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FACULDADE PAULUS DE COMUNICAÇÃO

YANCA NAZÁRIO TAVEIRA PALUMO

A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DA AMÉRICA LATINA ATRAVÉS


DAS NARRATIVAS DE BLOGS ESPECIALIZADOS EM TURISMO

São Paulo
2019
FACULDADE PAULUS DE COMUNICAÇÃO

YANCA NAZÁRIO TAVEIRA PALUMO

A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DA AMÉRICA LATINA ATRAVÉS


DAS NARRATIVAS DE BLOGS ESPECIALIZADOS EM TURISMO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Banca Avaliadora da FAPCOM - Faculdade Paulus
de Comunicação, como exigência parcial para a
obtenção do título de bacharel em Comunicação
Social, com habilitação em Jornalismo, sob
orientação da Prof. Me. Fernanda Iarossi.

São Paulo
2019
Palumo, Yanca Nazário Taveira.
A construção identitária da América Latina através das narrativas de
blogs especializados em turismo / Yanca Nazário Taveira Palumo. - 2019.
98 f. : il.; 30 cm.

Trabalho de Conclusão de Curso - Faculdade Paulus de Comunicação,


São Paulo, 2019.
“Orientação: Prof. Me. Fernanda Iarossi.”

I. Palumo Yanca. II. Título


YANCA NAZÁRIO TAVEIRA PALUMO

A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DA AMÉRICA LATINA ATRAVÉS


DAS NARRATIVAS DE BLOGS ESPECIALIZADOS EM TURISMO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Banca Avaliadora da FAPCOM - Faculdade Paulus
de Comunicação, como exigência parcial para a
obtenção do título de bacharel em Comunicação
Social, com habilitação em Jornalismo, sob
orientação da Prof. Me. Fernanda Iarossi.

São Paulo, _____ de dezembro de 2019.

_____________________________________ _____________________________________

_____________________________________

São Paulo
2019
Em tempos de conflitos e resistências latino americanas,
recordo Victor Jara e repito de maneira dedicatória: “el
derecho de vivir en paz”.
AGRADECIMENTOS

Por infinito incentivo e apoio aos estudos desde a infância, agradeço à minha mãe e
meu padrasto. Sou grata ao meu companheiro Ítalo, por acreditar em mim mais do
que eu mesma e oferecer acalento nas pirações estudantis e cotidianas.
Por embarcar pacientemente nessa viagem acadêmica comigo, agradeço à minha
orientadora Fernanda, que me proporcionou autonomia para trilhar e descobrir os
incontáveis caminhos dessa pesquisa.
Por fim, ressalto ainda meu sincero obrigada aos professores e professoras desta
instituição, que contribuíram de modo imensurável em minha formação como
jornalista e ser humano.
RESUMO

PALUMO, Yanca Nazário Taveira. ​A construção identitária da América Latina


através dos blogs especializados em turismo​. São Paulo, 2019. 98 f. (Trabalho de
Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Paulus de Comunicação, para a
obtenção do título de bacharel em Comunicação Social, com habilitação em
Jornalismo).

Tendo em vista a influência das mídias digitais na sociedade, este trabalho visa
analisar como as narrativas utilizadas em blogs de turismo constroem a identidade
da América Latina. A base da pesquisa será a partir do levantamento de aspectos
culturais e sociais da prática do turismo e das formas de comunicação, visando o
estudo das características das mídias digitais. Além disso, há um mapeamento
das categorias de blogs e os formatos de produção de conteúdo e interação na
plataforma, e o levantamento dos elementos narrativos apontados por Stuart Hall.
Com isso, espera-se compreender como jornalistas blogueiros podem contribuir na
maneira como a América Latina é compreendida em seu fator identitário.

Palavras-chave: ​Turismo; Blogs; Narrativas; Identidade; Jornalismo; Viagem.


ABSTRACT

PALUMO, Yanca Nazário Taveira. ​Identity building in Latin America through


specialized tourism blogs.​ São Paulo, 2019. 98 f. (Tem paper present do the
Faculdade Paulus de Comunicação, to obtain a Bachelor degree in Social
Communication with specialization in Journalism.

Given the influence of digital media on society, this paper aims to analyze how the
narratives used in tourism blogs build the identity of Latin America. The research
base will be based on the survey of cultural and social aspects of tourism practice
and the forms of communication, monitoring or study of the characteristics of digital
media. In addition, there is a mapping of blogging categories and formats of
content production and interaction on the platform, and the survey of narrative
elements pointed out by Stuart Hall. With this, we hope to understand how blogging
journalists can contribute in the way that Latin America is understood in its identity
factor.

Keywords: ​Tourism; Blogs; Narratives; Identity; Journalism; Travel.


LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - ​Publicações destinadas aos países da América Latina ……………....71


GRÁFICO 2 - ​Publicações destinadas aos países da América Latina ……………....74
GRÁFICO 3 - ​Publicações destinadas aos países da América Latina ……………....77
LISTA DE IMAGENS

IMAGEM 1 - ​Home do blog ​Esse Mundo é Nosso​ …………………………….………69


​ ………………………………...…….….72
IMAGEM 2 - ​Home do blog ​Pé na Estrada …
IMAGEM 3 - ​Home do blog ​360Meridianos​ ……………………………………...…….75
IMAGEM 4 - ​Texto: “O que fazer em Colonia del Sacramento, no Uruguai” …..…...78
IMAGEM 5 - ​Texto: “Sán Angel, um charmoso bairro colonial na Cidade do Méx.”..79
IMAGEM 6 - ​Texto: “Roteiro para Cuba: 10 dicas incríveis de viagem pelo país” ....80
IMAGEM 7 - ​Texto: “Santuário de Anchieta, o apóstolo do Brasil” …………………..81
IMAGEM 8 - ​Texto: “Escolha comer em Cusco, no Peru” …………………………….82
IMAGEM 9 - ​Texto: “Descubra o que fazer em Sucre, na Bolívia” …………………..83
IMAGEM 10 - ​Texto: “As múmias das crianças incas de Salta” …………...….……..84
IMAGEM 11 - ​Texto: “Mercado Sonora, bruxaria e esoterismo na Cid. do Méx.”......84
IMAGEM 12 - ​Texto: “10 cidades mágicas para conhecer o México” …………….....84
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - ​Lista de postagens no blog Esse Mundo é Nosso …………………….70


QUADRO 2 - ​Lista de postagens no blog Pé na Estrada ………………...…….……..73
QUADRO 3 - ​Lista de postagens no blog 360Meridianos ……………….…………....76
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO​ ……………………………………………………………………………..11
1. A EVOLUÇÃO DO TURISMO​ ………………………………………………………...14
1.1 Por que o homem se locomove?​ ………………………………………….15
1.2 Os avanços tecnológicos e ascensão dos serviços turísticos​ ...…...17
2. A COMUNICAÇÃO DIGITAL E OS BLOGS TURÍSTICOS​ ………………............22
2.1 A tecnologia em prol da comunicação​ ………………….……………….23
2.2 Troca de informações no ambiente digital​ ……………………….……..24
2.3 Blogs e o turismo​ …………………………………….………...……………26
3. JORNALISMO DE TURISMO​ ………………………………………………………...31
3.1 Conceituando o jornalismo​ …………………………………………....…..31
3.2 As quatro fases do jornalismo​ ………….……………………….......……32
3.3 Jornalismo especializado​ ………………………………………….……....45
3.4 Jornalismo Turístico​ ………………...…………………………...….……...49
4. A NARRATIVA E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA​ …………..56
4.1 A estrutura narrativa​ ………………………………………………….……..57
4.2 Narrativas de viagens​ ………………………………………………….…....59
4.3 Concepção de identidade​ ……………………………………………….….63
4.4 Elementos narrativos propostos por Stuart Hall​ ……………….……...65
5. O USO DOS ELEMENTOS NARRATIVOS NA CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DA
AMÉRICA LATINA​ ………………………………………………………………....……..68
5.1 Esse Mundo é Nosso​ ……………………………………………….……….68
5.2 Pé na Estrada​ ………………………………………………………….……...71
5.3 360Meridianos​ ……………………………………………………....………..74
5.4 Análise​ …………………………………………………………….……...…...77
CONSIDERAÇÕES FINAIS​ ………………………………………………….…………..85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS​ ……………………………………….……....…...87
REFERÊNCIAS WEBGRÁFICAS​ ……………………………………….…….…...…...91
APÊNDICES​ …………………………………………………………………….…...…....97
Apêndice A - Cronograma​ …………………………………………….………..97
Apêndice B - Diário de bordo​ ……………………………………………....….98
INTRODUÇÃO

O verbo viajar faz parte hoje da realidade de pelo menos 1,2 milhão de
pessoas. Esse número é referente à quantidade de brasileiros que viajaram para o
exterior em 2018, segundo dados da Associação Brasileira das Operadoras de
Turismo1 (Braztoa).
O turismo é o responsável pela interação entre povos e o contato com novas
culturas. Até pouco tempo, o que se sabia de outros países e culturas vinha, para a
maior parte da população, por meio das revistas especializadas e principalmente da
televisão. Viajar para fora do Brasil era uma oportunidade destinada a poucos.
No entanto, ainda que diante de cenários econômicos conflituosos, o turismo
hoje integra um mercado dinâmico que apresenta constante renovação devido às
diversas ofertas e competitividade. Neste mesmo caminhar estão os meios de
comunicação que crescem e se difundem incessantemente, gerando uma forte troca
de informações e opiniões acerca de todo e qualquer conteúdo. Um exemplo que
traz essa ideia à tona é a internet e os conteúdos produzidos para as plataformas
digitais. Esse meio de comunicação é responsável não somente por transmitir
informações, mas também por exercer influência direta no modo de ser e pensar da
sociedade, interferindo no olhar acerca de valores, relações e subjetividades.
Dentro dessas produções para a internet é possível se deparar com a
indústria audiovisual, um termo genérico que se refere às formas de comunicação
que combinam som e imagem. Essa prática pode estar ligada, mesmo que de modo
indireto, à ascensão do turismo e também à maneira como determinados locais são
compreendidos pela sociedade, assim, o papel que o jornalista exerce ao distribuir
conteúdos acerca de países e regiões é de suma importância na construção
identitária destes, visto que há uma considerável potência nas narrativas turísticas
quando se trata da ressignificação e reinventação.

[...] viagem e narrativa, narrativa e viagem são experiências que podem


auxiliar os sujeitos - individuais e coletivos - a romperem a cegueira dos

1
BRAZTOA, Associação Brasileira das Operadoras de Turismo. Braztoa divulga faturamento de
R$12,22 bilhões das operadoras de turismo em 2017. Disponível em:
http://braztoa.com.br/braztoa-divulga-faturamento-de-r-1222-bilhoes-das-operadoras-de-turismo-em-2
017/​.
dias, do cotidiano maquinizado em engrenagens
subjetivo-sociais-produtivas, para ajudá-los a verem-se de maneiras
diferentes. (BAPTISTA, 2019, p. 20).

Partindo deste princípio, essa pesquisa se propõe a analisar como as


narrativas de viagens escritas por jornalistas em blogs de turismo constroem a
identidade da América Latina. Como hipótese à questão elencada, há o argumento
de que as narrativas online, ancoradas no processo de globalização, trouxeram à
tona o processo de desintegração identitária e, em seguida, de reconstrução. Isso
porque não há aprofundamento por parte dos jornalistas que produzem os
conteúdos, mantendo-se na margem do que é apresentado corriqueiramente, sem
levar em consideração verdadeiros atributos culturais. A identidade, por sua vez, fica
à mercê dos processos comunicacionais com aspectos comerciais, que estimulam a
massificação do consumo cultural e a reformula a partir de contextos considerados
benéficos para outrem.
Para traçar este caminho, mantivemos como objetivo geral compreender a
estrutura dos elementos narrativos em blogs especializados em turismo no Brasil. Já
no que diz respeito aos objetivos específicos, houve: levantamento de aspectos
culturais e sociais da prática do turismo e das formas de comunicação, a fim de
compreender a relação entre eles; o estudo das características de mídias digitais
com ênfase nos blogs; a abordagem do jornalismo especializado em turismo com os
autores e o estudo acerca de recursos narrativos e processos de construção da
identidade.
Assim, no primeiro capítulo discorremos sobre o conceito de turismo e os
motivos que levam o homem a se locomover, baseado nos autores Ignarra (2013),
Yasoshima (2002) e Santos (2010). Além disso, tratamos da evolução do turismo
aliada aos avanços tecnológicos e à ascensão dos serviços turísticos a partir de
Trigo (2013) e Rejowski (2002). O segundo capítulo se volta à comunicação digital e
seus ambientes, dando foco aos blogs de turismo e ressaltando a troca de
informações nestes espaços com Martino (2015), Bittencourt (2016) e Orduña
(2007).
No capítulo seguinte, são expostos os conceitos de jornalismo e suas quatro
fases, de acordo com Marcondes Filho (2009), seguindo até o jornalismo
especializado e voltado ao turismo, a fim de expor as características do exercício.
Em um quarto momento, debruçamo-nos nas narrativas, abordando estrutura e
aspectos relacionados às narrativas de viagens, aliado às concepções de identidade
com os autores Barthes (2008), Sodré (2009), Bertocchi (2006), Hall (2006) e
Ferreira (1995). Neste mesmo capítulo trazemos à tona os cinco elementos
narrativos propostos por Stuart Hall (2006), que será a base para nossa análise.
Por fim, o quinto e último capítulo expõe um panorama dos blogs ​Esse Mundo
é Nosso2, ​Pé na Estrada3 ​e ​360Meridianos4, plataformas escolhidas para realizarmos
a análise acerca dos processos identitários, que por sua vez se destrincha também
neste capítulo. Salientamos que ao escolher os blogs que seriam analisados, foram
levados em consideração três critérios: 1) conteúdos devem ser escritos por
jornalistas; 2) o blog deve possuir relatos de, pelo menos, seis países da América
Latina; 3) as experiências partilhadas não podem ser oriundas de branded content.
Metodologicamente, essa pesquisa é de cunho teórico-analítico, desenvolvida
a partir de revisões bibliográficas e observações empíricas dos blogs citados acima.
Isso porque o estudo tem como objetivo chegar a uma conclusão a partir da
experiência de outro autor, no caso, Stuart Hall (2006), com seus elementos
narrativos.

2
Disponível em: ​https://www.essemundoenosso.com.br/
3
Disponível em: ​https://www.penaestrada.blog.br/
4
Disponível em: ​https://www.360meridianos.com/
1. A evolução do turismo

O turismo está relacionado à circulação de pessoas entre as mais diversas


culturas e lugares. A Organização Mundial do Turismo (OMT) define que o turismo
“engloba as atividades das pessoas que viajam e permanecem em lugares fora de
seu ambiente usual durante não mais do que um ano consecutivo, por prazer,
negócios ou outros fins.” (IGNARRA, 2013, p. 15). Em contrapartida, para Oscar de
la Torre (2013):

O turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e


temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por
motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de
residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade
lucrativa nem remunerada. (DE LA TORRE apud IGNARRA, 2013, p. 15).

Desse modo, é possível perceber as divergências nos conceitos de turismo,


mas tendo em vista o investimento financeiro de quem viaja e levando em
consideração as pessoas que o fazem a fim de fechar negócios ou obter lucros,
Ignarra (2013) alega que, apesar de grande parte das definições não levarem em
consideração o turismo oriundo de negócios, essa vertente não pode ser anulada,
pois é responsável por parte considerável na demanda de meios de transporte,
hospedagens, locação de veículos e espaços para eventos.
Apesar do confronto de conceitos, em determinado aspecto Ignarra (2013)
entra em concordância com Oscar de La Torre (2013) e defende que o turismo é “o
deslocamento de pessoas de seu local de residência habitual por períodos
determinados e não motivados por razões de exercício profissional constante.” Ou
seja, para o autor, uma pessoa que viaja com frequência a fim de resolver e/ou
participar de pautas vinculadas ao âmbito profissional, não estão exercendo o papel
de turista. Ainda que haja complexidade na definição do termo “turismo”, é possível
compreender que o turista busca por momentos de descanso e lazer, como também
se locomove à procura de ganhos financeiros. Além disso, demanda disponibilidade
de recursos financeiros e tempo para realizar. Não é considerado um turista alguém
que “está temporariamente longe de seu ambiente de moradia, mas de forma
involuntária, por exemplo, em situações de guerra, desastres naturais ou outras
crises”. (COOPER; HALL; TRIGO, 2011, p. 11).
Reforçando os conceitos citados acima, Brito (1999) explica que o turismo é
um fenômeno humano de característica social, que parte do deslocamento
temporário e limitado, em que o viajante retorna ao seu local de residência. Ela
complementa ainda que, ao viajar, o turista lida com a “descoberta de elementos
sócio-culturais diversos do seu quadro de referência de origem, podendo verificar-se
processos de aculturação.” (Brito, 1999, p. 2).
Diante do olhar antropológico da autora Maio (2006), o turismo é intrínseco ao
desenvolvimento da globalização, sendo impossível separá-los. Para ela, essa
afirmativa

[...] está considerando que o turismo se desenvolva dentro da lógica


capitalista que se processa o nível global. Refletir dessa forma leva a
entender o desenvolvimento do turismo como parte integrante de um
processo maior que se chamará genericamente de globalização. (MAIO,
2006, p. 5).

1.1 Por que o homem se locomove?

É sabido que o ser humano viaja desde a pré-história, já o motivo que levava
o homem pré-histórico a se locomover entre um território e outro, não é o mesmo
que experienciamos hoje.

A história das viagens confunde-se com a própria história da humanidade,


pois os deslocamentos sempre acompanharam o desenvolvimento humano.
O homem pré-histórico se deslocava em busca de alimentos e proteção,
respondendo ao instinto natural de sobrevivência e de defesa.
(YASOSHIMA; OLIVEIRA, 2002, p. 17).

Assim, conforme explica Santos (2010, p. 08), no Período Paleolítico, entre


2,5 milhões de anos a.C. e 10.000 a.C., “os primeiros humanos viviam migrando de
um território para outro em busca de alimentos, pois viviam da caça e da pesca e
não dominavam o modo agrícola.” Este contexto mudou a partir da entrada do
Período Neolítico, que deu início ao processo de sedentarização e da agricultura.
[...] o homem passou a domesticar os animais, obtendo o leite e a carne.
Posteriormente, passou a cultivar cereais para sua alimentação. Estas
inovações fizeram com que o homem primitivo deixasse de ser nômade e se
fixasse em um território. (SANTOS, 2010, p. 08).

Ainda segundo a autora, foram essas mudanças de hábitos que ocasionaram


no crescente agrupamento de pessoas e, consequentemente, deu início às primeiras
cidades, impérios e civilizações. Deste modo, diante do desenvolvimento das
civilizações, os motivos que as levavam a se locomover também mudaram, e
estavam, por sua vez, relacionadas “aos interesses comerciais, a busca por
melhores condições de vida, a expansão territorial, viagens intelectuais e
medicinais.” (SANTOS, 2010, p. 08). Trigo (1995) complementa o pensamento da
autora, ao trazer à tona outros aspectos ligados à locomoção que surgiram ao longo
do tempo.

