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DETERMINAÇÃO DE PROPRIEDADES
PETROFÍSICAS E GEOLÓGICAS UTILIZANDO
UMA TÉCNICA DE ANÁLISE DIGITAL DE
ROCHAS
CAMPINAS
[2018]
PEDRO CARLOS XAVIER DE MORAES
DETERMINAÇÃO DE PROPRIEDADES
PETROFÍSICAS E GEOLÓGICAS UTILIZANDO
UMA TÉCNICA DE ANÁLISE DIGITAL DE
ROCHAS
________________________________
Assinatura do Orientador
CAMPINAS
[2018]
Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): Não se aplica.
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura
Luciana Pietrosanto Milla - CRB 8/8129
DETERMINAÇÃO DE PROPRIEDADES
PETROFÍSICAS E GEOLÓGICAS UTILIZANDO
UMA TÉCNICA DE ANÁLISE DIGITAL DE
ROCHAS
A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida
acadêmica do aluno.
Dedico esse trabalho a Maria de Lourdes, minha mãe, que me forneceu todo o
carinho e apoio necessário para a conclusão deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
As rochas carbonáticas vêm assumindo papel de destaque na indústria de petróleo, pois são
mais da metade das reservas de petróleo no mundo. Dentre os desafios propostos para a
exploração e produção de petróleo em reservatórios carbonáticos, a caracterização petrofísica
é um tema de intensa pesquisa, pois existe uma elevada heterogeneidade nos carbonatos em
uma multiplicidade de escalas. Para o estudo de propriedades em micro escalas é necessário a
utilização de plugues das rochas de interesse, sendo que estes plugues são muito valorizados
devido ao alto custo para obtê-los durante a etapa de perfuração. Portanto, técnicas de estudo
de propriedades petrofísicas que utilizem uma abordagem não destrutiva e que permitam a
determinação destas propriedades em micro escalas são extremamente interessantes. Para o
estudo dos sistemas porosos e texturas de poros em micro escalas vem sendo desenvolvida
uma técnica de análise petrofísica que utiliza imagens de microtomografia computadorizada
de raios-x chamada Digital Rock Physics (DRP). O objetivo desta técnica é complementar às
técnicas convencionais de laboratório visando caracterizar microestruturas de rocha de forma
não destrutiva através de imagens de alta resolução. Este trabalho de dissertação tem como
objetivo a elaboração de uma sequência metodológica para a determinação de propriedades
petrofísicas e geológicas de amostras de rochas da Formação Morro do Chaves, consideradas
análogas às rochas encontradas nas regiões do pré-sal brasileiro, utilizando as técnicas de
DRP com imagens de microtomografia computadorizada. Para alcançar o objetivo proposto, a
sequência metodológica foi dividida em duas etapas: (i) processamento e análise digital de
imagens com o objetivo de determinar a porosidade utilizando a segmentação Watershed e a
permeabilidade utilizando as Equações de Navier-Stokes; (ii) e a análise dos resultados do
ponto de vista geológico relacionando a tafonomia das amostras com classificações de
porosidade e de texturas de rochas carbonáticas. A técnica de segmentação Watershed atingiu
o objetivo de separar os voxels da imagem em dois grupos, poros e não poros, determinando
assim a porosidade das amostras de maneira a se comparar com os resultados encontrados em
laboratório. As Equações de Navier-Stokes demonstraram eficácia na determinação da
permeabilidade de amostras utilizando imagens segmentadas e a possibilidade de se
determinar a anisotropia desta propriedade para uma mesma amostra, sendo este um
diferencial em relação as técnicas tradicionais de laboratório. É possível concluir através dos
resultados alcançados que a sequência metodológica proposta foi eficaz em determinar a
porosidade, a permeabilidade e a anisotropia da permeabilidade, quando comparados estes
resultados com as técnicas laboratoriais tradicionais, com o diferencial de não ser necessário a
destruição das amostras e a facilidade de se analisar as amostras do ponto de vista geológico
através das imagens de alta resolução geradas pela microtomografia de raios-x.
Carbonates have been playing an important role in the oil industry, as they account for more
than half of the world's oil reserves. Among the challenges proposed for the exploration and
production of petroleum in carbonate reservoirs, the petrophysical characterization is a subject
of intense research, since there is a high heterogeneity in the carbonates in a multiplicity of
scales. For the study of properties in micro scales it is necessary to use plugs of the rocks of
interest, and these plugs are highly valued due to the high cost to obtain them during the
drilling stage. Therefore, techniques of study of petrophysical properties that use a non-
destructive approach and that allow the determination of these properties in micro scales are
extremely interesting. For the study of porous systems and pore textures in micro scales, a
petrophysical analysis technique has been developed that uses computerized
microtomography images called Digital Rock Physics (DRP). The objective of this technique
is to complement conventional laboratory techniques aiming to characterize rock
microstructures through high resolution images. Therefore, this work aims at the elaboration
of a methodological sequence for the determination of petrophysical and geological properties
of rocks samples of the Morro do Chaves Formation considered analogous to the rocks found
in the Brazilian pre-salt regions, using the techniques of DRP with computerized
microtomography images. In order to reach the proposed objective, the methodological
sequence was divided into two stages: (i) digital image processing and analysis with the
objective of determining the porosity using the Watershed segmentation and the permeability
using the Navier-Stokes Equations; (ii) and the analysis of the results from the geological
point of view, relating the taffonomy of the samples with classifications of porosity and
textures of carbonate rocks. The Watershed segmentation technique reached the objective of
separating the voxels from the image into two groups, pores and non-pores, thus determining
the porosity of the samples in order to compare with the results found in the laboratory. The
Navier-Stokes Equations demonstrated efficacy in the determination of the permeability of
samples using segmented images and the possibility of determining the anisotropy of this
property for the same sample, which is a differential in relation to traditional laboratory
techniques. It is possible to conclude from the results obtained that the proposed
methodological sequence was effective in determining the porosity, permeability and
anisotropy of the permeability, when comparing these results with the traditional laboratory
techniques, with the differential of not being necessary the destruction of the samples and the
ease of analyzing the samples from the geological point of view through the high resolution
images generated by the x-ray microtomography.
