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A Bauhaus e a
Nova Tipografia
“É óbvio”, escreveu Aldous Huxley em 1928, “que as
máquinas vieram para ficar. Exércitos inteiros de
William Morrisses e Tolstóis não conseguiriam agora
expulsá-las... Vamos então explorá-las para criar be-
leza – uma beleza moderna, enquanto estamos com
elas.” Ideias de todos os movimentos artísticos de
vanguarda e de design foram exploradas, combina-
das e aplicadas a problemas funcionais e à produção
mecânica na escola alemã de design Bauhaus (1919-
1933). O mobiliário, a arquitetura, o design de pro-
duto e o design gráfico do século xx foram plasma-
dos pelas atividades de seu corpo docente e discente,
e uma estética do design moderno surgiu.
À véspera da Primeira Guerra Mundial, o arqui-
teto belga art nouveau Henri van de Velde, que diri-
gia a Escola de Artes e Ofícios de Weimar, na Alema-
nha, deixou o cargo para retornar ao seu país. Walter
Gropius (1883-1969), então com 31 anos de idade,
era um dos três substitutos possíveis recomenda-
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dos por Van de Velde ao grão-duque de Saxe-Weimar. mais brilhantes eram boas o bastante para justificar
Durante os anos da guerra a escola ficou fechada e a multiplicação pela indústria.
foi somente após seu término que Gropius, já reco- A Bauhaus era a consequência lógica de um inte-
nhecido internacionalmente por seus projetos de resse alemão pelo design na sociedade industrial que
fábricas que empregavam o vidro e o aço de novas teve início nos primeiros anos do século. Conforme
maneiras, foi confirmado como o novo diretor. A ins- discutido no capítulo 14, a Deutsche Werkbund tra-
tituição passava a ser composta pela fusão da Escola balhava para elevar os padrões do design e do gosto
de Artes e Ofícios de Weimar, que enfatizava as artes público, arregimentando arquitetos, artistas, servi-
aplicadas, com uma escola de belas-artes, a Acade- dores públicos e trabalhadores das indústrias, peda-
mia de Arte de Weimar. Gropius teve permissão para gogos e críticos. A Werkbund procurava unir artistas
batizar a nova escola de Das Staatliche Bauhaus e artesãos com a indústria para elevar as qualidades
(literalmente, Casa Estatal da Construção), inaugu- funcionais e estéticas da produção em massa, particu-
rada em 12 de abril de 1919, quando a Alemanha larmente nos produtos de consumo de baixo custo.
se encontrava em grave estado de convulsão. Sua Começando em 1907, Gropius trabalhara três
catastrófica derrota na “guerra para pôr fim a todas anos como assistente no escritório de arquitetura de
as guerras” resultou em conflitos econômicos, po- Peter Behrens. A atuação de Behrens em favor de uma
líticos e culturais. O mundo pré-guerra da dinastia nova objetividade e as teorias da proporção produzi-
dos Hohenzollern chegara ao fim e a necessidade de ram impacto no desenvolvimento do pensamento do
construir uma nova ordem social permeava todos os jovem Gropius. Henri van de Velde também foi uma
aspectos da vida. influência importante. Durante os anos 1890 Van de
O Manifesto da Bauhaus, publicado em jornais Velde declarara que o engenheiro era o novo arqui-
alemães, estabelecia a filosofia da nova escola: teto e preconizara o design lógico utilizando novas
tecnologias e materiais da ciência: concreto armado,
O fim último de toda a atividade plástica é a constru- aço, alumínio e linóleo.
ção. Outrora, a tarefa mais nobre das artes plásticas,
componentes inseparáveis da magna arquitetura, era
adornar os edifícios. Hoje elas se encontram numa A BAUHAUS EM WEIMAR
situação de autossuficiência singular [...]. Arquite-
tos, pintores e escultores devem novamente chegar a Os anos da Bauhaus em Weimar (1919-1924) fo-
conhecer e compreender a estrutura multiforme da ram intensamente visionários e inspirados no ex-
construção em seu todo [...]. O artista é uma elevação pressionismo [16.1, 16.2] . Caracterizada pelo desejo
do artesão. A graça divina, em raros momentos de utópico de criar uma nova sociedade espiritual, a pri-
luz que estão além de sua vontade, faz florescer in- meira Bauhaus buscou uma unidade entre artistas e
conscientemente obras de arte. Entretanto, a base do artesãos na construção do futuro. Seminários sobre
“saber fazer” é indispensável para todo artista. Aí se vitrais, madeira e metal eram ministrados por um ar-
encontra a fonte de criação artística. tista e um artesão e organizados segundo o modo de
produção da guilda medieval Bauhütte – mestre, ar-
Ao reconhecer as raízes comuns entre as belas-artes tífice, aprendiz. A catedral gótica representava a rea-
e as artes visuais aplicadas, Gropius procurava uma lização do anseio das pessoas por uma beleza espiri-
nova unidade entre arte e tecnologia e arregimentou tual que fosse além da utilidade e da necessidade; ela
uma geração de artistas na luta para resolver proble- simbolizava a integração entre arquitetura, escultura,
mas de design criados pela industrialização. Espe- pintura e ofícios. Gropius estava profundamente in-
rava-se que o designer com formação artística seria teressado no potencial simbólico da arquitetura e na
capaz de “insuflar uma alma no produto morto da possibilidade de um estilo universal de design como
máquina”, pois Gropius acreditava que só as ideias um aspecto integrado da sociedade.
