Você está na página 1de 24

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE


CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS
MORAIS E MATERIAIS. ARROMBAMENTO DE
VEÍCULO E FURTO DE PERTENCES DAS
AUTORAS EM ESTACIONAMENTO
DISPONIBILIZADO PELA RÉ. INDENIZAÇÃO
DEVIDA.
Comprovado nos autos a segurança falha
prestada aos clientes da parte ré -
caracterizando a ocorrência do §1º constante no
artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor -,
não aportando prova de algum fato extintivo,
impeditivo ou modificativo do direito posto na
inicial.
1. Dos danos materiais. Tendo a condenação da
ré bem se limitado a ressarcir apenas as perdas
efetivamente comprovadas pela parte autora,
não há falar em redução do quantum debeatur.
2. Dano moral. Ocorrência. Caráter pedagógico-
punitivo da indenização.

À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO


AO APELO DA RÉ E DERAM PROVIMENTO À
APELAÇÃO DA PARTE AUTORA.

APELAÇÃO CÍVEL SEXTA CÂMARA CÍVEL

Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472- COMARCA DE PORTO ALEGRE


31.2017.8.21.7000)

ELISABETH DENISE SZILAGYI APELANTE/APELADO

CARMEM SZILAGYI APELANTE/APELADO

COMPANHIA ZAFFARI COMERCIO E APELANTE/APELADO


INDUSTRIA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

1
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

Acordam os Desembargadores integrantes da Sexta Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar
provimento ao apelo da ré e em dar provimento à apelação da parte
autora.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente),


os eminentes Senhores DES. NEY WIEDEMANN NETO E DES.ª ELISA
CARPIM CORRÊA.

Porto Alegre, 29 de março de 2018.

DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA,


Relator.

RELATÓRIO

DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA (RELATOR)

Adoto o relatório da sentença, que passo a transcrever:

ELISABETH DENISE SZILAGYI e CARMEM SZILAGYI,


qualificadas na inicial, ajuizou AÇÃO DE INDENIZAÇÃO contra
COMPANHIA ZAFFARI COMÉRCIO E INDÚSTRIA, relatando que, no dia
20 de junho de 2015, às 17h06min, estacionaram no
estacionamento de uma das lojas da ré, ocasião em que o
automóvel foi arrombado e foram subtraídos diversos diversos bens
de seu interior.
Referiram que a demandada não prestou qualquer
assistência e que sofreram dano material, referente à aquisição de
outros bens, despesa com chaveiro e conserto do veículo.
Alegaram, ainda, ter experimentado dano moral, requerendo
a procedência da ação com a condenação do réu ao pagamento de
indenização. Por fim, pleitearam a concessão da gratuidade
judiciária, juntando documentos (folhas 07/31).
A gratuidade judiciária foi concedida (folha 32).

2
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

Citada, a demandada apresentou contestação (folhas 36/48)


sustentando ilegitimidade ativa em relação às despesas com
conserto do veículo.
Enfrentando o mérito, alegou que o cupom fiscal de compras
e o ticket de estacionamento, por si só, não servem como prova de
que as autoras estiveram no local, muito menos que o veículo foi
violado e os pertences furtados.
Afirmou que o boletim de ocorrência não tem força
probatória por ser unilateral e impugnou o valor pretendido a título
de dano material.
Defendeu a ausência de dano moral, reclamando a
improcedência da demanda.
Réplica às folhas 51/54.
Instadas quanto à produção de provas, apenas as autoras se
manifestaram, requerendo prova oral. Designada audiência de
instrução, posteriormente foi cancelada, em face da desistência da
prova.
Relatei.

Sobreveio dispositivo da sentença nos seguintes termos:

Diante do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE esta


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO proposta por ELISABETH DENISE SZILAGYI e
CARMEM SZILAGYI contra COMPANHIA ZAFFARI COMÉRCIO E
INDÚSTRIA para condenar a ré ao pagamento de R$ 2.719,00,
corrigido monetariamente pelo IGPM desde junho de 2015 e
acrescido de juros de 1% ao mês contados da citação.
Havendo sucumbência recíproca, cada parte arcará com a
verba honorária do seu patrono e as custas processuais serão
divididas pela metade, ficando suspensa a cobrança em relação às
autoras, porquanto litigam sob o pálio da gratuidade judiciária e
enquanto perdurar tal benefício.

Irresignadas, ambas as partes interpõem apelo.

Em suas razões recursais (fls.84/88), as autoras sustentam a


configuração dos danos morais in re ipsa, in casu, notadamente pelo fato
de ter sido subtraído o notebook de Elisabeth, com todo o material de
estudo para o concurso que iria prestar e fotos pessoais e de família.
Ressaltando, ainda, ser indubitável que o arrombamento de veículo em

3
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

estacionamento disponibilizado aos consumidores pelo supermercado e o


furto de bens que estavam em seu interior gera mais do que simples
transtornos, configurando verdadeiro dano moral, postula pela reforma
da sentença, sendo condenada a ré a indenizar. Requer, ainda, sejam
arbitrados honorários advocatícios sucumbenciais em favor de seu
patrono.