Figura 1: Mapa geológico do município de São Miguel dos Campos –AL. CPRM (2005, apud
Chinelatto, 2015). ..................................................................................................................... 20
Figura 2: Fluxograma para medições de TC (Adaptado de Cantatone & Müller, 2011). ........ 28
Figura 3: Atenuação do raio-x (Adaptado de De Cezaro & De Cezaro, 2010). ....................... 30
Figura 4: Sequência padrão de processamento e análise de imagens (Oliveira, 2004). ........... 32
Figura 5: Processo de inundação no método Watershed. a) ―Furos‖ efetuados nos mínimos
regionais (setas) do perfil da superfície topográfica. b) A água começa a penetrar nos mínimos
regionais e os diques começam a ser construídos (setas) para manter as águas separadas. c)
Diques (setas) dividindo e contornando as bacias hidrográficas, cada um contendo apenas um
mínimo regional (Audigier, 2004). ........................................................................................... 34
Figura 6: Classificação de rochas carbonáticas de Dunham (1962) (Adaptado de Schalle &
Ulmer-Scholle, 2003). .............................................................................................................. 36
Figura 7: Classificação em relação ao tipo de empacotamento: denso, frouxo ou disperso
(Adaptado de Kidwell & Holland, 1991). ................................................................................ 37
Figura 8: Classificação em relação a seleção dos bioclastos: bem selecionado, bimodal e
pobremente selecionado (Adaptado de Kidwell & Holland, 1991).......................................... 38
Figura 9: Orientação das conchas em relação ao acamamento (Kidwell et al., 1986). ............ 39
Figura 10: Tipos de espaço poroso de textura seletiva segundo a classificação de Choquette &
Pray (1970) (Adaptado de Schelle & Ulmer-Schelle, 2003). .................................................. 42
Figura 11: Tipos de espaço poroso de textura não seletiva e textura seletiva ou não segundo a
classificação de Choquette & Pray (1970) (Adaptado de Schelle & Ulmer-Schelle, 2003). .. 44
Figura 12: Classificação de Lucia do espaço poroso vugular em carbonatos baseado na
interconecção dos vugs proposta por Lucia (1983) (Adaptado de Lucia, 1999). ..................... 45
Figura 13: Classificação de Lucia do espaço poroso interparticula em carbonatos baseado na
seleção e tamanho dos grãos e cristais proposta por Lucia (1983) (Adaptado de Lucia, 1999).
.................................................................................................................................................. 45
Figura 14: Esquema do porosímetro que utiliza a Lei de Boyle para a determinação da
porosidade................................................................................................................................. 46
Figura 15: Procedimento para obtenção de porosidade por análise de imagens. a) A imagem
original gerada pelo tomógrafo passa pela etapa de segmentação que resulta em b) uma
imagem binarizada, facilitando assim a contagem dos pixels que tem o valor conferido aos
poros por meio de um C) histograma. ...................................................................................... 48
Figura 16: Diagrama esquemático de (a) regime permanente e (b) aparelho de regime
transiente (Modificado de: Jones, 1972). ................................................................................. 50
Figura 17: Um pedaço de uma interface espaço poroso e sólido em duas dimensões. As linhas
escuras são limites de pixels e as linhas tracejadas são a malha sobreposta para a computação
de escoamento de fluido (Bentz e Martys, 2007). .................................................................... 52
Figura 18: Exemplo 2D de configurações experimentais criadas. A configuração experimental
(esquerda e direita do sistema) permite que o fluxo se espalhe através da amostra (Avizo
Reference Guide, 2016). ........................................................................................................... 53
Figura 19: Permeabilidade efetiva para casos ideais onde as camadas são arranjadas em
paralelo e em série, com respeito à direção de escoamento (Adaptado de Kelkar e Perez,
2002). ........................................................................................................................................ 55
Figura 20: Metodologia para determinação de propriedades petrofísicas através de análise
digital de imagens. .................................................................................................................... 59
Figura 21: Divisão da amostra em 28 sub-volumes de 1,9 cm x 1,9 cm x 0,68 cm (250 x 250 x
200 voxels). .............................................................................................................................. 60
Figura 22: Metodologia utilizada para a transferência de escala dos valores de permeabilidade.
.................................................................................................................................................. 61
Figura 23: Imagens em tons de cinza da amostra COQ 2. ....................................................... 64
Figura 24: Imagens em tons de cinza da amostra COQ 3. ....................................................... 65
Figura 25: Imagens em tons de cinza da amostra COQ 7. ....................................................... 66
Figura 26: Imagens em tons de cinza da amostra COQ 8. ....................................................... 67
Figura 27: Imagens em tons de cinza da amostra COQ 9. ....................................................... 68
Figura 28: Imagens em tons de cinza da amostra COQ 10. ..................................................... 69
Figura 29: Resultado da segmentação Watershed da amostra COQ 2 a) vista ortogonal b)
plano xy c) plano xz d) plano yz. ............................................................................................. 72
Figura 30: a) Amostra COQ 2 com presença pirita e b) resultado da segmentação
evidenciando os problemas devido à presença de pirita. .......................................................... 73
Figura 31: Resultado da segmentação Watershed da amostra COQ 3 a) vista ortogonal b)
plano xy c) plano xz d) plano yz. ............................................................................................. 74
Figura 32: Resultado da segmentação Watershed da amostra COQ 7 a) vista ortogonal b)
plano xy c) plano xz d) plano yz. ............................................................................................. 75
Figura 33: a) imagem da amostra COQ 7 em tons de cinza com regiões onde apresentam
dificuldades para se determinar o limiar entre grão, cimento e poro evidenciadas e b) a
imagem com o resultado da segmentação evidenciando os pontos de dificuldade de análise. 76
Figura 34: Resultado da segmentação Watershed da amostra COQ 8 a) vista ortogonal b)
plano xy c) plano xz d) plano yz. ............................................................................................. 77
Figura 35: Resultado da segmentação Watershed da amostra COQ 9 a) vista ortogonal b)
plano xy c) plano xz d) plano yz. ............................................................................................. 78
Figura 36: Resultado da segmentação Watershed da amostra COQ 10 a) vista ortogonal b)
plano xy c) plano xz d) plano yz. ............................................................................................. 79