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Conflitos contínuos entre a Bauhaus e o governo nicação nunca deve ser prejudicada por uma estética
turíngio levaram as autoridades a insistir para que a priori. As letras jamais devem ser forçadas a entrar
ela montasse uma grande exposição mostrando suas numa estrutura preconcebida, como um quadrado, 16.4 Joost Schmidt, cartaz de
realizações. Quando a escola inaugurou essa exibição por exemplo. exposição da Bauhaus, 1923.
em 1923 – visitada por 15 mil pessoas e internacio- Ressonâncias de cubismo,
construtivismo e De Stijl dão
nalmente aclamada – o, medievalismo romântico e o No design gráfico, ele defendia
prova de que a Bauhaus se
expressionismo estavam sendo substituídos por uma
tornou um repositório onde
ênfase no design aplicado, levando Gropius a trocar o um uso desinibido de todas as direções lineares (por- movimentos diversos eram
slogan “Uma Unidade entre Arte e Habilidade Manual” tanto, não só a articulação horizontal). Utilizamos to- combinados em novos
por “Arte e Tecnologia, uma Nova Unidade”. Um novo dos os tipos, tamanhos de tipos, formas geométricas, enfoques de design. Este
símbolo refletia essa virada [16.3] . O cartaz de Joost cores etc. Queremos criar uma linguagem da tipogra- cartaz mostra a influência de
Schmidt para essa exposição combina formas geo- fia cuja elasticidade, variabilidade e vitalidade de com- Oscar Schlemmer, então
mestre na Bauhaus. A abertura
métricas e referência à máquina [16.4] , ilustrando a posição tipográfica [sejam] ditadas exclusivamente
da exposição foi adiada até
reorientação ocorrida na Bauhaus. pela lei interna de expressão e pelo efeito ótico [16.7] .
agosto e duas tiras de papel
foram pregadas com as datas
Em 1922 e 1923, Moholy-Nagy encomendou três pin- corrigidas. Este exemplo é a
O IMPACTO DE LÁSZLÓ MOHOLY-NAGY turas a uma empresa de placas. Essas foram execu- versão original.
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16.5 Herbert Bayer, projeto de tadas com base em seus leiautes em papel quadricu- cação instantânea – por meio de técnicas de ampliação,
capa, Staatliches Bauhaus in lado, com cores selecionadas da tabela da empresa distorção, recortes, dupla exposição e montagem. Em
Weimar, 1919-1923, 1923. Letras para esmalte de porcelana, em conformidade com tipografia ele defendia os contrastes enfáticos e o uso
geometricamente construídas
sua teoria de que a essência da arte e do design era audacioso da cor. A clareza absoluta da comunicação
impressas em vermelho e azul
o conceito, não a execução, e que os dois podiam ser era ressaltada, sem noções estéticas preconcebidas.
sobre um fundo preto são
comprimidas em um quadrado. separados. Moholy-Nagy agiu de acordo com essa Como fotógrafo, Moholy-Nagy usava a câmera
convicção a partir de 1929, quando manteve um as- como ferramenta para o design. Ideias convencio-
16.6 László Moholy-Nagy, sistente, Gyorgy Kepes (1906-2002), para concluir nais de composição cediam lugar à organização ines-
folha de rosto, Staatliches a execução de suas encomendas. Kepes seria mais perada, principalmente pelo uso da luz (e às vezes da
Bauhaus in Weimar. Esta tarde conhecido como fundador do Centro de Estu- sombra) para desenhar o espaço. O ponto normal de
estrutura de página se baseia
dos Visuais Avançados no Instituto de Tecnologia de visão foi substituído por plongé e contre-plongé, clo-
em uma série rítmica de
Massachusetts, entidade com o objetivo de promover se-up extremo e pontos de vista angulares. Uma apli-
ângulos retos. Texturas de
faixas aplicadas a duas palavras a colaboração criativa entre artistas e cientistas. cação da nova linguagem da visão a formas encontra-
criam um segundo plano A paixão de Moholy-Nagy pela tipografia e a fotogra- das no mundo caracteriza seu trabalho fotográfico
espacial. fia inspirou um interesse da Bauhaus por esses meios regular. A interação entre textura, luz e sombra e a
de comunicação e resultou em experiências importan- repetição são qualidades de trabalhos como Chairs
tes na unificação das duas artes. Ele concebia o design at Margate (Cadeiras em Margate) [16.9] . Em seu
gráfico, particularmente o cartaz, como algo que evoluía crescente entusiasmo pela fotografia, Moholy-Nagy
em direção à tipofoto. A essa integração objetiva entre entrou em choque com os pintores da Bauhaus, ao
palavra e imagem para comunicar uma mensagem de proclamar a vitória final dessa arte sobre a pintura.
