitas vezes atrai o mal sobre o
próprio autor do pensamento. As religiões, em regra geral,
dizem que essa pessoa foi castigada por haver pensado mal
e que esse castigo vem do Deus. Ora, é um fato verificável
diariamente que aquele que tem maus pensamentos é sem-
pre a maior vítima dos males que pensa para os outros. Por
que? Será realmente um castigo de Deus?
Estamos em face de um fato e não é difícil responder
as razões do que se verifica: quando alguém tece maus pen-
samentos predispõe todas as forças interiores para o mal.
A resistência defensiva enfraquece-se. Muita gente, que
deseja que uma desgraça sobrevenha sobre outros, acaba
conhecendo essa desgraça em si e, se verificar bem, verá
que foi por um descuido que cometeu, apesar dos maiores
cuidados que teve ou, então, sobreveio o fato sem que possa
encontrar a razão do mesmo.
Mas por que quem tece maus pensamentos atrai o mal?
Nossa educação ética não é de hoje. Há milênios que o
76 Mark Kimball

homem é educado no respeito dos princípios morais. Quan-


do alguém deseja um mal a outrem, ofende um dos princí-
pios dessa ética. Se, conscientemente não percebe o que se
passa em si, interiormente, no inconsciente ou no subcon-
sciente, permanece algo que se não conforma com aquela
atitude. Desta forma já o homem está dividido e arrependi-
do inconscientemente. O mal, quando lhe sobrevêm, encon-
tra a porta aberta e ele é um ímã para o mal desejado para
os outros.
Basta que verifiquemos na vida prática os prejuízos
que trazem os maus pensamentos para os que pensam mal,
para ser suficiente que os evitemos. Além disso, os maus
pensamentos não são somente aqueles que refletem dese-
jos de prejuízos materiais e morais para com outros. São
também os pensamentos impuros, o mau julgamento dos
outros, as injustiças que praticamos quando não sabemos
compreender os atos de nosso semelhante e só julgamos
através da bitola por nós estabelecida, que é muitas vezes
apenas a do nosso interesse.
Bons pensamentos, honestos e nobres, e a leitura de
obras elevadas trazem grandes benefícios ao homem. Todo
aquele que não deseja o mal para os outros tem uma força
imensa de resistência contra o mal. Todo aquele que dirige
para o bem os seus pensamentos atrai para si o bem. É a
experiência da vida que o demonstra com provas cabais.
É por isso que muitos filósofos falam nas ideias-forças,
aquelas ideias que são capazes de mover montanhas.
Todo aquele que já experimentou a força das ideias e
dos pensamentos sabe quanto eles valem.
Leitor amigo: usa de teu cérebro para os grandes pen-
samentos, para os bons pensamentos. Experimenta, cada
instante que vives, desejar o bem dos outros, desejar apenas
que suceda algo de agradável ao teu semelhante. Respeita
suas ideias e suas opiniões e verás quantos fatos benéficos
inesperados acabarão sucedendo em teu favor.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 77

As religiões levam esses fatos para o seu campo. Mas se


és irreligioso não penses que por isso estão elas refutadas.
As religiões são frutos de longas experiências humanas e se
elas afirmam a conveniência das boas ideias, o fazem por
uma experiência milenar de que as boas ideias produzem
efeitos benéficos para quem as tem.
78 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 79

Alegra-te com a
alegria dos outros

Tu te comoves quando vês alguém sofrer. As lágrimas


dos outros te enchem de tristeza.
Pois bem, por que não ris e te alegras quando os out-
ros riem? Por que não és feliz quando vês a felicidade dos
outros?
Essas perguntas não são inocentes nem ingênuas. É um
fato lamentável que mais soframos dos sofrimentos alheios
do que gozemos os seus prazeres e as suas venturas.
Ali, na rua, há alguém que ri satisfeito. Deves ficar re-
voltado, indignado com isso? Embora não haja razões, mui-
tas são as pessoas que não gostam de ver os outros alegres,
e a alegria de seus semelhantes lhes parece um roubo à sua
felicidade.
Perguntamos: por que tua alegria não pode ser maior
ao ver a alegria de teus semelhantes? Por acaso quando al-
guém ri tirou de ti alguma parcela da tua alegria?
Leitor amigo, aprende a gozar da alegria dos outros.
Aprende a rir e a ficar satisfeito quando vês os outros sat-
isfeitos.
Na sala de um cinema estão exibindo um filme cômico.
Tu, como todos os outros, estás gozando das mesmas cenas.
80 Mark Kimball

Muitos riem e tu ris entre eles. Nunca julgarias que o riso de


teus semelhantes te seja um roubo ou contra ti.
Mas se estás num restaurante, num bar, num salão e vês
alguém rir sem partilhares do seu riso, é possível que te in-
dignes como muitos se indignam com a alegria dos outros.
Leitor, aprende a gozar da alegria dos outros. Assim
como tens compaixão das suas dores, goza também das
suas alegrias.
A alegria de teu semelhante pode ser participada por ti.
Aprende a ser alegre.
Como ser alegre? Recebe com simpatia toda a alegria
que vês à tua volta. Se acaso te aborrecem os risos dos out-
ros, então estás doente. Luta, então, contra a tua doença,
porque sempre somos nós os que melhor combatemos as
nossas doenças. Como? Vence tua repulsa e procura gozar
daquela alegria. Se alguém ri, é porque está contente. Pois
fica contente do contentamento dos outros. Podes fazer tuas
todas as alegrias do mundo. Neste dia, muitas são as cri-
anças que recebem presentes e estão satisfeitas e rindo de
felicidade. Pensa nelas e sorri de felicidade, da felicidade
dos que estão contentes.
Hoje, muitos são os pais cujos filhos lhe deram motivos
de satisfação. Pois sorri para esses pais que não vês e que
são felizes, e torna teu o contentamento deles.
Hoje são muitos os namorados que encontram motivos
de intensa alegria, pois vive essa alegria como se fosse tua.
Procede para com a alegria como procedes para com
o sofrimento. Se te comoves com os que sofrem, alegra-te
com os que riem.
Criarás, assim, maiores forças dentro de ti, forças que
muito te ajudarão em tua vitória.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 81

Os que servem
à morte

“Uma vez a Morte, a rainha do mundo, resolveu escol-


her um primeiro ministro para governar o seu reino. Reuniu
nos Infernos todas as potências do mal, para uma grande
assembleia. Ultimamente havia perdido terreno, porque
nasciam mais homens do que morriam, e necessitava que o
novo primeiro ministro tivesse todos os elementos precisos
para cumprir bem as suas funções.
Era preciso engrandecer seu reino. A grande reunia-se
às margens do rio Letes, o rio que serve de fronteira entre o
reino da Morte com o reino da Vida.
Depois de observar um por um dos seus súditos fiéis,
perguntou-lhes quais deles se julgavam estar em condições
de se tornarem o primeiro ministro. A Febre, a Tuberculose
e a Guerra logo se adiantaram. Inegavelmente grandes eram
os serviços prestados a favor da Morte pelos três príncipes
dos Infernos. A Morte prestou-lhes justiça. Concordou que
seus cuidados eram dignos de admiração e aplauso. A Guer-
ra, então, ultimamente, vinha intentando um grande valor.
Inegavelmente merecia muitos aplausos. Mas acabou por
julgar finalmente que nem a Febre nem a Tuberculose nem
a Guerra estavam à altura de desempenhar tão importante
função qual a de primeiro ministro do seu Reino.
82 Mark Kimball

A Peste apresentou-se. A Morte não negou seus méri-


tos, elogiou-os até com aplausos da assistência. Com esses
quatro personagens à frente ninguém teve coragem de se
apresentar. Eram inegavelmente os quatro os mais cotados.
Foi nesse instante que apareceu o médico. A sua folha
de serviços era imensa, mas, ultimamente havia decaído um
pouco. A sua aliança com a Deusa Hygéia tornava-o perigo-
so e a Morte desconfiou.
Já estava disposta a escolher um dos quatro: a Febre,
a Tuberculose, a Guerra ou a Peste, quando as satânicas
trombetas do seu Reino anunciaram que vinha chegando
a coorte dos Vícios, fiéis vassalos que estavam em grandes
campanhas pela Terra. Foi um alvoroço geral e a Morte ex-
ultou.
E passando em revista os Vícios escolheu um que era o
melhor de todos para governar o seu grande reino. Grandes
foram as ovações. Ela escolhera a Intemperança!
Esta fábula encerra uma das maiores verdades.
A intemperança é a grande amiga, a grande aliada da
morte. Examina os teus gostos e verifica bem se não são
de um intemperamento igual os atos que praticas. Examina
bem se não exageras em alguma coisa. Não queremos falar
aqui somente na intemperança física, mas também na in-
temperança psíquica.
Se abusas da bebida, se abusas da comida, se abusas
dos prazeres, estás servindo à morte, estás tornando-te um
bom soldado da morte.
Mas se abusas também das más ideias, dos maus dese-
jos, dos maus atos, estás servindo à morte do espírito. Cuida
da tua temperança, examina bem se não estás procedendo
em demasia em cada um dos teus atos, se não estás repetin-
do de forma viciosa atos que te poderão prejudicar.
Ser temperante é não mal gastar as tuas forças, é con-
servar energias para empregá-las quando são necessárias.
Com temperança fortalecerás a tua vontade e garantirás
melhor o teu êxito.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 83

Aprende a aumentar
teu prazer

“O segredo da fortuna con-


siste na alegria de que dispomos.”

EMERSON
84 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 85

Um dos sintomas mais específicos de uma grande tortu-


ra moral, de uma das doenças mais profundas e esgotadoras
do homem, é o tédio. Em que consiste? Como o podemos
delinear?
Não vamos examinar o tédio em todas as suas modal-
idades conhecidas. A literatura está cheia de personagens
tediosos e a vida ainda mais.
Há um tédio generalizado e um tédio singularizado.
Generalizado é o que se manifesta por uma inapetência,
uma falta de desejo de viver, quando a vida não mais oferece
ao tedioso nenhum prazer mais, quando sente que sua vida
é um grande desgosto, à qual faltam novos sabores. Tudo é
“sem sal” para o tedioso generalizado. Um desencanto se
apossa de todo o seu ser e admira-se que outros encontrem
prazeres onde ele só encontra motivos de desinteresse.
O tedioso singularizado é aquele que sente apenas tédio
para uma ou outra determinada função ou prazeres de sua
vida, digamos, por exemplo, aquele que não sente mais gos-
to nos prazeres, nos divertimentos ou na leitura.
Todos nós somos mais ou menos tediosos. Nisto ou
naquilo sentimos tédio. Desgostamos hoje do que ontem
86 Mark Kimball

gostávamos, e chegamos a gostar daquilo que ontem nos


era apenas um motivo de desgosto.
Deve combater-se o tédio? Naturalmente, porque ele
nos rouba muitos prazeres sãos da vida. É possível vencer
o tédio?
As perguntas chovem continuamente. E não basta dizer
ao leitor que deve fugir ao tédio, que deve vencer o tédio;
é preciso que examinemos como nos é possível vencê-lo e
dele nos libertarmos. Segundo os casos individuais, o tédio
será vencido desta ou daquela maneira, e o leitor, se for um
tedioso acentuado, quer singular ou generalizado, poderá
encontrar nas normas que oferecemos as que melhor se
adaptem à sua pessoa.
Por que sobrevêm o tédio?
Em regra geral, é facilmente observável que o tédio é
produto de um exagerado uso, ou melhor, abuso de algo.
Por exemplo: quem ouve continuamente um trecho musi-
cal acaba entediando-se dele e termina por lhe ter aversão.
Quem come diariamente um determinado prato, acaba por
desgostá-lo e dele se entedia.
Ora, observa-se assim que o tédio é consequência do
desgosto que causa o abuso de uma coisa. Os prazeres fá-
ceis e contínuos acabam nos entediando. Todos os que con-
hecem o tédio acentuado sabem perfeitamente quão des-
agradável é, e depois que se instaura na alma humana, quão
difícil é extirpá-lo. Nada é mais prejudicial para a vitória de
um homem na vida do que o tédio que lhe tira todo o praz-
er da própria existência e o torna facilmente derrotável em
face de qualquer situação, difícil.
Em certos casos o abuso de uma coisa pode tomar a
forma de vício, como o uso intemperante de bebidas, e não
se dar o caso do tédio.
Assim, o abuso continuado de algo pode levar o homem
a duas situações: a do vício ou a do tédio, ambas profunda-
mente prejudiciais.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 87

Para evitar o tédio e o vício é preciso alternar o uso con-


tinuado de algo, com a variedade de outras coisas. Quan-
do se dá maior valor a um copo d'água? Quando se tem
sede evidentemente. Mas aquele que ao menor sinal de sede
procura a água, nunca pode experimentar o prazer que um
copo d’água oferece.
Pois bem, leitor amigo, este simples exemplo é profun-
damente significativo. Goza em cada copo d'água todo o
prazer que ele te pode dar. Não bebas logo que te assoma a
sede; espera um pouco, deixa que ela aumente, e satisfaze
então a tua necessidade, e encontrarás um prazer maior.
Se em tudo procederes assim, te afastarás do tédio e
esse monstro sombrio nunca se apossará de ti. E isto é bem
fácil de executar. Presta sempre atenção a cada um de teus
atos. E nunca satisfaças prontamente um dos teus desejos
quando ele te aparece, pois se te acostumares a satisfazê-lo,
cada vez ele diminuirá de intensidade e te roubará o prazer
que a natureza te oferece. Essa experiência é tão simples e
tão intuitiva e, no entanto, nem todos lhe prestam a devida
atenção. Sobretudo aqueles que vivem na abundância não
conhecem os prazeres puros que a vida oferece, porque, ao
primeiro sinal de uma necessidade, procuram logo satis-
fazê-la. Em geral, entre os ricos, existem os grandes tedio-
sos, porque encontram a satisfação fácil a todas veleidades
e não apreciam da vida as satisfações que ela oferece.
São ricos de coisas, mas pobres de satisfações e
emoções. Os bens não têm o valor que têm para os outros.
Quanto vale um copo d’agua fresca ao caminhante do de-
serto que vem sedento das longas caminhadas?
Procede na vida como o caminhante do deserto: aprove-
ita de cada satisfação de uma de tuas necessidades o máxi-
mo de prazer que ela te pode dar — eis o que nos ensina a
natureza em sua sabedoria.
88 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 89

É o homem escravo
das suas insatisfações?

“Não desejar nada é não viver.”

PAUL GÉRALDY
90 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 91

Por que é o homem um insatisfeito? Os motivos das in-


satisfações humanas não são difíceis de explicar nem tam-
pouco de resolver. Um trabalho pessoal de análise é muito
proveitoso e cada um o poderá fazer.
Nossos desejos não se realizam na proporção que nas-
cem. Muita coisa que foi desejada fica para trás, e muitas
oportunidades que o destino nos ofereceu ficam perdidas.
Nosso corpo não é sempre como o desejamos. Um fra-
co, um doente não se sentirá satisfeito. Julga que sua sat-
isfação se processaria se fosse forte. No entanto, um forte
pode julgar-se e julga-se um insatisfeito porque lhe falta
algo que também deseja.
Se observarmos bem a nossa vida, cada um de nós tem
falta sempre de algo que desejaria possuir para a sua satis-
fação. Ora, como não somos deuses e não temos tudo quan-
to precisamos, nos consideramos insatisfeitos, nos sentimos
insatisfeitos.
É um fato, esse, observável por qualquer pessoa. Todos
nos sentimos roubados de alguma coisa e acusamos os out-
ros, o destino ou a própria vida.
Portanto podemos estabelecer este princípio verificáv-
92 Mark Kimball

el: cada ser humano tem muitas razões de se sentir insatis-


feito, porque cada ser humano sente que lhe falta alguma
coisa que desejaria possuir.
Concluir-se-ia daí que a insatisfação é um mal inevitáv-
el no homem? Sim, podemos chegar à conclusão que esse
mal é universal. Mas concluirmos daí que não pode ser ele
superado seria um erro prejudicialíssimo.
É salvar o homem desse mal o que vamos intentar fazer
em auxílio de muitos que têm grandes facilidades e quase
todos o poderão fazer, salvo os doentes mentais que deverão
procurar seus médicos, em benefício de sua libertação das
insatisfações.
Estabelecido o princípio de que sempre nos falta algo
do que desejamos, já estabelecemos um fato que tem seu
grande valor: é que somos insatisfeitos do que não temos.
A insatisfação é sempre decorrente de uma falta. E outro
princípio que concluímos é que em regra geral julgamos
encontrar nossa felicidade na solução dessa falta, isto é,
obtendo aquilo que nos foi negado e do que nos sentimos
insatisfeitos.
Se cada um examinar cuidadosamente em que consiste
a sua insatisfação já tem um meio de conquistar uma vitória
sobre ela.
Imaginemos um caso: um homem sente-se insatisfeito
porque é fraco fisicamente e desejaria ser mais forte.
Admitindo que empregue todos os meios que a ciência
lhe oferece para fortalecer-se, admitindo que se alimentou
cuidadosamente, que fez ginástica, enfim tudo quanto é pos-
sível para aumentar sua fortaleza, e não o conseguiu, deve
por isso desesperar? Deve por isso angustiar-se mais, tornar
ainda maior a sua insatisfação? É lógico que não deve. Se
examinar seu esforço, seu trabalho na conquista do que lhe
faltou, reconhecerá que fez tudo quanto lhe era possível e
não conseguiu o desejado, não lhe cabe mais culpa.
Que fazer, então? Culpar o mundo, seus semelhantes do
que lhe falta?
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 93

Mas se aos seus semelhantes não cabe a culpa? Se eles


são também vítimas de insatisfações?
Conformar-se com a vida e continuar vivendo a sua
derrota? Ora, aí está o ponto principal: não somos acon-
selhadores de conformismo e negámos que nos devamos
conformar com as derrotas. Já dissemos muitas vezes que
todos os grandes vitoriosos foram derrotados uma vez, e a
vitória, a maior de todas as vitórias, é a que conhece aquele
que uma vez foi derrotado. Por acaso homens fracos fisica-
mente não realizaram grandes coisas na vida? Não temos o
exemplo de Roosevelt, paralítico, e que foi um dos maiores
presidentes norte-americanos?
Por acaso um fraco não pode ser um forte em outros as-
pectos? Não pode encontrar a força, por exemplo, no cére-
bro, numa habilidade manual, na arte, etc.? Por que fazer da
sua fraqueza uma derrota definitiva?
Assim como este caso são quase todos. Nunca somos
derrotados totalmente quando sabemos e queremos venc-
er as nossas derrotas. A única derrota que conhecemos é a
morte como individuo vivo. Esta ainda não nos foi possível
vencer.
Mas as derrotas que ainda nos deixam com algumas
forças para lutar nunca são derrotas definitivas.
Voltando ao mesmo tema, devemos acrescentar: não se
deve querer uma felicidade impossível e total. Uma felici-
dade total só nos poderia insatisfazer, porque o homem é
um ser limitado e todas as suas fruições conhecem limites.
Ninguém pode sentir prazer, por exemplo, na comida
senão até um certo limite, nem na música, nem na arte. Por-
tanto é um erro pensar que podemos e devemos ter satis-
fações totais.
A construção de nossa felicidade é um trabalho árduo,
de cada dia, de cada hora, de cada minuto. Essa é a verda-
deira felicidade: aquela que é feita aos bocados, lentamente,
parte por parte, através de vitórias e de derrotas, de conquis-
94 Mark Kimball

tas pequenas, de pequenas vitórias.