De outra banda, a ré, em seu apelo (fls. 89/96), sustenta


não haver prova suficiente e eficaz do fato que constitui o direito alegado
na inicial. Defende que a versão apresentada pelas requerentes é de todo
duvidosa, sendo possível pensar que o dito furto possa ter ocorrido em
qualquer outro local, anteriormente ou posteriormente à entrada das
demandantes ao estacionamento da ré. Salienta, inclusive, a falta de
cuidado das demandantes para com os bens que supostamente estariam
dentro do veículo arrombado, tendo, elas, pois, colaborado para a
ocorrência do fato. Deixa claro que, para haver ressarcimento dos danos
materiais, é preciso prova mínima da preexistência dos bens subtraídos e
indicação do efetivo desembolso dos valores reclamados, o que ora não
se verifica. Ressaltando, pois, a ausência dos requisitos caracterizadores
da responsabilidade civil, postula pela reforma da sentença, sendo
julgada integralmente improcedente a presente demanda. Para o caso de
entendimento diverso, requer a redução do quantum arbitrado a título
indenizatório.

As contrarrazões foram apresentadas pela parte autora às


fls. 100/104 e pela ré às fls. 105/111.

Após, vieram-me os autos conclusos para julgamento.

É o relatório.

VOTOS

DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA (RELATOR)

Eminentes Colegas.

4
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do


recursos.

Cuida-se de pretensão indenizatória por danos morais e


materiais suportados em decorrência de arrombamento de veículo e furto
de bens que se encontravam em seu interior, fatos ocorridos em junho de
2015, no estacionamento do supermercado da ré.

A ação foi julgada parcialmente procedente, nos seguintes


termos:

A questão posta em julgamento já foi por


diversas vezes submetida aos Tribunais
versando sobre o dever ou não de indenizar do
estabelecimento comercial que põe à
disposição de seus clientes estacionamento.
Nesse passo importante destacar a posição
exarada pelo Ministro Torreão Braz do egrégio
Superior Tribunal de Justiça, citado em
“Seleções Jurídicas” organizada por Sérgio
Couto:

“Não obstante a oposição de certa doutrina, o


fato é que a jurisprudência do STJ, com
elogiável acerto, assentou que a
responsabilidade do estabelecimento comercial
tem por fundamento o dever de guarda
decorrente da ficta traditio do veículo, pouco
importando que a sua subtração advenha de
furto ou de roubo, pois não se faz necessário
indagar da existência de culpa. Os tribunais, no
seu mister de julgar e dirimir conflitos, hão de
amoldar a rigidez dos conceitos jurídicos à
realidade da dinâmica social. É a jurisprudência
que, ao adaptar institutos a situações
emergentes da evolução do comércio jurídico,
cria direito novo a reger relações que
reclamam a tutela estatal. O depósito, no caso,
é mercantil porque comerciante o depositário,
cuja compensação consiste no lucro auferido
pelo aumento da clientela (Código Comercial,
artigo 280). Destarte, o depositário responde
pelo dano que a coisa depositada vier a sofrer,
salvo na hipótese de caso fortuito ou força
5
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

maior, ex vi do artigo 1.277 do Código Civil que


funciona como norma supletiva do Código do
Comércio.” (Obra citada, fevereiro/março 2001,
página 109).

Tal entendimento, inclusive, foi sumulado pelo


verbete 130 do STJ e atribuiu responsabilidade
aos estabelecimentos comerciais pelos furtos
ocorridos em suas dependências, pois, ao
oferecerem a seus clientes um local para
estacionamento de automóveis, assumem o
dever de guarda e proteção destes.
No caso em tela, as autoras, clientes da
demandada, tiveram o veículo em que estavam
arrombado no estacionamento da ré quando
realizavam compras, sendo furtados objetos
que estavam em seu interior, pleiteando,
assim, as despesas que tiveram com conserto
do automóvel, além do ressarcimento dos bens
que estavam no interior do veículo e
indenização por dano moral.
A prova produzida comprova, suficientemente,
a ocorrência do arrombamento do veículo e
furto dos objetos no estacionamento da ré.
Com efeito, importante mencionar que as
demandantes fizeram a prova que esteve a seu
alcance, havendo, na hipótese em análise,
elementos de convicção suficientes e que
permitem concluir pela ocorrência do furto dos
objetos do veículo, na forma como relatada na
inicial.
Com efeito, o boletim de ocorrência (folhas
15/17), o cupom fiscal (folha 19) e o ticket de
estacionamento (folha 14) estão datados de
20.06.2015. Ademais, conforme consta no
cupom fiscal, a entrada no estacionamento
ocorreu às 17h06min e o pagamento das
compras foi realizado às 17h42min, ao passo
que a comunicação de ocorrência foi efetuada
às 18h42min, ou seja, uma hora após o fato, o
que demonstra a verossimilhança dos fatos
relatados na exordial.
Quanto ao boletim de ocorrência, sabe-se que
ele, por si só, não gera presunção absoluta da
veracidade dos fatos, eis que apenas consigna
6
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