modo imediato ele chamou de “a nova literatura visual”. Em 1922 ele começou a fazer experimentações
O cartaz “Pneumatik” (Pneumático) de Moholy-Nagy com fotogramas; no ano seguinte passou às fotomon-
[16.8] de 1923 é uma tipofoto experimental. Naquele ano tagens, que chamou de fotoplastias. Moholy-Nagy
ele escreveu que a apresentação objetiva de fatos pela acreditava que o fotograma, por permitir que o artista
fotografia poderia liberar o espectador da dependência capturasse uma interação entre luz e sombra estam-
da interpretação de outra pessoa. Ele via a fotografia pada em uma folha de papel sensível à luz sem o uso
influenciando o design de cartazes – que exige comuni- de uma câmera, representava a essência da fotografia
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A BAUHAUS EM DESSAU
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16.15 Herbert Bayer, capa para e Van Doesburg [15.43] foram editores ou autores de
a revista Bauhaus, 1928. Uma volumes da série. Moholy-Nagy projetou doze livros e
página tipográfica reúne as oito sobrecapas [16.17] . A sobrecapa para o livro 12 foi
ferramentas do designer e
impressa em papel vegetal. O livro apresentava pro-
formas geométricas básicas
em uma natureza-morta postas de Gropius de habitação modular para fabri-
fotográfica. Composta diante cação industrial, combinando economia, propósito
de uma câmera em vez de social e funcionalidade estrutural com preocupações
numa prancheta, esta capa estéticas. Propriedades da arquitetura moderna eram
alcança uma rara integração expressas na sobrecapa do livro 14 por uma foto de
entre tipo e imagem.
uma composição tipográfica impressa em vidro cuja
sombra incide sobre um plano vermelho.
Cinco ex-alunos foram nomeados mestres, entre
eles Josef Albers (1888-1976), que ministrou um curso
introdutório em que investigava as qualidades cons-
trutivas dos materiais; Marcel Breuer (1902-1981), o
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responsável pela oficina de móveis, que inventou a quia visual determinada por uma avaliação objetiva
mobília de aço tubular; e Herbert Bayer, que se tor- da importância relativa das palavras. Barras, fios,
nou professor da recém-criada oficina de tipografia e pontos e quadrados eram empregados para subdivi-
design gráfico. Desde Weimar, Gropius havia obser- dir o espaço, unificar elementos diversos, conduzir o
vado o interesse de Bayer por design gráfico e o in-
centivou com periódicas atribuições [16.18 , 16.5 ], por-
tanto a preocupação tipográfica de Bayer precedeu a
mudança para Dessau.
Além de atender a pedidos de impressão de empre-
sas de Dessau para ajudar a equilibrar o orçamento
da Bauhaus, a oficina de Bayer realizou notáveis ino-
vações em design tipográfico de acordo com linhas
funcionais e construtivistas. Fontes sem serifa eram
usadas quase exclusivamente, e Bayer desenhou um
tipo universal que reduzia o alfabeto a formas claras,
simples e racionalmente construídas [16.19] . Isso era
coerente com a defesa de Gropius da forma acompa-
nhando a função. Bayer omitia as maiúsculas, argu- olhar do observador numa página e chamar a atenção 16.18 Herbert Bayer, nota
mentando que os dois alfabetos (maiúsculas e mi- para elementos importantes. Preferiam-se formas promissória para o Banco do
Estado da Turíngia, 1923. A
núsculas) eram incompatíveis por serem dois sinais elementares e o uso do preto com matiz brilhante,
inflação galopante do
totalmente diferentes (isto é, a versal e a minúsculo) puro. Composição aberta em um grid implícito e
pós-guerra na Alemanha
expressando o mesmo som. um sistema de tamanhos para tipos, fios e imagens necessitava de notas
Ele experimentou a composição alinhada à es- conferiam unidade aos projetos. Composição dinâ- promissórias de grande valor
querda, desalinhada à direita e sem justificação (ni- mica com fortes horizontais e verticais (e, de vez em nominal. Tipos pretos se
velamento das margens esquerda e direita de uma quando, diagonais) caracterizam o período de Bayer sobrepõem a um retângulo
coluna de tipos pela adição de espaços entre palavras na Bauhaus. vermelho, linhas e uma
repetição do valor nominal
e letras). Contrastes extremos entre tamanho e peso Essas propriedades são claramente visíveis no
formando uma textura.
de tipos eram usados para estabelecer uma hierar- cartaz de Bayer para a exposição dos sessenta anos
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16.19 Herbert Bayer, alfabeto 16.20 Herbert Bayer, cartaz de O design de exposições [16.22] alcançou excelên-
universal, 1925. Esta exposição, 1926. Tipos e cia no tempo de Schmidt, que trouxe unidade a essa
experiência de redução do imagem são organizados em forma por meio de painéis padronizados e organiza-
alfabeto a um conjunto de uma progressão funcional de
ção por sistema de grids. A diretoria da Bauhaus foi
caracteres geometricamente tamanho e peso, que vai das
construídos maximiza as informações mais importantes
assumida por Hannes Meyer (1889-1954), arquiteto
diferenças entre as letras para para os detalhes de apoio. suíço com fortes convicções socialistas, que havia
maior legibilidade. As letras sido contratado para montar o programa arquite-
em caixa-baixa mostram pesos tônico em 1927. Por volta de 1930, conflitos com as
diferentes. Variações autoridades municipais levaram Meyer a renunciar.
posteriores incluem os estilos A direção foi então assumida por Ludwig Mies van
negrito, condensado, de
der Rohe (1886-1969), destacado arquiteto de Berlim,
máquina de escrever e cursivo
aqui mostrados.
cuja máxima “menos é mais” se tornou um princípio
central no design do século xx.
