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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA


Secretaria Nacional de Segurança Pública
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Coordenação Geral de Ensino
Núcleo Pedagógico
Coordenação de Ensino a Distância
Reformulador
Mainar Feitosa da Silva Rocha
Revisão de Conteúdo
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Gustavo Henrique Lins Barreto
Revisão Pedagógica
Ardmon dos Santos Barbosa
Márcio Raphael Nascimento Maia

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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Linguagem e Memória
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Graziele Nack
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BY NC ND

Programação
Todo o conteúdo do Curso Uso da Informação em Gestão de
Jonas Batista Segurança Pública, da Secretaria Nacional de Segurança Pública
Marco Aurélio Ludwig Moraes (SENASP), Ministério da Justiça e Segurança Pública do Governo
Renan Pinho Assi Federal - 2020, está licenciado sob a Licença Pública Creative
Salésio Eduardo Assi (supervisão) Commons Atribuição-Não Comercial-Sem Derivações 4.0
Internacional.

Audiovisual Para visualizar uma cópia desta licença, acesse:


Rafael Poletto Dutra (supervisão)
Rodrigo Humaita Witte https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR
Sumário

Apresentação do Curso................................................................................................7
MÓDULO 1 – O SABER CIENTÍFICO COMO FERRAMENTA DE GESTÃO
PÚBLICA...............................................................................................................8
Apresentação.................................................................................................................9
Objetivos do módulo.............................................................................................................................. 9
Estrutura do módulo.............................................................................................................................. 9
Aula 1 — O Saber Racional e Empírico......................................................................10
Contextualizando... ............................................................................................................................. 10
O conhecimento científico moderno.................................................................................................. 10
O Conhecimento científico e o empírico............................................................................................ 11
Aula 2 — Positivismo e Ciências Humanas................................................................16
Contextualizando................................................................................................................................. 16
O positivismo....................................................................................................................................... 16
As ciências humanas........................................................................................................................... 19
Aula 3 — A Estatística como Ferramenta para Gestão Pública..........................22
Contextualizando... ............................................................................................................................. 22
A estatística na gestão de segurança pública................................................................................... 22
Aula 4 — Gestão Pública Fundamentada na Perspectiva Científica....................27
Contextualizando................................................................................................................................. 27
A gestão pública na perspectiva científica........................................................................................ 27
Referências...................................................................................................................32
MÓDULO 2 – SISTEMA DE INFORMAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA............ 36
Apresentação...............................................................................................................37
Objetivos do módulo............................................................................................................................ 37
Estrutura do módulo............................................................................................................................ 37
Aula 1 — Histórico da Adoção de Sistemas de Informações Criminais no Brasil e no
Mundo...........................................................................................................................................................38
Contextualizando................................................................................................................................. 38
Evolução dos sistemas de informações criminais no mundo.......................................................... 38
Aula 2 — Décadas de Atraso na Construção de Sistemas de Informações
Criminais no Brasil......................................................................................................53
Contextualizando................................................................................................................................. 53
Fatores que dificultam a construção dos sistemas de informação criminal no Brasil................... 53
Busca pelo aprimoramento e uniformização de dados.................................................................... 55
Consequências causadas pelo atraso na construção de sistemas de informações criminais..... 56
Maneiras adequadas para medir fenômenos de criminalidade e violência.................................... 57
Aula 3 — Recentes Encaminhamentos Feitos pelo Brasil com Relação à
Sistematização de Informações Criminais...............................................................60
Contextualizando... ............................................................................................................................. 60
Série de ações que vêm sendo realizadas pelo SENASP.................................................................. 60
Articulação política do SINESP........................................................................................................... 63
Articulação metodológica................................................................................................................... 64
Articulação tecnológica....................................................................................................................... 67
Referências...................................................................................................................69
MÓDULO 3 – DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM
SEGURANÇA PÚBLICA..................................................................................... 73
Apresentação...............................................................................................................74
Objetivos do módulo............................................................................................................................ 74
Estrutura do módulo............................................................................................................................ 74
Aula 1 — Proposta das Organizações das Nações Unidas (ONU).........................75
Contextualizando................................................................................................................................. 75
Manual para o desenvolvimento de um sistema de estatísticas..................................................... 75
Aula 2 — Indicadores Sociais da Criminalidade...................................................82
Contextualizando................................................................................................................................. 82
Indicadores sociais.............................................................................................................................. 82
Aula 3 — Fontes de Informação de Segurança Pública e Justiça Criminal no
Brasil.................................................................................................................... 91
Contextualizando................................................................................................................................. 91
A pesquisa social e a incidência criminal.......................................................................................... 91
Aula 4 — Pesquisas de Vitimização............................................................................96
Contextualizando................................................................................................................................. 96
Pesquisa de vitimização no contexto da segurança pública............................................................ 96
Referências................................................................................................................ 103
MÓDULO 4 – SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES DE SEGURANÇA
PÚBLICA, PRISIONAIS, DE RASTREABILIDADE DE ARMAS E MUNIÇÕES, DE
MATERIAL GENÉTICO, DE DIGITAIS E DE DROGAS – SINESP ...................... 106
Apresentação............................................................................................................ 107
Objetivos do Módulo.......................................................................................................................... 107
Estrutura do Módulo.......................................................................................................................... 107
Aula 1 – Do Planejamento a Implantação do SINESP ....................................... 108
Contextualizando............................................................................................................................... 108
Criação do SINESP pela SENASP..................................................................................................... 108
Aula 2 – Finalidades do SINESP.............................................................................. 113
Contextualizando... ........................................................................................................................... 113
parametrização do Modelo Nacional de Coleta de Dados ............................................................. 113
Aula 3 – As Partes Interessadas: Stakeholders no SINESP.............................. 117
Contextualizando............................................................................................................................... 117
Stakeholders Mapeados na Formulação do SINESP....................................................................... 117
Aula 4 – Dados Primários para a Implantação do SINESP................................. 121
Contextualizando... ........................................................................................................................... 121
Estados que Decidiram Permanecer com seus Próprios Sistemas............................................... 121
Estados que Decidiram Usar o Sistema de Dados do SINESP....................................................... 122
Aula 5 – As Soluções Geradas pelo SINESP ........................................................ 124
Contextualizando... ........................................................................................................................... 124
Configuração dos Módulos e Sistemas do SINESP........................................................................ 124
Referências................................................................................................................ 137
MÓDULO 5 – TÉCNICAS BÁSICAS DE ANÁLISE DE DADOS........................... 139
Apresentação............................................................................................................ 140
Objetivos............................................................................................................................................. 140
Estrutura do módulo.......................................................................................................................... 140
Aula 1 – Cálculos para a Elaboração de Indicadores Sociais de Criminalidade......141
Contextualizando............................................................................................................................... 141
Indicadores Sociais de Criminalidade.............................................................................................. 141
Cálculos para a Elaboração de Indicadores Criminais.................................................................... 142
Aula 2 – Sugestões de Indicadores Sociais de Criminalidade............................ 145
Contextualizando............................................................................................................................... 145
Medidas de Tendência Central ......................................................................................................... 145
Média Aritmética................................................................................................................................ 146
Moda................................................................................................................................................... 148
Mediana.............................................................................................................................................. 150
Aula 3 – Construção de Tabelas e Gráficos......................................................... 153
Contextualizando............................................................................................................................... 153
Tabelas............................................................................................................................................... 153
Gráficos.............................................................................................................................................. 155
Aula 4 – Elaboração de Mapas............................................................................... 158
Contextualizando... ........................................................................................................................... 158
Elaboração de Mapas........................................................................................................................ 158
Mapa de Pontos................................................................................................................................. 159
Mapa Temático.................................................................................................................................. 160
Mapa de Kernel.................................................................................................................................. 161
Aula 5 – Elaboração de Relatórios....................................................................... 163
Contextualizando............................................................................................................................... 163
Relatório............................................................................................................................................. 163
Referências................................................................................................................ 168
Apresentação do Curso

Bem-vindo ao curso Uso da Informação em Gestão de


Segurança Pública.

Nos últimos anos, o uso da informação tem se constituído


como instrumento imprescindível para o planejamento
governamental, formulação e avaliação de políticas públicas
no Brasil. Isso deve-se às reformas gerenciais pelas quais o
setor público tem gradualmente passado, desde o processo
de democratização do aparato político brasileiro, o que implica
a exigência de previsibilidade, planejamento e visibilidade das
ações executadas e a existência de controles administrativos
mais eficazes.

Desse modo, a Secretaria Nacional de Segurança Pública


elaborou este curso com o compromisso de disseminar e
implementar o uso da informação nos órgãos estaduais e
municipais, com o propósito de difundir a sua importância
no Brasil e dotar os profissionais de segurança pública com
conhecimentos de instrumental técnico e conceituais para o
desenvolvimento dessa ação.

Desejamos-lhe um excelente estudo!

Equipe do curso.

7 • Apresentação Uso da Informação em Gestão de Segurança Pública


MÓDULO 1

O SABER CIENTÍFICO
COMO FERRAMENTA
DE GESTÃO PÚBLICA
8 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública
Apresentação

Durante o primeiro módulo, você irá entender como o


desenvolvimento das ciências humanas renovou todos
os campos do conhecimento humano. Também deverá
compreender como a utilização da estatística se coloca como
uma das principais ferramentas na solução dos desafios da
gestão da segurança como gestor público.

Desejamos que, ao final deste módulo, você compreenda a


teoria que embasa o pensamento científico e a sua contribuição
como metodologia para a investigação dos fenômenos sociais
aplicados às atividades na gestão da segurança pública.

OBJETIVOS DO MÓDULO
Conhecer a contribuição do conhecimento científico como
ferramenta de apoio à investigação de fenômenos sociais e à
gestão pública. Para isso, vamos estudar como o pensamento
científico moderno incorporou os preceitos científicos a fim de
desenvolver as soluções para gestão das ações de segurança
pública, além de identificar as características e a importância
da ciência como instrumento para investigação.

ESTRUTURA DO MÓDULO
• Aula 1 – O Saber Racional e Empírico.
• Aula 2 – Positivismo e Ciências Humanas.
• Aula 3 – A Estatística como Ferramenta para Gestão Pública.
• Aula 4 – Gestão Pública Fundamentada na Perspectiva
Científica.

9 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Aula 1 — O Saber Racional e Empírico

CONTEXTUALIZANDO...
Na nossa primeira aula do curso Uso da Informação em
Gestão de Segurança Pública, vamos refletir sobre a relação
do ser humano com a construção do conhecimento. Essa
relação percorre diferentes caminhos, desde as observações
da realidade e suas experiências até a consolidação de uma
forma de conhecer a realidade fundamentada racionalmente
por meio do método científico.

Desta forma, vamos conhecer como o saber racional foi se


desenvolvendo ao longo da história, baseado nos fundamentos
do método científico.

O CONHECIMENTO CIENTÍFICO MODERNO


Com a filosofia grega, inaugura-se a sistematização do uso
da lógica e das ciências matemáticas para abordagem e
interpretação das indagações sobre os problemas da condição
do homem no convívio em sociedade.

O conhecimento filosófico, que nasce com Aristóteles, parte


da dedução no processo de construção do conhecimento.
Considera os dados como verdadeiros, denominados
premissas que visam extrair conclusões em um processo
racional-dedutivo de interpretação dos dados disponíveis.
Significa a
proposição, o
conteúdo, as O processo racional-dedutivo, ou método dedutivo, parte
informações da compreensão da regra geral ou premissa para chegar
essenciais que
a conclusão dos casos específicos, enquanto o método
servem de base
para um raciocínio, indutivo considera os casos específicos para tentar chegar
para um estudo a uma regra geral, levando à generalização de uma hipótese,
que levará a uma conforme a figura a seguir.
conclusão.

10 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Figura 1: Método
dedutivo e indutivo.
Fonte: Salmon
(1978), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

Desta forma, é importante fazer uma distinção entre o


conhecimento empírico e o conhecimento científico, visando
sair do senso comum para chegar ao plano dos saberes
racionais, os quais são aplicados atualmente em muitas
práticas vivenciadas pela sociedade.

O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E O
EMPÍRICO
O conhecimento racional é exato e infalível, como a matemática,
por exemplo. Contudo, este saber não pode ser testado ou
experimentado no mundo físico, somente demonstrado. Para
Popper (1973), esse aspecto é fundamental para a distinção
entre o conhecimento filosófico e o científico.

O conhecimento filosófico é infalível e impossível


de ser testado, já o conhecimento científico deve
necessariamente ser testado sempre, sendo,
portanto, falível por definição.

Podemos dizer que o conhecimento científico compreende


as informações e fatos que são comprovados por meio
da ciência e o conhecimento filosófico nasce a partir das
reflexões que o ser humano faz sobre questões subjetivas.

11 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Saiba mais
Você sabe a distinção entre o conhecimento científico e
filosófico no contexto contemporâneo? Convidamos você
a conhecer autores como Descartes, Bacon e Galileu, que

 discutem sobre esse tema no artigo: “A ciência como forma de


conhecimento”, acessando o link:

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1806-58212006000200014

Importante destacar que, no século XVII, o pensamento


científico moderno passa a se consolidar na medida em
que a legitimidade dos saberes construídos vincula-se
à observação da realidade (empirismo), colocando tal
explicação à prova (experimentação).

Veja a seguir uma breve síntese conceitual sobre os


diferentes tipos de conhecimento.

1 CONHECIMENTO EMPÍRICO

Baseado no senso comum e na interação com o


ambiente, ocorre por meio de simples deduções e sem
provas concretas. Exemplificando: o agricultor, pela sua
observação, sabe exatamente quando plantar e colher
baseado no resultado de colheitas anteriores.

CONHECIMENTO CIENTÍFICO 2
Relacionado à lógica e ao pensamento crítico, baseado
em fatos analisados cientificamente, de modo que sua
veracidade ou falsidade podem ser comprovadas. Como
exemplo: a descoberta de outros planetas, por meio da
observação com telescópios superdesenvolvidos.

12 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


3 CONHECIMENTO FILOSÓFICO

Baseado na capacidade do ser humano de refletir no


campo das ideias e conceitos; não é verificável. Uma
forma de reconhecer esse conhecimento pode ser
sobre o pensamento de que as máquinas um dia irão se
sobrepor aos humanos.

Figura 2: Síntese conceitual de diferentes conhecimentos científicos.


Fonte: labSEAD-UFSC (2019).

Assim, inicia-se o raciocínio hipotético-dedutivo, que,


associado ao raciocínio matemático, utiliza-se da construção
de novos instrumentos de medida (tempo, distância, calor,
peso etc.) para a apreensão dos fenômenos.

Palavra do Especialista
Karl Popper (1902-1994) foi o criador do método hipotético-
dedutivo. Para ele o conhecimento científico não possui o valor
de verdade, mas de probabilidade. Em sua obra Conjecturas


e refutações, defende a existência de diferentes graus de
proximidade da verdade, ou seja, embora uma hipótese
científica possa ser refutada, parte de seu conteúdo pode ser
verdadeiro. A essa proximidade da verdade, ele chamou de
verossimilhança (POPPER, 1991).

Contudo, o conhecimento científico apresenta conceitos que


fundamentam a ciência, conforme representado a seguir.

13 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Figura 3: Teoria
científica.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

Fundamenta-se numa metodologia definida como um conjunto


de procedimentos que visa buscar explicações para os
fenômenos sociais. De forma geral, os fundamentos do método
científico, em sua forma experimental, partem da observação.

A observação é a etapa em que se observa determinado


fenômeno ou fato social. Essa fase envolve o questionamento
sobre a realidade a ser observada, buscando respostas pautadas
no conhecimento prévio sobre os fenômenos semelhantes.

Dessas respostas, nasce a elaboração das hipóteses, que é


considerada o ponto de partida da experimentação.

A experimentação se desenvolve de acordo com os


conhecimentos e práticas necessários para o esclarecimento
de cada hipótese levantada.

Após a experimentação, começa a mensuração dos resultados


encontrados, que envolve a conclusão do experimento,
verificando as hipóteses levantadas. Assim, as afirmações
são validadas pela mensuração dos resultados, que passa
a ser chamado de teoria. No caso da segurança pública,
por exemplo, a análise da balística, que serve como prova
documental para criminologia.

14 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Figura 4: Análise
de balística como
prova criminal.
Fonte: Shutterstock
(2019)

Assim sendo, o método científico analisa dados particulares


por meio de experiências controladas para concluir uma
verdade geral, ou teoria. Contudo, podem vir a surgir outros
fatos científicos, e uma nova teoria substituirá a anterior.
Desta maneira, o conhecimento científico, ainda que
experimentado, não é infalível.

A partir de então, o saber não repousa mais somente na


especulação, ou seja, no simples exercício do pensamento,
baseia-se igualmente na observação, experimentação e
mensuração, fundamentos do método científico em sua
forma experimental. Nesse sentido, podemos dizer que o
método científico nasce do encontro da especulação com o
empirismo (LAVILLE; DIONE, 1999).

15 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Aula 2 — Positivismo e Ciências Humanas

CONTEXTUALIZANDO...
Como vimos ao longo da história, o método científico passa a
influenciar fortemente a construção do conhecimento científico.
Assim, nasce a corrente positivista, que busca explicações
sobre as leis do mundo social passando a investigar o homem
na sociedade em que está inserido. Surgem então as ciências
humanas, que influenciam o desenvolvimento da ciência
conhecida como sociologia, que tem como prioridade a
explicação da realidade em que o homem vive.

O POSITIVISMO
No século XVIII, surgiram as ciências humanas, com o objetivo
de trazer para as investigações sobre a condição do homem
em sociedade – até então objeto restrito às especulações
filosóficas – os mesmos preceitos e modelos aplicados nas
ciências da natureza. As ciências humanas referem-se àquelas
que têm o próprio ser humano como objeto de estudo.