Os primeiros homens a se deslocarem eram nômades, viajantes,


peregrinos, marinheiros [...] Os nobres e religiosos também viajavam, mas
por outras razões: a nobreza europeia realiza ​tours para aprender novos
costumes e culturas [...] familiarizar-se com outras sociedades, e modelos
econômicos e políticos. (TRIGO, 1995, p. 12).

De fato, o turismo sempre foi responsável pela interação e troca entre


pessoas de territórios diversos, mas não somente a troca cultural, como
habitualmente conhecemos. Ignarra (2013) descreve que desde os tempos
históricos, o fator que mais influenciou o homem às viagens foi o comércio com
outros povos. Sendo assim, o turismo já era utilizado como meio de troca, porém no
âmbito dos negócios. Além dessa vertente, desde a Antiguidade já ocorria o turismo
de esporte, visto nas Olímpiadas que aconteciam na Grécia, durante a civilização
helênica. Eventos como esse ainda hoje são as maiores causas do turismo
esportivo. Por exemplo, durante a Copa do Mundo de 2014 que aconteceu no Brasil,
o país sede atraiu cerca de 1 milhão de estrangeiros de 203 países, segundo dados
do Ministério do Turismo5.

5
BRASIL. MInistério do Turismo. ​Copa e Olimpíadas movimentam o turismo no Brasil.​ Disponível
em: ​http://www.turismo.gov.br/ultimas-noticias/964-esportes-movimentam-o-turismo-no-brasil.htm​l.
Acesso em: 28 out. 2018.
O turismo por buscas culturais também já existia desde 3000 a.C., quando
viajantes de diversas regiões iam até o Egito para se deslumbrar com as pirâmides.
Neste sentido, não podemos deixar de citar o turismo religioso, ritual de origem
nômade e caracterizado pelo deslocamento de pessoas que expressam sentimentos
místicos ou a fé. Um destaque dessa vertente são as peregrinações, conhecidas em
nível mundial e que acontecem em regiões como Jerusalém (Israel), Santuário
Nacional de Aparecida (Brasil) e Santiago de Compostela (Espanha).
Os autores Arminda Souza e Marcos Corrêa (apud OLIVEIRA, 2004, p. 16)
definem turismo religioso como “tipo de turismo motivado pela cultura religiosa, cuja
característica principal é a ida a locais que possuam conotação fortemente religiosa.”
Sendo assim, esse segmento pode ser atuante de predominância em algumas
cidades, além de se tornar viés de crescimento econômico e lucrativo.
Há também um hábito que acontecia durante a Idade Média, e ainda é
recorrente em todo mundo, em que as famílias nobres encaminhavam seus filhos
para centros culturais da Europa, a fim de agregar na formação destes, dando
origem ao que hoje conhecemos como Intercâmbio Cultural. A prática constitui em
“experiência turística cultural e educacional. [...] As mudanças de visões, de
mentalidades e de comportamentos por meio da interação entre pessoas de culturas
diferentes são definidas como interculturalismo.” (FLEURI, 2000 apud TOMAZZONI;
CUNHA DE OLIVEIRA, 2013, p. 394).

1.2 Os avanços tecnológicos e ascensão dos serviços turísticos

O surgimento das ferrovias, no século XIX, representa um fator de grande


importância no crescimento do turismo, já que os trens a vapor possibilitaram
deslocamentos maiores em período de tempo menor, fluindo como um estopim para
a prática.

Na Inglaterra, desde 1830, já existiam linhas férreas que transportavam


passageiros. Em 1841, Tomas Cook organizou uma viagem de trem para
570 passageiros entre as cidades de Leicester e ​Loughborough​, na
Inglaterra. O sucesso foi tão grande que sua empresa passou a organizar
excursões para a parte continental da Europa e, posteriormente, até
excursões para os Estados Unidos. A empresa prosperou e passou a ser
considerada a primeira agência de viagens do mundo. (IGNARRA, 2013, p.
5).

Foi a partir do aumento de ferrovias, junto com o crescimento da população e


aumento da riqueza, que a viagem em massa se manifesta, responsável por dar
origem à indústria de viagens. Esse setor trouxe métodos que estão presentes até
os dias atuais, como a formação de excursões e pacotes turísticos.
A era das ferrovias progredia e o turismo ascendia, mas a Primeira Guerra
Mundial, em 1914, interrompeu esse período próspero. Khatchikian (apud
REJOWSKI, 2002, p. 73) cita que “durante o conflito, muitos hotéis luxuosos, como
os da Côte d’Azur, foram utilizados para hospedar tropas militares ou para abrigarem
quartéis generais e hospitais.”
Ao término da guerra, a produção em escala de automóveis gerou um
aspecto significativo na prática do turismo. Roná (2002) considera que a expansão
na utilização de automóveis deu maior autonomia ao turista, que por sua vez
desprendeu-se da dependência de ferrovias e vias aquáticas, exercendo poder de
escolha acerca dos horários e itinerários. É importante salientar que a guerra
impulsionou a expansão das rodovias, logo o aumento na produção de automóveis
era algo rentável.
Os ônibus, por sua vez, ganharam força em 1921 e ofereciam serviços de
fretamento fechado e aberto. No primeiro caso todos os passageiros pertenciam a
um grupo previamente determinado, enquanto no segundo os passageiros adquiriam
um pacote turístico sem conhecer previamente quem seriam os companheiros de
viagem. Essas modalidades, por assim dizer, estão presentes até os dias atuais.
Além disso, houve também um investimento notável em aviação, porém, o alto custo
e a baixa capacidade de transporte de passageiros e cargas acarretou em pouca
adesão.
O turismo estava novamente em alta quando, entre 1929 e 1931, foi abalado
devido à quebra da Bolsa de Valores de Nova York. O período foi novamente de
queda e, passada a Depressão, crescimento. Apesar da instabilidade, dados da
União Internacional dos Organismos Oficiais de Turismo (UIOOT), mostram que
entre 1933 e 1939 registrou-se aproximadamente 12 milhões de turistas nos
principais países europeus, distribuídos entre Itália, Áustria, Alemanha, Suíça e
França (MONTANER, 2001). No entanto, os dias de glória duraram pouco e, com a
chegada da Segunda Guerra Mundial, em 1939, a estagnação foi inevitável. Foi
somente a partir de 1945 que o turismo voltou a se desenvolver.

Os anos do pós-guerra, de 1945 até os dias de hoje, foi um período de


revolução tecnológica; na verdade, uma segunda revolução industrial. Com
isso, houve um aumento maciço na riqueza e na renda disponível [...] Do
mesmo modo, foi um período de grande crescimento da indústria de viagens
nos países mais ricos e industrializados do mundo. (LICKORISH; JENKINS,
2000, p. 37).

No período pós guerra outros meios de locomoção surgiram. Segundo Trigo


(1995), as tecnologias utilizadas na Segunda Guerra foram aproveitadas
posteriormente nos transportes aéreos e marítimos comerciais. Essas inovações
tiveram grandes impactos no setor turístico. Os aviões, que ora soavam como meio
intangível, passam finalmente a ser um dos incentivadores do turismo internacional.
A era do jato surge a partir da incrementação na aviação, na década de 1950, junto
aos avanços tecnológicos, baixa no valor da passagem e rapidez na viagem. Outros
fatores que contribuíram para a evolução do turismo foi a conquista das férias
remuneradas, a consolidação da classe média e aumento no poder aquisitivo,
oriundos do crescimento industrial e a implantação do sistema de crediário, que
facilitou o processo de aquisição de pacotes turísticos.
A partir da década de 1950 o turismo praticamente dobrou o seu movimento.
O crescimento e desenvolvimento demonstrou a força de um setor que possibilita a
interação entre os mais diversos segmentos econômicos. Jenkins e Lickorish (2000)
consideram que a década de 1980 trouxe mudanças significativas na relação entre o
governo e a sociedade, já que o Estado diminui a sua participação no turismo,
deixando a postura intervencionista de lado. Essa abertura permitiu aos setores
privados investirem no turismo, de forma a contribuir com uma área que
demonstrava forte ascensão. Iniciou-se então a formação de parcerias entre
transporte, hospedagem e agências de viagens, na busca de agregar o turismo ao
negócio. É dessa época também, mais especificamente 1975, que surge a
Organização Mundial do Turismo (OMT), cujo foco estava em alavancar o turismo
entre os países com base em acordos comerciais.
Rejowski (2002) considera que grandes avanços tecnológicos no transporte,
como automóveis e aviões, permitiram viagens mais rápidas e cômodas para as
regiões mais distantes. Além disso, a aplicação de técnicas de marketing e melhora
na publicidade também aumentaram o desejo para realizar atividades voltadas ao
lazer, inclusive o turismo. Essas técnicas de marketing foram introduzidas na década
de 1950, como consequência da comercialização de produtos e serviços turísticos.
Sendo “o produto turístico, como ponto de partida para estratégias de marketing, é
fundamentalmente um conjunto de serviços, o qual se compõe de uma combinação
de elementos do que se convencionou denominar de indústria turística” (DIAS;
CASSAR, 2005, p. 80).
É então neste momento, a partir da década de 1950, que os meios de
comunicação, principalmente a televisão, começam a agir com vigor e reforçam
propagandas constantes sobre atrações de países estrangeiros. Foi nessa época
também que caracterizou-se o turismo de massa, que apesar de ter surgido em
meados do século XIX com o desenvolvimento dos primeiros pacotes de excursões
feitas nas viagens de trens e/ou navios a vapor, a sua compreensão na
contemporaneidade está relacionada aos pacotes de excursão realizados em
viagens aéreas. Cooper, Hall e Trigo (2011, p. 39) definem que o turismo de massa
“se refere à produção do turismo organizado industrialmente, que apoia o movimento
de grandes números de pessoas.” No entanto, segundo os autores, o termo turismo
de massa pode estar ligado a um conceito pejorativo, já que frequentemente possui
uma conotação elitista que se refere às viagens feitas por pessoas mais pobres a
lugares que os mais ricos não costumam ir ou deixaram de frequentar.
A CVC, por exemplo, faz parte dessas grandes operadoras que lucram a
partir do turismo de massa, porém a demanda turística sazonal, exploração de
recursos naturais e o foco apenas sobre determinadas áreas do destino geram
grandes críticas referentes à degradação ambiental, problemas em relação à
infraestrutura e serviços necessários para atender a demanda ​versus a capacidade
local. Machu Picchu, um exemplo clássico e próximo, é considerado Patrimônio da
Humanidade pela Unesco desde 1983, e estava ameaçado de ser incluído pela
mesma entidade na lista “Patrimônios em risco”, por isso desde julho de 2017 adotou
medidas para diminuir o fluxo de pessoas no sítio arqueológico.
Tendo em vista a expansão do turismo e a compreensão dele como uma
atividade econômica que exerce influência em diversos setores, os meios de
comunicação assumem parte da responsabilidade na influência de escolha e
percepção identitária, já que

[...] turismo é um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que


visitar, onde, como e a que preço. Nesse processo influem inúmeros fatores
e realização pessoal e social de natureza motivacional, econômica, cultural,
ecológica e científica que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os
meios de transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si
para a fruição tanto material como subjetiva dos conteúdos de sonho,
desejos, de imaginação projetiva, de enriquecimento histórico-humanístico,
profissional e de expansão de negócios.” (BENI, 2001, p. 37).

Facilmente percebe-se então, que a prática do turismo e os sistemas


comunicacionais possuem uma relação estreita, sendo o primeiro muito necessitado
do segundo.
2. A comunicação digital e os blogs turísticos

A comunicação está presente desde os primórdios e passou por inúmeros


estágios de desenvolvimento. As pinturas rupestres, por exemplo, podem ser
consideradas testemunhos pré-históricos e constituem a história acerca da
comunicação primária: a linguagem. Considera-se linguagem “toda comunicação
compreensiva, de pessoa a pessoa” (PENTEADO, 1986, p. 31). Medeiros (1988, p.
17) completa que “para a realização da linguagem como instrumento de
comunicação e interação, a sociedade adota um conjunto de signos e de regras,
que, convencionalmente, são aceitos e deixam de ser arbitrários.”
Portanto, a fim de ampliar as maneiras no processo de transmissão da
mensagem, é comum que a sociedade adote instrumentos simbólicos.

O processo intersubjetivo de comunicação e de formação das identidades é


alimentado a todo instante por interações e códigos que são re-criados e
reabilitados por indivíduos que desejam ampliar e avançar a gramática
gestual, estética, normativa e ética de sua sociedade. (MARQUES;
MARTINO, 2015, p. 17).

Park (1971) explica que a comunicação é uma maneira de interação


interpessoal, por isso, é intrínseca à socialização. Deste modo

O processo só pode dizer completo a partir do momento em que resulta em


alguma espécie de compreensão. Em outras palavras, a comunicação
jamais acontece meramente numa situação de estímulo e resposta, no
sentido em que essas palavras são usadas na psicologia. Ela é antes
expressão, interpretação e resposta. (PARK, 1971, p. 64 apud SIMÕES,
2015, p. 47).

É diante do princípio de necessidade da compreensão, apresentado por Park,


que o processo comunicativo se manifesta antes mesmo da fala. Baitello Junior
(1998) alega que a comunicação acontece no corpo, para ele

O que se denomina “comunicação” nada mais é que a ponte entre dois


espaços distintos. A consciência deste espaço enquanto entidade autônoma
inicia-se no momento do nascimento. A mudança de um espaço quente e
aquoso para um espaço frio, aéreo e hostil exige a manifestação explícita do
novo ser, seja pelo choro, seja pelas outras linguagens de seu corpo. [...] O
momento da criação de vínculos de linguagem entre o bebê e a mãe será a
matriz primeira da complexa comunicação social. Para o recém-nascido não
há outro objeto senão seu próprio corpo. É o corpo que transmite suas
mensagens, é a respiração, a temperatura, é a vibração das cordas vocais
que produz o choro que se transformará mais tarde em sons articulados.
(BAITELLO JUNIOR, 1998, p. 11).

Portanto, é imprescindível entender a comunicação como item obrigatório na


elaboração de quaisquer que sejam as expressões de identidade, subjetividades,
costumes e culturas. Marques e Martino (2015) completam ainda que

[...] o lugar da comunicação é aquele que nos possibilita olhar para a


complexa rede de relações sociais - bem como para o contexto em que
estas te dão - e perceber práticas, discursos, diálogos, contextos de
interação como um todo múltiplo em constante movimento. (MARQUES;
MARTINO, 2015, p. 16).

2.1 A tecnologia em prol da comunicação

No século XX é introduzida a nova era da comunicação. O rádio e a televisão


chegam como intervencionistas culturais, sociais e até de lazer. Com a junção da
imagem e o som, a nova era da comunicação assumiu papéis de grande
responsabilidade na vida das pessoas. A mídia se transformou em força dominante
na cultura, na socialização, na política e até mesmo nos critérios de escolhas da
sociedade.

Os novos veículos de ​comunicação de massa ​proporcionam a público cada


vez maior (e de certo modo indeterminado) oportunidades de conhecimento
e recreação, em experiências paralelas à literatura. [...] Acentua-se a
associação, sempre frequente, do visual e do áudio; da palavra à música.
(KELLY, 1978, p. 146).

No entanto, com o surgimento da internet e as mídias digitais, o


desenvolvimento do processo comunicacional vai além e chega a pontos até então
inimagináveis.
As mídias digitais se tornam responsáveis pelas inúmeras formas de
relacionamento entre pessoas, além disso, exercem influência direta sob o modo de
ser e pensar, interferindo também na relação de um indivíduo para com o outro.
Nelas, encontram-se discursos acerca dos mais variados temas. Martino (2014, p.
93) compreende que o discurso “é a produção textual - o que é dito, escrito,
pensado, falado - vinculada a um determinado lugar, tempo e agrupamento
específico na sociedade.” Os discursos possuem um peso imensurável e vão além
de somente comunicar. Eles também são responsáveis pela formação de opinião.
A possibilidade de d​isseminar esses discursos com o auxílio de
processadores em redes de alta velocidade surgiu ao longo do século XX, com o
desenvolvimento de conexões descentralizadas que viria a se tornar o que
conhecemos hoje: a internet. Na época, durante as décadas de 1950 e 1960, era
parte de uma rede de operações militares norte-americanas, desenvolvida para a
Guerra Fria (SANTOS, 2003). Aos poucos o sistema adentrou as universidades e,
em seguida, alcançou o público em geral. Aqui no Brasil o acesso à internet ganha
espaço entre 1994 e 1995, junto à possibilidade de aqu​isição de computadores por
algumas parcelas da sociedade (ORDUÑA, 2007).

2.2 Troca de informações no ambiente digital

A comunicação junto à globalização interage mundialmente de modo social,


econômico, político e cultural. No turismo, por exemplo, isso pode ser visto na troca
de informações e na tomada de decisão por parte da demanda turística. Em tempos
remotos, a televisão exerceu esse papel, porém com o advento da internet, o espaço
virtual permitiu a troca de ideias e conhecimentos em uma interação além do que se
conhecia no rádio e televisão. Essa possibilidade é chamada por Lévy Pierre como
“inteligência coletiva”, e pode ser compreendida como:

Troca constante de conhecimentos que circulam, são modificados,


reconstruídos, aumentados e editados [...] todas as pessoas podem,
potencialmente, contribuir com algum elemento para a constituição de um
conjunto de saberes que, sem pertencerem especificamente a ninguém,
estão à disposição de todos para serem usados e transformados.
(MARTINO, 2015, p. 31).

Para que essa troca aconteça, é comum o surgimento de grupos destinados à


interação e discussão acerca de interesses em comum. São as chamadas
Comunidades Virtuais.
Elas são grupos que se relacionam pela comunicação à distância, facilitada
pelas Mídias Digitais. São caracterizadas pela troca de informações e
experiências sobre assuntos de interesse comum. Esses membros podem
estar em localizações geográficas completamente diferentes. O que os une
são as conexões virtuais. (BITTENCOURT, 2016, p. 129).

Essas pessoas não se conhecem fisicamente, mas se reúnem neste ambiente


virtual a fim de trocar ideias sobre temas de interesse em comum. A partir dessas
interações, Capra (2002) defende que as redes de comunicação possuem elementos
de produção e reprodução recorrentes, ou seja:

Cada comunicação cria pensamentos e um significado que dão origem a


outras comunicações, e assim a rede inteira se regenera- é autopoiética.
Como as comunicações se dão de modo recorrente em múltiplos anéis de
realimentação (feedback loops), produzem um sistema comum de crenças,
explicações e valores - um contexto comum de significado - que é
continuamente sustentado por novas comunicações. Através desse contexto
comum de significado, cada indivíduo adquire a sua identidade como
membro da rede social. (CAPRA, 2002, p. 86).

Este ciclo gera o que Santaella (2013) define como cultura participativa, em
que cada usuário possui um hábito de convivência, de modo que, o que cada um
cria ou pensa possui relevância.