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para o futuro
a bauhaus nos deu segurança
para enfrentar as perplexidades
do trabalho;
deu-nos o know-how para
trabalhar.
um fundamento nos ofícios, 16.23 Jan Tschichold, anúncio
uma herança inestimável de princípios atemporais com lettering manual para a
em sua aplicação ao Feira Comercial de Leipzig,
1922. Simetria e formas
processo criativo.
históricas de letras caracteri-
ela expressou novamente que não nos zam o trabalho da juventude
cabe impor estética de Tschichold.
às coisas que usamos, às
estruturas em que moramos,
mas que o propósito e a forma devem
ser vistos como uma coisa só.
que a direção surge quando se
consideram
as demandas concretas,
as condições especiais, o caráter
inerente
de um dado problema.
mas sem perder nunca a perspectiva
de que, afinal, somos artistas. 16.24 Jan Tschichold, cartaz
a bauhaus existiu por um breve para uma editora, 1924. Uma
lapso de tempo das primeiras tentativas de
Tschichold de aplicar princípios
mas o potencial, inerente a seus princípios,
modernos de design, impresso
mal começou a ser percebido,
em preto e dourado, proclama:
suas fontes de design permanecem “Os livros da Philobiblon
para sempre plenas encontram-se disponíveis aqui
de cambiantes possibilidades. em Varsóvia”.
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Em seu livrinho extremamente pessoal e poético play incomuns, e se tornou a família geométrica sem
Essay on Typography (Ensaio sobre tipografia) [16.37] , serifa mais difundida. Como professor e designer,
Gill propôs pela primeira vez o conceito de compri- Renner lutou incansavelmente pela noção de que os
mentos desiguais de linha nos tipos de texto. Ele afir- designers não deveriam apenas preservar sua herança
mava que o espaçamento desigual entre as palavras e passá-la inalterada para a próxima geração; cada
nas linhas justificadas prejudicava a legibilidade e geração deve, isto sim, tentar resolver os problemas
causava mais problemas de design que o uso de es- herdados e criar uma forma contemporânea fiel a
paçamento igual entre as palavras e uma margem seu próprio tempo. Até o místico medievalista Rudolf
direita desalinhada. De fins de 1928 até sua morte, Koch [10.35] projetou um tipo geométrico sem serifa
ele trabalhou na Hague e Gill Impressores, usando muito popular, o Kabel [16.40] , que era animado por
uma prensa e composição manuais, papel artesanal inesperadas sutilezas de design.
e tipos exclusivos desenhados por ele. Não se tratava,
porém, de uma imprensa privada na tradição das arts
and crafts, pois Gill dizia que uma gráfica particular
“imprime exclusivamente o que ela escolhe, ao passo
que uma gráfica pública imprime o que seus clientes
lhe pedem”.
16.38 Paul Renner, fôlder para Começando com o alfabeto universal de Bayer
Futura, 1927. Esta primeira [16.19] e os tipos Erbar de c. 1925 de Jakob Erbar, mui-
versão da Futura era mais
tos tipos sem serifa construídos geometricamente fo-
abstrata que as fontes lançadas
ram projetados durante os anos 1920. O Futura [16.38,
nos Estados Unidos. As
relações estruturais neste 16.39] foi projetado por Paul Renner (1878-1956) para
leiaute caracterizam a Nova a fundição Bauer na Alemanha. O Futura tinha quinze
Tipografia. alfabetos, incluindo quatro itálicos e duas fontes dis-
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O MOVIMENTO ISOTIPO
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16.42 Otto Neurath e o a maior parte dos pictogramas passou a ser projetada
Método de Viena, “Geburten por ele [16.43] .
und Sterbefalle in Wien” Muitas vezes reduzidos até a meio centímetro
(Natalidade e mortalidade em
de altura, esses pictogramas eram projetados para
Viena), diagrama, c. 1928.
Neurath chamou o isotipo de
expressar sutilezas como um homem bêbado, um
“quadro da linguagem”, que desempregado ou um emigrante, em gráficos e dia-
permitia ao leitor estabelecer gramas. Arntz recortava os pictogramas em blocos de
relações. O impacto da linóleo; em seguida eram impressos tipograficamente
Primeira Guerra Mundial sobre e depois colados na arte-final. Um estoque de 1 140
a mortalidade e a natalidade é
pictogramas foi produzido até 1940, quando o grupo
evidente.