Nesse sentido, o desenvolvimento inicial da área partiu dos


preceitos de construção de um saber científico amparado no
modelo positivista, idealizado pelo pensador francês Augusto
Comte (1798-1857), que criou essa corrente filosófica que
busca explicações sobre as leis do mundo social.

Figura 5: Augusto
Comte, o pai
da sociologia.
Fonte: Wikimedia
Commons (2019).

16 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Podemos dizer que o pensamento positivista coloca a ciência
como o estudo da sociedade, determinado por uma legislação
que possa ser útil para o progresso humano. Na verdade, o
positivismo envolvia o desenvolvimento de um projeto político,
em que a sociedade deveria ser gerida pela ciência.

Augusto Comte entendia a sociedade sob a premissa


fundamental da estática social e da dinâmica social.
Para ele, na lei da estática social, o desenvolvimento
ocorre quando a sociedade se organiza na sua
dinâmica social de modo a evitar o caos e a
confusão (LAGAR et al., 2013).

Encontramos, por exemplo, no lema “ordem e progresso”, a


busca de uma organização, que explica os fenômenos sociais
através da aplicação da metodologia científica, por meio de
leis universais que são validadas para as dinâmicas humanas
em todos os tempos e sociedades.
Saiba mais
Você sabia que a corrente positivista influenciou obras
importantes no mundo todo e suas ideias ganharam muitos
seguidores no Brasil. Inclusive sua presença foi notável no
movimento republicano e na elaboração da Constituição de 1891.

 Para conhecer mais sobre a obra e seu criador, convidamos você a


ler: Comte, vida e obra, disponível em:

http://www.ldaceliaoliveira.seed.pr.gov.br/redeescola/
escolas/18/1380/184/arquivos/File/materiais/2014/sociologia/
Colecao_Os_Pensadores_Auguste_Comte.pdf

17 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


O modelo positivista apresenta, segundo Laville e Dione
(1999), algumas características importantes, descritas na
imagem a seguir.

Validade:
o resultado da
experimentação Objetividade:
é rigorosamente atitude intelectual
controlado por meio que considera
de mensurações a realidade do
precisas. objeto e a posição
imparcial do
pesquisador.
Leis e previsão:
as leis são
estabelecidas pelo
domínio físico, inscritas
na natureza, à qual os
No inatismo, o seres humanos são
conhecimento de submetidos.
um indivíduo nasce
Empirismo:
conhecimento adquirido
com ele. Um dos
pela experiência e pelos
primeiros filósofos sentidos, validado
a defender a ideia por meio do método Experimentação:
de conhecimento científico. a precisão da
inato foi Platão, hipótese levantada
que afirmava que é demonstrada por
a alma precede testes.
o corpo, ou
seja, todo o ser
humano já detém
o conhecimento Figura 6: Características do modelo positivista.
armazenado em Fonte: labSEAD-UFSC (2019).
sua alma das
encarnações
passadas. Considerando as características do modelo positivista, o
conhecimento resultante de ideias inatas – como as crenças
e valores morais – é, pelo ponto da validade científica,
desqualificado, pois para o empirismo todo o conhecimento é
capturado pelos sentidos e a partir da experiência.

Para o positivismo, os fenômenos sociais ou naturais devem ser


tratados com imparcialidade, universalidade e isentos de todo
o modo de distorção política, ideológica, espacial ou temporal.
Como ciência positiva, faz uso da metodologia quantitativa, na

18 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


qual o conhecimento é validado a partir do desenvolvimento
de experiências que obedeçam às mesmas condições de
realização, o que torna possível generalizar os resultados
encontrados, conforme representado na imagem a seguir.

Figura 7: Coleta
de informações
da cena do crime.
Fonte: Shutterstock
(2019).

Como podemos observar, o método positivista ainda reflete na


ciência que fazemos na sociedade contemporânea. Podemos
deduzir que o conhecimento positivista é determinista e
que esse modelo permite a interferência humana sobre o
mundo físico, pois o conhecimento das leis permite prever os
comportamentos sociais e geri-los cientificamente.

AS CIÊNCIAS HUMANAS
O desenvolvimento das ciências humanas renovou todos os
campos do conhecimento humano, desafiando o indivíduo
a encontrar respostas para as grandes interrogações sobre
a humanidade, sua identidade e as condições sociais e
culturais de cada época.

No século XX, as ciências humanas passam a instituir novos


fundamentos científicos para compreender as dimensões da
história humana, colocando em questão algumas certezas
da humanidade, como, por exemplo, a crença de que uma

19 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


raça, etnia ou certas características físicas sejam superiores
a outras, resultando no fato histórico da escravidão. Um
outro exemplo é quando a ciência comprova a evolução
humana pela análise científica dos crânios, conforme
representado na imagem a seguir.

Evolução da Humanidade

Figura 8: Comprovação científica da evolução da humanidade.


Fonte: Shutterstock (2019), adaptado por labSEAD-UFSC (2019).

Atualmente, o paradigma positivista já não é o único para


abordagem dos fenômenos humanos. A sociologia, a psicologia e
a história são exemplos de saberes científicos que se enquadram
no campo das ciências humanas e não são necessariamente
positivistas. Ainda que eventualmente possam lançar mão de
ferramentas e métodos quantitativos, similares aos das ciências
positivas, isto é, experimentais, observáveis, replicáveis e
mensuráveis, sua adesão ao paradigma não é absoluta.

Os fenômenos humanos e sociais são contextuais


(variam no tempo e no espaço) e multideterminados
(as relações sociais, a genética e a conjuntura social
influenciam os eventos), conforme apontaram
Durkheim (2001) e Moscovici (2011).

20 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Portanto, para Durkheim (2001), a ciência tem como prioridade
a explicação da realidade em que o homem vive. Essa
realidade, Durkheim chamava de fato social, que, além de
ser explicado, pode ser quantificado, pois considerava que
explicar um fenômeno social é identificar o fenômeno que o
produz, normalmente para estabelecer a causa, a qual deve ser
procurada no meio social.

O pensamento metodológico da teoria sociológica de


Durkheim centra-se no fato social como específico
e objeto da ciência, porque pode ser categorizado,
dividido em conjuntos sociais e classificados em
gêneros e espécies (DURKHEIM, 2001).

Dessa forma, podemos mensurar as causas dos fenômenos


sociais por meio de recursos quantitativos, quando estes são
replicáveis e mensuráveis (por exemplo, quando se lança mão
de ferramentas de estatística), e recursos qualitativos, quando
priorizam a narrativa e a interpretação conjuntural dos dados
(como na utilização de entrevistas, por exemplo).

21 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Aula 3 — A Estatística como Ferramenta
para Gestão Pública

CONTEXTUALIZANDO...
Atualmente a utilização da estatística no planejamento
das atividades dos profissionais de segurança pública se
coloca como um dos principais instrumentos para busca de
resultados satisfatórios no controle social e democrático do
crime e da violência. Dessa forma, abordaremos nesta aula o
estudo da estatística e a sua aplicação como instrumento para
a gestão da segurança pública.

A ESTATÍSTICA NA GESTÃO DE
SEGURANÇA PÚBLICA
Antes de iniciarmos nosso estudo, vamos refletir sobre algumas
questões sobre criminalidade e estatística, tais como:

• Você conhece algo da história da estatística como


instrumento para gestão da segurança pública?
• Qual a importância de mensurar os registros criminais?
• Divulgar os índices de criminalidade assusta ou ajuda a
prever o futuro?

Agora, vamos conhecer a construção histórica da estatística e


seu surgimento no contexto do desenvolvimento de um saber
científico de cunho positivista. É dessa concepção positivista
que o conhecimento estatístico passa a ser assumido como uma
ferramenta para a construção da objetividade na investigação
dos fenômenos sociais e na gestão pública em muitos países.

22 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


O uso da estatística remonta aos anos de 5.000
a 2.000 a.C. e já se apresentava, em civilizações
antigas do Egito, Mesopotâmia e China, como
instrumento para “gestão e administração do
Estado, com ênfase nos negócios fiscais, militares e
policiais” (LIMA, 2005, p. 19).

Historicamente, o conhecimento estatístico é voltado ao


levantamento de informações para que o Estado possa governar
e organizar o território. A partir do século XIX, o uso de registros
estatísticos passa a servir a uma série de levantamentos e


pesquisas sobre os mais diferenciados assuntos.

O século XIX viu florescer numerosas pesquisas


estatísticas cobrindo domínios tão variados quanto a
prostituição, as condições de vida dos operários, os
traços antropométricos de conscritos ou criminosos, os

sistemas industrial e agrícola. (MARTIN, 2001, p. 14)

Em outras palavras, segundo Lima (2005), os conhecimentos


estatísticos permitem delimitar e controlar fenômenos sociais e,
por meio dos registros, possibilitam intervir na realidade humana.

Na Prática
Vamos lembrar do caso da chacina das Cajazeiras, ocorrida em
janeiro de 2018, na cidade de Fortaleza, no Ceará, em que homens

 armados invadem atirando numa festa, resultando em 14 pessoas


mortas e outras 10 feridas. A polícia é chamada e, ao formalizar a
ocorrência, quantos homicídios terão sido registrados?

23 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


No relato das ocorrências, foram registradas 14 vítimas e
outras 10 tentativas de homicídio, totalizando 24 ocorrências
na chacina das Cajazeiras. Dessa forma, com o uso da
estatística, pode-se construir índices que representem a
realidade, com a possibilidade de quantificação dos dados,
e, a partir disso, realizar o planejamento das atividades dos
profissionais da segurança pública. Portanto, é com essa
perspectiva que a estatística, como ciência aplicada, passa a
se incorporar ao trabalho do gestor público.

Palavra do Especialista
Segundo o autor da tese Contando crimes e criminosos em São
Paulo: uma sociologia das estatísticas produzidas e utilizadas
entre 1871 e 2000, os dados estatísticos em si são atribuídos às


coisas, mas evocam a prerrogativa para coisificar as não coisas,
ou seja, conceitos como crime, criminalidade, criminosos e
violência não são reduzíveis a objetos concretos no tempo e no
espaço, mas traduzem situações e comportamentos sociais que
se sobressaem aos olhares e saberes. (LIMA, 2005).

Importante observar que, com os avanços dos conhecimentos


estatísticos, países como Alemanha, Inglaterra e França
prenunciaram algumas possibilidades de uso de dados
quantificados, como instrumentos para gestão pública, de
acordo com a figura a seguir.

24 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Alemanha

Modelo focado em medições de


fenômenos sociais, por intermédio da
sistematização das informações sobre
saúde, demografia e uso do espaço.

Inglaterra

Modelo aritmético que priorizava as


questões da mortalidade e os aspectos
demográficos; seu ponto de partida
era a coleta, o registro e o tratamento
de fenômenos como os nascimentos,
casamentos, batismos e mortes.

França

Modelo que adota parâmetros técnicos


e metodológicos, desenvolvendo o
recenseamento da população, visando ao
controle social.

Figura 9: Modelos adotados em países com avanços estatísticos.


Fonte: Shutterstock (2019), labSEAD-UFSC (2019).

Desta forma, esses foram os percursores de algumas


possibilidades de uso de dados quantificados. Observamos
que, no período inicial, predominava a visão positivista.
O desenvolvimento posterior das reflexões e parâmetros
metodológicos a serem seguidos pelas ciências sociais
demonstraram que o real não se configura como um ente dado
e pronto à percepção a partir do emprego dos instrumentos
adequados de quantificação.

De acordo com Lima (2005), o próprio processo de consolidação


de informações e dados para aferição de uma dada realidade
partem de percepções, construções, escolhas e limitações,
bem como encontram-se submetidos, muitas vezes, ao sabor
das disputas e conflitos de interesses de toda ordem.

25 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Nesse sentido, é interessante ressaltar a reflexão que pauta
o estudo de Lima (2005) sobre o uso de estatísticas para a


análise criminal em São Paulo. Ele defende que:

eles estão organizados respondem às dinâmicas das


disputas de poder em torno das regras sobre como e

[...] mais do que isentos, os números e as formas como

quem governa. (LIMA, 2005, p. 27).

Podemos dizer que os números para o gestor são


instrumentos de um discurso que busca a verdade de uma
dada realidade, com pressupostos de objetividade e de
legitimidade, como resultado de múltiplos processos de
contagem, medição e interpretação de fatos (LIMA, 2005),
conforme podemos identificar na análise no laboratório de
criminalística na imagem a seguir.

Figura 10: Análise de


amostra de cabelos
no laboratório de
criminalística.
Fonte: Shutterstock
(2019).

Portanto, segundo Lima (2005), os dados quantificáveis


passam a ter significação na medida em que são
interpretados, tornando-se assim elementos de compreensão
da produção e utilização de informações estatísticas na
prática da gestão da segurança pública.

26 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Aula 4 — Gestão Pública Fundamentada
na Perspectiva Científica

CONTEXTUALIZANDO...
A visão científica da realidade passa a fundamentar a gestão
pública, a qual incorpora uma série de características do
saber científico que envolve o processo de consolidação de
informações e dados para aferição de uma dada realidade.
Por isso, metodologias que possuem comprovação científica
Palavra derivada
de “método”, do de efetividade e que superam “achismos” passam a
latim “methodus”, fundamentar as ações da gestão pública.
cujo significado é
“caminho ou a via
para a realização de
algo”. Metodologia é A GESTÃO PÚBLICA NA PERSPECTIVA
o campo em que se CIENTÍFICA
estuda os melhores A visão científica da realidade visa fundamentar a gestão
métodos praticados
pública, a qual incorpora uma série de características do
em determinada área
para a produção do saber científico. O conhecimento científico tem como
conhecimento. característica a busca pela rigorosidade e, para isso, faz o
uso de uma metodologia específica.

Assim, por meio de uma metodologia, a estatística aplicada


visa prever os possíveis cenários para melhoria da gestão da
segurança da informação, conforme representado a seguir.

Figura 11:
Estatística aplicada O fato de
na melhoria
da gestão da
buscar
segurança pública. controlar ao
Fonte: labSEAD- máximo os A busca pelo
UFSC (2019). preconceitos A fundamentação estabelecimento
que deturpam do conhecimento de previsões.
A necessidade a visão da em experiências
de adquirir os empíricas
conhecimentos realidade.
rigorosamente
por meio da determinadas
experiência em termos
sensível. metodológicos.

27 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Um bom exemplo da aplicação dos princípios científicos à
gestão de políticas públicas foi um estudo realizado pela Rand
Corporation (Pesquisa e Desenvolvimento), em 1996, que
avaliou os resultados de cinco ações diferentes realizadas nos
Estados Unidos para retirar as crianças do mundo do crime,
considerando o custos e benefícios das ações.

Saiba mais
Conheça as pesquisas realizadas pela Rand Coporation na área

 da gestão pública em diversos países, disponível em: https://


www.rand.org/research.html, e observe a análise e objetividade
rigorosa dos projetos da organização.

Com base nesse estudo destacado, ocorreu uma mudança


significativa na ação do governo dos Estados Unidos em
termos da gestão de políticas de segurança pública, que
passou a contar com:

2. Capacitação 3. Programas
1. Visitas a
de pais nas escolas 4. Supervisão de
famílias em
cujos filhos de incentivo delinquentes fora
situação de
apresentam à entrada na da prisão.
risco.
problemas. universidade.

Figura 12: Aplicação dos princípios científicos na segurança pública no


governo dos Estados Unidos da América. Fonte: labSEAD-UFSC (2019).

28 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


A ação do gestor público fundamentou-se em uma avaliação
empírica e objetiva dos resultados de diferentes opções de
respostas para um mesmo problema, possibilitando que se
construísse uma projeção dos resultados futuros dessas ações.

Esse procedimento implica uma gestão de


resultados, entendida por meio da experiência
empírica. Estabelece-se um conhecimento sobre
quais são as ações que levam ao alcance do melhor
resultado possível e, partir daí, a gestão passa a ser
orientada por esse conhecimento.

Cabe destacar que essa classificação das ações em


função dos seus resultados previstos sempre deverá ser
contextualizada, levando em conta as características de
inúmeros fatores externos intervenientes (chamados variáveis)
na relação entre ação e resultado.

Ao discutir o processo de evolução das ciências, Popper


(1973) aponta uma questão importante a ser observada:

Palavra do Especialista
A teoria científica será sempre conjectural e provisória. Não
é possível confirmar a veracidade de uma teoria pela simples
constatação de que os resultados de uma previsão efetuada
 com base naquela teoria se verificaram. Essa teoria deverá
gozar apenas do estatuto de uma teoria não (ou ainda não)
contrariada pelos fatos. A isto Popper (1973) deu o nome de
“princípio da falseabilidade”.

Conforme Santos (2015), o princípio proposto por Popper, em


vez de buscar a verificação de experiências empíricas que
confirmassem uma teoria, buscava fatos particulares que,
depois de verificados, refutariam a hipótese.

29 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Assim, em vez de se preocupar em provar que uma teoria era
verdadeira, ele se preocupava em provar que ela era falsa.
Quando a teoria resiste à refutação pela experiência, pode ser
considerada comprovada.

Muito mais do que uma pirotecnia tecnológica, a


revolução da segurança pública ocorre com o uso
de metodologias cada vez mais focadas, proativas
e integradas, que possuem comprovação científica
de efetividade, superando a era dos “achismos”
(LIMA, 2018).

É importante, neste caso, eliminar a teoria que se provou


falsa e procurar uma outra teoria para explicar o fenômeno
em análise. Esse aspecto é fundamental para a definição da
ciência, pois “científico” é apenas aquilo que se sujeita a este
confronto com os fatos. Ou seja, só é científica a teoria que
pode ser refutável.

Uma afirmação que não possa ser confrontada em


sua veracidade pela comparação com a realidade
não é científica. Para Popper (1973), a verdade é
inalcançável, todavia devemos nos aproximar dela
por tentativas.

