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HIDRODINÂMICA
COMPORTAMENTO NO MAR DE SISTEMAS OCEÂNICOS:
EFEITOS HIDRODINÂMICOS DE 1ª ORDEM
Revisão 2 (2014)
Hidrodinâmica I
Índice
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 2
2.1. As Equações Constitutivas da Dinâmica dos Fluidos: uma perspectiva histórica ... 21
1. INTRODUÇÃO
que ele modele a ação destes agentes ambientais e, com isso, possa prever suas
consequências sobre o desempenho do sistema que está sendo projetado.
Evidentemente, as aplicações da hidrodinâmica na área de engenharia
naval e oceânica são vastas. Em geral, o estudo do desempenho hidrodinâmico
de uma embarcação pode ser desmembrado em três áreas principais: resistência
ao avanço e propulsão (resistance and propulsion), manobrabilidade
(manoeuvering) e comportamento no mar (seakeeping), sendo que este último
tópico de estudo corresponde ao alvo principal deste curso.
A disciplina PNV5201 (Comportamento no Mar de Sistemas Oceânicos:
Efeitos de 1ª ordem), foi elaborada como uma disciplina básica de pós-graduação
na linha de hidrodinâmica teórica, e é sugerida como um estágio inicial àqueles
que pretendem uma especialização nesta área. Seu enfoque recai sobre aspectos
de comportamento no mar de navios e sistemas oceânicos, dando maior ênfase a
estes últimos (sistemas estacionários), os quais englobam, por exemplo, as
plataformas flutuantes de prospecção de petróleo no mar. Ao contrário dos
estudos de resistência, propulsão ou manobrabilidade, para os quais os efeitos de
viscosidade da água e a vorticidade do escoamento são primordiais para o
cômputo das forças hidrodinâmicas, os movimentos de corpos flutuantes em
ondas não são, grosso modo, afetados por tais efeitos de forma tão significativa.
Assim, boa parte da teoria apresentada neste texto é regida pela hipótese de
fluido ideal. As bases para o estudo de escoamentos potenciais já foram
estabelecidas nas disciplinas de mecânica dos fluidos e, para os graduandos ou
graduados em engenharia naval, revistos nas disciplinas de mecânica dos meios
contínuos e hidrodinâmica. Dessa forma, este texto apresenta apenas uma breve
revisão das equações de governo destes escoamentos e das hipóteses
simplificadoras que adotaremos para a modelagem matemática. Espera-se
também que o aluno tenha conceitos básicos de funções analíticas 1 e
conhecimentos básicos de dinâmica dos corpos rígidos, mecânica analítica e
Por outro lado, os risers rígidos, embora tenham uma resistência estrutural
muito superior ao colapso, sofrem mais quando expostos a cargas dinâmicas,
principalmente aquelas impostas por movimentos verticais nos pontos de conexão
com os sistemas flutuantes. Não suportando a flambagem localizada, as cargas de
compressão dinâmica às quais estarão submetidos devem ser limitadas. Uma vez
que estas cargas variam diretamente com as amplitudes de movimento de
primeira-ordem do sistema flutuante, daí decorrem exigências mais restritivas
Hidrodinâmica 8
2 Para uma descrição mais detalhada sugere-se, por exemplo, a leitura de Tokaty (1994).
Hidrodinâmica 22
V dV
ou (2.1)
y dy
onde:
coeficiente de viscosidade dinâmica do fluido kg m.s ;
: força de cisalhamento por unidade de área ou tensão de cisalhamento
(N/m2)
Dv x v x v v v 1 p
vx x v y x vz x gx
Dt t x y z x
Dv y v y v y v y v y 1 p
vx vy vz gy (2.2)
Dt t x y z y
Dv z v z v v v 1 p
vx z v y z vz z gz
Dt t x y z z
nas quais o campo vetorial v ( x, t ) v x ( x, t )i v y ( x, t ) j v z ( x, t )k representa o
campo de velocidades do fluido e, juntamente com o campo escalar p( x , t ) que
representa o campo de pressões no escoamento, definem o conjunto de quatro
incógnitas a serem determinadas como solução deste problema matemático.
Em sua forma vetorial, a equação de Euler pode ser escrita de forma mais
compacta:
v 1
v (v ) p g (2.3)
t
3 Euler, Leonhard (1707-83): brilhante matemático suíço, gerou contribuições fundamentais para
diversos ramos da matemática e suas aplicações: equações diferenciais, séries infinitas, cálculo de
variações, funções analíticas, mecânica e hidrodinâmica. Foi um dos nomes de maior destaque na
ciência durante o século XVIII.
Hidrodinâmica 24
Obs: As linhas de corrente não devem ser confundidas com as trajetórias (paths)
descritas pelas partículas fluidas e representadas por:
dx
v ( x, t )
dt
e, portanto, as linhas de corrente coincidem com as trajetórias das partículas, em
geral, apenas para o caso de escoamento permanente.
( v x ) ( v y ) ( v z )
0 (2.5)
t x y z
v v y v z
divv v x 0
(2.6)
x y z
4 Lagrange, Joseph Louis (1716-1813): nascido na Itália, desenvolveu seus trabalhos mais
importantes na França e revolucionou o estudo da mecânica. Foi um dos fundadores do cálculo
variacional, posteriormente expandido por Wierstrass, e introduziu os princípios analíticos no
estudo da mecânica e fluido-dinâmica.
Hidrodinâmica 26
1 2 p
v C (t ) (2.7)
t 2
1 p
v 2 v ( v )
2
Sabe-se que f é um vetor perpendicular à superfície f(x)=cte, e, assim, o vetor
v ( v ) deve ser perpendicular às superfícies nas quais:
1 2 p
v C (2.9)
2
Mas, v ( v ) é perpendicular tanto a v como a v . Dessa forma, as
superfícies nas quais a equação (2.9) se aplica são as superfícies que contém os
vetores v e v . Um conjunto de linhas que satisfaz esta propriedade é o
conjunto de linhas de corrente do escoamento. Assim, embora as equações (2.8)
e (2.9) sejam matematicamente idênticas, no caso de escoamentos permanentes
5 Bernoulli, Daniel (1700-82): Nascido na Holanda, membro de uma famosa família suíça da qual
vários se destacaram como importantes matemáticos, é conhecido por seus trabalhos em
mecânica dos fluidos e teoria cinética dos gases. Também trabalhou em astronomia e magnetismo.