Nesta, portanto, as novas palavras de ordem são: expor-se, trocar,


colaborar em atividades de interação que encontram suas bases em
princípios de confiança e de compartilhamento. A Internet tornou-se assim
um hiperespaço plural, no qual são produzidas, publicadas, distribuídas e
consumidas mensagens multimídia em um sistema de trocas e
reciprocidades. Com isso, os princípios baseados em participação,
colaboração e compartilhamento expandiram-se notavelmente.
(SANTAELLA, 2013, p. 45).

Sendo assim, é possível compreender que a comunicação está presente e é


um fator determinante no processo identitário. A ação da mídia, por exemplo,
vinculada a processos mercadológicos como a comercialização e distribuição de
produtos turísticos traz à tona a possibilidade de influenciar na escolha do destino e
na maneira como determinados locais são vistos. Além disso, quando falamos em
comunicação digital, atenhamo-nos que se trata da conversão de sons, imagens e
textos para formatos legíveis por um computador, como acontece com os conteúdos
multimídia.
O termo multimídia, por sua vez, é conceituado por Pierre Lévy (1999, p. 63)
como “aquilo que emprega diversos suportes ou diversos veículos de comunicação.”
Assim, o conteúdo multimídia é criado, segundo Canavilhas (2001), através da
junção do vídeo, áudio e hiperligações6. Neste contexto, o vídeo é um elemento de
extrema importância para o ambiente digital, já que em sua composição inclui outras
mídias, despertando sentidos variados no expectador. A narrativa torna-se então
bem estruturada e convidativa para o consumo, além de sua praticidade.

2.3 Blogs e o turismo

Atualmente, grande parte dos viajantes são motivados por fatores


relacionados aos meios de comunicação. Podendo ser televisão, rádio ou internet.
As representações, as narrativas e as imagens dos destinos turísticos construídos
através desses meios, geram um importante papel que desencadeia em todo um
processo de decisão e compreensão. Para se ter uma ideia, o Booking.com, site que
agrega busca e reserva de hotéis pelo mundo, realizou no final de 2017 uma
pesquisa e apontou que 39% dos viajantes alegaram que irão ler blogs e/ou ver
vídeos do Youtube para buscar inspirações em sua próxima viagem de 20187.
Desse modo, fica clara a percepção de que blogs e portais de notícias estão
presentes quando se trata de aprofundamento de informações e conteúdos. Esses
blogs são administrados e têm seus conteúdos produzidos por influenciadores
digitais, jornalistas ou, segundo Bittencourt (2016, p. 263), líderes de opinião “que
agem interpretando notícias e informações e influenciando as opiniões de seus
grupos de seguidores.” Cabe ainda lembrar, de acordo com a autora, que “eles estão
inseridos em um ambiente em que regras de relacionamento não se dão por contato
social, mas por um contato discursivo.”
Os blogs de turismo, por exemplo, são facilmente encontrados em busca pela
internet. Não à toa no início dessa década surgiram associações e redes como a

6
O mesmo que hiperlink, tem como função abrir uma página da Web ou um documento através do
clique ao lado esquerdo do mouse em um texto ou imagem.
7
CUNHA, Tatiana. 7 tendências no turismo para 2018. ​Revista Veja​. Disponível em:
https://veja.abril.com.br/blog/modo-aviao/7-tendencias-no-turismo-para-2018/​. Acesso em: 10 out.
2019.
ABBV8 e a RBBV9. A primeira, Associação Brasileira de Blogs de Viagens, foi
fundada em 2012 e é considerada a primeira entidade da América Latina a
regulamentar e promover os interesses e desenvolvimento dos blogs que atuam no
nicho de viagens. Já a Rede Brasileira de Blogueiros de Viagem, fundada em 2011,
é uma comunidade digital composta por mais de 1.300 pessoas que publicam sobre
inúmeros temas, desde que ligados a turismo e viagens.
Um exemplo interessante que faz uso dos processos narrativos atendendo à
10
procura dos internautas na temática de turismo é o portal Jornalismo de Viagem . A
multiplataforma utiliza a variedade de mídias para construir conteúdos em diferentes
formatos, de modo a levar em consideração o conceito de convergência jornalística
no jornalismo especializado em turismo.
Para ter maior clareza, pode-se compreender que:

Weblogs ou blogs são páginas pessoais da web que, à semelhança de


diários online, tornaram possível a todos publicar na rede. Por ser a
publicação on-line centralizada no usuário e nos conteúdos, e não na
programação ou no design gráfico, os blogs multiplicaram o leque de
opções dos internautas de levar para a rede conteúdos próprios sem
intermediários, atualizados e de grande visibilidade. (ORDUÑA, 2007, p. 2).

O desenvolvimento de plataformas na chamada web 2.0 gerou um


crescimento no número de adeptos às redes sociais, já que a internet passou a
oferecer variedade. Segundo pesquisa feita pela ​We Are Social11 em parceria com a
Hootsuite em 2017, 58% da população brasileira é usuária das redes sociais.
Atualmente, o internauta pode transitar entre o Facebook, Instagram, Twitter,
WhatsApp, Snapchat e tantos outros. No entanto, não foi sempre assim. Antes dos
anos 2000 não existiam essas redes sociais, o Orkut, por exemplo, só foi criado em
2004 pelo turco ​Orkut Büyükkökten. Por isso, enquanto essas opções não estavam
presentes, era comum o uso dos blogs, que vêm a partir do propósito de comunicar,

8
Associação Brasileira de Blogs de Viagens (ABBV): ​https://abbv.net.br/
9
Rede Brasileira de Blogueiros de Viagem (RBBV): ​https://rbbv.com.br/
10
O blog Jornalismo de Viagem foi criado durante o mestrado em Jornalismo na Faculdade Federal
da Paraíba (UFPB) e, atualmente, busca tornar-se referência em conteúdo turístico, desvencilhando
de fins acadêmicos. Disponível em: <​https://jornalismodeviagem.com​>.
11
We Are Social. ​Digital in 2017: ​Global Overview. Disponível em:
https://inteligencia.rockcontent.com/content-trends/​. Acesso em: 04 out. 2018.
além de trazer consigo características como informação, espontaneidade e
informalidade. Segundo o autor Orduña (2007):

O principal elemento de um blog são as anotações (posts), ordenadas


segundo a cronologia inversa (com as mais recentes primeiro), em que cada
um possui um endereço URL permanente (permalink ou link permanente), o
que facilita uma conexão a partir de sites externos. As histórias podem ser
arquivadas cronológica (por meses e anos) e tematicamente (por
categorias) e é possível ter um buscador interno para tornar sua localização
mais fácil. (ORDUÑA et al, ​2007, p. 3).

Orduña et al (2007) explica ainda que o weblog ​What’s new in ‘92,​ criado por
Tim-Berners Lee em 1992, foi o precursor e surgiu com o intuito de divulgar as
novidades sobre as pesquisas do projeto World Wide Web. O conteúdo da “www” é
12
constituído por documentos em HTML e, por isso, após a inauguração, em 1990, o
usuário encontrou alguns obstáculos na publicação de conteúdos online, como a
codificação das páginas e o design gráfico. No entanto, serviços de edição e
13
publicação, como o Blogger , surgiram em 1999 e facilitaram a elaboração desses
conteúdos. Deste período em diante, os chamados “web-diários”, blogs que
funcionavam como uma espécie de diário pessoal, aumentaram de forma
significativa. Porém, os “blogs de filtro” ainda permaneceram vivos e se tornaram o
14
que conhecemos hoje como blogs temáticos. De acordo com a revista Wired ,
estima-se que atualmente o número total de blogs esteja em meio milhão.
Para Recuero (2003), os blogs podem ser categorizados da seguinte maneira:
a) diários eletrônicos: onde o usuário publica pensamentos, fatos e
ocorrências de sua vida pessoal. Neste caso, o blog é utilizado como canal de
expressão do autor, por isso leva a denominação “diário”;
b) publicações eletrônicas: ​quando a página se destina à publicação de
informações, notícias, dicas e comentários de um tema central, por exemplo,
cultura geek ou turismo;

12
HTML - Linguagem de marcação utilizada na construção de páginas na Web. O acrônimo significa
Hyper-Text Markup Language.
13
Blogger - Serviço do Google que oferece ferramentas para edição e gerenciamento de blogs.
Disponível em: <​https://www.blogger.com/​>.
14
MANJOO, Farhad. Blah, Blah, Blah and Blog. Revista Wired. Califórnia. Disponível em:
<​https://www.wired.com/2002/02/blah-blah-blah-and-blog/​>.
c) publicações mistas: ​nesta categoria, o usuário produz conteúdo diverso,
como posts pessoais sobre a própria vida com relatos e experiências, e
também posts informativos com dicas e notícias.
Primo (2008), no entanto, propõe um novo método de categorização dos
blogs, dividindo em quatro tipos:
a) pessoais: em que a produção de conteúdo se baseia em interesse
individual, sem que haja fins mercadológicos;
b) profissionais: escrito por especialista em determinada área e que
comumente atua como profissional e possui experiência com o tema, mesmo
que não haja formação superior;
c) grupais: neles, os conteúdos são publicados por mais de uma pessoa, onde
o foco é voltado para temas de interesse do grupo;
d) organizacionais: mantidos por empresas, normalmente dispõe de links e
conteúdos relativos às ações da mesma.
É importante ressaltar que a última categorização tem atraído muitos usuários
em tempos recentes. As empresas têm inserido a seção para blog em seus sites, a
fim de produzir conteúdos que chamem atenção. Uma pesquisa publicada em 2018
15
pela Content Trends mostra que 73% das empresas entrevistadas adotam a
estratégia de Marketing de Conteúdo. Além do chamariz, a blogosfera pode ser um
ótimo local para medir opinião ou compreender a relevância de determinadas
temáticas, como sugere Orduña (2007). Para ele:

No novo cenário da comunicação, as funções blogosfera são múltiplas: um


filtro social de opiniões e notícias, um sistema de alerta prévio para as
mídias, um sistema de controle e crítica dos meios de comunicação, um
fator de mobilização social, um novo canal para as fontes convertidas em
mídias, um novo formato aplicável às versões eletrônicas dos meios
tradicionais para as coberturas extensas, catástrofes e acidentes, um
enorme arquivo que opera como memória da web, o alinhamento
privilegiado e sua alta densidade de links de entrada e de saída e,
finalmente, a grande conversação de múltiplas comunidades cujo objetivo
comum é o conhecimento compartilhado. (ORDUÑA, 2007, p. 9).

O autor completa que o blog possui autoria centralizada, ou seja, somente o


dono da página pode publicar conteúdos a partir de um acesso restrito. Além disso,

15
ROCK CONTENT. Content Trends 2018: principais resultados da maior pesquisa de Marketing de
Conteúdo. Disponível em: <​https://inteligencia.rockcontent.com/content-trends/​>.
o blog gera uma comunidade para fora, o chamado blogosfera, a partir dos links de
entrada e saída que são acrescentados nos posts. Outro ponto de extrema
importância e que explica a busca por blogs temáticos, é o interesse do visitante em
ler o ponto de vista do autor acerca daquele assunto. No entanto, o conteúdo
publicado também passa por influência dos comentaristas daquele site, sendo
assim:

A conversação entre comentarista e autor pode inclusive fazer com que a


postagem seja modificada ou que novas postagens surjam a partir da
interação mantida no ambiente. Mas não se trata apenas de uma sugestão
de pauta, como é comum na imprensa institucionalizada. Os próprios
autores desejam manter a bidirecionalidade da interação nos comentários
para aprenderem com seus comentaristas, pois essa interação os
transforma. (PRIMO, 2013, p. 138).

Além disso, de modo complementar, Primo (2013) conclui que:

As múltiplas intervenções em um mesmo conteúdo podem assinalar


diversos comportamentos atribuídos à constante interação entre os
indivíduos, os conflitos decorrentes de pontos de vista diversos, bem como
o aumento da qualidade do processo proporcionalmente ao debate que se
instaura. (PRIMO, 2013, p. 164).

Nota-se assim que a mídia - e aqui com foco nos blogs - é um local de
produção e distribuição de conteúdos e o conhecimento e reconhecimento identitário
só se constroem a partir das relações prévias de comunicação. Sua existência e
reconhecimento tendem a se tornar tangíveis ou intangíveis mediante esses
processos, que dão a existência potencial para ser disseminada ao público. “Nessa
relação entre instância de produção e instância de recepção constrói-se a opinião
pública.” (CHARAUDEAU, 2006, p. 120).
3. Jornalismo de Turismo

Conforme mostrado, há diversos segmentos de blogs e, consequentemente,


vastas abordagens. Diante dessa pluralização, surgem os blogs escritos por
jornalistas que, por sua vez, encontram no digital uma alternativa à maneira de
distribuir conteúdo e contribuir à opinião pública. No entanto, antes de adentrarmos
no jornalismo especializado em turismo, é válido abordar conceitos, a história e as
segmentações do jornalismo.

3.1 Conceituando o jornalismo

O jornalismo é feito hoje através das palavras faladas no rádio, escritas em


jornais, revistas, blogs, redes e mídias sociais e nas apresentações audiovisuais da
televisão e na internet. A palavra jornalismo, afinal, significa:

[...] todas as formas nas quais e pelas quais as notícias e seus comentários
chegam ao público. Todos os acontecimentos mundiais, desde que
interessem ao público, e todo o pensamento, ação e ideias que esses
acontecimentos estimulam, constituem o material básico para o jornalista.
(BOND, 1962, p. 15).

O autor Luiz Beltrão (1960) complementa que o jornalismo é a informação de


fatos correntes, interpretados e transmitidos periodicamente à sociedade de maneira
adequada, com o objetivo de agregar conhecimento e orientar a opinião pública,
visando sempre promover o bem comum. Há ainda a ideologia do iluminismo,
abordada por Ciro Marcondes Filho (2009, p. 266), que atribuía ao jornalismo
somente o caráter de informar, ou seja, “tornar os indivíduos conhecedores dos fatos
e do mundo, em suma, de trazer os acontecimentos da esfera pública em todos os
níveis para a casa das pessoas.”
Além dessa função, o autor explica ainda que era alimentada a ideia de
conteúdo puramente informativo, não podendo nunca se misturar ao estilo literário e
devia se manter como um espelho dos acontecimentos da sociedade, abordando
todos os fatos ocorridos. “Modernamente aceita-se, ao contrário, que jornalismo é
essencialmente seleção, ordenação, atribuição ou negação de importância de
acontecimentos dos mais diversos.” (MARCONDES FILHO, 2009, p. 266).
Há ainda outras maneiras de enxergar o jornalismo, como explica novamente
Bond (1962, p. 15). Para ele, há o ponto de vista do cínico e do idealista. O primeiro
entende a profissão como comércio. “Disse Leslie Stephens: ‘Jornalismo consiste
em escrever, mediante remuneração, sobre assuntos em que não se é versado.’”
Enquanto o segundo leva em consideração a responsabilidade e o privilégio de
informar.

Diz Erick Hodgins, da revista ​Time:​ “Jornalismo é a transmissão de


informação, de um ponto a outro, com exatidão, penetração e rapidez, numa
forma que sirva à verdade e torne aquilo que é certo evidente aos poucos,
quando não imediatamente”. (BOND, 1962, p. 15).

Apesar das divergências no modo como o jornalismo é compreendido e até


mesmo atuado, como exemplificado acima, essas alternativas no caminho só
“florescem quando há garantias de liberdade, sejam elas merecidas ou não”. (BOND,
1962, p. 15). Esse adendo do autor diz respeito à liberdade de imprensa,
compreendida, de modo geral, como uma conquista para a área. Isso, porque, no
passado, as autoridades eclesiásticas e civis possuíam considerável poder,
anulando fatos ou opiniões que não coincidiam com suas ideologias. A censura
prévia findou somente em 1821, na primeira fase do jornalismo, após decreto de D.
João IV. No entanto, este foi só um período de trégua.

3.2 As quatro fases do jornalismo

A história do jornalismo é dividida por Ciro Marcondes Filho em quatro fases,


sendo a primeira a partir de 1789, quando considera que o jornalismo realmente
passou a existir. Para ele, até aquele período, a atividade jornalística estava voltada
somente para núcleos específicos do poderio econômico e financeiro. O autor
explica ainda que “o aparecimento do jornalismo está associado também à
‘desconstrução’ do poder instituído em torno da Igreja” (MARCONDES FILHO, 2009,
p. 269). Barsotti (2012) atribui à Revolução Francesa, com o lema de liberdade e
igualdade, o surgimento do chamado primeiro jornalismo.
Este primeiro momento, que foi até a metade do século XIX, é caracterizado
como um período de iluminação, pois traz à tona o obscurantismo e esclarece temas
políticos e ideológicos, abrindo espaço para a ascensão do jornalismo
“político-literário”.

Expande-se a ideia de que o poder é algo dos homens, associado a seus


interesses de domínio e exploração de outros homens, e vai desaparecendo
o conceito de que ela é “natural”, que Deus e a natureza criam homens para
mandar e outros para servir. (MARCONDES FILHO, 2009, p. 269).

Neste período, conforme explicam Hohlfeldt e Valles (2008), ​existiam duas


segmentações: os jornais com mais estruturas e os pasquins. No primeiro tipo,
incluem-se jornais como Diário de Pernambuco, o mais antigo jornal em circulação
na América Latina, e o Diário do Rio de Janeiro, este é considerado o primeiro jornal
informativo do Brasil, voltado para questões locais e distante de aspectos políticos.
Já os pasquins expõem uma característica de muita força do primeiro jornalismo: o
desenvolvimento do conteúdo opinativo. Escritos em linguagem desabrida, eram
também conhecidos como panfletos de cunho político. Entre os idealizadores,
destacou-se Cipriano Barata, jornalista, político e líder popular, que pregava pela
Independência do Brasil, pela República e pela Abolição. A partir de 1823, Barata
publicou a ​Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco,​ jornal que hostilizava
o governo imperial de Dom Pedro I. (RIBEIRO, 2006).
Este poder político do jornalismo, como explica Ribeiro (2006, p. 24),
“conduziu vários de seus militantes”. Para ele, a mistura de elementos
revolucionários, religiosos e românticos marcam não só o jornalismo da época, como
alimenta, ainda hoje, a profissão.
De modo geral, o jornalismo da primeira fase tinha como principal propósito a
explanação de programas políticos-partidários, oferecendo ao seu público textos
acerca de opiniões e críticas. Isso acontecia, porque, segundo Barsotti (2012, p. 70),
“os jornais políticos eram financiados pelos partidos ou candidatos a cargos
públicos”. Outra característica deste período é que as empresas jornalísticas não
estavam orientadas para o lucro e eram deficitárias.

Nessa época do jornalismo literário, os fins econômicos vão para segundo


plano. Os jornais são escritos com fins pedagógicos e de formação política.
É também característica do período a imprensa partidária, na qual os
próprios jornalistas eram políticos e o jornal, seu porta-voz. (MARCONDES
FILHO, 2009, p. 269).