as declarações unilaterais relatadas pela parte


interessada. No entanto, no caso em tela, o
ticket de estacionamento e a nota fiscal
juntada comprovam a entrada no
estacionamento e a realização de compras no
supermercado Zaffari no mesmo dia e em
horário próximo àquele em que ocorreu o furto.
Como acima salientado, tem a ré o dever de
guarda dos veículos estacionados em suas
dependências, pois aufere lucro, direto ou
indireto, daí decorrente. Com efeito, as pessoas
que procuram, os supermercados que
disponham de estacionamento, o fazem,
notadamente, em face da segurança que lhes é
proporcionada.
Nesse passo, presente o dever de guarda
inerente ao depósito efetuado e demonstrado
que o automóvel estava estacionado no
estacionamento da demandada e dali foram
subtraídos bens de seu interior, deve a
demandada indenizar as autoras os danos
causados, mas não como postulado na inicial.
Com efeito, as autoras são partes ilegítimas
para postularem indenização pelo conserto do
veículo e despesas com chaveiro e extintor (fl.
24), , uma vez que o automóvel é de
propriedade do pai da autora Elisabeth, como
demonstra o certificado de registro e
licenciamento de veículo de folha 18.
Destaco, outrossim, que o conserto do veículo
sequer foi comprovado.
Quanto aos objetos que estavam no interior do
veículo e que foram furtados, destaco que o
arrombamento presume o furto.
Assim, devem ser ressarcidas as despesas
comprovadas às folhas 20, 21, 22, 25 e 27.
No tocante à indenização por dano moral,
destaco que o furto de veículo, por si só, não
gera a reparação pretendida, sendo apenas
causa de incômodo, aborrecimento presente no
dia a dia de grandes centros urbanos, mas,
sem, no entanto, caracterizar dano indenizável.
Destaco, por oportuno, que muito embora as
autoras afirmem que passaram por diversos
infortúnios em função do arrombamento do
7
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

automóvel e furto dos objetos que estavam em


seu interior, não comprovaram que tais fatos
lhes trouxeram sofrimento capaz de acarretar
danos de ordem psíquica.
Importante transcrever, a respeito, a lição do
Ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino:

“Alguns fatos da vida não ultrapassam a


fronteira dos meros aborrecimentos ou
contratempos. São os dissabores ou
transtornos normais da vida em sociedade, que
não permitem a efetiva identificação da
ocorrência de dano moral. Um acidente de
trânsito, por exemplo, com danos meramente
patrimoniais, constitui um transtorno para os
envolvidos, mas, certamente, não permite a
identificação, na imensa maioria dos casos, da
ocorrência de dano moral para qualquer deles.
(...).” [In Responsabilidade civil no código do
consumidor e a defesa do fornecedor; São
Paulo : Saraiva, 2002, p. 226].

Prossegue adiante o autor:

“Os simples transtornos e aborrecimentos


da vida social, embora desagradáveis, não
têm relevância suficiente, por si sós, para
caracterizarem um dano moral. (grifei)
Deve-se avaliar, no caso concreto, a extensão
do fato e suas conseqüências para a pessoa,
para que se possa verificar a ocorrência efetiva
de um dano moral. (...).” [op. cit., p. 226-7].

Nesse sentido, destaco os seguintes julgados:

RESPONSABILIDADE CIVIL. FURTO DE VEÍCULO


EM ESTACIONAMENTO DE SUPERMERCADO. Em
tendo sido oportunizado às partes a produção
de provas, não há falar em cerceamento de
defesa. Comprovado através do boletim de
ocorrência policial e cupom fiscal das compras
realizadas, que o autor deixou seu veículo no
estacionamento do réu, impõe-se ao
estabelecimento comercial o dever de indenizar
8
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

seu cliente pelo furto do automóvel


estacionado em suas dependências. Diante da
ausência de provas, resta afastado o pedido de
condenação da ré ao pagamento de diferenças
de valores gastos pelo autor com gasolina, em
decorrência do furto do veículo movido a
diesel. É sabido que ter o automóvel furtado
causa incômodo e dissabor. No entanto,
caracterizam aborrecimentos do dia-a-dia,
plenamente suportáveis e que não ensejam,
por si só, a alegada indenização por danos
morais. PRELIMINAR REJEITADA. APELAÇÃO DA
RÉ PROVIDA, EM PARTE. APELO DO AUTOR
IMPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70011550415,
Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Ana Maria Nedel Scalzilli, Julgado em
07/12/2005).

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL.


FURTO DE VEÍCULO EM ESTACIONAMENTO DE
SUPERMERCADO. DANOS MATERIAIS E MORAIS.
COMPENSAÇÃO DE HONORÁRIOS. 1. DANOS
MATERIAIS. Descabido o pleito de majoração da
verba indenizatória arbitrada a título de danos
materiais, considerando a admissibilidade do
valor fixado consoante estimativa da tabela
expedida pela Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas - FIPE, mormente se o valor
requerido pelo demandante está amparado tão-
somente em um anúncio veiculado em jornal,
refletindo a mera expectativa do vendedor,
bem como na única fotografia acostada, com
vista parcial lateral do veículo, com o objetivo
de comprovar as supostas características
peculiares do veículo, documento insuficiente
para corroborar o alegado. 2. DANOS MORAIS.
O mero furto do veículo não importa em danos
morais presumidos, sendo necessária a
comprovação do abalo alegadamente sofrido.
Na casuística, não se vislumbra a configuração
de dano moral, mas sim mero dissabor,
desconforto ou contratempo a que estão
sujeitos os indivíduos nas suas relações e
atividades cotidianas. Inoportuno considerar-se
qualquer espécie de descontentamento ou
aborrecimento incidente na esfera psíquica
9
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