Hidrodinâmica 28
v x v v v 1 p 2v 2vx 2vx
vx x v y x vz x 2x gx
t x y z x x y 2 z 2
v y v y v y v y 1 p 2v y 2v y 2v y
vx vy vz 2 g
t x y z y x y 2
z 2 y
v z v v v 1 p v2
vz vz
2 2
vx z v y z vz z 2z 2 g z
t x y z z x y 2
z
(2.11)
v ( x, t ).dr (2.12)
ct
O significado físico deste teorema pode ser entendido pelo fato de, na
ausência de efeitos de viscosidade e, portanto, de tensões de cisalhamento, não
haver forças capazes de alterar a taxa de rotação das partículas fluidas.
De acordo com (2.13), a circulação em um escoamento de fluido ideal é
constante com o tempo. Podemos considerar, então, sem perda de generalidade,
que o fluido tenha partido do repouso em algum instante de tempo passado e que,
portanto, =0 para qualquer instante de tempo e qualquer contorno material
definido no escoamento.
Por outro lado, o teorema de Stokes para um campo vetorial contínuo e
diferenciável relaciona o conceito de circulação com o conceito de vorticidade do
campo vetorial, na forma:
rotv.ndS v.dr
S S
(2.14)
9 A demonstração deste teorema pode ser encontrada, por exemplo, em Newman (1977), pgs. 103
e 104.
10 É importante observar que nem sempre conseguimos aplicar o teorema de Stokes, podendo
causar certa confusão. Isso ocorre, por exemplo, em problemas planos de escoamento potencial
em torno de corpos submersos. Qualquer contorno material que envolva o corpo não permite a
Hidrodinâmica 33
rotv v 0
ou seja, o escoamento que conserva circulação deve ser, necessariamente,
irrotacional. Esta conclusão é extremamente importante, pois é possível
demonstrar que um campo vetorial para o qual o rotacional é identicamente nulo
pode ser representado como o gradiente de um campo escalar. Esta afirmação
pode ser demonstrada, sem maiores dificuldades, a partir do próprio teorema de
Stokes, como, aliás, pode ser encontrado na maioria dos textos de mecânica dos
fluidos. Outra forma de se verificar esse fato decorre do teorema de Helmholtz,
teorema fundamental do cálculo vetorial (a demonstração deste teorema pode ser
encontrada, por exemplo, em Wills (1958), pg. 121). Seja F um campo vetorial
finito e contínuo. O teorema de Helmholtz afirma que esse campo vetorial pode ser
decomposto em um campo gradiente (cujo rotacional é nulo) e um campo
solenoidal (cuja divergência é nula), na forma11:
F A
onde é uma função escalar e A um campo vetorial cuja divergência é nula. A
definição do campo vetorial A mostra que esse campo sempre poderá ser
considerado identicamente nulo se F 0 12.
O campo de velocidades v ( x, t ) de um escoamento irrotacional pode,
portanto, ser descrito através do gradiente de uma função escalar ( x, t ) ,
denominada potencial de velocidades: v ( x, t ) ( x, t )
Obviamente, o potencial de velocidades é uma abstração. Sua introdução,
contudo, permite uma grande simplificação matemática, uma vez que as três
componentes do vetor velocidade podem ser derivadas a partir de uma única
aplicação do teorema, pois a superfície interior não será definida exclusivamente por este contorno
(trata-se de um domínio que não é simplesmente conexo).
11 Uma importante conseqüência deste teorema é o fato de que o campo vetorial F estará
completamente determinado uma vez conhecidas a sua divergência e o seu rotacional.
12 Observar que ( A ) ( A)
Hidrodinâmica 34
U x
SB
0
n S 0; (2.16)
B
n SB
lim Ui
x
0
n S 0;
B
lim 0
x
V V
16 Um caso evidente para o qual o domínio fluido não será simplesmente-conexo se refere ao
problema bidimensional de escoamento em torno de um corpo rígido.
Hidrodinâmica 38
17 Para a definição precisa, consultar, por exemplo, Newman (1977), pg. 114.
Hidrodinâmica 39
seguinte propriedade: =0, para qualquer x≠x0 e (x0) = ∞. Além disso, temos que:
( x) 1 .
Denominemos G ( x , x0 ) a função de Green de um problema de contorno
e, consequentemente:
G( x, x0 )dV 1
V
S S
r
e, portanto:
Hidrodinâmica 40
1
G(r )
4r
procurado através de uma combinação linear dos chamados multipolos. Uma boa
referência para uma primeira leitura sobre estas técnicas é Newman (1977).
Para o caso de problemas de escoamento potencial com superfície-livre e
geometrias complexas, como cascos de navios ou plataformas oceânicas, a
solução do problema de contorno invariavelmente recorre a métodos
computacionais. Um dos métodos mais difundidos atualmente para a solução do
problema de comportamento no mar de sistemas oceânicos é o método de
elementos de contorno (boundary elements method, BEM). O estudo dos
fundamentos deste método já foi realizado em PNV2441 e será retomado no
Capítulo 5 deste texto. Devemos nos lembrar, contudo, que a operacionalização
deste método depende de uma modelagem matemática prévia do potencial de
velocidades procurado. Esta modelagem pode ser feita, por exemplo,
considerando-se o potencial de velocidades procurado como aquele decorrente de
uma distribuição de fontes sobre a superfície do corpo (método das fontes) ou,
alternativamente, através de uma aplicação direta do teorema de Green. Neste
último caso, a solução numérica se baseia na definição da função de Green
apropriada para cada problema em questão. A função apropriada é aquela que
naturalmente satisfaz as condições de contorno em parte da fronteira
(retomaremos essa discussão no capítulo 5). Em ambas as modelagens, contudo,
as singularidades (fontes) são partes inerentes da solução.
z y z y
U x x
U
n n
SB SB
0 0
n S 0; n S Ui ;
B B
lim Ui lim 0
x x
No caso mais geral, quando o escoamento não é uniforme e U U (t ) , as
mesmas condições cinemáticas se aplicam às velocidades do corpo e do fluido,
porém, agora, os problemas não mais serão iguais do ponto de vista dinâmico.
Nas deduções a seguir, consideraremos o caso no qual o corpo se move através
de um fluido originalmente em repouso, com velocidade U (t ) . Consideraremos,
então, as seis componentes do vetor de forças F (t ) e momentos M (t ) de origem
hidrodinâmica que atuam sobre o corpo em movimento e que serão obtidos
mediante integração direta do campo de pressão sobre a superfície do corpo:
F pn dS
SB
(2.18)
M p(r n )dS
SB
onde n é o versor normal orientado para “fora” do domínio fluido (e, portanto, para
dentro do corpo) e r é o vetor posição da superfície dS no sistema de referências
O(x,y,z).