Figura 37: Comparação entre os resultados encontrados pela técnica Digital Rock Physics e os
resultados experimentais tradicionais. ...................................................................................... 80
Figura 38: Comparação entre os resultados encontrados pela técnica Digital Rock Physics e os
resultados experimentais tradicionais. ...................................................................................... 83
Figura 39: Imperfeições na amostra que podem ter sido geradas por problemas na obtenção ou
manuseio da amostra COQ 9. ................................................................................................... 84
Figura 40: Porosidade e permeabilidade ao longo da amostra COQ 2. .................................... 87
Figura 41: Imagens correspondentes a região de maior porosidade, a região 2 (a), e de menor
porosidade, a região 6 (b), da amostra COQ 2. ........................................................................ 88
Figura 42: Porosidade e permeabilidade ao longo da amostra COQ 3. .................................... 89
Figura 43: Detalhes da porosidade da amostra COQ 3, apresentando a região 1 (a), região 4
(b) e região 7 (c). ...................................................................................................................... 90
Figura 44: Porosidade e permeabilidade ao longo da amostra COQ 7. .................................... 91
Figura 45: Imagens correspondentes a região de maior porosidade, a região 3 (a), e de menor
porosidade, a região 5 (b), da amostra COQ 7. ........................................................................ 92
Figura 46: Porosidade e permeabilidade ao longo da amostra COQ 8. .................................... 93
Figura 47: Imagens correspondentes a região de menor porosidade, a região 4 (a), e de maior
porosidade, a região 6 (b), da amostra COQ 8. ........................................................................ 93
Figura 48: Porosidade e permeabilidade ao longo da amostra COQ 9. .................................... 95
Figura 49: Detalhes da porosidade da amostra COQ 9, apresentando a região 1 (a), região 4
(b) e região 7 (c). ...................................................................................................................... 95
Figura 50: Porosidade e permeabilidade ao longo da amostra COQ 10. .................................. 96
Figura 51: Imagens correspondentes a região de maior porosidade, a região 1 (a), e de menor
porosidade, a região 7 (b), da amostra COQ 10. ...................................................................... 97
LISTA DE TABELAS
1. INTRODUÇÃO
Para o estudo dos sistemas porosos e texturas de poros, uma das ferramentas que vem
avançando para este fim é a tecnologia para imageamento de materiais em alta resolução. Os
recentes avanços da tomografia computadorizada fomentaram o desenvolvimento de uma
técnica de análise petrofísica chamada Digital Rock Physics (DRP). O objetivo desta técnica é
complementar as técnicas convencionais de laboratório visando caracterizar microestruturas
de rocha através de imagens de alta resolução (Rahimov et al., 2016). A tomografia
computadorizada de raios-x (TC), concebida originalmente para a análise de tecidos de
organismos vivos, é largamente utilizada para a determinação de algumas propriedades
18
petrofísicas. Entretanto, como discutido por Coles et al. (1995), a resolução alcançada por este
tipo de aparelho não é capaz de capturar a microporosidade presente nos carbonatos, e isso
influencia diretamente na determinação da permeabilidade absoluta e porosidade, estas de
extrema importância, pois estão ligadas com a capacidade de escoamento e de armazenamento
de petróleo da rocha, respectivamente.
Portanto, este trabalho pretende aplicar uma sequência metodológica da técnica DRP,
utilizando imagens de microtomografia computadorizada de raios-x de amostras de rochas da
Formação Morro do Chaves, para a determinação de propriedades petrofísicas e geológicas.
1.1. OBJETIVOS
Este trabalho tem como objetivo organizar em uma sequência metodológica alguns
métodos de DRP para a determinação de propriedades petrofísicas e geológicas de amostras
de carbonatos da Formação Morro do Chaves.
Esta sequência metodológica é composta por quatro principais etapas que serão
discutidas em detalhe ao longo do texto: a segmentação de imagens, etapa necessária para a
binarização das imagens em tons de cinza obtidas na microtomografia e consequente
determinação das porosidades das amostras, a utilização das Equações de Stokes para se
determinar os valores de permeabilidade, fazer uso de técnicas clássicas de transferência de
escala para a determinação de valores equivalentes para as propriedades estudadas neste
trabalho e analisar do ponto de vista geológico os resultados de petrofísica encontrados,
relacionando-os com as imagens das coquinhas.
19
Nas últimas décadas diversos estudos estão sendo realizados em coquinas devido a
sua importância como rocha reservatório. Segundo Abrahão & Warme (1990) as coquinas da
Formação Morro do Chaves na Bacia de Sergipe-Alagoas são rochas consideradas análogas às
coquinas observadas nos reservatórios da Bacia de Campos.
A área de estudo está localizada na cidade de São Miguel dos Campos, Estado de
Alagoas, na pedreira ―CIMPOR‖. Nesta pedreira existem afloramentos de rochas carbonáticas
da Formação Morro do Chaves, na Bacia de Sergipe-Alagoas. A Figura 1 apresenta o mapa
geológico do município de São Miguel dos Campos.
20
Figura 1: Mapa geológico do município de São Miguel dos Campos –AL. CPRM (2005, apud
Chinelatto, 2015).
Segundo Campos Neto et al. (2007) a Formação Morro do Chaves apresenta idades
entre Barremiano-Aptiano e compreende rochas carbonáticas do tipo coquina, intercaladas
com folhelhos, arenitos e conglomerados que foram depositadas em diferentes pulsos
tectônicos durante a fase rifte. A fauna da Formação Morro do Chaves consiste
principalmente de bivalves e de pequenos gastrópodes nas coquinas (Souza-Lima et al.,
2002).
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Este capítulo tem como objetivo apresentar os casos práticos da bibliografia relativos
à utilização da tomografia computadorizada de raios-x para determinar características
petrofísicas de rochas reservatórios de petróleo e a evolução desta técnica ao longo do tempo.
Cromwell et al. (1984) fizeram uma das primeiras verificações sobre a capacidade de
utilizar a tomografia computadorizada para analisar o fluxo de fluidos no meio poroso. Esta
análise, até então mais qualitativa do que quantitativa, foi realizada nas amostras de calcário
Danian e no arenito Berea, sendo possível quantificar a porosidade, saturação de fluidos e
eficiência de varrido. Como conclusão foi verificada a necessidade de diminuir as distâncias
de cada fatia de imagem produzida pelo tomógrafo, que naquela época eram de 0,5 mm, isso
dificultava a análise de poros com diâmetros menores que a resolução do aparelho.
Withjack et al. (2003) fizeram uma revisão bibliográfica das diferentes utilizações
para a tomografia computadorizada na indústria do petróleo e as classificaram de acordo com
suas aplicações para a engenharia de reservatórios. Concluíram com esse trabalho que os
custos para caracterização de rochas utilizando tomografia computadorizada são baixos,
possibilitando melhorar a probabilidade de atingir um valor final maior de Valor Presente
Líquido (VPL). Além disso, a microtomografia é uma tecnologia viável para melhorar a
modelagem de poros e o entendimento dos mecanismos de produção neste nível de resolução.