Hoje se vence isto, amanhã aquilo. Todo o homem deve
ter, em cada dia, uma vitória. E é fácil obter-se uma vitória
diária, uma vitória sobre si mesmo, sobre um desejo, sobre
algo, sobre os outros.
Os insatisfeitos maiores são aqueles que volvem sem-
pre os olhos para as suas insatisfações?
Explorar as insatisfações humanas é a obra eterna de
todos os políticos, de todos os que desejam construir para si
uma situação de predomínio. Mobilizam os insatisfeitos, e
convencem-nos que a satisfação está no que não possuem e
prometem-lhes depois dar-lhes a satisfação de que necessi-
tam. Esses mesmos políticos são outros insatisfeitos e quer-
em o poder para sua satisfação. Não sabem resolver seus
problemas e querem resolver os dos outros.
Um rico é para o pobre o exemplo da satisfação. No
entanto, a maioria dos ricos são insatisfeitos, pois veem nos
mais ricos suas satisfações e o mais rico de todos não é de
admirar que se sentisse mais feliz se fosse pobre.
Não queremos com estas palavras dar a entender que
não se deva procurar resolver os magnos problemas hu-
manos da miséria e da exploração do homem pelo homem.
Não é isso. Mas somos daqueles que não acreditam que
com a simples exploração das insatisfações humanas algo
se faça em benefício da humanidade. Somos daqueles que
não acreditam em promessas e não aconselhamos a nin-
guém que acredite nelas. Cada um deve resolver primei-
ramente seus maiores problemas pessoais, e o das insatis-
fações é de fácil solução, para depois pensar na solução dos
problemas coletivos.
É através do indivíduo, na transformação do indivíduo
que acreditamos nas transformações coletivas.
Cada um deve e pode solucionar seus problemas pes-
soais.
Se cada um atentar cuidadosamente para o que o insat-
isfaz, se analisar bem a causa dessa insatisfação e com se-
renidade e coragem enfrentá-la, sublimá-la e substituir essa
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 95

pequena derrota por uma vitória, muito fará em benefício


de si mesmo e da coletividade. Um homem dessa espécie
saberá construir e saberá ajudar uma transformação da so-
ciedade mais profunda que a das multidões ressentidas e
insatisfeitas que se prestam facilmente para a destruição e
para criar novos algozes de seus chefes e líderes.
A história está cheia de homens fracos e insatisfei-
tos que venceram suas fraquezas. Demóstenes era gago
e esse defeito o insatisfazia profundamente. Que fez ele?
Amaldiçoou a vida, acusou seus semelhantes, blasfemou
contra o destino? Não! Com calma, com persistência, com
grande trabalho, encheu a boca de seixos e foi para as praias
falar até conseguir dominar seu defeito físico e tornar-se um
dos maiores oradores de todos os tempos. Ele venceu sua
insatisfação e sua fraqueza, usando de toda a sua vontade e
de sua força.
Leitor amigo, examina uma a uma as tuas insatisfações.
Não basta conformar-se com elas. Estuda como podes
vencê-las ou como podes aproveitá-las para realizar algo de
grande e vitorioso para ti.
Lembra-te daquele homem que nasceu sem braços e
que desenvolveu por isso as pernas, conseguindo com elas
substituir os braços e fazer tudo quanto faria com as mãos,
e com uma rara perícia. Ele venceu sua fraqueza e não se
deixou abater pela insatisfação. Procede como ele e con-
hecerás tuas vitórias.
Em vez de ires para a rua blasfemar contra tudo e con-
tra todos, em vez de aumentar a tua angústia e a tua dor
com lágrimas e soluços, faze algo para vencer tua fraqueza.
Cada uma das tuas pequenas vitórias te dará uma satisfação
extraordinária e quando finalmente fores vitorioso, agrade-
cerás ainda a natureza que te deu aquele defeito que serviu
para construir a tua personalidade e para te dar a satisfação
de tuas pequenas vitórias que formam o lastro da tua verda-
deira felicidade.
96 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 97

O Medo das
responsabilidades

“A única coisa de que ten-


ho medo é o próprio medo.”

F.D. ROOSEVELT
98 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 99

Tens medo das responsabilidades? Quantas vezes diss-


este para ti: era preferível que eu fosse uma criança, que me
tornasse outra vez criança para não ter que preocupar-me
tanto com a vida e viver como vivo.
Pois bem, caro leitor, se tu és um desses que muitas
vezes falaste assim, não desesperes porque tens medo das
responsabilidades. Não és o primeiro nem serás o último.
Muitos como tu já se queixaram da vida e já desejaram re-
tornar aos tempos da infância; muitos como tu ainda con-
tinuarão desejando retomar ao tempo em que as responsab-
ilidades nos pareciam ser mínimas.
Mas, leitor amigo, antes de tudo convenhamos: é pos-
sível por um passe de mágica, com a varinha de condão de
alguma fada, que retornes à infância, à doce irresponsab-
ilidade da infância e que sejas eternamente um Peter Pan
sem aquelas preocupações que enchem a vida das pessoas
adultas?
Logo estás em face de um fato do qual não podes fu-
gir. Podes com a imaginação criar muitas coisas agradáveis
e sonhar com tudo o que desejas e deves desejar ardente-
mente tudo quanto desejas, porque tudo quanto desejamos
100 Mark Kimball

ardentemente acabamos por conseguir. Mas é impossível


fazer o tempo voltar para trás e viver outra vez como cri-
anças. Logo, em face dessa realidade, deves procurar en-
frentá-la com ânimo.
Dirás, mas isso são palavras. Eu não posso enfrentar
a minha situação, sou um vencido. Se é este, o teu caso é
grave, não, porém, difícil ou muito menos impossível de
solucionar. Se não és um desesperado podes perfeitamente
examinar tuas responsabilidades e estudar o que deves fazer
para vencê-las.
Leitor amigo, muitas das nossas derrotas e muitas das
nossas fraquezas em enfrentar as responsabilidades da vida
decorrem de não termos examinado bem os nossos casos e
não termos feito nada para resolvê-los.
Se os examinarmos, veremos na simples e serena
análise que fizermos, que a intuição já nos oferece soluções
práticas. Todo aquele que se coloca ante um grande prob-
lema de sua vida, deve antes de tudo procurar dominar-se
e o domínio de seus nervos não é difícil quando se quer
dominá-los.
Obtida a calma, a serenidade que se obtém pela leitura
muitas vezes ou ouvir uma música suave, examina-se então
o problema que nos angustia. A simples calma em que se
está já permite que muita coisa se possa fazer. A análise
calma de uma situação difícil é o que se chama sangue frio.
Esse sangue frio é difícil de obter-se e depende muito de
exercício, e de muita boa vontade. Não é preciso mostrar
quantos têm conhecido vitórias graças ao seu sangue frio.
Se Napoleão fosse um homem sem sangue frio teria sido
derrotado cem vezes. Com calma apreciava a situação de
suas tropas e tomava deliberações após um estudo demo-
rado e cuidadoso do que se passava. A história está cheia
desses homens.
Mas nos perguntarás: é fácil obter-se o sangue frio?
É fácil conseguir-se essa calma? Sim, é fácil, afirmamos.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 101

Mas é preciso que não esperes pela situação em que ela


será exigida para que experimentes então. É preciso des-
de o primeiro momento, desde já, dominar tuas emoções.
Começa por exercitar o domínio das mais fáceis. Quando
dominares uma, duas, três, estarás apto a dominar todas, e
será com grande admiração que te verás capaz de exercer
sobre ti mesmo um domínio maior do que te julgarias capaz.
Uma situação de responsabilidade é dura. Mas se fu-
gires dela covardemente como poderás ser um vitorioso al-
guma vez? Fugir covardemente à situação é decretar antes
de tudo a derrota. Não é fugindo que se vence!
Se fizesse esses pequenos exercícios de domínio de ti
mesmo, a responsabilidade que se te oferece, não será tão
custosamente vencível por ti.
Basta que te coloques na situação de calma de que te
falamos. Examina bem a tua situação. Pesa e repesa todas
as probabilidades que possuis. Vê o que podes fazer, o que
deves fazer e lembra-te de uma regra importante para a
vida: se não puderes resolver um problema com calma mui-
to menos o resolverás se te afobares.
Quantas vezes na tua vida o que parecia impossível
se realizou? Pois embora não queiramos que te enchas de
um otimismo falso, não deves, contudo, te encher de um
pessimismo prejudicial. Enfrenta a situação com calma, ex-
amina-a bem e verás que a solução aparece quando menos
esperas.
A vida dos grandes homens está cheia desses exemplos
e a tua vida também. Basta que recordes todas as tuas situ-
ações difíceis e verás que as tuas melhores soluções foram
aquelas que nasceram num momento de serena reflexão.
Aproveita, pois, a lição da tua própria vida.
102 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 103

Muitos julgam que a força do homem está nos seus


músculos. Assim seria se vivêssemos como se vivia nos
tempos antigos em que a única força que se conhecia era a
que o homem tinha em seus braços ou a que lhe forneciam
os animais. Naturalmente que hoje, para se ser um boxe-
ador, um lutador de luta livre é preciso ter força física, a
força dos músculos. Mas ninguém vai acreditar que quem
nasce sem forças musculares seja um fraco. A força não é
somente esta, mas é também a do espírito, a da vontade, a
da dignidade, a do valor pessoal.
Um homem, de músculos poderosos, pode ser um fraco
ante qualquer situação da vida, e os mais fortes ante as con-
trariedades e as dificuldades não são sempre aqueles que
fazem alarde de seus músculos.
O forte não é ainda aquele que ao vencer o seu ad-
versário — esse adversário pode ser muitas vezes um ser
humano — executa, depois, sobre ele toda a potência de
sua força.
Já houve quem dissesse que forte não é quem abate o
inimigo e levanta a espada para matá-lo, mas quem depois
de abatido o inimigo não dá o golpe que fere e mata.
104 Mark Kimball

Mas a força da qual queremos falar, e a mais provei-


tosa para o homem, é aquela que é conquistada pelo pleno
domínio de si mesmo, pelo domínio de seus impulsos e suas
emoções, é a força da vontade.
Muito discutem os filósofos sobre a força da vontade e
há muitos que a negam. Se existe ou não uma causa metafísi-
ca ou física dessa força não nos interessa discutir: o que nos
interessa é verificar um fato que todos podem evidenciar na
vida. É que muitas vezes podemos dominar, quando o quer-
emos, os nossos impulsos e as nossas emoções.
Essa força poderosa, essa força que sustenta o braço,
essa força que paralisa as emoções, existe e podemos em-
pregá-la, desenvolvê-la, dominá-la e dirigi-la para o nosso
bem.
Além dos exercícios que oferecemos para a conquista
dessa força, queremos chamar a atenção do leitor para um
elemento importante no domínio da vontade: a fleuma.
Não se adquire a fleuma, essa calma dominadora dos
impulsos, num simples gesto. É ela uma conquista que aos
poucos se vai obtendo. Os povos mais senhores de si são os
fleumáticos. Quem pode deixar de admirar o poder dos in-
gleses, dos suecos, dos noruegueses, povos essencialmente
fleumáticos? Nos momentos mais difíceis, nas situações
mais angustiosas por que passaram, souberam como nen-
hum outro vencer todas as dificuldades e tornaram-se sen-
hores da situação.
A fleuma se obtém por longos exercícios de calma, de
domínio. Quando conquistada, se dá um grande passo para
a vitória, porque um homem fleumático possui todos os
principais elementos para vencer.
Não se deixar empolgar pelas pequenas emoções fáceis
de controlar é um dos grandes exercícios que cada um pode
realizar. Nada fazer apressadamente. Fazer algo depressa
não é fazer apressadamente, como muitos julgam. Podemos
fazer depressa aquilo em que já obtivemos a perícia para
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 105

tal. Mas antes de se obter essa perícia pode ser desastrada a


ação que se fizer. Imagine-se um pintor que ainda não tem
perícia e queira fazer depressa alguma coisa. Imagine-se
um operário que, sem perícia, quer fazer depressa alguma
coisa. Poderá quanto muito fazer apressadamente... e mal.
Só faze depressa aquilo para o qual adquiriste a perí-
cia. A perícia já é uma conquista que exige a fleuma. Todo
o perito em alguma coisa alcançou essa perícia porque foi
fleumático e a própria perícia lhe alimenta a fleuma. Faze
algo com perícia, depois outra coisa e mais e mais e sem-
pre mais, e obterás a fleuma necessária para fortalecer a tua
vontade. E lembra-te sempre de que é com o apoio de tua
vontade que podes conquistar e construir a tua vitória!
106 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 107

Onde estão os
mais valiosos?

“Os rouxinóis cantam nas


florestas.”

FLORIAN
108 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 109

Vamos contar uma história:


“Um jovem príncipe, enfastiado, saiu a passear, um dia,
com o seu conselheiro.
Caminhou multo e afastou-se de seus domínios. O con-
selheiro acompanhava-o em silêncio, pois o jovem príncipe,
quando se sentiam entristecido, não permitia que ninguém
lhe falasse nem mesmo o conselheiro a quem considerava
seu mestre e guia.
Achava-se perto de um grande bosque e para ele se en-
caminhava.
Seguia entristecido e já se sentia cansado...
Neste momento canta um rouxinol! E aquele canto con-
segue dissipar-lhe toda a tristeza. Ele queria levar aquele
rouxinol para o seu palácio. Dar-lhe-ia uma gaiola dourada
e todas as vezes que se sentisse triste iria ouvir o canto do
seu rouxinol. Procurou-o à volta e avistou o rouxinol num
galho cheio de folhagens. Mas quando levantou a mão para
segurá-lo, o rouxinol fugiu.
“Por que, disse encolerizado, o mais lindo dos pássaros
se escapa de mim e prefere este bosque triste? Aqui ele está
solitário, enquanto em meu palácio estaria rodeado de pás-
saros de bela plumagem?”
110 Mark Kimball

Seu conselheiro, que o acompanhava como uma som-


bra, disse-lhe então:
“Deves aprender, poderoso príncipe, que os tolos se
apresentam, mas o verdadeiro mérito se esconde, e é preci-
so ir procurá-lo ...”
Esta história que acabamos de contar, de um famo-
so fabulista francês, Florian, que te sirva de lição. Nunca
esperes que os realmente grandes e os que têm realmente
valor se ofereçam no mercado da vida. Os grandes valores
gostam do silêncio e da penumbra. Quando um homem se
lança numa grande publicidade de si mesmo, através dos
rádios e dos jornais, exibindo-se em toda parte como um
campeão da ciência, da arte, da filosofia, da política, podes
estar certo de que ele não é um rouxinol. Se olhares para a
história humana, e examinares as suas páginas. verás sem-
pre que os grandes gênios da humanidade foram como os
rouxinóis da fábula de Florian.
Por isso se um dia te couber procurar rouxinóis não
os busques nas árvores dos jardins públicos, mas sim nas
florestas distantes e silenciosas.
Os grandes homens, os realmente grandes, e não os
notórios de forma meteórica mas que o tempo os esquece
com facilidade, não são aqueles que bradam na praça pú-
blica, que apregoam na praça pública as suas virtudes e
qualidades; os grandes homens gostam da solidão, porque
é na solidão que eles se encontram a si mesmos, porque é
na solidão que eles meditam, porque é na solidão que eles
aprofundam seus conhecimentos.
Todo aquele que tem realmente valor não gosta de apre-
goar o seu valor. E é entre os modestos que na vida se en-
contram os mais valiosos.
Se tu, leitor amigo, tens de procurar alguém que valha
realmente, busca-o, não esperes que ele te apareça, procu-
ra-o e não esperes que o irás encontrar a qualquer passo.
Todo homem que tem consciência do seu valor é como o
rouxinol: canta na floresta.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 111

Como vencer o
pessimismo

Todos sabem que o pessimismo é um dos fatores mais


destrutivos da vida, que o homem pessimista é um en-
venenado, e envenena-se cada vez mais a si e aos outros.
Combater o pessimismo é uma necessidade sob todos os
aspectos. Mas o pessimista, convenhamos, não é pessimista
porque um dia resolveu simplesmente ser um pessimista.
Em face do otimismo e do pessimismo, ele não escolheu
este porque o julgou mais justo. Na verdade, o pessimista
exagerado, como o otimista exagerado, são duas espécies
de doentes e que podem e devem ser curados.
O pessimista é um homem que vê tudo pelo lado pior.
Essa definição é a mais comum. Ou então: um homem que
só observa o aspecto desagradável, ruim ou mau das coisas,
dos homens e dos fatos.
Ora, nessa simples definição já transparece muita coisa.
O pessimista julga que procedendo pessimistamente está
procedendo da melhor maneira, que sua forma de ver as
coisas é a mais acertada e dificilmente reconhecerá que é
vítima de um defeito pessoal.
Nada mais difícil do que convencer um pessimista de
seus erros de visão. Mas todo aquele que é pessimista é um
112 Mark Kimball

inimigo de si mesmo e a história humana não regista pessi-


mistas vitoriosos. Ao contrário, entre os grandes derrotados
a maioria é composta de pessimistas.
Portanto, leitor amigo, para que construas a tua vitória,
teu primeiro trabalho é, ao examinar-te, saberes se és um
pessimista ou um otimista. Não é difícil que possas sabê-
lo. Basta examinar uma a uma das tuas apreciações, con-
frontá-las com o passado e verás se apenas percebes os as-
pectos bons e favoráveis das coisas ou apenas os maus e
prejudiciais.
Digamos, por exemplo, que no julgamento que fizeste
um dia sobre uma pessoa agiste precipitadamente ou viste
apenas os bons aspectos dessa pessoa. O tempo te será de
grande auxílio, pois ele te revelará se procedestes pessimis-
ta ou otimistamente. O proceder dessa pessoa te mostrará se
vistes apenas um de seus aspectos.
Se olhares os fatos que decorrem diariamente, nos quais
percebestes este ou aquele aspecto qualitativo e os acontec-
imentos te provam que agiste pessimista ou otimistamente,
terás, assim, com facilidade o meio de conheceres se és um
pessimista ou um otimista.
Por este processo poderás facilmente chegar à con-
clusão que tens mais facilidade para ver os aspectos maus
ou os aspectos bons. Se os fatos provam que viste os dois
aspectos, és um ser normal e completo neste ponto, mas se
apenas vês um lado é que algo em ti não marcha direito.
Digamos, por exemplo, que tua tendência e visão são
para os aspectos maus; és, portanto, um pessimista.
Como deves proceder para te libertares desse defeito
grave para ti e para os outros?
Deves, ao ver os aspectos de qualquer coisa, pessoa ou
fato, procurar os aspectos bons. Não os encontras? Não os
vês? Só vês os ruins? Neste caso estás num estado agudo de
pessimismo. Vês alguns bons, menos que os maus? Então
teu pessimismo é menor e mais facilmente curável.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 113

Sabem os psicólogos como nasce o pessimismo, e a


gênese desse defeito é muito complexa e não nos cabe tratá-
la aqui. Mas desejamos, apenas, que tu, neste caso, sejas
teu próprio psicólogo e te auxilies a vencer um dos defeitos
mais graves que pode possuir um homem.
Quando alguma coisa te corre bem és um otimista? Um
jovem, quando ama e é correspondido, vê tudo cor de rosa.
Assim como todos os jovens somos todos nós, jovens e vel-
hos. Pois bem, aí está o teu caminho. Examina tua vida e
procura a fonte do teu pessimismo. Está em algum fato des-
agradável que te sucedeu e que por ele, através dele, sob a
influência dele, começaste a ver tudo o que sucedia na tua
vida.
Procura em cada coisa um aspecto bom. Não encon-
tras? Procura mais. Ainda não encontras? Torna a procurar.
Procura até achares. Acharás sem dúvida, porque todas as
coisas, homens e fatos sempre têm alguma coisa que fa-
vorece, que é benéfica, que é útil.
Não gostas, porém, de te deixar impressionar e levar
pelo aspecto puramente bom das coisas, dos fatos e das pes-
soas? Está certo. Mas deves procurar esses aspectos.
Tens uma antipatia por alguém? Por que? Procura ver
o que te desagrada nessa pessoa. É a voz, o cabelo, o ros-
to, as atitudes? Algo ela tem que te provoca uma antipatia.
Procura ver a causa dessa antipatia. Alguém, um dia, que te
fez mal tinha olhos iguais aos da pessoa agora antipatizada,
ou o cabelo, ou a voz, ou outro qualquer aspecto. Se achares
isso, já tens meio caminho andado para venceres a antipa-
tia, ou atenuá-la, pelo menos.
Deves ter sempre a preocupação de agir com justiça
para com os outros, para contigo e para com a vida. Cal-
uniar este, a ti e ao mundo e à vida, porque nem tudo te
corre como desejavas, é a maior estupidez do homem.
Procura na vida os seus aspectos bons, as alegrias que
ela oferece que as encontrarás. E se nela nada encontrares
114 Mark Kimball

de bom, o Único conselho que te podemos dar é que deves


procurar um psiquiatra, porque teu caso é grave e deves
cuidá-lo imediatamente, do contrário tua vida será sempre
amarga como a tens sentido.
Então, depois de tua cura, que é sempre possível, verás
que olhar a vida sob todos os seus aspectos, bons e maus, é
a maior força que ajudará a construir a tua vitória.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 115

A Persistência do
teu alcance

“Aos mais persistentes pertence


a vitória.”