como suficiente ao reconhecimento do dano


moral, sob pena de deturpação do instituto. Os
simples incômodos da vida moderna não
traduzem ofensa a direito de personalidade,
este sim passível de indenização. 3.
COMPENSAÇÃO DOS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. Consoante pacífico
entendimento do STJ, bem como desta Corte de
Justiça, é cabível a compensação dos
honorários advocatícios, nos termos do art. 21,
do CPC, ainda que uma das partes litigue ao
amparo da assistência judiciária gratuita.
NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME.
(Apelação Cível Nº 70020786695, Nona Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Odone
Sanguiné, Julgado em 31/10/2007).

No caso dos autos o que houve foi a ocorrência


de meros transtornos, aborrecimentos e
incomodações decorrentes do arrombamento
do veículo e furto de objetos, não podendo se
falar em dano moral.

No caso, estou em reformar a sentença, apenas no que diz


com o pleito indenizatório por danos morais.

Antes de mais nada, impositivo estabelecer a aplicabilidade


do CDC ao caso, pelo que responde objetivamente a ré,
independentemente de culpa, pelos fatos narrados e reclamados,
devendo a parte autora apresentar prova da conduta ilícita, o dano e o
nexo causal.

Por outro lado, para que não haja a responsabilização pelo


evento danoso, necessário se faz a apresentação de prova apta a afastar
o nexo de causalidade, a teor do artigo 14, §3º, do diploma consumerista,
o que acontece nas hipóteses de culpa exclusiva do consumidor e/ou de
terceiro ou, ainda, em caso fortuito ou de força maior.

Tangentemente à prova de furto de bens constantes em


veículo que encontrava-se dentro do estacionamento da ré, imperioso
10
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

referirmos sua dificuldade de produção. Neste aspecto, valho-me das


referências em relação à redução do módulo da prova, externadas pelo
então Desembargador Araken de Assis quando do julgamento da
apelação cível n.º 596252817, reproduzidas abaixo:

“‘Em primeiro lugar, há prova de que no dia do furto


procurou o preposto do supermercado denunciando o fato;
flagrante a sinceridade do motorista do veículo; mostra-se
admissível esta prova do furto através de testemunhas; não há
qualquer indício de prova. Mas o que importa aqui, do ponto de
vista jurídico, e não da matéria probatória, é que há um
conjunto de circunstâncias a gerar o chamado paradigma da
verossimilhança. Em alguns casos o órgão judiciário deve se
contentar com a chamada redução do módulo da prova, pois a
certeza é impossível de se atingir, principalmente no caso de
infração a certos deveres aqui de guarda’.
E menciona a monografia bastante conhecida de Gerhard
Walter, que foi traduzida para o espanhol, A livre apreciação da
prova, § 10, págs. 286-8, para concluir dizendo o seguinte:

‘Tal fenômeno, sem embargo da regra do art. 333,


inc. I, se reproduz nos casos de furto em
estabelecimento. É exatamente a hipótese dos
autos. Após a controvérsia sobre a questão de
direito, as atenções se voltam para a questão de
fato, cuja prova sempre é frágil. (...) Quando as
empresas passaram a controverter a questão do
fato com eficiência, então surgiu o problema:
como provar diretamente o furto? Por definição, o
fato se passa rapidamente, sem estrépito. Em
alguns casos, há o emprego de violência contra o
proprietário, mas a regra não é esta. O automóvel
é furtado sem que ninguém perceba. Como prová-
lo, e de que modo o cliente provará que conduziu
seu automóvel ao estacionamento? Ninguém vai
ao local imaginando tornar-se vítima de furto e
precavidamente recolhe testemunhas de que
estacionou seu veículo em certo espaço. Na
realidade, portanto, a espécie exige a chamada
redução do módulo da prova. De um lado, o
supermercado colabora com o evento, na medida
em que oferece o estacionamento e não o dota de
guarda eficiente; de outro, exigir-se-á apenas que
os indícios revelem a boa-fé do cliente e indiquem
razoavelmente a ocorrência do fato. Do contrário,

11
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

haverá uma aliança tácita do estabelecimento


comercial, que não guarda adequadamente os
veículos, com o que se mostraria pouco provável
sua condenação futura, com o autor do ilícito,
atraído por tal facilidade em detrimento dos
clientes, vítimas inocentes da falta de segurança.’”

Observadas estas anotações, na esteira do quanto exposto


em sentença, entendo que os documentos juntados os autos - em
especial o comprovante de estacionamento e o boletim de ocorrência -,
emprestam verossimilhança às alegações da parte autora, atestando que
as requerentes estavam com o seu automóvel no estabelecimento
quando da ocorrência do evento danoso.

De outro norte, ainda considerando a aplicação do Código de


Defesa do Consumidor ao caso concreto, caberia à parte demandada
fazer prova de que o veículo não estava em seu pátio, com a juntada das
filmagens do sistema interno de segurança ou outro meio de fiscalização,
o que não ocorreu na espécie.