No trabalho de Arns et al. (2005) foi proposta uma metodologia para determinar a
morfologia de carbonatos em escala de poro e também propriedades petrofísicas utilizando
imagens de microtomografia, a partir de comparações com medidas de laboratório. Eles
puderam concluir que a porosidade nestas amostras aumenta com o aumento da resolução
espacial das imagens, a permeabilidade medida computacionalmente apresenta concordância
de resultados com aqueles apresentados pelas medidas de laboratório é possível combinar
análise de imagens com cálculos numéricos para predizer propriedades e derivar correlações
em carbonatos.
A pesquisa desenvolvida por Jin et al. (2007) tem como objetivo apresentar uma
metodologia para calcular, através de imagens de tomografia computadorizada, propriedades
macroscópicas estáticas e dinâmicas de arenitos, incluindo permeabilidade absoluta, fator de
formação, permeabilidade relativa, pressão capilar e índice de resistividade. Os resultados
foram comparados com resultados de medidas de laboratórios. Para as amostras de arenitos
limpas, as permeabilidades mostraram boa concordância com os resultados de laboratório,
porém os resultados para arenitos argilosos não apresentaram concordância. O fator de
formação apresentou resultados consistentes para ambos os casos. Devido ao tamanho de
amostra utilizada, com dimensões de 300 x 300 x 300 voxels, eles concluíram que cálculos em
amostras de rocha muito pequenas podem não ser sempre representativas da heterogeneidade
das rochas de formação.
23
O enfoque do estudo de Sheppard et al. (2014) foi divido em três principais partes: a
apresentação de um novo instrumento que utiliza reconstrução de imagem teoricamente exata
com base em trajetórias de varredura helicoidal, permitindo maiores ângulos de cone e,
portanto, melhor utilização do fluxo de raios-X disponível. Eles também apresentaram
algoritmos para a realização de tomografia dinâmica que permitem que as mudanças entre um
momento e o próximo sejam reconstruídas a partir de um conjunto disperso de projeções,
permitindo uma imagem de maior velocidade de amostras que variem no tempo. Os autores
discutiram a questão crucial da segmentação de imagens e avaliaram algumas técnicas
recentemente propostas para segmentação automatizada. Todas estas etapas foram propostas
com o objetivo de melhorar as análises quantitativas com imagens de microtomografia
computadorizada. Dentre as conclusões do trabalho, destaca-se a importância que os autores
dão para as técnicas de segmentação automatizada. Os autores afirmam que os métodos
recentemente propostos são promissores, mas sem um único método capaz de funcionar bem
para a grande variedade de materiais.
Jouini et al. (2015) afirmam que existe uma dificuldade de encontrar uma única
resolução de imagem que seja capaz de capturar todas as heterogeneidades de amostras de
carbonatos e, portanto, extrair a rede de poros. Então, os autores propuseram um método para
estimar a porosidade, permeabilidade e as propriedades elásticas a partir de imagens de
microtomografia com múltiplas resoluções. Eles segmentaram as imagens em três fases,
separando grão, poros e fase porosa desconhecida usando imagens de 19 µm de resolução.
25
Então, utilizaram imagens de alta resolução (entre 0,3 e 2 µm) de microplugues extraídos da
amostra original. Esses subvolumes foram utilizados para representar as fases desconhecidas
do primeiro imageamento. A porosidade e a permeabilidade das amostras apresentaram bom
acordo com os resultados experimentais, porém as propriedades elásticas apresentaram erros
com valores que excediam 150%. Os autores concluíram que este erro é devido ao fato de que
estas propriedades não dependem somente dos poros, mas também da distribuição de grãos, o
que faz esta estimativa ser mais complexa. Para superar este problema os autores sugerem que
sejam utilizadas imagens de maior resolução, como as geradas por microscópios eletrônicos
de varredura, para melhor caracterizar a geometria dos poros e melhorar a predição das
propriedades elásticas.
de Darcy. Depois de determinada a permeabilidade para cada classe textural, cada sub-volume
é classificado em uma específica classe utilizando o algorítimo Local Binary Pattern (LBM).
Os resultados apontaram para o potencial da metodologia em analisar propriedades
petrofísicas de rochas e os autores afirmam que a metodologia pode ser adotada para a
transferência de escala das propriedades determinadas do micro-plugue, para o plugue e para
a amostra inteira.
27
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3. Em seguida, o valor de limiar, que serve para substituir cada pixel em uma
imagem com um pixel preto se a intensidade da imagem for menor do que este valor de limiar
ou um pixel branco se a intensidade da imagem for maior que este valor, deve ser
cuidadosamente determinado, pois é um parâmetro crítico para segmentação precisa da
imagem e determinação de dados de superfície, portanto, tem uma grande influência na
geometria final;
extensão do objeto. A terceira geração possui um maior número de detectores, além de não
mais ser necessário transladar o tubo e os detectores, pois eram rotacionados dentro do
pórtico. A quarta geração possui uma bateria de detectores fixos em torno de todo o pórtico,
sendo necessário apenas o giro do tubo em torno do objeto. Os sistemas de TC de quinta
geração são diferentes dos sistemas anteriores, pois não há movimento mecânico envolvido. O
scanner usa uma matriz circular de fontes de raios-X, que são ativadas e desativadas
eletronicamente. As fontes procuram em uma tela fluorescente curva, de modo que quando
uma fonte de raios-X é ligada, um grande volume da peça é visualizado simultaneamente,
fornecendo dados de projeção para um raio que diverge da fonte. Aqui, uma série de
projeções bidimensionais de um objeto tridimensional é coletada.
Segundo De Cezaro & De Cezaro (2010), todo raio que passa por um objeto é
atenuado e esta atenuação da intensidade do raio é medida pelo detector que está na face
oposta do objeto, que pode ser modelada por um coeficiente de absorção μ. A Figura 3 mostra
a atenuação do raio de intensidade I(η) quando atravessa uma distância ∆η do objeto com um
coeficiente de absorção μ, resultando em uma intensidade I(η+∆η).