Desconsiderando a parcela hidrostática do campo de pressão (que
resultarão nas forças de empuxo sobre o corpo), este será obtido a partir da
equação de Bernoulli na sua forma (2.7) e, assim:
Hidrodinâmica 43
1
F ndS
SB t 2
(2.19)
1
M (r n )dS
SB t 2
U(t)
n
SB
x ' x U 1t
y' y
z' z
e, portanto: r ' r U 1ti
Neste sistema de referências, o potencial ( x' , y' , z ' ) será independente do
tempo, assim como o versor normal n (n1 , n2 , n3 ) , mas o produto vetorial r 'n
e, finalmente:
M (U n)dS U ndS (2.22)
SB SB
n (U r ' ) n em SB
ou, alternativamente:
U n (r 'n) em SB
n
A forma da condição de contorno acima permite supor uma solução do tipo:
6
U i (t ) i (2.23)
i 1
ou:
d d
M rO ndS (r 'n )dS
dt SB dt S B
e, lembrando que d rO (t ) dt U (t ) , temos:
d
M rO F U n dS (r 'n )dS
SB
dt S B
Por fim, devemos observar que (r 'n ) é um vetor fixo com relação ao
sistema de coordenadas solidário ao corpo e, portanto:
d (r 'n )
(r 'n )
dt
O momento resulta, então:
M rO F U ndS (r 'n )dS (r 'n )dS
SB S B t SB
onde:
M i U iU i ndS U i i (r 'n)dS U i i (r 'n)dS (2.27)
SB SB SB
j 3
(r 'n )
SB
i j dS i
SB
n
dS
m13, m23) serão não-nulos, o que implica que as forças inerciais hidrodinâmicas
terão direção diferente da aceleração do corpo.
Do fato de as inércias fluidas dependerem da direção de movimento do
corpo decorre também o fato de o vetor quantidade de movimento do fluido não
ser, em geral, paralelo ao vetor velocidade do corpo, o que explica, de outro ponto
de vista, a existência do momento de Munk discutida anteriormente.
e, portanto:
mij m ji
Há, também, uma relação direta entre massa adicional e energia cinética do
fluido, como mostraremos a seguir:
A energia cinética do fluido (T) é dada por:
1
2
T ( )dV (2.29)
V
1
T U iU j ( i j )dV
2 i j V
e, portanto:
1
T mijU iU j
2 i j
(2.30)
22 Lembrar que i 0
Hidrodinâmica 53
23 Para uma descrição aprofundada destes fenômenos ondulatórios ver, por exemplo, Phillips
(1966).
Hidrodinâmica 56
x A(t ) sen
c
X Z /c
e e Z / c
X
z A(t ) cos e Z / c e Z / c
c
com z=0 representando o fundo. Já se verifica na dedução de Laplace, portanto, a
variação hiperbólica com a profundidade e as trajetórias elípticas das partículas
fluidas, corretamente satisfazendo a condição de impermeabilidade em Z=0.
Simultaneamente e de forma independente, Lagrange derivou as equações
linearizadas para ondas de pequena amplitude e obteve a solução para o caso
limite de ondas longas em profundidade finita. Para ondas em profundidade finita,
Lagrange descobriu que “a velocidade de propagação das ondas será aquela que
um corpo pesado iria adquirir ao cair de uma altura correspondente à metade da
altura da água no canal”, ou seja, gh .
24 Cauchy, Agustin-Louis (1789-1857): Matemático francês, famoso pelo rigor empregado em suas
demonstrações, realizou contribuições importantíssimas em diversas áreas da matemática
(análise, teoria das séries, cálculo a variáveis complexas, etc.) e física (óptica, hidrodinâmica,
elasticidade).
25 Poisson, Siméon Denis (1781-1840): físico-matemático francês com inúmeros trabalhos
fundamentais em matemática pura e aplicada, física-matemática e mecânica.
Hidrodinâmica 58
26 Russell, John Scott (1808-1882): Nascido em Glasgow, lecionou matemática e filosofia natural
na Universidade de Edimburgo. Posteriormente, trabalhou como engenheiro naval, função na qual
realizou diversos ensaios em canais.
27 Airy, Sir George Biddell (1801-1892): Astrônomo britânico, fez importantes contribuições à teoria
de ondas.
28 Green, George (1793-1841): matemático britânico; seu trabalho mais importante “An Essay on
the Applications of Mathematical Analysis to the Theories of Electricity and Magnetism” (1828),
introduz vários conceitos importantes, entre eles a idéia de funções potenciais e a classe de
funções que hoje recebe seu nome.
29 Stokes, George Gabriel (1819-1903): físico-matemático irlandês, Stokes lecionou durante muito
tempo na Universidade de Cambridge, período no qual publicou seus mais importantes trabalhos.
Considerado um dos cientistas mais importantes de seu tempo, tem contribuições fundamentais
em mecânica dos fluidos (entre elas, as equações de Navier-Stokes), óptica e física-matemática
(incluindo o teorema hoje conhecido como Teorema de Stokes).
Hidrodinâmica 59
Russel was not aware of the influence of the length of the wave in any case and
therefore has not given it…”. Isto, combinado com sua crítica à importância
desproporcional dada por Russel à onda solitária, iniciou uma longa disputa entre
os dois pesquisadores.
Os trabalhos mais importantes de Airy foram publicados quando Stokes
começava seus estudos sobre ondas. Sem dúvida, os trabalhos posteriores de
Stokes estão entre os mais influentes na história da teoria de ondas de superfície,
tendo sido ele, por exemplo, quem formalizou de forma definitiva o
equacionamento de ondas irregulares através da somatória de componentes
harmônicas e deduziu (com auxílio das observações de William Froude em seu
tanque de provas de Torquai) o conceito de velocidade de grupo. Stokes também
introduziu importantes avanços com relação à modelagem não-linear de ondas,
inclusive propondo o tratamento do problema de contorno através da técnica de
perturbação que define as diferentes ordens de magnitude dos efeitos de ondas e
que hoje leva seu nome. Um histórico bastante completo da trajetória científica de
Stokes pode ser encontrado em Craik (2005).
problema cuja solução constitui a base para a modelagem estatística das ondas
do mar que discutiremos mais adiante. Este problema está ilustrado,
esquematicamente, na figura abaixo.