Naquele momento, o jornalismo ainda era uma ocupação mal definida no


mercado de trabalho e era exercida por algumas centenas de profissionais, sendo
três funções existentes: “os diretores, verdadeiros faz-tudo (​hommes-orchestre)​ do
jornalismo nascente; os copistas, homens polivalentes dos primeiros jornais; e os
informantes, homens ‘todo o terreno’ do embrionário mercado da informação”.
(RUELLAN, 2004, p. 12-13 apud BARSOTTI, 2012, p. 71). Diante deste cenário, os
jornais compreendem a necessidade da profissionalização. Surge, então, “a redação
como um setor específico, o diretor torna-se uma instância diferente da do editor,
impõe-se o artigo de fundo e a autonomia redacional.” (MARCONDES FILHO, 2009,
p. 269). Além disso, há um processo de transformação política acontecendo e as
lutas sociais ganham as ruas. Conforme Marcondes Filho (2009) explica, o
jornalismo vai deixando de ser um instrumento dos políticos para se tornar uma força
política autônoma.

[...] enquanto a imprensa popular ganhava as ruas, estimulando as


campanhas operárias, as lutas socialistas, as conquistas sociais, os donos
das empresas jornalísticas já estavam dando seu pulo de gato. A atividade
que se iniciara com as discussões político-literárias aquecidas, emocionais,
relativamente anárquicas, começava agora a se constituir como grande
empresa capitalista: todo o romantismo da primeira fase será substituído por
uma máquina de produção de notícias e de lucros com os jornais populares
e sensacionalistas. (MARCONDES FILHO, 2009, p. 270).

A segunda fase do jornalismo surge, então, a partir da inovação tecnológica


da metade do século XIX nos processos de produção. “Entre 1850 e 1875 a indústria
gráfica progrediu e o mercado jornalístico se diversificou.” (RIBEIRO, 2006, p. 25).
Essa transformação tecnológica irá exigir das empresas jornalísticas um outro
posicionamento diante das questões financeiras. A partir deste período, os valores
pedagógicos, exercidos na primeira fase do jornalismo, cedem espaço para as
exigências do capital, que exige

[...] capacidade financeira de autossustentação, pesados pagamentos


periódicos para amortizar a modernização de suas máquinas; irá
transformar uma atividade praticamente livre de pensar e de fazer política
em uma operação que precisará vender muito para se autofinanciar.
(MARCONDES FILHO, 2009, p. 270).

Com isso, em 1875, se impõe plenamente o modelo de imprensa como


negócio, o que Juarez Bahia (1990) chama de consolidação da imprensa nacional.
Ribeiro (2006) considera a ascensão do café como estopim do crescimento
econômico e, com isso, da urbanização da sociedade e ampliação do mercado. Para
ele

[...] o jornalismo começava uma nova fase, concomitante à ampliação das


linhas de navegação e das estradas de ferro, à instalação do telefone, do
telégrafo e do cabo submarino. Em meio às levas de imigrantes, chegaram
gráficos experientes, decisivos para a qualidade da imprensa. (RIBEIRO,
2009, p. 29).

Diante dessas transformações e da ampliação de leitores, este segundo


oriundo da urbanização, os jornais precisaram firmar compromisso quanto à
assiduidade e qualidade do conteúdo. Visando a melhoria, surgiram novos produtos
editoriais, com informações e recursos visuais diferenciados, como é o caso da
ilustração. Além disso, a utilização do clichê16 no Brasil, em 1895, garantiu maior
nitidez à ilustração que, por sua vez, obteve função documental.
Já no que diz respeito à assiduidade, Ribeiro (2006) explica que o nascimento
do Jornal do Brasil, em 1891, “foi um avanço na concepção do jornalismo como
empresa”. O veículo demonstrava preocupação com a distribuição, que era feita por
carroças e, poucos anos depois, chegou à tiragem de duas edições diárias,
favorecendo a periodicidade.

16
Reproduções sobre zinco ou cobre, que divide-se em reticulado e de traço. O primeiro é utilizado
para fotografias, onde a imagem é reproduzida por milhares de grãos de luz e sombras. O segundo
são gravações à água-forte em linha sobre zinco, através do chamado processo Ben Day, e é
utilizado para reproduzir mapas, gravuras, desenhos e afins. (BOND, 1962).
Além das mudanças estruturais, o conteúdo, como citado inicialmente,
também traçou outro caminho. Marcondes Filho (2009) destaca que a grande
mudança na atividade noticiosa foi a inversão da importância e da preocupação
quanto ao caráter de sua mercadoria.

[...] seu ​valor de troca​, a venda de espaços publicitários (para assegurar a


sustentação e a sobrevivência econômica) passa a ser prioritária em relação
ao seu ​valor de uso,​ a parte puramente redacionalnoticiosa dos jornais. A
tendência - como se verá até o final do século XX - é a de fazer do jornal
progressivamente um amontoado de comunicação publicitárias permeado
de notícias.(MARCONDES FILHO, 2009, p. 271).

Para o autor, é essa nova imprensa, que visa os altos investimentos capitais,
que manterá as características originais da atividade jornalística, como a busca da
notícia, a imparcialidade, a atualidade e o “furo”. Barsotti (2012) complementa que o
segundo jornalismo vai na contramão da primeira fase, buscando objetividade, e
visando separar os fatos das opiniões.

A objetividade é empregada como uma estratégia para a empresa


capitalista se firmar. Ao buscar imparcialidade, o relato dos fatos como
precisão, ela garantia seu apartidarismo e não afastava anunciante de
nenhuma espécie. Ao mesmo tempo, ampliava seu público com notícias
sobre o cotidiano, até então ausentes das páginas dos jornais. (BARSOTTI,
2012, p. 72).

A autora atribui ao surgimento das grandes empresas jornalísticas, a criação


de divisão de trabalho nas redações, visando a profissionalização dos veículos. Para
ela, havia clara separação entre os departamento de gestão, editorial e de
reportagens. Juarez Bahia (1990) analisa que a segunda fase é caracterizada,
principalmente, pela incorporação do jornal como empreendimento mercantil.

Não só o processo de feitura, com a introdução da nova maquinaria e a


equação do jornal como empresa gráfica autônoma, independente de
tipografia, que tomou o caráter comercial, para servir às chamadas casas de
obras (estabelecimentos de impressos avulsos, papelaria, livros em branco,
pautação etc.), mas igualmente a qualificação do jornalismo como profissão,
a necessidade de expansão e criação de mercados consumidores internos e
externos, o advento da propaganda como fonte de renda e organização
específica, as responsabilidades fixadas em legislação própria, são
aspectos de primeira plana no desenvolvimento da imprensa, na sua
segunda fase, a fase da aventura industrial e também da consolidação.
(BAHIA, 1972, p. 52).
A partir de 1900 o jornalismo ingressa em uma nova fase, que vai até 1960, e
é marcado pelos monopólios, oriundos do desenvolvimento e crescimento das
empresas jornalísticas, mas ameaçados diante das guerras e dos governos
autoritários. É imprescindível lembrar que, como salienta Marcondes Filho (2009, p.
270), “não muito rara nem muito estranha na história da imprensa: ​desaparece a
liberdade e em contrapartida se obtém mais entretenimento.​ ” Durante a Primeira
Guerra Mundial (1914-1918) “a pretexto de segurança nacional e de ​elevação moral
das populações, a imprensa europeia foi submetida à censura prévia.” (RIBEIRO,
2006, p. 28).
A terceira fase do jornalismo vivencia as alterações sociopolíticas do país,
como a Revolução de 30 e o Estado Novo, e novamente tem a liberdade de
imprensa tensionada e a censura implementada. Ribeiro (2006, p. 37) explica que o
Estado Novo realizou “uma política cultural de dupla face, combinando atração e
repressão”. Deste modo, em 1937, com o intuito de ampliar o controle sobre a
imprensa, o Estado Novo regulamentou a profissão de jornalista através do
Decreto-Lei nº 910. Apesar da regulamentação, as relações trabalhistas em nada
melhoram, pois os salários são acertados entre os jornalistas e as empresas. Sendo
assim, a garantia de cumprimento do estabelecido agraciava somente os
profissionais que prestavam serviços às empresas mais sólidas. Em seguida, em
1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que realizava o
chamado controle ideológico, a censura e, como aconteceu com O Estado de S.
Paulo, a desapropriação de veículos.
Neste cenário, a década de 30 abre espaço para o jornalismo informativo de
cunho empresarial, criado um século antes, colocando em segundo plano o clássico
político-partidário. Passado o período de tensão, em 1945 a liberdade de imprensa
revive e se mantém por quase duas décadas, quando se depara, em 1964, com o
golpe militar. (HOHLFELDT; VALLES, 2008).
Este momento traz ainda outras mudanças para o jornalismo, como a
influência norte-americana que, aos poucos, toma lugar do estilo europeu,
caracterizado por Ribeiro (2006, p. 30) como “mais noticioso e seco”. No entanto,
como conta o autor, a tradição literária ainda persistia. Os autores Hohlfeldt e Valles
(2008) complementam que o modo norte-americano se consolidou no jornalismo
nacional somente ao longo da década de 50, junto a uma das mais significativas
mudanças da linguagem jornalística: o lead. Oriundo da iniciativa de Pompeu de
Sousa e Danton Jobim, jornalistas que aprenderam a prática na Universidade de
Columbia, em Nova Iorque, o lead foi efetivado no Diário Carioca com o intuito de
padronizar o primeiro parágrafo da notícia, fornecendo um resumo conciso das
informações que virão a seguir. Erbolato (1991, p. 67) explica que o lead “pode ser
definido como ‘o parágrafo sintético, vivo, leve com o que se inicia a notícia, na
tentativa de prender a atenção do leitor’.”
As primeiras décadas do século XX ainda não demonstravam com afinco o
objetivo de lucros através do jornalismo. Ribeiro (2006, p. 32) argumenta que, no
início da terceira fase do jornalismo, ainda não havia melhorias consideráveis no
âmbito de profissionalização da área. “Os avanços técnicos trazidos do exterior nas
duas primeiras décadas deste século não foram acompanhados de novos
procedimentos administrativos, profissionais e éticos na imprensa brasileira.”
O autor Werneck Sodré (1999) atribui aos interesses políticos, ainda
presentes na época, o processo tardio de consolidação do jornalismo como grande
empresa no Brasil. No entanto, a década de 20 traz uma reviravolta e apresenta
indícios de amadurecimento no sistema de comunicação e modernização no âmbito
do capitalismo. Para Ribeiro (2006, p. 33) essa mudança é resultado da “ampliação
e diversificação do mercado, da acumulação de capitais e da concorrência entre os
veículos.” A década seguinte consolida, então, a estrutura de jornal nos moldes de
empresa capitalista.
Os anos 30 marcam, diante do desenvolvimento do rádio e da televisão, a
entrada da imprensa na fase dos grandes monopólios. Ribeiro (2006, p. 36) recorda,
ainda, a década de 1930 como um período de crescimento do sistema de
comunicações, “liderado pelo rádio, sob a hegemonia da Rádio Nacional, no Rio de
Janeiro, e da Rádio Record, em São Paulo.” Após utilização durante a Primeira
Guerra Mundial, o rádio emerge como um meio de comunicação que, ao contrário do
jornal, atinge todas as camadas sociais. O autor alega que, na época, o
analfabetismo atingia 57% da população, o que limitava, por vezes, o alcance de
público, quando se tratava do jornal impresso.
Foi a partir de década de 1950 que o rádio se consolidou e, timidamente, foi
introduzida a televisão. Apesar dos esforços, Ribeiro (2006, p. 42) analisa que a
programação era “elitista, dominada pelo teleteatro produzido por companhias de
inspiração francesa, em detrimento do pessoal oriundo do radioteatro, mais popular.”
O autor complementa ainda que o intuito educativo que acompanhava o surgimento
da TV, mascarava a intenção de distinção social. Além disso, assim como o
propósito comercial ficava em segundo plano, a audiência também não era algo a se
comemorar diariamente, visto a pequena quantidade de aparelhos receptores em
uso no país.
Diante deste cenário, Ribeiro (2006) aponta que o jornalismo começou a ser
visto como um investimento atraente, pois a concepção agora não estava mais
associada ao risco inevitável e ao partidarismo. No impresso, por exemplo, os
classificados não eram maioria na publicidade, e tiveram que dividir espaço com
anúncios produzidos por agências, além dos grandes anunciantes. Para se ter uma
ideia, quando a imprensa se tornou um empreendimento, cerca de 80% das receitas
dos jornais originavam de propagandas privadas ou oficiais. Junto à constituição de
monopólios, como é o caso da Editora Abril que, fundada em 1950, não demorou
para se tornar um império editorial com mais de 100 títulos, Marcondes Filho (2009)
atribui à indústria publicitária e às relações públicas as novas formas de
comunicação, competindo com o jornalismo à tal modo que o descaracteriza no final
do século XX.

A passagem do século, assim, assinala, no Brasil, a transição da pequena à


grande imprensa. Os pequenos jornais, de estrutura simples, as folhas
tipográficas, cedem lugar às empresas jornalísticas, com estrutura
específica, dotadas de equipamento gráfico necessário ao exercício de sua
função. Se é assim afetado o plano da produção, o da circulação também o
é, alternando-se as relações do jornal com o anunciante, com a política,
com os leitores. [...] o jornal será, daí por diante, empresa capitalista, de
maior ou menor porte. (SODRÉ, 1999, p. 275).

A quarta e última fase do jornalismo, que inicia nos anos de 1970, se depara
com a ditadura militar e, atrelado à ela, com o Decreto-Lei n° 1.077, que instituiu a
censura prévia de livros e periódicos. Com isso, diversos veículos ofereciam
somente conteúdos oficiais e/ou fatos banais. “Os que resistiam nunca sabiam como
seria a edição do dia seguinte, sendo obrigados a tapar buracos de última hora com
versos de Camões, receitas intragáveis, ilustrações de demônios medievais.”
(RIBEIRO, 2006, p. 47). Havia, em alguns casos, revistas e jornais que tinham
edições inteiras presas.
É, então, nesta época, que surge a imprensa alternativa, um movimento
jornalístico de cunho sociopolítico que contesta o regime vigente. Ribeiro (2006, p.
47) define a imprensa alternativa como o renascimento “de um tipo de jornalismo e
de jornalista típico do século XIX.”

A imprensa alternativa surgiu da articulação de duas forças igualmente


compulsivas: o desejo das esquerdas de protagonizar as transformações
que propunham e a busca, por jornalistas e intelectuais, de espaços
alternativos à grande imprensa e à universidade. É na dupla oposição ao
sistema representado pelo regime militar e às limitações à produção
intelectual-jornalística sob o autoritarismo que se encontra o nexo dessa
articulação entre jornalistas, intelectuais e ativistas políticos .
Compartilhavam, em grande parte, um mesmo imaginário social, ou seja,
um mesmo conjunto de crenças, significações e desejos, alguns
conscientes e até expressos na forma de uma ideologia, outros ocultos, na
forma de um inconsciente coletivo. À medida que se modificava o imaginário
social e com ele o tipo de articulação entre jornalistas, intelectuais e ativistas
políticos, instituíam-se novas modalidades de jornais alternativos.
(KUCINSKI, 1991, p. 6).

Kucinski (1991) distingue a imprensa alternativa em dois segmentos, sendo:


a) os jornais predominantemente políticos, que trazia em suas raízes os ideais
de valorização do nacional e do popular dos anos de 1950, além do marxismo
vulgarizado dos meios estudantis em 1960. Discutiam também temas
clássicos da esquerda, como o caminho da revolução brasileira.
b) o outro segmento eram os jornais com raízes nos movimentos americanos
de contracultura e, a partir deles, no anarquismo, orientalismo e no
existencialismo de Jean Paul Sartre. Eram voltados à rejeição de discursos
ideológicos, críticas aos costumes e à ruptura cultural.
Por causa do enfrentamento desses veículos, um a cada dois jornais não
chegava ao primeiro ano de existência. Além disso, cerca de 25 jornais, oriundos de
articulações mais densas, viveram por até cinco anos. Os autores Hohlfeldt e Valles
(2008) lembram que, neste período, os jornais que mais tiveram destaque foram
Opinião, Movimento, Em Tempo, O Pasquim, Bondinho, Versus, Coojornal e
Repórter.
No entanto, a mudança no âmbito político na entrada de 1980, através do
governo de transição de João Figueiredo, acarretou no desaparecimento desses
veículos “transferindo o engajamento sociopolítico para órgãos de sindicatos e
partidos políticos.” (HOHLFELDT; VALLES, 2008, p. 78). Neste momento, acontece
também a forte ascensão da televisão no Brasil e, consequentemente, a
concorrência, que exigiu do jornalismo impresso a especialização em conteúdos
informativos e opinativos, deixando a abordagem informativa para o jornalismo de
televisão. Como Marcondes Filho (2002) ressalta, a TV, que outrora foi dependente
dos jornais impressos, passou a ditar as pautas que estes iriam trabalhar no dia
seguinte. Ribeiro (2006, p. 49) complementa que os telejornais de maior audiência,
como o Jornal Nacional, foram apelidados de “pauta eletrônica”, pois os destaques
de primeira página da edição do dia seguinte baseavam-se nas principais notícias
dos telejornais da noite anterior. “Símbolo dessa situação são os aparelhos de TV
sempre ligados nas redações, à espera dos principais telejornais ou de alguma
notícia divulgada pelo plantão televisivo.”
Há, ainda, outro aspecto que marca o início do quarto jornalismo, definido por
Marcondes Filho como jornalismo da era tecnológica, e oriunda:

[...] da inversão maciça de energia humana, capital e tecnologias,


particularmente nos Estados Unidos, durante e após a Segunda Guerra
Mundial. Investimento na direção de construção de sistemas que se
regulassem a si mesmos, que fossem manipulados e dirigidos à distância
(teleguidados) e que se estruturassem de forma indestrutível.
(MARCONDES FILHO, 2002, p. 33).

Este período, correspondente ao que vivemos ainda hoje, é caracterizado


“pela ampla e progressiva utilização da tecnologia, informação eletrônica e interativa,
pelo aumento da velocidade na transmissão da informação e pela crise da imprensa
escrita.” (BARSOTTI, 2012, p. 81). Para isso, em meados da década de 1970
desenvolveu-se a concepção de rede e um sistema informações sem núcleo, ou
seja, sem sede central e capaz de se reproduzir em todos os seus terminais.
Todo o ambiente redacional se transforma. Os terminais de vídeo
substituem as máquinas de escrever, a gráfica separa-se fisicamente da
redação, a diagramação deixa de ser manual para ser eletrônica, o texto
passa a ser virtual: uma imagem na tela que é ao mesmo tempo distribuída,
mexida, adaptada segundo a dinâmica da própria página. (MARCONDES
FILHO, 2002, p. 35).