NAPOLEÃO
116 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 117

Vamos contar uma história, muito simples, que talvez


tenha o leitor assistido muitas vezes na sua vida e que talvez
também não lenha apreciado na devida maneira ou não
tenha tirado dela todas as lições úteis que ela pode dar.
Uma ocasião estávamos junto com um amigo que nos
convidara para entrar num bar onde tomaríamos um refres-
co. Esse amigo, suando por todos os poros, estava cansadís-
simo, esgotado pela canícula do verão que, naquele dia,
era simplesmente africana. Ao entrar no bar quis desem-
baraçar-se do chapéu para refrescar a cabeça de onde desci-
am bagas de suor.
Ao mesmo tempo deixava o corpo molemente tombar
sobre a cadeira e, num gesto mole, atirou o chapéu para
o cabide que ficava ao lado. Fez isso porque estava cer-
tamente tão cansado que não quis mais gastar forças para
levantar-se calmamente e colocar no cabide o chapéu. Mas
com espanto dele, o chapéu, em vez de ficar pendurado no
cabide, veio ao chão. Num gesto de delicadeza quisemos
levantar o chapéu e colocá-lo no cabide. Mas o nosso amigo
impediu-nos de fazê-lo e levantando-se abruptamente to-
mou-nos da mão o chapéu, voltou a sentar-se no seu lugar
118 Mark Kimball

e de lá atirou o chapéu novamente ao cabide. Como da


primeira vez não foi ele feliz, e o chapéu voltou a tombar
no chão. Com um sorriso pegamos novamente o chapéu e
quisemos colocá-lo novamente no cabide. O nosso amigo
que suava cada vez mais, ergueu-se novamente e não nos
deixou fazer o ato que desejávamos, e tomando novamente
o chapéu, sentou-se, e do lugar onde estava, atirou-o nova-
mente ao cabide. E mais uma vez foi infeliz. Pois bem, o
nosso amigo levantou-se outra vez, tomou o chapéu e tornou
a atirá-lo e com a mesma infelicidade não acertou o cabide
e isso mais cinco ou seis vezes sucessivas. Até que, final-
mente, conseguiu colocá-lo. Aí, respirando profundamente
com o gesto e a atitude de um vencedor de uma grande e
difícil batalha, abriu o peito, pediu-nos licença para abrir
o colarinho devido ao calor e, num tom de voz enérgico,
mas delicado, fez o pedido ao garçom dos refrigerantes que
desejávamos tomar.
Imensamente impressionados com a sua atitude, dis-
semos-lhe:
— Você é teimoso.
Ele nos olhou fixamente e, com uma segurança que nos
espantou, disse-nos estas palavras:
— Vocês não devem confundir persistência com teimo-
sia. É verdade que o que acabei de fazer dá uma impressão
de teimosia. Pois vou-lhes contar uma pequena história:
“Eu, desde menino, desanimava por qualquer coisa.
Meu pai me chamava de frouxo, e eu já estava me conven-
cendo de que realmente era frouxo.
Como meus irmãos também usassem da mesma
acusação que a de meu pai, um dia, quando já mocinho,
enchi-me de brios e disse de mim para mim: “Vou provar a
essa gente toda que não sou um frouxo”. Ora, tudo quanto
eu iniciava e encontrava uma certa dificuldade, eu aban-
donava no meio do caminho. Se lia um livro, quando cheg-
ava pela metade, eu mesmo fornecia para mim uma porção
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 119

de argumentos para justificar a interrupção da leitura. Não


vou me alongar na história, mas, em suma, eu cansava logo
que iniciava qualquer coisa. Numa palavra: eu não tinha
persistência.
Foi então que resolvi levar até o fim tudo o que em-
preendesse. E as menores coisas, quando me sentia cansado
e queria abandoná-las, dizia de mim para mim: “Tu tens que
mostrar que não és frouxo! Toca para frente”. Desta forma
comecei a ir até ao fim de tudo quanto empreendia, muito
embora a princípio isso me causasse um certo aborrecimen-
to. Mas, meu caro, a alegria, a satisfação, o bem-estar que eu
sentia quando chegava ao fim eu nem sei descrever. Depois
o bem-estar e a alegria eu já sentia no meio do caminho. E
hoje sinto essa alegria e esse bem-estar logo que inicio a
fazer alguma coisa porque sei que a farei até o fim.
Foi desta forma que ninguém mais me chamou de
frouxo, e hoje sirvo de exemplo para os meus irmãos, como
um homem que realiza tudo quanto empreende.”
Caro leitor, as palavras do amigo que acabamos de
reproduzir acima falam mais eloquentemente do que tudo
quanto te possamos dizer referente à persistência que deve-
mos ter em tudo quanto empreendemos.
Se de início sentes certo aborrecimento, certo desgosto,
terás afinal as mesmas emoções que o meu amigo. Quando
chegares ao fim do que empreenderes encontrarás a alegria.
Depois a encontrarás no meio do caminho e finalmente a
terás logo que inicies qualquer obra.
Ora, medita bem: de uma cajadada matarás dois coel-
hos. Pois não só usando dessa persistência nas menores coi-
sas da tua vida chegarás ao fim do que empreendes, como
também conseguirás uma alegria, um bem-estar, uma satis-
fação em tudo quanto empreenderes porque sabes que che-
garás até ao fim. E além disso, vamos dar mais um terceiro
coelho que poderias abater com esta tua cajadada: é que
procedendo assim aumentas a confiança em ti mesmo e isso
120 Mark Kimball

te facilitará a conquista de muitas outras coisas na tua vida,


que hoje possam te parecer difíceis e até inalcançáveis.
Se estudares a vida de todos os grandes homens veri-
ficarás que todos eles venceram porque foram persistentes.
A persistência é a mola real de todas as grandes vitórias.
Se te disséssemos simplesmente que devias ser persistente,
talvez julgasses que isso era difícil de alcançar, mas lem-
bra-te da história do nosso amigo que acima te contamos.
Procede como ele em cada uma das tuas pequeninas coisas,
e quando menos esperares te sentirás bastante apto para re-
alizares obras que te julgavas incapaz de realizar. Esse pe-
queno exercício, fácil, poderás realizá-lo quotidianamente,
e os benefícios que daí te advirão serão imensos.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 121

Devemos fazer hoje


o que podemos deixar
para amanhã?

“Tempo o melhor conselheiro.”

PÉRICLES
122 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 123

Não há quem não conheça a velha máxima de todas


as línguas e de todos os povos que é: “não se deve deixar
para amanhã o que se pode fazer hoje”. A sabedoria popu-
lar, transmitida através dos tempos, reflete quase sempre as
experiências que gerações e gerações de homens tiveram, e
vão servir, depois, para guiar as novas gerações no caminho
da vida. Mas, o que também a experiência nos ensina é que
se as máximas encerram muito de verdade, muito da ex-
periência humana, devem elas, no entanto, ser empregadas
e aproveitadas com certo critério, com certo cuidado, sob
pena de falharem muitas vezes quanto aos fins colimados.
Se lermos as máximas morais, que refletem a sabe-
doria dos homens quanto às relações entre eles, podemos
facilmente perceber que elas refletem conselhos práticos de
grande utilidade para o homem. Mas empregar essas máx-
imas como se elas representassem leis absolutas da ativi-
dade humana, pode muitas vezes redundar em prejuízo.
Neste capítulo desejamos examinar uma velha máxi-
ma que, aplicada na prática, traz inúmeros benefícios para
o homem, mas também se for aplicada indistintamente em
todos os casos poderá redundar em grandes prejuízos.
124 Mark Kimball

“Não deves deixar para amanhã o que podes fazer hoje”.


Realmente muitas coisas não devem ser deixadas para
amanhã se podemos fazê-las hoje, mas há muitas coisas que
podemos fazer hoje, e que, se deixadas para amanhã, poder-
emos fazê-las muito melhor.
Vamos para exemplos práticos que falam com mais elo-
quência do que as palavras. Um comerciante que recebe um
telegrama propondo-lhe um determinado negócio, pode re-
solver, logo, aceitá-lo ou rejeitá-lo. Mas esse mesmo com-
erciante poderá deixar para o dia seguinte a solução defini-
tiva. É fácil compreender-se: sob o império de uma emoção,
uma pessoa empolgada por um entusiasmo que lhe assalta
de momento ou de um desgosto que lhe arrebata o ânimo
e a solução que ela der pode ser simples produto desse en-
tusiasmo ou desse desgosto. Se esperar para o dia seguinte,
poderá aquela pessoa entusiasmada ou desgostada encon-
trar uma solução muito melhor do que a da véspera que lhe
havia aparecido como a que melhor se coadunava ao caso
em questão.
Daqui pode-se facilmente tirar uma regra prática, de
fácil aplicação: Quando se trata de resolver um problema,
o qual implica uma resolução de certa gravidade, de certa
importância, deve-se deixar para o dia seguinte a solução
desse problema, naturalmente se ele puder ser solucionado
no dia seguinte.
É fácil compreender-se que um cirurgião que precisa
empregar uma intervenção num paciente não vá deixar para
o dia seguinte o que ele pode fazer hoje, sob pena, muitas
vezes, de pôr em risco, não só a saúde, como até a vida do
paciente. Mas a existência humana tem comprovado que
muitas vezes deixar-se a solução para o dia próximo tem
oferecido melhores vantagens ou melhores possibilidades
de bom êxito.
Um comerciante nosso conhecido usava como método
para os seus negócios a seguinte prática: quando recebia
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 125

uma carta ou um telegrama que o deixava excessivamente


preocupado e nervoso, ele não resolvia definitivamente o
caso, aproveitando a primeira solução que lhe aparecia ao
espírito.
Costumava ele redigir um telegrama, de resposta ou até
uma carta e, em vez de remetê-la, punha-a numa das gave-
tas de sua mesa, gaveta essa que, dizia ele, havia soluciona-
do seus melhores negócios, e deixava o telegrama ou a carta
dormir “uma boa noite”, como costumava dizer.
No dia seguinte, relia o telegrama ou a carta e encontra-
va alguns pontos que necessitavam de modificação. Então,
ele redigia novo telegrama ou nova carta e, se o assunto per-
mitia mais uma espera de vinte e quatro horas, ele deixava
que outra vez dormisse um bom sono.
Só depois que tinha a solução absolutamente amadure-
cida no seu cérebro e que não encontrava outra que fosse
melhor ou mais adequada, é que ele se resolvia a remeter
em definitivo o telegrama ou a carta.
Se em todos os casos graves da vida, as deliberações
definitivas, que podem ser deixadas para o dia seguinte,
fossem realmente aprazadas, quantas tragédias poderiam
ter sido evitadas! Quantos cometem erros gravíssimos que
vão pesar depois sobre toda a sua existência porque não
souberam esperar por mais vinte e quatro horas para tomar
uma deliberação!
Quantos se queixam depois de terem sido precipitados!
É fácil compreender-se quão enganosa é a sabedoria
da máxima que ora nos ocupa a atenção. Se cada um ob-
servar a sua vida, fizer uma análise retrospectiva de todas
as deliberações tomadas no decorrer da sua existência, ver-
ificará que a maioria senão a totalidade dos erros cometidos
proveio das resoluções tomadas precipitadamente, isto é, as
resoluções que podendo ser tomadas no dia seguinte foram
resolvidas no dia anterior.
Se tens um serviço a fazer e podes fazê-lo hoje não
126 Mark Kimball

deves deixar para amanhã, porque assim permitirás que o


dia de amanhã não esteja sobrecarregado pelo serviço que
não fizeste hoje e pode permitir que faças amanhã outras
coisas que te serão mais úteis.
Neste sentido a máxima é justa, aconselhável e deve ser
cumprida com maior rigor; mas quando se tratar de casos
que não são propriamente um serviço e sim problemas que
podem interferir seriamente na tua vida ou na vida dos teus
semelhantes, se podes deixar para amanhã a sua solução,
deves fazê-lo. Isso, porém, que não te sirva de argumento
para adiares eternamente a solução de um problema ou a
resolução de uma atitude.
“Nem tanto ao mar nem tanto à terra”, outra máxima
que aplicada à primeira nos dá a justa medida. Nem deve-
mos cumprir a primeira máxima em toda a extensão do seu
sentido nem tampouco desaproveitá-la num sentido con-
trário. Procurar o meio termo, o meio termo justo, é que
revelará o teu critério, o qual não te será difícil conquistar
desde que te convenças de que qualquer solução, que real-
mente pode ser tomada amanhã, deverás tomar para evi-
tar que, empolgado pela emoção do momento, te arrastes a
uma deliberação que nem sempre te será a melhor.
Se praticares todos os conselhos que este livro te dá,
não te será difícil conseguir esse valioso critério que te fa-
cilitará a prática justa desta máxima tão útil aos homens em
todos os tempos.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 127

Onde está a
felicidade?

“Um pequeno curso d’água,


como rio profundo, pode refletir o sol.”

WALTER SAVAGE LANDOR.


128 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 129

A literatura, desde os tempos mais remotos até os tem-


pos atuais, tem tratado deste tema universal e eterno que é
o da felicidade.
Dificilmente se encontram dois escritores ou dois poe-
tas quo tenham pensado identicamente sobre a felicidade e
no em que ela consiste.
Essa palavra está sempre na boca de todo mundo, to-
dos a empregam, e, no entanto, o lamento mais constante e
contínuo que se encontra é o de que a felicidade está sempre
distante e nunca é alcançada.
Não vamos estudar as diversas teorias nem examinar as
diversas opiniões sobre um tema tão vasto e que tem dado
tanto assunto para a poesia e para a prosa e que ainda con-
tinuará, inesgotavelmente, a fornecer elementos para novas
poesias e para páginas de prosa.
É comum ouvir-se alguém dizer estas palavras: “se eu
tivesse isto ou aquilo eu seria feliz”. Outros dizem: “ah,
hoje sou feliz, consegui o que queria”.
Poderíamos dividir a felicidade em dois aspectos: uma
felicidade subjetiva e uma felicidade objetiva. A felicidade
subjetiva seria aquela que sentimos interiormente, aquela
130 Mark Kimball

que nos dá a tranquilidade e a serenidade interior, aquela


que nos dá a confiança em nós mesmos, a certeza de que
podemos realizar isto ou aquilo, o pleno conhecimento de
nós mesmos, a fruição interior das nossas emoções, a ca-
pacidade de vencermos o nosso sofrimento e o nosso deses-
pero, o nosso autodomínio capaz de permitir que saibamos
esperar; enfim, consiste em tudo aquilo que forma o nosso
mundo interior.
A felicidade objetiva é aquela que colocamos não mais
em nós mesmos, mas nas coisas. Quem não tem uma coisa,
julga que ao obtê-la encontrará a felicidade. Muita gente
põe a sua felicidade num automóvel, numa casa, e até em
coisas menores como, por exemplo, uma vitrola, um rádio,
e há até quem se considere feliz por ter um telefone em sua
casa.
Ora, se examinarmos bem, se observarmos bem as pes-
soas que nos cercam, verificaremos que todos aqueles que
colocam a sua felicidade nas coisas e que julgam que a terão
realizado quando as obtêm, acabam por sofrer da grande de-
cepção de que as coisas desejadas, quando obtidas, não lhes
dão aquela felicidade que esperava. Toda vez que se coloca
fora de nós a felicidade, ela torna-se mais inalcançável do
que nunca, porque a satisfação que nos pode dar a obtenção
de alguma coisa não é propriamente a felicidade.
Há aqui uma ingênua confusão entre felicidade e sat-
isfação. A satisfação é um instante apenas, um instante fu-
gidio de que a nossa vida está maior ou menormente enri-
quecida.
O que se considera felicidade é um estado mais demo-
rado, perene, homogêneo, é uma sensação inefável que pai-
ra sobre todas as outras sensações e que empresta a ela um
brilho e uma intensidade toda particular.
Assim se vê que são sempre infelizes aquelas pessoas
que se dirigem à felicidade de caráter puramente objetivo.
E, ao contrário, aquelas pessoas que compreendem que a
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 131

felicidade é subjetiva e a procuram dentro de si, são precis-


amente as que têm a maior força, as que vencem com maior
facilidade, as que conseguem enfrentar as situações mais
difíceis.
Noutro capítulo já estudamos a teoria de que a felici-
dade consiste na vitória. Mas a verdadeira vitória é aquela
que realizamos sobre nós mesmos.
Os que julgam que a vitória puramente exterior é a
única que conhecemos e a maior de todas, erram comple-
tamente, redondamente, pois essa vitória exterior para se
tornar perene, isto é, nos dar uma satisfação perene, que é o
conceito mais simples do que seja felicidade, necessita ser
ilustrada, glorificada, enobrecida por uma vitória interior.
Todo aquele que conhece vitórias inferiores, que con-
segue vencer os seus desejos, os seus impulsos, que con-
segue analisar a si mesmo, conhecer seus defeitos e suas
virtudes, sua capacidade de ação e suas fraquezas, que sabe
o que sabe e sabe que não sabe o que sabe, que organiza as
suas forças interiores dando-lhes a tensão necessária e cor-
respondente para a realização de qualquer ato, é um homem
feliz e estará perfeitamente apto a conquistar as vitórias ex-
teriores e obter as satisfações que lhe podem dar as coisas.
Esse vitorioso interior, que vai conhecer vitórias exte-
riores, é o homem que está aptamente preparado para gozar
da felicidade.
Mas se pensar que as vitórias exteriores são as únicas,
então ele verá que ao obter as coisas desejadas, estas lhe
dão apenas uma satisfação momentânea, mas ao mesmo
tempo farão crescer os desejos das outras coisas que ain-
da não possui e ele ingenuamente, mas insatisfeito sempre,
julgará que a sua felicidade estará nestas outras coisas que
ainda não possui.
Por outro lado aquele que organizou as suas vitórias
interiores, que conhece, portanto, a felicidade subjetiva, a
verdadeira felicidade, estará apto a conhecer uma satisfação
132 Mark Kimball

sempre constante que lhe darão até as menores coisas de


que dispõe, porque ele tem dentro de si a capacidade de
poder fruir de todas as coisas a maior soma de bens e de
satisfações que as coisas podem dar, porque, na realidade,
elas servirão apenas de motivos para permitir o desabrocha-
mento da grande alegria interior.
Todos os verdadeiros grandes homens que a história
registra foram aqueles que conheceram a verdade interior,
homens autênticos que viveram a si próprios, que sabiam
plenamente o que eram, que tinham conhecimento da sua
capacidade, da sua força e da necessidade que os ordenava
interiormente.
Esses homens foram os grandes vitoriosos. Se às vezes
nas páginas da história têm eles um relevo menor que outras
personagens inferiores, isto não impede que com o decorrer
do tempo tenham eles sido devidamente apreciados no seu
verdadeiro valor. E se muitos foram dominados pelo desejo
das conquistas das coisas exteriores e nelas puseram a sua
felicidade, a própria história registra a infelicidade em que
viveram e o fim quase sempre trágico que tiveram.
Leitor amigo, se puseres nas coisas a tua felicidade, é
natural que sempre te sintas infeliz. Não cometeríamos o
erro de te aconselhar que encontres naquilo que te cerca, nas
coisas que formam o teu mundo, a tua felicidade, porque
estaríamos dando um caminho errado, pois nelas jamais en-
contrarás a felicidade. Mas nelas poderás encontrar muito
da tua felicidade, porque nelas poderás também realizar a
tua felicidade se antes a tiveres construído subjetivamente.
Atingida esta felicidade subjetiva então verás que o mundo
é muito mais belo do que tu julgas, e que é na presença das
tuas coisas que poderás realizar um pouco da tua felicidade
e não na ausência delas.
E quando obtiveres algo de novo, ela te dará não só
a satisfação que lhe é inerente, mas servirá também para
exaltar dentro de ti a tua felicidade subjetiva, glorificada
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 133

pela nova vitória, mas sobretudo glorificada porque te pode


permitir essa nova vitória.
Este é o conselho que te podemos dar.
134 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 135

O bem e o mal
dependem de ti

“Se os homens não têm liber-


dade de fazer o bem ou de faz-
er o mal, então o bem já não é
o bem e o mal já não é o mal.”