Isotipo fugiu para a Inglaterra. Os pictogramas eram
então multiplicados por meio de blocos de impressão
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16.45 Piet Zwart, anúncio para duas influências aparentemente contraditórias: a vi- a uma preocupação consciente com a comunicação
a Laga Company, 1923. Nos talidade brincalhona do movimento dadaísta e a fun- funcional. Zwart concebia o espaço como um “campo
trabalhos mais antigos de cionalidade e a clareza formais do movimento De Stijl. de tensão” animado por composição rítmica, contras-
Zwart é evidente a influência
Aos 36 anos, quando Zwart começou a fazer projetos tes vigorosos de tamanho e peso e uma interação di-
de princípios do De Stijl.
de design gráfico, já havia recebido formação em ar- nâmica entre a forma tipográfica e a página de fundo
16.46 Piet Zwart, fôlder, 1924. quitetura, projetado móveis e interiores e trabalhado [16.46, 16.47] . Os projetos de catálogo de Zwart para a
A ordem é alcançada em uma no escritório de arquitetura de Jan Wils (1891-1972). N. V. Nederlandsche Kabelfabriek (nkf) (Fábrica Ho-
comunicação complexa pela Os projetos de interiores de Zwart foram na direção landesa de Cabos) possuem uma integração espacial
repetição rítmica de diagonais, da funcionalidade e clareza formal após o início de dinâmica de tipos e imagens [16.48, 16.49] .
palavras, letras, fios e punhos. sua comunicação com o De Stijl em 1919; entretanto, Rejeitando a monotonia da tipografia conven-
ele nunca aderiu ao movimento porque, embora con- cional, Zwart criou leiautes dinâmicos e chamati-
cordasse com sua filosofia básica, o achava muito vos. Ele quebrou a tradição assumindo um novo
dogmático e restritivo. olhar sobre os materiais de que são feitos os proje-
Por acaso, no início dos anos 1920 Zwart recebeu tos gráficos. Sem instrução formal em tipografia ou
suas primeiras encomendas tipográficas [16.45] da impressão, não era inibido por regras e métodos da
Laga, uma fabricante de pisos. À medida que seu prática profissional tradicional. Mas a necessidade
trabalho evoluía, passou a rejeitar tanto o leiaute de a tipografia estar em harmonia com seu tempo e
simétrico tradicional como a insistência do De Stijl com os métodos de produção disponíveis era uma
em horizontais e verticais rígidas. Depois de fazer um preocupação importante para Zwart. Ciente de que
rascunho do leiaute, Zwart encomendava palavras, a impressão em massa do século xx tornava o design
fios e símbolos de um tipógrafo e os manipulava lu- tipográfico uma força cultural influente, ele assumiu
dicamente sobre a superfície para desenvolver o pro- forte senso de responsabilidade social e zelo para
jeto. A natureza fluida da técnica de colagem se aliava com o leitor.
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Nacional de Turismo da Suíça. Matter tinha um co- Matter foi pioneiro nos contrastes extremos de es-
nhecimento meticuloso dos novos enfoques moder- cala e na integração da fotografia em preto e branco
nistas da organização visual e suas técnicas, como com símbolos e áreas de cor [16.62] . Em seu cartaz de
colagem e montagem. Tal como László Moholy-Nagy, viagem proclamando que todos os caminhos levam à
Matter aplicou esse conhecimento à fotografia e ao Suíça, três níveis de informações fotográficas se com-
16.65 Walter Herdeg, cartaz design gráfico. Seus cartazes dos anos 1930 utilizam binam em uma expressão majestosa do espaço [16.63] .
para St. Moritz, 1936. Luz e
montagem, alternâncias dinâmicas de escala e uma No primeiro plano, uma estrada calçada fotografada
sombra criam uma composi-
integração eficaz de tipografia e ilustração. As ima- do nível do chão faz o espaço recuar. Seu movimento
ção animada transmitindo a
emoção de esquiar. A marca do gens fotográficas se tornam símbolos apartados de é detido por uma serra onde se vê a famosa estrada
sol de St. Moritz se torna parte seus ambientes naturalistas e reunidos de maneiras suíça com sinuoso vaivém sobre as montanhas. Final-
da fotografia. inesperadas. mente, o pico de uma montanha imponente se eleva
contra o céu azul. Um cartaz de turismo para Pontre-
sina [16.64] utiliza insólitos ângulos de câmera e uma
mudança radical de escala: da enorme cabeça para o
pequeno esquiador.
Outro suíço que mostrou grande perícia no uso da
fotografia no design gráfico durante os anos 1930 foi
Walter Herdeg (1908-1995), de Zurique. Em materiais
publicitários para estâncias suíças, Herdeg obteve vi-
talidade no projeto mediante a seleção e o recorte de
imagens fotográficas. Já para a estação de esqui de St.
Moritz [16.65] , Herdeg criou uma unidade gráfica
pela aplicação consistente do símbolo de um sol es-
tilizado e um logotipo derivado da caligrafia. Durante
a Segunda Guerra Mundial, ele lançou uma revista
internacional bimestral de design gráfico intitulada
Graphis. Durante 42 anos e 246 números, publicou,
editou e desenhou essa revista, que desencadeou um
diálogo sem precedentes entre designers gráficos do
mundo inteiro.
A nova linguagem da forma começou na Rússia e
na Holanda, cristalizou-se na Bauhaus e encontrou
um de seus mais articulados porta-vozes em Jan
Tschichold. As sensibilidades racionais e científicas
do século xx ganharam expressão gráfica. A Nova
Tipografia possibilitou que designers imaginativos
desenvolvessem comunicações visuais funcionais e
expressivas e continuou a ser uma influência impor-
tante durante o século xx.