Dessa forma, podemos concluir que o estado atual da


ciência é sempre provisório. Essa evolução se caracteriza
principalmente pela constante incerteza sobre o que é e pela
certeza sobre o que não é.

Assim, grandes achados científicos que durante décadas foram


considerados como verdade absoluta podem, em decorrência
desse princípio, ser invalidados em algum momento.

30 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Saiba mais
Conheça a experiência de como a cidade Nova York se tornou
exemplo ao usar a ciência para frear a criminalidade, na
matéria jornalística: “É uma revolução: a análise de dados e o

 uso de evidências científicas mudaram a segurança pública”,


acessando no link a seguir: https://gauchazh.clicrbs.com.
br/seguranca/noticia/2019/07/e-uma-revolucao-a-analise-
de-dados-e-o-uso-de-evidencias-cientificas-mudaram-a-
seguranca-publica-cjxnm8u7b057v01o9gsi0hp22.html.

Por essa razão, a gestão pública tem que submeter suas ações
a testes contínuos, pois a constante mudança da realidade
vivida pode trazer surpresas em relação aos resultados
previstos para as ações executadas.

31 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


Referências
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35 • Módulo 1 O Saber Científico como Ferramenta de Gestão Pública


MÓDULO 2

SISTEMA DE
INFORMAÇÃO EM
SEGURANÇA PÚBLICA
36 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública
Apresentação

Iniciaremos o estudo do segundo módulo com uma reflexão


sobre a evolução histórica dos sistemas de informações
criminais no mundo, com foco especial no Brasil. No decorrer
deste módulo, você acompanhará os processos pelos quais
o país passou em relação ao desenvolvimento de sistemas
de informações criminais, e verificará que foram anos sem a
devida integração e compilação desses dados, seja por falta
de interesse político, seja por ausência de tecnologia, ou ainda
por falta de profissionais capacitados na área. Isso gerou um
enorme desencontro de informações e gastos públicos. Porém,
atualmente, foram feitos alguns encaminhamentos para avanço
e maior integração dos sistemas de informações, que você
poderá acompanhar no decorrer deste módulo. Bons estudos!

OBJETIVOS DO MÓDULO
Desenvolver uma visão sobre a evolução dos sistemas de
informações criminais no Brasil e no mundo, bem como
conhecer as décadas de atraso pelas quais o Brasil passou e
ainda passa com relação à construção de sistemas criminais
e, por fim, compreender quais foram os encaminhamentos
dados recentemente com relação aos sistemas de
informações criminais no país.

ESTRUTURA DO MÓDULO
• Aula 1 – Histórico da Adoção de Sistemas de Informações
Criminais no Brasil e no Mundo.
• Aula 2 – Décadas de Atraso na Construção de Sistemas de
Informações Criminais no Brasil.
• Aula 3 – Recentes Encaminhamentos Feitos no Brasil com
Relação à Sistematização de Informações Criminais.

37 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Aula 1 — Histórico da Adoção de Sistemas de
Informações Criminais no Brasil e no Mundo

CONTEXTUALIZANDO...
Você sabia que diversos países dão muito valor às informações e
estatísticas criminais e que essas áreas são reconhecidas tanto
como usuárias quanto como produtoras de informações? E, o
mais importante, que têm o devido reconhecimento político por
parte das autoridades com relação à importância da utilização dos
dados gerados nesses setores de conhecimento? Pois é o que
veremos agora nesta aula sobre o histórico de adoção de sistemas
de informações criminais no Brasil e no mundo. Acompanhe!

Surveys é um termo EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE


usado para métodos INFORMAÇÕES CRIMINAIS NO MUNDO
de pesquisas Diversos países, principalmente os mais desenvolvidos,
quantitativas
dispõem de sistemas de informações criminais próprios,
aplicadas a um
determinado grupo utilizando como fonte de informações e registros de
de pessoas. ocorrências policiais, atividades judiciais e dados gerados
a partir de questionários e surveys diversos. Este método
é o mais indicado quando se deseja responder questões
que expressem opiniões, costumes ou características de
um determinado público-alvo. Exemplos de pesquisas do
tipo survey são medições de audiência televisiva realizadas
pelo IBOPE, censos, pesquisas Top of Mind, e de satisfação
(INSTITUTO OPUS, 2019).

Nesses países, as áreas de informações em segurança pública


são reconhecidas e valorizadas pelas autoridades políticas.
Essas áreas atuam tanto como usuárias (usam os dados
gerados) como produtoras (produzem os dados gerados) de
dados estatísticos e têm enorme relevância para a sociedade.

38 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Segundo Lima (2005), a França, em 1803 (quatorze
anos após a deflagração da Revolução Francesa),
foi pioneira na coleta regular de dados das
cortes criminais como instrumento de auxílio
à administração pública. Desde então, diversos
países passaram a criar formas de monitoramento e
aprimoramento de seus dados criminais.

A recente utilização de tecnologias informacionais na


sistematização de dados tem diminuído as desconfianças
com relação à validade e legitimidade das fontes primárias
de informações.
Fontes primárias
de informações
são informações Sabendo da relevância da utilização de dados para as
produzidas investigações criminais, você poderá conhecer mais adiante
diretamente
um pouco mais sobre a evolução desses sistemas de
pelos autores
da informação. informações em países como Inglaterra, França, Portugal,
Exemplificando: no Alemanha, Estados Unidos e Brasil.
cenário de crime,
as informações
Começaremos falando da Inglaterra, que, segundo Lima
primárias seriam
os relatos de (2005), já em 1805 passou a monitorar a situação carcerária
testemunhas, da do país de modo sistematizado. Veja na figura a seguir.
vítima, de policiais
e o inquérito
policial. INGLATERRA

1805 Monitoramento anual da situação


carcerária do país.

1830-1840 Classificação dos crimes por categorias:


crimes contra as pessoas; contra a
propriedade com atos de violência e sem
violência; contra a propriedade com a
finalidade de destruição; contra a moeda, a
segurança e tranquilidade públicas.

39 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


1856 Ato para Polícias Municipais (“Borough
Police Act”); compilação de informações
fornecidas pelo Ministério do Interior, pela
Corte de Apelação Criminal, pelo Procurador
Geral, pela Polícia e por outras fontes, tanto
na Inglaterra como no País de Gales.

1857 Publicação das estatísticas criminais, com


uso de dados policiais, judiciais e prisionais
Figura 1: Evolução
referentes ao ano de 1856.
de informações
criminais na 1895-1899 Produção de relatórios interministeriais,
Inglaterra. associando registros administrativos e
Fonte: labSEAD- “comprehensive surveys”, chamados por
UFSC (2019).
Lima de “embriões das pesquisas de
vitimização recentes” (LIMA, 2005, p. 47).

Atualmente são produzidos dois relatórios anuais na Inglaterra:


o Relatório Anual dos Comissários das Prisões, com estatísticas
sobre pessoas presas nos estabelecimentos prisionais e
reformatórios; e o Relatório Anual da Polícia Metropolitana, com
informações sobre crimes e estrutura de polícia.

Já na França, os sistemas de informações criminais começaram


com a coleta de estatísticas judiciárias feitas pelo Ministério
Público em 1825, passando por diversas adaptações até a
adoção da tecnologia como uma posição de destaque na
produção de estatísticas criminais. Veja na figura a seguir.

FRANÇA

1825-1968 Chancelaria de Paris publica o “Balanço Geral” (“Compte


general”) de monitoramento das atividades básicas das
instituições de justiça.

1825-1989 Período de coleta de estatísticas judiciárias pelo Ministério


Público da França.

1826 Publicação de ofícios circulares, a fim de discutir e padronizar


as informações coletadas.

1905 Publicação por parte da Chancelaria de Paris, de carta circular


demandando a atualização do sistema desde 1826.

40 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


1949 Instituto Nacional de Estatísticas da França (INSE) responsável
pela produção de estatísticas criminais.

1955 Tecnologia passa a ocupar uma posição de destaque na


produção de estatísticas criminais na França.

1989 Centro de Pesquisas Sociológicas sobre o Direito e Instituições


Penais (CESDIP) constitui a base de estatísticas criminais
de 1931 a 1981, com fontes e instituições diversas, incluindo
contagens de crimes e de criminosos.
Figura 2: Evolução dos sistemas de informações criminais da França.
Fonte: labSEAD-UFSC (2019).

Você pôde observar que, no período de 1825 a 1968,


a chancelaria de Paris publicou o Balanço Geral de
monitoramento das atividades básicas das instituições de
justiça, utilizando as estatísticas do Ministério Público francês
como fonte para a geração de tabelas e quadros estatísticos
nacionais, inclusive com estratificação por áreas geográficas.

É importante salientar que, em 1826, mesmo após iniciada


a publicação recorrente de ofícios circulares com o objetivo
de discutir e padronizar as informações coletadas, a falta
de preocupação específica com as fontes de informação
fez com que essas circulares e os dados coletados fossem
questionados continuamente.

Segundo Lima (2005), é oportuno apontar que em 1949


o Instituto Nacional de Estatísticas da França (INSE)
começou a se responsabilizar pela produção de estatísticas
criminais, incluindo o controle cadastral de antecedentes e
impedimentos eleitorais dos condenados pela justiça.

O INSE passou a utilizar a tecnologia disponível


para padronizar documentos, categorias e regras de
classificação de fatos.

41 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Após o ano de 1955, a tecnologia passou a ocupar posição
de destaque na produção de estatísticas criminais na
França e reforçou o debate sobre validade e legitimidade
dos dados relativos à essa área.

Em 1989, o Centro de Pesquisas Sociológicas sobre o


Direito e Instituições Penais (CESDIP) criou uma base de
estatísticas criminais francesas, datadas de 1931 a 1981,
incluindo a contagem de crimes e criminosos, porém
distribuída em várias fontes e instituições.

Continuando a apresentação da evolução dos sistemas


de informações criminais no mundo, vamos falar agora
de Portugal, que passou a compilar suas informações
criminais a partir de 1835, evoluindo para o monitoramento
de dados em diversas regiões do país, conforme
apresentado na linha do tempo a seguir.

PORTUGAL

1835 Compilação de informações pelo Ministério dos Negócios


Eclesiásticos e de Justiça (MNEJ) junto aos tribunais de
apelação ou recursos referentes a diversas categorias criminais.

1839 Escrivães de diferentes comarcas devem produzir mapas


criminais (a serem compilados pelo MNEJ), a fim de simplificar
o processo de coleta de informações.

1842 Juízes de primeira instância passam a ser obrigados a produzir


compilações anuais das causas em que atuam, categorizadas
por ato judiciário realizado.

1859 Criou-se a repartição de estatística ligada ao MNEJ, que reuniria


dados sobre crimes, prisões e movimentos forenses.
Figura 3: Evolução
dos sistemas
de informações Observamos que em 1835 o Ministério dos Negócios
criminais em
Portugal. Eclesiásticos e de Justiça (MNEJ) compilava informações
Fonte: labSEAD- junto aos tribunais de apelação ou recursos referentes às
UFSC (2019).
categorias criminais. É importante destacar, para quem
desejar se aprofundar no assunto, que, segundo Lima (2005),
essas categorias eram:

42 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


• Delitos públicos por abuso de liberdade de imprensa.
• Delitos públicos de qualquer outra natureza.
• Crimes particulares por abuso de liberdade de imprensa.
• Crimes particulares de qualquer natureza.
• Ações ativas e passivas do Ministério Público.
• Execuções da Fazenda Pública.
• Causas ocorridas nos juízos de conciliação.
• Causas cíveis.

Nessa época, eram também coletados mapas referentes às


causas ocorridas em juízo e no Tribunal de Polícia Correcional
de estamentos diversos (de Lisboa e Porto).

Grupos sociais,
ou seja, conjunto Também cabe destacar que, de acordo com a representação
de pessoas que na figura anterior, em 1859, depois de um intenso debate sobre
desempenham a a validade, celeridade e confiabilidade dos dados coletados
mesma função
(iniciado no ano anterior), criou-se uma repartição de
social ou que
possuem a estatística ligada ao MNEJ, que reuniria dados sobre crimes,
capacidade de prisões e movimento forense.
influenciar um
determinado setor.
Segundo Lima (2005), as estatísticas previstas sobre
movimento forense, crimes e criminosos, eram agregadas
em seis grupos: crimes contra a religião e abuso de funções
religiosas; crimes contra a segurança do Estado; crimes contra
a ordem e a tranquilidade públicas; crimes contra as pessoas;
crimes contra a propriedade; e provocação pública ao crime.
Além disso, também havia interesse na observação das causas,
meios e formas de execução dos crimes contra a vida.

O Gabinete do Ministério da Justiça monitora e


disponibiliza permanentemente dados sobre várias
regiões de Portugal, os quais ainda sofrem distorções
devido à baixa cultura estatística no país (LIMA, 2005).

43 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Na Alemanha, em 1871, como as forças policiais já detinham
poderes sobre todas as esferas da vida de seus cidadãos,
foi implementado um sistema denominado Meldewesen, por
meio do qual a polícia de Berlim gerenciava os dados de todas
as dimensões da vida cotidiana de sua população, como
demonstrado na linha do tempo a seguir.

ALEMANHA

1871 Forças policiais implementam o sistema “Meldewesen”, que


visava o controle da vida cotidiana da população.

1872 Criado o escritório imperial de estatísticas, responsável


por unificar os dados oficiais das estatísticas prisionais
(condenados) e judiciais (atividades das cortes).

Figura 4: Evolução dos sistemas de informações criminais na Alemanha.


Fonte: labSEAD-UFSC (2019).

Atualmente, o sistema de produção e coleta de dados


alemão já não está centralizado numa única agência, mas
em ações de diferentes atores institucionais com dados
integrados, que alimentam e passam por análise das forças
policiais para a sua utilização.

Já nos Estados Unidos, a utilização de dados para as


investigações criminais surge em 1880 com o primeiro censo
que gerou informações confiáveis e completas sobre crimes e
criminosos, conforme apresentado a seguir.

ESTADOS UNIDOS

1880 Primeiro censo com informações mais completas sobre crimes e


criminosos.
1926 Surge dados do Bureau Federal de Prisões da Infância.

1929 Bureau publica estatísticas de prisioneiros federais.


1930 O FBI (Federal Bureau of Investigation), ou Departamento Federal
de Investigação, começa a computar os Registros Unificados de
Criminalidade (UCR, em inglês).

44 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


1933 Em parceria com o trabalho do FBI, duas divisões do governo
federal atuam produzindo dados estatísticos sobre a
criminalidade no país: o Bureau do Censo e o Bureau de Infância
do Departamento do Trabalho.

2000 Duas ferramentas de coleta de dados permitem visão mais


ampla da criminalidade: o Survey Nacional de Vitimização pela
Criminalidade e os UCRs.

Figura 5: Evolução dos sistemas de informações criminais nos Estados Unidos.


Fonte: labSEAD-UFSC (2019).

Como visto, segundo Lima (2005), no ano de 1880, os Estados


Unidos elaborou o primeiro censo que trouxe informações
mais completas sobre crimes e criminosos e uma parte
especial da pesquisa sobre “pauperismo e crime”.

Pauperismo e crime
significa o quanto Já em 1926, os dados do Bureau da Infância referentes a
e como a pobreza estatísticas sobre casos judiciais envolvendo jovens passam
influencia na a compor um esforço federal de mensuração criminal,
prática de crimes.
capitaneado pelo Bureau do Censo e agências estaduais.
Em 1930, o FBI começou a computar os Registros Unificados
de Criminalidade (UCR). Esses registros foram desenhados em
1920 pela Associação Internacional de Chefes de Polícia, a fim
de homogeneizar (uniformizar/padronizar) os dados coletados.
Os UCR são produzidos pelas agências locais de segurança
pública e compilados (reunidos/organizados) pelo FBI.

É importante esclarecer que, em 1933, além do trabalho do FBI


com os UCRs, duas outras divisões do governo federal atuaram
produzindo dados estatísticos sobre a criminalidade no país: o
Bureau do Censo, com registros de prisões, e o Bureau de Infância
do Departamento do Trabalho, com registros dos crimes juvenis.

Importante ressaltar que, nesse período 56%


dos estados norte-americanos, em razão do
modelo federativo do país, ainda não produziam
estatísticas criminais.

45 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Após os anos 2000, duas ferramentas de coleta de dados
passam a permitir uma visão mais ampla dos fenômenos
criminais nos Estados Unidos. Essas duas ferramentas
são: o Survey Nacional de Vitimização pela Criminalidade
(NCVS), que, como nome indica, mapeia a vitimização da
população com idade superior a 12 anos, e os UCRs, que
registram e mapeiam as ofensas.

Agora, vamos conhecer sobre o processo evolutivo de como


o Brasil passa incorporar em sua agenda os sistemas de
informações criminais.

Você sabia que o nosso país passou a adotar sistemas


de informações criminais ainda no período imperial? Sim,
foi com a publicação da Lei n.º 2.033, de 1871, que deu
origem às instituições policiais separadas do Judiciário e
também criou o inquérito policial, como parte do processo
de burocratização do Império. Veja, a seguir, o processo
evolutivo do sistema de informações criminais.

BRASIL

1822 - 1889 Período de dificuldades envolvidas nos processos de


mensuração dos dados.

1851 Instituído por decreto o Censo Geral do Império e o Registro


Civil de Nascimento e Óbitos.
1871 Publicação da Lei n.º 2.033 de 1871.

1878 Publicação do Decreto n.º 7.001, que detalha variáveis


e cruzamentos de informações a serem observadas no
fornecimento de estatísticas ao Governo Imperial.

1936 Criado o Conselho Nacional de Estatística pelo o decreto n.º 1.200.


1941 Início da inserção dos boletins individuais (BIs) no Código de
Processo Penal (CPP, art. 809).

2001 Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) passa a


fazer coleta mensal de estatísticas de ocorrências registradas
pelas polícias civis.