O próprio autor situa dois processos presentes nesta fase: a expansão da


indústria da consciência e a substituição do agente humano. O primeiro está voltado
ao plano das estratégias de comunicação e persuasão dentro do noticiário e da
informação. Como Marcondes Filho (2002, p. 30) explica, se trata do crescimento
exacerbado de comunicados e materiais de imprensa, que são passados aos jornais
por assessorias de imprensa, podendo ser agentes empresariais ou públicos. Essas
informações “se misturam e se confundem com a informação jornalística.”
Quanto à substituição do agente humano, Marcondes Filho (2002, p. 30)
esclarece se tratar do sistema de comunicação eletrônica que, através das redes,
possibilita formas interativas de criação, fornecimento e difusão de informações.
Com isso, “diversas fontes tecnológicas recolhem e produzem conteúdos vindos e
distribuídos por todos os lados”. Abreu (2002, p. 28) também atribui as mudanças ao
desenvolvimento de telecomunicações, difusão da informática e possibilidade de
registros audiovisuais. Ela considera que, apesar do avanço tecnológico não “ser
considerado o único agente de transformação da imprensa, a tecnologia foi
seguramente um de seus principais instrumentos.” Diante das rotas alteradas no
jornalismo, “a informação produzida e circulante nas redes, incide adicionalmente
sobre o papel histórico do jornalista como um ‘contador de histórias’ (repórter) mas
também como um ‘explicador do mundo’ (analista/comentarista).” (ABREU, 2002, p.
28).
Há ainda o âmbito das relações entre comunicação e tecnologias, em que o
autor expõe as novas tecnologias em dois planos: virtualizam o trabalho jornalístico
impresso e interferem de maneira radical no conteúdo. Em relação à virtualização,
Marcondes Filho alega que o jornalista de redação, acostumado a escrever sobre o
papel e manter o convívio físico com os colegas de trabalho, passa a lidar com a
lógica imaterial da tecnologia. Dessa forma, o seu produto final já não é tangível,
como, por exemplo, acontece com os jornais impressos. Além disso, a ascensão
tecnológica acarreta em outro ritmo e lógica de trabalho, pois a adoção dos
computadores e o acesso online conduziram as empresas jornalísticas a uma
completa reformulação em seu sistema de trabalho. Com isso, adaptou-se à alta
velocidade na circulação de informações, exigindo do jornalista adequação à
velocidade do sistema, aumentando a sobrecarga do profissional e o reduzindo cada
vez mais.

Jornalismo tornou-se um disciplinamento técnico, antes que uma habilidade


investigativa ou linguística. Bom jornalista passou a ser mais aquele que
consegue, em tempo hábil, dar conta das exigências de produção de
notícias do que aquele que mais sabe ou que melhor escreve.
(MARCONDES FILHO, 2002, p. 36).

Já no que diz respeito aos conteúdos, o autor analisa que a qualidade da


imagem, originada na televisão, no cinema e nos painéis publicitários, impõe-se
como modelo estético.

O fascínio da imagem, definido como critério principal dos meios visuais,


passa a ditar a hierarquia da comunicação: primeiro, uma cena
tecnicamente perfeita; depois, um texto, uma narrativa, uma notícia. A
técnica viabiliza uma melhor montagem cênica de notícias e
acontecimentos, com efeitos como se fossem reais. (MARCONDES FILHO,
2002, p. 31).

Diante do crescente interesse e importância da imagem, editores fotográficos


passaram a trabalhar junto ao chefe de reportagem, de modo que o segundo dê
instruções aos primeiros, visando “estar a par da atividade da reportagem, de modo
que nenhum tempo é perdido ao colocar em ação os fotógrafos.” (BOND, 1962, p.
289). Kelly (1978) analisa o jornalismo como arte. Para ele:

O jornal é, antes de tudo, alguma coisa que se vê: do todo se parte para os
grandes títulos e para as ilustrações. Importantíssima a paginação.
Desce-se, depois, ao texto. Tal como num quadro: em primeiro lugar, o que
impressiona num quadro é a composição; depois o ritmo consequente; a
seguir, os elementos predominantes e as partes; finalmente, como soma da
percepção, o assunto. [...] As ilustrações aquecem o texto: dão visualidade
pronta, antes da leitura. (KELLY, 1989, p. 170).

Apesar de tal definição romântica, é imprescindível lembrarmos que não é


recente a crise do impresso e o avanço cada vez mais intenso do consumo de
informação através da internet. Para isso, utilizam-se portais e blogs, não à toa
grande parte dos jornais diários têm sites com vasta quantidade de conteúdos
multimídias. No Brasil, o primeiro a oferecer a versão eletrônica de suas notícias foi
o Jornal do Brasil, em 1996. Abreu (2002, p. 57) justifica que o jornalismo online
disponibiliza a notícia em tempo real, e conta com a atualização e periodicidade da
informação, que pode acontecer a cada dia, hora ou minuto. Além disso, “permite a
existência de veículos dirigidos a públicos cada vez mais segmentados.”
Marcondes Filho (2002, p. 37) elucida que, diante da ambiguidade de
aspectos da introdução da tecnologia no jornalismo, o ideal não é lamentar
processos que se tornam extintos, mas, ao contrário, “avaliar como revitalizar os
valores decisivos que estão sendo soterrados com toda a nova agitação social” tais
como o trabalho atento, criterioso e ético. Para ele, não há responsáveis por toda
essa mudança no modo de se fazer jornalismo. O contexto é consequência da
civilização humana, que se transforma a partir de uma variável independente: a
informatização.

O processo digital, de tempo real, de comunicações ​on line estabelece


novos parâmetros sociais. Tudo muda. [...] Não seria coerente que num
momento de introdução revolucionária de técnicas de inscrição,
armazenamento e reaproveitamento de informações - como é a informática -
sobrevivessem derivações de outras épocas históricas. (MARCONDES
FILHO, 2002, p. 37).

A entrada da internet na década de 90 trouxe um novo aspecto: a


comunicação global mediada pelo computador. Abreu (2002) lembra que a internet
reúne de maneira ágil os elementos de diversas mídias já existentes, como o texto
escrito, o som e a imagem em movimento. Kucinski (2005) aponta para as
mudanças que a internet possibilitou para o jornalista, como entrevistar técnicos e
personalidades em qualquer parte do mundo, ou ainda a facilidade que o fotógrafo
possui hoje ao enviar seu trabalho ao editor.

Permite que facilmente sejam efetuados cálculos, gráficos e tabelas


diretamente a partir do material pesquisado. Essa facilidade deu origem a
um novo gênero de matéria jornalística, o infográfico, que tenta classificar e
simplificar o conhecimento por meio visual. (KUCINSKI, 2005, p. 75).
Dessa maneira, a internet se transformou em símbolo da modernidade,
reformulando, mais uma vez, o jornalismo, indissociável dos avanços da técnica. A
internet alterou as relações entre emissor e receptor, permitindo a todos a
publicação e distribuição de conteúdos, como acontece com os blogs, e
transformando o papel dos jornalistas. Paralelamente às mudanças ao longo do
tempo na profissão, há outro aspecto de grande importância: os jornalistas
especialistas. São eles que, diversas vezes, são responsável por conteúdos
disponíveis na blogosfera.

3.3 Jornalismo especializado

No início da profissão, o jornalista era o repórter, o comentarista, o redator, o


paginador e, muitas vezes, o tipógrafo. Era exigido do profissional que soubesse de
tudo, estivesse a par de todas as informações e opinasse sobre todas elas, sob a
exigência de não cometer erro algum. No entanto, como explica Carvalho (2007),
com o avanço tecnológico e gráfico, as novas técnicas de produção são incentivadas
diante da comercialização e industrialização do universo noticioso, que por sua vez,
traz à tona a segmentação da informação. “No fazer e saber jornalísticos, o conceito
de segmentação da notícia é conhecido como ‘jornalismo especializado’.”
(CARVALHO, 2007, p. 10).
Conforme ressalta Marli dos Santos (2015), o jornalismo especializado pode
utilizar inúmeras características para definição, por exemplo, pelo meio de
comunicação (impresso ou digital), pelo tema (jornalismo econômico, ambiental ou
cultural, por exemplo) e ainda pelo método de investigação (jornalismo de precisão
ou investigativo). Tendo isso em mente, vale ressaltar que a abordagem escolhida
nesta pesquisa está relacionada ao conteúdo, ou seja, o jornalismo especializado
definido pelo tema. Sendo assim, pode-se compreender que:

O jornalismo especializado representa a consolidação de um processo


vertiginoso de segmentação, que articula conteúdos e audiências, mediado
pela produção e circulação de discursos intrinsecamente associados a
jargões, termos técnico-científicos, neologismos e conceitos compartilhados
pelos diversos campos de conhecimento. (BUENO, 2015, p. 280).
No Brasil, os primeiros sinais de jornalismo especializado começaram a surgir
entre 1808 e 1880, com a crônica (de costumes) e o ensaio (político e literário),
conforme lembra Carvalho (2007). Houve, desde então, inúmeras mudanças no que
diz respeito às produções jornalísticas, principalmente pelo fato de que a
profissionalização caminhou a passos lentos. Segundo Juarez Bahia (1990), a partir
da década de 1960 o jornalismo especializado se apresenta em múltiplas formas e
variações, sendo o jornalismo esportivo o mais influente quando se trata de
informação especializada. O Estado de São Paulo lançou, em 1964, a edição de
esportes, trazendo um formato inovador e dinâmico. Na mesma década, o jornal
desenvolveu ainda o caderno de turismo e os suplementos17 agrícola, feminino e
literário. Além disso, o veículo possuía cadernos regulares de economia.
Neste contexto, outros jornais deram continuidade à tendência, como O Globo
e o Jornal da Tarde, que publicaram em suas edições comuns a cobertura esportiva,
e a Folha de São Paulo que criou o caderno de turismo. Para Carvalho (2007), o
jornalismo especializado ascende entre as décadas de 1980 e 1990, quando

[...] se consolida na sociedade industrial como uma oportunidade de


negócios e de reorganização do trabalho jornalístico, levando a notícia ao
mesmo tipo de exploração que outros campos da ação humana. É a filosofia
de jornal-empresa que toma corpo e forma nos jornais. (CARVALHO, 2007,
p. 12).

De modo complementar, Abiahy (2005) alega que, diante das mudanças das
estratégias de produção jornalística, a função do jornalismo vem sendo alterada ao
longo do tempo. Ela recorda os primórdios da profissão, quando o jornalismo
cumpria a função de expressão ideológica, como falamos na primeira fase, em que
os jornais eram extremamente políticos e a informação era destinada a uma
doutrinação. No entanto, a partir do momento em que esses veículos tornam-se
empresas “a informação adquire a condição de bem público, serviço à comunidade e
o jornalista é o mediador, o repórter que presta essa função.” (ABIAHY, 2005, p. 06).

17
Suplementos são cadernos ou fascículos separados, inclusos ao jornal com periodicidade diferente
da costumeira. Por exemplo: um jornal que circula diariamente, aos domingos é acrescido com um
caderno falando sobre turismo.
A autora aponta ainda que o desenvolvimento do jornalismo especializado
não está vinculado somente ao contexto econômico, mas também à uma
característica intrínseca da área: a procura de atingir públicos amplos e unir as
pessoas em torno de uma informação comum. Diante deste propósito, o público
receptor passa a ser considerado em suas especificidades, visto os interesses
pessoais de cada grupo, e o jornalismo especializado surge como resposta a essa
demanda de informações direcionadas que caracteriza a formação das audiências
específicas.

As publicações especializadas servem como um termômetro da gama da


Sociedade da Informação. Mas por outro lado, podemos considerar que as
produções segmentadas são uma resposta para determinados grupos que
buscavam, anteriormente, uma linguagem e/ou uma temática apropriada ao
seu interesse e/ou contexto. Esses grupos agora encontram publicações ou
programas segmentados com o qual possam se identificar mais facilmente.
Neste caso, o papel de coesão social no jornalismo especializado passa a
cumprir a função de agregar indivíduos de acordo com suas afinidades ao
invés de tentar nivelar a sociedade em torno de um padrão médio de
interesses que jamais atenderia à especificidade de cada grupo. (ABIAHY,
2005, p. 5).

A especificidade do público receptor gerou o que Bueno (2015) observa como


uma audiência heterogênea que demanda informações qualificadas. Essa
circunstância abre caminho para dois cenários:
a) A emergência dos cadernos especiais e/ou editorias dedicados à áreas ou
temas específicos, como turismo, informática, ciência e tecnologia;
b) A multiplicação de veículos impressos, programas radiofônicos ou
televisivos e mesmo espaços virtuais, como blogs ou portais,
especializados em determinados focos de cobertura, como mudanças
climáticas, nanotecnologia, meio ambiente e gastronomia.
Foi essa crescente fome de notícias junto à busca da perfeição no jornalismo
a fim de evitar erros, segundo Beltrão (1960), que impuseram a especialização,
assim, pode-se falar no jornalismo científico, econômico, turístico, esportivo e afins.

A divisão do trabalho nas redações, facilitando e aperfeiçoando a execução


das tarefas e, finalmente, o surgimento de publicações especializadas e de
seleções com o intuito de manter o homem bem informado. Porque a
dificuldade, hoje, de estar em dia com os fatos não reside em que as
notícias sejam escassas, mas em que o seu volume é tão grande que se
torna impossível do homem assimilá-las. (BELTRÃO, 1960, p. 74).

Além destes aspectos apresentados, o autor também considera que a


mudança contribuiu para melhorias no trabalho do jornalista, tirando-lhe a
obrigatoriedade de ser enciclopédico e evitando, na medida do possível, erros e
omissões. No que diz respeito ao “saber tudo”, Pena (2006) discorda. Para ele, o
clichê de que o jornalista é um especialista em generalidades ainda é real, pois com
a evolução tecnológica, exige-se uma formação técnica genérica.
Essa abordagem da profissão proposta por Felipe Pena diz respeito ao que
Beltrão (1960) conceitua como o jornalismo geral, que abrange os mais diversos e
amplos setores, atendendo desse modo à demanda total do público. No entanto, ele
defende que, apesar do jornalismo especializado se ocupar de temas, problemas e
fatos de interesse de um grupo limitado de pessoas, as alcança com mais
profundidade, gerando também “repercussão no organismo social, desde que se
dirige a uma elite ou a um determinado grupo com maior capacidade de apreensão e
aplicação dos conhecimentos adquiridos pelas informações e pela crítica contida.”
(BELTRÃO, 1960, p. 76).
De modo complementar, Bueno (2015, p. 282) alerta para as diferenças entre
a cobertura geral e especializada, em que a primeira “não se vincula a uma temática
específica e se manifesta a partir de um discurso despojado de termos e expressões
técnicos ou científicos”, enquanto o jornalismo especializado utiliza fontes
qualificadas e nível diferente quando se trata da capacitação dos profissionais.
Diante das controvérsias quanto à importância da cobertura especializada e
geral, Beltrão (1960) é otimista e recorda que, em quaisquer que sejam as suas
manifestações, o jornalismo busca sempre satisfazer a três necessidades do espírito
humano, que estão integradas à vida social, são elas:

1.°) informar-se do novo, do imprevisto, do original e, através dêle ou por


causa dêle, recordar-se do passado, do já sabido, do quase perdido nos
arcanos da memória; 2.°) receber uma mensagem de advertência ou
orientação, isto é, alertar-se para o futuro, para a ação; 3.°) entreter-se,
descansar das preocupações no “humour”, na ficção, na poesia, nas belas
letras, na arte. (BELTRÃO, 1960, p. 72).
Conciliando o pressuposto do jornalismo como orientador e da expansão do
turismo e compreensão dele como uma atividade econômica que abrange diversos
setores, surge a necessidade da criação de veículos de comunicação voltados às
temáticas de interesse daqueles que viajam ou desejam viajar. Através de
suplementos nos jornais, revistas, programas de televisão e blogs, surge um novo
gênero no especializado: o jornalismo turístico.

3.4 Jornalismo Turístico

O desenvolvimento da mídia especializada em turismo no Brasil começou


pelo jornal impresso, seguindo modelos existentes na Europa e Estados Unidos.

[...] a primeira publicação de turismo brasileira veiculada pela grande mídia


ocorreu em 1959, quando o jornal ​Folha de S. Paulo lança o suplemento
Turismo​. Em 1966, o jornal ​O Estado de S. Paulo passa a publicar um
suplemento especial sobre viagens. E, em agosto de 1972, a revista ​Quatro
Rodas​, da Editora Abril, gera uma edição especial com o tema ​Turismo - o
Bom Negócio​. Com o tempo, todos os jornais brasileiros de grande porte e
de circulação nacional adotaram um caderno de turismo como ponte entre o
leitor, as viagens e a maneira de realizá-las. (TRIGO, 2000, apud MARTIN,
2009, p. 97).

O jornalismo especializado em turismo exerce um papel fundamental quando


se trata de entregar ao leitor as dinâmicas do turismo, já que promove e informa
acerca de determinados locais, assim como detalha contextos culturais, sociais e
econômicos. Martin (2009) alega que a comunicação possui um papel fundamental
quando se trata da construção do imaginário do leitor. Para ela, os conteúdos
abordam não somente os locais a serem explorados, como trazem também um vasto
leque de conteúdo composto por vivências e opiniões.

De qualquer forma, em todos esses veículos de comunicação que compõem


a mídia, a construção da imagem da localidade tem uma vital importância
para a divulgação do turismo. Essas imagens podem ser relacionadas não
apenas a cenários referentes ao local turístico, mas também a um conjunto
de atitudes, opiniões e experiências relacionadas a um destino. São,
portanto, carregadas de elementos simbólicos, formando o campo cognitivo
do universo dos indivíduos, povoando o imaginário social e provocando
desejos de deslocamento. (MARTIN, 2009, p. 80).
Débora de Paula Falco (2008, p. 01) também aborda a mídia como uma
formadora poderosa de opinião, visto o processo de mediatização e dependência
dos órgãos de comunicação social que a sociedade atravessou. “Neste sentido,
verifica-se que a mídia será um espaço fundamental para construção das
identidades regionais e nacionais com posicionamento turístico.”
Há ainda outro ponto que deve ser levado em consideração quando falamos
em jornalismo turístico: as diversas atividades que envolvem o viajar e,
consequentemente, a produção de conteúdos.

O turismo é abordado com destaque, na imprensa brasileira, com bastante


ilustrações, a maior parte em cores, mostrando cidades do País ou
estrangeiras. As matérias visam incentivar o leitor a viajar e, por isso,
abordam temas ilimitados: museus, campismo, roteiros de viagens, preços
de hotéis e passagens, excursões promovidas por empresas
especializadas, novidades das companhias de aviação (inauguração de
rotas, compra de novos aparelhos, substituição de uniformes do pessoal de
terra e das aeromoças), centros campestres, hotelaria, pesca, tábua das
marés, cardápios de restaurantes, cruzeiros marítimos, comemorações,
política do turismo, reformas de aeroportos, automobilismo, como viajar para
o exterior (passaporte, vistos, compra de passagens, limite de dólares, o
que pode ser trazido, como remeter dinheiro a quem se encontra em outro
país) e outros. (ERBOLATO, 1991, p. 94).