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O movimento modernista
nos Estados Unidos
O movimento moderno não conseguiu sustenta-
ção inicial nos Estados Unidos. Quando o lendário
Armory Show de 1913 introduziu o modernismo no
país, gerou uma tempestade de protestos e provocou
a rejeição pública da arte e do design modernos. O
novo design europeu só se tornou influência im-
portante nos Estados Unidos nos anos 1930. Como
demonstram os outdoors numa foto [17.1] de Walker
Evans (1903-1975), o design gráfico norte-americano
durante os anos 1920 e 1930 ainda era dominado pela
ilustração tradicional. Entretanto, a abordagem mo-
derna lentamente ganhou terreno em várias frentes:
design de livros, projeto editorial para revistas de
moda e de negócios dirigidas a um público abastado
e trabalhos gráficos promocionais e corporativos.
Quando o “Elementare Typographie” de Tschi-
chold foi divulgado nos canais norte-americanos de
publicidade e artes gráficas, provocou considerável
entusiasmo e agitação. Editores e redatores o critica-
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história da arte em 1926. No início foi autodidata – am- 17.4 Merle Armitage, folha de
plas leituras e intelecto curioso formaram a base de rosto para Modern Dance
(Dança moderna), de Merle
seu desenvolvimento profissional. Depois de ganhar
Armitage, 1935. As versais sem
experiência no final dos anos 1920 e início dos anos
serifa são espacejadas e
1930 como designer gráfico, cujo trabalho rompeu separadas por fios ultrafinos.
com o leiaute norte-americano tradicional da publi-
cidade, Beall transferiu seu ateliê para Nova York em
1935. No desafiador ambiente social e econômico da
Depressão (1929-1939), ele tentou desenvolver formas
visuais fortes, diretas e vibrantes. Beall compreendeu
a Nova Tipografia de Tschichold e a organização alea-
tória do movimento dadaísta, a disposição intuitiva
17.5 Lester Beall, capa para PM ,
dos elementos e o uso do acaso no processo criativo 1937. Esta capa evidencia o
[17.5] . Admirando o forte caráter e a forma dos tipos de crescente interesse de Beall
madeira norte-americanos do século xix, Beall se de- pelo modernismo europeu. A
liciou em incorporá-los ao seu trabalho durante esse cor e a tipografia diagonal
período. Com frequência, planos de cores chapadas e sugerem a influência da
sinais elementares como setas eram combinados com Bauhaus e do construtivismo.
Entretanto, seu uso dos tipos
fotografia, à medida que ele buscava contraste visual e
do século xix no canto inferior
alto nível de conteúdo informativo. confere ao projeto um estilo
O projeto da figura 17.6 tem fortes movimentos ho- próprio. Este número continha
rizontais contrastando com o ritmo das verticais. As também um artigo de Beall
imagens são dispostas em camadas no espaço; ali, a sobre o design gráfico.
ilustração transparente de um pioneiro é sobreposta
a duas fotografias. Cartazes de Beall para a Rural Elec-
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O dr. Agha foi o primeiro diretor de arte com forma- visual dinâmico aprendido de Moholy-Nagy e Man Ray
ção em design moderno a comandar o destino gráfico com o novo enfoque da fotografia possibilitado pela
de um grande periódico nos Estados Unidos. Nascido recém-lançada câmera Leica 35mm em “miniatura”.
de pais turcos na Ucrânia, Agha estudou arte em Kiev Inventada por um empregado da companhia Leitz da
e graduou-se em línguas em Paris. Depois de trabalhar Alemanha em 1913, essa pequena câmera portátil foi
como artista gráfico nessa cidade, mudou-se para Ber-
lim, onde em 1928 conheceu Condé Nast, que acabara
17.10 Martin Munkacsi,
de fechar a pouco rentável edição da revista Vogue fotografia editorial da Harper’s
de Berlim e procurava um novo diretor de arte para Bazaar, 1934. Ao rejeitar as
a sucursal norte-americana. Impressionado com o convenções do estúdio,
trabalho gráfico de Agha, Nast o convenceu a ir para Munkacsi permitia que as
Nova York como diretor de arte da Vogue. Enérgico locações ao ar livre e os
movimentos naturais de suas
e intransigente, Agha logo assumiu também respon-
modelos sugerissem
sabilidades de design pela Vanity Fair e pela House &
possibilidades inovadoras.
Garden. Repensou o enfoque carregado e antiquado
do design editorial de Condé Nast, introduzindo fo-
tografia sangrada, tipos sem serifa de composição
mecânica, espaço branco e leiautes assimétricos.
Na revista concorrente, a Harper’s Bazaar, que tinha
sido comprada pelo magnata da imprensa William
Randolph Hearst em 1913 e rejuvenescida pelo uso
da fotografia, Carmel Snow tornou-se editora em 1933.
Com grande interesse pelos aspectos visuais da revista,
ela contratou como fotógrafo-chefe o húngaro Martin
Munkacsi (1896-1963). Convenções antigas e conso-
lidadas de fotografia editorial foram sumariamente
derrubadas pelas novas composições de Munkacsi
[17.10] . Este pertencia a uma nova linhagem de fotó-
grafos editoriais e publicitários, que combinavam o
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17.15 Alexander Liberman, Joseph Binder foi para os Estados Unidos em 1934
capa para Vu, 1933. Vu foi uma para uma série de conferências e seminários e logo
das primeiras publicações em recebeu ampla aclamação. Encorajado pela resposta
que a fotografia desempenhou
a seu trabalho, estabeleceu-se em Nova York no ano
papel principal e foi a
seguinte. Nos Estados Unidos, a técnica de Binder se
inspiração para revistas como
Life e Look nos Estados Unidos. tornou mais refinada, em parte porque passou a usar
o aerógrafo para obter acabamento sofisticado. Suas
fortes origens cubistas resultaram em um realismo
estilizado.