Diante deste contexto, entendo restar comprovada nos autos


a segurança falha prestada aos clientes da parte ré - caracterizando a
ocorrência do §1º constante no artigo 14 do Código de Defesa do
Consumidor -, não se desincumbindo a mesma de provar algum fato
extintivo, impeditivo ou modificativo do direito da parte autora.

Por conseguinte, o nexo de causalidade é evidente, já que


presente a referida falha e os danos sofridos.

Em consoante pensamento:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MATERIAIS E MORAIS. FURTO DE
VEÍCULO EM ESTACIONAMENTO DE
SUPERMERCADO. LEGITIMIDADE ATIVA. Em que
pese o autor não tenha transferido para si a
titularidade do automóvel junto ao órgão de
trânsito, a juntada de procuração outorgada

12
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

pelo anterior proprietário, conferindo-lhe


amplos poderes para usar ou alienar o bem, é
suficiente para evidenciar a propriedade, que
nos bens móveis se transfere pela tradição.
Preliminar rejeitada. DEVER DE INDENIZAR. Os
estabelecimentos que, ao oferecerem a seus
clientes a comodidade de um local de
estacionamento para veículos, assumem o
dever de guarda e proteção sobre estes,
respondendo por furtos ocorridos nas suas
dependências. Precedentes jurisprudenciais.
Matéria sumulada pelo C. STJ (verbete 130).
Sendo a prova dos autos hábil à demonstração
de que o furto do veículo do autor ocorreu nas
dependências do estacionamento colocado à
disposição pelo demandado, está presente o
dever de indenizar. Condenação mantida.
PREJUÍZOS MATERIAIS. O dano patrimonial
sofrido pelo autor consiste no valor de mercado
do bem subtraído, na data em que o fato
danoso ocorreu. Sentença mantida, no ponto.
DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. Revendo
posicionamento anteriormente adotado,
entendo que o furto de veículo em
estacionamento colocado a disposição por
estabelecimento comercial ultrapassa os meros
transtornos, sendo a situação capaz de retirar a
vítima de seu equilíbrio emocional,
configurando-se verdadeiro dano moral. Ponto
em que vai mantida a sentença. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. MANUTENÇÃO. É cediço que,
na fixação da reparação por dano
extrapatrimonial, incumbe ao julgador,
atentando, sobretudo, para as condições do
ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado, e
aos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, arbitrar quantum que se preste à
suficiente recomposição dos prejuízos, sem
importar, contudo, enriquecimento sem causa
da vítima. Ao concreto, demonstrada a ilicitude
do ato praticado pela ré, e sopesadas as demais
particularidades do caso, entendo deva ser
mantida a verba indenizatória em R$ 7.000,00
(sete mil reais). JUROS DE MORA. TERMO
INICIAL. Em se tratando de responsabilidade
civil contratual, os juros de mora são devidos a
contar da citação, nos termos do art. 405 do
13
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

Código Civil. HIPÓTESE DE NEGATIVA DE


SEGUIMENTO À APELAÇÃO. (Apelação Cível Nº
70048026207, Décima Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Paulo Roberto Lessa
Franz, Julgado em 29/03/2012)

Apelação cível. Responsabilidade civil. Ação


indenizatória. Legitimidade ativa caracterizada
diante dos documentos acostados aos autos.
Furto de veículo em estacionamento de
supermercado. A responsabilização do
estabelecimento comercial pelo furto de veículo
ocorrido em seu estacionamento é matéria
pacífica e, inclusive, sumulada pelo STJ.
Inteligência da Súmula nº 130. Comprovação da
ocorrência. Imposição da redução do módulo de
prova. Conjunto probatório que evidencia a boa-
fé do cliente e indica razoavelmente a
ocorrência do fato. Presente o dever de
indenizar. Manutenção da verba indenizatória
fixada em sentença quanto ao dano moral. O
valor da indenização pelo dano moral deve ser
fixado, considerando a necessidade de punir o
ofensor e evitar que repita seu comportamento,
devendo se levar em conta o caráter punitivo
da medida, a condição social e econômica do
lesado e a repercussão do dano. Apelo não
provido. (Apelação Cível Nº 70056742364,
Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em
19/12/2013)

Apelação Cível. Recurso adesivo.


Responsabilidade Civil. Indenização. Furto de
veículo automotor em estacionamento. Danos
materiais. Dever de ressarcimento. Restou
comprovado nos autos o agir culposo da parte
demandada, representado pela segurança falha
prestada aos seus clientes - caracterizando a
ocorrência do §1º constante no artigo 14 do
Código de Defesa do Consumidor -, não
aportando prova de algum fato extintivo,
impeditivo ou modificativo. Outrossim, o nexo
14
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

de causalidade é evidentemente, já que


presente a referida falha e o dano sofrido pelo
autor. dano moral. ocorrência. Caráter
pedagógico-punitivo da indenização.
Manutenção do quantum debeatur. Aplicação
da súmula 54 do STJ. À unanimidade, negaram
provimento ao apelo da ré e deram parcial
provimento ao recurso adesivo. (Apelação Cível
Nº 70058763673, Sexta Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Luís Augusto Coelho
Braga, Julgado em 18/09/2014)

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL.