A onda, neste caso, se caracteriza por sua amplitude A (a na figura), pelo seu
comprimento e seu período de oscilação T. A elevação da superfície é descrita
pela relação z = (x,t). A partir destes parâmetros básicos, podemos definir outros
que serão importantes para a compreensão do problema. Assim, podemos definir
a frequência angular da onda ( 2 T ) e o chamado número de onda
( k 2 ).
A velocidade de fase (ou velocidade de propagação) da onda é a velocidade
de movimento de suas cristas e cavas e é, obviamente, definida por:
c (3.1)
T
A altura de onda (H) é definida pela altura entre a crista e a cava da onda e a
chamada declividade de onda (wave steepness, em inglês) pode ser medida, por
exemplo, pela relação H/
No contexto da teoria potencial, o problema consiste em determinar o potencial
de velocidades (x,z,t) do escoamento induzido por este campo ondulatório. Uma
Hidrodinâmica 61
a qual deve ser satisfeita em todo o domínio fluido. A solução mais geral desta
equação é dada em termos de funções exponenciais:
P( z ) C1e kz C 2 e kz (3.4)
com constantes C1 e C2 a serem determinadas. Portanto, a solução geral da
equação de Laplace com uma função da forma (3.3) resulta:
( x, z, t ) Re[(C1e kz C 2 e kz )e ikxit ] (3.5)
2
O(kA) 1
/ t
Como primeira etapa da linearização do problema, podemos portanto
desprezar o termo quadrático na condição dinâmica, cuja forma linear resulta
então:
1
g t
A rigor, a condição acima deveria ser imposta sobre a superfície z=, a qual
não é conhecida a priori, o que, de fato, constitui outra fonte de não-linearidade do
problema. Todavia, é fácil notar que, de forma consistente com a linearização
proposta acima, podemos adotar ( e é possível mostrar que com erros da mesma
ordem):
1
em z=0 (3.9)
g t
Dada a variação harmônica no espaço e no tempo assumida para o
potencial de velocidades (eq. 3.3), a condição (3.9) implica em uma oscilação
também harmônica da superfície-livre, a qual, então, pode ser admitida da forma:
( x, t ) A cos(kx t ) (3.10)
Hidrodinâmica 64
2
k
g tanh kh
(3.15)
relação esta que é conhecida como relação de dispersão de onda.
2
k (3.16)
g
32 Observar que x O( A / )
Hidrodinâmica 66
g
c tanh kh (3.16)
T k k
a partir da qual se nota, portanto, que a velocidade de propagação da onda cresce
com seu comprimento. Essa dependência da velocidade de propagação na
frequência (e, portanto, no comprimento de onda) mostra que ondas de diferentes
frequências se propagarão com velocidades diferentes. Assim, se em um dado
momento verificamos um mar no qual identificamos uma superposição de
componentes de energia significativa que oscilam em diferentes frequências (o
que é característico, por exemplo, de um mar em uma região de tempestades),
com o passar do tempo, à medida que estas ondas se afastam da região de
geração, as diferentes “componentes” do mar tendem a se dispersar, formando
zonas mais homogêneas, com períodos e comprimentos bem definidos (condição
de mar conhecida como swell)33. A bem da verdade, decorre deste fenômeno de
separação das diferentes componentes o fato de dizermos que as ondas de
gravidade são ondas dispersivas.
g
c 1.25 1.56T
k
Já no limite de águas rasas ( kh 0 ) a velocidade de propagação será
(como já observara Airy em sua contenda com Russel) necessariamente:
33 Isso explica porque os marinheiros experientes interpretam um swell como sinal de aproximação
de uma tempestade.
Hidrodinâmica 67
c gh
indicando que, neste limite, as ondas deixam de ser dispersivas. A esta velocidade
se dá o nome de velocidade crítica de propagação. De fato, (3.16) já mostra que, à
medida que a onda caminha para regiões de menor profundidade, ela sofre uma
desaceleração. Essa dependência da velocidade de propagação na profundidade
dá origem também ao fenômeno de refração de ondas que discutiremos mais
adiante.
A A
sinh kh sinh kh
indicando que, no contexto da teoria linear de ondas, as trajetórias das partículas
fluidas em profundidade finita correspondem a órbitas elípticas, cujos semi-eixos
verticais decaem mais rapidamente com a profundidade, até o limite em que
resultam nulos sobre o fundo ( z h ). Na superfície-livre ( z 0 ), o semi-eixo
vertical equivale à amplitude da onda. Estas trajetórias são esquematizadas na
figura a seguir.
3.3. Energia
Deve-se observar, no entanto, que o termo de energia potencial dado por 1 / 2 gh 2
corresponde a uma parcela de energia constante entre o fundo e a superfície
média e, portanto, não está relacionado ao movimento ondulatório, razão pela qual
será desconsiderado doravante.
Retomando o problema mais simples de uma onda plana progressiva em
profundidade infinita, podemos considerar o campo de velocidades ( ) cujas
componentes são dadas por (3.18) e proceder à integração do termo de energia
cinética, resultando:
2 A2 1
E e 2 k g 2 (3.22)
4k 2
Podemos simplificar a expressão acima notando que, no contexto da teoria
linear, temos necessariamente k 1 e, portanto, o termo exponencial na parcela
cinética pode ser considerado simplesmente igual a um. Além disso, empregando
a relação de dispersão em águas profundas (3.16) e a equação da superfície
(3.10), podemos reescrever (3.22) na forma:
Hidrodinâmica 72
gA2 1
E gA2 cos2 (kx t )
4 2
É interessante tomarmos o valor médio da energia ( E ) no decorrer de um
período de onda35 (T) e, neste caso, chega-se a:
gA2 gA2 1
E gA2 (3.23)
4 4 2
Seguindo procedimento análogo, é possível mostrar que a equação (3.23)
vale também para o caso mais geral de ondas em profundidade finita (a
demonstração fica como exercício) e, portanto, que a energia média de onda se
divide igualmente entre as parcelas cinética e potencial.
t T
1
35 E
T Edt
t
Hidrodinâmica 73
O trabalho realizado pelo fluido que passa por este elemento é dado pelo
produto entre a força e a distância, ou seja:
dW p.1.dz.(u.dt)
e, portanto, o trabalho médio realizado em um período de onda, ou a potência, é
dada por:
t T 0
1
W
T pudzdt
t h
já considerando que a parcela entre z=0 e z= pode ser desprezada no contexto
da teoria linear de ondas. Empregando (3.19) e (3.17), a expressão acima resulta:
kg 2 A t T 0
T sinh kh t h
W z cosh k (h z ) cos(kx t )dzdt
t T 0
(3.24)
kg 2 A 2
cosh k (h z ) cos (kx t )dzdt
2 2
T sinh kh cosh kh t h
h
4k 2
chega-se a:
gA2 1 1
W sinh 2kh h
sinh 2kh 4k 2
ou ainda, em termos da velocidade de fase ( c k ):
1 c 2kh
W gA2 1 (3.25)
2 2 sinh 2kh
Velocidade de Grupo
W Ecg
Hidrodinâmica 74
36 A razão desta denominação ficará mais clara quando discutirmos a superposição de ondas, mais
adiante.