No cartaz de Binder de 1939 para a New York
World’s Fair (Feira Mundial de Nova York) [17.17] , o
trylon e o perisphere, emblemas da feira, combinam-se 17.16 Alexander Liberman,
com refletores, uma linha de horizonte e imagens de capa de Vogue, 1945. Com
transportes modernos para simbolizar a maioridade nuances surrealistas Liberman
dos Estados Unidos às vésperas da Segunda Guerra funde um apelo para a Cruz
Vermelha com a alta-costura.
Mundial. Os acontecimentos logo os obrigariam a
deixar de lado sua neutralidade, tradicionalismo
e provincianismo; o novo âmbito do design moder-
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nista era parte desse processo. Havia traços cubistas O PROJETO DE CARTAZES DA WPA
17.18 Joseph Binder, cartaz no trabalho de Binder, como se pode notar em seu
para A & P Coffee, 1939. cartaz de 1939 para o café gelado [17.18] , onde planos Como parte do New Deal, do presidente norte-ame-
Formas planas e modulações
bidimensionais sustentam o conteúdo ilustrativo. ricano Franklin Delano Roosevelt, o governo federal
feitas por aerógrafo criam
Durante seu período em Viena [14.55] , Binder havia criou a Works Progress Administration (wpa) (Admi-
contrastes fortes, deman-
dando que o espectador construído imagens a partir de planos; agora o tema nistração para o Desenvolvimento de Obras) em 1935.
preencha os detalhes do se tornava dominante e as qualidades do design se O socorro direto aos desempregados foi substituído
naturalismo editado de Binder. subordinavam às imagens figurativas. por oportunidades de trabalho, e bilhões de dólares
foram injetados na economia quando uma média de
mais de 2 milhões de trabalhadores passou a receber
mensalmente de quinze a noventa dólares, de 1935
até 1941. Lançado no outono de 1935, o Federal Art
Project (Projeto Federal de Arte) da wpa possibili-
tou que atores, músicos, artistas visuais e escritores
prosseguissem em suas carreiras profissionais. Um
projeto de cartazes foi incluído entre os vários pro-
gramas culturais. Escultores e pintores juntaram-se
nos estúdios a ilustradores e designers gráficos de-
sempregados. Como muitos projetos eram executa-
dos por artistas, não admira que o projeto assumisse
um sólido enfoque estético da tipografia, usada como
elemento de composição e também como comunica-
dora de mensagens.
De 1935 a 1939, quando o Federal Art Project foi
abolido, mais de 2 milhões de exemplares de cerca
de 35 mil projetos de cartazes haviam sido produzi-
dos. A maior parte deles foi feita em serigrafia. A cor
chapada característica dessa técnica de impressão,
combinada às influências da Bauhaus, da pintura
moderna e do construtivismo, produziu um resultado
que contrastava com a ilustração tradicional domi-
nante em grande parte dos meios de comunicação de
massa norte-americanos da época. Eventos culturais
patrocinados pelo governo, incluindo apresentações
teatrais e exposições de arte, eram objetos frequentes
para o projeto de cartazes, assim como as comunica-
ções do serviço público sobre saúde, prevenção do
crime, habitação e educação.
A FUGA DO FASCISMO
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arquitetos, artistas e designers deixaram o Velho Con- 17.19 Will Burtin, capa para
tinente para abrigar-se na América do Norte no final Architectural Forum, 1940.
dos anos 1930. Entre eles estavam os artistas Max Burtin deu forma gráfica a
ideias abstratas, como a da
Ernst, Marcel Duchamp e Piet Mondrian. Quando os
passagem do tempo.
nazistas fecharam a Bauhaus em 1933, corpo docente,
alunos e ex-alunos se dispersaram pelo mundo e fi-
zeram do design moderno um movimento verdadei-
ramente internacional. Gropius, Mies van der Rohe
e Breuer transplantaram o movimento arquitetônico
funcionalista para os Estados Unidos, e Bayer e Mo-
holy-Nagy levaram suas abordagens inovadoras do
design gráfico. Outros imigrantes europeus que fize-
ram contribuições importantes ao design foram Will
Burtin (1908-1972), Jean Carlu (1900-1997), George
Giusti (1908-1990), Herbert Matter (1907-1984) e La-
dislav Sutnar (1897-1976).
Patrocinado pela Association of Arts and Indus-
tries, Moholy-Nagy chegou a Chicago em 1937 e esta-
beleceu a Nova Bauhaus, que foi fechada em pouco
mais de um ano por falta de apoio financeiro, mas
conseguiu abrir a Escola de Design em 1939. A prin-
cipal fonte de recursos era o próprio Moholy-Nagy e
outros membros do corpo docente, muitos dos quais
concordaram em lecionar sem receber, se necessário.