Com este modelo, a atenuação de um feixo de raios-x pode ser calculada pela
Equação (1):
31
( ) ( ) 𝜇( ) ( ) (1)
( ) ( )
𝜇( ) ( ) (2)
Supondo que ∆η seja infinitesimal, fazendo-o tender a zero na Equação (2), obtemos
a Equação (3):
= −μ(η)I(η) (3)
Ao integrarmos a Equação (3) ao longo de uma reta L atingimos a Equação (4) que é
conhecida como Lei de Beer (Buzog, 2008):
( ∫ 𝜇( ) ) (4)
(𝐿) ( ) ∫ 𝜇( ) (5)
Neste trabalho é abordada uma técnica que necessita de interação do usuário para
manter o controle da qualidade da segmentação, a técnica Watershed.
4.2.1.1. WATERSHED
Audigier (2004) explica que para superar este problema foi desenvolvida a realização
do watershed a partir de marcador que fornecem informação adicional sobre as estruturas que
serão segmentadas. Ao contrário da abordagem clássica, neste caso somente as regiões
marcadas é que são fontes de fluxo de água, inundando, portanto, as demais áreas. Ao final do
processo emergem as Linhas Divisoras de Águas, forma como também é conhecido o método
watershed, para separar apenas fluxos provenientes de bacias selecionadas por marcadores.
Esse procedimento de determinação de marcadores pode ser automático ou por intervenção
humana. A determinação automática passa por uma intensa filtragem da imagem original e
limiarização. No segundo caso, perde-se a automaticidade do método, porém permite a
interação do usuário para realizar correções necessárias.
Este trabalho não tem a intenção de avaliar todas as implementações já feitas para os
métodos de segmentação. Portanto será apresentado o primeiro algoritmo Watershed rápido
35
conhecido na literatura, que foi proposto por Vicente e Soille (1991) e parte da definição de
imersão apresentada anteriormente. Para maiores detalhes sobre a evolução da implementação
desta técnica de segmentação recomenda-se fortemente a leitura do trabalho de Körbes
(2010), em que o autor apresenta 14 diferente algoritmos da transformada Watershed de
maneira uniformizada, apresentando a motivação para a criação da abordagem, qual definição
é utilizada e detalhes específicos de implementação.
1. Ordenação dos pixels pelo nível de cinza. Este passo é fundamental para
determinar a velocidade de execução do algoritmo, pois permite o acesso direto aos pixels no
mesmo nível, no entanto pode-se utilizar implementações relativamente simples que garantem
esta mesma propriedade, como o uso de bibliotecas.
2. Iteração pelos pixels nos níveis de cinza na imagem, mascarando-os e inserindo
em uma estrutura de dados aqueles com vizinhos rotulados.
3. Análise dos pixels na estrutura, onde os rótulos são determinados e propagados
nas zonas planas.
4. Os pixels que não foram rotulados constituem novos mínimos regionais, e
assim seus componentes conexos recebem novos rótulos.
4.4. TAFONOMIA
Segundo Kidwell & Holland (1991), conchas e ossos podem ocorrer em qualquer tipo
de rocha sedimentar, mas apenas para o carbonato ocorrem de forma abundante e a descrição
da disposição das peças esqueléticas rígidas é um procedimento rotineiro. Os sedimentos
formados por bioclastos com matriz não-carbonática são geralmente descritos por vários
termos não padronizados, como coquina, ―bone bed‖ e ―shell gravel‖. Como os depósitos de
bioclastos grosseiros são bastante comuns no registro sedimentar, e têm aplicações
importantes para a análise estratigráfica, além de fontes de informações paleontológicas, é
desejável alguma padronização na terminologia descritiva. Ainda segundo Kidwell & Holland
(1991), idealmente, uma classificação macroscópica para rochas bioclásticas deve: 1)
transmitir uma imagem visual imediata do tecido da rocha; 2) permite a descrição de
depósitos tanto litificados como não-litificados com matriz de qualquer tamanho de grão ou
composição mineralógica; 3) acomodar depósitos em que os fósseis são preservados como
moldes (vazios); 4) ser razoavelmente objetivo e quantificável; e 5) seja fácil de usar no
campo por não especialistas. Por estes motivos os autores desenvolveram uma descrição semi-
quantitativa de tipos de tecido bioclástico, através de visões transversais de camadas
bioclastais e com um número limitado de categorias de tecido, com base em um número
mínimo de recursos de afloramento.
Por depósito bioclástico, Kidwell & Holland (1991), querem dizer qualquer depósito
sedimentar contendo tais bioclastos grosseiros, que podem ser muito escassos ou constituir
37
praticamente todo o depósito. Para descrever estes depósitos foram utilizadas duas
abordagens: empacotamento e seleção.
Empacotamento
Seleção
Bem selecionado descreve os depósitos que exibem uma variação muito pequena nos
tamanhos de bioclastos maiores que 2 mm. Em termos qualitativos, a fábrica dá uma forte
impressão visual de ter um modo único e bem definido. Este modo pode ser relativamente
fino ou grosseiro. Quantitativamente, os 80% dos bioclastos estão contidos em duas classes
adjacentes na escala granulométrica phi.
4.5.1. POROSIDADE
(6)
Mesmo tal propriedade aparentemente simples pode ser difícil de quantificar quando
se toma em consideração a mineralogia da rocha e também sua história diagenética. A
porosidade pode ser descrita como primária ou secundária, dependendo se a dissolução
mineral ocorreu durante a litificação. A porosidade secundária é geralmente de maior
importância nos reservatórios carbonáticos devido à maior suscetibilidade a dissolução dos
minerais calcários. Um reservatório "fraturado" também pode mostrar aumento da porosidade
ou as fraturas podem ser a única fonte de volume de armazenamento de fluido; a porosidade
da fratura pode ser difícil de identificar e quantificar sem informações adicionais de plugues,
registros de imagens ou dados sísmicos.
Quanto a visibilidade, a porosidade foi dividida por Archie (1952) em quatro classes:
Figura 10: Tipos de espaço poroso de textura seletiva segundo a classificação de Choquette &
Pray (1970) (Adaptado de Schelle & Ulmer-Schelle, 2003).
No grupo de textura não seletiva, os poros podem atravessar seus limites primários,
incluindo-se os seguintes tipos:
43
Figura 11: Tipos de espaço poroso de textura não seletiva e textura seletiva ou não segundo a
classificação de Choquette & Pray (1970) (Adaptado de Schelle & Ulmer-Schelle, 2003).
Lucia (1983) dividiu os tipos de poros das rochas carbonáticas em duas categorias:
vugulares, que foram subdivididos em: separados e conectados; e interparticulares. Os tipos
de poros propostos por Lucia (1983) estão representados nas Figuras 12 e 13.
45
Figura 14: Esquema do porosímetro que utiliza a Lei de Boyle para a determinação da
porosidade.