Junto à forte segmentação e demanda cada vez maior de públicos


específicos, ocorrem também as mudanças midiáticas. Falco (2011, p. 26) analisa
que a entrada da internet nas últimas décadas do século XX trouxe o que seriam os
novos espaços de sociabilidade, “ao provocarem no público efeitos de presença e
participação que geram uma co-moção por parte dos espectadores que passariam a
viver a mesma emoção juntos, através da transmissão.”
Ainda que os jornais e, principalmente, as revistas tenham ocupado grande
espaço na produção de conteúdo jornalístico voltado ao turismo, a ascensão do
webjornalismo trouxe um apanhado de todas as práticas da profissão em uma só
plataforma, utilizando imagens, sons e textos, além de entregar de maneira mais
forte aos leitores a sensação de participação.
Christian Nielsen (2002) segue paralelamente à Falco (2008) quando se trata
da força que a mídia possui perante o modo que o turista vê e planeja a viagem. No
entanto, ele ressalta as diferenças das informações turísticas quando disponíveis
online:
A www tomou as informações turísticas do padrão de distribuição tradicional
unidirecional e transformou-as num acontecimento multidirecional e
multifacetado. Os planejadores de turismo e fornecedores de informação
tentam combinar a oferta de informações com as exigências dos turistas,
com base na compreensão de que se trata de uma indústria dinâmica que
sofre a influência de várias limitações e variáveis. (NIELSEN, 2002, p. 175)

Estes conteúdos online estão presentes, em sua maioria, nos blogs, as


páginas que ganharam destaque na cultura digital contemporânea nos últimos anos.
Mattoso (2003, p. 27) atribui a popularidade ao teor democrático, já que os blogs
trazem consigo “o livre direito de se comunicar via internet, estando disponível e ao
mesmo tempo ao alcance de qualquer um.”
Diante deste alcance que a internet propicia e do crescimento constante do
turismo, entra em campo também as questões comerciais, oriundas do vínculo entre
as atividades turísticas e jornalísticas. Com isso, os profissionais apresentam de
maneira positiva os locais que interessam às editoras e anunciantes, visto que essas
matérias são pagas por patrocinadores.

Nos suplementos de turismo a ligação entre o jornalismo e as variantes


“publicistas” é tão impressionante que é difícil saber onde começa a
publicidade, propriamente dita e a propaganda. É o caso das viagens
patrocinadas dos repórteres pelas empresas do setor turístico, onde a pauta
muitas vezes é motivada porque a editoria foi agraciada com uma
passagem para um determina o lugar, por exemplo. Quer dizer, o jornalismo
ali é propaganda-publicidade. É propaganda porque o repórter está
divulgando um ponto turístico em que a empresa tem uma conexão como
pacotes turísticos ou itinerário aéreo. E é publicidade porque é citado o
nome da empresa que patrocinou a viagem no final da matéria. O
jornalismo, nessa situação se fragiliza e abre precedentes e
desdobramentos de ordem ética. (CARVALHO, 2003, p.82 apud BRANDÃO,
2005, p. 07).

O autor faz crítica ao impresso, no entanto, é comum que a prática se estenda


às mídias sociais, como blogs e Instagram. Gonçalves (2019) avalia que a tendência
de usufruir do indivíduo que viaja e narra, é oriunda da falência dos modelos de
negócio utilizados na publicidade, no jornalismo e turismo. Neste modelo de
publicidade, o turismo utiliza técnicas jornalísticas para contar histórias reais que
inspiram outras pessoas a viver experiências semelhantes e, consequentemente,
promovem serviços e destinos.
[...] esses novos “eus-viajantes” passaram a lotar de relatos afetivos em
primeira pessoa - e de retratos - não apenas os veículos jornalísticos e as
redes sociais digitais, como também as plataformas das marcas do turismo.
(GONÇALVES, 2019, p. 306).

Kotler (2010) alega que a comunicação feita através de histórias tende a


acarretar mais visibilidade, pois os personagens simbolizam a percepção da marca
pelo espírito humano.

O enredo mostra como o personagem navega entre a rede de seres


humanos que reescreverão as próprias versões da história. As metáforas
são o processo inconsciente que ocorre no espírito humano. Histórias com
metáforas compatíveis ganharão relevância e serão percebidas como
verdades pelos consumidores. As histórias que emocionam as pessoas têm
todos estes três componentes importantes: personagem, enredo e metáfora.
(KOTLER, 2010, p. 69).

É justamente por causa do interesse dos possíveis consumidores em histórias


instigantes, aliada à necessidade das marcas de reinventar o modo que fazem
comunicação, que a publicidade adotou o storytelling. A ascensão das mídias digitais
deu ao usuário o direito de escolha sobre o que assistir, além de permitir facilmente
o bloqueio das publicidades rodeadas de anúncios massivos. “[...] o cidadão passou
a preferir assistir a histórias atraentes, como as narrativas de quem vive experiências
intensas como as das viagens.” (GONÇALVES, 2019, p. 307).
No sentido etimológico, storytelling significa contar histórias. A prática está
presente há tempos na tradição oral, nos livros, no teatro, no cinema e nos jornais,
como recorda Massarolo (2013, p. 338). “O ato de contar histórias remonta à própria
história da humanidade, quando narradores (storytellers) sentados ao redor de
fogueiras trocavam experiências entre si.” No entanto, como o próprio autor ressalta,
o compartilhamento de vivências tem assumido novos sentidos e graus de
importância e utilização. Gonçalves (2019) atribui essa mudança à entrada do termo
no dicionário contemporâneo, junto às técnicas de branded content e conteúdo de
marketing.

Os termos são variações do mesmo tema no cenário em que jornalistas,


escritores e publicitários contam histórias sob encomenda do departamento
de marketing, da imprensa ou de relações públicas das corporações. É
como se tivessem diminuído as distâncias entre um texto jornalístico bem
contado e um storytelling de qualidade produzido pelo setor de marketing de
uma marca. (GONÇALVES, 2019, p. 306).

O storytelling é capaz de fisgar a atenção do receptor de modo que ele deixe


de dar atenção a qualquer outra circunstância e se volte para a mensagem que está
sendo transmitida. “O mecanismo das narrativas faz com que atuem como um
espelho da vida. Ao expor a intimidade das personagens, a narrativa sugestiona
quem estiver atento a se imaginar no lugar dos protagonistas.” (PALACIOS;
TERENZZO, 2016, p. 102).
A aplicação do storytelling no âmbito comercial, ou seja, na publicidade
turística e empregabilidade jornalística, gera pontos considerados positivos para
Brandão (2005), pois reduz ou anula o custo das viagens para jornalistas, e gera um
bom relacionamento entre o destino e/ou as empresas turísticas e os meios de
comunicação, visto que os produtos serão divulgados de forma mais “humanística”.
No entanto, essa prática não é vista com bons olhos de maneira unânime, isto
porque a notícia pode se caracterizar como tendenciosa e parcial. “O jornalismo não
pode ser considerado como uma ferramenta de marketing, porém tem um papel
muito importante em um planejamento de comunicação.” (FERRARI, 2002, p. 75
apud BRANDÃO, 2005, p. 07).
Sob o olhar de responsabilidade que o exercício exige, Cartolano e Bonito
(2019, p. 385) ressaltam que o jornalismo “é uma profissão, por si só, movida pela
característica em compartilhar com a sociedade uma história, mas não pode
esquecer o seu comprometimento e ética ao levar uma informação à população.”
Para além da relação comercial do jornalismo turístico, já que este não é o
foco da pesquisa, há ainda outro aspecto apontado por Brandão (2005) que
diferencia as reportagens do tema para as demais: o enfoque e a estrutura.

Enquanto a maioria das notícias tenta contemplar as seis perguntas do


jornalismo (quem, quando, onde, como, porquê e o que), as reportagens em
turismo enfocam principalmente o onde (destino ou linha aérea, por
exemplo) e o porquê (que está envolvido com a promoção e com o produto).
Também é válido ressaltar que o jornalista que faz uma viagem para
determinada localidade também possui motivações próprias e isso
influenciará na maneira como irá descrever o destino. (BRANDÃO, 2005, p.
08).
Apesar das mudanças estruturais, Cartolano e Bonito (2019) ressaltam a
necessidade de utilização da apuração jornalística para abordar o desenvolvimento
cultural, econômico e social nas editorias. Para os autores, ainda que as narrativas
turísticas tenham características mais livres, “a importância da informação continua a
mesma, pois o leitor de viagem busca por conteúdos de serviços.” (CARTOLANO;
BONITO, 2019, p. 387).
O jornalismo é uma profissão que permite o manuseio de diversos assuntos,
sendo assim, “quando se fala em narrativas de viagem ligadas diretamente ao
turismo, há um leque de possibilidades que permite que a comunicação, com um
viés jornalístico, possa abordar.” (CARTOLANO; BONITO, 2019, p. 388).
Consequentemente, percebe-se a relevância da junção dos setores de turismo e
jornalismo, visto que:

[...] o turismo é parte fundamental da economia e a indústria mercadológica


está por trás do consumo que vai gerar mais lucro, os portais jornalísticos só
tendem a ganhar ao investir em produções especializadas em viagem,
porque contemplaria o leitor com a informação, a área cultural através do
contato com o novo, a economia com a movimentação de turistas e o
aspecto histórico e social com a visibilidade e conhecimento do local. Ou
seja, essas áreas estão relacionadas e o jornalismo é uma das únicas
profissões que pode evidenciar como isso se estabelece na prática.
(CARTOLANO; BONITO, 2019, p. 388).

Apesar da forte relevância para o funcionamento atual da sociedade, os


autores ressaltam a importância não apenas de informar, mas também de oferecer
conteúdo rico em interpretação, olhar crítico, profundidade e, claro, qualidade, de
modo que gere reflexão ao receptor. Além disso, é imprescindível, ainda segundo
Cartolano e Bonito (2019), que as narrativas explorem e compartilhem contextos
locais, culturais, econômicos e sociais. Ashton (2007) complementa que é no
conceito do compartilhar, que encontramos expressa a função da comunicação, que
é tornar algo comum a todos, ou seja, o conhecimento compartilhado. Para ela, o
compartilhamento de emoções, sentimentos e afetos com outras pessoas tende a
ativar a de integração.

O compartilhar das experiências, enquanto vividas, constitui-se em


elemento que merece atenção em relação ao Turismo. Na medida em que
as pessoas sentem-se motivadas a “estar-junto”, forma-se a cadeia motora
dos deslocamentos humanos (buscar algo em outro lugar e no outro). O
comungar do vivido, no instante em que é vivido, é que desperta a
curiosidade e o desejo de experimentar junto e, ao mesmo tempo, que/com
os outros, resultando em atratividade turística. (ASHTON, 2007, p. 101).

Levando então em consideração a importância do partilhar, principalmente no


que diz respeito à cultura e identidade, função intrínseca ao jornalismo turístico,
torna-se relevante finalizarmos este capítulo com uma reflexão de Maffesoli (1988).

São justamente estas representações, estas histórias exemplares, que


todos contamos, as responsáveis pela estruturação do desenvolvimento
coletivo e individual. De modo metafórico, digamos que servem de
contraponto, de músicas de acompanhamento à sinuosa deambulação da
existência humana; e servem também de adjuvante face ao rigor do destino,
à dureza da imposição social ou natural. Trata-se de uma função que não
pode ser descurada e que, em todos os casos, baralha as análises
tradicionais, tanto políticas quanto sociológicas, que, rapidamente, a
esvaziam ou que a ela concedem uma posição secundária. [...] Se
retomarmos aqui uma expressão filosófica, diremos que a teoria tende a
substancializar, isto é, aquilo que é apenas uma imagem, que é uma
simples ajuda para a compreensão, torna-se uma entidade insuperável.
(MAFFESOLI, 1988, p. 97).

O autor se refere neste trecho à teorização, no entanto, é possível aplicarmos


a abordagem aos efeitos causados pelas narrativas, tendo em vista o valor e grau de
confiabilidade atribuídos aos textos consumidos pela sociedade pós-moderna. Com
isso, sublinha-se o modo como a narrativa é capaz de construir real e
imageticamente o contexto cultural e identitário de um destino, já que, como
descreve Ritter (2019), a narrativa é composta por uma mistura de registros diários,
cultura, aventura, história, reflexões, divagações e descrições das mais variadas.
4. A narrativa e o processo de construção identitária

Expor um acontecimento, real ou imaginário, através das palavras escritas ou


faladas, faz parte do que chamamos de narração. Ela “pode ser sustentada pela
linguagem articulada, oral ou escrita, pela imagem, fixa ou móvel, pelo gesto ou pela
mistura ordenada de todas estas substâncias.” (BARTHES, 2008, p. 19).
O ato de narrar pode ser classificado de inúmeras maneiras, não à toa é
estudado há tempos pela narratologia, que por sua vez:

[...] dedica-se ao estudo da representação das práticas e princípios da


narrativa. Apesar de suas origens estarem associadas ao estudo da
narrativa em textos verbais, em especial à prosa literária, hoje uma das
abordagens é a intermidiática, que examina a narrativa em qualquer mídia -
literatura, cinema, quadrinhos, vídeo games. (FIGUEIREDO, 2016, p. 48).

Considerada relativamente recente, a narratologia ganhou força devido à


grande atenção que concedia aos estudos literários, no entanto, diante das
mudanças “extrapolou o seu olhar também para as representações não-literárias.”
(REIS; LOPES, 2002, p. 285-286 apud BERTOCCHI, 2006, p. 69).
Esse olhar da narratologia, desprendido de obras literárias e voltado também
às representações não-literárias, contribui para a compreensão de “como os sujeitos
sociais constroem os seus significados através da apreensão, compreensão e
expressão narrativa da realidade.” (MOTTA, 2005, p. 2).
As narrativas estão presentes de maneiras diversas, como nas novelas, nos
contos, nas histórias em quadrinhos e no mais corriqueiro diálogo cotidiano. No
entanto, Walter Benjamin (1987) defende que a narrativa está cada vez mais
enfraquecida. Para ele, encontrar alguém que saiba narrar devidamente uma história
tem se tornado raro. O autor atribui o declínio da prática à ascensão do capitalismo e
queda na qualidade dos jornais.

Basta olharmos um jornal para percebermos que seu nível está mais baixo
que nunca, e que da noite para o dia não somente a imagem do mundo
exterior mas também a do mundo ético sofreram transformações que antes
não julgaríamos possíveis. Com a guerra mundial, tornou-se manifesto um
processo que continua até hoje. (BENJAMIN, 1987, p. 198).
Apesar dos argumentos apresentados, há quem discorde do autor. Bertocchi
(2016, p. 39), por exemplo, afirma que a narrativa está em todos os tempos e
lugares, como “nas telenovelas; na música que cantamos no chuveiro; nas
conversas ao telefone com os amigos; nos vitrais das igrejas; na brincadeira pueril
de reconhecer formas em nuvens.”
Barthes (2008) também alega que a narrativa é intrínseca à sociedade.

[...] a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em


todas as sociedades; a narrativa começa com a própria história da
humanidade; não há em parte alguma um povo sem narrativa; todas as
classes, todos os grupos humanos têm suas narrativas. (BARTHES, 2008,
p. 19).

Partindo deste princípio apontado por Barthes, os relatos apresentados


nestas narrativas expõem fatos sobre o passado, presente e o futuro. Essa troca
pode acontecer com inúmeros intuitos, como descreve Benjamin (1987), por
exemplo, ao dar conselhos e sugestões à uma prática de vida ou um ensinamento
moral. Barthes (2008, p. 48) complementa que, além de possuir a função de troca, a
narrativa “é alvo de uma comunicação: há um doador da narrativa, há um
destinatário da narrativa.”
A variação de linguagem no momento da narração é comum, visto a vasta
dimensão de elementos simbólicos que são utilizados a fim de estabelecer
compreensão no ato de comunicar.

A narrativa traduz o conhecimento objetivo e subjetivo do mundo (o


conhecimento sobre a natureza física, as relações humanas, as identidades,
as crenças, valores e mitos, etc.) em relatos. A partir dos enunciados
narrativos somos capazes de colocar as coisas em relação umas com as
outras em uma ordem e perspectiva, em um desenrolar lógico e
cronológico. É assim que compreendemos a maioria das coisas do mundo.
(MOTTA, 2005, p. 2).

4.1 A estrutura narrativa

O enunciado citado por Motta (2005) é responsável pela comunicabilidade.


Sodré (2009) explica que:
[...] o enunciado num discurso tem significado e sentido, isto é, tem valor
semântico e valor sociocomunicativo (logo, tem ​significações)​ o que faz do
discurso um ‘fato social’, dependente de situações marcadas por tempo e
espaço. (SODRÉ, 2009, p. 142).

O discurso, por sua vez, é resultado do modo como se organiza a circulação


da fala e produção de sentido numa comunidade social. (CHARAUDEAU, 2006).
Sodré acrescenta ainda que:

Discurso é mesmo, em linhas gerais, o funcionamento da linguagem,


portanto, o lugar da intersubjetividade ou de formação do laço social. Ele é
tanto a fala individual quanto a malha de inserção do indivíduo na
complexidade relacional do ​socius​, ou seja, é também realidade em
construção, geradora de sentido para o que se apresenta como social e
semanticamente fragmentado. (SODRÉ, 2009, p. 141).

É válido lembrar ainda que há uma vasta margem de interpretações que,


como o próprio autor coloca, diz respeito ao valor de realidade do acontecimento.
Sendo assim, a diversidade interpretativa de um enunciado ou discurso está
vinculada ao:

[...] potencial de descrição do real-histórico de uma ocorrência, seja esta um


aspecto miúdo do cotidiano ou um fato de grandes proporções sociais. É a
direta vinculação com o real-histórico que dá margem para que o discurso
possa ser pensado, não apenas como conceito sociolinguístico ou
semiológico, mas também como uma prática social de produção de textos,
logo como prática institucional, assumida por um sujeito e regida por
convenções originadas de estruturas sociais. (SODRÉ, 2009, p. 142).

Tendo em vista a produção de textos como prática social, logo, remete-se ao


fato trazido por Charaudeau, quanto à circulação e produção de sentido dessas
narrativas produzidas. Portanto, faz-se necessário conceituar rapidamente que há
diferenciação nos discursos, que podem ser compreendidos como subjetivo e
objetivo. No primeiro caso, existe, de forma explícita ou implícita, marcas do sujeito
da enunciação, ou seja, o locutor manifesta sua presença através do contexto
espácio-temporal e utiliza pronomes pessoas e possessivos de primeira e segunda
pessoa, um exemplo comum é a autobiografia. Na contramão, o discurso objetivo é
marcado pelo cunho impessoal, ou seja, quem escreve ou fala está invisível e
apresenta fatos do mundo exterior, como é o caso das reportagens.
O sujeito que narra pode ser, por exemplo, o jornalista que escreve no
editorial de um jornal impresso ou que produz conteúdos em seu blog sobre rotas
turísticas e culturais. Nestes casos, o discurso traçado envolve a comunicação
acerca de um determinado contexto e, comumente, apresenta discurso subjetivo. A
narrativa, por sua vez:

[...] pode ser analisada e observada com um “enunciado”, mas também


como um “conjunto de conteúdos” representados por esse enunciado; como
o “acto de os relatar”, e ainda pode ser tomada como um “modo”. Narrativa,
nalguns casos, pode ser sinônimo de “história” e de “narração” ou mesmo
complementada pela idéia de “discurso”. (REIS; LOPES, 2002, p. 270 apud
BERTOCCHI, 2006, p. 70).