Tanto Carlu como Bayer também tiveram dificulda- de design para a Upjohn e outras companhias, contri- 17.20 Will Burtin, capa para o
des para encontrar clientes que compreendessem seu buindo enormemente para a interpretação visual de primeiro número de Scope,
trabalho durante seus primeiros meses no país. informações gráficas. 1941. Para representar novas
“drogas milagrosas” em
Burtin, reconhecido como excepcional designer
desenvolvimento, uma
na Alemanha, fugiu em 1938 depois de recusar-se a ilustração colorida é sobreposta
trabalhar para o regime nazista. Seu trabalho com- UM PATRONO DO DESIGN a uma foto em preto e branco
binava clareza e precisão gráficas com apresentação de um tubo de ensaio.
lúcida do tema. A capa “Design Decade" da Archi- Uma figura importante no desenvolvimento do de-
tectural Forum [17.19] demonstra sua habilidade em sign norte-americano moderno a partir dos anos
juntar forma estrutural e informações simbólicas em 1930 foi o industrial de Chicago Walter P. Paepcke
um todo coerente. As datas, impressas em acetato, (1896-1960). Pioneiro na fabricação de recipientes
combinam-se com as ferramentas do arquiteto para de papelão e fibra corrugada, fundou, em 1926, a
simbolizar o design durante a década precedente; as Container Corporation of America (cca). Aquisi-
sombras se tornam formas integrantes do desenho. ções e expansão possibilitaram que a cca se tor-
A profunda compreensão que Burtin tinha da ciên- nasse uma companhia de âmbito nacional e a maior
cia transparece em projetos para a companhia far- produtora de materiais de embalagem do país. Pa-
macêutica Upjohn, interpretando temas complexos epcke foi único entre os grandes industriais de sua
como a bacteriologia [17.20] . Em 1943, Burtin deixou geração, pois percebeu que o design poderia a um
a Upjohn para trabalhar em manuais de treinamento só tempo funcionar como propulsor dos negócios
do governo, e em seguida foi diretor de arte da revista e tornar-se uma grande iniciativa cultural por parte
Fortune por três anos. Em 1948 tornou-se consultor da empresa. Seu interesse era inspirado por sua es-
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17.22 A. M. Cassandre,
anúncio para a cca, 1938. Uma OS ANOS DE GUERRA
declaração forte – “Research,
experience, and talent focused Enquanto o trauma da guerra destruía a capacidade
on advanced paperboard
de muitos governos de produzir propaganda im-
packing” (Pesquisa, experiên-
pressa, um grupo diversificado de pintores, ilustra-
cia e talento concentrados na
avançada embalagem de dores e designers recebia encomendas do U. S. Office
papelão) – é ilustrada com of War Information (Escritório de Informações de
impacto quase hipnótico. Guerra dos Estados Unidos), onde o material nesse
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DEPOIS DA GUERRA
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17.41 Herbert Matter, anúncio grafia de outros clientes, entre os quais Vogue, Fortune
para Knoll Associates, 1948. e Harper’s Bazaar. As soluções de design editorial de
Fotos de componentes Matter exploravam habilmente a fotografia, como
orgânicos da cadeira se
mostra sua capa para o número de outubro da For-
combinam com “sombras”
tune [17.40] . Em 1946 ele começou um período de
amarelas chapadas para
gerar a energia de um móbile vinte anos como consultor em design gráfico e foto-
de Calder. grafia para a empresa Knoll Associates de design e
fabricação de móveis, e produziu parte de seu melhor
trabalho para esse cliente. Os anúncios para cadeiras
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preender melhor outros povos e nações”. Bayer, o Bayer estava à frente de seu tempo em seu esforço
designer e editor, trabalhou durante cinco anos no de inventariar os recursos do planeta e estudá-lo
projeto. Uma vez mais, Paepcke teve um compor- como uma série de sistemas geofísicos e biológicos
tamento diferente do homem de negócios conven- entrelaçados. Profeticamente, a seção final do World
cional, pois a cca publicou um atlas de 368 páginas Geo-Graphic Atlas discute a conservação dos recursos,
contendo 120 mapas-múndi de página inteira apoia- abordando seu esgotamento e o crescimento da po-
dos por 1 200 diagramas, gráficos, tabelas, símbolos pulação. Bayer usou a Dymaxion Projection (projeção
e outras comunicações gráficas sobre o planeta. icosaédrica) de R. Buckminster Fuller, um mapa que
Esse atlas foi distribuído para clientes, fornecedo- mostra o globo em duas dimensões sem distorção,
res, bibliotecas e museus. Bayer reuniu informações como base para pictogramas representando a popu-
de múltiplas disciplinas científicas, incluindo geo- lação, e retângulos de pontos negros simbolizando o
grafia, astronomia [17.51] , climatologia, economia consumo de energia [17.53] . O mapa demonstrava que
e sociologia, e as apresentou por meio de símbo- a América do Norte tinha apenas 8% da população
los, tabelas e diagramas. Eram fornecidas informa- mundial, mas consumia 73% de sua energia.
ções detalhadas sobre os estados e os países [17.52] . Grande parte dos imigrantes que levaram concei-
Bayer e seus assistentes entregavam cada página ao tos europeus de design para os Estados Unidos che-
impressor na forma de uma única pintura a guache gou praticamente sem dinheiro e com poucos per-
com tipos Futura colados sobre uma folha de ace- tences, mas eles estavam munidos de talento, ideias
tato sobreposta. e da forte confiança no design como uma atividade
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