FÉNÉLON
136 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 137

Diariamente encontrarás em tua vida homens que


acusam seus semelhantes e homens que os elogiam.
Vamos te contar uma história da qual poderás aproveit-
ar toda a sua moral e a sua verdade:
“Ia por uma estrada poeirenta um peregrino quando, a
meio caminho, à sombra de uma árvore, viu um velho que
descansava. A ele se dirigiu, saudou-o afavelmente e lhe
endereçou estas palavras:
— Bom velho, venho de uma longa caminhada e diri-
jo-me pura a próxima cidade onde pretendo viver, trabalhar,
constituir família e encontrar um sossego para os meus úl-
timos anos de vida. Mas desejaria antes, se me queres fazer
este grande favor, saber de ti se os homens desta cidade,
para a qual me dirijo, são bons ou maus, justos ou injustos,
honestos ou velhacos, ativos ou preguiçosos.
O velho olhou-o demoradamente, franziu o sobrecenho
numa postura de quem medita profundamente, e depois de
uma pausa disse estas palavras:
— Antes de te responder, desejaria fazer-te uma per-
gunta: como eram os homens da cidade em que vivias, da
cidade de onde vens?
138 Mark Kimball

Respondeu o peregrino:
— Ah, meu velho, os homens da cidade de onde vim
eram maus, velhacos, injustos, preguiçosos...
E fitando-o bem nos olhos, com leve sorriso nos lábios,
o velhinho respondeu:
— Pois os homens da cidade para onde te diriges são
também maus, velhacos, injustos, preguiçosos.
O viandante agradeceu e prosseguiu a sua viagem.
Pela mesma estrada vinha outro peregrino que ao avis-
tar o mesmo velho, disse-lhe também que se dirigia para
a cidade próxima, mas que estava ansioso por saber como
eram os seus habitantes, e fez ao velhinho as mesmas per-
guntas do viandante anterior.
E da mesma forma o velho dirigiu-lhe a mesma per-
gunta:
— Antes de te responder, peço-lhe que me digas como
eram os homens da tua cidade.
E o novo viandante respondeu:
— Os homens da minha cidade, ah, meu velho, eram
bons, justos, honestos, trabalhadores...
Então o velhinho respondeu:
— Pois os homens da cidade para onde te diriges
também são bons, justos, honestos, trabalhadores.
Leitor amigo, esta simples história oriental encerra uma
grande sabedoria e uma grande lição da qual todos devemos
aproveitar.
Quando alguém diz que os homens são maus, desones-
tos, injustos ou quando alguém diz que os homens são bons,
justos e honestos é porque assim os vê. Para o viandante a
quem eram maus todos os homens da cidade de onde vi-
era, fatalmente iria considerar maus os novos homens com
quem ele ia travar novas relações. Para o outro viandante
que julgava bons e justos os homens da cidade de onde vi-
era, justos e bons iria achar os novos homens com quem ele
iria travar também relações.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 139

Isto comprova que a nossa capacidade de apreciar não


só as coisas como as pessoas, nem sempre é orientada por
um verdadeiro espírito de justiça. Todo o pessimista verá
pessimistamente o mundo que o cerca, como todo o otimis-
ta verá otimistamente o mundo que também o cerca.
A maneira justa de analisar os homens seria aquela em
que nos libertássemos tanto do otimismo como do pessi-
mismo.
Pois bem, leitor amigo, tu podes fazer em ti mesmo esta
observação:
São maus, injustos, desonestos os homens que te cer-
cam? Ou são bons, justos e honestos esses homens?
Se for esta ou aquela a tua posição poderás facilmente
concluir que estás sendo vítima de uma apreciação unilat-
eral. Se tudo te aparece sem cor, sem brilho, se tudo que
te cerca não te dá alegria e apenas tristeza, aborrecimen-
to, podes concluir de que tu mesmo estás sendo vítima de
uma predisposição mórbida ao apreciar as coisas. Guarda
sempre dentro de ti a memória do apólogo. Ele te permitirá
apreciar as tuas próprias apreciações, ele te dará a possibi-
lidade de analisares a ti mesmo quando analisas os outros.
Ele te mostrará se estás sendo justo ou injusto, pessi-
mista ou otimista. Seria um erro gravíssimo se tu te deixass-
es arrastar pelo otimismo e acreditares que todos os homens
são bons, justos, honestos. Também seria um erro a posição
contrária. Desta forma deves procurar pôr o maior senso de
justiça nas tuas apreciações e sempre que apreciares alguém
deves apreciar a tua própria apreciação e analisá-la para ver
quanto há de preconceito nela. Assim poderás conseguir
uma posição reta nas tuas apreciações e evitar os exageros
de otimismo e de pessimismo que te podem trazer prejuízos
incalculáveis. Este exercício fácil que podes diariamente
executar com o tempo, te dará o domínio de ti mesmo e
permitirá que te tornes um julgador capaz, não só dos out-
ros como também de ti mesmo e até das próprias coisas.
140 Mark Kimball

Antes de fechar este capítulo queremos te recordar mais


uma vez: não esqueças nunca a lição de sabedoria que tem
o apólogo que acima te contamos. E em cada momento de
tua vida, recorda-o para que ele te auxilie a seres justo nas
tuas apreciações, evitando assim que envenenes a tua vida
de pessimismo ou a embriaguez com um otimismo ingênuo
e irrefletido.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 141

O valor da
vida

“Viver é a coisa mais rara do


mundo. A maioria das pessoas sabe
apenas existir.”

OSCAR WILDE
142 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 143

Quanto vale a vida? Já meditaste bem quanto vale a


vida?
O espetáculo do mundo nos dá a visão das cenas mais
dolorosas, mais acabrunhadoras, mais tristes. Homens,
mulheres e crianças sofrem, gemem, exibem suas misérias,
lavam-se em lágrimas, cobrem-se de andrajos, clamam suas
dores, amam-se, desesperam-se, odeiam-se e creem.
Quanto vale a vida? Essa pergunta quantas vezes não
aflorou na mente de cada um dos seres humanos que vivem
e viveram em todas as épocas.
De que vale a vida para quem sofre? De que vale a vida
para quem desespera? Quantos, nas suas horas de sofrimen-
to e de angústia, têm desejado nunca ter existido, nunca ter
vindo ao mundo, para neste não conhecer as torturas e os
sofrimentos de que ele está tão cheio.
“Este mundo é um vale de lágrimas”, proclamam to-
dos os sofredores de todos os tempos. A vida é um castigo,
dizem quase todas as religiões.
Mas, nos momentos de alegria, nos momentos de satis-
fação, tu olhas para a vida e a vês bela; olhas para o mundo
e o vês maravilhoso, e as tuas tristezas de ontem são es-
144 Mark Kimball

quecidas quando experimentas novas alegrias e novas satis-


fações. A vida é sempre triste para os que sofrem e é sempre
alegre para os que riem.
Leitor amigo, medita sobre estas palavras tão comuns e
já verificarás que a vida não é a culpada de tuas dores nem é
a benfeitora de tuas alegrias. Não podes odiar a vida quan-
do sofres, nem podes amá-la somente porque ris. A vida
coloca-se acima das tuas dores e das tuas alegrias, porque a
vida é algo que vives, é algo onde vives, é nela que dores e
alegrias são por ti experimentadas. Vês assim quão ingênua
é a tua atitude ao acusares a vida quando algo te falta, ou
elogiá-la porque algo consegues.
Desta forma, deixa que te diga: a vida é algo que se
coloca acima e à parte de tuas alegrias e tuas dores.
Tu, leitor amigo, tens uma vida cheia de incidentes,
cheia de passagens alegres, tristes e indiferentes, em que
conheceste momentos de vitória e momentos de derrota.
Talvez sejas tu um crente e os sofrimentos que acaso possas
sentir te servem apenas para te preparar para outra vida que
acreditas estar além da tua morte. Talvez tu, crente, tenhas
bastante coragem e força para enfrentares os teus momen-
tos difíceis, as tuas lágrimas na expectativa que o teu mun-
do do além te compensará com alegrias infinitas.
Mas quero falar a ti, leitor, que talvez não creias nessa
vida do além e que estás em frente apenas desta tua vida de
hoje, desta tua vida que tens às tuas mãos, desta tua vida
que vives.
De uma coisa podes ter certeza: que tens esta vida. A
outra pode ser e pode não ser. Mas esta, esta que tu tens aqui
e agora, esta tua vida é o teu bem imediato, é a tua fortuna
imediata e que está às tuas mãos, é uma vida que podes
julgar que a viverás outra vez, mas que talvez nunca mais
vivas senão esta vez que estás vivendo.
Uma coisa tens certeza: é que tens esta vida e está vida
não podes malbaratá-la, não podes gastá-la, porque ela
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 145

talvez seja a tua única vida. Precisas amá-la porque ela é


a tua companheira que surgiu contigo, que te acompanhará
por toda a tua existência até o teu último momento.
Muitos são aqueles que nos momentos de desespero
odeiam a sua vida porque ela é um cenário onde se desenro-
lam as suas dores. Acusam-na das suas desgraças, acusam-
na das suas derrotas, como se essa fiel companheira fosse
a culpada dos maus acontecimentos que surgem. Muitos
poderão dizer: de que vale a minha vida se eu só conheço o
sofrimento e se conhecerei apenas sofrimentos?
Enganam-se porque não há vida que só conheça sof-
rimentos. E aquele, em cuja vida só surgissem sofrimen-
tos, teria suplantado o próprio sofrimento, teria vencido a
própria dor, porque a vida é sempre uma vitória sobre a
dor. Muitos poderão dizer: apenas palavras, palavras e nada
mais que palavras.
Pois bem, raciocina conosco e verás que as nossas pa-
lavras não são apenas palavras. Imaginemos um ser huma-
no que sofre. Será que cada um dos instantes desta vida
são apenas sofrimentos? Não, porque nenhum ser humano
poderia viver apenas mergulhado no sofrimento. Por entre
estes sofrimentos, muitos serão os momentos de alegria,
muitos os indiferentes. Se examinares uma pessoa que sof-
re e que se queixa dos seus sofrimentos, e que eles enchem
a quase totalidade de sua vida, poderás estar certo de que
há exagero da parte desta pessoa, pois encontrarás muitas
outras que conhecem sofrimentos iguais ou maiores, e que
deles não se queixam tanto quanto a primeira.
Vamos a exemplos bem práticos: se num dia de calor
aumentares continuamente a tua atenção sobre o calor que
pesa sobre ti, facilmente verás que este calor vai aumentan-
do de intensidade a ponto de não o suportares mais. Se ti-
veres uma pequena dor física e sobre ela puseres toda a tua
atenção, verificarás que esta dor aumenta constantemente
até tornar-se insuportável.
146 Mark Kimball

Pois bem, os que mais sofrem são precisamente aqueles


que põem a sua maior atenção nos próprios sofrimentos,
são aqueles que castigam as próprias feridas, são aqueles
que querem sentir toda a intensidade da sua dor e, por assim
querer, mais se mortificam, mais sofrem.
Estes não veem mais nada além da sua dor, qualquer
alegria é por eles repelida como uma intrusa no santuário
do seu sofrimento, a beleza do mundo que o circunda é para
eles uma afronta, uma lembrança de um momento de satis-
fação olha como um anacronismo, como algo que lhes vem
perturbar o próprio sofrimento. E tudo quanto a sua vida
teve de grandioso e de belo, e tudo quanto fez de grande
na sua existência, porque até os mais humildes têm os seus
momentos de grandeza, são por eles esquecidos, atirados
para longe, para que não perturbem o gozo mórbido do seu
sofrimento.
Leitor amigo, se diariamente tu te queixas da vida, se
diariamente só vês os teus momentos de tristeza, podes es-
tar certo de uma coisa: és um doente. E se tiveres consciên-
cia de que és um doente terás dado o passo decisivo para a
tua própria cura. Basta que te analises, basta que olhes um
por um os instantes de tua existência para verificares que
dentro dela muitos são os motivos que te podem encher de
alegria, mas que tu, por morbidez ingênua e desarrazoada,
deixaste à margem do teu caminho.
Volta para trás, volta para cada um dos instantes alegres
e felizes que procuraste esquecer, fixa a tua atenção sobre
as tuas alegrias, põe nesta atenção a mesma intensidade que
tu antes punhas nas tuas dores, e verás então que a tua vida
sorri muito mais do que choram as tuas lágrimas.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 147

Justiça

“Ser justo é superar-se. Todo ato


de justiça é uma elevação do homem.”

MAHDI FEZZAN
148 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 149

“Antigamente em Bagdá governou o mais poderoso de


todos os príncipes, que foi o famoso califa Al mamum. Para
demonstrar aos povos o seu grande poder, resolveu um dia
que se construísse um palácio que fosse mais majestoso do
que o de Salomão em Jerusalém.
Cem colunas de alabastro formavam o pórtico. Ouro,
jaspe, lápis-lazúli, mármores dos mais ricos enchiam o átrio
do palácio, coberto de ornamentações que os maiores arti-
stas de entre Iodos os muçulmanos vieram realizar. O forro
das vastas salas era de cedro do Líbano, todo lavrado de
ouro e pedras preciosas, verdadeiros tesouros como nunca
olhos humanos haviam visto. De todas as províncias do im-
pério vinham pedrarias, madeiras luxuosas do Oriente para
tornarem aquelas salas cada vez mais ricas. Rosas de prata
cobertas de diamantes foram colocadas nas bases das col-
unas. As mirtas mais agradáveis e os incensos mais raros
do Oriente vieram para serem continuamente, incessante-
mente, queimados para encher de aromas agradáveis cada
uma das salas do majestoso palácio. Tapetes da Pérsia, bro-
cardos finos cobriam os assoalhos de mármore.
Mas bem próximo ao palácio, bem em frente ao pórtico
150 Mark Kimball

de entrada, estava uma velha choupana, pequena, antiga e


quase em ruinas, onde um pobre tecelão humilde trabalhava
dia e noite para ganhar o pão para si e seus filhos numer-
osos. Duro era o trabalho e mal dava para sustentar seus
filhos sem precisar mendigar. Ali vivia seus dias cantaro-
lando, desfiando fios da meada, cosendo aqui e acolá, sim-
ples, humilde e bom, com um sorriso para as crianças que
abençoava à entrada de sua porta e agradecendo cada dia a
Alá a sua pobreza honesta. Não invejava os ricos porque a
felicidade não está em ter mais, dizia sempre, mas em saber
aproveitar todos os bens que o pouco nos dá.
Mas o vizir, que era o prefeito da cidade, não gostou
daquilo. Ao lado do grande e majestoso palácio de Al ma-
mum não devia, absolutamente, estar uma choupana tão
miserável e tão em ruínas. Resolveu por isso, sem maiores
delongas, que ela fosse arrasada. Mas Al mamum ouvido a
respeito disse que primeiramente a comprassem do pobre
tecelão e lhe pagassem um bom preço para que ele pudesse
mandar construir uma casa melhor.
O próprio vizir foi procurar o tecelão porque assim o
mandara Al mamum, o mais poderoso dos monarcas. Ofere-
ceu ao tecelão um saco de moedas de ouro.
— Não, guardai o vosso ouro! — respondeu mansam-
ente o tecelão. — Não preciso de ouro para a minha oficina.
O pouco que ganho dá-me para viver a mim e aos meus
filhos e sempre me senti feliz com o pouco que tenho. E
quanto à minha casa, perdoai-me, mas de maneira alguma
eu desejo me desfazer dela. Foi aqui que eu nasci, foi aqui
que nasceram meus filhos. Já meu pai aqui também nasceu
e meus avós também. Aqui morreu meu avô e morreu meu
pai. Aqui quero morrer também um dia quando o Senhor
julgar que devo viver a vida que me prometeu após a morte.
— Sabes que afrontas Al mamum, o mais poderoso dos
monarcas.
— Sei, senhor. Se o califa desejar poderá mandar arras-
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 151

ar a minha casa. Tem soldados e poder bastante para isso.


Pode destruir a minha choupana. E se o fizer ele fará que eu
venha aqui todos os dias para chorar até o fim da minha vida
a minha desgraça.
O vizir, ao ouvir essas palavras, ficou cheio de cólera.
Desejou punir aquele miserável tecelão que se atrevia a
desafiar o poder de Al mamum e mandar destruir aquela
miserável choupana. Mas havia recebido ordens de com-
prá-la e ficaria agora satisfeito em mostrar ao grande califa
quão ambiciosos são esses miseráveis e tinha certeza de que
o califa mandaria arrasar aquela choupana.
Contou tudo. Al mamum, o mais poderoso dos monar-
cas, ouviu o relato silencioso. Quando soube que houvera
oferecido sempre mais ouro e que o tecelão declarara que
nem todo o ouro do mundo compraria a casa de seus avós,
não se conteve e disse:
— “Não arrasáreis a choupana desse homem altivo.
Ao contrário, mandai repará-la à minha custa. Minha glória
atravessará os tempos e quero que os nossos netos e os ne-
tos de nossos netos saibam bem quem fui eu, o mais po-
deroso dos monarcas.
Aqui, e apontou para o grande e majestoso palácio, eles
terão um exemplo de meu poder, de minha força, de minha
magnificência e dirão: Ele foi grande! Mas quando olharem
aqueia pobre choupana, eles dirão: “Ele foi justo!”
* * *
Todos dizem que hoje estamos numa época em que se
perdeu o senso da justiça. Não é verdade! Não perdemos o
senso da justiça, perdemos, sim, o hábito de praticá-la. Cada
um de nós sabe em que consiste a justiça, e intimamente
sabe quando é justo e quando não é justo. É verdade que
muitas vezes, arrasados pelas nossas paixões praticamos
atos injustos para com os nossos semelhantes, e depois, por
um falso orgulho, que é bem uma demonstração de medioc-
ridade nossa, procuramos justificar o erro cometido juntan-
152 Mark Kimball

do-lhe razões e mais razões. Se realmente o que vemos hoje


é a prática reduzida de atos de justiça, seria contribuir para
que esse estado de coisas aumentasse ou prosseguisse, se
permanecermos no mesmo terreno em que muitos perman-
ecem, isto é, de nos negarmos também ser justos quando
tantos se esquecem da justiça. A prática da justiça é uma
das mais poderosas ginásticas do espírito para preparar um
homem para a sua vitória. Um homem justo é sempre um
forte e está mais apto do que qualquer outro a infundir con-
fiança, respeito aos que o cercam.
Antes de prosseguir queremos contar um pequeno fato
que sucede constantemente na vida e que pode servir para
que todos extraiam a sua grande e sábia lição.
Todo jogador, quando joga e perde, costuma silenciar
o seu malogro.
Quando, porém, ganha proclama em altos brados e a
todo mundo a sua “chance” e os ingênuos vão acreditar
depois, fundada no bom êxito deste jogador, que o jogo
oferece possibilidades de lucro... aos que jogam.
O mesmo se dá na vida quanto aos justos e aos injustos.
Os justos vitoriosos não chamam muito a atenção. Os bons
vitoriosos não impressionam tanto porque a vitória corre-
sponde perfeitamente à bondade.
Mas quando um mau, um injusto, vence, todos os maus
e todos os injustos proclamam em alto e bom som a sua
vitória e atribuem-na à injustiça e à maldade. Quando o
mau, injusto, fracassa, ninguém nota esse fracasso porque o
considera naturalmente correspondente à maldade.
Mas quando um justo, um bom, fracassa, todos os maus
e injustos gritam em alto e bom som o fracasso verificado
e atribuem-no à bondade e à justiça. Leitor amigo, se apli-
cares a este caso a sábia lição que nos dão diariamente os
jogadores poderás perfeitamente concluir que a bondade e
a justiça te darão sempre maiores possibilidades de êxito do
que de derrotas.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 153

Além disso, esta é também uma sábia lição de moral


que nos dá a própria natureza: quando um homem pratica
atos de justiça e de bondade ele se sente mais forte, mais
alevantado, mais resistente para o que lhe possa sobrevir. E,
como consequência, mais apto se torna para a vitória. Ob-
serva a ti mesmo e verificarás que sempre que praticas um
ato de bondade e de justiça a satisfação é inevitável, e toda
vez que praticas um ato injusto e mau te acompanha um
desgosto e uma preocupação. Haverá maus que nem sempre
sofrerão este desgosto. Talvez julguem que o ato pratica-
do em nada lhes prejudica, mas com o decorrer do tempo
sentir-se-ão enfraquecer e não terão forças para resistir os
momentos mais difíceis que um dia lhes possam sobrevir.
Quando és justo e bom não prejudicas a ti nem a nin-
guém, e ainda favoreces a tua própria potencialização, por
isso ao escolheres este caminho, demonstras apenas in-
teligência, pois podes estar certo de que os bons são sempre
inteligentes e a maldade é uma decorrente da ignorância
aliada a uma debilidade mental.
154 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 155

Se os jovens
acreditassem nos
adultos...

“Nosso saber é o conjun-


to dos pensamentos e da ex-
periência de inúmeros cérebros.”

EMERSON
156 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 157

Qual o valor do conselho?