( ) (7)
47
Porém, quando a rocha-reservatório tem uma porção muito pequena para ser
calculada pelo método relacionado a lei de Boyle, é preferível utilizar injeção de mercúrio. A
técnica de injeção de mercúrio se baseia na injeção de mercúrio líquido na amostra de acordo
com o aumento de pressão. Este método irá calcular a porosidade absoluta da rocha
Para operar o porosímetro de mercúrio, é preciso certificar que a câmara está vazia,
com isso fecha-se a tampa e abre o dreno para poder injetar o mercúrio, girando-se a válvula
até que apareça uma gota de mercúrio no dreno. Com isso, anote como o volume lido no
medidor. Retira-se o êmbolo para esvaziar a câmara e coloca-se a amostra. Após seu
fechamento, deixe o dreno aberto e refaça o mesmo passo, girando a manivela de mão. Com
isso, anote como o volume lido no medidor. Fechando o plugue de dreno, gira-se a
manivela até que a pressão na câmara tenha um valor referenciado (normalmente 750 psi ou
5171 Pa) e anote o valor medido no medidor de volume como . (Masihi, 2014)
( ) (8)
( ) (9)
consiste basicamente em contar a quantidade de pixels que apresenta o valor para poros e
subtrair do valor total de pixels da imagem. A Figura 15 apresenta estas etapas.
Figura 15: Procedimento para obtenção de porosidade por análise de imagens. a) A imagem
original gerada pelo tomógrafo passa pela etapa de segmentação que resulta em b) uma
imagem binarizada, facilitando assim a contagem dos pixels que tem o valor conferido aos
poros por meio de um C) histograma.
4.5.2. PERMEABILIDADE
𝑞 𝑘 (10)
49
Figura 16: Diagrama esquemático de (a) regime permanente e (b) aparelho de regime
transiente (Modificado de: Jones, 1972).
𝑃 𝜇 (11)
51
⃗ ⃗
{ (12)
𝜇 ⃗ ⃗𝑃 ⃗
Figura 17: Um pedaço de uma interface espaço poroso e sólido em duas dimensões. As linhas
escuras são limites de pixels e as linhas tracejadas são a malha sobreposta para a computação
de escoamento de fluido (Bentz e Martys, 2007).
(13)
Segundo Ligero et al. (2001) a transferência de escala tem como principal objetivo a
adaptação da distribuição espacial das propriedades petrofísicas de malhas finas para malhas
mais grosseiras. Eles concluíram que a transferência de escala de permeabilidade absoluta nos
casos considerados mostrou que as permeabilidades equivalentes dos blocos grosseiros são
dependentes da técnica empregada. Kelkar e Perez (2002) definiram a transferência de escala
como uma adaptação das malhas refinadas para malhas grosseiras das propriedades estáticas
do reservatório como a espessura, porosidade e saturação inicial de água e também as
propriedades dinâmicas como a permeabilidade e a permeabilidade relativa.
∑
̅ (14)
∑
onde n é o número de células do modelo refinado que serão transferidos para o modelo
grosseiro, Øi é a porosidade da célula do modelo refinado, Ai é a área de superfície e hi é a
espessura da célula. Para o caso ideal onde a espessura e a área de superfície não variam no
modelo refinado o cálculo da permeabilidade é dado pela Equação (15).
̅ ∑ (15)
Nesta seção são discutidas as técnicas mais clássicas para a transferência de escala
das propriedades dinâmicas de escoamento monofásico. A propriedade dinâmica mais
importante é a permeabilidade. A transferência de escala desta propriedade depende do
arranjo espacial da permeabilidade na escala mais fina, condições de fronteira e anisotropia.
Para alguns casos ideais de arranjo espacial e de condições de fronteira, equações analíticas
são suficientes para a transferência de escala de maneira satisfatória. Para casos mais gerais, a
transferência de escala desta propriedade é baseada em soluções numéricas de equações
diferenciais parciais que governam o escoamento monofásico.
4.6.2.1.MÉTODOS ANALÍTICOS
A permeabilidade efetiva para três casos ideais é dada pelas médias aritméticas,
harmônicas e geométricas. Apesar de os casos ideais raramente representaram as
heterogeneidades das rochas, essas técnicas providenciam medições úteis dos limites
superiores e inferiores da permeabilidade efetiva (Kelkar e Perez, 2002).
A média aritmética é utilizada quando uma permeabilidade efetiva para o caso onde
o escoamento ocorre através de camadas de permeabilidades constantes, como apresentado na
Figura 14. A permeabilidade de camadas individuais pode mudar, mas isso é constante ao
longo da direção de escoamento. A média aritmética para a permeabilidade para a direção x,
Kx,a, é dado pela Equação (16).
𝑘̅ ∑ 𝑘 (16)
55
Essa equação assume que os blocos têm dimensão constante ao longo das direções x,
y e z. Se as espessuras das camadas variam, a permeabilidade efetiva é dada pela Equação
(17).
∑
𝑘̅ ∑
(17)
𝑘̅ (18)
∑
Figura 19: Permeabilidade efetiva para casos ideais onde as camadas são arranjadas em
paralelo e em série, com respeito à direção de escoamento (Adaptado de Kelkar e Perez,
2002).
56
∑
𝑘̅ (19)
∑
𝑘̅ (∏ 𝑘 ) (20)
Para os mesmos valores da escala fina, a média aritmética fornece valores mais altos
de permeabilidade efetiva, enquanto que a média harmônica fornece valores mais baixos de
permeabilidade efetiva, e a média geométrica fornece valores entre essas duas.
4.6.2.2.MÉTODO NUMÉRICO
Esse método usa a solução numérica da equação diferencial parcial que rege as
condições de fluxo de estado estacionário monofásico, para calcular a permeabilidade efetiva
de um bloco de escala grosseira. A equação para o sistema que consiste em blocos de escala
fina que se enquadram no bloco grosseiro é:
(𝑘 ) (𝑘 ) (𝑘 ) (21)
Esta equação é resolvida com condições de pressão constantes nas faces de entrada e
saída, que são normais para a direção em que a permeabilidade efetiva está sendo calculada,
com limites fechados nas outras direções. As condições de contorno que calculam a
permeabilidade efetiva para a direção x são:
( ) (22)
( 𝐿) (23)
57
| (24)
| (25)
𝑘̅ ( )
(26)
5. MATERIAIS E MÉTODOS
Figura 21: Divisão da amostra em 28 sub-volumes de 1,9 cm x 1,9 cm x 0,68 cm (250 x 250 x
200 voxels).