Hidrodinâmica 75
1 c 1 c 2kh
W gA 2 gA2 1 W
2 2 2 2 sinh 2kh
Hidrodinâmica 76
e, assim:
A H c 1
A H c 2kh
1
sinh 2kh
ou, a partir das relações (3.16) e após alguma álgebra, pode-se escrever:
A H 1
(3.27)
A H 2kh
tanh kh1
sinh 2kh
Além da variação na altura de onda, podemos inferir as variações na
trajetória e velocidade das partículas fluidas. De fato, é fácil verificar a partir das
equações (3.17) e (3.18) que as relações entre as amplitudes das componentes
de velocidade das partículas fluidas na superfície média (z=0) são dadas por:
u ( z 0) A cosh kh
u ( z 0) A sinh kh
(3.28)
w ( z 0) A
w ( z 0) A
Percebe-se, portanto, que, enquanto a velocidade vertical aumenta na
proporção da altura de onda, a velocidade horizontal sofre um acréscimo muito
mais significativo à medida que a profundidade de onda diminui. Isso traduz,
obviamente, um alongamento horizontal das trajetórias à medida que a onda se
propaga para regiões de menor profundidade. Esse efeito é ilustrado na figura
abaixo, que mostra as variações nas trajetórias para uma onda de comprimento
100m para diferentes valores de profundidade:
Profundidade adimensional h
37 Podemos entender o que ocorre à medida que as ondas atingem a praia como uma
“compactação” do trem de ondas, com consequente aumento de altura em função da conservação
da energia de ondas.
38 Em águas profundas, esse limite é dado aproximadamente por H 0.14
Hidrodinâmica 78
praia
h1
h2
h3
direção da onda
cristas
2 gA
( x, z, t ) e kz cos kx sin t (3.30)
40 Adotaremos a notação complexa, pois a fase da onda refletida pode ser diferente de zero e,
nesse caso, o coeficiente de reflexão assume valores complexos.
Hidrodinâmica 82
t=0 s
4
3 2k
x,t)
-1
-2
-3 2k
-4
0 100 200 300 400 500 600 700 800
x1
t=15 s
4
-1
-2
-3
-4
0 100 200 300 400 500 600 700 800
x1
t=45 s
4
-1
-2
-3
-4
0 100 200 300 400 500 600 700 800
x1
Por fim, cabe destacar que a superposição de ondas harmônicas em seu caso
mais geral, com componentes de diferentes amplitudes, freqüências e, muitas
vezes, direções de propagação, constitui a técnica básica para a modelagem
estatística das ondas do mar, que será discutida em detalhes nas próximas
seções.
41 A razão para o emprego da altura significativa como parâmetro estatístico tem origem histórica.
Estudos mostraram que um observador bem treinado tende a fornecer como a altura característica
de ondas irregulares um valor que se aproxima muito de H1/3. Assim, dada a importância já
ressaltada das inferências visuais como fonte original para as estatísticas de ondas do mar, a
altura significativa passou a ser um parâmetro tradicional na análise estatística das ondas.
Hidrodinâmica 90
2
1
f ( ) e 2 2
(3.37)
2
sendo o desvio-padrão dado por:
1 N 2
n
N 1 n 1
(3.38)
O valor médio das amplitudes que excedem o valor a pode ser visualizado,
graficamente, como a coordenada x do baricentro da área hachurada na figura
abaixo:
43 A demonstração matemática deste fato pode ser encontrada, por exemplo, em Price & Bishop
(1974).
Hidrodinâmica 94
Por definição, como vimos, a amplitude significativa é dada pela média das
amplitudes 1/3 maiores:
A1 / 3 A. f ( A)dA
a0
a0 2
sendo: P{ A a0 } e 2 2
1/ 3
e, portanto, a0 = 1.4823
Assim, é fácil verificar que:
A1 / 3 2
(3.42)
H 1 / 3 4
A expressão (3.41) pode ser reescrita em termos das alturas de onda na
forma:
2 h 2
P{H h} e H1 / 3
(3.43)
a qual indica a probabilidade de a altura de onda exceder um determinado valor h
em um mar cuja altura significativa é H1/3.
calculada como sendo aquela cuja probabilidade de ser excedida é 1/1000. Esse
valor, aparentemente arbitrário, foi definido considerando-se que um estado de
mar típico tem duração aproximada de 3 horas (tempo característico de uma
tempestade) e contém, grosso modo, um número de ciclos de ondas próximo de
1000. Segundo esta convenção, a máxima altura de onda HMAX pode ser
calculada em função de H1/3 por intermédio de (3.43), resultando:
H MAX 1.86 H 1 / 3 (3.44)
Caracterização do Mar
Denotemos por ( x1 , t ) o registro de ondas obtido em uma posição arbitrária
x1 . Se pudermos distinguir uma direção única de propagação de forma que toda a
irregularidade da onda se manifeste nesta direção, o mar é chamado um mar de
swell ou mar de cristas-longas (long-crested sea). Neste tipo de mar, considera-
se que, embora a amplitude e o espaçamento das cristas varie com o tempo, as
ondas permanecem paralelas.
Hidrodinâmica 96
Figura 32 – Diferença de espalhamento de um mar local (a) e um swell (b). Fonte: Price &
Bishop (1974).
44 Maiores detalhes podem ser encontrados, por exemplo, em Price & Bishop (1974).
Hidrodinâmica 98
2
T
j j
a série de Fourier do sinal será dada por:
(t ) [c j cos j t s j sin j t ] 1 / 2 A j e
i ( j t j )
(*) (3.45)
j 1 j 1
Aj c j s j
2 2
j arctan( s j c j )
Os coeficientes Aj representam a amplitude de cada uma das componentes
harmônicas e os coeficientes j suas respectivas fases.
Os coeficientes de Fourier são definidos por:
T
2
T 0
cj (t ) cos j t.dt
T
(3.46)
2
s j (t ) sin j t.dt
T 0
1 n 1 2
S ( n ) An
n 2
(3.47)
Hidrodinâmica 99
S ( ).d S ( f ).df
e, como d df 2 :
S ( f )
S ( ) (3.50)
2
A relação (3.50) permite converter a representação do espectro da
frequência para a frequência angular e vice-versa. A figura abaixo ilustra a
representação de um espectro de mar típico nas duas bases diferentes.