4.2 Narrativas de viagens

Cabe-nos aqui concordar com Cartolano e Bonito (2019), quando falam da


dificuldade em conceituar o jornalismo de viagem, e estender a premissa às
narrativas de viagem. Não somente é complexo definir um conceito para o tema,
como também especificar o modo como os conteúdos estão sendo produzidos. Isso
porque, segundo Bertocchi (2016), o aumento da banda larga nos últimos anos
conciliado à ascensão de ferramentas como weblogues, videoblogues e podcastings
foram o estopim para “impulsionarem a criação de diferentes formas de narrativas.
Os fenômenos funcionaram como um apelo à multimidialidade, às hiperligações
externas e à interatividade.” (BERTOCCHI, 2016, p.35).
Há, ainda, os crescentes recursos audiovisuais, que facilitam a produção das
narrativas transmídias. Jenkins (2012) explica que essa prática é utilizada em
múltiplas plataformas, e cada conteúdo contribui de maneira distinta e valiosa. Desse
modo, uma vez que um único conteúdo não seria capaz de abordar todas as
informações necessárias, a narrativa transmídia possibilita iniciar em um texto
central e, a partir dele, direcionar para diversas plataformas midiáticas, cada qual
com um conteúdo disponível que contribui ao leitor de maneira distinta, mesmo que
esteja em torno de uma mesma história.
Por exemplo, suponhamos que uma pessoa compartilha sua narrativa de
viagem em um grupo do Facebook e, nesta publicação, o viajante insere um link de
acesso às fotos do Instagram, possibilitando aos demais uma pré-visualização do
​ e Facebook, o narrador pode
“visual” que encontrado no local. Neste mesmo ​post d
ainda disponibilizar links para os ​stories18 do Instagram e também às publicações de
blog. No primeiro caso oferecendo dicas rápidas, enquanto no segundo dispõe de
textos mais completos e com hiperlinks. Nessa suposição, há a utilização de
narrativas transmídias, pois quem escreve se apoia na publicação do Facebook
como texto central, e direciona para outras duas plataformas midiáticas, a depender
do interesse de quem lê, com conteúdos distintos ou adaptados para cada espaço
digital.
Este exemplo aborda o uso das narrativas transmídias nos relatos turísticos.
No entanto, estejamos cientes que as narrativas turísticas em si não dependem do
uso transmídia e estão presentes nos jornais, revistas, programas de televisão e
outras mídias. Assim, tanto a utilização dos artifícios visuais como textuais servem
de incentivo para conduzir o público à viagem imaginária, já que, estes relatos, de
modo geral, oferecem uma dupla experiência de viagem.

A primeira, a trajetória virtual do leitor pelo relato do narrador; a segunda, a


viagem real que o leitor pode criar para si mesmo através destes mesmos
relatos, uma viagem tão singular quanto aquelas ali encontradas. Está
aberta ao leitor a possibilidade de narração de sua própria história.
(SANTOS, 2013, p. 04).

Há uma considerável potência nas narrativas turísticas quando se trata da


ressignificação e reinventação, visto que:

[...] viagem e narrativa, narrativa e viagem são experiências que podem


auxiliar os sujeitos - individuais e coletivos - a romperem a cegueira dos
dias, do cotidiano maquinizado em engrenagens
subjetivo-sociais-produtivas, para ajudá-los a verem-se de maneiras
diferentes. (BAPTISTA, 2019, p. 20).

Vinculando as narrativas turísticas ao trabalho jornalístico, que é o foco de


nossa pesquisa, Ritter (2019, p. 72) ressalta que diante da percepção do Jornalismo
Literário de Viagem, o jornalista que possuir “a escrita e o domínio das palavras” é

18
A função permite que os usuários publiquem fotos ou vídeos rápidos, e que só poderão ser
visualizados durante 24 horas pois, após esse período, saem do ar.
também “possuidor das emoções afloradas no psíquico”. Além disso, o autor
complementa que esse gênero permite não apenas a narração da viagem, mas
também o compartilhamento pessoal das experiências vividas pelo narrador.
O termo Jornalismo Literário de Viagem, por sua vez, foi cunhado por Edvaldo
Pereira Lima, ao retratar narrativas de não-ficção sobre viagens, que foram
produzidas em estilo de Jornalismo Literário. Historicamente, é um gênero popular
que se desdobra em diversos formatos, como os livros reportagens, por exemplo,
onde encontra-se autores como Ryszard Kapuscinski e Euclides da Cunha.

Mais do que em outras formas narrativas do JL19, exige presença marcante


do autor também como personagem, muitas vezes como protagonista. Tem
caráter biográfico e está associado simbolicamente à ideia de aventura.
Promete implicitamente ao leitor, mais do que uma leitura, uma viagem
sensorial pelas experiências vividas pelo autor. (LIMA, 2000?)

A disponibilidade de recursos variados, no momento em que o autor discorre


sobre os cenários visitados, possibilita que ele trace inúmeras rotas, já que a
narrativa de viagem “guarda maior liberdade, admite a digressão, o ponto de vista
fora da curva do senso comum, a visão parcial, a apresentação dos fatos de forma
menos objetiva.” (BRESSAN, 2019, p. 441). Essa variedade é abordada por
Modernell (2009), ao traçar as inúmeras características textuais recorrentes no
gênero, como mostrado a seguir:

[...] a) o texto dá menos relevância aos fatos em si do que a seus efeitos


sobre o observador; há uma prevalência da subjetividade; b) o autor propõe
ao leitor uma nova maneira de digerir ou interpretar as coisas que lhe
expõe; [...] c) o autor reflete sobre a natureza e a velocidade do
deslocamento; [...] d) o autor tem ​insights ao observar o ritmo em que as
coisas acontecem em cada lugar ou situação, e na sua narrativa consegue
transmitir ao leitor as diferentes dimensões do tempo (geográfica, social e
individual); [...] e) ao descortinar novos cenários, o texto evoca o ponto de
partida do protagonista, propiciando-lhe um olhar retrospectivo e renovado
sobre o “mundo comum”. [...] f) o texto tem características de uma grande
reportagem, apesar de certo descompromisso geral com a função
informativa; g) o texto transmite conhecimento especializado em
determinada área, na voz do autor ou de um personagem; h) a estratégia
narrativa inclui o jogo interfactual, mas não o contrafactual, que é mais
próprio da ficção literária; i) o texto tem elementos de romance de aventura.
(MODERNELL, 2009, p. 49).

19
JL: Jornalismo Literário.
Nas características citadas acima, é possível notar a presença da
espontaneidade, prevista no JL de Viagem, mas também traços do jornalismo
habitual, como a presença de reportagens e o conhecimento especializado. No
entanto, não bastando esses caminhos textuais apontados pelo autor, há ainda a
possibilidade de análise quanto ao ponto de partida de tal narrativa, dada as
incontáveis motivações que influenciam no caminhar, além do modo como as
experiências interferem na vida do narrador.

a) o ponto de partida da narrativa é um desequilíbrio no “mundo comum”: o


protagonista sente-se desconfortável no ambiente onde vive, como um
exilado em sua própria terra; b) a obra inclui conteúdos autobiográficos; c) a
obra retrata uma experiência vivida em profundidade (imersão), na qual o
viajante se lança com a sensação de ​queimar as pontes​, ou seja, encerrar
uma fase de sua vida; d) o protagonista passa por uma transformação
interior ao longo do caminho (individuação); [...] e) o viajante se diferencia
do turista por sustentar um olhar despojado e inquisitivo sobre o que o
cerca; convive de forma criativa com a insegurança e a surpresa; deixa-se
levar pelo fluxo dos acontecimentos; e delicia-se com os pequenos
flagrantes da vida; [...] l) na sua jornada, o viajante tem como aliados a
disponibilidade e o acaso; consegue detectar lampejos da eternidade
naquilo que é transitório; [...] p) o autor parece se mover “nas entrelinhas”
dos guias turísticos, sem dar relevância a elementos conhecidos por todos
os chamados “cartões postais”; [...] n) o autor tem acesso a esferas sociais
com as quais não está habituado a conviver no “mundo comum”.
(MODERNELL, 2009, p. 49).

Essas classificações citadas, para Bressan (2019, p. 442), são vistas como
um avanço no que diz respeito ao estudo das narrativas de viagem, pois se
aproximam de aspectos considerados importantes quando se refere à “estrutura
textual do relato; às aproximações da narrativa literária com a narrativa de viagem e
à grande influência da perspectiva e subjetividade do viajante na construção de um
relato.”
Esses relatos trazem consigo a mudança ocorrida no narrador, carregado
ainda aspectos culturais e sociais, por isso:

[...] o relato de viagem não é uma forma absoluta de registro, que


compreende de maneira completa (quiçá imparcial, e que muitos gostariam
de denominar científica) a passagem do seu autor por um local novo. A
seleção é feita de maneira absolutamente subjetiva, baseada em critérios
próprios e únicos e, claro, balizados por uma bagagem cultural inegável.
(GÜÉRCIO; CRUZEIRO, 2019, p. 48).
Além de discorrer sobre a vivência e os processos transitórios que o viajante
percorre, as narrativas turísticas, assim como citamos no jornalismo de viagem,
apresentam aspectos culturais e sociais dos destinos descritos. Dessa forma, é
cabível questionarmos a maneira como a identidade de um local é colocada diante
dessas narrativas. Para isso, vale abordarmos, brevemente, os conceitos de
identidade.

4.3 Concepções de identidade

As concepções de identidade vêm transformando-se ao longo dos anos,


portanto, torna-se um tanto complexo estabelecer aqui um conceito para o termo.
Silva (2000, p. 81) classifica identidade como uma relação social, em que “sua
definição - discursiva e lingüística - está sujeita a vetores de força, a relações de
poder.” Assim, o sentido de identidade pode ser marcado através da linguagem e os
sistemas simbólicos aos quais elas são expostas e representadas.

[...] a identidade marca o encontro de nosso passado com as relações


sociais, culturais e econômicas nas quais vivemos agora [...] a identidade é
a intersecção de nossas vidas cotidianas com as relações econômicas e
políticas de subordinação e dominação. (RUTHERFORD, 1990, p. 19 apud
WOODWARD, 2000, p. 19).

Tendo em vista os fatores motivacionais identitários e a instabilidade pautada


acima, Miranda (2000, p. 82) propõe uma substituição. Para ele, o termo identidade
se associa a “uma coisa acabada”, por isso, deveríamos utilizar a palavra
identificação, visto que se trata de um processo, “e que essa identidade nunca é
plena dentro dos indivíduos, ao contrário, ela precisa ser ‘preenchida’ e
desenvolvida.” O autor ressalta ainda para o fato de que a identidade muda
conforme um sujeito “é interpelado ou representado”. Paralelo a este pensamento,
Maffesoli (1996) aponta que o processo identitário do indivíduo

[...] só pode ser definido na multiplicidade de interferências que estabelece


com o mundo circundante. Seja esse mundo o dos outros indivíduos,
compondo a proximidade social, ou o das situações, das ocorrências que
favorecem essas relações, pouco importa. (MAFFESOLI, 1996, p. 305).
Há ainda as três concepções de identidade apontadas por Stuart Hall (2006),
distinguidas como:
a) Sujeito do Iluminismo: é baseado na concepção do indivíduo totalmente
unificado desde o seu nascimento, dotado das capacidades de ação, razão e
consciência. A identidade nasce com o sujeito e com ele se desenvolve, no
entanto, permanece a mesma durante toda a sua existência;
b) Sujeito sociológico: a sua formação está voltada às relações com outras
pessoas, que mediam valores, sentidos e símbolos expressos em uma
cultura. Nesta acepção, a identidade é formada através da interação entre o
eu e a sociedade;
c) Sujeito pós-moderno: como resultado da fragmentação, é tido como alguém
que não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente. Por estar sujeito
às transformações nos sistemas culturais que o representa, o sujeito assume
diferentes identidades, em diferentes momentos.
Assim como a identidade do sujeito, a identidade cultural também passa por
processos de modificação e são compostas por símbolos e representações. Os
discursos relacionados à essas identidades são um modo de construir sentidos que,
por sua vez:

[...] influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos
de nós mesmos. [...] Esses sentidos estão contidos nas estórias que são
contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com seu
passado e imagens que dela são construídas. (HALL, 2006, p. 51).

Neste processo de construção da identidade cultural, Ferreira (1995) acentua


a “cultura planetária” como resultado dos avanços tecnológicos sobre os produtos
simbólicos e as esferas da vida social.

[...] esta cultura planetária está expressa pela tecnologia e só pode ser
entendida como um produto dos novos ​media​, como comunicação
mediática, a qual atua sobre a sensibilidade, o imaginário social,
modificando atitudes e comportamentos, interferindo profundamente no
cotidiano da sociedade e transformando significativamente a relação entre
cultura e comunicação. (FERREIRA, 1995, p. 59).
Como efeito dessa realidade, a autora alerta que a América Latina depara-se
com a cristalização da capacidade dos povos “de determinar seu próprio destino,
seu porvir individual, de classe e como nação.” (FERREIRA, 1995, p. 58).

4.4 Elementos narrativos propostos por Stuart Hall

Tendo descrito os conceitos e contextos de identidade, cabe-nos olharmos


para o que essa pesquisa se dispôs a analisar: a maneira como as narrativas
turísticas constroem a identidade da América Latina. Para isso, utilizaremos os cinco
elementos narrativos propostos por Stuart Hall (2006).
O primeiro é a ​narrativa da nação,​ que segue os parâmetros contidos nas
histórias e literaturas nacionais, assim como na mídia e cultura popular. Utiliza
estórias, imagens, cenários, panoramas, símbolos, eventos históricos e rituais
nacionais para simbolizar ou representar as perdas, os triunfos e os desastres que
dão sentido à nação, de forma que “nos vemos, no olho de nossa mente, como
compartilhando dessa narrativa.” (HALL, 2006, p. 52). Essas características formam
uma teia que prende a comunidade e o leitor ao passado.

Ela dá significado e importância à nossa monótona existência, conectando


nossas vidas cotidianas com um destino nacional que preexiste a nós e
continua existindo após nossa morte. Desde a imagem de uma verde e
agradável terra inglesa, com seu doce e tranqüilo e interior, com seus
chalés de treliças e jardins campestres [...] até às cerimônias públicas.
(HALL, 2006, p. 52).

No segundo elemento narrativo há a ​ênfase nas origens, na continuidade, na


tradição e na intemporalidade​. Neste caso, a identidade é representada como
primordial, assim, é vista como algo presente desde o início da existência, sendo
inquebrável, apesar de toda e qualquer vicissitude. “Está lá desde o nascimento,
unificado e contínuo, ‘imutável’ ao longo de todas as mudanças, eterno.” (Ibid., p.
53).
No terceiro elemento, o autor utiliza Hobsbawm e Ranger (1983) para
caracterizar a ​invenção da tradição​, que traz consigo um conjunto de práticas, de
natureza ritual ou simbólica, para fixar determinados valores e normas de
comportamentos através da repetição, que por sua vez, implica continuidade com
um passado histórico considerado adequado. De modo geral, essa narrativa faz uso
de tradições que parecem ou alegam ser antigas, mas que muitas vezes são de
origem bastante recente ou até mesmo inventadas, como os próprios autores citam:
“[...] nada parece ser mais antigo e vinculado ao passado imemorial do que a pompa
que rodeia a monarquia britânica e suas manifestações cerimoniais públicas. No
​ o produto do final do século XIX e XX.”
entanto, na sua forma moderna, ​ela é
(HOBSBAWM; RANGER, 1983, p. 01 apud HALL, 2006, p. 54).
O quarto tipo de narrativa é a do ​mito fundacional,​ que se caracteriza,
segundo Hall (2006, p. 55), por “uma estória que localiza a origem da nação, do
povo e de seu caráter nacional num passado tão distante que eles se perdem nas
brumas do tempo, não do tempo ‘real’, mas de um tempo ‘mítico’.” Neste modelo, é
comum que desastres sejam entendidos como triunfos, como exemplifica o autor,
citando Dunquerque20. Essas narrativas possibilitam a criação de uma história
alternativa ou contranarrativa. “Novas nações são, então, fundadas sobre esses
mitos.” (HALL, 2006, p. 55).
O quinto e último elemento presente nas narrativas é baseado no imaginário
de um ​povo ou folk puro, original,​ no entanto, essa perspectiva pode não coincidir
com a verdade, já que “nas realidades do desenvolvimento nacional, é raramente
esse povo (folk) primordial que persiste ou que exercita o poder.” (ibid., p. 56). Deste
modo, o autor se apoia na parábola de Gellner (1983) para trazer este contexto à
tona: “Quando [os ruritananos] vestiram os trajes do povo e rumaram para as
montanhas, compondo poemas nos clarões das florestas, eles não sonhavam em se
tornarem um dia também poderosos burocratas, embaixadores e ministros.”
(GELLNER, 1983, p. 61 apud HALL, 2006, p. 56).
Tendo estes elementos narrativos em vista, utilizaremos os blogs ​Esse Mundo
é Nosso21, ​Pé na Estrada22 ​e ​360 Meridianos23. Os critérios que utilizamos para
escolha das plataformas foram: 1) conteúdos devem ser escritos por jornalistas; 2) o

20
Refere-se à Operação Dínamo, em que quase 340 mil soldados aliados foram resgatados após
ficarem cercados pelas forças alemãs na cidade de Dunquerque, na França. O fato ocorreu durante a
Segunda Guerra Mundial, no contexto de invasão do país francês.
21
Disponível em: ​https://www.essemundoenosso.com.br/
22
Disponível em: ​https://www.penaestrada.blog.br/
23
Disponível em: ​https://www.360meridianos.com/
blog deve possuir relatos de, pelo menos, seis países da América Latina; 3) as
experiências partilhadas não podem ser oriundas de branded content - conteúdo
explorado no capítulo 3. Além disso, não seria viável apontar o elemento narrativo
de todos os textos dispostos nos blog dentro do período de análise, então, ao
concluir quais são os tipos utilizados em cada plataforma, utilizaremos um ou dois
textos presentes em cada blog, para apontar e defender a alegação quanto à cada
tipo de característica narrativa.
5. O uso dos elementos narrativos na construção identitária da América
Latina

Para aproximar o leitor desta pesquisa e os blogs citados acima, faremos um


apanhado acerca de cada um dos escolhidos e, por fim, debruçamo-nos na análise.

5.1 Esse Mundo é Nosso

No ar desde 2009, o blog ​Esse Mundo é Nosso pertence aos jornalistas


Rafael Carvalho e Adolfo Nomelini. Ambos são especializados em conteúdo digital e,
além do blog, mantém páginas no Facebook24, Instagram25, Youtube26 e podcasts no
Spotify27.
Em parte dos perfis a periodicidade de publicações é positiva, já que o
Facebook e Instagram publicam conteúdos diariamente e incentivam a interação dos
seguidores. Em contrapartida, no canal do Youtube as postagens são feitas
mensalmente, e os podcasts no Spotify ainda não têm uma periodicidade definida,
visto que no momento desta pesquisa o perfil na plataforma era muito recente e
contava somente com três episódios.
No layout da página, há uma barra horizontal no topo, que direciona para a
home e os seguintes conteúdos: lista de destinos explorados pelos autores, guias de
viagem, que trazem “conselhos” rápidos sobre locais mais específicos, as dicas,
abordando temas como vistos, imigrações e medidas de bagagem, listas, que
relacionam passeios e/ou comidas imperdíveis, o quem somos, contato, seguro
viagem e chip internacional. Estes dois últimos são voltados à recomendação de
empresas que prestam o serviço em questão. No mais, logo abaixo o leitor encontra
os posts mais recentes, que são expostos com fotos.