61
Figura 22: Metodologia utilizada para a transferência de escala dos valores de permeabilidade.
Em seguida a determinação dos valores de porosidade e permeabilidade das amostras
por meio da análise das imagens, estes valores são comparados com os resultados dos
experimentos laboratoriais. Se os resultados apresentaram boa correlação, parte-se para a
interpretação dos resultados obtidos. Caso não apresentassem boa correlação, é necessário
62
voltar para a etapa de segmentação, esta etapa é o ponto principal da metodologia e é onde
acontecem os maiores erros, pois a segmentação pode gerar imagens que superestimam ou
subestimam a quantidade de espaço poroso presente em casa amostra, o que afeta tanto os
resultados de porosidade quanto os resultados de permeabilidade.
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
As Figuras 23, 24, 25, 26, 27 e 28 apresentam as imagens em tons de cinza das
amostras de coquinas obtidas através da microtomografia.
64
imagem, a amostra mais afetada pela presença de pirita em sua constituição foi a COQ 2. Na
Etapa 2 ficará evidente os problemas gerados pela presença acentuada deste tipo de mineral.
6.1.ETAPA 1
As Figuras 23, 24, 25, 26, 27 e 28 apresentam diferentes tonalidades de cinza isso faz
com que cada segmentação seja totalmente individualizada, sendo necessária a interação do
usuário a cada nova amostra.
Tabela 2: Classificação da qualidade da segmentação baseado nos erros absolutos dos resultados de
porosidade e permeabilidade
A presença de pirita, mineral que causa grande reflexão dos raios-x durante o
imageamento, causa problemas na segmentação. É possível observar na Figura 35 que as
regiões ao redor do grão de pirita ficaram com tonalidades pretas, o que leva a erros na
segmentação e um consequente problema na análise de porosidade e permeabilidade. Apesar
da presença de pirita e da dificuldade causada para executar a segmentação, o resultado da
porosidade da amostra COQ 2, segundo a classificação elaborada neste trabalho, foi
considerada excelente. A porosidade encontrada utilizando a técnica de análise de imagens
alcançou o resultado de 4,7%, enquanto foi encontrado um valor de 4,0% utilizando o
porosímetro.
com uma maior resolução, mas para isso seria necessária uma amostra de menor tamanho,
pois para se atingir uma alta resolução é necessária uma energia muito elevada, que
inviabiliza a utilização de amostras com um tamanho grande.
cinza escuro e preto. Como o método de segmentação aplicado neste trabalho depende de
forte interação do usuário, necessitaram-se muitas tentativas para alcançar um resultado
coerente com o encontrado através do uso do porosímetro.
Figura 33: a) imagem da amostra COQ 7 em tons de cinza com regiões onde apresentam
dificuldades para se determinar o limiar entre grão, cimento e poro evidenciadas e b) a
imagem com o resultado da segmentação evidenciando os pontos de dificuldade de análise.
Destacam-se duas possíveis soluções para este problema. A primeira é a mesma para
o caso da amostra COQ 3, conseguir gerar imagens com maior resolução desta amostra. E a
segunda possível solução é a utilização de métodos automatizados para a realização da
segmentação, como por exemplo, os mapas auto-organizáveis (do termo inglês: Self
Organizing Maps – SOM), um tipo de rede neural artificial que eliminaria a necessidade de
forte interação do usuário.
DRP. Foi encontrado a partir das imagens segmentadas um valor de 17,79% de porosidade,
enquanto nos experimentos laboratoriais encontrou-se um valor de 13%.
Coq 7
10%
Coq 8
5% Coq 9
Coq 10
0%
0% 5% 10% 15% 20% 25%
Experimental
Figura 37: Comparação entre os resultados encontrados pela técnica Digital Rock Physics e os
resultados experimentais tradicionais.
Permeabilidade
0,02 26,6 22,48 27,72 102,57 23,95
Experimental (mD)
A maioria dos resultados da técnica DRP apresenta boa correlação com os resultados
obtidos nos experimentos laboratoriais. A Figura 38 apresenta um gráfico com a relação entre
o resultado da técnica alvo desse estudo e a técnica tradicional.
83
40 Coq 2
DRP (mD)
Coq 3
30
Coq 7
20 Coq 8
10 Coq 9
Coq 10
0
0 20 40 60 80 100 120
Experimental (mD)
Figura 38: Comparação entre os resultados encontrados pela técnica Digital Rock Physics e os
resultados experimentais tradicionais.
É possível observar que a maioria dos resultados da técnica DRP apresentam valores
superestimados, porém com erros absolutos muito baixos, confirmando assim a capacidade de
se utilizar as Equações de Stokes para determinar a permeabilidade de amostras de rocha
através de imagens de microtomografia. Porém, um resultado se destaca pela discrepância em
relação ao que foi determinado em laboratório. Este é o caso da amostra COQ 9 que
apresentou um valor muito subestimado de permeabilidade utilizando a técnica DRP, com um
erro absoluto de 55,40 mD, sendo classificado como um resultado péssimo, segundo a escala
adotada neste trabalho.
A hipótese levantada para explicar esse erro é que este valor da medida de
laboratório esteja superestimado. Esta hipótese é devido ao fato de que existem imperfeições
na amostra que podem ter sido geradas tanto na sua obtenção quanto no seu manuseio. Uma
das etapas da metodologia aqui proposta é o corte das imagens 3D em uma região central da
amostra devido à limitação do software em simular formas circulares. Sendo assim, as
imperfeições que ocorrem nas partes externas do plugue não são computadas na metodologia
proposta, por outro lado, durante as medições laboratoriais estas imperfeições podem
influenciar fortemente o resultado. A Figura 39 ilustra este problema.
84
Figura 39: Imperfeições na amostra que podem ter sido geradas por problemas na obtenção ou
manuseio da amostra COQ 9.
