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UNIPAZ GOIÁS
GOIÂNIA
2019
RESUMO
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SUMÁRIO
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Acordei ao raiar do dia, peguei meu velho tapetinho e fui até a sala
praticar. Como de costume, afastei o sofá para abrir mais espaço, acendi uma vela,
coloquei uma música bem baixinho, entoei alguns mantras e comecei os asanas. Ao
final, fiz alguns pranayamas, a invertida sobre o topo da cabeça e, por fim, relaxei
em Savasana. Estava em meados de 2017.
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ensinamentos tão antigos, tão preciosos, tão benéficos quanto os dos sagrados
yogues e yoginis. Graças à infinita Misericórdia Divina, meu professor sempre me
incentivou a praticar em casa, com respeito e disciplina. O seu exemplo de
dedicação com a prática, devoção com o estudo e reverência com a Divindade no
coração de todos os seres foram me mostrando o profundo significado da expressão
“Namastê”. A meditação, os pranayamas, a prática de asanas, os yamas e niyamas,
o relaxamento, a contemplação, os mantras e os estudos da filosofia yogue - estes
foram os remédios que mantiveram a sombra do vício sob controle, até que fosse
completamente dissipada.
Nos retiros seguintes, a luz poderosa dos pajés, xamãs e caboclos
terminou de purificar rapidamente o que eu havia sujado durante anos. Depois de
muitos vômitos, choros, suadeiras, tremedeiras e diarréias, pude enfim respirar em
paz e me sentir em casa dentro de meu próprio corpo, como há muito tempo não
sentia.
Nesta época eu cursava psicologia e decidi começar a levar o curso a
sério, a fim de colocar tudo o que aprendesse ali a serviço das pessoas. Mas a
abertura de consciência que os retiros xamânicos, as práticas de Yoga e os estudos
de filosofia oriental realizavam em meu ser, me fizeram ver o cientificismo
acadêmico como algo engessado, frio, cinzento e - quiçá - muito pobre. Eu iria sim
me dedicar à psicologia, ao cuidado, à saúde, mas não daquele jeito.
Em 2015, fiz meu primeiro curso de massoterapia. Fui iniciado em Reiki e
em 2016, recebi os níveis 2 e 3. Foi quando minha amiga abriu o seu espaço
terapêutico, após ter sido também abençoada pelos caboclos da floresta. Nunca
mais precisou dos antidepressivos que tomou durante muitos anos de sua vida.
Comecei a atender com o Reiki neste Espaço, um dia da semana,
gratuitamente. Depois comecei a fazer sessões de meditação guiada em grupo, uma
vez por semana, também gratuitas. Em 2017, fiz um curso de Zen-Shiatsu e
comecei a atender com este maravilhoso tratamento da Medicina Tradicional
Chinesa.
Divulguei meu trabalho com o Shiatsu no Facebook, e um amigo que não
via há muito tempo - desde a época que minha vida estava completamente diferente
- me enviou uma mensagem privada pedindo ajuda. Disse que estava numa
situação muito difícil, deprimido, ansioso, sem ver sentido na vida, pensando em
suicídio.
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que eu teria feito de graça, se não soubesse o quanto a maioria das pessoas precisa
pagar uma mensalidade para dar valor à prática - e mesmo assim, muitas vezes,
não dão.
Logo no início dessa caminhada, comecei - como uma formiguinha
faminta - a procurar tudo relacionado a Yoga e meditação em Goiânia. Fiz “aula
experimental gratuita” com muitas professoras e professores de várias escolas, e foi
numa dessas que conheci a professora Marta Molinari. Frequentei durante um ano a
Meditação da Luz na Unipaz, que me auxiliou enormemente a dar os primeiros
passos na difícil tarefa de aprender a tocar este instrumento tão delicado que é a
nossa mente. Toda segunda-feira, lá estava eu visualizando a luz, sendo recebido
por ela com um grande sorriso. Desde a primeira vez, ela me recebeu como se já
me conhecesse há muito tempo. Seus ensinamentos ficavam ecoando dentro de
mim durante toda a semana, até a segunda-feira seguinte. Lá fiquei sabendo de um
curso de pós-graduação em Yoga e pensei, “quem sabe, depois que eu me graduar
em psicologia?...”.
No ano de 2018, tive a grata surpresa de ver que o curso seria de
formação, e não mais de pós-graduação. Era meu último ano de faculdade, e a
possibilidade de iniciar estudos formais em Yoga, com professoras e professores de
várias partes do Brasil, me deixou entusiasmado. Mas a mensalidade estava além
de minhas possibilidades financeiras.
Por uma misteriosa graça Divina, que eu não sei como explicar, tive a
imensa sorte de ter nascido filho de duas pessoas que me amam muito.
Moro com minha mãe, meus pais são separados desde que eu tinha 16
anos. Tendo eles já me dado tudo que preciso pra viver bem e realizar meus
propósitos sobre a Terra, pedi, mesmo assim, que pagassem as mensalidades do
curso e das aulas regulares de Yoga. Eles aceitaram; no dia seguinte, fiz a
matrícula.
Comecei logo as aulas regulares, pois havia tempo que não praticava
com uma professora e precisava reciclar o ritmo, o ajuste das posturas, a fluidez,
enfim, tudo aquilo que se consegue quando outra pessoa está ali guiando para que
você possa apenas mergulhar e apreciar. Foi então que conheci a Laura.
