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Equação de Torricelli para os escoamentos instantâneos de fluidos

Todos conhecem a famosa Equação de Torricelli, utilizada nos movimentos


uniformemente variados, tais como a queda livre, frenagem, etc. conforme
descrito pela Equação 1
𝑣 2 = 𝑣𝑜2 + 2. 𝑎. 𝛥𝑆 (Equação 1)
onde v é uma determinada velocidade no instante final dada em m/s, v o
velocidade no instante inicial também dada em m/s e a aceleração escalar média
dada em m/s2 e ΔS a variação do espaço escalar, no caso da queda livre
substitui-se ΔS por h.
A Equação de Torricelli se mostra interessante, pois não é necessário conhecer
o intervalo que separa essas velocidades instantâneas. Contudo, no caso dos
fluidos a equação tem um sentido mais reflexivo, não apenas para descrever a
cinemática do escoamento de fluidos, mas sim ao considerar a conservação de
energia mecânica, de um corpo em queda livre de um sistema conforme pode
ser indicado pela dedução a seguir onde corrobora com a velocidade. Suponha
𝑚𝑔ℎ = (𝑚𝑣 2 )/2
𝑚𝑔ℎ/𝑚 = (𝑚𝑣 2 )/2𝑚
𝑔ℎ = (𝑣 2 )/2
𝑔ℎ = (𝑣 2 )/2

𝑣 = √2𝑔ℎ (Equação 2)

Imagine uma caixa d’água aberta que está cheia de água num nível de 5 metros
e que se encontra num suporte de 15 metros de altura conforme a Figura 1.
Supondo um arredondamento da aceleração da gravidade para 10 m/s2 e que
nessa caixa exista um orifício de 2 cm2.
.

𝑣 = √2𝑔ℎ 𝑣 = √2. 10. 5 𝑣 = 10m/s


De acordo com a equação da continuidade temos que a vazão é dada pelo
produto entre área e velocidade.
𝑉̇ = 𝐴. 𝑣 (Equação 3)
Dessa forma, instantaneamente, há uma vazão de

𝑉̇ = 𝐴. 𝑣 𝑉̇ = 2.10-4.10 𝑉̇ = 2. 10−3 𝑚3 /𝑠
Percebe-se que essa relação para a vazão é apenas instantânea, pois a altura
do nível de água na caixa vai diminuindo e como consequência a sua energia
potencial como a energia cinética também. Isso fará com que a vazão de água
que sai do orifício seja diminuída em função do tempo tendendo a zero ao seu
final.
Uma outra característica importante é a de que a velocidade resultante do jato,
no princípio do escoamento, na saída do orifício, sempre será 10m/s, mesmo
quando seja projetado o orifício na horizontal, ou até mesmo na vertical, e
inclusive caso fosse colocado uma torneira projetando algum ângulo para cima
ou para baixo.
Ainda, pelo mesmo raciocínio, qual seria a velocidade resultante de escoamento
do jato ao chegar no chão?
Enfim, utilizando a Equação de Torricelli, utiliza-se agora a altura do nível da
água em relação ao chão que no caso será h=5+15, ou seja 20 m.

𝑣 = √2𝑔ℎ 𝑣 = √2. 10. 20 𝑣 = 20m/s.

Dessa forma, a velocidade resultante do jato ao tocar o chão será de 20m/s,


mesmo que o jato não estivesse projetado para a horizontal, ou se estivesse
projetado verticalmente para o chão ou com uma torneira projetada com algum
ângulo diferente. Isso se deve ao fato da própria conservação da energia
mecânica do sistema.
No caso de escoamento projetado na horizontal, conforme descrito pela Figura
1, pode-se calcular o alcance do jato, porém seria necessário encontrar o tempo
de queda desse jato. Como o jato se projeta na horizontal, essa componente
dada como ⃗⃗⃗⃗
𝑣𝑥 =10m/s, se mantém em movimento uniforme. Porém, o tempo de
queda poderá oferecer o valor da componente ⃗⃗⃗⃗
𝑣𝑦 . O tempo de queda será dada
pela Equação 4:

2ℎ
𝑡 = √𝑔 Equação 4

2 .15
𝑡=√ 𝑡 = √3𝑠
10
Já a equação horária da velocidade para o movimento uniformemente variado
no eixo y é dada pela Equação 5:
𝑣𝑦 = 𝑣𝑦𝑜 +g.t (Equação 5)

Como o movimento está em queda livre no eixo y, a velocidade inicial de v yo=0


e temos a velocidade final como:

𝑣𝑦 = 0+ 10. √3

𝑣𝑦 = 10. √3𝑚/𝑠

Dessa forma, ao tocar no solo, o jato possui uma velocidade resultante vr de:
v x2+vy2=vr2

102+(10. √3)2=vr2
vr=20m/s
Como pode-se observar o valor já era previsto pela Equação de Torricelli.
Considerando o alcance, se faz necessário relembrar do tempo de voo, conforme
obtida pela Equação 4.
Ao conceber que a velocidade no eixo x é constante, o alcance a é obtido pelo
produto do tempo de voo e a velocidade escalar, ou seja:
a= vx.t

a=10. √3 m
No caso ilustrado na Figura 1, qual seria a área da seção transversal do jato
imediatamente antes de tocar no chão?
Da equação da continuidade para fluidos de densidade homogênea temos:
A1.v1= A2.v2 2.10-4.10 =A2 20 A2=1cm2

Qual seria o tempo para esvaziar toda a caixa d’água?


Primeiro é necessário saber o volume de água que a mesma contém, ou pelo
menos, a área da base supondo a caixa prismática. Supomos uma caixa de 5m3,
1 m2 de base e de altura 5m .

Da equação da continuidade, tem-se que o fluxo de massa do volume de controle


é a diferença entre os fluxos de entrada e de saída.
𝑚̇e-𝑚̇s=𝑚̇vc
O fluxo mássico de entrada é zero, pois não há fluxo de água entrando dentro
dessa caixa d’água. Porém, o fluxo de saída até poderia ser calculado de forma
instantânea, entretanto, sabe-se que que o fluxo será alterado pois a
velocidade depende da altura da coluna de água que vai diminuindo ao
esvaziar a caixa.
Dessa forma, pode-se utilizar o Cálculo Diferencial e Integral para resolver esse
problema.
0-𝑚̇s=𝑚̇vc

-ρ.√2𝑔ℎ Asaída= ρ.v Acaixa

Por aqui, pode-se notar que a velocidade do segundo membro da equação é


dependente a velocidade (√2𝑔ℎ) do primeiro membro, dessa forma reflete-se
que a caixa também possui uma velocidade de desnível h o que caracteriza
uma equação diferencial de primeira ordem, portanto:
𝑑ℎ
-ρ.√2𝑔ℎ Asaída= ρ. 𝑑𝑡 Acaixa

Ao melhorar a equação, apresenta-se da seguinte forma:


𝐴𝑐𝑎𝑖𝑥𝑎 1
𝑑𝑡 = − 𝑑ℎ
𝐴𝑠𝑎í𝑑𝑎 √2𝑔ℎ

Melhorando:
𝐴𝑐𝑎𝑖𝑥𝑎 1 1
𝑑𝑡 = − 𝑑ℎ
𝐴𝑠𝑎í𝑑𝑎 √2𝑔 √ℎ

Integra-se dos dois lados:


𝑡 ℎ
𝐴𝑐𝑎𝑖𝑥𝑎 1 1
∫ 𝑑𝑡 = − ∫ 𝑑ℎ
0 𝐴𝑠𝑎í𝑑𝑎 √2𝑔 ℎ0 √ℎ

Nessa circunstância, entende-se que h0 seja o valor inicial do nível ou seja o


próprio 5 metros.

Enfim, resolvendo a integral tem-se a equação que possibilita calcular o tempo


de esvaziamento de uma caixa d’água, ou seja, esvaziamento do volume de
controle.

√ℎ0 −√ℎ 𝐴𝑐𝑎𝑖𝑥𝑎


𝑡= (Equação 6)
√2𝑔 𝐴𝑠𝑎í𝑑𝑎

Dessa forma, para o caso proposto, temos:

√5−√0 1
𝑡= 1000 segundos
√2.10 2.10−4

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