Tem-se discutido muito sobre o valor do conselho.
Houve época em que se acreditou que realmente os con-
selhos fossem capazes de guiar, de orientar as pessoas no
caminho da vida, e que nada melhor para dar ânimo, entu-
siasmo e coragem, do que os conselhos bem orientados, os
conselhos que refletissem a velha e sólida experiência das
gerações passadas.
Muitos foram os livros que se escreveram orientados
por esse axioma.
O decorrer do tempo veio-nos demonstrar que o valor
dos conselhos é relativo, embora não se possa dizer que seja
nulo.
Por que uma pessoa a quem se aconselha não ouve o
conselho, ou, quando ouve, pratica precisamente o con-
trário do que lhe fora aconselhado? Sempre nos queixamos
da juventude por não ouvir os conselhos dos adultos. Estes
queixam-se sempre de que os jovens não querem ouvir as
palavras de sabedoria dos mais velhos.
Realmente os jovens não gostam de ouvir conselhos e
não lhes dão a importância que realmente eles merecem.
158 Mark Kimball

Não há dúvida de que isso vem em grande parte em prejuízo


da própria juventude e consequentemente da humanidade,
pois se os jovens aproveitassem sempre dos conselhos dos
mais velhos só lucrariam. Mas não se esqueçam os que já
foram jovens de que em um tempo foram jovens. E quando
jovens não ouviam também os conselhos que lhes davam.
Já ouvimos muitas pessoas adultas pronunciarem palavras
como essas:
“Ah, se eu pudesse começar de novo a minha vida.
Se fosse jovem outra vez, eu ouviria os conselhos de meu
pai, os conselhos dos mais velhos. Quanto tenho errado na
minha vida porque não ouvi os conselhos que me deram.”
Nós, na juventude, julgamos os mais velhos errados, gente
fora do tempo. Sempre julgamos que os mais velhos não
acompanham o movimento, que a nossa época é diferente,
que hoje tudo é muito diferente do que era no tempo “dos
velhos”. No tempo deles estava certo, mas hoje não. O que
eles aconselham não se coaduna mais com o tempo que pas-
sa.
A juventude julga sempre os velhos como errados. Mas
também os mais velhos cometem o mesmo erro da juven-
tude, mas em sentido contrário. Não é difícil ouvir-se pala-
vras como estas:
“No meu tempo é que era. Hoje, essa juventude, isso
não vale nada. Rapazes eram aqueles do meu tempo. Gente
de juízo, de bom senso, que sabia o que fazia. Essa rapazia-
da de hoje, uns cabeças tontas. Gente sem juízo...”
Em suma, estamos em face de duas idades que não se
entendem. Realmente não se entendem, mas deviam en-
tender-se, pois é fácil compreender que nem um nem outro
tem razão. Ambos exageram demais suas qualidades e de-
preciam demasiadamente a dos outros.
Nem a juventude é tão louca como julgam os adultos
nem os adultos tão atrasadões e errados como julga a juven-
tude. Em todas as épocas houve sempre essa luta entre as
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 159

duas idades e é possível que ela prossiga sempre. Mas o que


não deve prosseguir, pelo menos, para o leitor, por exemp-
lo, é que esse erro de visão continue a dominar-lhe na vida.
Essa a razão por que os conselhos têm pouco valor.
Um jovem ouve um conselho por um ouvido e deixa-o sair
velozmente pelo outro.
E é compreensível. E isso é humano, supinamente hu-
mano. Se não vejamos:
Aprende alguma coisa a humanidade com a história?
Absolutamente não. Os historiadores estão aí, analisam os
fatos, mostram os graves erros dos povos e as gerações fu-
turas vêm e cometem os mesmos erros. São erros coletivos
e individuais. Um homem comete um erro gravíssimo, to-
dos sabem, todos tomam conhecimento do erro. Impede
isso que outros, que conhecem aquele erro, tornem a prat-
icá-lo, a repeti-lo? Não!
Os conselhos, as máximas, os adágios, os aforismos
representam a experiência da humanidade. Encerram a
sabedoria dada pela experiência. No entanto aquele que os
conhece continua cometendo novamente erros para serem
somados aos erros do passado.
Só a experiência individual influi na ação do indivíduo.
O homem só aprende quando experimenta. Por isso é que a
experiência ensina os homens. E se os mais velhos são mais
sábios é porque experimentaram mais e erram, por isso,
menos, porque quando surge um fato, uma situação em que
deve saber como agir não é ela a primeira vez que surge,
mas a segunda ou a terceira e já sabe, ele, por experiên-
cia, como deve proceder. Por isso os que erraram muito são
os que têm maior soma de sabedoria, os que erraram e os
que observaram os erros dos outros, porque através da ob-
servação aprendemos também muito. É por isso que muitos
adultos dizem que se fossem jovens não cometeriam tan-
tos erros e teriam aproveitado a sua juventude muito mel-
hor.
160 Mark Kimball

Os jovens duvidam dos conselhos porque não acreditam


que em sua vida se vá repetir o que já se deu na vida dos
adultos. Por isso desprezam os conselhos. Julgam-se imunes
do erro porque na sua ingenuidade não podem compreender
nem prever o erro. Depois que erraram, sobrevem-lhes a
recordação do conselho dado e o nosso jovem, já “adulto”
naquele caso, já “veterano” na experiência, compreende en-
tão que devia ter ouvido o conselho..., mas é tarde. É por
isso que ele desejaria repetir o que se passou com ele, dese-
jaria poder voltar para trás, encontrar-se de novo naquela
situação para não errar mais como errou.
Um sábio chinês, quando orava para o seu deus, repetia
sempre está oração:
— Eu só te peço, meu Deus, que me dês nos atos que eu
praticar hoje o espírito que eu terei amanhã.
Esse sábio já havia aproveitado da sua vida a experiên-
cia que sofrerá. Por observação, já sabia que amanhã temos
um maior cabedal de experiências e, portanto, de sabedoria.
Perdoem-me os jovens, mas não podemos deixar de
repetir também estas palavras:
— Ah! Se os jovens acreditassem na experiência dos
adultos, quanto eles aproveitariam e com eles a humani-
dade!
E queremos dizer ainda:
— Se os adultos pudessem voltar para trás e viver com
o seu espirito de hoje o que vivem e experimentam os jov-
ens, que mundo extraordinário não teríamos.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 161

Prever a derrota
é meia derrota

“Uma alma que se deixa


arrastar pelo temor tor-
na-se cada vez mais débil.”

ROLIN
162 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 163

Imensas são as reservas que cada homem traz dentro


de si. Mas poucos são os que compreendem quanto valem
ou de quanta são capazes. A maioria dos homens se julga
fraca, mesquinha, sem forças. Muitos se apavoram ante a
responsabilidade da vida, temem os resultados de todos os
seus atos, e timidamente não querem enfrentar as situações
que se apresentam, porque se julgam sempre inferiores e in-
capazes de afrontá-las. Uma derrota prévia é quase sempre
a primeira atitude ante a responsabilidade de um ato. “Não
sou capaz de fazer isso! Não tenho forças suficientes para
tanto!” Essas palavras pessimistas mio a causa de muitas
derrotas.
Acreditar na possibilidade de uma derrota já é meia
derrota.
Esta frase encerra uma verdade universal. Imagina um
general que entra em combate e julga possível ser derrota-
do. Terá ele capacidade suficiente de vencer? Se suas forças
encerram essa potencialidade de vencer, mas se ele julga
possível a derrota, já entra em combate semiderrotado.
Tu já examinaste vivamente, objetivamente, todas as
tuas forças? Já viste se tens possibilidade de vencer? Por
164 Mark Kimball

que aceitas a possibilidade da derrota de antemão?


Vejamos como procedem em geral os homens fracos,
isto é, aqueles que não buscam dentro de si as imensas
forças que possuem, aqueles que acreditam que a fraqueza
é a sua condição e nada fazem para despertar as forças lat-
entes que devem aproveitar para a sua luta na vida.
Uma vez um homem, perdido na selva, era perseguido
por um felino gigantesco. Perdera a espingarda, e o revólver
que trazia tinha esgotado todas as balas. Restava-lhe apenas
um pequeno punhal para defender-se do felino. Um abrigo
não lhe aparecia que o salvasse. Viu-se numa contingência
difícil e o perigo iminente lhe deu coragem. Compreendeu
que se com coragem, com decisão não vencesse, muito
menos venceria se perdesse as esperanças. Reuniu todas as
suas forças, enristou seus músculos, cerrou os dentes, en-
costou-se a uma árvore pela qual não lhe era possível subir
porque era esguia, empunhou o punhal e esperou o felino.
Este parou a certa distância preparando-se para o bote. Nem
um estremecimento de medo lhe dominava mais, porque ele
juntara todas as suas forças e toda a sua vontade para en-
frentar o inimigo mais forte. Jogava naquele instante todas
as suas possibilidades.
O felino alçou o salto e veio sobre ele. Esperou-o no
ar. Abaixou-se e, célere, enterrou-lhe o punhal no peito, en-
quanto com o corpo dava um pulo para o lado.
O felino fora vencido.
Se esse homem, naquela circunstância, se deixasse
abater pelo medo e não acreditasse nas grandes reservas
que tinha dentro de si e que a vontade podia despertar, e
não enfrentasse a situação como devia enfrentar, teria sido
vencido e morto.
Que te sirva isso de lição: se com a coragem e a decisão
não venceres, muito menos vencerás se acreditares na der-
rota.
Mas de uma verdade te certificarás em tua experiência
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 165

de cada dia: quem enfrenta as situações com coragem não


conhece derrotas.
Uma afirmação que poderá parecer insustentável: que,
pela vontade, pode cada um dominar seu medo e enfrentar
corajosamente uma situação difícil e vencê-la.
Dirão: não basta palavras. É preciso fatos, exemplos,
experiência. Como poderei certificar-me de que realmente
tenho forças para vencer uma situação difícil?
Pensemos juntos: toda a tua vida foi sempre composta
de derrotas? 
Nunca conheceste uma vitória, por pequena que fosse?
O homem mais desgraçado do mundo conhece suas
pequenas vitórias ao par de suas derrotas. Talvez essas su-
perem aquelas, mas, pelo menos, sabe que as vitórias se
sucedem muitas vezes.
Não são apenas as grandes vitórias que valem. São as
pequenas também. É no exercício das pequenas vitórias
que se pode construir as grandes vitórias decisivas na vida.
Cada homem pode ser um vitorioso.
Queremos, agora, dar os exemplos de ação que podem
construir uma predisposição para a vitória, despertando em
cada um ar, grandes forças latentes que possui cada homem.
Queremos de ti um vitorioso, porque tu também queres
ser u in vitorioso.
Vem, portanto, conosco. Vamos.
166 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 167

Por que falhamos?

“Cuidado, não ouças nun-


ca a morte que existe em ti.”

MAHDI FEZZAN
168 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 169

Muitos se desesperam na vida porque malograram


numa empreitada. O malogro tem sido a causa de outros
malogros. Tanto na psicologia como na filosofia tem se
procurado explicar o porquê do malogro, em suma porque
falhamos tantas vezes na vida.
Muitas têm sido as explicações que podemos dividir
em duas
espécies:
a) por causas internas;
b) por causas externas.
Malogra um homem nas suas empresas porque com-
eteu erros ou porque era determinado por suas condições
subjetivas a esse malogro ou o malogro é uma decorrente
das circunstâncias exteriores que determinam essa solução?
Entre os casos de malogros por causas exteriores, ou
pelo menos que assim são considerados, devemos ter o
máximo cuidado ao analisá-los para evitar que se atribua
apenas às condições exteriores a determinação do malogro
verificado. É muito comum ouvirmos dos que malogram a
acusação de que a ele foram levados pela influência exclu-
siva das condições que o cercavam.
170 Mark Kimball

No tocante a este ponto podem ser tomadas atitudes


francamente unilaterais e parciais: essas atitudes consistem
precisamente em atribuir a causa, exclusivamente a uma
ou a outras condições. Assim, considerar que os malogros
sucedem ou por condições exteriores ou por condições sub-
jetivas, exclusivamente, é interpretar este fato, tão comum
na vida humana, apenas por um dos seus aspectos. Vamos
admitir para raciocinar que realmente existam malogros
que são determinados exclusivamente por fatores exteriores
e também outros por fatores exclusivamente interiores.
É fácil acrescentar uma terceira forma em que exista a
combinação dos fatores interiores e dos fatores exteriores,
isto é, em que contribuem ambos os fatores para determinar
o malogro.
Nesta terceira posição já nos encontramos com uma
variabilidade imensa, pois é de presumir que se às vezes se
dá ou se é possível dar-se um caso em que a intensidade dos
fatores interiores e exteriores é igual, também se verificará
em maior número, uma variação dessa intensidade. Ora pre-
dominarão os fatores exteriores, ora os fatores interiores.
Colocado o problema sob esse ângulo já se nos toma
mais fácil examiná-lo devidamente.
É fácil concluir que um malogro é produto apenas dos
fatores exteriores quando na apreciação desse malogro não
podem penetrar, de maneira alguma, elementos subjetivos
ou em que a vontade humana não possa interferir na real-
ização das condições que determinam o malogro.
Digamos, por exemplo, que um homem constrói um
navio com o qual organiza um plano de atividade, mas este
navio choca-se com uma mina flutuante perdida de uma das
últimas guerras, e vai a pique. A este malogro não podemos
deixar de reconhecer que se conjugaram apenas fatores ex-
teriores. Aqui a vontade do homem nada poderia fazer para
impedi-lo. É fácil somarem-se exemplos desta categoria
e o leitor poderá pessoalmente colaborar na apresentação
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 171

deles. Vejamos agora outro caso: um malogro em que se


conjuguem fatores de ambas direções. Um homem guia um
automóvel e pode sofrer um acidente, digamos, para exem-
plificar, o choque contra uma árvore.
Neste caso a análise das influências dos fatores exteri-
ores e interiores se torna mais complexa, porque poderia ser
determinado tal acidente por fatores externos ou internos.
Se, por exemplo, se dá a quebra do eixo de direção ou a rup-
tura de um pneu, podemos compreender que este acidente
foi determinado por condições independentes da vontade de
quem sofre o malogro.
Mas também pode o acidente ser determinado por uma
falta de cuidado da parte do acidentado. Desta forma, para
se estudar a variedade imensa dos malogros desta terceira
espécie, é preciso examiná-lo quase que individualmente
para deles tirar as conclusões mais acertadas e adequadas.
Queremos primacialmente neste capítulo, cuja importância
para o leitor julgamos a maior, examinar cuidadosamente,
embora em linhas gerais e da maneira mais prática e sim-
ples que nos é possível, a influência dos fatores subjetivos
na predisposição e na determinação dos malogros, como
também oferecer normas e conselhos que possam auxiliar o
leitor a evitar que seja ele vítima desses malogros.
A psicanálise, com os seus grandes progressos feitos
através da análise da alma humana, nos oferece uma série
de exemplos e estudos que são imensamente úteis para que
nos analisemos pessoalmente e possamos, desta forma, evi-
tar que sejamos nós mesmos a grande causa determinante
dos nossos malogros.
Expõe a psicanálise que o homem é dominado, é dirigi-
do, melhor, é influenciado por dois impulsos antagônicos,
que estão em constante luta dentro do homem, e que geram
a totalidade das suas atitudes, predisposições, e até ideias,
interpretações na sua atuação durante a vida.
Esses dois impulsos primordiais são conhecidos por:
172 Mark Kimball

a) impulsos de morte, e
b) impulsos de vida.
Os impulsos de morte são aqueles que tendem para a
destruição do indivíduo, e que influem fortemente numa
série de atos, apreciações, interpretações na vida que sem-
pre têm um cunho pessimista, destruidor, liquidacionista.
Os impulsos de vida, ao contrário, são conservadores,
construtivos, procuram fortalecer o indivíduo, conservá-lo,
imprimir-lhe um desejo de perdurar e representam também
uma força que determina uma série de apreciações otimis-
tas, construtivas e profundamente vitais do homem.
No próximo capítulo examinaremos a influência desses
dois fatores no malogro e na vitória humana e como cada
um de nós pode desenvolver e auxiliar a predominância dos
impulsos de vida que são precisamente aqueles que mais
nos favorecem as vitórias e contribuem para o desenvolvi-
mento e progresso do indivíduo. Além disso, a análise e o
estudo dos impulsos de morte e a maneira de reconhecê-los
em sua atuação na nossa vida, nos permitirá, por outro lado,
que possamos desviá-los em benefício de nós mesmos e
transformá-los de destrutivos em construtivos.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 173

Ve n c e a t u a
morte

“É com vida que deves viver a


tua vida.”

MAHDI FEZZAN
174 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 175

Como já dissemos, nós somos dominados por dois im-


pulsos o de vida e o de morte. Queremos falar agora do
impulso de morte.
Todo homem desesperançado, todo aquele que em-
preende qualquer ato sem a necessária energia e convicção
da vitória, todo aquele que se sente abúlico, sem vontade,
que se conforma com as dificuldades e não procura vencê-
las é, enfim, um dominado pelos impulsos de morte.
Todo aquele que vê os fatos que se desenrolam com
uma ponderável dose de pessimismo, o que observa mais as
dificuldades do que as condições favoráveis, que acredita
mais na derrota do que na vitória, que inventa razões para
abandonar qualquer empresa, é um dominado pelos impul-
sos de morte. Esses impulsos de morte não só se referem a
um desejo secreto e inconsciente de morte, da própria de-
struição, como se manifestam também numa tendência a
provocar malogros na vida do indivíduo e daqueles que o
cercam. Examinemos bem este ponto:
A psicanálise já verificou que grande parte dos aciden-
tados não suicidas inconscientes. Uma pessoa, ao atraves-
sar a rua, o faz tão descuidadamente que é, por exemplo,
176 Mark Kimball

atropelada por um automóvel. Esse acidente pode ser fatal.


Muitas vezes, porém, não o é, e referentemente aos casos
dos que se salvam, os psicanalistas têm se interessado em
estudá-los. E através desses estudos verificaram que, grande
parte delas, escondiam um desejo secreto e inconsciente de
destruir-se.
As pessoas que em regra geral sofrem acidentes de cer-
ta gravidade são determinadas por esse impulso de morte.
Todo aquele que sente em si esses sintomas, que se man-
ifestam através do que acima descrevemos, deve procurar
vencer o predomínio desses impulsos de morte e exaltar os
impulsos vitais. Pode parecer difícil esta tarefa e realmente
o é. Mas aqui dificuldade não quer dizer impossibilidade,
fatalidade.
Leitor amigo, empreende dentro de ti mesmo uma
análise que está perfeitamente ao teu alcance. Examina se
és um pessimista ou um otimista, se em qualquer empreen-
dimento ou em qualquer atividade tens a tendência ou não
de verificar mais facilmente as dificuldades do que as faci-
lidades. Neste caso, aquele que vê preferentemente as difi-
culdades é muitas vezes julgado como preguiçoso ou des-
cuidado. No entanto trata-se, em última análise, de alguém
que é vítima da acentuação de um impulso de morte.
Se procederes a uma análise mais objetiva possível,
pondo toda a tua atenção na observação de tuas preferên-
cias, poderás facilmente concluir ao qual dos dois tipos tu
pertences. Se há em ti um desejo de descanso, uma vonta-
de de encontrar uma solução para todos os teus problemas,
mas uma solução não ativa e vitoriosa e sim passiva e de
conformismo, podes estar certo de que estás sendo vítima
do predomínio do impulso de morte.
Isto não quer dizer que este predomínio seja constante
na vida humana. Se há aqueles que desde que nascem são
dirigidos preponderantemente pelo impulso de morte, há
também aquelas criaturas vitais, saudáveis que são domi-
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 177

nadas pelo impulso de vida. Mas, no decorrer da existência,


há momentos em que um desses impulsos predomina sobre
o outro, e vice-versa. Quase sempre, após o malogro, so-
brevém, quando a pessoa é fortemente influenciada pelos
impulsos de morte, um desejo de conformismo.
Muitos, após o malogro, não se acovardavam nem se
conformam e reagem para obter uma vitória que compense
aquela derrota. Estes são os domínios pelos impulsos vitais.
Com estes simples exemplos que te acabamos de dar, facil-
mente poderás verificar a que tipo pertences.
Admitamos que sejas dominado mais intensamente ou
menos intensamente pelos impulsos de morte. Que deves
fazer para vencer?
A terapêutica adequada nem sempre pode ser prescrita
por regras gerais. Há casos tão agudos que o dominado por
este impulso de morte necessita do auxílio de um especial-
ista. Mas é possível oferecer normas gerais que favoreçam
inteiramente os que se encontram neste estado e que mui-
tas vezes permitam que se manifestem verdadeiras ressur-
reições.
Por exemplo, o simples fato de se ter classificado como
alguém que sofre da influência desse impulso, já permite,
por esse conhecimento, que se empreenda uma ação de ren-
ovação e de exaltação das forças vitais.
Um exercício de início aparentemente fraco, mas que
acaba oferecendo grandes vantagens, consiste em combater
o pessimismo pessoal.
Como se procederá neste combate? Digamos que uma
pessoa sente repugnância, repele a alegria dos outros, isto é,
sente-se triste com a alegria dos outros, sintoma expressivo
dos dominados pelo impulso de morte. Ora, uma análise
rápida dessa atitude demonstra que está procedendo pessi-
mistamente. Um raciocínio de que a alegria dos outros em
nada nos pode prejudicar, em que a felicidade dos outros
está contribuindo para um aumento da felicidade humana, e
178 Mark Kimball

que se nos dispusermos com a melhor boa vontade podem-


os também gozar dessa felicidade e dessa alegria, estaremos
combatendo interiormente o nosso pessimismo.
Digamos que uma pessoa que assiste a um espetáculo
jocoso permanece inteiramente indiferente à alegria que se
manifesta no ambiente.
Ao ouvir um dito jocoso, busca torná-lo absurdo, repele
a sua própria alegria. Essa pessoa está alimentando o seu
impulso de morte. No entanto, se ela deixar, forçar até, um
sorriso, procurar rir, forçar o próprio riso, convencer-se
de que a alegria que a cerca também é dela, também lhe
pertence, e começar a rir, acabará por integrar-se na alegria
geral e com o próprio espanto verificará transmutações de
sua própria alma. Esse exercício simples pode, de início,
não dar grandes resultados, mas com o decorrer do tempo
irá aumentando os impulsos de vida, permitindo que eles
se desabrochem e consequentemente enfraqueçam os im-
pulsos de morte. Se ante um quadro, se ante uma obra de
arquitetura, uma pessoa pusesse a observar e a exaltar ap-
enas os defeitos, esquecendo todas as virtudes e belezas que
acaso possam existir nessas obras, ela estará naturalmente
forçando a sua negatividade, desenvolvendo seu impulso
de morte. Mas se procurar analisar a beleza e exaltar o que
há de belo, valorizar o que há de agradável, ela estará for-
talecendo o impulso de vida. Através da nossa vida, e das
experiências que tivemos oportunidade de realizar, verifi-
camos que o otimismo é uma planta que podemos adubar,
desenvolver, fortalecer.
Muitos foram os pessimistas com quem tivemos opor-
tunidade de tratar e que executaram os exercícios por nós
preconizados e, com o tempo, verificamos que estas pes-
soas se transformavam totalmente e melhoravam de saúde,
porque em regra geral estes pessimistas eram doentes, com
a apresentação de sintomas das mais estranhas doenças.
As leituras de bons livros, os passeios pelo campo, a as-
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 179

sistência de espetáculos jocosos, que a princípio lhe causa-


vam um estranho aborrecimento, acabaram por torná-los
imensamente alegres.
Não consiste somente em desenvolver o otimismo a
maneira de combater o impulso de morte. Como já dis-
semos acima há casos em que só o clínico pode resolver,
sobretudo quando não há da parte do doente a vontade de
curar-se. Mas quando da parte do doente se verifica a von-
tade de curar-se, este exercício tem sido suficiente para re-
solver casos bem agudos.
Estes tipos de dominados pelos impulsos de morte ex-
ercem uma má influência, verdadeiramente destruidora, no
ambiente que os cerca.
Influem sobre os outros, transmitindo-lhes o seu pessi-
mismo e autointoxicam-se favorecendo cada vez mais a sua
própria depressão.
Este livro destina-se àqueles que desejam construir a
sua vitória, e estes, pelo simples fato de desejarem construir
a sua vitória, já não são propriamente deste gênero de mór-
bidos que estão completamente dominados pelos impulsos
de morte. Além dos conselhos que damos neste capítulo, a
leitura deste livro e a pratica dos outros conselhos que apre-
sentam os capítulos que antecederam a este e que a este se
segue, favorecerão completamente a cura desta verdadeira
neurose.
180 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 181

Tu a a l i a d a :
a imaginação

“Qual é a faculdade que dá


relevo, brilho, agudeza ao pen-
samento? É a imaginação.”