Quando vou iniciar uma aula ou fazer uma prática sozinho, tenho o
costume de recordar rapidamente os poucos professores e professoras com quem já
pratiquei durante um tempo, agradecendo-as por tudo que me ensinaram. Cada uma
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meu redor, livre, pleno e em paz. Chegando em casa, fui pesquisar e descobri que
este mantra é um verdadeiro remédio contra o sentimento de separação:
adicionar algo mais àquilo que já é pleno desde o início? Não se pode perder nada,
nem ganhar nada, pois tudo veio da perfeição e essa perfeição se perpetua em cada
átomo do universo. A vivência dessa verdade dissipa todo anseio, toda inquietante
busca por algo externo que vá preencher o vazio. O vazio é a própria fonte de tudo,
não algo a ser tampado, mascarado, camuflado…
Mas é claro que, para que tudo isso seja vivenciado, e não apenas
compreendido racionalmente, não se pode confiar de forma cega. Há dez preceitos
éticos e oito passos de um caminho que gradualmente direciona nossa vida a abrir
um espaço para que essa plenitude seja sentida, tocada, reverenciada. Não é um
solavanco de evolução. É um lento caminhar, passo a passo, dia após dia, momento
a momento.
É por isto que esta escola, este hospital, é também um templo.
Algo mudou dentro de mim quando comecei a dar atenção extra aos
exercícios mais simples e básicos do Hatha Yoga - aqueles que passamos batido,
pois gostamos da complexidade, do desafio, e nossa mente adora se sentir a
“comandante” da situação.
No início da prática, não conseguimos realizar sequer um movimento
sincronizado com a respiração. Não conseguimos levar a respiração até o abdômen,
nem acionar os músculos específicos que precisamos para construir essa ou aquela
postura. Muitas vezes, não é por falta de força ou de flexibilidade - simplesmente
está além do nível de consciência corporal que adquirimos até aquele momento.
Conforme praticamos e nossa propriocepção aumenta, somos levados a
um lugar onde conseguimos realizar as ações necessárias sem grande
direcionamento da atenção. Ou seja, o que antes só se conseguia através de um
estado de presença, agora pode-se realizar distraidamente, no modo automático,
pensando em outras coisas.
Começamos então a adicionar outros “dispositivos de presença” para
chamar a atenção de volta ao momento: “Ative o períneo. Encaixe o quadril... Leve
contração no abdômen... Respiração ujjayi! Língua no céu da boca. Foque o olhar
num ponto fixo... Inspire imaginando-se puxando a energia da Terra e exale
espalhando e afundando suas raízes cada vez mais fundo. Sinta a ação dessa
postura sobre seu corpo emocional...”. Com esses dispositivos em ação, fazemos
com que a lupa da concentração direcione toda a energia num único ponto: o
momento presente. E assim vamos percebendo que todas as maravilhas da vida
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estão disponíveis para ser exploradas aqui, agora mesmo, ao alcance da nossa
capacidade de equilíbrio entre estabilidade e conforto.
Praticando Tadasana, Savasana, Sukhasana e a respiração completa -
coisas que, depois de um tempo, achamos que como “yogues experientes” não
precisamos mais praticar, pois “já passamos dessa fase” - aprendi uma valiosa lição.
Diz respeito a um sentimento de que tudo é novo o tempo todo, e que as principais
frustrações de minha vida foram devidas à falta de atenção em perceber a beleza
contida no inédito daquele instante.
Seja prazeroso ou doloroso, confortável ou incômodo, a unicidade de
cada momento torna a vida um lugar que nos instiga a acertar o passo da dança
entre força e flexibilidade, entre firmeza e leveza. Deitado, sentado, em pé,
respirando, caminhando, comendo, conversando, trabalhando, pedalando, sorrindo,
chorando… se experimentados com atenção plena, isto é asana.
Naquele último ano de curso de psicologia, fiz estágio no CAPS Vida,
onde dei aulas de Yoga para pessoas com transtorno mental grave. Recentemente
voltei a dar aulas para eles, mesmo não estando vinculado à instituição. O que eu
aprendo com essas aulas, seria o suficiente para escrever todo um trabalho como
este.
Muitos possuem grandes dificuldades cognitivas, não tanto devido à
doença, e sim à quantidade enorme de medicamentos que a mantém sob controle. E
por incrível que pareça, onde existe menos raciocínio, menos fluxo de análise da
realidade em rótulos e conceitos, há também menos resistência para experimentar
os estados que estão além das palavras. É como o ditado zen: "Há muitas
possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito”.
Com toda a carga de tensão a que estão submetidos, parece surreal ouvir
alguém dizer as palavras mágicas: “Está tudo bem. Não precisa fazer mais nada.
Você já chegou, já está em casa. Apenas respire, ouça o som da sua respiração,
ouça o seu coração”. Diga isso a uma pessoa como nós, “saudáveis”, alguém com
uma mente super afiada, cheia de juízos de valor, e ela não vai achar muito
agradável ficar ali parada observando a própria respiração: “Que coisa chata, sem
graça, cadê o movimento, o desafio, os estímulos excessivos? É uma pena, assim
não tenho nenhuma oportunidade de mostrar para o mundo minha esperteza,
inteligência e sagacidade! De que valem todos os livros que li até hoje, toda a
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