46 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


2004 Coleta de dados mensais das polícias civis (iniciada em 2001)
tem seu processo de envio informatizado através do Sistema
Nacional de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça
Criminal (SINESPJC).

2007 Instituída a Rede de Integração Nacional de Informações de


Segurança Pública, Justiça e Fiscalização (Rede INFOSEG).

2012 Promulgação da Lei n.º 12.681/2012, que institui o Sistema


Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e
sobre Drogas (SINESP).

2018 Promulgação da Lei n.º 13.675/2018, que institui o Sistema


Único de Segurança Pública (Susp), altera dispositivos da Lei nº
12.681/2012 e renomeia o SINESP.

Figura 6: Evolução dos sistemas de informações criminais no Brasil.


Fonte: labSEAD-UFSC (2019).

Segundo Lima (2005), o período de 1822 a 1889 registra


enormes dificuldades envolvidas nos processos de mensuração
dos dados da realidade no período do Império, que vão desde a
falta de legitimidade dos órgãos legalmente responsáveis até a
inexistência de parâmetros de coleta primária e sistematização
de dados. Depois, em 1989, o primeiro período Republicano
(1889 a 1930) continuou passando por males semelhantes.

De acordo com a figura anterior, em 1851, foram instituídos,


por decreto, o Censo Geral do Império e o Registro Civil de
Nascimento e Óbitos, passando para o Estado incumbências
que antes eram exercidas pela Igreja Católica, bem como
agrupando escravos e cidadãos num mesmo registro.

Em 1871, com a publicação da Lei n.º 2.033, como parte do


processo de burocratização do Império, foram criadas as
instituições policiais separadas do Judiciário e também foi
criado o inquérito policial, conforme dito anteriormente.

No ano de 1878 foi publicado o Decreto n.º 7.001, que detalhava


variáveis e cruzamentos de informações a serem observadas no
fornecimento de estatísticas ao Governo Imperial.

47 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


O Decreto n.º 7.001 de 1978 diferenciava as
estatísticas policiais das estatísticas judiciais.

O fluxo das informações que era anual iniciava nas chefaturas


(chefias) de polícia e nos mapas gerais de estatística policial, e
seguia para os secretários de justiça e presidentes de Província
e destes, para o governo imperial. Estatísticas judiciais eram
produzidas de maneira pulverizada por diversos atores.

Em 1936, conforme indicado na figura anterior, foi publicado


o Decreto n.º 1.200 (já revogado), que criou o Conselho
Nacional de Estatística e estabeleceu, segundo LIMA (2005),
na assembleia geral, como atribuição, a proposta de se adotar
medidas para otimizar e viabilizar a realização de estatísticas
dentro do território brasileiro, bem como sua divulgação
posterior, incluídas várias áreas de atuação do Estado.

Dentre essas várias áreas de atuação, encontrava-se


naturalmente a segurança pública, cuja gestão de estatísticas
de crimes e contravenções cabia à Diretoria de Estatística
Geral do Ministério da Justiça.

Em 1941 teve início a inserção dos boletins individuais (BIs)


no Código de Processo Penal (CPP, Art. 809). Conforme Lima
(2005), esses boletins individuais tinham o objetivo de integrar
a apuração de estatísticas criminais, policiais e judiciais numa
perspectiva longitudinal, ou seja, em mais de um momento ao
longo do tempo. Foi uma tentativa de articular as instituições
de segurança, justiça, estatística e identificação civil.

No ano de 2001, a Secretaria Nacional de Segurança Pública


(SENASP), passa a coletar mensalmente estatísticas de
ocorrências registradas pelas polícias civis, retroativas ao
ano de 1999.

48 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Ainda no ano de 2001, ocorreu a primeira pesquisa Perfil das
Instituições de Segurança Pública, com o objetivo de traçar
o perfil organizacional das instituições de segurança pública,
coletando dados como: orçamento, recursos materiais e
humanos, gestão da informação, entre outros (BRASIL, 2013).
Foram produzidas cinco edições da pesquisa entre os anos
de 2004 e 2017.

As instituições que compõem o sistema de


segurança pública do Brasil são: Polícias Civis,
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
Essas instituições têm como principal objetivo
subsidiar a elaboração e a execução de políticas
públicas para a área.

Em 2001, foi iniciada a coleta mensal de dados das polícias


civis, que teve seu processo de envio de informações
informatizado por meio do Sistema Nacional de Estatísticas
de Segurança Pública e Justiça Criminal (SINESPJC),
conforme demonstra a figura a seguir.

Figura 7:
Informatização
de envio de
informações das
polícias civis.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

Em 2007, foi promulgado o Decreto n.º 6.138, revogado pelo


Decreto n.º 9.489 em 2018, o qual criou a Rede de Integração
Nacional de Informações de Segurança Pública, Justiça e
Fiscalização (Rede INFOSEG), a fim de integrar nacionalmente

49 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


as informações que se relacionam com segurança pública,
identificação civil e criminal, controle e fiscalização, inteligência,
justiça e defesa civil.

O objetivo da Rede INFOSEG era disponibilizar essas


informações para a formulação e a execução de ações
governamentais e de políticas públicas federais, estaduais,
distritais e municipais, porém o objetivo não foi alcançado.

Mesmo assim, foi fundamental para o compartilhamento


em massa de informações entre os órgãos de segurança
pública, sendo um dos sistemas mais conhecidos e
utilizados no meio policial até hoje.

A Rede INFOSEG foi fundamental para o


compartilhamento em massa de informações entre
os órgãos de segurança pública e é, ainda hoje, um dos
sistemas mais conhecidos e utilizados no meio policial.

Em 2012, foi promulgada a Lei n.º 12.681/2012, que instituiu


o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública,
Prisionais e sobre Drogas (SINESP), o qual tem a finalidade de
armazenar, tratar e integrar dados e informações para auxiliar
na formulação, implementação, execução, acompanhamento
e avaliação das políticas relacionadas à segurança pública
do sistema prisional, da execução penal e do enfrentamento
do tráfico de drogas ilícitas. Você pode conhecê-lo na íntegra,
acessando o link: https://seguranca.sinesp.gov.br/sinesp-
seguranca/login.jsf

50 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Figura 8: Identidade
visual SINESP.
Fonte: Brasil (2019),
adaptado por
labSEAD-UFSC
(2019).

Já em 2018, com a evolução dos sistemas de informações


criminais no Brasil, foi promulgada a Lei n.º 13.675/2018
que criou o Sistema Único de Segurança Pública (Susp)
firmou o Sinesp como um dos meios e instrumento para a
implementação da Política Nacional de Segurança Pública e
Defesa Social (PNSPDS); anulou alguns dispositivos da Lei n.º
12.681/2012; e renomeou o SINESP, que passou a significar
Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública,
Prisionais e de Rastreabilidade de Armas e Munições, e sobre
Material Genético, Digitais e Drogas.

A Lei n.º 13.675/2018 anulou alguns dispositivos da


Lei n.º 12.681/2012 e renomeou o SINESP, que passou
a significar Sistema Nacional de Informações de
Segurança Pública, Prisionais e de Rastreabilidade
de Armas e Munições, e sobre Material Genético,
Digitais e Drogas.

A Lei n.º 13.675/2018 colocou o SINESP como ferramenta


de integração e padronização das informações e dados de
segurança pública, além de estabelecer sanções em caso de
não repasse das informações.

51 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Saiba mais
O Sistema Único de Segurança Pública (Susp) tem como órgão
central o Ministério da Segurança Pública e é integrado por
civis e militares, pelas Polícias Federal e Rodoviária Federal;

 pela Força Nacional de Segurança Pública e pelos Corpos de


Bombeiros Militares. Além desses, outros órgãos fazem parte do
Susp. Para saber ainda mais, acesse o link: https://www.justica.
gov.br/news/collective-nitf-content-1544705396.44.

Como você pôde ver, na evolução histórica de sistemas de


informações criminais, o Brasil passou por várias tentativas
de integração dos sistemas, e ainda passa por várias
tentativas de melhorias e integração.

52 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Aula 2 — Décadas de Atraso na
Construção de Sistemas de Informações
Criminais no Brasil

CONTEXTUALIZANDO...
Segundo informações retiradas da matéria “O buraco negro
da informação em segurança pública no Brasil” (2018), de
Renato Sérgio de Lima e Samira Bueno (diretores do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública), mesmo após 30 anos, desde
a redemocratização, o Brasil ainda não possui um padrão
nacional único de classificação de homicídios, prejudicando
muito as comparações entre os estados e entre Brasil e
outros países. Essa situação é recorrente pela ausência de
um sistema nacional de estatística criminal e pela falta de
articulação dessas informações.

FATORES QUE DIFICULTAM A


CONSTRUÇÃO DOS SISTEMAS DE
INFORMAÇÃO CRIMINAL NO BRASIL
A ausência de padronização, segundo Lima e Bueno (2018),
é resultado da omissão histórica do governo federal em
relação à segurança pública, que transferiu para as unidades
da federação (estados) a responsabilidade pela gestão das
polícias Civil e Militar. Ainda, segundo os autores, a falta de
coordenação desses dados resultou também na ausência de
um sistema nacional de estatísticas para monitorar fenômenos
de criminalidade e violência.

Além de inúmeros fatores que dificultam a construção dos


sistemas de informação criminal no Brasil, há outros quatro
fatores, que, segundo Beato (2000), merecem destaque:

53 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Impossibilidade técnica de se reduzir a realidade (tal como ela é) em
números. Todo o aparato técnico necessário para a descrição estatística
de algo (métodos de coleta, definição de indicadores, modelos e
conceitos) é resultado de processos contextuais, sociais e, portanto,
não refletem a realidade, mas sim uma versão mensurável dela. Mesmo
quando se norteiam os programas de monitoramento nas categorias
penais, o autor ressalta o risco de se ignorar que mesmo a construção
dessas categorias decorre de longos processos políticos.

Tradição sociológica, possivelmente advinda de uma extrapolação dos


pressupostos da chamada “sociologia crítica”, que tende a problematizar
sobremaneira dados estatísticos oficiais. Essa perspectiva,
ideologicamente enviesada, faz com os dados oficiais sejam alvo de
críticas antes mesmo de sua utilização mais básica.

Incapacidade de perceber a relação existente entre o trabalho finalístico


realizado pelas unidades de justiça criminal e a utilidade da produção
de estatísticas. Beato (2000) chama essa incapacidade perceptiva de
“descolamento”: como se os operadores das instituições não fossem
capazes de perceber a conexão entre as atividades práticas que exercem
e os dados que geram. A principal consequência disso é que a coleta e
produção de dados é negligenciada.

Falta de departamentos de estatística e coleta de dados, escassez de


tecnologia adequada e de profissionais devidamente capacitados em
algumas secretarias de segurança brasileiras. Beato (2000) aponta
também aspectos operacionais: poucas secretarias de segurança pública
pelo país dispõem de estrutura, tecnologia e servidores capacitados para
coleta e processamento de informações estatísticas. O autor destaca
que, até pouco tempo atrás, o governo federal sequer dispunha de
departamento dedicado ao tratamento de dados da segurança pública,
ao contrário do que fazia nas pastas da saúde, educação e economia.

Figura 9: Fatores que dificultam a construção dos sistemas de informação criminal.


Fonte: labSEAD-UFSC (2019).

54 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Como você pode ver, são inúmeros os desafios a serem
superados para que as informações criminais sejam melhor
aproveitadas e utilizadas como ferramenta efetivas de
combate ao crime no Brasil.

BUSCA PELO APRIMORAMENTO E


UNIFORMIZAÇÃO DE DADOS
No intuito de buscar um esforço do controle de violência
em âmbito nacional, diversas organizações de segurança
pública começaram a aprimorar seus processos de coleta,
sistematização e análise de informações sobre ocorrências
criminais e atividades desenvolvidas por forças policiais no país.

Coleta

Figura 10:
Organizações de
dados na segurança Análise de
pública. informações
Fonte: labSEAD-
UFSC (2019).
Sistematização

Conforme Tobar (2015), medir a violência e a criminalidade, de


maneira técnica e eficaz, é um grande desafio, que perpassa
por questões que vão desde a coleta de dados até a sua
transformação, confiabilidade e homogeneidade dos dados,
bem como a presença de categorias e procedimentos claros
de trabalho (LIMA; BUENO, 2018).

Para Moraes et al. (2014), esse esforço de uniformização


das informações foi marcado profundamente pelo

55 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


voluntarismo, pela desarticulação das informações, pela falta
de padronização metodológica de coleta de dados e pela
despreocupação com a utilização dessas informações, sob o
ponto de vista de monitoramento dos resultados.

Segundo apontam Lima e Bueno (2018), em uma situação


dessas, tal situação é particularmente grave, no que se refere
à consolidação do monitoramento dos níveis de criminalidade
e violência com transparência e na aplicação de políticas
públicas nacionais e programas sociais de enfrentamento e
prevenção eficientes.

CONSEQUÊNCIAS CAUSADAS PELO


ATRASO NA CONSTRUÇÃO DE SISTEMAS
DE INFORMAÇÕES CRIMINAIS
Você saberia dizer quais são as consequências ocasionadas
pelo atraso na construção de sistemas de informações
criminais no Brasil? Para ficar mais claro, destacaremos cada
uma delas na figura a seguir:

Impossibilidade Isolamento de Não percepção


de comparação informações de do fenômeno de
consistente e interesse comum segurança pública
confiável dos dados aos órgãos de dentro de uma visão
e informações segurança pública no científica
criminais combate ao crime

CONSEQUÊNCIAS
do atraso na construção de sistemas de informações criminais no Brasil

Figura 11:
Consequências
do atraso na Prejuízo no
construção de Aumento da planejamento e
Naturalização
sistemas de sensação de avaliação dos
informações dos fenômenos
insegurança pelas impactos de ações
criminais no Brasil. da violência e
populações nos e projetos dos
Fonte: labSEAD- criminalidade
centros urbanos setores públicos
UFSC (2019).

56 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Além das consequências destacadas, é relevante explicar
que o que impossibilita o Estado de fazer comparações
consistentes e confiáveis de dados e informações criminais no
tempo e no espaço é a ausência de métodos padronizados de
coleta e tratamento de dados.

Também causam prejuízos ao planejamento e avaliação


dos impactos de ações e projetos dos setores públicos,
dificultando a percepção de qualquer iniciativa que vise
diminuir os níveis de criminalidade, independentemente dos
resultados efetivos que possam ser apresentados.

MANEIRAS ADEQUADAS PARA MEDIR


FENÔMENOS DE CRIMINALIDADE E
VIOLÊNCIA
Você deve ter observado que a construção inadequada e não
integrada de sistemas de informações criminais no nosso país
gerou atrasos e consequências negativas para todo o sistema
de segurança pública e também para o desenvolvimento de
políticas públicas efetivas. Também deve ter percebido a
importância da medição correta de fenômenos criminais por
parte de analistas e formuladores de políticas públicas.

A mensuração correta reduz distorções na percepção dos


fenômenos de criminalidade e violência. Também possibilita
maior assertividade nas ações de combate ao crime, seja pelas
ações dos órgãos de segurança pública, pela implantação
de políticas públicas ou pela melhor aplicação dos recursos
públicos na área. Veja a seguir os modos adequados para
medir os fenômenos de criminalidade.

57 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Identificar tendências e padrões que permitam avaliar
adequadamente a relação entre percepções sociais de
medo e taxas reais de criminalidade

Relacionar impactos efetivos de políticas e programas


sociais nas taxas de violência e criminalidade

MODOS ADEQUADOS
Observar a incidência em diferentes grupos sociais
de medir fenômenos
de criminalidade e
violência Traçar o perfil dos agressores e das vítimas

Fazer distribuição espacial de delitos

Relacionar o agressor e sua vítima

Relacionar chances de punibilidade criminal

Figura 12: Modos corretos para medir fenômenos de criminalidade.


Fonte: labSEAD-UFSC (2019).

Sabendo das consequências causadas pelo atraso na


construção de sistemas de informações criminais e da
importância de medir os crimes da forma adequada, você
saberia dizer quais são as dificuldades para padronização da
coleta, tratamento e divulgação dos dados criminais?

Vimos que houve um processo histórico que influenciou


diretamente nessas dificuldades, situações inclusive vivenciadas
por outras nações do mundo, em diferentes momentos.

No que diz respeito especificamente à realidade brasileira,


a Constituição Federal de 1988, em seu Art. 21, inciso XV,
estabelece que é de responsabilidade da União organizar e
manter os serviços oficiais de estatística. Porém, a grande
massa de dados em segurança pública é produzida e está
sob gerência dos estados e do Distrito Federal (segundo as
competências dos órgãos de segurança pública previstas

58 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


no Art. 144 do mesmo texto constitucional), o que dificulta
bastante o cruzamento de dados.

Esses princípios, decorrentes do modelo federativo da


República (país dividido em estados), impossibilitaram o
governo federal de estabelecer unilateralmente métodos,
dependendo de uma articulação institucional para diminuir o
impacto dos interesses políticos das unidades da federação ao
interpretarem os dados à sua maneira.

Essa realidade começou a se alterar com a promulgação


da Lei n.º 13.675 (popularmente conhecida como a Lei
do Susp), de junho de 2018, e o já comentado Decreto n.°
9.489/2018, responsável por estabelecer as formas de
implementação da Lei do Susp.

Nessa nova lei (Lei n.º 13.675/18), foram


criadas medidas de obrigatoriedade de coleta e
compartilhamento de dados por parte dos entes
federados, sob o risco de perda de acesso às fontes
de financiamento.

Agora que você já estudou as maneiras adequadas para medir


fenômenos de criminalidade e violência e como a mensuração
correta reduz distorções na percepção dos fenômenos de
criminalidade e violência, podemos seguir para próxima
aula, que irá tratar das ações recentes produzidas pelo Brasil
referentes aos sistemas de informações criminais.