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAL
E MORAL. FURTO DE VEÍCULO EM
ESTACIONAMENTO DE SUPERMERCADO. DEVER
DE INDENIZAR CONFIGURADO. Trata-se de
recurso de apelação interposto contra a
sentença de procedência proferida nos autos
desta ação de indenização por danos material e
moral. A autora teve seu automóvel furtado no
interior do estacionamento do demandado
enquanto realizava compras, razão pela qual
busca a condenação da parte ré ao pagamento
de indenização por dano material,
relativamente ao valor do veículo, e dano
moral. DEVER DE INDENIZAR - A empresa que
oferece estacionamento a seus clientes
responde pela reparação dos danos no caso de
furto do veículo, nos termos da orientação
sumular nº 130 do STJ, o que decorre,
obviamente, dos deveres de guarda e
vigilância. "In casu", a prova dos autos
confortou as alegação da parte autora no
sentido de que o automóvel de sua propriedade
foi furtado no estacionamento pertencente ao
demandado. Dano material devidamente
comprovado. Dano moral "in re ipsa"
configurado. Assim, configurado o dever de
indenizar, nos termos dos artigos 186 e 927 do
Código Civil, impõe-se a manutenção da
sentença de procedência. "QUANTUM"
INDENIZATÓRIO - Na fixação do dano moral
deve-se ponderar sobre as condições
socioculturais e econômicas dos envolvidos, o
grau de reprovabilidade da conduta ilícita, a
15
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

gravidade do dano, bem como o caráter


punitivo-pedagógico e as  reparatório-
retributivas da condenação, de tal forma que a
quantia arbitrada não seja tão irrisória que sirva
de desestímulo ao ofensor, nem tampouco
exacerbada a ponto de implicar enriquecimento
ilícito para a parte autora. "In casu", a quantia
arbitrada na sentença, no valor de R$
15.000,00, mostra-se razoável, não merecendo
redução. APELAÇÃO DESPROVIDA, POR
MAIORIA, VENCIDO O VOGAL QUE DAVA
PARCIAL PROVIMENTO. (Apelação Cível Nº
70056742430, Sexta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Sylvio José Costa da Silva
Tavares, Julgado em 09/04/2015)

Considerando que são direitos básicos do consumidor a


efetiva reparação de danos patrimoniais e morais decorrentes do fato do
serviço, nos termos do artigo 6º, VI, do Código de Defesa do Consumidor;
requerendo, este caso, a aplicação da súmula 130 do STJ, segundo a qual
“A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo

ocorridos em seu estacionamento.”, impositivo o julgamento de parcial


procedência da ação, para reconhecer o direito da autora em receber
indenização pelos danos materiais, na forma estabelecida em sentença, e
pelo danos morais.

DOS DANOS MATERIAIS.

Quanto aos prejuízos patrimoniais suportados pela parte


autora, entendo que restaram satisfatoriamente demonstrados, como
adequadamente salientado pelo douto Magistrado, tendo a condenação
da ré bem se limitado a ressarcir apenas as perdas efetivamente
comprovadas pela parte autora, razão pela qual não há falar em
redução do quantum debeatur.

DOS DANOS MORAIS.

16
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

Quanto aos danos morais, prospera a pretensão inicial da


autora. Isto porque a situação versada nos autos, a meu ver, é suficiente
para causar danos morais, ultrapassando o mero aborrecimento ou
incômodo cotidiano à vida em sociedade, evidenciando desconsideração
absoluta à personalidade; portanto, recomendam aplicação de uma
indenização com função dissuasória, isto é, com finalidade pedagógico-
punitiva a fim de evitar-se repetidos acontecimentos, o que se faz
oportunamente.

Acerca do quantum indenizatório, tenho que o Julgador deve


levar em conta as condições econômicas e sociais do ofensor, a
gravidade da falta cometida e as condições do ofendido, não devendo a
verba enriquecê-lo ilicitamente, nem causar constrangimento econômico
à ré, sem perder de vista o caráter punitivo-pedagógico da pena.

Segundo Sérgio Cavalieri Filho:

Não há realmente, outro meio mais eficiente para fixar o


dano moral a não ser o arbitramento judicial. Cabe ao Juiz, de
acordo com o seu prudente arbítrio, atentando para a
repercussão do dano e a possibilidade econômica do ofensor,
estimar uma quantia a título de reparação pelo dano moral.
(...)
Creio que na fixação do quantum debeatur da
indenização, mormente tratando-se de lucro cessante e dano
moral, deve o Juiz ter em mente o princípio de que o dano não
pode ser fonte de lucro. A indenização, não há dúvida, deve ser
suficiente para reparar o dano, o mais completamente possível,
e nada mais. Qualquer quantia a maior importará em
enriquecimento sem causa, ensejador de novo dano.
Creio, também, que este é outro ponto onde o princípio da
lógica do razoável deve ser a bússola norteadora do julgador.
Razoável é aquilo que é sensato, comedido, moderado; que
guarda uma certa proporcionalidade. A razoabilidade é o
critério que permite cotejar meios e fins, causas e
conseqüências, de modo a aferir a lógica da decisão. Para que
a decisão seja razoável é necessário que a conclusão nela
estabelecida seja adequada aos motivos que a determinaram;
que os meios escolhidos sejam compatíveis com os fins

17
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

visados; que a sanção seja proporcional ao dano. Importa dizer


que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia
que, de acordo com o seu prudente arbítrio, seja compatível
com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e
duração do sofrimento experimentado pela vítima, a
capacidade econômica do causador do dano, as condições
sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que se
fizerem presentes.