AMIEL
182 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 183

Não são somente os bons pensamentos nem o otimismo


os teus únicos aliados. Tens também à tua disposição uma
força poderosa que está a teu alcance e poderás aproveitar
tanto quanto queiras, como e quando desejas: a imaginação.
Sinteticamente, podemos considerá-la de duas espécies:
uma imaginação mórbida, prejudicial à tua vitória, e uma
imaginação construtiva. É esta que é a tua grande aliada e
que podes dispor sempre que dela desejares.
Todos nós enchemos a nossa vida de uma série de fa-
tos que não sucederam e que nós desejaríamos sucedessem.
Assim quando sonhamos, vivemos muitas vezes cenas que
desejaríamos fossem realidade.
Assim também sonhamos quando acordados: e este
sonho é a imaginação.
A imaginação construtiva é aquela que auxilia o for-
talecimento de nossas boas qualidades, que nos estimula
para as grandes vitórias pela exaltação constante de nossas
forças. Esta imaginação é sempre saudável, pura, cheia de
boas intenções, porque uma imaginação que não é pura, que
não é saudável e não está cheia de boas intenções, nunca
poderá ser uma imaginação construtiva. Aquele que se en-
184 Mark Kimball

trega a imaginações que refletem desejos prejudiciais a out-


ros e que constrói cenas de uma vida não vivida, mas que
se fundamentam em desejos que se afastam dos princípios
da moral e da solidariedade humana, causa sempre males
profundos a si mesmo e predispõe-se de maneira acentu-
ada para sofrer na vida os malogros mais completos. Um
homem que imagina para si fatos que representam apenas
derrotas não estará se preparando para uma derrota?
Sim, pois estará estimulando em si mesmo todas as
forças contrárias à vitória.
Há muitos anos um sábio famoso, francês, de nome
Coué, provou quanta força tem a imaginação na potencial-
ização do homem. Através de experiências e de observações
chegou a concluir que aqueles que se imaginavam fracos
acabavam por tornarem-se fracos e aqueles que se julgavam
fortes aumentavam a sua fortaleza. Não é demais aplicares
tu, leitor, na tua vida, a maior soma de imaginação, aprove-
itá-la como a tua grande aliada, para desenvolveres as tuas
forças. Já te mostramos que os bons pensamentos são uma
fonte inesgotável de potência e podemos acrescentar que a
imaginação conjugada aos bons pensamentos ainda te será
mais útil do que de leve possas presumir.
É fácil fazeres exercícios de imaginação. Diariamente
aproveitarás os teus momentos de folga, em que em regra
geral tu os enches com a criação de cenas maravilhosas para
a tua vida, que tu controles a tua imaginação e que favoreças
o desabrochamento de cenas que te sejam as mais úteis, as
mais convenientes para o teu desenvolvimento e também
para benefício do teu semelhante.
Se procederes assim não só estimularás a tua imagi-
nação a se tornar cada vez mais criadora, como também
estarás dando vazão aos teus impulsos vitais para que eles
encham do seu poder vivificador toda a tua existência.
Quem imagina para sua vida vitórias está preparando
terreno para alcançá-las. A imaginação favorece o fortalec-
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 185

imento dos desejos, e esses da vontade, e esta, por sua vez,


a conquista das maiores vitórias.
Os grandes vitoriosos na vida foram homens que tin-
ham muito desenvolvida a sua imaginação. A imaginação
mistura-se muitas vezes com os pensamentos e os desejos,
é por isso que ela pode exercer uma ação verdadeiramente
construtiva. Por outro lado, a imaginação, ao lado da fan-
tasia, dá a está um cunho mais sólido e permite o maior
enriquecimento da vida. O desenvolvimento da imaginação
prepara ó espírito para a admiração das grandes obras-de-
arte que servem para o enriquecimento da vida e que são
bens que estão à disposição de todos os homens.
Um artista sem imaginação não é um artista, porque
para o artista é exigível acima de tudo a imaginação. Um
homem de negócios sem imaginação é sempre um homem
acanhado, de progresso muito duvidoso e que facilmente
é enleado pelas dificuldades que às vezes surgem. A imag-
inação não é uma construção de castelos no ar como pode
suceder com a fantasia. A imaginação tem elementos reais,
isto é, fundamenta-se em possibilidades realizáveis, e tu po-
des perfeitamente aproveitar esta imaginação para facilitar
a tua vitória.
Deves guiá-la em teu benefício, e esta tarefa é uma das
mais fáceis de realizar.
A vertiginosa vida moderna, o constante choque dos
interesses materiais tem levado o homem a mover os seus
olhares exclusivamente para as coisas exteriores, para tudo
aquilo que constitui a sua vida quotidiana.
Isto tem sido de um efeito desastroso para a imaginação
humana, e tanto é assim que se considera como imaginação
apenas um aumento das coisas que constitui o mundo exteri-
or. Não é a imaginação criadora aquela que apenas consiste
em multiplicar dimensões das coisas, como, por exemplo,
a de quem imaginasse prédios de trezentos andares. Esta
imaginação não é a que desejamos para ti, leitor. Quere-
186 Mark Kimball

mos falar-te de uma imaginação não de quantidades, mas de


qualidades. Esta é que será realmente criadora, construtiva.
Nas horas em que podes te afastar um pouco das coisas que
constituem o teu mundo quotidiano, deves criar a tua im-
aginação, não para as quantidades, mas para as qualidades.
Dentro da tua função, podes ser um artesão, um op-
erário, um comerciante, um corretor, podes favorecer a tua
imaginação a criar condições que melhorem a tua função.
Muitos psicólogos têm estudado a imaginação viciosa,
aquela que constitui uma exaltação de tendências mórbi-
das do homem. Deves impedir que a tua imaginação seja
contrária ao possível. Deves desejar para ti e podes criar
o teu mundo imaginativo, aquilo que realmente estás apto
a conquistar. Se imaginares que te é possível ser um “su-
per-homem”, como é concebido por certas revistas juvenis,
estarás apenas dando vazão à fantasia e favorecendo o
desabrochamento de desejos impossíveis que te colocarão
na fronteira dos doentes mentais.
Como dissemos, deves desejar uma melhoria das tuas
qualidades e podes imaginar que as conquistarás ou que já
as tens. Essa imaginação, constituída por conquistas que te
são acessíveis, tornara mais possível a tua vitória.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 187

Entusiasmo,
a maior das virtudes

“Nada de grande se realiza sem


entusiasmo.”

EMERSON
188 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 189

Já te falamos dos bons pensamentos e quanto eles


ajudam a fortalecer o espírito e a vontade; já te falamos da
imaginação que podes dirigir para a exaltação de tua força
e para guiar-te à melhoria qualitativa de teus atos. Não te
falamos ainda da maior de todas as virtudes: o entusiasmo.
Os homens conhecem o entusiasmo em sua vida. Não
há quem não tenha tido seu momento de entusiasmo. Exam-
ina uma criança. Vê como ela acredita que possa fazer uma
coisa que parece tão difícil para nós. Ela julga possível.
Nós rimos muitas vezes do seu “entusiasmo”. Mas quantas
vezes na vida assistimos homens que venceram pelo seu
entusiasmo?
Nos esportes, os vitoriosos são sempre os entusiasma-
dos. Pois na vida também. Quem poderá negar o que sucede
com o entusiasmo? Mas raciocinemos juntos, pondo aqui
os prós e os contras.
Realmente temos visto homens vencer pelo entusi-
asmo. Temos visto fracos erguerem-se de sua fraqueza e
dominar mais fortes, quando numa luta. Já vimos pugilistas
mais fracos enfrentar outros mais fortes e o entusiasmo ser
a verdadeira causa de sua vitória. Tudo isso está certo. Mas
190 Mark Kimball

temos visto também muitos entusiasmados serem derrota-


dos. Temos visto muita gente levada pelo auge do entusi-
asmo à prática de atos que redundem depois em malogros.
Essas objeções são razoáveis porque são verdadeiras,
mas não encerram, porém, toda a verdade. Os antecipad-
amente falhados, os que “querem malograr”, os domina-
dos pelos seus impulsos de morte, que desejam fracassar
de qualquer jeito e esse desejo pode ser consciente ou não,
quando empregam o entusiasmo malogram quase sempre.
Mas malogram por que? Seria em primeiro lugar uma
infantilidade acreditar que o entusiasmo fosse por si só
bastante para oferecer grandes vitórias. É preciso que esse
entusiasmo seja aplicado a um fim possível. Ora, não é pos-
sível alguém através de saltos, por mais entusiasmo que
tenha, atingir, por exemplo, a lua. Aí todo o entusiasmo,
por mais genuíno e mais puro, não é suficiente para levá-lo
à conquista dessa vitória. Mas um entusiasmo empregado
para a conquista de um fim que é humanamente possível,
e se nele o homem empregar sua maior vontade vital, seu
desejo de viver, não pode talhar porque realmente não falha.
Todo o possível está ao alcance dos entusiasmados
que têm vontade de viver.
Por que o entusiasmo é tão poderoso?
Examinemos em linhas gerais: o entusiasmo é uma es-
pécie de incitação que anima todos os órgãos vitais.
Uma bola de bilhar quando recebe o choque de outra
bola em movimento tem de início a mesma força que a bola
que a chocou. Depois, devido ao atrito exterior, perde essa
força.
Quanto ao ser vivo é diferente. O ser vivo é excitáv-
el. Um pequeno estímulo pode gerar um movimento com
uma força muito maior que a força que o incita. Um cavalo
de brio, com uma simples cutucada, pode desenvolver uma
velocidade prodigiosa. Um cão, incitado, pode dar pulos
imensos. E assim também o homem. Basta que vejamos
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 191

os exemplos dos esportes e das guerras. A excitação é um


fenômeno biológico que não é semelhante aos fenômenos
mecânicos porque nela há vida. Forças que estão guarda-
das, dormindo no íntimo do homem, são despertadas por
uma excitação.
Pois bem, leitor amigo, se observas que em ti os im-
pulsos de morte, a vontade de falhar, o desejo do malogro
te domina por uma a uma das tuas manifestações, resta-te o
grande recurso da incitação de ti mesmo, o recurso de te en-
tusiasmares para a vitória, isto é, de unires, de congregares
tuas forças positivas, vitais, para que as empregues em teu
benefício.
Em psicologia, se sabe, tudo se compensa. O que há
de positivo determina uma carga igual de negativo. Assim
se em ti domina o impulso de morte podes estar certo de
que tens a mesma carga de força vital, positiva, que está
adormecida dentro de ti, recalcada, esperando que a incites
pelo teu entusiasmo para que ela te leve a realizar bem, tudo
quanto até então era causa de malogros e de derrotas.
Vês assim quanto te é proveitoso o entusiasmo. Res-
ta agora (Rui aprendas a explorá-lo bem, a usá-lo em teu
benefício.
Não é difícil desenvolver o entusiasmo. Podes desen-
volvê-lo usando todos os métodos já expostos neste livro. A
imaginação e ou bons pensamentos são teus grandes auxil-
iares nesse trabalho tão útil.
Mas podes empregar pequenas experiências, como
as que já li vemos oportunidade de te oferecer neste liv-
ro, como, por exemplo, realizar pequenos trabalhos que te
parecem difícil de fazer. Digamos que desejas realizar uma
ação de habilidade, uma pequena mágica que exige certa
destreza. De início, é natural, malogras. Mas enche-te de
entusiasmo, procura fazer com o baralho novamente o que
antes não podias fazer. Incita-te a fazer. E tanto te incitarás
que acabarás fazendo.
192 Mark Kimball

Repete essa experiência diariamente em pequeninas


coisas sem importância aparente, mas que acabam por ser a
gênese de grandes vitórias.
Incitação ao entusiasmo pela vitória! Essa deve ser a tua
divisa. Não é vitória uma conquista sem luta. Toda vitória
encerra uma luta e essa luta que existe dentro de ti, entre as
forças negativas e as positivas, entre as que desejam a tua
destruição o as que desejam a tua superação, te oferece uma
derrota ou uma vitória. Para atingir a esta precisarás usar da
incitação ao entusiasmo. Incita o teu entusiasmo, vive com
entusiasmo, faze todos os teus menores atos com exaltação,
busca as pequenas vitórias, que tudo isso será a gênese da
tua vitória definitiva.
Mas para chegares a este ponto precisas, antes de tudo,
ter a certeza de que o entusiasmo existe e que o homem não
é apenas um autômato como julgaram tantos, e sim um cri-
ador, um ser que escolhe, um ser que prefere isto a aquilo,
um ser que julga. Prefere, portanto, o entusiasmo que ele te
incitará à vitória.
E lembra-te: o mundo pertence aos que têm entusiasmo.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 193

Pensar, sentir
e agir

“O mundo pertence aos que têm


entusiasmo.”

WILLIAM MCFEE
194 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 195

Já os religiosos haviam compreendido que o entusias-


mo é uma virtude.
E na religião cristã podemos encontrar muitas vezes,
sobretudo nas obras dos místicos, o valor extraordinário
que eles percebiam no entusiasmo. Mas para que o entusi-
asmo seja proveitoso é preciso que a ele esteja ligada uma
vontade de triunfar, uma vontade de não falhar, o desejo de
realizar uma superação vital.
Não adianta incitar ao entusiasmo a si mesmo se dentro
dessa ação estiver a miná-la um desejo de derrota ou uma
vontade do malogro. Aquele que se incita ao ato de entusi-
asmo deve antes de tudo sentir a vontade de vencer. Por que
usamos a palavra sentir? Porque é importante neste caso.
Digamos que alguém diz de si para si: devo vencer! É
um ato de desejo, é algo sentido, vivido? Não. Pode muitas
vezes ser aportas um ato de razão, uma afirmação apenas
intelectual. Raciocinando, alguém chega à conclusão de
que deve vencer. É preciso vencer. Então diz para si que há
de vencer. Mas isso não basta. Como também não bastam
os conselhos. De bons conselhos o mundo está cheio, diz
o brocardo popular. Mas os bons conselhos não são por si
196 Mark Kimball

só suficientemente fortes para incitar alguém à vitória. É


necessário mais: é necessário viver, sentir dentro de si, não
no cérebro, mas em todo o seu ser, a vontade da vitória.
Assim é preciso sentir esse desejo de não falhar, querer
não falhar.
Desta forma a incitação se processará mais forte, mais
dominadora e poderá determinar a vitória se for acompan-
hada pelo entusiasmo. Um entusiasmo pode ser apenas apa-
rente, apenas exterior, apenas racional. É preciso que seja
vivido.
Vejamos outro ponto:
Alguém aconselha uma pessoa a fazer isso ou aquilo.
Para fortalecer sua opinião, apresenta razões lógicas, ar-
gumentos seguros. É tão forte essa argumentação, são tão
poderosas as razões apresentadas, que essa pessoa fica con-
vencida da justeza do conselho. Mas, quando se trata de
praticar o que foi aconselhado, verifica-se que essa pessoa
não o pratica. Quando se dá o caso em que devia aplicar
o conselho esse não é aproveitado. Daí muitos concluem
que os conselhos de nada valem, porque uma pessoa acon-
selhada vai direitinho, como dizem, fazer precisamente o
contrário do que se aconselhou.
Realmente tais fatos sucedem na vida e têm servido aos
inimigos do homem e da sua vitória para justificar sua filo-
sofia pessimista.
Mas vejamos, ante nossos pontos de vista, onde está
o ponto fraco dos conselhos: está precisamente em se jul-
gar que basta apenas a razão, o raciocínio concordar com
um conselho para que ele surta efeito. O próprio aconsel-
hado muitas vezes desespera de si mesmo, ao ver que, ao
enfrentar o caso previsto, procede de maneira inteiramente
contrária aos conselhos que ele julgou acertados. Por que?
Porque não viveu, não sentiu dentro de si o conselho que
lhe foi dado. É necessário vivê-lo, tê-lo dentro de si, não só
racionalmente, mas também em todo o seu ser. Não basta
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 197

que uma pessoa saiba que isso deve ser assim ou assado. É
necessário que sinta que deve ser assim ou assado. É por
isso que vemos tanta gente que prega uma coisa e faz outra.
É porque raciocinam de um modo e sentem de outro.
Conheci um homem que pregava o vegetarianismo e,
no entanto, às ocultas, comia carne. Outro prega contra o
fumo, e fuma. Ele sabe que a carne, por exemplo, segundo
seu ponto de vista, é prejudicial à saúde. Mas sente vontade
de comer carne. Sabe que o fumo é prejudicial, mas sente a
vontade de fumar.
Assim no teu caso, leitor amigo, não basta saber que
deves te incitar, te entusiasmar, para realizares uma vitória.
É preciso antes vencer os teus sentimentos, regulá-los para
que te deem o que os filósofos modernos chamam de vivên-
cia da vitória. Deves viver a vitória, querer intimamente,
em todo o teu corpo, a vitória, isto é, dar plena vazão aos
teus impulsos de vida, torná-los mais poderosos, para que
o teu entusiasmo se torne realmente o motor de tua vitória.
A pratica simples de todos os exercícios que propomos
neste livro te levarão facilmente a desenvolver dentro de
ti os impulsos vitais. Desta forma te será muito fácil tor-
nar teu entusiasmo uma força realmente positiva, fadada ao
sucesso e não ao malogro.
Esses exercícios são fáceis e permitem vencer o pessi-
mismo o dar maior força ao entusiasmo. Da prática desses
exercícios, fáceis e quotidianamente aplicáveis, conseguirás
o pleno domínio dentro de ti e evitarás as tendências ao
malogro e conseguirás fortalecer tua vontade de viver,
tua vontade de não falhar, tua vontade de triunfar, enfim
tua própria superação, porque é através das vitórias que o
homem se supera.
198 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 199

A potência
do homem

“Todo homem é um infinito


ainda irrealizado.”