59 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Aula 3 — Recentes Encaminhamentos
Feitos pelo Brasil com Relação à
Sistematização de Informações Criminais

CONTEXTUALIZANDO...
Ainda hoje é dificultoso consolidar uma série de informações
estatísticas referentes à criminalidade, devido a uma série
de fatores (já destacados anteriormente na figura 9), tais
como: a falta de departamentos de estatística e coleta de
dados; a escassez de tecnologia adequada e de profissionais
devidamente capacitados; poucas secretarias de segurança
pública pelo país, com estrutura, tecnologia e servidores
capacitados para coleta e processamento de informações
estatísticas, entre outros.

Porém, algumas ações estão sendo feitas no sentido de


integrar e sistematizar informações criminais a fim de deixar
à disposição das autoridades, governantes e sociedade um
aparato mais seguro e confiável de informações e estatísticas
a serem usadas no tratamento da criminalidade.

Conhecer quais ações as instituições brasileiras responsáveis


estão aplicando em relação à sistematização de informações
criminais nos faz ter uma visão de quais resultados podemos
esperar com relação à criminalidade. Por isso, nesta aula
vamos falar sobre os encaminhamentos dados nesta área.

SÉRIE DE AÇÕES QUE VÊM SENDO


REALIZADAS PELO SENASP
Ciente da difícil tarefa de consolidar estatísticas nacionais
de segurança, desde o ano de 2004, a Secretaria Nacional
de Segurança Pública (SENASP) vem realizando uma série
de ações, buscando valorizar a informação como principal
insumo de planejamento das organizações de segurança
pública, em articulação com as unidades federativas.

60 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Segundo Moraes et al. (2014), a primeira grande ação foi a
criação do Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança
Pública e Justiça Criminal (SINESPJC), atualmente agregado
à solução Sinesp Análise, implantada em 2004, com o módulo
da Polícia Civil, e posteriormente ampliada com o módulo da
Polícia Militar em 2005. Esse sistema teve como principal
objetivo iniciar o processo informatizado de coleta de dados
estatísticos junto às 27 unidades federativas da União, visto que
o cenário na época contava com apenas 7 estados possuidores
de sistemas informatizados de registro de ocorrências.

Por conta disso, veja a seguir os limites tecnológicos


apresentados pelo sistema:

alimentação
manual

Figura 13: Limites erro


tecnológicos retrabalho
humano
apresentado pelo
SINESPJC.
Fonte: LabSEAD-
UFSC (2019).

Limitações do
sistema não SINESP JC
informatizado sem análise
informatizada

Entretanto, segundo Moraes et al. (2014), o SINESPJC apresentou


alguns limites tecnológicos ao longo dos anos, tais como:

• Alimentação manual por parte dos estados, já que, na


época da implantação, alguns estados não possuíam
sistema informatizado e o SINESPJC fornecia campos de
preenchimento manual de dados via web.
• Maior probabilidade de erros no envio de dados, devido
à ausência de extração automatizada das informações e

61 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


preenchimento manual – a probabilidade de algum erro
humano durante a digitação dos dados era considerada alta.
• Retrabalho no preenchimento de dados para os estados que
já possuíam sistemas informatizados.
• Dados agregados, impossibilitando análise da qualidade
da informação, pois nesse sistema não era disponibilizado
o conjunto primário de dados, apenas os resultados.
Exemplificando: como em um e-mail, que, além do texto, é
possível visualizar a data e hora do envio.
• Ausência de ferramenta automatizada de análise
(Business Intelligence).

Business
Intelligence (BI), Durante o ano de 2004, a Rede INFOSEG começou a operar, de
ou inteligência modo incipiente, formalizando-se a partir do Decreto n.º 6.138,
de negócios, de junho de 2007, o qual propunha, em seu Art. 3º, disponibilizar
diz respeito ao
informações nacionais de estatística e cadastro de informações
processo de coleta,
organização, criminais, entre outras informações importantes para o uso
análise, operacional das polícias de um modo geral.
compartilhamento
e monitoramento
A Rede INFOSEG atendeu satisfatoriamente o objetivo de
de informações, de
diversos sistemas subsidiar operacionalmente os agentes de segurança pública,
de informação, mas não foi capaz de gerar relatórios de gestão, como
que visa auxiliar também propunha o decreto.
as instituições a
tomarem decisões
mais assertivas, Buscando corrigir problemas anteriormente identificados
mediante com relação aos sistemas existentes, acesso aos dados e
cruzamento informações de segurança pública, em 4 de julho de 2012,
desses dados e
foi promulgada a Lei n.º 12.681, que institui o Sistema
informações.
Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais
e sobre Drogas (SINESP), com a finalidade de armazenar,
tratar e integrar dados e informações para auxiliar na
formulação, implementação, execução, acompanhamento
e avaliação das políticas relacionadas à segurança pública
(sistema prisional e execução penal) e enfrentamento do
tráfico de crack e outras drogas ilícitas.

Posteriormente, a Lei n.º 13.675/2018 substituiu a Lei n.º


12.681/2012, retomando as competências da lei anterior e

62 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


incluindo outras, tais como a referente ao armazenamento,
ao tratamento e à integração de banco de dados de perfil
genético e digitais.

O SINESP, além de ter integrado sistemas e bases de dados


do governo federal (por exemplo, o SINESPJC e a Rede
INFOSEG), também busca ampliar essa ação integrativa entre
os sistemas estaduais das instituições de segurança pública
e demais parceiros.

Contudo, considerando as dificuldades enfrentadas pelas


tentativas de integração anteriores, atualmente o SINESP não se
trata apenas de um sistema informatizado, mas de uma lógica
de integração institucional trabalhando em três eixos distintos,
conforme demonstrado na figura a seguir:

Articulação
política

Figura 14: Lógica Articulação Articulação


de integração do metodológica tecnológica
SINESP.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2019).

Agora vamos detalhar cada eixo de integração do SINESP para


que você possa se inteirar melhor do assunto.

ARTICULAÇÃO POLÍTICA DO SINESP


Levando em consideração as competências constitucionais
de cada unidade federativa, o Sistema Único de Segurança
Pública, através da Lei n.º 13.675, instituiu dispositivos políticos
para estimular o fluxo de informações entre entes e órgãos,
estabelecendo, como uma das diretrizes da Política Nacional
de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS), em seu Inciso
VIII do Art. 5º, a “[...] sistematização e compartilhamento das
informações de segurança pública, prisionais e sobre drogas,
em âmbito nacional [...].” (BRASIL, 2018).

63 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


A mesma lei prevê ainda no seu Art. 36, inciso IV, um conselho
gestor, que define esses padrões de interoperabilidade do sistema.
O conselho gestor já havia sido regulamentado sob a vigência da
Lei n.º 12.681/2012, através do Decreto n.º 8.075/2013.

Por uma questão de segurança jurídica, até nova


regulamentação, o Ministério da Segurança Pública tem adotado
os critérios anteriores, com ampla participação dos estados nas
diretrizes do sistema, através do conselho gestor.

Com isso, as definições metodológicas e técnicas de


padronização dos procedimentos e sistemas criminais não
são estabelecidas unilateralmente pelo governo federal, mas
por todos os integrantes do SINESP: União, estados, Distrito
Federal e municípios.

A Lei n.º 13.675/2018 prevê sanção ao integrante que não


fornecer ou não atualizar dados e informações no SINESP.
Dessa forma, poderá não receber recursos nem celebrar
parcerias com a União para financiamento de programas,
projetos ou ações de segurança pública e defesa social e do
sistema prisional, na forma do regulamento (BRASIL, 2018).

ARTICULAÇÃO METODOLÓGICA
Segundo Lima e Bueno (2018), do ponto de vista nacional, as
divergências metodológicas de coleta, tratamento e análise
de dados tornam inviável a mensuração de indicadores
comparáveis entre estados e a elaboração de um diagnóstico
nacional da criminalidade, inclusive nos crimes intencionais
que têm como resultado a morte.
O tema é preocupante também em termos internacionais,
o que constantemente faz com que o Brasil tenha
dificuldades em responder certos questionamentos sobre a
comparabilidade de dados.

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC),


preocupado com a padronização dos tipos criminais entre
países, propôs uma classificação de crimes para mensuração,

64 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


através de um protocolo nomeado International Classification
of Crime for Statistical Purpose (ICCS), traduzido como
Classificação Internacional de Crimes para Fins Estatístico.

Em atenção à dificuldade de padronização, foi lançada em 10


de dezembro de 2018 a Portaria Ministerial n.º 229, baseada
em parte no ICCS-UNODC, que teve por objetivo:

e fornecidos pelo Sistema Nacional de Informações de



Unificar e padronizar as classificações e o envio de dados
definidos pelos entes federados a serem implementados

Segurança Pública, Prisionais e de Rastreabilidade de


Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de
Drogas (SINESP) (BRASIL, 2018).

Na sequência, a Portaria Ministerial 229, em seu Art 3º,


estabeleceu uma nomenclatura unificada a ser utilizada
em boletins de ocorrência, policiais ou congêneres, para
comunicação do evento morte (em que a pessoa morreu),
levando em consideração que a correta rotulação dos dados é
fundamental para a confiabilidade no trabalho estatístico. Isso
é necessário tanto para eventos complexos como para aqueles
aparentemente simples, como a comunicação de uma morte.

Na Prática
Tomemos, como exemplo, uma unidade policial que necessite
reportar seu volume anual de ocorrências policiais de homicídio

 discriminados conforme o sexo da vítima. Nessa contagem de


ocorrências, aquelas nas quais as mulheres foram mortas por
maridos ou companheiros devem ser computadas? E aquelas
mortes em que o agressor também levou pertences da vítima?

Podemos argumentar que, pelas próprias definições


constantes no Código Penal (CP), essas dúvidas não fazem
sentido, já que “feminicídio” e “latrocínio”, respectivamente, são
tipos penais próprios. Porém, o caput do Art. 121 do CP afirma

65 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


que homicídio é “matar alguém”, e essa definição é ampla o
suficiente para gerar dúvidas.

Figura 15 : Cena de
um crime.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

Assim, um documento de padronização como a Portaria Ministerial


n.º 229/2018, em seu Art. 3º, inciso I, alínea a, acaba com essa
dificuldade ao estabelecer que, sob o rótulo de “homicídio”, só
devem ser consideradas ocorrências em que há: “Morte de alguém
em que há indício de crime ou sinal de agressão externa, exceto
‘Feminicídio’, ‘Lesão Corporal Seguida de Morte’, ‘Roubo Seguido de
Morte (latrocínio)’ e crimes culposos” (BRASIL, 2018).

O caput do Art. 121 do CP afirma que homicídio é


“matar alguém”, e essa definição é ampla o suficiente
para gerar dúvidas. Porém, um documento de
padronização de tipos penais, como a Portaria
Ministerial n.º 229/2018, acaba com essa dificuldade.

Passaremos agora para o último eixo de integração do SINESP:


articulação tecnológica.

66 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


ARTICULAÇÃO TECNOLÓGICA
O SINESP representa a integração dos sistemas preexistentes
com novos sistemas de produção de informações em
segurança pública. Assim, o SINESPJC e a Rede INFOSEG são
atualmente módulos do SINESP, mas não os únicos. Foram
desenvolvidas várias outras ferramentas, cada uma com sua
finalidade específica, mas todas integradas entre si e capazes
de integrarem-se a outros sistemas.

A competência de disponibilizar esse sistema integrado


coube ao Ministério da Segurança Pública, conforme o
Art. 14, inciso I, da Lei n.º 13.675/2018. Assim, na figura
a seguir, entre as soluções de tecnologia da informação
disponibilizadas aos integrantes do SINESP nos módulos do
sistema do SINESP, podemos destacar:

SINESP PPe
SINESP Big Data Procedimentos
Análise de grandes massas de Policiais Eletrônicos SINESP CAD
dados, incluindo informações Central de Atendimento
não estruturadas e Despacho

Rede SINESP SINESP Integração


Rede de comunicação
Integração de soluções
e integração entre
de Tecnologia da
profissionais de
Informação
segurança pública
SINESP
SINESP Análise SINESP INFOSEG
Análise de dados Pesquisa Inteligente
e informações de acesso restrito
(tabelas, gráficos, (indivíduos, veículos e
mapas e painéis) armas)

SINESP InfoGGI SINESP Cidadão


Monitoramento dos Gabinetes Pesquisa de dados públicos
de Gestão Integrada (indivíduos, veículos e armas)

Figura 16: Soluções tecnológicas nos módulos do SINESP.


Fonte: labSEAD-UFSC (2019).

67 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Em resumo, convidamos você a refletir se o conhecimento
adquirido neste módulo foi suficiente para deixá-lo seguro
para fazer uma análise crítica em relação aos sistemas de
informações existentes no Brasil e saber quais são as possíveis
ações de melhorias no tratamento de informações criminais,
usando os sistemas já existentes e contribuindo para melhorias
no abastecimento e tratamentos de dados criminais.

68 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


Referências
BEATO, C. C. Fontes de dados principais em estudos
criminológicos: limites e potenciais. In: CONCEITUAÇÃO DO
SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL CRIME E RELATO I: AS BASES
DE DADOS POLICIAIS. 1°, 2000. Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio
de Janeiro, 2000. Disponível em: https://www.ucamcesec.com.
br/wp-content/uploads/2011/06/Anais-Forum-CESeC-Ipea.pdf.
Acesso em: 19 set. 2019.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal,
Coordenação de Edições Técnicas, 2016. Disponível em: https://
www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_
Livro_EC91_2016.pdf. Acesso em: 26 nov. 2019.

BRASIL. Decreto n.º 9.489, de 30 de agosto de 2018. Brasília,


DF: Presidência da República, 2018. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Decreto/D9489.
htm. Acesso em: 26 nov. 2019.

BRASIL. Decreto n.º 6.138, de 28 de junho de 2007. Brasília,


DF: Presidência da República, 2018. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6138.
htm. Acesso em: 26 nov. 2019.

BRASIL. Decreto n.º 1.200, de 17 de novembro de 1936.


Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/
decret/1930-1939/decreto-1200-17-novembro-1936-458730-
norma-pe.html. Acesso em: 26 nov. 2019.

BRASIL. Decreto n.º 7.001, de 17 de agosto de 1878. Disponível


em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/
decreto-7001-17-agosto-1878-547904-publicacaooriginal-62801-
pe.html. Acesso em: 26 nov. 2019.

69 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria
Nacional de Segurança Pública. O SINESP. Brasília, DF:
Ministérios da Justiça [2019]. Disponível em: https://www.
justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/sinesp-1/o-
sinesp-1/o-sinesp. Acesso em: 19 set. 2019.

BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança


Pública. Pesquisa perfil das instituições de segurança pública.
Brasília, DF: Secretaria Nacional de Segurança Pública, 2013. 254p.

BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Assessoria


de Comunicação Social. MJSP lança quinta Pesquisa Perfil
das Instituições de Segurança Pública. Brasília, DF: 2017.
Disponível em: https://www.justica.gov.br/news/mjsp-lanca-
quinta-pesquisa-perfil-das-instituicoes-de-seguranca-publica.
Acesso em: 19 set. 2019.

BRASIL. Ministério da Segurança Pública. Portaria


Ministerial n.º 229, 11 de dezembro de 2018. Brasília, DF:
Ministérios da Segurança Pública, 2018. Disponível em:
http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.
jsp?data=11/12/2018&jornal=515&pagina=191. Acesso em:
26 nov. 2019.

BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Ministério


entrega aos estados primeiras ferramentas de Big Data e
Inteligência Artificial para combater a criminalidade. Brasília, DF:
Ministério da Justiça e Segurança Pública, 20 de agosto de 2019.
Disponível em: https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-
content-1566331890.72. Acesso em: 20 ago. 2019.

BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria


Nacional de Segurança Pública. Rede EaD - SENASP. 2019.
Disponível em: http://portal.ead.senasp.gov.br/home. Acesso
em: 26 nov. 2019.

70 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Governo
Federal. Sistema Único de Segurança Pública (Susp).
Brasília, DF: Ministério da Justiça e Segurança Pública, [s.d].
Disponível em: https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-
content-1544705396.44. Acesso em: 26 nov. 2019.

BRASIL. Lei n.º 2.033, 20 de setembro de 1871. Altera


diferentes disposições da Legislação Judiciária. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM2033.htm.
Acesso em: 26 nov. 2019.

BRASIL. Lei n.° 13.675, 11 de junho de 2018. Disciplina a


organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, nos termos do § 7º do art. 144 da Constituição
Federal; cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa
Social (PNSPDS); institui o Sistema Único de Segurança Pública
(Susp); altera a Lei Complementar nº 79, de 7 de janeiro de 1994,
a Lei nº 10.201, de 14 de fevereiro de 2001, e a Lei nº 11.530, de
24 de outubro de 2007; e revoga dispositivos da Lei nº 12.681, de
4 de julho de 2012. Brasília, DF: Presidência da República, 2018.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/L13675.htm. Acesso em: 26 nov. 2019.

BRASIL. Lei n.° 12.681, 4 de julho de 2012. Institui o Sistema


Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e
sobre Drogas - SINESP; altera as Leis nº s 10.201, de 14 de
fevereiro de 2001, e 11.530, de 24 de outubro de 2007, a Lei
Complementar nº 79, de 7 de janeiro de 1994, e o Decreto-Lei nº
3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal; e
revoga dispositivo da Lei nº 10.201, de 14 de fevereiro de 2001.
Brasília, DF: Presidência da República, 2012. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/
L12681.htm. Acesso em: 26 nov. 2019.