Hidrodinâmica 101
é chamado período médio entre zeros (mean zero-crossing wave period). Muitas
vezes esse período aparece na literatura denotado por Tz.
45 Para maiores detalhes quanto a essa dedução, ver Price & Bishop (1974), seção 9.6.2.
Hidrodinâmica 103
2
m
e 1 2 (3.56)
m0 m4
qual, como vimos nas seções anteriores, caracteriza a velocidade com que a
energia das ondas se propaga.
Através de um argumento dimensional, Phillips (1966) demonstra que no
limite de altas frequências deve-se ter:
g2
S ( ) ( ) (3.57)
5
Desde então, vários formatos padronizados foram propostos para
representar a função S ( ) com base na velocidade do vento no local de geração.
O Espectro de Pierson-Moskowitz
O espectro original proposto por Pierson & Moskowitz (1963) foi obtido de
forma semi-empírica com base na análise de um grande número de registros de
ondas do Atlântico Norte. Por terem sido realizados em uma região “aberta”,
supostamente estes registros se referem, em sua maioria, a mares plenamente
desenvolvidos. O espectro original era dado por:
0.0081 g 2 gV
4
Convém ainda observar que os espectro proposto pela ISSC recai naquele
proposto pela ITTC quando T1 3.86 H 1 / 3 , uma relação que está de acordo com
Hidrodinâmica 107
O Espectro de JONSWAP
320.H 1 / 3
2
1950 4
S ( ) 4
5 exp 4
A (3.61)
Tp
Tp
com:
3.3
1
2
p
A exp
2
= 0.09 (se p )
Em 1805, o Almirante Sir Francis Beaufort propôs uma escala para medida
da intensidade do vento no mar. Sua escala relaciona a velocidade de vento, as
ondas do mar e as atitudes a serem tomadas a bordo dos navios, à época, de
propulsão a vela. A chamada “escala de Beaufort” foi posteriormente adaptada
para uso em terra e, ainda hoje, é empregada por várias estações meteorológicas.
A figura abaixo apresenta impressões visuais dos estados de mar tipicamente
associados com os diferentes valores da escala de Beaufort. A figura na página
seguinte apresenta uma definição dos valores da escala e diferentes descrições
dos estados de mar associados.
Hidrodinâmica 111
mais variarão, mesmo que o vento ainda tenha pista e tempo para agir. O mar que
atinge tal situação é conhecido como mar plenamente desenvolvido (fully
developed sea). A seguir, apresentaremos um argumento físico que explica o
mecanismo pelo qual esse equilíbrio é atingido e o que ele representa.
De acordo com as equações (3.23) e (3.53), a energia média de ondas de
um determinado estado de mar pode ser expressa por:
1
E gA1 / 3 2 2gm0 (3.64)
2
A velocidade média com que essa energia é propagada pode ser expressa
através de uma velocidade de grupo representativa do mar, a qual associaremos à
frequência de pico do espectro:
g
cg (3.65)
2 p
certa variação da declividade padrão, com valores entre 1.2% (Beaufort 1) e 3,6%
(Beaufort 12). O valor de p 2,6% poderia, então, ser considerado como um
valor típico para um mar plenamente desenvolvido. Devemos notar que esse é
precisamente o valor de declividade pressuposto na relação T1 3.86 H 1 / 3 ,
com base nas observações feitas no Mar do Norte. Para uma dada intensidade de
vento, os resultados indicam valores um pouco maiores de declividade se
Hidrodinâmica 116
“As far as the laws of mathematics refer to reality, they are not certain;
and as far as they are certain,
they do not refer to reality”
Albert Einstein [Geometry and Experience]
aceleração do fluido e podem ser inferidas, ao menos nos instantes iniciais, como
FI m11U (ver equações 2.25 e 2.28). Normalizando esta força obtemos um
z
ondas
y
A,
x
z z’
y y’ x’
uma das variantes do Teorema de Gauss, aquela que estabelece para uma campo
vetorial Q a seguinte relação47 (com a normal exterior ao domínio):
(n Q)dS ( Q)dV
S V
Note que as integrais acima, agora, são feitas sobre parâmetros conhecidos a
priori para um determinado calado do corpo. Para tornar as expressões ainda mais
convenientes, seria interessante reescrevê-las em termos do referencial solidário
ao corpo. Para isso, observamos que a relação entre os dois sistemas de
coordenadas pode ser aproximada, mais uma vez supondo pequenos
deslocamentos de rotação, na forma:
x x ' T R x ' (4.10)
Considerando (4.10) em (4.8) e (4.9), obtemos:
47 Esta variante decorre diretamente do Teorema da Divergência, bastando, para isso, tomá-lo para
um campo vetorial F c Q , onde c é um vetor constante no espaço e não nulo.
Hidrodinâmica 128
F g ( 3 4 y' 5 x' )dx' dy' k (4.11)
AW
M ' g [( y ' x' 6 z ' 4 )i ( x' 5 z ' 6 y ' ) j ]dV
(4.12)
g ( 3 4 y ' 5 x' )( y ' i x' j )dx' dy'
AW
S 2 y ' dS
AW
S 22 y ' 2 dS
AW
F g 3 AW 4 S 2 5 S1 k (4.15)
M ' g[( y B 6 x B 4 z B ) 3 S 2 4 S 22 5 S12 ]i
(4.16)
g[( x B 5 z B 6 y B ) 3 S1 4 S12 5 S11 ] j
Ft m g 3 AW k (4.17)
M t ' [( gy B mgyG ) 6 ( gx B mgxG ) 4 ( gz B mgzG gS 22 )]i
(4.18)
[( gx B mgxG ) 5 ( gz B mgzG gS11 ) 6 ( gy B mgyG )] j
48 Mesmo que o corpo não o possua, pode-se sempre adotar uma rotação dos eixos horizontais de
forma a anular o momento cruzado de área.
Hidrodinâmica 130
seguintes condições:
x B xG
m e
y B yG
“espalhamento” desta onda uma vez que a mesma incide sobre o corpo fixo
( 7 (x, y, z) ):
{ z - }.