MAHDI FEZZAN
200 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 201

No templo de Delfos, na Grécia antiga, existia uma


inscrição que se tornou famosa através dos tempos: con-
hece-te a ti mesmo. Fundado nela, Sócrates realizou uma
das maiores transformações do pensamento filosófico, e o
homem que havia sido colocado à parte das especulações
filosóficas passou a ser o tema principal das preocupações
mais profundas do pensamento humano.
Através dos séculos a filosofia tem procurado cumprir
esse mandamento milenar, e o que é toda a filosofia senão
a busca desse conhecimento do homem em todos os seus
aspectos mais amplos e mais diversos?
Tornou-se um axioma para todos de que o homem que
conhece a si mesmo é o mais forte e o mais poderoso, e que,
precisamente, pôr o homem não se conhecer, é que existem
tantas divergências, tantas contradições, tantos desentendi-
mentos entre os seres humanos.
Uma pergunta apresenta-se a cada um: como con-
hecer-se a si mesmo?
O que tem feito a psicologia senão procurar esta respos-
ta? O que tem feito a psicologia moderna, essa psicologia
de profundidade, senão também procurar esta resposta?
202 Mark Kimball

Quem se conhece a si mesmo é forte e sabe como pode


proceder em certas circunstâncias e, portanto, como evitar
as derrotas e como conseguir vitórias. Inúmeros livros têm
sido escritos para ensinar ao homem o caminho deste con-
hecimento de si mesmo, mas, apesar de toda a boa vontade,
o homem é ainda um grande desconhecido, não só para si
próprio, como indivíduo, mas como espécie para a própria
ciência.
Não se trata de chegar a um conhecimento absoluto de
si mesmo, mas de conseguir um aumento constante deste
conhecimento pessoal. E cada um, dentro da sua esfera,
poderá conseguir um progresso nesse conhecimento, au-
mentá-lo constantemente, permitindo assim que aumente a
sua potência, que se tome cada vez mais forte, que o imu-
nize dos malogros e que lhe permita alcançar a vitória que
tanto deseja e que tanto necessita.
Proporemos algumas normas fáceis e práticas para um
aplicar em si mesmo na sua análise, permitindo-lhe assim
aumentar o conhecimento de si mesmo, conhecimento esse
que lhe favorecerá o aumento de sua potência.
Podes tu, leitor amigo, aplicar no teu caso estas ex-
periências. Todo homem tem um relativo conhecimento de
si mesmo, maior ou menor. Tu sabes, por exemplo, qual o
limite de tua capacidade para isso e para aquilo.
Sabes que em determinadas circunstâncias poderás
proceder desta ou daquela maneira, sabes que és acessível a
este ou aquele modo de alguém se dirigir à tua pessoa. Bem
vês que tens um conhecimento de ti mesmo e sabes que te
entusiasmas com isso ou com aquilo, e que se te deixares
levar até um certo limite poderás ultrapassar este limite e
não conter mais os teus impulsos. Não que os queiras cont-
er; é que nesse estado desaparece a tua vontade e não queres
mais conter. Vamos a exemplo mais simples: um homem
que bebe uma certa quantidade de álcool, perde o seu con-
trole e prossegue ingerindo mais álcool. Tudo consiste em
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 203

chegar até aquele instante em que perde o controle. E de-


pois, muito embora reconheça que está procedendo mal, vê
que lhe desaparece totalmente a vontade inibitória.
Essa pessoa será potente ao conhecer essa sua fraqueza
e ao evitar que chegue a esse ponto culminante. Essa é
verdadeiramente a sabedoria dessa máxima milenar. Todo
aquele que conhece as suas virtudes e os seus defeitos, o
seu limite, o ponto nevrálgico do seu caráter, está, portanto,
apto a evitar que seja precisamente atacado por este pon-
to fraco. Imagine-se um general que conheça bem o seu
exército e quais as suas fraquezas e as suas forças; estará
ele apto a evitar que o adversário lhe surpreenda no ponto
frágil, porque ele terá o máximo cuidado em fortalecê-lo,
evitando, por exemplo, em dar combate naquele terreno que
ele sabe que leva desvantagem. Conhecer a si mesmo é uma
prática diária e isso se obtém por meio de uma rememo-
rização dos fatos que nos sucedem, de uma análise dos atos
praticados, dos quais extraímos aqueles em que mostramos
mais evidentemente a nossa fraqueza como a nossa força.
Um sábio uma vez disse que era sábio porque sabia o
que não sabia e sabia que sabia o que realmente sabia.
Pois um homem forte, um homem potente, é aquele que
sabe que sabe quais as suas fraquezas e sabe que sabe as
suas forças.
Não malograrás se não empreenderes aquilo que está
além das tuas forças verdadeiras e evitarás um malogro se
souberes quais os limites das tuas forças. Nós sabemos real-
mente quais os limites das nossas forças, mas este conheci-
mento é ilimitado, por isso demasiadamente vasto.
Qualquer pessoa sabe que não lhe basta a vontade para
voar se não tiver um avião à mão, nem que poderá alcançar
a lua apenas estirando os braços. São limites longínquos
que não bastam para determinar um conhecimento de si
próprio. É necessário conhecer os limites mais próximos.
Leitor, a tua vida diariamente, em cada um dos teus mo-
204 Mark Kimball

mentos, te oferece uma lição: essa lição é a do conhecimen-


to de ti mesmo. Em cada um dos teus atos, em cada um dos
teus gestos, está uma insinuação da vida sobre o conheci-
mento de ti mesmo. Um pouco de atenção cuidadosa a tudo
quanto se passa contigo te oferecerá esse conhecimento. E
quanto maior ele for, maior será a tua potência.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 205

A liberdade

“Ser homem é ser pessoa; ser


pessoa é ser livre.”

MAHDI FEZZAN
206 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 207

“Deus quando nos deu a vida, deu-nos a liberdade ao


mesmo tempo”, dizia Jeferson.
Que é a liberdade?
Grande e profundo problema de filosofia, tema princi-
pal e capital de muitas das maiores controvérsias da huma-
nidade, as mais belas páginas para louvá-la já foram escri-
tas pelos filósofos, pelos poetas, pelos escritores de todos os
tempos. Mas muitas das páginas mais duras e mais terrivel-
mente impressionantes foram escritas para negá-la.
Essa grande polêmica cinge-se a afirmar um dos dois
aspectos: ou o homem é livre ou não é. Há livre-arbítrio
ou determinismo? Praticamos nossos atos como produtos
de uma escolha ou não, e neste caso último somos apenas
dirigidos pelos nossos impulsos interiores aos quais não po-
demos dirigir nem orientar.
Não vamos aqui relatar, nem de leve, essa imensa
polêmica quo levou séculos e ainda hoje empolga o espírito
de muita gente.
O homem, para nós, é um animal racional: verdade que
todos aceitam. Nisso ele se distingue dos animais. E ser
racional é ser capaz de escolher, capaz de preferir, de pe-
208 Mark Kimball

sar, de comparar está ou aquela solução, de imaginar o que


poderá suceder. O homem pode prever as consequências de
seus atos. Pode imaginar que se fizer isso, poderá suced-
er aquilo ou aquiloutro. Tal ato se poderá levar a tais ou
quais consequências. E porque pode julgar, pode comparar,
pode medir, pode escolher. Se o homem fosse apenas uma
máquina, apenas um ser autômato que realiza todos os seus
atos pela determinação de uma força, não teria noção do fu-
turo. O futuro é uma noção que demonstra independência,
capacidade de escolher no suceder que sobrevém.
É por isso que o homem é um ser autônomo e conhece
a liberdade. Liberdade não quer dizer um conceito metafísi-
co, algo que transcenda à nossa experiência, algo só at-
ingível através de elucubrações filosóficas. Não quer dizer
que a liberdade seja um ser sobrenatural, uma potência so-
brenatural que dirija o homem. Não queremos aqui negar as
ideias espiritualistas, pois este livro não se destina a negar
ou afirmar o que pertence ao terreno da filosofia.
Interessa-nos apenas examinar a liberdade sobre esse
ângulo real, prático da vida humana, essa liberdade que
cada um de nós conhece em cada momento de nossa ex-
istência. Essa não a podemos negar, essa se verifica em cada
um de nós.
Podemos ter um impulso para a prática de um ato de-
terminado. Vamos praticá-lo, mas trabalha a nossa imagi-
nação. Queremos refletir sobre as consequências e a nossa
imaginação põe-se a trabalhar revelando-nos uma série de
acontecimentos possíveis que vamos examinando com a
nossa razão. Finalmente, contrariando nosso impulso, ven-
cendo nossa vontade, resolvemos não fazer o que desejá-
vamos.
Negar esse fato prático que verificamos em nossa vida
seria negar praticamente também toda a ação da educação.
E ninguém pode negar o poder da educação no proceder do
homem. Até os animais, que julgamos autômatos, podem-
os domesticá-los, modificar seus hábitos, transformar seus
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 209

gostos, dar-lhes o poder de dominar seus impulsos e de não


realizar o que desejam.
Estamos numa das épocas mais terríveis da história do
homem. Apesar de toda a nossa grandeza, de todo o pro-
gresso material que conquistamos, apesar de todo o desen-
volvimento de nossa ciência, de nossa técnica, estamos, no
entanto, num desses momentos cruciantes da vida humana,
em que muitos homens estão dispostos a perder a sua liber-
dade.
Não são poucos, mas milhões e milhões de seres hu-
manos que estão dispostos a vender a sua liberdade por um
prato de lentilhas.
Os problemas de ordem puramente material, a neces-
sidade de satisfazer suas necessidades, leva milhões de
homens disporem-se a sacrificar a sua liberdade para pod-
er encher seus estômagos e vestir a sua nudez, como se o
caminho da liberdade fosse incompatível à solução de seus
problemas materiais.
Não são poucos os que acreditam que só podemos solu-
cionar nossos magnos problemas econômicos à custa da
nossa liberdade ou então nos contam a impiedosa mentira
de que a liberdade é apenas ter o estômago cheio e o corpo
vestido e a possibilidade de ingresso a uma casa de espe-
táculos.
Não, liberdade é muito mais. E é através da conquista
da própria liberdade que podemos garantir mais tudo isso.
Tudo isso sem liberdade nada valeria e seria absolutamente
precário. Qualquer ditadorzinho, em qualquer época, sob
a alegação de razões superiores de Estado ou da nação,
poderia arrebatar tudo isso aos homens. Mas a liberdade
é a maior garantia de todas as nossas conquistas. Homens
livres são capazes de solucionar seus maiores problemas. A
liberdade é a melhor escola para a solução dos problemas
econômicos. O que o homem não é capaz de resolver com a
liberdade, muito menos o é à custa da liberdade.
E o caminho da liberdade é o da prática da própria liber-
210 Mark Kimball

dade. É com a prática da liberdade que formamos homens


livres.
Ama a liberdade, pois quem ama a liberdade é potencial-
mente um vitorioso. Como poderás vencer se estás desde já
disposto a ceder tua liberdade por um prato de lentilhas? Os
que não amam a liberdade nunca podem ser vitoriosos. E
lembra-te, o caminho da vitória é o caminho da liberdade e
o caminho da liberdade é o da prática da própria liberdade.
Pratica a liberdade e respeita a dos outros que respeit-
arás a tua. Onde houver escravos, liberta-os. Onde houver
opressão, rebela-te. Luta pela liberdade de todos e lutarás
pela tua própria. Não podes ser livre onde há homens es-
cravos.
"Dai-me a liberdade ou dai-me a morte!"
Que estas palavras de Patrick Henry sejam o teu lema
na vida.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 211

A dignidade do
homem

“Podes perder até a tua última


esperança, mas nunca deves perder
a tua dignidade.”

MAHDI FEZZAN
212 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 213

Assistimos no mundo de hoje a um dos mais dramáti-


cos instantes da vida humana: é que, apesar de todo o nosso
progresso material, apesar de toda a nossa civilização, do
grande desenvolvimento de nosso saber, de nossa indústria,
da técnica, o homem, esse ser para quem tudo isso é feito e
que tudo isso faz, vale tanto ou menos do que valia um cafre
na época da escravatura, do que valia um escravo na época
romana ou do que valia um triste e pobre homem nos dias
sombrios da Idade Média.
O homem aumentou em seu poder de dominar o mun-
do, mas diminuiu em seu valor, em sua dignidade. O homem
não vale nada para o homem; a vida humana é de pouca val-
ia. Põe se em jogo a vida de milhões como sempre se pôs.
Há falsificadores hoje mais do que nunca, há exploradores
da miséria humana mais do que nunca, e a vida de um ser
humano vale menos em média que a de um animal, um boi,
um cavalo e até a de um cão.
Apesar das grandes obras realizadas, do desenvolvi-
mento da higiene, da construção de grandes hospitais, ape-
sar, em suma, de todo esforço da ciência, o homem continua
não valendo nada.
214 Mark Kimball

Leem-se as notícias de dezenas de pessoas que morre-


ram num desastre de avião com uma insensibilidade que
espanta. Muita gente passa os olhos pelas páginas de jor-
nais que descrevem os grandes acidentes em que se per-
dem vidas humanas, com enfado até. Em tal parte, contam,
uma mina explodiu e soterrou centenas de mineiros. Ali um
incêndio num grande edifício em que dezenas de pessoas
morreram carbonizadas. Ali, naquele canto de jornal, con-
tam que um pobre pedreiro caiu do décimo andar de um
prédio em construção. E tudo isso não comove, não impres-
siona. São fatos corriqueiros, quotidianos do jornal.
Se alguém fala num desastre, num choque de automóv-
el em que alguém perdeu a vida, poucos se interessam em
saber onde foi e como foi. A maioria logo esquece o fato de
que contam e procura preocupar-se com seus problemas e
seu trabalho.
Não é tudo isso digno de merecer a atenção de to-
dos nós? Não é isso sintomático? Será que tudo isso deve
suceder só porque sucede? Será que deve ser assim porque
sucede assim?
Leitor, pensa bem sobre tudo isso. Medita para essa
máquina imensa que consome vidas que é a civilização, ob-
serva essa pavorosa desvalorização do homem, à que hoje
assistimos, e responde-nos: conformas-te que isso seja sim-
plesmente natural, compreensível, lógico, razoável?
Se meditares, e tiveres em ti algo de humano, tu não
poderás deixar de reconhecer que algo está errado em tudo
isso, pois não é justificável que sejamos como simples for-
migas que se esmagam com os pés e que prosseguem seu
caminho ao ver morta uma companheira que tombou vítima
da fatalidade. No entanto, procedemos como as formigas.
Nenhum desastre, que não nos abale materialmente ou que
nos fira em alguém de nossas afeições, perturba a nossa
vida. Tudo prossegue como dantes e a vida continua no seu
afã eterno como se nada houvesse acontecido.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 215

Ninguém irá dizer que devemos chorar todas as lágri-


mas de todos os que choram, nem soframos todas as dores
dos que padecem, pois nenhum ser humano resistiria a essa
dor e a essa tristeza.
A compaixão está desterrada de entre os homens. Mas
se a compaixão está desterrada é porque algo possui ela que
não se coaduna mais com a nossa vida.
Se a compaixão não pode mais resolver esse gravís-
simo problema que é a desvalorização do homem, muito
menos o resolverá a nossa indiferença.
E além disso, precisamos dizer de uma vez, não serás
um vitorioso no sentido pleno da palavra se não compreen-
deres que tu, tu leitor, vales alguma coisa, que és uma vida
que tem valor. E se tu vales alguma coisa, vale também
aquele que está ao teu lado, e aquele, e aquele, todos en-
fim. O homem tem uma dignidade que deve ser apreciada,
que não lhe deve ser roubada. Essa dignidade é o seu bem
maior, o verdadeiro bem. É sobre ela que queremos falar.
Repetimos: é a dignidade o maior bem que o homem
possui. A dignidade é o valor, e esse valor deve ser alimen-
tado por ti, continuamente. Deves valorar-te e valorizar-te,
não artificialmente, mas realmente, humanamente, seguin-
do as normas mais justas. E deves valorar também, saber
apreciar o valor de teu semelhante. A dignidade humana
não é uma exaltação artificial do homem. O homem, real-
mente, possui esse valor. Se a intensidade da vida de hoje
faz passar despercebido esse valor, todos devemos lutar por
revigorá-lo, por torná-lo maior.
Respeita a dignidade de teu semelhante para que
também sejas respeitado.
Só construirás a tua personalidade na construção da
personalidade de teus semelhantes. Não julgues que o
homem mais forte em personalidade é o que se afasta dos
outros, o que despreza os outros, o que se considera acima
dos outros.
A presença de teu semelhante, compreendê-la, senti-la,
216 Mark Kimball

valorá-la é a melhor forma de exaltares a ti mesmo. Sentir-


te-ás mais forte e mais poderoso quanto melhor souberes
compreender e respeitar a dignidade de teu semelhante.
A humanidade de hoje falta a realização de uma grande
obra. Assim como ela alcançou um grau tão elevado na
ciência, na técnica, ela deve elevar o homem em dignidade.
Quando sentires isso em ti, já te elevas a ti mesmo em
dignidade A tua dignidade consiste também na dignidade de
teu semelhante. Respeita-a, valoriza e te sentirás desde esse
instante mais poderoso e mais forte.
Um homem de dignidade conhece vitórias e para ele
uma derrota é mais facilmente superável do que quem não
sente nem em si mesmo, nem nos outros, o verdadeiro valor
que têm.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 217

A delicideza: tua
arma secreta

“O dia que passas sem amor


é o mais inútil de tua vida.”

OMAR-AL-KHAYYAN
218 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 219

Nada é mais louvável numa pessoa que a delicadeza.


Desde a simples cortesia até a delicadeza em todas as suas
gamas mais sutis, uma pessoa se impõe desde logo.
Ninguém é desapreciado por ser delicado, ninguém é
menosprezado por ser delicado. Nunca nos irritamos com
a delicadeza normal de uma pessoa. Dizemos normal,
porque há pessoas que por não serem de natureza delicada
procuram mostrar-se delicadas e às vezes chegam ao exage-
ro, e é esse exagero o que irrita, não a delicadeza.
É a delicadeza a melhor arma de que dispõe uma pessoa
no trato com seu semelhante. A delicadeza abre todas as
portas, a delicadeza vence todas as resistências.
Ser delicado é saber agradar aos outros, é tornar-se
simpático para todos.
Mas a delicadeza é mais, é uma virtude, e realiza ver-
dadeiros milagres.
Houve um filósofo que disse: “Se os homens fossem
sempre delicados teriam evitado muitas das suas questões e
teriam tornado a vida muito mais agradável do que ela é”.
A delicadeza é a maior sublimação dos nossos impul-
sos que tendem para a destruição. Uma pessoa que procura
220 Mark Kimball

ser delicada vai vencendo aos poucos todos os seus maus


impulsos e consegue fortalecer vivamente sua capacidade
de vitória.
Vivemos hoje um mundo cheio de ansiedade, em que
a delicadeza se torna difícil, rara. Pois precisamente por
isso, quando encontramos tanta falta de delicadeza, deve-
mos procurar ser o mais delicado possível. Hoje, mais do
que nunca, um homem delicado sobressai entre os outros.
E se tu, leitor, és um comerciante, um comerciário, um
bancário, um vendedor, um corretor, enfim, seja qual for a
tua profissão, verás que a delicadeza é uma valorização de
ti mesmo. Ninguém te repelirá por seres delicado; ao con-
trário: serás recebido em todas as partes porque és delicado.
Cultiva a cortesia e a delicadeza, e estarás ajudando a
ti mesmo. Não é difícil ser delicado. Basta que o queiras.
No decorrer deste livro examinamos muitos dos pontos
mais importantes que ajudam a formação da personalidade
humana. Um homem de personalidade é um homem que se
diferencia não pela cor dos cabelos, não pela cor dos olhos,
não pela roupa que veste, nem pela pasta de dentes que usa,
nem pelo perfume que emprega, como desejam fazer ver os
anúncios de rádios e jornais.
A personalidade de um homem é um conjunto de
condições subjetivas, psicológicas que distingue o homem
de qualquer outro, que o torna não propriamente diferente
dos outros, mas que afirma que esse homem é uma pessoa,
é alguém que sabe o que é, o que vale, o que quer.
A prática de todos os conselhos que te damos, leitor,
ajudará a modelar a tua personalidade, pois, na realidade, já
tens uma dentro de ti, mas uma personalidade que precisa
ser modelada, acentuada, alimentada por ti.
Um homem de personalidade não teme uma derrota,
porque, numa derrota, tem confiança e fé de que se er-
guerá. Se Molière, Pasteur, Mark Twain, Edison e tantos
outros não tivessem personalidade, teriam sido vencidos na
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 221

primeira derrota e jamais teriam sido o que foram.