71 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


LIMA, R. S. de; BUENO, S. O buraco negro da informação em
segurança pública no Brasil. G1. Rio de Janeiro. 22 mar. 2018.
Disponível em: https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/
noticia/o-buraco-negro-da-informacao-em-seguranca-publica-no-
brasil.ghtml. Acesso em: 19 set. 2019.

LIMA, R. S. de. Contando Crimes e Criminosos em São Paulo:


uma sociologia das estatísticas produzidas e utilizadas entre
1871 e 2000. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências, São
Paulo, 2005. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/8/8132/tde-04022006-201043/pt-br.php. Acesso
em: 24 nov. 2019.

MORAES, A. de et al. Investigação criminal de homicídios.


Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança
Pública, 2014. 124 p.

OFICINA DE LAS NACIONES UNIDAS CONTRA LA DROGA Y EL


DELITO (UNODOC). Clasificación internacional de delitos con
fines estadísticos. Viena, 2015. Disponível em: https://www.
unodc.org/documents/dataand-analysis/statistics/crime/ICCS/
ICCS_SPANISH_2016_web.pdf. Acesso em: 26 nov. 2019.

PEIXOTO, B.; SOUZA, L. G. de; LIMA, R. S. de. Uma análise


sistêmica: vitimização e políticas de segurança em São Paulo.
2018. Disponível em: https://www.insper.edu.br/wp-content/
uploads/2018/09/Peixoto_Godinho_Lima_2011.pdf. Acesso em:
03 out. 2019.

TOBAR, F. S. Tendências Criminais sul-americanas em


perspectiva comparada. Revista Brasileira de Segurança
Pública, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 88-109, 2015.

72 • Módulo 2 Sistema de Informação em Segurança Pública


MÓDULO 3

DESENVOLVIMENTO
DE SISTEMAS DE
INFORMAÇÃO EM
SEGURANÇA PÚBLICA
73 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública
Apresentação

Antes de iniciarmos este estudo, convidamos você a refletir


sobre as seguintes questões: você já ouviu falar sobre os
indicadores de criminalidade? Você conhece como as fontes de
informação são utilizadas na produção de estatísticas? Neste
módulo você vai conhecer as diretrizes e o manual que foi a
fonte de inspiração da equipe que elaborou o Sistema Nacional
de Estatísticas de Segurança Pública (SINESP).

Também vamos identificar os indicadores sociais de


criminalidade e reconhecer sua importância para a
sistematização de políticas de segurança pública, além de
compreender a funcionalidade das fontes de informação na
coleta de dados reais sobre criminalidade. Preparado(a) para
esse desafio? Então, vamos lá!

OBJETIVOS DO MÓDULO
Conhecer a proposta da ONU, segundo o Manual para
Desenvolvimento de Sistemas de Estatística de Justiça
Criminal. Também buscaremos identificar os indicadores
sociais de criminalidade e reconhecer sua importância para
a sistematização de políticas de segurança pública, além
de enumerar e entender a funcionalidade das fontes de
informação de segurança pública.

ESTRUTURA DO MÓDULO
Neste módulo serão abordados os seguintes temas durante
nossas aulas:
• Aula 1 – Proposta das Organizações das Nações Unidas (ONU).
• Aula 2 – Indicadores sociais de criminalidade.
• Aula 3 – Fontes de informação de segurança pública e
justiça criminal no Brasil.
• Aula 4 – Pesquisas de vitimização.

74 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Aula 1 — Proposta das Organizações das
Nações Unidas (ONU)

CONTEXTUALIZANDO
O Manual para o desenvolvimento de um sistema de estatísticas
em justiça criminal da ONU editado em 2003 serviu como fonte
para nortear a equipe técnica da Secretaria de Segurança
Pública na construção do Sistema Nacional de Estatísticas de
Segurança Pública (SINESP). Importante relembrar que um dos
principais pontos discutidos neste manual foi a importância
de se definir de forma clara os propósitos para estabelecer as
informações que precisam ser coletadas e sistematizadas.

Assim, nesta aula você vai conhecer as diretrizes que


embasaram a construção de um sistema de estatística
que possa garantir a correta implantação do sistema e sua
institucionalização como política de Estado.

MANUAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE


UM SISTEMA DE ESTATÍSTICAS
No ano de 2003, o Departamento de Assuntos Econômicos
e Sociais das Nações Unidas divulgou o Manual for the
Development of A System of Criminal Justice Statistics
(DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, 2003) –
Manual para o desenvolvimento de um sistema de estatísticas
em justiça criminal (em tradução livre).

Saiba mais


Conheça na íntegra o Manual para o desenvolvimento de um
sistema de estatísticas em justiça criminal da ONU: https://
unstats.un.org/unsd/publication/SeriesF/SeriesF_89E.pdf

Esse manual traz algumas considerações de extrema


importância para aqueles que se dedicarem à difícil tarefa de

75 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


desenvolver sistemas de estatística em segurança pública.
O manual foi uma das fontes principais que norteou a equipe
técnica da SENASP na construção do Sistema Nacional
de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Criminal
(SINESPJC), atualmente agregado à solução SINESP.

Um dos principais pontos discutidos é a


importância de se definir de forma clara os
propósitos e usos para o sistema. A identificação
dos propósitos é fundamental para estabelecer
as informações que precisam ser coletadas e
sistematizadas.

Mesmo sem todas as informações disponíveis, é preciso


deixar bem estabelecido uma perspectiva de futuro, para
direcionar ações de evolução que venham a ocorrer no
processo de coleta de informações.

A importância do uso da estatística no planejamento


Além de discutir algumas questões fundamentais no
que tange aos usuários e requisitos de gestão (como a
importância do uso de estatísticas para o planejamento de
ações melhores no campo da justiça e segurança pública),
o manual elaborado pelo Departamento de Assuntos
Econômicos e Sociais da ONU também descreve uma lista
de condições necessárias a um sistema de estatísticas em
justiça criminal para que este seja funcional (DEPARTMENT
OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, 2003, p. 2-5).

De acordo com a sua utilização, estatísticas em justiça


criminal devem considerar alguns princípios para que seja
funcional. Tais princípios consideram a função e a maneira que
utilizamos as informações contidas nos estudos estatísticos.
Vamos a cada um desses princípios:

76 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Orientação ao Usuário
As estatísticas não representam um fim em si, elas existem
como insumos informacionais para a tomada de decisão.

Contexto
Como as estatísticas não representam um fim em si, também
não são muito úteis se utilizadas de maneira não relacionada,
elas são mais úteis quando estão contextualizadas.

Na Prática
Pense que, durante um determinado mês, morreram 5.000

 pessoas vítimas de crime. Esse número é alto? Baixo? Nem


alto, nem baixo? Para responder a essas questões, o que
precisamos levar em conta?

Nessa simulação, precisamos saber em qual espaço


geográfico aquelas mortes aconteceram (5.000 mortes por
crime durante um mês no planeta inteiro não é um número alto,
mas, se for somente na sua cidade, é altíssimo).

O número de mortes naquele mesmo espaço, mas no mês


anterior e/ou no seguinte, quem sabe no mesmo mês do ano
anterior, nos indicará se o número aumentou ou diminuiu
etc. Portanto, tudo isso nos diz mais do que o número solto,
descontextualizado, por isso é essencial levar em conta a
realidade e o contexto.

Para que o gestor e sua equipe possam fazer seu


planejamento, as estatísticas precisam ser disponibilizadas
como suporte na tomada de decisões.

Informações Oportunas
Estatísticas permitem tomadas de decisão melhor embasadas,
desde que sejam produzidas em momento adequado.

77 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Na Prática
Vamos supor que, após o encerramento de um jogo de futebol,
90% das vezes que as torcidas dos times rivais deixaram o estádio

 ao mesmo tempo houve violência generalizada entre grupos.Para


você, o que representa essa informação? De que forma esse dado
pode auxiliar a equipe numa próxima intervenção que garanta a
segurança nos campos de futebol?

Com base na situação anterior, o acesso a essas informações


envolve a garantia da segurança dos dados. Dessa forma,
esse dado precisa ser produzido antes, para ser utilizado
quando os tomadores de decisão estão planejando o
policiamento para o jogo.

Programa Estatístico Confiável


Outra questão a ser considerada na formulação de estratégias
envolve a confiabilidade das informações. Esse pressuposto
parece óbvio, mas possui elementos que precisam ser
conhecidos. Para ser confiável, um programa de coleta de dados
deve ser capaz de manter o engajamento dos colaboradores.
Uma forma de se obter isso é justamente disponibilizando
informações úteis, imparciais, objetivas e técnicas. Assim, cria-
se uma rotina de alimentação-utilização-alimentação-utilização,
com vistas a acrescentar solidez ao sistema de dados.

Planejamento e Gerenciamento
Produzir informações úteis é um processo dispendioso e
complexo, tanto em termos financeiros quanto de recursos
humanos. Se não for adequadamente gerido, tende a tornar-se
apenas um sumidouro de recursos.

Assim, ao considerarmos esses princípios, é possível


compreender com mais facilidade outras reflexões contidas no
manual do Departamento de Economia e Assuntos Sociais da
ONU, como as diretrizes do sistema de estatísticas criminais,
apresentado a seguir.

78 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Diretrizes necessárias para o sistema de
estatísticas criminais
O Manual do Departamento e Economia e Assuntos Sociais da
ONU destaca sete diretrizes necessárias para que um sistema
de estatísticas criminais seja adequadamente utilizado,
conforme os parâmetros acima discutidos.

• Comprometimento • Aperfeiçoamento
das partes dos programas
interessadas
Figura 1: Diretrizes • Recursos técnicos • Objetividade das
ONU para um e analíticos políticas e ações do
sistema de Estado
estatística criminal. • Sistema integrado
Fonte: Shutterstock • Clareza entre
(2019), adaptado • Serviços de segurança conteúdo e escopo
por labSEAD-UFSC
(2019).

Assim, vamos conhecer melhor o que aborda cada uma das


diretrizes apresentadas no manual da ONU para um bom
mapeamento estatístico do sistema criminal.

1) Obter o comprometimento das partes interessadas: as


partes interessadas também são chamadas de “stakeholders”
do sistema. São oficiais de governo, operadores de segurança
pública, a imprensa, pesquisadores e acadêmicos, a
população em geral.

2) Aperfeiçoamento contínuo dos programas: por mais que


um programa estatístico tenha sido previamente pensado
e planejado, ainda assim a sua utilização trará situações
imprevistas. Além destas, a utilização contínua de uma
ferramenta tende a apresentar novas necessidades e/ou
possibilidades de melhoria. O aperfeiçoamento constante,
não só sob o aspecto tecnológico, diminui as chances de uma
ferramenta cair em desuso rapidamente.

79 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


3) Manutenção da objetividade e neutralidade política da
ferramenta: instrumentos de mensuração estatística da
justiça criminal devem se configurar em ações de Estado, não
de governo. Isso quer dizer que, mesmo que a solução seja
elaborada por um determinado governo, ela deve ser tão objetiva
quanto possível, livre de vieses ideológicos, para que tenha maior
durabilidade e confiabilidade.

4) Uso de recursos técnicos e analíticos de maneira eficaz: na


utilização de dados estatísticos para a promoção adequada
de justiça, é essencial que duas vertentes técnico/analíticas
estejam alinhadas: de um lado, é fundamental que os dados
brutos, obtidos de maneira fragmentada pelas unidades
finalísticas, sejam analisados por especialistas – criminólogos,
vitimologistas, analistas de segurança pública etc. Em paralelo, é
igualmente importante que estejam disponíveis o que de melhor
houver em termos de tecnologia de coleta, armazenamento,
análise e publicação de dados.

5) Clareza entre conteúdo e escopo: para a adequada


utilização de um sistema de estatísticas criminais, é preciso
também garantir que os dados coletados sejam capazes de
informar o que se deseja. É imprescindível que exista uma
lógica entre os objetivos do sistema (isto é, seu escopo) e as
fontes com as quais trabalha. Sem isso, o programa induzirá à
tomada de decisões inadequadas, bem como a uma percepção
errônea da realidade.

6) Abordagem integrada: dados produzidos por um órgão


ou instituição sobre determinado objeto devem poder ser
comparados com aqueles produzidos por outros entes sobre o
mesmo assunto. No cenário brasileiro, órgãos distintos produzem
informações sobre mortes violentas intencionais – o Ministério
da Saúde, através do DATASUS, e o Ministério da Justiça e
Segurança Pública, através do Sinesp. Essas informações se
referem ao mesmo objeto, devendo ser possível compará-las e
analisar as causas de possíveis disparidades, a fim de prover um
entendimento mais sólido e completo da realidade.

80 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


7) Manutenção do aspecto público do sistema: um programa
de estatísticas de justiça criminal visa, em última instância,
o oferecimento de serviços de segurança e justiça melhores
à população, através de tomadas de decisão e planejamento
mais consistentes, confiáveis e técnicas.

De acordo com o pressuposto discutido sobre a confiabilidade


de um programa estatístico, a publicidade de dados
estatísticos confiáveis retroalimenta a sua adequada
utilização, aumenta continuamente a sua própria confiabilidade
e o blinda contra ingerências políticas de Estado.

Por fim, também fica claro que, para garantir a correta


implantação do sistema e sua institucionalização como
fonte qualificada, objetiva e permanente de informações, é
necessário estabelecer e difundir da forma mais clara possível
todos os processos de coleta, processamento, análise e
divulgação de informações.

81 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Aula 2 — Indicadores Sociais da
Criminalidade

CONTEXTUALIZANDO...
Atualmente, no Brasil, no campo da formulação de políticas
públicas voltadas à prevenção da criminalidade, observa-se
que o acesso aos indicadores sociais é deficitário, apesar
do esforço de diversas instituições em disponibilizar novos
conteúdos e informações a partir de seus cadastros.

Assim, nesta aula, você vai compreender como os dados


administrativos e das estatísticas públicas podem ser
transformados em indicadores sociais, reconhecendo as
etapas no processo de construção, sistematização, análise e
divulgação das informações.

INDICADORES SOCIAIS
O estudo dos indicadores é fundamental para análises sociais e
na implementação de políticas públicas na sociedade. As buscas
de informações confiáveis contribuem para o planejamento
público das atividades, auxiliando ainda na formulação de
políticas sociais nas diferentes esferas de governo.

Importante salientar que a política de segurança


pública considera, na sua elaboração, a atuação das
atividades tipicamente policiais. Já a política pública
de segurança engloba as ações governamentais e não
governamentais decorrentes do impacto dos problemas
sociais referentes à criminalidade e à violência.

O estudo de uma política pública de segurança implica


o enfrentamento da tensão decorrente dos indicadores
sociais e a necessidade de práticas investigativas objetivas e
comprometidas com a redução da criminalidade.

82 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Nesse sentido, é por meio do uso de indicadores sociais
que o poder público pode monitorar as condições de vida e
bem-estar da população e da sociedade civil. Não obstante,
os indicadores permitem o aprofundamento da investigação
acadêmica sobre a mudança social e sobre os determinantes
dos diferentes fenômenos sociais (JANNUZZI, 2005). Segundo


Januzzi, os indicadores podem ser definidos como:

Medidas usadas para permitir a operacionalização de


um conceito abstrato ou de uma demanda de interesse
programático. Os indicadores apontam, indicam,
aproximam, traduzem em termos operacionais as
dimensões sociais de interesse definidas a partir de
escolhas teóricas ou políticas realizadas anteriormente.

(JANNUZZI, 2005, p.138).

Em outras palavras, indicadores sociais são dados estatísticos


contextualizados por um aporte teórico/acadêmico ou
programático que possibilita a leitura dos cenários que
envolvem a criminalidade e as intervenções necessárias
conforme a realidade mensurada.

Nesse sentido, cabe resgatar que, como você estudou


anteriormente, o aumento das taxas de criminalidade e da
sensação de insegurança da população condicionam políticas
públicas direcionadas ao combate e prevenção de eventos
violentos. A isso equivale dizer que as taxas de criminalidade,
por exemplo, são indicadores sociais, cuja mensuração
direciona as políticas de segurança.

83 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Figura 2: Indicadores
sociais e estatísticos.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado por
labSEAD-UFSC (2019).

Ao definir a área da segurança pública como uma demanda


fundamental de interesse programático, buscamos, então, o
delineamento das dimensões, dos componentes e das ações
operacionais vinculadas.

Para o acompanhamento dessas ações, os dados


administrativos e estatísticas públicas são transformados em
indicadores sociais quando reorganizados na forma de taxas,
proporções, índices ou mesmo em valores absolutos.

O sociólogo Túlio Kahn (2005) nos diz que, no campo da


formulação de políticas públicas voltadas à prevenção da
criminalidade, a construção de indicadores sociais específicos
e de sistemas de informações criminais pode atender a
diferentes finalidades, conforme apresentadas a seguir:

FINALIDADES

• Aperfeiçoar a eficiência dos órgãos de justiça criminal por


meio da partilha e da troca de informações, trazendo como
benefícios a velocidade, acuidade e redução dos custos
administrativos do sistema.

84 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


• Providenciar informação sobre o histórico criminal de
suspeitos para a polícia e para o Ministério Público e Justiça.

• Providenciar estatísticas com finalidades operacionais e


administrativas.

• Eliminar trabalho redundante e aumentar a qualidade da


informação.

• Possibilitar a emissão de certificados de bons antecedentes,


licenças e permissões para compra de armas, concursos
públicos e empregos.

• Manter um acervo de dados históricos para propósitos de


pesquisa.

• Desenvolver banco de dados com informações sobre


pessoas desaparecidas, veículos e bens roubados para o
compartilhamento entre os órgãos públicos como: polícia
comunitária, empresas de segurança, seguradoras, mídia e
público em geral.