24
Acesso disponível em: ​https://www.facebook.com/EsseMundoENosso/
25
Acesso disponível em: ​https://www.instagram.com/essemundoenosso/
26
Acesso disponível em: ​https://www.youtube.com/channel/UCCultCjScahhyp1UtWT9r6Q
27
Acesso disponível em: ​https://open.spotify.com/show/0JGWg8fjMTYLJ10iL91jtO
Imagem 1 - Home do blog ​Esse Mundo é Nosso:​

O blog possui periodicidade diária, deste modo, optamos por utilizar as


postagens dos últimos cincos anos. Com isso, listamos a seguir quais países da
América Latina são abordados e quantas publicações cada um deles recebeu,
lembrando ainda que não incluiremos conteúdos pagos ou com quaisquer outros
tipos de vínculos comerciais e/ou publicitários, por isso, eles não farão parte dessa
contagem.
Quadro 1 - Lista de países abordados no blog ​Esse Mundo é Nosso:​

Quantidade de publicações Países

10 Argentina

1 Bolívia

328 Brasil

36 Chile

15 Colômbia

2 Equador

15 México

2 Panamá

2 Paraguai

8 Peru

3 República Dominicana

28 Uruguai

A seguir, notamos com maior clareza a diferença de conteúdos que são


direcionados para cada país. Ressalto, no entanto que, visto o salto na quantidade
de conteúdos direcionados para o Brasil, não o incluiremos no gráfico, a fim de
facilitar a visualização comparativa entre os demais países.
Gráfico 1 - Publicações destinadas aos países da América Latina:

Como é possível notar no gráfico, os países que receberam, até então, mais
conteúdo, são Chile e Uruguai, atrás somente do Brasil. Diante deste cenário,
poderíamos examinar essa diferença para com as outras regiões como resultado do
fator fronteiriço entre o Brasil e o Uruguai. No entanto, essa argumentação não seria
válida para o Chile, país em disparado à frente dos demais e que não faz fronteira
com terras tupiniquins.
Deixo em aberto a reflexão quanto aos fatores que motivam blogueiros a
escrevem mais sobre determinados locais, e menos - ou quase nada - sobre outros.
Aqui, poderíamos falar, por exemplo, sobre critérios de noticiabilidade. Mas isso, de
fato, é pauta para uma nova pesquisa.

5.2 Pé na Estrada

O blog ​Pé na Estrada surgiu em 2008, quando um grupo de amigos decidiu


compartilhar as experiências vividas durante as férias. Apesar da empolgação, a
exigência da vida fora das redes impossibilitou que a plataforma fosse levada
adiante. No entanto, em 2010, Altier Moulin resolveu dar continuidade nos relatos
online. Desde então, o jornalista tem publicado sobre viagens e experiências
voltadas, principalmente, ao ecoturismo, turismo de aventura e destinos exóticos,
como o próprio autor define.
Além da plataforma, Altier mantém publicações no Facebook28, Instagram29,
Twitter30 e Youtube31. Nos quatro perfis não há uma periodicidade definida, sendo
este último o que apresenta conteúdos de datas mais longínquas: um ano atrás o
mais recente.
O layout do blog traz uma coluna horizontal que direciona para a home e os
seguintes tópicos: Brasil, com conteúdos separados por região Norte, Nordeste, Sul,
Sudeste e Centro-Oeste, mundo, separando conteúdos por África, Ásia, América do
Norte, América Central e Caribe, América do Sul e Europa, seguido pelo tópico guias
de viagem, que oferta ao leitor guias pagos sobre locais como Cuba, África do Sul e
Bolívia. Ao lado há as dicas de viagem, com textos sobre temáticas específicas,
como vacinas, seguro viagem e preço de passagens. Por fim, há o sobre e
direcionamento para contato. Abaixo destes itens estão expostas as publicações
mais recentes.

Imagem 2 - Home do blog ​Pé na Estrada:​

Adolf

28
Disponível em: ​https://www.facebook.com/pg/penaestrada/posts/?ref=page_internal
29
Disponível em: ​https://www.instagram.com/p/B2hzuHCBwBI/
30
Disponível em: ​https://twitter.com/penaestradablog
31
Disponível em: ​https://www.youtube.com/user/altiermoulin
O blog não possui periodicidade definida, variando entre publicações
quinzenais e semanais. Com isso, listamos a seguir quais países da América Latina
são abordados e quantas publicações cada um deles recebeu, lembrando
novamente que não incluiremos conteúdos pagos ou com quaisquer outros tipos de
vínculos comerciais e/ou publicitários, por isso, assim como anteriormente, eles não
farão parte dessa contagem.

Quadro 2 - Lista de postagens do blog ​Pé na Estrada​:

Quantidade de publicações Países

15 Argentina

33 Bolívia

120 Brasil

32 Chile

52 Colômbia

38 Cuba

1 Panamá

2 Paraguai

19 Peru

1 República Dominicana

8 Uruguai

A seguir, o gráfico expõe com maior clareza a diferença de conteúdos que


são direcionados para cada país. Novamente, diante da quantidade de publicações
sobre o Brasil, este não será incluído, a fim de facilitar a visualização comparativa
entre os demais países.
Gráfico 2 - Publicações destinadas aos países da América Latina:

Pé na Estrada,​ como mostrado acima, traz vasto conteúdo sobre a Colômbia


e, um pouco mais atrás, de Cuba. Em contrapartida, o Paraguai, o Panamá e a
República Dominicana são deixados à parte, sendo os dois primeiros lembrados
somente no quesito de compras.

5.3 360Meridianos

Com uma volta ao mundo planejada, Rafael, Luíza e Natália criaram o


360Meridianos. No ar desde outubro de 2011, o intuito do blog, como afirma os
jornalistas, é contar histórias, falar sobre pessoas e apresentar culturas. Além dos
fundadores, a plataforma conta também com colaboradores fixos e temporários, que
agregam conteúdos em diversos âmbitos. Aqui, vale ressaltar um aspecto atípico: o
360Meridianos possui um tópico voltado para artigos e crônicas, que relacionam o
turismo e questões sociais, a fim de gerar reflexão. Exemplos dessas abordagens
são os textos “Guia do cadeirante viajante: as duas rodas que rodam o mundo32” e
“Antropologia Visual: olhar para o diferente e enxergar o semelhante33”.

32
Disponível em: ​https://www.360meridianos.com/2019/09/guia-cadeirante-viajante.html
33
Disponível em: ​https://www.360meridianos.com/2019/08/antropologia-visual.html
Ambos fazem parte do A Vozes, uma newsletter enviada quinzenalmente que
trata de projetos sociais e histórias reais. Como o próprio título supõe, os textos
citados retratam a vida de viajantes em cadeiras de rodas e das diversidades
culturais pouco compreendidas pelos turistas, respectivamente. Além do blog, o trio
mantém também uma página no Facebook34, no Instagram35 e no Youtube36. Nas
três redes sociais não há uma periodicidade definida, sendo que nas duas primeiras
as publicações variam a cada três ou cinco dias, enquanto na última o conteúdo
mais recentes foi publicado há dois meses atrás, seguido de vídeos datados de
quatro meses e três anos atrás.
Voltando ao objeto de pesquisa, o blog apresenta em seu layout uma coluna
vertical no topo da página, que direciona para a home e os seguintes tópicos:
especiais, que trazem matérias jornalísticas de temas específicos, como sociedade e
cultura e história. Em seguida, há o tópico de artigos, onde estão hospedados os
conteúdos citados inicialmente, como as crônicas e artigos. Ao lado está o atlas, que
colore os países por onde os jornalistas passaram, dicas de viagem, trazendo
conteúdos separados por países, o sobre nós e a expedição 360, oferta de tour em
Lisboa, Portugal.

Imagem 3 - Home do blog ​360Meridianos:​

34
Disponível em: ​https://www.facebook.com/360meridianos/
35
Disponível em: ​https://www.instagram.com/360meridianos/
36
Disponível em: ​https://www.youtube.com/user/360meridianos
O blog não possui periodicidade definida, variando entre publicações a cada
três ou cinco dias. Com isso, listamos a seguir quais países da América Latina são
abordados e quantas publicações cada um deles recebeu. Lembro, mais uma vez,
que não serão incluídos os conteúdos pagos ou com quaisquer outros tipos de
vínculos comerciais e/ou publicitários, por isso, eles não farão parte dessa
contagem.

Quadro 3 - Lista de postagens no blog ​360 Meridianos​:

Quantidade de publicações Países

81 Argentina

230 Brasil

17 Chile

14 Colômbia

6 Costa Rica

5 El Salvador

7 Equador

35 México

4 Panamá

7 Peru

8 Uruguai

1 Venezuela

A seguir, o gráfico expõe com maior clareza a diferença de conteúdos que


são direcionados para cada país. Ressalto mais uma vez que, diante da quantidade
de publicações sobre o Brasil, este não será incluído, a fim de facilitar a visualização
comparativa entre os demais países.
Gráfico 3 - Publicações destinadas aos países da América Latina:

No blog ​360Meridianos o foco maior é dado à Argentina, seguido, por menos


da metade, pelo México. É importante ressaltar que o Peru, dentre todos os países
da América Latina citados pelo blog, é o que mais apresenta conteúdos com
vínculos comerciais e/ou publicitários, ficando atrás somente do Brasil. Para se ter
uma ideia, das vinte e oito publicações sobre o país contemplado com Machu
Picchu, vinte e uma apresentavam conteúdos pagos.

5.4 Análise

Antes de qualquer alegação, convém salientar que o intuito dessa análise não
é reduzir os países pertencentes à América Latina a um um grupo homogêneo. Ao
contrário, compreendemos a subjetividade de cada região. No entanto, ao propor
esta análise, haja vista os inúmeros blogs que se dispõe a relatar contextos e
realidades, nos certificamos da baixa profundidade dada ao tema.
Deste modo, o blog ​Esse Mundo é Nosso aborda, em suma, dicas e roteiros.
Nestes conteúdos, nota-se a utilização das ​narrativas de nação e a ​narrativa com
ênfase nas origens e intemporalidade.​
No trecho abaixo, há a utilização da ​narrativa de nação​, isso porque o autor
reconta histórias presentes em registros nacionais, além de proporcionar
panoramas, eventos históricos e imagens.

Imagem 4 - Texto: “O que fazer em Colonia del Sacramento, no Uruguai”. Publicado em 04 set. 2017.

Em outro momento, ao explorar as características de San Ángel, bairro na


Cidade do México, o narrador traz em seu relato a ​ênfase nas origens e
intemporalidade,​ já que a identidade e característica local é representada como algo
primordial, que apesar das vicissitudes, continua imóvel.
Imagem 5 - Texto: “San Ángel, um charmoso bairro colonial da Cidade do México”. Publicado em 26
fev. 2015.

Já o blog ​Pé na Estrada faz uso, de modo geral, da ​narrativa de nação,​ das
narrativas com ​ênfase na tradição e na continuidade​, além do relato baseado num
povo original.​ O elemento de ​narrativa de nação pode ser visto em dois trechos. O
primeiro quando são relembrados panoramas e contextos históricos, ao utilizar a
imagem de Che Guevara e Fidel Castro para abordar clichês cubanos, como o
próprio narrador cita, para falar de uma cultura identitária de Cuba. Além disso, ele
utiliza, neste mesmo trecho, a narrativa com ​ênfase na tradição e continuidade ao
instigar o consumo da bebida tradicional do país, o Mojito.
Imagem 6 - Texto: “Roteiro para Cuba: 10 dicas incríveis de viagem pelo país”. Publicado em 26 jun.
2019.

Há ainda a utilização da ​narrativa de nação quando Altier, ao visitar o


Santuário de Anchieta, conta a história do santo José de Anchieta, já que ele dá
continuidade às histórias contadas e recontadas em âmbito nacional.
Imagem 7 - Texto: “Santuário de Anchieta, o apóstolo do Brasil”. Publicado em 16 mai. 2016:

Em outro relato, é utilizada a narrativa com ​ênfase na tradição e na


continuidade​, já que o autor traz à tona a permanência de costumes alimentares dos
povos indígenas nos pratos principais oferecidos. Deste modo, ainda que haja outros
cardápios disponíveis na região, a alimentação com traços típicos “está lá, na
verdadeira natureza das coisas”. (HALL, 2006 p. 53).
Imagem 8 - Texto: “Escolha comer em Cusco, no Peru”. Publicado em 23 mai. 2018.

Por último, para exemplificarmos o relato baseado num ​povo original ou puro​,
há o trecho abordando os bolivianos que preservam o quechua, dialeto de seus
ancestrais. Neste elemento narrativo, mostra-se o fato de grupos manterem as
características “de origem”, no entanto, apesar disso, nem sempre os interesses
políticos são voltados a estes povos. Aqui, vale uma reflexão para além do que é
colocado pelo autor, quando ele diz que é raramente este povo que persiste ou
exercita o poder. Podemos, neste caso, estender a compreensão para o âmbito
apontado no trecho a seguir, em que o crescimento turístico aliado à reprodução de
imagens não está de acordo com os hábitos de vivências destes grupos.
Imagem 9 - Texto: “Descubra o que fazer em Sucre, na Bolívia”. Publicado em 27 jan. 2015.

O terceiro blog analisado, ​360Meridianos​, discorre em suas descrições a


partir, principalmente, da ​narrativa de nação e, às vezes, do ​mito fundacional​. O
primeiro elemento é exteriorizado quando parte da história inca é apresentada ao
leitor de modo convidativo ao Museu de Arqueologia de Alta Montanha (MAAM).
Imagem 10 - Texto: “As múmias das crianças incas de Salta”. Publicado em 06 jun. 2019.

Em outro texto sobre o Mercado Sonora, na cidade do México, são retratados


os símbolos e rituais que representam aquela região, dando um aspecto
característico do local.

Imagem 11 - Texto: “Mercado Sonora: bruxaria e esoterismo na Cidade do México”. Publicado em 23


fev. 2018.

Como citado, há ainda a percepção da narrativa com estrutura no ​mito


fundacional.​ Isso porque aspectos que fundam a origem, o povo ou caráter estão em
um passado tão distante que se perdem no decorrer do tempo. Assim, as narrativas
e a própria história se confundem no âmbito imagético e mítico.

Imagem 12 - Texto: “10 cidades mágicas para conhecer no México”. Publicado em 11 mai. 2018.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para além do que foi exposto nesta análise, é importante ressaltar que os três
blogs mantém características muito próximas em suas abordagens, independente de
qual país eles estejam tratando, diferenciando somente de acordo com o que cada
região “tem a oferecer”. As narrativas de nação, por sua vez, são as mais presentes,
embora discorridas em alguns momentos com focos divergentes, como
consequência do aspecto citado em relação às possibilidades turísticas. A partir
disso, há uma vasta quantidade de relatos que têm como primazia recontar histórias
já presentes na mídia ou cultura popular, sem agregar conteúdos com abordagens
mais expandidas. Para isso, estes autores se apoiam em imagens - sejam elas
tangíveis ou representativas -, em panoramas históricos e cenários, ou ainda na
permanência de símbolos e rituais nacionais, a fim de dar sentido à identidade
daquela região.
Assim, é preciso estarmos atentos ao papel do jornalista como formador de
opinião pública. Isso porque em todo o processo de análise, ficou nítido o modo
como as plataformas se restringem ao descrever os locais, limitando-se às dicas e
roteiros pré-estabelecidos em um turismo de aspecto inteiramente comercial.
Consequentemente, não há preocupação com a pluriculturalidade de cada país que
compõe a América Latina, reforçando a massificação de consumo cultural. Para
contextualizar os efeitos dessa prática, aproprio-me das explicações de Maria
Nazareth Ferreira (1995), ao falar sobre o papel dos media no processo de definição
de identidade da América Latina.
Partindo deste princípio e da abordagem da autora, nota-se que as culturas
populares tradicionais são rearticuladas e refuncionalizadas, abrindo espaço para a
necessidade de espetacularização das tradições e manifestações culturais tidas
como mais significativas, sejam elas simbólicas ou materiais. Ou seja, artifícios
tangíveis ou intangíveis que compõem determinada identidade passam por um
processo de transformação da indústria cultural, em que se tornam objetos de
consumo cultural, como é o caso de Machu Picchu. No entanto, os locais que
caminham na contramão e não participam deste processo de redimensionamento,
são tidos como pouco populares, ou até mesmo são extintos da memória online
composta pela blogosfera.
Este pensamento não só é fundamental para o centro da nossa análise, já
que complementa a argumentação de como os elementos narrativos, com ênfase na
narrativa de nação que estava presente na maior parte dos itens observados,
constroem a identidade da América Latina, como também avança o olhar para outro
aspecto percebido nos três blogs analisados: o reforço às rotas turísticas. Ou seja,
países com alta adesão por brasileiros, como Chile, Argentina e Peru, são também
os que possuem mais publicações direcionadas. Em contrapartida, regiões latino
americanas como o Equador e Paraguai são dispensadas de atenção.
Há, neste contexto, inúmeros olhares possíveis, como oferta e demanda, os
meios de comunicação sujeitos às leis de mercado ou até mesmo o estudo dos
critérios de noticiabilidade. Infelizmente, esse ponto não será debatido neste
momento, mas assim como já citado anteriormente, é pauta para um auspicioso
desenrolar que ainda pode envolver as identidades.
Por fim, faz-se importante ressaltar que os blogs de turismo analisados, em
suas narrativas, além de não trazerem profundidade no conteúdo, contribuem com o
discurso de homogeneização, por exemplo, ao lembrar a América Latina partir de
costumes “exóticos”, além de traçar os países que a constituem diante de contextos
identitários de interesses comerciais, focando sempre nas mesmas abordagens e
desconsiderando aspectos sociais e históricos que vão além do que a mídia e a
cultura popular externa propõe. Assim, considero que a proposta sugerida
inicialmente foi seguida, e que a hipótese se mostrou verdadeira. No entanto, é
impossível não citarmos a complexidade admirável que nos deparamos na busca de
respostas durante esta análise de identidade da América Latina.
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novas referências para
primeiro e segundo
capítulo

Pesquisa bibliográfica

Escrita do terceiro e
quarto capítulo

Contagem de
publicações

Análise

Escrita da análise

Considerações

Revisão final

Entrega
DIÁRIO DE BORDO

Junho
● Releitura do primeiro e segundo capítulo e busca por novas referências.
Julho
● Construção do primeiro e segundo capítulo;
● Pesquisa bibliográfica.
Agosto
● Construção do terceiro e quarto capítulo.
Setembro
● Construção do terceiro e quarto capítulo.
Outubro
● Contagem de publicações e análise.
Novembro
● Escrita de análise;
● Considerações;
● Revisão final;
● Entrega.

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