Finalmente, para os potenciais de radiação, a condição de contorno no corpo
exige que:
j
in j em S B , j 1,2,3
n
(4.28)
j
i ( r n ) j 3 em S B , j 4,5,6
n
Hidrodinâmica 133
1
j e ikR p/ R , j 1,2,...,7 (4.30)
R
onde o decaimento com a distância é imposto para garantir a conservação de
energia à medida que a onda se afasta do corpo. Em um caso bidimensional, a
condição correspondente seria simplesmente dada por:
j e ikx p/ x (4.31)
F (t ) g zndS
SB
6
Re i j e it j n dS (4.33)
j 1 SB
ReiAe it ( 0 7 )n dS
SB
Hidrodinâmica 135
M (t ) g z (r n )dS
SB
6
Re i j e it j (r n )dS (4.34)
j 1
SB
ReiAe it ( 0 7 )( r n )dS
SB
Cada uma das três componentes nas equações (4.33) e (4.34) representam
diferentes contribuições para a força e para o momento resultante. Comparando
essas duas equações com (4.4), percebe-se que o primeiro termo de força e
momento correspondem, na verdade, às contribuições hidrostáticas49. Estas foram
discutidas na seção anterior e, como já sabemos, serão as responsáveis pela
restauração hidrostática do corpo em heave, roll e pitch. As integrais no segundo
termo de (4.33) e (4.34) são facilmente identificadas com os termos de força e
momento derivados em (2.25) e (2.27) no estudo das forças hidrodinâmicas sobre
um corpo com movimento arbitrário em fluido infinito. Naquela ocasião, definimos
tais integrais como sendo as massas adicionais do corpo. Aqui, porém, os
potenciais { j (x, y, z) ; j 1,...,6 } são complexos. A massa adicional corresponderá
49 Cabe aqui um comentário quanto à influência da onda sobre a área molhada do corpo. Na
hipótese de pequena amplitude de onda e pequenos deslocamentos do corpo, é possível mostrar
que a contribuição de força decorrente da variação da superfície molhada do corpo induzida pelo
movimento da superfície-livre é uma contribuição de segunda-ordem na amplitude da onda e pode,
assim, ser desprezada. Para maiores detalhes ver Newman (1977).
Hidrodinâmica 136
definidas em (2.28). Aqui, porém, estes coeficientes são complexos e suas partes
real e imaginária dependem da frequência da onda incidente , o que pode ser
depreendido das condições de contorno (4.26) e (4.28). Definindo-se, então:
f ij 2 aij ibij (4.37)
(4.39)
1
bi j ( ) Im( f ij ) i j dS
S n B
demonstração desse fato é análoga à que fizemos para demonstrar a simetria das
massas adicionais mij na seção 2.2.5, mediante o emprego do Teorema de
Green. Aqui, todavia, o teorema deve ser aplicado considerando-se não apenas a
superfície do corpo (SB), mas também a superfície-livre (SF), o fundo (Sbot) e a
fronteira distante do corpo (S):
Hidrodinâmica 138
j
i
S B S F Sbot S
n
j i dS 0
n
(4.41)
serão conhecidos os valores das forças para qualquer valor de amplitude de onda,
bastando-se multiplicá-los de acordo com (4.43).
O potencial de onda incidente 0 é conhecido. O potencial 7 deve ser
X i 0 i i 0 dS (4.48)
S
n n
Hidrodinâmica 141
51 Para uma discussão mais elaborada ver, por exemplo, Newman (1977).
Hidrodinâmica 142
mas esta pode ser reescrita a partir dos potenciais de radiação, bastando para
isso considerar as condições (4.28):
i
7 .n 0 1 0 2 0 3 em SB (4.51)
x n y n z n
e, portanto:
i
7 .n 0 1 0 2 0 3 .n em SB (4.52)
x y z
i
7 .n 0 1 0 2 0 3 .n em SB (4.53)
x y z
Hidrodinâmica 143
i 3
X i 0 i dS f ij 0 (4.55)
SB
n j 1 x j
O primeiro termo em (4.55) será responsável pela força e pelo momento
induzidos pelo potencial de onda incidente:
Fexc,0 (t ) ReiAe it 0 ndS
SB
(4.56)
M exc, 0 (t ) ReiAe it 0 (r n )dS
SB
0 0
0 ( x ) 0 (0) x y (4.58)
x y
x 0 x 0
e, assim:
0 0
0 ndS 0 Aw0 (0) x
xndS
x 0 Aw y
yndS
SB x 0 Aw
0 0
S 2 k
0 n dS 0 A
w 0
( 0)
x
S1
y
(4.59)
SB x 0
x 0
ou:
0 (r n)dS 0 xB 0 ( yi xj )dS
SB Aw
(4.60)
e, considerando (4.58):
0 0
( r n ) dS x B 0 (0) S 2 S12 S 22 i
0 0
x y
SB x 0
x 0
(4.61)
0 (0) S1 0 S11 0 S12 j
x y
x 0
x 0
Cabe, então, observar que as derivadas do potencial 0 serão termos
temos então:
i
X 3 i0 iAw0 (0) f 33 0
z
e, de (4.26) e (4.37) e considerando 0 k0 (0) :
i
X 3 ik0 (0) iAw0 (0) ( 2 a33 ib33 )k0 (0)
ou:
X 3 ik0 (0)a33 b33 k0 (0) iAw0 (0)
e, assim:
F3 (t ) Re ik0 (0)a33 b33 k0 (0) iAw0 (0)
Por fim, notando que Re ik 0 (0) Ae it w (0, t ) e Re k0 (0) Ae it w(0, t )
podemos escrever:
F3 (t ) a33 w 0 (t ) b33 w0 (t ) gAw 0 (t ) (4.64)
f 3 (t ) S C M 1w 0 (t ) C D Dw0 (t ) w0 (t )
1
(4.66)
2
onde S corresponde à área da seção, CM é o coeficiente de inércia da seção em
heave e CD é o coeficiente de arrasto do cilindro. A força é então composta por um
termo inercial e um termo não-linear (quadrático) de arrasto, o segundo defasado
de 90o do primeiro.
Keulegan & Carpenter (1958) determinaram experimentalmente os valores de
CM e CD para vários tipos de cilindros sob escoamento oscilatório e verificaram
que os resultados apresentavam boa aderência com o adimensional que hoje leva
o nome de número de Keulegan Carpenter (KC):
VT
KC (4.67)
D
onde V aqui representa a amplitude de velocidade do escoamento e T o período
de oscilação do mesmo.