Assim, atento aos aspectos antes referidos, fixo esta


indenização em R$ 3.000,00, com correção pelo IGPM a contar desta data
e juros de 1% ao mês, desde a citação, por se tratar de responsabilidade
contratual, nos termos dos arts. 405 do CC e 240 do CPC/15.

A saber:

Art. 405 do CC. Contam-se os juros de


mora desde a citação inicial.

Art. 240.  A citação válida, ainda quando


ordenada por juízo incompetente, induz
litispendência, torna litigiosa a coisa e
constitui em mora o devedor, ressalvado o
disposto nos arts. 397 e 398 da Lei
no  10.406, de 10 de janeiro de 2002
(Código Civil).

ISSO POSTO, nego provimento ao apelo da ré e dou


provimento ao apelo da parte autora, para condenar a demandada,
ainda, ao pagamento de R$ 3.000,00 à título de danos morais, valor a ser
acrescido de correção monetária (IGPM) a partir deste julgamento e juros
de 1% ao mês, contados da citação.

Diante do decaimento mínimo da parte autora, fica a ré


responsável pelo pagamento da integralidade das custas processuais e
honorários devidos à parte adversa, que ora vão fixados em 20% sobre o
valor da condenação, nos termos do art. 85, § 2º do CPC/15.
18
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

É o voto.

Com a máxima vênia, estou em reformar a sentença no


tocante ao pleito indenizatório por danos morais.

Como se vê, não há controvérsia, mais, sobre a ocorrência


do furto e sobre o fato do crime ter se dado dentro do estacionamento
disponibilizado pela requerida. A questão que ora passo analisar é se o
caso, de fato, enseja indenização por danos morais.

E, neste caso, a resposta é positiva.

No meu entender, prospera a pretensão da autora, neste


ponto. Isto porque a situação versada nos autos é suficiente para causar

19
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

danos morais, ultrapassando o mero aborrecimento ou incômodo


cotidiano à vida em sociedade, evidenciando desconsideração absoluta à
personalidade; portanto, recomendam aplicação de uma indenização com
função dissuasória, isto é, com finalidade pedagógico-punitiva a fim de
evitar-se repetidos acontecimentos, o que se faz oportunamente.

Neste sentido, este Colegiado vem decidindo:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL.


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAL
E MORAL. FURTO DE VEÍCULO EM
ESTACIONAMENTO DE SUPERMERCADO. DEVER
DE INDENIZAR CONFIGURADO. Trata-se de
recurso de apelação interposto contra a
sentença de procedência proferida nos autos
desta ação de indenização por danos material e
moral. A autora teve seu automóvel furtado no
interior do estacionamento do demandado
enquanto realizava compras, razão pela qual
busca a condenação da parte ré ao pagamento
de indenização por dano material,
relativamente ao valor do veículo, e dano
moral. DEVER DE INDENIZAR - A empresa que
oferece estacionamento a seus clientes
responde pela reparação dos danos no caso de
furto do veículo, nos termos da orientação
sumular nº 130 do STJ, o que decorre,
obviamente, dos deveres de guarda e
vigilância. "In casu", a prova dos autos
confortou as alegação da parte autora no
sentido de que o automóvel de sua propriedade
foi furtado no estacionamento pertencente ao
demandado. Dano material devidamente
comprovado. Dano moral "in re ipsa"
configurado. Assim, configurado o dever de
indenizar, nos termos dos artigos 186 e 927 do
Código Civil, impõe-se a manutenção da
sentença de procedência. "QUANTUM"
INDENIZATÓRIO - Na fixação do dano moral
deve-se ponderar sobre as condições
socioculturais e econômicas dos envolvidos, o
grau de reprovabilidade da conduta ilícita, a
gravidade do dano, bem como o caráter
punitivo-pedagógico e as  reparatório-
retributivas da condenação, de tal forma que a
20
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

quantia arbitrada não seja tão irrisória que sirva


de desestímulo ao ofensor, nem tampouco
exacerbada a ponto de implicar enriquecimento
ilícito para a parte autora. "In casu", a quantia
arbitrada na sentença, no valor de R$
15.000,00, mostra-se razoável, não merecendo
redução. APELAÇÃO DESPROVIDA, POR
MAIORIA, VENCIDO O VOGAL QUE DAVA
PARCIAL PROVIMENTO. (Apelação Cível Nº
70056742430, Sexta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Sylvio José Costa da Silva
Tavares, Julgado em 09/04/2015)

Apelação Cível. Recurso adesivo.