Figura 3: Finalidade Como pode ser observado, são múltiplas as possibilidades


de uso dos de uso de indicadores sociais de criminalidade. Entre elas, o
indicadores sociais.
Fonte: labSEAD- aperfeiçoamento das trocas de informações entre os órgãos de
UFSC (2019).
justiça, além da criação de um sistema de informações criminais
centralizado por meio de banco de dados compartilhados, com o
intuito de integrar o sistema de justiça, com o objetivo de que as
estatísticas e as informações possam auxiliar no planejamento
para as intervenções no sistema de segurança pública.

85 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Não esqueça: para que a construção de um sistema
de informações criminais atenda aos objetivos
determinados, é necessário estar atento a um
conjunto de propriedades desejáveis que definirão
a tipologia mais adequada dos dados a serem
coletados e sistematizados.

Para Jannuzzi (2005), a seleção dos dados selecionados para


análise dos indicadores envolve uma série de propriedades
que devem ser consideradas para que possam ser feitas as
escolhas das informações que serão mais adequadas sobre os
dados trabalhados, independentemente da área temática ou do
objetivo para o qual eles possam ser direcionados.

Veja, a seguir, as propriedades mais expressivas relacionadas às


informações criminais e administrativas de segurança pública.

RELEVÂNCIA
• A primeira qualidade que devemos priorizar em um
sistema de avaliação e formulação de políticas públicas
é a relevância dos indicadores escolhidos para a agenda
político-social.
• Exemplo: Para avaliar a incidência criminal no país é
relevante o acompanhamento sistemático das taxas de
homicídio e de delitos, como assalto e furto nas UFs.

VALIDADE
• A validade das informações coletadas é necessária para
dispormos de medidas que se aproximem ao máximo da
realidade que se pretende diagnosticar.
• Exemplo: Para acompanhar os níveis de violência, é
mais válido coletar informações sobre taxas de homicídio
que saber qual o número de policiais por habitante.

86 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


CONFIABILIDADE
• A confiabilidade diz respeito ao quão confiável é
determinado indicador para se registrar aquilo que se
espera conhecer.
• Exemplo: Para mensurar o nível de violência em uma
comunidade, ainda que os números de morte violenta
pareçam constituir um indicador confiável, temos que
ter em mente que outras ocorrências violentas (como
agressões domésticas) não serão mapeadas, tornando o
indicador pouco confiável.

COBERTURA TERRITORIAL
E POPULACIONAL
• Os indicadores de boa cobertura territorial e
populacional precisam ser representativos em relação à
realidade empírica em análise.
• Exemplo: Pesquisas que têm por finalidade o
levantamento das informações sobre os recursos
materiais disponíveis, os dados acerca do efetivo e sua
valorização, informações de âmbito administrativo e de
rotina das organizações que visam obter um diagnóstico
Figura 4: território-populacional mais amplo são realizadas pela
Propriedades Secretaria Nacional de Segurança Pública, as pesquisas
das informações
criminais e anuais dos perfis organizacionais de diferentes agências
administrativas.
de segurança pública do país, entre elas estão as Polícias
Fonte: labSEAD-
UFSC (2019). Civis, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.

Encontramos também outras características dos indicadores


que são relevantes no momento de escolha e análise dos dados.
São elas: a transparência metodológica, comunicabilidade,
periocidade, comparabilidade, realidade empírica e diagnostico
organizacional, conforme descritas a seguir.

• Transparência metodológica: outra característica


fundamental à legitimidade de qualquer indicador e
pressuposto básico de boa prática em pesquisa social é a

87 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


transparência metodológica, que consiste na explicitação
das escolhas realizadas em todas as etapas do processo
de construção, sistematização, análise e divulgação das
informações. Esse é um atributo indispensável na medida em
que garante a credibilidade das informações a serem utilizadas.

• Comunicabilidade: a divulgação das informações coletadas


é outra propriedade também importante, cujo objetivo é a
garantia da transparência das decisões técnicas tomadas
pelos administradores públicos e a compreensão delas por
parte da população, dos jornalistas, dos representantes
comunitários e dos demais agentes públicos.

• Periodicidade: a periodicidade com que o indicador é


coletado também é outro atributo fundamental, visto que a
garantia de atualização das informações permite a formulação
de projeções e a construção de uma série histórica para
acompanhamento regular do objeto de interesse. Essa
periodicidade é uma das grandes limitações do sistema
estatístico brasileiro.

• Comparabilidade: a comparabilidade do indicador ao longo


do tempo é uma característica desejável, pois permite a
inferência de tendências e a avaliação de efeitos de eventuais
programas sociais implementados. O ideal é que as cifras
passadas sejam compatíveis do ponto de vista conceitual e
com confiabilidade similar à das medidas mais recentes, o
que nem sempre é possível. Afinal, também é desejável que
a coleta dos dados melhore ao longo do tempo, seja pela
resolução de problemas de cobertura espacial e organização
da logística de campo, seja pelas mudanças conceituais que
ajudem a precisar melhor o fenômeno social em questão.

• Realidade empírica: ainda que alguns possam julgar esse


critério como algo óbvio, é bastante importante destacá-lo.
Ao se referir à realidade empírica de um indicador, Jannuzzi
(2005) remete à necessidade de um indicador dizer respeito
à realidade que ele afirma mensurar. Imagine que se queira

88 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


saber sobre a evolução dos índices de violência numa
determinada comunidade. Nesse sentido, dados como volume
de ocorrências registradas ou de denúncias recebidas pelos
órgãos policiais têm maior adesão à realidade empírica do
que, por exemplo, a quantidade de cristãos praticantes naquela
comunidade, mesmo que exista certa relação dogmática entre
o cristianismo e uma cultura de paz.

• Diagnóstico organizacional: constitui-se num método de


levantamento e análise do funcionamento de uma organização
pública ou privada. Pode-se demonstrar os pontos fortes e fracos
da gestão e de sua produção, identificando as deficiências e
os desequilíbrios, com vistas à elaboração de um programa de
reorganização e à facilitação da tomada de decisões.

De acordo com as características apresentadas, cada uma dela


representa uma etapa essencial no processo de construção,
sistematização, análise e divulgação das informações.

Saiba mais
Se você quiser aprofundar o tema sobre as estatísticas
criminais no Brasil, acesse o Banco de Dados do Sinesp,
que mantém em suas bases as informações nacionais de

 segurança pública, disponibilizado no link a seguir.


https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/
sinesp-1/bi/dados-seguranca-publica

Em conformidade com as características do sistema de


produção de estatísticas públicas, no Brasil é muito raro
dispor de indicadores sociais que atendam plenamente todas
essas propriedades.

89 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


O importante é que a escolha dos indicadores seja
fundamentada na avaliação crítica das propriedades
anteriormente discutidas, e não simplesmente na
tradição de uso deles.

Dessa forma, há um esforço significativo de diversas


instituições em disponibilizar novos conteúdos e dados a
partir de seus cadastros, visto que tais informações podem ser
usadas para a construção de novos indicadores sociais.

90 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Aula 3 — Fontes de Informação de
Segurança Pública e Justiça Criminal
no Brasil

CONTEXTUALIZANDO
A busca de fontes de informações confiáveis torna-se
relevante para a efetiva compreensão dos fenômenos sociais
relacionados aos índices da criminalidade.
Por conta disso, durante nossa aula, vamos abordar a
perspectiva da pesquisa social, considerando as informações
socioeconômicas como meios para complementar as bases
de dados oficiais, com o intuito de não comprometer a
consistência dos bancos de dados do sistema de segurança
pública e da justiça criminal no Brasil.

A PESQUISA SOCIAL E A INCIDÊNCIA


CRIMINAL
Do ponto de vista da pesquisa social, há uma percepção
bastante difundida entre os criminólogos de que apenas as
informações administrativas de agências de segurança pública
não são suficientes para a compreensão dos fenômenos
relacionados à incidência criminal ou à violência.

Saiba mais
O criminólogo atua de forma a ajudar tanto no descobrimento de
uma ação criminosa como também a prevenir que ela aconteça.
Além de elaborar teorias e hipóteses sobre o aumento de um


determinado delito, é responsável por encaminhar esse tipo de
informação a quem elabora a política criminal. Para conhecer
a complexa tarefa dessa função, leia o artigo “Criminólogo: sua
importância e área de atuação”, disponível em:
https://maxsonluiz.jusbrasil.com.br/artigos/600951822/
criminologo-sua-importancia-e-area-de-atuacao.

91 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Portanto, a análise dos fenômenos sociais envolve o
procedimento racional e sistemático, que tem como objetivo
proporcionar respostas aos problemas que são propostos.
A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos
conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de
métodos, técnicas e outros procedimentos científicos ao
longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde
a adequada formulação do problema até a satisfatória
apresentação dos resultados.

Métodos
Fenômeno Social Científicos

Pesquisa

Figura 5: Análise de Resultados


indicadores sociais
para a investigação
criminal. Fonte: Problema
Técnicas
Shutterstock Social
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

Para uma visão efetivamente compreensiva dos fenômenos


relacionados a um problema social, Kahn (2005) enfatiza
que é necessário estar atento para as condições gerais de
vida da população.

Kahn (2005) observa que o nível socioeconômico é um fator


explicativo significante para a preponderância de eventos

92 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


criminais específicos em determinadas localidades, muito
embora a explicação de sua distribuição seja bastante complexa.

Palavra do Especialista
Os estudos do sociólogo Túlio Kahn (2005) apontam que a
atuação da administração municipal, ao adotar mecanismos
de gestão da segurança pública, por meio do Plano Municipal
 de Segurança, Conselho Municipal de Segurança, Fundo
Municipal de Segurança, Secretaria Municipal de Segurança
Pública e Guarda Municipal contribuem para potencializar e
diminuir os índices de criminalidade.

Segundo a pesquisa dos estudos criminológicos realizada por


Kahn (2005), referente ao papel dos municípios na segurança
pública em diversos bairros da cidade de São Paulo, a
distribuição espacial dos homicídios encontrava uma forte
associação com o baixo nível socioeconômico local, assim
como também se observou que a maior ocorrência de crimes
contra o patrimônio estava situada em bairros em que os
moradores apresentavam uma renda média bastante elevada.

Lima (2000) refletiu sobre a associação dos índices de


homicídios com o baixo nível socioeconômico local,
apresentando a relação problemática dos conflitos e a


expectativa social de solução dos problemas. Segundo o autor:

“Em um turbilhão de tensões e carências da


paisagem urbana, os conflitos que resultam em morte
estariam inseridos numa lógica (informada de forma
multifacetada) que opera simbolicamente o imaginário
social de como estes deveriam ser resolvidos. Abre-se
mão, ou talvez, abandona-se a legitimidade do Estado
como o meio mais eficaz de mediação e resolução de
conflitos. [...] Emblemática desta situação, a falência
gerencial pela qual passa a cidade provoca rupturas

93 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


importantes na forma como o indivíduo vê o seu entorno
e como ele constrói suas relações sociais. Nesse
processo, a vida perde seu valor moral e a morte violenta

passa a ser a linguagem corrente.” (LIMA, 2000, p. 103).

Diante do cenário apresentado pelo autor, podemos observar a


necessidade de ser ter, tanto quanto possível, bancos de dados
sobre criminalidade que estejam agregadas informações
socioeconômicas das populações locais e da infraestrutura
urbana. Geralmente esses bancos são compostos por dados
administrativos policiais, como registros de ocorrências.

FONTE DE INFORMAÇÕES DE
SEGURANÇA PÚBLICA
Os dados frequentemente trabalhados em sistemas de justiça
criminal referem-se ao uso de dados policiais (ou ainda do
Ministério Público e da Justiça ou do sistema prisional) para
fins de administração dos procedimentos de rotina.

Além dos sistemas de justiça, outras fontes de informações


também são utilizadas para coletar dados que alimentam o
sistema de justiça criminal, como por exemplo as bases de
dados das polícias civis e militares, que veremos seguir.

BASES DE DADOS

Base Polícia Militar


Os registros da Polícia Militar
incluem crimes e ocorrências
Base Polícia Civil
diversas, mas não abrangem
Registra sobretudo crimes;
o conjunto total de crimes
contudo, deixa de registrar
e, portanto, não podem
uma gama de incidentes
ser usados como base
que perturbam a segurança
exclusiva de um sistema de
pública e não chegam a ser
informação criminal. Servem,
tipificados.
Figura 6: Bases de sobretudo, como informação
dados. relevante para o desempenho
Fonte: labSEAD-
da própria corporação.
UFSC (2019).

94 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


As bases podem não conter todas as informações necessárias
para a avaliação de políticas públicas de segurança ou
programas particulares. Em função disso, é preciso pensar
criativamente sobre a utilização de outras possíveis fontes
de dados para complementar ou checar as informações
fornecidas pelas bases de dados oficiais.

Em geral, essas informações não são direcionadas


especificamente para o uso na área de gestão. Assim,
informações sociodemográficas dos infratores ou
demandantes de serviços de justiça criminal raramente são
levantadas, comprometendo-se a viabilidade de análises mais
consistentes de tais bancos de dados.

Note que, em vista das características dos dados gerados pelas


polícias, há a necessidade de fontes alternativas para contrastar
os registros da polícia. Por causa da subnotificação, chamada
“cifra negra”, e de outros problemas, é fundamental contar com
fontes alternativas para comparar os dados da polícia.
Cifra negra refere-
se à porcentagem
de crimes não Uma vez que a subnotificação impede a afirmação precisa
solucionados da extensão e dos efeitos da criminalidade no Brasil,
ou punidos, à prejudicando, inclusive, a ciência estatística, ela mascara a
existência de um
significativo número
realidade e reduz a qualidade da intervenção da segurança
de infrações penais pública no combate e prevenção da criminalidade decorrente
desconhecidas da obscuridade dos dados.
“oficialmente”.

95 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Aula 4 — Pesquisas de Vitimização

CONTEXTUALIZANDO
Pensar na vitimização no contexto da segurança pública requer
trazer à nossa discussão especialmente os dados reais sobre
a criminalidade. Esses são usualmente coletados por meio de
amostragem de populações que foram ou não vítimas de violência.

Nessa aula, vamos conhecer a importância dos dados


referentes aos crimes ocorridos em diferentes áreas e as
pessoas expostas à criminalidade como questões fundamentais
para o planejamento e gestão em segurança pública.

PESQUISA DE VITIMIZAÇÃO NO
CONTEXTO DA SEGURANÇA PÚBLICA
A pesquisa de vitimização consiste em uma série de perguntas
feitas a pessoas escolhidas em sorteio para representarem
a população, sobre terem ou não sido vítimas de algum tipo
de crime. Esse tipo de pesquisa visa ajudar o planejamento
em segurança pública, fornecendo dados reais sobre a
criminalidade e a violência, principalmente aqueles não
captados pelos registros policiais.

Neste sentido, serve tanto para indicar crimes ocorridos, áreas


e pessoas mais expostas quanto para minimizar e entender a
subnotificação de crimes.

Figura 7: Policial
em uma entrevista
com uma vítima.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

96 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


A primeira tentativa de se medir a incidência de crimes com
base em entrevistas domiciliares foi feita nos Estados Unidos,
na década de 1960. O National Crime Survey (“Pesquisa
Criminal Nacional”, em tradução livre), posteriormente batizado
de National Crime Victimization Survey (NSVS) (“Pesquisa
Nacional de Vitimização ao Crime”, em tradução livre), foi
proposto em 1965 por uma comissão presidencial como
um instrumento que permitiria examinar as causas e as
características do crime nos EUA. Ainda em atividade, a NCVS
possui séries históricas desde 1973.

Saiba mais

 Para saber mais sobre a National Crime Victimization Survey,


acesse: www.bjs.gov/index.cfm?ty=dcdetail&iid=245

Anos depois, as pesquisas de vitimização foram disseminadas


mundialmente e consagraram-se como um instrumento
importante de investigação criminológica e como ferramenta
para o desenho de políticas.

No Brasil, a primeira pesquisa de vitimização realizada em


âmbito nacional foi empreendida pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), no suplemento da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1988.
Depois disso, o IBGE empreendeu outra pesquisa nacional de
vitimização, também como suplemento da PNAD, no ano de
2009. É fato constatado que as pesquisas de vitimização são
ainda bastante precárias no Brasil.

Conheça, a seguir, outros exemplos de pesquisas de


vitimização empreendidas no Brasil.

Pesquisa de vitimização do ILANUD


Foi desenvolvida em 2002, a partir da parceria entre o Instituto
Latino Americano das Nações Unidas (ILANUD), o Gabinete
de Segurança Institucional da Presidência da República, a

97 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Fundação Instituto de Administração (FIA) e a Universidade de
São Paulo (USP). É representativa para os municípios de São
Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Vitória.

O Instituto Latino-Americano para a Prevenção do


Delito e Tratamento do Delinquente (ILANUD) é uma
organização internacional de defesa dos direitos
humanos. No Brasil, a instituição faz pesquisa
e difusão do conhecimento na área da justiça
criminal, atua junto a Secretaria da Administração
Penitenciária do Estado de São Paulo, em convênio
com o Ministério da Justiça.

A pesquisa procurou caracterizar o perfil das vítimas e


especificar quais foram os locais e as circunstâncias dos
crimes, além de questionar os entrevistados a respeito da
percepção deles sobre a violência (INSPER, 2018).

Pesquisa de vitimização do INSPER


Desenvolvido pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (INSPER),
o estudo de vitimização toma como base pesquisas
domiciliares com 2.967 pessoas na cidade de São Paulo.

Saiba mais
Em 2018, o Instituto de Ensino e Pesquisa incorporou novos
tipos de ocorrências, como questões sobre assédio sexual, o
uso de novas tecnologias e agressões online, além de alguns


tipos de estelionato relacionados a aplicativos de smartphones
ou crimes disparados por aplicativos e redes sociais.
Para conhecer detalhadamente as estatísticas criminais,
acesse o Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo
– 2018, no link a seguir: https://www.insper.edu.br/wp-content/
uploads/2018/11/Relatorio-Pesquisa-Vitimizacao-SP-2018.pdf

98 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Entre as ocorrências apuradas pelo INSPER, destacamos os
levantamentos dos sete tipos, como: roubo à pessoa, furto à
pessoa, roubo e furto à residência, roubo e furto de veículo e
agressão física (PEIXOTO; SOUZA; LIMA, 2018).