No caso do escoamento induzido por ondas harmônicas, temos V Ae kz e,
assim, o valor de KC para o cilindro da figura 47 é dado por:
A kh
KC 2 e (4.68)
D
No regime de KC baixo (tipicamente KC<3), as forças inerciais são
dominantes e o termo de arrasto pode ser desprezado. Conforme discutimos na
seção 4.1, neste caso a amplitude de movimento do fluido é muito pequena para a
formação da camada-limite e para a separação da mesma, não havendo a
formação de uma esteira rotacional significativa. Nesse limite, vale a aproximação
de escoamento potencial e o coeficiente de inércia corresponderá ao coeficiente
de massa adicional teórico da seção. Assim:
f 3 (t ) S C M 1w 0 (t ) (4.69)
e a força total sobre o cilindro recuperará, então, aquela prevista pela equação
(4.65).
Hidrodinâmica 148
Lembrando que:
U j (t ) Re(i j e it )
j=1,2,...,6 (4.71)
U (t ) Re( 2 e it )
j j
temos, então:
6
j
2
M ij f ij cij AX i i=1,2,...,6
j 1
6
j
2
( M ij aij ) ibij cij AX i (4.72)
j 1
2
([ M ] [ A]) i[ B] [C ] AX (4.73)
Deve-se notar que em (4.73) os coeficientes das quatro matrizes são reais,
enquanto o vetor de forças de excitação {X} é complexo, assim como também é
complexo o vetor das amplitudes de movimento {}.
{Z (, )} 2 ([ M ] [ A]) i[ B] [C ] X
1
(4.74)
Hidrodinâmica 150
Z j Z j , R iZ j , I j=1,2,...,6
como mostram os resultados da figura (4.38). Além disso, a fase resulta nula neste
limite ( 3 0 qdo 0 ). Ou seja, quando a onda é muito longa em comparação
gAW
n 3 (4.79)
a33
e, portanto, o navio experimentará uma ressonância em heave quando a
frequência de onda coincidir com a frequência natural ( n 3 ). Através dos
(1) ( 2)
(d j ; d j ) podem ser obtidos, por exemplo, a partir de ensaios de decaimento
Sinal de decaimento - Anotar Período e Intervalo Sinal de decaimento - Anotar Período e Intervalo
8
0.3
6
0.25
0.2 4
0.15 2
0.1 0
0.05 -2
0 -4
-0.05 -6
-0.1
-8
10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360
t(s) t(s)
(a) (b)
Figura 49 – Resultados de ensaios de decaimento em heave (a) e roll (b) com modelo de
navio FPSO
Bj d j
( eq )
Uj
Hidrodinâmica 155
com:
8
dj
( eq )
dj
(1)
j d j ( 2) (4.82)
3
O segundo termo em (4.82) deve então ser somado ao termo de
amortecimento de radiação (bjj) para o cômputo dos RAOs. Este é o procedimento
usualmente empregado pelos softwares que trabalham com o problema de
comportamento no mar no domínio da frequência, por exemplo o programa
WAMIT®. Esta abordagem apresenta, contudo, um problema de ordem prática.
Percebe-se em (4.82) que o amortecimento equivalente dependerá não apenas da
frequência da onda, mas também da amplitude do movimento, desconhecida a
priori. Isto normalmente obriga o ajuste dos coeficientes de amortecimento com
base em valores experimentais de RAO obtidos através de ensaios em ondas
regulares.
Por esta razão, também, em simulações dinâmicas do sistema no domínio
do tempo é preferível não empregar diretamente os RAOs para cálculo dos
movimentos, mas sim utilizar os coeficientes potenciais calculados numericamente
para, então, se resolver uma equação dinâmica não-linear, incluindo os termos de
amortecimento quadrático. Uma discussão sobre o enfoque no domínio do tempo
será apresentada na seção 4.5.1.
j ( ) 1
2
S j ( ).d A( ) 2
A( ) 2
ou seja:
2
S j () Z j () S () (4.84)
(4.85)
A amplitude significativa do movimento de heave será:
A 31 / 3 2 m 3, 0
m3,1
m3, 2
Pode-se ainda estimar o número médio de vezes que isso ocorrerá ao longo
de uma hora:
Hidrodinâmica 158
3600
N hora P{ A3 a}
T23
Procedimentos análogos podem ser realizados para os outros graus-de-
liberdade, complementando-se assim as estatísticas de resposta dos movimentos
de primeira-ordem.
escrito como:
m
(t ) Vm (t mk ,t mk t )Vk t (4.87)
k 1
com:
Hidrodinâmica 160
m: número de time-steps;
tm: t 0 mt
( t m , t m t );
( t m k , t m k t );
que:
N
(t ) An cos( n t n )
n 1
podemos escrever:
N
W (t ) X ( n ) An cos( n t n Xn ) (4.92)
n 1
onde X(n) são as forças de excitação de ondas para amplitude de onda unitária
discutidas na seção (4.3), que apresentam fase Xn .
Não poderíamos concluir este texto sem fazer ao menos uma menção breve
às técnicas disponíveis para a solução dos problemas de valor de contorno e a
efetiva obtenção dos potenciais de velocidade que são empregados para o cálculo
das forças hidrodinâmicas. De fato, ao longo deste capítulo apresentamos a
modelagem teórica que permite calcular estas forças hidrodinâmicas e, em última
instância, a chamada resposta de primeira-ordem de sistemas oceânicos
flutuantes. Esse cálculo, todavia, depende da solução dos problemas de contorno
de radiação (eqs. 4.25 – 4.28) e de difração (eqs. 4.25 – 4.27 e 4.29). Somente
através desta solução serão conhecidos os potenciais de radiação e
espalhamento { j (x, y, z) ; j 1,...,7 } e, de posse dos mesmos, será possível então
REFERÊNCIAS BIBILOGRÁFICAS
[4] CRAIK, A.D.D. “The origins of water wave theory”. Annu. Rev. Fluid Mech.
36, pp.1-28, 2004.
[5] CRAIK, A.D.D. “George Gabriel Stokes on water wave theory”. Annu. Rev.
Fluid Mech. 37, pp.23-42, 2005.
[6] CUMMINS, W.E. “The Impulse Response Function and Ship Motions”,
International Symposium on Ship Theory, No 8, Hamburg, Germany, 1962.
[7] DEAN R.G. & DALRIMPLE, R.A. Water Wave Mechanics for Engineers
and Scientists. Word Scientific, 1991.
[16] MEI, C.C. The Applied Dynamics of Ocean Surface Waves. John
Wiley & Sons, New York, Revised Printing, 1989.
[27] TASAI, F. “On the Damping Force and Added Mass of Ships
Heaving and Pitching”, Technical Report, Research Institute for Applied
Mech., Kyushu University, Japan, Vol.VII, No 26, 1959.