Responsabilidade Civil. Indenização. Furto de
veículo automotor em estacionamento. Danos
materiais. Dever de ressarcimento. Restou
comprovado nos autos o agir culposo da parte
demandada, representado pela segurança falha
prestada aos seus clientes - caracterizando a
ocorrência do §1º constante no artigo 14 do
Código de Defesa do Consumidor -, não
aportando prova de algum fato extintivo,
impeditivo ou modificativo. Outrossim, o nexo
de causalidade é evidentemente, já que
presente a referida falha e o dano sofrido pelo
autor. dano moral. ocorrência. Caráter
pedagógico-punitivo da indenização.
Manutenção do quantum debeatur. Aplicação
da súmula 54 do STJ. À unanimidade, negaram
provimento ao apelo da ré e deram parcial
provimento ao recurso adesivo. (Apelação Cível
Nº 70058763673, Sexta Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Luís Augusto Coelho
Braga, Julgado em 18/09/2014)

Apelação cível. Responsabilidade civil. Ação


indenizatória. Legitimidade ativa caracterizada
diante dos documentos acostados aos autos.
Furto de veículo em estacionamento de
supermercado. A responsabilização do
estabelecimento comercial pelo furto de veículo
ocorrido em seu estacionamento é matéria
pacífica e, inclusive, sumulada pelo STJ.
Inteligência da Súmula nº 130. Comprovação da
21
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

ocorrência. Imposição da redução do módulo de


prova. Conjunto probatório que evidencia a boa-
fé do cliente e indica razoavelmente a
ocorrência do fato. Presente o dever de
indenizar. Manutenção da verba indenizatória
fixada em sentença quanto ao dano moral. O
valor da indenização pelo dano moral deve ser
fixado, considerando a necessidade de punir o
ofensor e evitar que repita seu comportamento,
devendo se levar em conta o caráter punitivo
da medida, a condição social e econômica do
lesado e a repercussão do dano. Apelo não
provido. (Apelação Cível Nº 70056742364,
Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em
19/12/2013)

Acerca do quantum indenizatório, tenho que o Julgador deve


levar em conta as condições econômicas e sociais do ofensor, a
gravidade da falta cometida e as condições do ofendido, não devendo a
verba enriquecê-lo ilicitamente, nem causar constrangimento econômico
à ré, sem perder de vista o caráter punitivo-pedagógico da pena.

Segundo Sérgio Cavalieri Filho:

Não há realmente, outro meio mais eficiente


para fixar o dano moral a não ser o
arbitramento judicial. Cabe ao Juiz, de acordo
com o seu prudente arbítrio, atentando para a
repercussão do dano e a possibilidade
econômica do ofensor, estimar uma quantia a
título de reparação pelo dano moral.
(...)
Creio que na fixação do quantum debeatur da
indenização, mormente tratando-se de lucro
cessante e dano moral, deve o Juiz ter em
mente o princípio de que o dano não pode ser
fonte de lucro. A indenização, não há dúvida,
deve ser suficiente para reparar o dano, o mais
completamente possível, e nada mais.
Qualquer quantia a maior importará em
22
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

enriquecimento sem causa, ensejador de novo


dano.
Creio, também, que este é outro ponto onde o
princípio da lógica do razoável deve ser a
bússola norteadora do julgador. Razoável é
aquilo que é sensato, comedido, moderado;
que guarda uma certa proporcionalidade. A
razoabilidade é o critério que permite cotejar
meios e fins, causas e conseqüências, de modo
a aferir a lógica da decisão. Para que a decisão
seja razoável é necessário que a conclusão nela
estabelecida seja adequada aos motivos que a
determinaram; que os meios escolhidos sejam
compatíveis com os fins visados; que a sanção
seja proporcional ao dano. Importa dizer que o
juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma
quantia que, de acordo com o seu prudente
arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade
da conduta ilícita, a intensidade e duração do
sofrimento experimentado pela vítima, a
capacidade econômica do causador do dano, as
condições sociais do ofendido, e outras
circunstâncias mais que se fizerem presentes.

Assim, atento aos aspectos antes referidos, bem como


levando em consideração os valores habitualmente arbitrados por este
Colegiado em casos análogos, reduzo a indenização para R$ 3.000,00
(mantidos os critérios de correção monetária e juros de mora arbitrados
na sentença).

No tocante aos lucros cessantes, absolutamente correta a


sentença, que afastou este pedido. Ora, como é cediço, eventuais lucros
não auferidos não são presumíveis, exigindo que a parte requerente faça
importanrte prova a este respeito, o que, nos presentes autos, à toda
evidência, inocorreu. Aliás, como bem salientado pelo Juízo a quo, “tendo a
parte autora adquirido novo veículo após a ocorrência do furto, em tese, nada deixou de

lucrar”, o que impõe o afastamento desta pretensão.

23
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LACB
Nº 70075143578 (Nº CNJ: 0278472-31.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

Por fim, não há falar em condenação do demandado às


penas por litigância de má-fé, pois não verificável a ocorrência de
nenhuma das hipóteses previstas nos incisos do art. 80 do CPC/15.

ISSO POSTO, dou parcial provimento ao apelo do réu, para,


apenas, reduzir a indenização por danos morais devida à autora, nos
termos acima delineados. De outro norte, nego provimento ao recurso
adesivo.

É o voto.

DES. NEY WIEDEMANN NETO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES.ª ELISA CARPIM CORRÊA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA - Presidente - Apelação Cível nº


70075143578, Comarca de Porto Alegre: "“À UNANIMIDADE, NEGARAM
PROVIMENTO AO APELO DA RÉ E DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO DA
PARTE AUTORA.”"

Julgador(a) de 1º Grau: OYAMA ASSIS BRASIL DE MORAES

24

Você também pode gostar