Permeabilidade (mD)
Direção Direção Direção Anisotropia Anisotropia Anisotropia
x y z x/y y/z x/z
COQ 2 5,68 5,53 4,81 1,01 1,15 1,18
COQ 3 36,81 39,44 32,87 0,96 1,20 1,12
COQ 7 35,11 38,74 30,16 0,91 1,28 1,16
COQ 8 27,96 26,50 24,31 0,89 1,09 1,15
COQ 9 51,44 64,65 47,08 0,80 1,37 1,09
COQ 10 44,66 42,17 26,87 1,06 1,57 1,66
A amostra COQ 3 apresenta uma variação pequena nos valores das permeabilidades
horizontais. A anisotropia da permeabilidade da direção x em relação a direção vertical z
apresenta um valor muito próximo do que é utilizado geralmente na indústria, porém a
anisotropia da direção y em relação a direção z apresenta o dobro do valor normalmente
utilizado, ou seja, 20%. Esta é uma diferença significa e que pode resultar em valores previsão
de produção muito diferentes daqueles apresentados na produção real do campo. A
determinação dos valores de anisotropia da permeabilidade de maneira mais acurada, como
apresentado na técnica de DRP, pode ser de grande contribuição para a etapa de ajuste de
86
histórico dos modelos de simulação numérica, reduzindo as incertezas apresentadas por estes
modelos.
A amostra COQ 8 apresenta baixas anisotropias, tanto para a relação x/z quando para
a relação y/z. Isto é devido aos bioclastos não apresentarem uma orientação preferencial (ver
Figura 26), ou seja, a disposição das conchas carbonáticas acontece de maneira caótica, o que
evita a laminação da amostra, fazendo com que a amostra apresente uma capacidade
semelhante de ser percolada em todas as direções.
6.2.ETAPA 2
15 8%
6%
10
4%
5 2%
0 0%
1 2 3 4 5 6 7
formado pelas partículas sedimentares, então denomina-se o tipo de porosidade desta amostra
de interpartícula.
Como evidenciado pelo gráfico existe uma forte correlação entre a porosidade e a
permeabilidade, isto demonstra que os poros existentes, em sua maioria, estão interligados.
Esta amostra apresenta um maior valor de porosidade e permeabilidade na região 2, 7,84% e
14,52 mD respectivamente. Os menores valores de porosidade e permeabilidade estão
localizados na região 6, 2,22% e 3,21 mD respectivamente.
Figura 41: Imagens correspondentes a região de maior porosidade, a região 2 (a), e de menor
porosidade, a região 6 (b), da amostra COQ 2.
22,6 mD. Como apresentado na Figura 42, a amostra COQ 3 apresenta uma alta concentração
de bioclastos em sua composição. Estes bioclastos, segundo a classificação de Kidwell &
Holland (1991), apresentam um empacotamento denso, que fornece um suporte mecânico
para a rocha, tornando-a um clasto suportado. Kidwell & Holland (1991) afirmam as rochas
mais comuns que apresentam essa estrutura são packstones e grainstones. Neste caso, como
existe lama entre os grãos, seguindo a classificação para rochas carbonáticas apresentada por
Dunham (1962), esta rocha é um packstone.
Esta amostra apresenta uma homogeneidade nos seus valores tanto de porosidade
quanto de permeabilidade. A Figura 43 mostra com detalhe as regiões 1 (a), região 4 (b) e
região 7 (c).
90
Figura 43: Detalhes da porosidade da amostra COQ 3, apresentando a região 1 (a), região 4
(b) e região 7 (c).
bimodal, pois os depósitos estão bem classificados em relação ao modo primário e possui um
segundo modo bem distinto com forte presença de fragmentos de conchas. Por apresentar uma
deposição caótica e com baixa influência da ação diagenética, a porosidade desta amostra é
controlada principalmente devido aos espaços interpartícula.
30 20%
15%
20
10%
10 5%
0 0%
1 2 3 4 5 6 7
Figura 45: Imagens correspondentes a região de maior porosidade, a região 3 (a), e de menor
porosidade, a região 5 (b), da amostra COQ 7.
Portanto, a amostra COQ 7 pode ser classificada como um packstone por ser
suportada por grãos e conter matriz, sendo que seu espaço poroso, segundo a classificação de
Choquette & Pray (1970), apresenta uma textura seletiva do tipo interparticular.
Figura 47: Imagens correspondentes a região de menor porosidade, a região 4 (a), e de maior
porosidade, a região 6 (b), da amostra COQ 8.
(a)), apresenta uma porosidade muito baixa do tipo interpartícula, enquanto a região de maior
porosidade, a região 6 (Figura 47 (b)), além de apresentar uma porosidade interpartícula,
apresenta também uma porosidade móldica devido a dissolução dos bioclastos, sendo este o
motivo principal do incremento do valor de porosidade nesta região da amostra.
Portanto, a amostra COQ 8 pode ser classificada como sendo um packstone, com
uma porosidade razoável, dominada principalmente por espaços porosos interpartícula, mas
com regiões onde há o incremento do valor de porosidade pela presença de porosidade
móldica. A permeabilidade da amostra é bastante afetada pela forte presença de matriz, porém
apresenta um valor considerado bom principalmente devido a presença de microfraturas ao
longo da amostra.
60 20%
15%
40
10%
20 5%
0 0%
1 2 3 4 5 6 7
A amostra COQ 9 apresenta uma porosidade classificada como boa, segundo Hyne
(2001), com um valor de 18,62 %, dominada principalmente pela presença de porosidade
móldica devido a dissolução das conchas carbonáticas. Isto fica mais evidente na Figura 49.
Figura 49: Detalhes da porosidade da amostra COQ 9, apresentando a região 1 (a), região 4
(b) e região 7 (c).
96
Através desta imagem é possível perceber que além de uma contribuição de uma
porosidade interpatícula, existe uma forte contribuição de porosidade móldica nesta amostra e
o volume poroso se mantém constante ao longo da amostra.
Figura 51: Imagens correspondentes a região de maior porosidade, a região 1 (a), e de menor
porosidade, a região 7 (b), da amostra COQ 10.
A Tabela 7 apresenta uma síntese dos resultados apresentados pela técnica Digital
Rock Physics.
7. CONCLUSÕES
A geração de imagens das amostras foi feita através de microtomografia com uma
resolução de 28 µm, porém percebeu-se que algumas amostras apresentam uma presença
muito relevante de microporos, que para ser possível a visualização, se faz necessário o
imageamento das amostras com resoluções maiores, o que geraria a inevitabilidade de se
destruir a amostra, pois existe a necessidade de uma maior energia para alcançar as resoluções
desejadas, necessitando assim de amostras de tamanho ainda menor. As imagens geradas pela
microtomografia evidenciaram que a presença de certos minerais, como a pirita, com alta
densidade, causa ruídos nas imagens que, dependendo da intensidade destes ruídos, pode ser
necessário a utilização de filtros ou em casos mais graves pode tornar o imageamento
ineficaz.
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