Deves cuidar desta planta que é a tua personalidade.
E como a adubarás? Adubarás com confiança em ti, com a
predominância de teus impulsos vitais, com a cortesia e a
delicadeza de tuas atitudes, com o respeito à dignidade dos
outros e à tua dignidade, com a paciência, a tranquilidade,
o desenvolvimento de tua força de vontade, com a coragem
de enfrentares as responsabilidades, com o desejo de te
tornares melhor, cada vez mais, em melhorar tudo quanto
fazes, na seleção de teus bons pensamentos, em compreen-
deres que a dor é própria da vida. Com tudo isso de quanto
te falamos, construirás a tua personalidade aproveitando as
disposições psicológicas que tens como a matéria-prima
que modelarás com o auxílio de cada uma dessas atividades
e qualidades.
* * *
Queremos falar de um tema eterno que pertence a to-
dos os poetas, a todos os escritores e a todos os filósofos:
o amor.
Não vamos examinar a longa problemática que se liga a
este sentimento julgado pelos homens tão divergentemente.
Eis uma palavra que tem um conceito diverso no íntimo de
cada um, embora seja a mesma palavra em todos os lábios.
É muito comum hoje, caro leitor, dizer-se que o amor
não existe mais.
Pelo menos não existe o amor como sentimento puro,
profundo, que unifica duas almas, que forma a comunhão
mais íntima de dois seres.
Nunca se mentiu tanto como hoje se mente neste ponto,
pois o amor existe, existe em toda a sua plenitude, pois há
almas elevadas capazes de atingir a esse sentimento eleva-
do à mais alta potência.
Por muito utilitária que seja a nossa época, ela não ma-
tou o sentimento, embora o tenha relegado para um canto
mais profundo do homem.
222 Mark Kimball

É por se julgar que o amor não existe que o amor é tão


raro aos homens.
No entanto, nada dá maior felicidade que o amor, e no
amor é que realmente está a mais perfeita das felicidades.
Abre o jornal ou liga um rádio e verás constantemente
dizerem que o amor depende do perfume que usas, da pasta
de dentes, da navalha de barba que empregas, da roupa que
vestes. Mas isso é uma grande mentira, mentira cujas con-
sequências não são sempre previsíveis.
Há o amor e o amor profundo, o amor verdadeiro que
não depende de nenhuma dessas exterioridades, que de-
spreza essas exterioridades. Precisamente através dessas
exterioridades é que não existe o amor, e aquele que ama
alguém porque usa tal perfume ou tal óleo do cabelo es-
tá-enganando a si mesmo. Não ama, apenas aprecia alguém.
Esse amor falso, esse amor de pechisbeque, esse amor de
latão, é a causa da grande tristeza do homem de hoje.
Há amor. E deves procurar o teu amor sincero, o teu
amor verdadeiro.
Não deves temê-lo, porque ele será o maior encanta-
mento de tua vida.
Mas se não acreditas no amor, como queres que ele te
procure? Se duvidas do amor, acabarás por abafar em ti a
tua capacidade de amar. E sempre que amares em alguém
pelo que tem, pelo que mostra, pelo que exibe, podes estar
certo que não amas. Não amas senão quando és capaz de
imaginar tua pessoa amada feia, malvestida, desenxabida.
Quem ama não vê caras, vê corações; é um ditado que en-
cerra grande sabedoria. Acredita somente no amor que não
vê caras e vê somente corações. Com esse amor nada te
abalará.
Só uma alma grande é capaz de um grande amor, já
disse um filósofo célebre. Os mesquinhos não sabem amar.
Se fores capaz de um grande amor, de um amor que não
vê cara, mas coração, podes estar certo de que tens uma
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 223

grande alma. Será um conhecimento de ti, conhecimento


que te auxiliará a vencer com maior certeza.
Ama profundamente. É preciso ser capaz de um grande
amor para ser vitorioso. Os que muito amam são os mais
fortes.
Ama e serás forte. Mas antes de tudo, crê, crê sincera-
mente no amor.
* * *
Dedicamos a ti, leitor, este livro. Nele encontrarás mui-
to da experiência de um homem que conheceu na vida to-
das as situações, que soube suportar suas derrotas e soube
também construir suas vitórias.
Este livro é o produto de uma experiência. Não deses-
peres nunca, não desanimes nunca.
Quando te sobrevier uma derrota, sabe desde já que, no
primeiro momento, parece-te que o mundo todo se destru-
iu, que a vida não vale a pena de ser vivida, que a derrota é
definitiva.
Enfrenta esses maus pensamentos, e espera que outro
dia raiará e nesse outro dia terás mais fé. Nunca te deixes
empolgar pelo desespero. E o desânimo que se apossará de
ti não primeiro momento não te dominará se quiseres que
não te domine. Basta que reúnas tuas forças e digas para ti
mesmo: “Não sou o primeiro a ser derrotado. E nem todos
os derrotados foram aniquilados pela sua derrota. Muitos
souberam vencer novamente. Eu também serei um destes.
Renego a minha derrota, desprezo-a e acredito, tenho fé na
minha vitória. Caí, me levantarei. Outros caíram, e outros
se levantaram. Por que não serei eu um desses também? Só
depende de mim, e eu quero vencer.”
Leitor, constrói a tua vitória.
Ela só depende de ti, e tu não falharás.
224 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 225

A felicidade do
matrimônio

“O amor revela as almas superi-


ores. Só um ser humano, quando é su-
perior, sabe amar profundamente.”

MAHDI FEZZAN
226 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 227

Hoje, após esta segunda guerra mundial, discute-se em


todo o mundo um dos mais importantes problemas da hu-
manidade: o problema do amor.
E também tudo quanto a ele está relacionado, como a
família, o casamento, a liberdade sexual, o problema da mo-
nogamia ou da poligamia. Esta segunda guerra veio tomar
mais graves as relações entre os sexos. A moral anterior não
tem mais a força suficiente para fazer frente às tendências
destruidoras que surgem.
Não vamos neste livro examinar este tema sob os seus
aspectos mais gerais, o que será feito noutro livro. Mas,
reportando-nos às páginas anteriores, queremos mais uma
vez afirmar que o amor existe, existe em sua categoria mais
alta, em sua forma mais sublime e a incapacidade de sen-
ti-lo ou de compreendê-lo dos que o negam, nada provam
contra ele.
Outro aspecto que convém assinalar é a tendência co-
mum de procurar fórmulas gerais que possam resolver todos
os problemas complexos da vida de relação entre os sexos.
Uma fórmula capaz de solucionar tudo. A humanidade de
hoje sofre de um preconceito perigoso, cujas consequências
228 Mark Kimball

são ainda imprevisíveis: o de crer em fórmulas que solu-


cionem tudo. Acredita-se piamente que se encontrará esta
ou aquela forma de vida capaz de resolver todos os prob-
lemas. O conceito universal de homem, que predominou
tanto tempo na filosofia, e que não iremos tratar aqui, é a
culpa desse preconceito que hoje domina a maior parte da
humanidade. A ciência, como a filosofia, tem tendências a
generalizar e o homem não é esse homem que passa, o Fu-
lano de Tal, tu leitor, nós que escrevemos. Absolutamente
não. O homem da ciência e da filosofia é um ser geral, uni-
versal, o Homem, um ser no qual são estudados e exami-
nados os aspectos gerais. A ciência e a filosofia pouco se
preocupam do homem, do indivíduo, da pessoa que anda aí,
tu, nós, aquele, etc.
Por isso, como ambas generalizam tudo, também
acreditam que se possa encontrar soluções gerais para o
problema humano. Daí também, como consequência, tantas
fórmulas que são oferecidas, e de valor mais que duvidoso
Qualquer ardente feminista tem uma solução para o
problema do matrimônio e julga que a sua fórmula tudo re-
solverá. Nas salas de conferências, nas colunas dos jornais,
nos programas de rádio, são oferecidas mil fórmulas para
solucionar todos os problemas que se refiram ao casamento.
E por que essa ilusão? Porque se julga que o homem
é realmente o homem da ciência e o homem da filosofia,
quando, na realidade, o homem é o cidadão que passa,
tu, nós, ele, cada um diferente, com suas tendências, seus
gostos, suas reações diversas, seus apetites díspares, suas
afeições contraditórias.
Por isso, para nós, cada caso tem a sua solução, porque
nos colocamos naquela mesma posição, quanto aos proble-
mas sociais, que se coloca a medicina e a psicologia. Assim
como para estas não há doenças, mas doentes, no caso so-
cial não há também doenças, mas doentes. Queremos aqui
nos referir ao problema do amor, é lógico, pois reconhece-
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 229

mos perfeitamente que existem problemas que afetam dire-


tamente a todos.
Na questão do amor, das relações entre marido e mul-
her, as regras gerais são perigosas e as soluções têm de se
enquadrar em cada caso, pois cada caso é um problema es-
pecial e exige uma solução especial.
Não julguem que solucionaremos nosso caso como Fu-
lano e Fulana solucionaram o seu. As reações e as afeições
são diferentes e a solução boa para um, pode ser péssima
para outro.
Não te iludas, leitor, com soluções gerais. Procura no
teu caso a solução que melhor te convém. Noutro livro nos-
so, estudaremos todos esses casos e mostraremos quantas
soluções se podem oferecer.
Teu problema é teu, é único, é diferente. Mas por ser
único e diferente não quer dizer que não possa assemelhar-se
ao de outro e que a solução dada a outro não sirva para ti.
A experiência dos outros te é útil e dela deves aproveitar.
Somos daqueles que pensam que todos os problemas entre
marido e mulher podem ser solucionados. Depende apenas
de boa vontade e podem ter solução melhor, sem sacrifício
de nenhuma das partes ou, se houver, será mínimo.
Todo matrimônio baseado no amor é feliz quando am-
bos os cônjuges se conhecem e não exigem um do outro
mais do que podem dar.
Um casamento sem amor raramente resiste às investi-
das do tempo, salvo quando ambos reconhecem que cada
um não pode dar mais do que dá e não exige nada além das
suas possibilidades. No matrimônio deve haver o mesmo
princípio que rege na amizade: não se deve exigir de um
amigo mais do que o amigo pode dar. Dentro dessa norma,
meio caminho andado.
O problema da fidelidade é um dos mais acabrunhantes.
Resolvê-lo por negação não é solucionar, mas esquivar-se
a uma solução. Dizer-se que o homem não pode ser fiel ou
230 Mark Kimball

que a mulher não pode ser fiel, é generalizar, é cometer o


mesmo erro de que já falamos antes.
Cada caso é um problema e oferece uma solução.
Não há necessidade de se ser extravagante no tocante à
fidelidade para se apresentar uma fórmula revolucionária.
O problema da fidelidade também tem solução, mas
cada caso oferece a sua solução.
Julgamos que o dever do escritor, neste caso, não é dar
uma fórmula geral, quase sempre falsa porque é particular
e muitas vezes singular e não satisfaz à maioria dos casos.
Man de antemão queremos frisar: as soluções gerais
são quase sempre falsas. As soluções devem ser especiais a
cada caso. E isto não nos cansaremos de repetir .1

1 Este tema é examinado no livro “Todos os dias são melhores”.


C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 231

Meditações
quotidianas

Lê diariamente estas páginas


e a tua vida se transformará!....
232 Mark Kimball
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 233

Estes princípios, leitor, deves lê-los o maior número de


vezes que te for possível. Com eles, a pouco e pouco, fun-
damentarás teu intimo e sobre ele construirás tua personal-
idade que te assegurará finalmente a vitória.
À força de se tornarem repetidos, tornar-se-ão também
numa segunda natureza tua e acabarás procedendo segundo
suas normas, quase instintivamente.
* * *
Não desprezes nunca os conselhos dos mais velhos.
Tu, em tua vida, tens muitos que aconselhar aos mais
jovens.
Pois os mais velhos que tu também tens muito para ac-
onselhar!
Por inteligência, deves aproveitar os conselhos dos
mais velhos e não julgares que eles são errados porque são
velhos.
Um dia, quando fores mais velho, também haverá quem
te julgue errado e terás ocasião de perceber quanto erraste
também na tua juventude por não acreditar na sabedoria dos
mais velhos.
Aproveita esta lição e não contribuas para que continue
234 Mark Kimball

um erro que só trouxe más consequências para os homens.


* * *
Estás perdido se acreditares na derrota.
Porque acredita na possibilidade de uma derrota é meia
derrota.
Tua vida, por mais pobre que seja, conhece vitórias.
Se conheces uma, podes conhecer duas.
Não creias na derrota. Nenhum vitorioso constrói
vitórias com o espírito dos derrotados.
Qualquer derrota não deve te abater e não te abaterá se
tiveres o espírito de compreendê-la como a antecedência de
uma futura vitória. Não há vitória sem luta. Não esqueças
nunca esta grande verdade.
* * *
Alegra-te com a alegria dos outros.
A compaixão consiste em sentires a mágoa, o sofrimen-
to dos que sofrem.
Pois aprende a sentir a alegria dos que se alegram.
O riso dos outros não é um roubo à tua felicidade.
Cada um que ri aumenta a alegria do mundo. E essa
alegria também te pertence. Também é tua.
* * *
Se beberes a água logo que te venha a sede, como
poderás gozar o prazer do copo d'água?
Espera um pouco mais e maior será o teu prazer.
Não tenhas pressa das satisfações, porque as satis-
fações prontamente obtidas não são tão plenas, e auxiliam
a formação do tédio.
Lutar contra o tédio consiste em não se entregar às sat-
isfações imediatas.
* * *
Que fizeste hoje para vencer tuas insatisfações?
* * *
Lembra-te que o que não podes resolver com calma,
muito pior resolverás com afobação.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 235

Para se resolver um grande problema é preciso antes de


tudo, calma, sangue frio.
Faze diariamente pequenos exercícios de autodomínio
de teus nervos.
Exercícios de paciência em cada instante de tua vida,
pois ela está sempre a te oferecer oportunidades para exer-
citar a tua paciência. Aproveita esses momentos para com
eles construíres a tua personalidade.
* * *
O domínio de ti mesmo depende do sangue frio.
Com ele podes vencer todas as situações difíceis e
graves.
Como adquirir o sangue frio?
Adquires pela perícia. Torna-te perito em alguma coisa
e obterás a fleuma. A fleuma te dará o sangue frio e este o
domínio necessário para enfrentares as situações difíceis e
obter a vitória.
Como adquirir a perícia?
A perícia se adquire em qualquer coisa: nos esportes,
no trabalho, no fazer alguma coisa. Procura adquirir uma
perícia nisto ou naquilo, depois outra e outra. O ciclo de teu
desenvolvimento decorrerá daí.
* * *
Faze diariamente a análise de tuas apreciações.
Tens sido otimista ou pessimista?
Tens aumentado no otimismo ou no pessimismo?
Aproveita toda ocasião para fazeres teus exercícios de
domínio do pessimismo e observares nas coisas e nas pes-
soas o que elas têm de bom.
* * *
Se queres gozar as tuas satisfações, põe sobre elas a
mesma atenção que pões sobre as tuas dores.
Goza os teus momentos de alegria como se eles fossem
eternos. Põe sobre eles toda a tua atenção.
* * *
236 Mark Kimball

Não temas ser justo. Ser justo, além de teu dever, é a


melhor ginástica de tua alma.
Um homem justo está melhor habilitado para vencer
na vida. Um justo ó sempre um forte. Todos admiram os
justos.
* * *
Sempre que julgares que é melhor o que pertence aos
outros, desconfia de ti.
Se invejares, és um “doente”. O que tens deves val-
orizar e também deves desejar o melhor para ti, mas esse
desejo nunca deve ser de tal forma que transforme tua vida
num inferno.
O que é teu, vale mais: lembra-te disto.
* * *
O que fizeste hoje para construir uma amizade?
* * *
Erraste hoje? Acusaste alguém do teu erro? Por que
não acusas a ti mesmo? E se erraste, por que pensares que
errarás sempre? E por que pensares que teu erro não tem
reparação? E por que não transformas teus erros na gênese
de uma vitória, no estímulo, ao menos, para uma vitória?
* * *
Quantas vezes hoje quiseste impor aos outros tuas id-
eias?
Respeitaste as ideias dos outros? Compreendeste que
outros têm também o direito de pensar diferentemente de ti?
* * *
Examinaste os teus atos praticados ontem?
Quantas coisas mal feitas fizeste que foram produto de
tuas emoções descontroladas?
Irás repeti-los hoje?
De tua análise podes concluir os erros e as causas dess-
es erros. E esse conhecimento já te dará a possibilidade de
evitá-los.
Conhecimento não é só virtude, é poder também. Con-
hecer é tornar-se poderoso.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 237

* * *
Dominaste hoje tuas emoções?
Dominaste teu medo? Deixaste que o embaraço se
apoderasse de ti? 
* * *
Faze todo o dia um exercício de desembaraço. Exper-
imenta a principio com pessoas simples, e fala-lhes com
naturalidade. Em pouco tempo adquirirás o desembaraço e
o domínio de ti mesmo, necessário para vencer aqueles que
julgas acima de ti.
* * *
Quantas vezes venceste hoje com a tua vontade um
forte impulso interior?
* * *
Se hoje andaste muito atarefado, apressado, daqui
para ali, aproveita alguns instantes para andar calmamente
e para realizar alguma coisa com toda a calma e lentidão.
Assim compensarás teus esforços despendidos e darás um
equilíbrio aos teus nervos, cujos efeitos benéficos são ex-
traordinários.
* * *
Uma dor física podes minorar com analgésicos. Uma
dor moral não a minoras com remédios. Só pensamentos el-
evados o a recordação dos momentos alegres auxiliar-te-ão
a vencer o teu sofrimento.
* * *
Se vires um homem que diz que anda sempre em busca
da felicidade e que se queixa de sua vida, podes estar certo
de que esse homem é infeliz, porque não quer ser feliz ou
não sabe ser feliz.
A felicidade não está longe nem perto de nós; nós é que
estamos longe ou perto da felicidade.
Quando a procuramos longe é porque dela nos afasta-
mos, quando a procuramos perto é porque dela nos aprox-
imamos.
238 Mark Kimball

Não temas em te aproximares da felicidade.


* * *
Ter bons pensamentos é armar-se contra todos os males,
é encouraçar-se contra os maus êxitos, é fortalecer-se con-
tra as derrotas.
Quem tem bons pensamentos sempre representa na
vida um belo papel. As coisas horrorosas só sucedem aos
homens que pensam “horrorosamente”. O abismo atrai o
abismo...
* * *
A morte que há em ti não deve te dominar.
Ela tenta invadir-te cada instante, mas poderás vencê-la
e para tanto bastará que o queiras.
* * *
Faze de tua imaginação a tua grande companheira. É
ela um bem que possuis e não deves perder. E podes aumen-
tar em valor sem que tires esse valor de quem quer que seja.
Deves evitar a imaginação mórbida que pode encher
tua vida de sonhos impossíveis e irreais. Mas tudo quanto
é real é possível. E se imaginas para ti o real, estás já no
caminho de obtê-lo.
Tua imaginação é tua companheira e não deves temê-
la, nem evitá-la. Ela encherá tua vida de uma outra vida e te
dará forças para venceres nos momentos mais difíceis.
* * *
Se Edison não fosse um imaginativo não teria sido Edi-
son. Nenhum grande homem teria sido grande sem a imag-
inação.
* * *
O entusiasmo deve acompanhar-te em cada um dos teus
atos. Ninguém realizou nada de grande sem o entusiasmo,
e tu não serás a exceção. Mas precisas incitar teu próprio
entusiasmo, animá-lo, desenvolvê-lo, dar-lhe o calor de que
necessita.
Diariamente deves revelar a ti mesmo cada um dos teus
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 239

atos. E ao examiná-los verás onde e quando puseste entu-


siasmo.
Tudo o que fizeres deve ser bafejado de entusiasmo.
Teu progresso se revelará a olhos vistos e em pouco tempo
admirarás a ti mesmo como algo de profundamente difer-
ente do que foste.
* * *
Escolhe diariamente algo que deves fazer. E põe nessa
função um grande entusiasmo. É fácil realizares esse ex-
ercício, pois até os ociosos sempre têm o que fazer.
Põe teu máximo entusiasmo e realizarás esse ato de ma-
neira surpreendente. Além disso terás nele um prazer que
desconhecias. Assim, a pouco e pouco, irás aumentando o
teu entusiasmo e alargando-o a duas, a três, a quatro, a cin-
co coisas que farás diariamente.
Em pouco tempo verificarás que o entusiasmo te é
necessário em tudo o que fazes. Neste momento terás al-
cançado o ponto mais elevado de tua vida e te terás tornado
um vencedor.
* * *
Conserva a tua liberdade respeitando a liberdade dos
outros.
Se és inimigo da liberdade és inimigo de ti mesmo.
* * *
A dignidade do homem é o seu valor e o seu mais alto
valor. Alimenta a dignidade e não te preocupes com o que
dizem todo! os que procuram, por todos os meios, tornar o
homem apenas um mero inseto, um simples número de uma
multidão amorfa.
Em cada um dos teus instantes deves verificar o que
pode pôr em perigo a tua dignidade, o que pode prejudicar
a tua personalidade.
Tu és o teu maior valor e tua maior fortuna. Sem ti mes-
mo, de que te valeriam todas as riquezas do mundo e toda a
felicidade possível?
240 Mark Kimball

Precisas antes de tudo ter a ti mesmo. E tu não és nem


serás tu mesmo se fores qualquer, se fores algo que não
vale nada, que pode ser substituível por qualquer outro. Tu
deves ser tu mesmo, tu, o insubstituível, o único que sucede
neste momento e que não deve ser confundido com quem
quer que seja.
Constrói tua personalidade; mas nunca a construirás
antes de ter atingido a tua dignidade.
A dignidade é teu bem maior, porque tu não és se não
fores digno.
* * *
A delicadeza é a tua arma secreta, tua arma poderosa
para vencer. Não temas ser delicado e procede sempre del-
icadamente. Se outros não o são, não te importes. Sê deli-
cado, repele-os com a tua delicadeza, ensina-os com a tua
delicadeza.
Um homem delicado é sempre bem recebido em
qualquer parte. Exercita diariamente a tua delicadeza, não
só nas tuas atitudes e gestos como nas tuas palavras e até
nas tuas ideias e apreciações.
Elas te darão uma força extraordinária para a tua luta
na vida.
* * *
Os que fazem rir aos outros são sempre simpáticos.
Sorri para todos e todos te quererão bem.
A seriedade é uma virtude também. Mas não confundas
seriedade com rosto macambúzio. Ser sério não é ter uma
cara patibular.
* * *
Não contes anedotas se não sabes contá-las. Nada mais
desagradável do que isso.
* * *
Aprende a ouvir. Todos gostam de ser ouvidos. Tu
também gostas de ser ouvido. Ouve sempre o que dizem até
o fim, depois também ouvirão o que desejas dizer.
C o n s t ró i Tu a Vi t ó r i a 241

* * *
Medita diariamente sobre o que encerram estas páginas.
Medita diariamente. Sentirás tua vida diferente, completa-
mente diferente, e que o mundo não é esse vale de lágrimas
de que falam.
Sentirás que tua vida se transfigura.

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