Pesquisa de vitimização do CRISP/UFMG


Foi desenvolvida nos anos de 2001, 2003 e 2006, pelo
Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da
Universidade Federal de Minas Gerais (CRISP/UFMG).
É representativa para o município de Belo Horizonte, no qual
foram entrevistadas 6.220 pessoas.

Saiba mais
Os homicídios constituem um problema amplo e grave no
Brasil. Vários determinantes estão supostamente associados ao

 crescimento e à magnitude dos homicídios nos grandes centros


urbanos. Conheça a Pesquisa Homicídios no Brasil – 2016, que
busca avaliar o impacto das políticas públicas, acessando o link:
http://www.crisp.ufmg.br/pesquisas/#homicidiosBrasil.

Dadas as questões referentes à subnotificação aos órgãos


de segurança pública das ocorrências criminais, Peixoto,
Souza e Lima (2018) apontam que algumas naturezas – como
homicídio e furto/roubo de veículos – devem possuir cifras
negras um tanto baixas, respectivamente pela dificuldade
de se esconder as evidências do delito e a necessidade de
acionamento de seguradoras por parte da vítima. Assim, por
meio de outras fontes paralelas, encontramos informações
que auxiliam o levantamento de dados reais. Veremos a seguir
alguns exemplos que podem fornecer esses dados.

Seguradoras
No caso de roubos e furtos de carros, os dados das
seguradoras são importantes para comprovar estatísticas.

99 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Figura 8: Furto
de carro sem a
presença da vítima.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

Se bem que as cifras absolutas nem sempre poderão coincidir,


pois nem todos os carros estão segurados.

IML e Ministério da Saúde


No caso dos homicídios, os dados dos institutos médico-
legais e do Ministério da Saúde têm sido geralmente de uma
confiabilidade superior aos da polícia, pela própria natureza
de sua produção e por estarem submetidos a uma crítica
mais detalhada.

Figura 9: Registros
do Instituto Médico
Legal. Fonte:
Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

100 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Contudo, os institutos médico-legais também apresentam
problemas, como a existência de uma categoria de mortes
violentas de intencionalidade desconhecida, que incluiria
homicídios, suicídios e mortes acidentais.

Em vista disso, para chegar a uma estimativa mais precisa,


é necessário submeter tal categoria a uma estimativa que
reclassifica uma parte dela como homicídio. Além disso, a
dificuldade maior para utilizar esses dados como indicadores
de segurança pública é a demora na sua difusão, justamente
devido ao tempo dedicado à crítica dos dados.

Na Prática
Uma pessoa sofre uma agressão muito violenta, de modo que,
no registro inicial na delegacia de polícia, foi caraterizada como
tentativa de homicídio. Porém, após um mês, essa pessoa morre

 em um hospital. Diante dessa situação, como será caracterizada


essa ocorrência após a morte da vítima? O boletim de ocorrência
inicial será retificado ou um novo será produzido? Na sua
realidade local, pesquise no seu estado ou município quais são as
fontes de informação de segurança pública utilizadas.

De qualquer forma, é muito importante que, mesmo com


um certo atraso (os dados de óbitos do Ministério da Saúde
podem demorar até dois anos para serem divulgados), tais
registros sejam comparados com os da polícia, para uma
visão mais detalhada e confiável dos fenômenos. Talvez a
fonte “alternativa” para complementar as bases de justiça
criminal seja o censo populacional nacional, efetuado a
cada certo número de anos.

Nesse sentido, o censo passa a assumir sua importância,


na medida que sem o dado populacional é impossível
calcular as taxas por 100 mil habitantes e fazer comparações
entre diferentes unidades administrativas ou acompanhar
tendências temporais.

101 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


Do mesmo modo, informações como a composição etária e
racial da população, as taxas de urbanização, de desemprego,
de migração, os indicadores de desigualdade na distribuição
de renda, as taxas de evasão escolar ou a composição das
famílias, entre outros fatores, são cruciais para a interpretação
precisa do significado das estatísticas criminais.

Além das fontes que você estudou até aqui, merecem ser
lembradas, entre outras, as fontes mais óbvias, como as
destacadas a seguir.

1 Agências de regulação de produtos controlados,


como armas, álcool ou drogas.

2 Agências regulatórias que fiscalizam instituições


bancárias ou de segurança.

3
Figura 10: Fontes
alternativas de Autoridades fiscais e alfandegárias.
informações para
análise estatística
de crimes. Fonte:
labSEAD-UFSC 4 Departamentos de segurança de instituições
privadas etc.
(2019).

O levantamento dos dados e relações entre as informações


criminais e administrativas de segurança pública podem ser
usados para a construção de novos indicadores estatísticos,
com o intuito de produzir conhecimentos consistentes
de índices de criminalidade que possam efetivamente
orientar no desenvolvimento de sistemas de informação em
segurança pública.

102 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


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Paulo. 2018. Disponível em: https://www.insper.edu.br/wp-
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Acesso em: 3 out. 2019.

ORGANIZAÇÕES UNIDAS (ONU). Instituto Latino-Americano


das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento
do Delinquente (Ilanud). 2012. Disponível em: http://
segurancahumana.com.br/ilanud-coplad/. Acesso em: 27
nov. 2019.

SHUTTERSTOCK. [S.l.], 2019. Disponível em: https://www.


shutterstock.com/pt/. Acesso em: 29 nov. 2019.

UNITED NATIONS. Department of Economic and Social Affairs.


Manual for the Development of A System of Criminal Justice
Statistics. New York: 2003. Disponível em: https://unstats.
un.org/unsd/publication/SeriesF/SeriesF_89E.pdf. Acesso em:
25 set. 2019.

104 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Laboratório
da Secretaria de Educação a Distância (labSEAD-UFSC).
Florianópolis, 2019. Disponível em: http://lab.sead.ufsc.br/.
Acesso em: 29 nov. 2019.

105 • Módulo 3 Desenvolvimentos de Sistemas de Informação em Segurança Pública


MÓDULO 4

SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES


DE SEGURANÇA PÚBLICA, PRISIONAIS,
DE RASTREABILIDADE DE ARMAS E
MUNIÇÕES, DE MATERIAL GENÉTICO, DE
DIGITAIS E DE DROGAS – SINESP

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


106 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Apresentação

Neste módulo, você irá conhecer em profundidade esse


sistema que é uma plataforma de informações integradas,
constando diversos sistemas de informação que fazem o
cruzamento de informações. Possibilitando, assim, consultas
operacionais, investigativas e estratégicas sobre segurança
pública, implementado em parceria com os entes federados.

Também vamos direcionar nosso estudo no planejamento e


implantação do sistema, bem como nas suas finalidades, na
coleta dos dados e nas soluções geradas pelo sistema.

OBJETIVOS DO MÓDULO
Conhecer o processo de construção do SINESP e seus
principais módulos/sistemas de coleta, análise e integração
de dados, bem como quem são as partes interessadas no
sistema (stakeholders) e as soluções disponibilizadas pelo
sistema atualmente.

ESTRUTURA DO MÓDULO
Neste quarto módulo você terá acesso às seguintes aulas:

• Aula 1 – Do planejamento e a implantação do SINESP.


• Aula 2 – Finalidades do SINESP.
• Aula 3 – As partes interessadas: stakeholders no SINESP.
• Aula 4 – Dados primários para a implantação do SINESP.
• Aula 5 – As soluções geradas pelo SINESP.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


107 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Aula 1 – Do Planejamento a Implantação
do SINESP

CONTEXTUALIZANDO...
Desde a sua criação, um dos principais objetivos da SENASP foi
gerir informações de segurança pública, visando à implementação
de ações e políticas públicas mais qualificadas na área.

Desde o ano de 2001, a SENASP vem desenvolvendo diversos


sistemas de informações gerenciais, que foram incorporados
ao longo de diversos governos, cada um com a finalidade de
resolver um problema em específico. Ora para resolver a coleta
de dados da Polícia Civil, ora para coleta de dados da Polícia
Militar, ora para informatizar e integrar as informações entre
os estados e ora para padronizar e tornar mais acessível um
grande volume de informações às partes interessadas nas
informações de segurança pública do país.

CRIAÇÃO DO SINESP PELA SENASP


A partir de 2012, foi criado o Sistema Nacional de Informações
de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas – SINESP,
através da Lei n. º 12.681/12. Importante destacar que
atualmente a designação da sigla não é mais esta, pois
houve a sua alteração através Lei n.º 13.675/18, conforme
visualizado a seguir.

Figura 1:
Implantação do
SENASP
SINESP (sistema)
pela SENASP
(instituição).
Fonte: Ministério
da Justiça e
Segurança Pública
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019)

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


108 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Dessa forma, a partir desse processo, iniciaram os projetos
para a coleta automatizada de dados e a integração dos
sistemas estaduais de registro de ocorrências policiais.

Para compreender melhor todo o processo evolutivo de


planejamento e implantação do SINESP, da maneira como ele
é hoje, é importante termos um breve histórico das etapas
de sua origem, desde a instalação do Sistema Nacional
de Estatística de Segurança Pública e Justiça Criminal
(SINESPJC), o qual possibilitou a coleta informatizada de
dados, até versão mais recente do SINESP, proveniente da Lei
n.º 13.675/18, com soluções mais atualizadas, integradas e
com maior capacidade de processar e realizar cruzamento de
grandes volumes de dados.

Breve histórico: do SINESPJC ao SINESP


Você sabia que, até o ano de 2004, o Ministério da Justiça
não possuía um sistema nacional informatizado de coleta
e análise de dados estatísticos sobre segurança pública e
justiça criminal? Sim! Até este ano os dados eram coletados
manualmente, embora a SENASP já viesse empregando
esforços na coleta de dados e informações de segurança
pública desde 2001, visando à implementação de ações e
políticas públicas mais qualificadas.

As informações disponíveis até 2004 não eram enviadas


periodicamente à SENASP devido à falta de clareza das
estatísticas informadas e também pela informalidade no
relacionamento entre a SENASP e os estados.

Identificadas essas falhas (falta de clareza e informalidade


no relacionamento), o primeiro passo foi desenvolver um
diagnóstico detalhado do sistema de coleta de dados
estatísticos existente na SENASP em relação à sua qualidade,
consistência interna e rendimento analítico.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


109 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Saiba mais
O SINESP atualmente possui um dicionário de dados disponível
para que os agentes de segurança pública possam consultá-lo
antes de registrar os crimes, a fim de padronizar nacionalmente

 a inserção de tipos penais da ocorrência (furto, homicídios


etc.). Para conhecer mais sobre esse sistema, acesse o site
do Ministério da Justiça, disponível em: http://dados.mj.gov.
br/dataset/sistema-nacional-de-estatisticas-de-seguranca-
publica/resource/fca1cb9b-1bfb-4090-bdca-5171ed3b9fa4

Para entender como os dados de criminalidade são ordenados,


veja a seguir os dois processos de coleta resultantes de
iniciativas independentes, porém complementares.

Figura 2: Processo REUNIR TRAÇAR


de coleta de INFORMAÇÕES PERFIL
informação do
SENASP. ocorrências criminais e das organizações
Fonte: labSEAD-
atividades policiais policiais
UFSC (2019).

O primeiro processo reúne informações sobre ocorrências


criminais e atividades policiais e o segundo traça o perfil
das organizações policiais brasileiras, referentes aos seus
tamanhos, características, formação de seus efetivos, seu grau
de modernização institucional e assim por diante.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


110 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Figura 3: Coleta
informatizada de
dados por meio do
SINESPJC.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

No ano de 2004, a SENASP implantou o primeiro sistema


informatizado de coleta de dados, o SINESPJC, que hoje é um
sistema incorporado como um dos módulos do SINESP.

No ano de 2004, a coleta informatizada de dados foi


direcionada às polícias civis e, a partir de 2006, foram inseridas
as coletas informatizadas nas polícias militares. Contudo, é
bom salientar que o SINESPJC apresentava alguns problemas,
identificados tanto na estrutura de coleta e análise de
informações da SENASP quanto nos sistemas estaduais de
produção de informações estatísticas.

Entretanto, atualmente o SINESP buscou eliminar ou pelo


menos reduzir as fragilidades que existiam no SINESPJC.
Entre as possíveis vulnerabilidades do sistema, foram
encontradas as seguintes:

• Precariedade da arquitetura da base de dados: a base


de dados era especificamente acrítica e não relacional,
dificultando o manuseio dos dados para averiguação da sua
qualidade e consistência.

• Falta de rotina nas etapas de gestão da informação:


não existia uma padronização na forma de envio das

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


111 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
informações para a SENASP e nos procedimentos adotados
pelos técnicos da SENASP em relação às situações
identificadas como imprevistas, o que impedia que se tivesse
uma noção precisa a respeito dos dados registrados.

• Subutilização dos dados processados: a falta de uma


política clara de análise e divulgação de informações
fez com que a SENASP funcionasse como um estoque
de dados que não eram analisados, ou seja, não existia
a preocupação de gerar informações úteis para o
planejamento de políticas públicas de segurança pública.

• Falta de padronização nos sistemas estaduais de


classificação de delitos: a existência de 27 sistemas
estaduais diferentes de classificação de delitos fez com que
fosse muito difícil criar uma uniformização dos conteúdos
informados nos relatórios estatísticos dos estados. Os
sistemas estaduais eram compostos de duas estruturas
independentes de codificação das ocorrências policiais
correspondentes às Polícia Civil e Polícia Militar, ou seja, não
havia uma padronização no preenchimento dos boletins de
ocorrências, o que dificultava o cruzamento das informações.

Logo que as fragilidades do SINESPJC foram identificadas


pelos técnicos da SENASP, tornou-se necessária a elaboração
de um projeto de desenvolvimento de sistema gerencial capaz
de superá-las. Foi dessa forma que surgiu o projeto deste novo
sistema gerencial: o SINESP.

Criado em 2012 pela Lei n.º 12.681, o SINESP sofreu algumas


alterações com a publicação da Lei n.º 13.675, de 11 de junho
de 2018, firmando-se como um dos meios e instrumentos para
a implementação da Política Nacional de Segurança Pública
e Defesa Social (PNSPDS), instituindo-se o Sistema Único de
Segurança Pública (SUSP).

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112 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Aula 2 – Finalidades do SINESP

CONTEXTUALIZANDO...
O SINESP foi planejado inicialmente com objetivo de gerar
alta confiabilidade nas informações por ele fornecidas.
Assim, para alcançar o resultado desejado, ficou claro que
desenvolver apenas um novo sistema informatizado não seria
suficiente. Era necessário ir mais além!

Por isso, foi indispensável pensar em um sistema com


parâmetros de coleta de dados úteis na geração de
informações e relatórios para uso na operação e tática policial,
e também para a gestão estratégica de políticas públicas.

Isso significou dizer que os parâmetros desse novo sistema


(SINESP) dependeriam, antes de tudo, de uma padronização
metodológica básica, que era a padronização dos campos
a serem preenchidos na coleta de dados dos boletins de
ocorrências em todos os 27 estados do país.

PARAMETRIZAÇÃO DO MODELO
NACIONAL DE COLETA DE DADOS
A parametrização, ou seja, os parâmetros mínimos a serem
preenchidos na coleta de dados, foi pensada inicialmente pela
SENASP em parceria com representantes de todos os estados
brasileiros, em uma reunião ocorrida em maio de 2012 no
Distrito Federal, em Brasília. Nessa reunião, os representantes
dos estados e do Distrito Federal definiram um modelo
nacional do Boletim de Ocorrência (BO), que apresentava
alguns campos e conteúdos mínimos padronizados a serem
preenchidos no documento.

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113 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Figura 4: Criação
de um Modelo
Nacional de Boletim
de Ocorrência (BO).
Fonte: Shutterstock
(2019).

Este novo modelo nacional do BO estabeleceu informações e


dados mínimos que qualquer Boletim de Ocorrência registrado
em delegacias ou postos policiais do país deveriam ter
preenchidos, tais como:

• Dados pessoais do comunicante.


• Tipo penal da ocorrência.
• Local da ocorrência.
• Data e hora da ocorrência.
• Descrição fato ocorrido.

Além dessas, algumas outras informações também foram


padronizadas, a fim de permitir a geração de relatórios mais
precisos sobre a dinâmica criminal. Dada a importância
do modelo de BO padronizado, sobretudo com o consenso
dos estados e pela relevância dos dados coletados para a
produção de relatórios estatísticos, a SENASP instituiu o
Boletim de Ocorrência como o instrumento inicial de coleta de
dados do SINESP.

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114 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Os registros como inquéritos policiais ou termos
circunstanciados de ocorrência seriam originados
dos boletins de ocorrência, tendo, assim, os mesmos
campos mínimos de preenchimento nos sistemas
federais e estaduais.

Como você pôde acompanhar, a criação do SINESP visava


atender às diretrizes fundamentais, tais como:

• Promoção da credibilidade, da integridade e da qualidade das


informações oficiais e, com isso, contribuir para reforçar a
confiança pública nos órgãos de segurança pública.

• Atuação na coleta, análise, atualização, sistematização,


integração e interpretação de dados, redes e informações
relativas às políticas de segurança pública, sistema prisional,
execução penal e enfrentamento ao tráfico de drogas.

• Disponibilização de estudos, de estatísticas, de indicadores


e de outras informações visando prestação de auxílio na
formulação, implementação, execução, monitoramento e
avaliação de políticas públicas.

• Democratização do acesso às informações institucionais,


administrativas e operacionais dos órgãos de segurança
pública, de forma que possibilitem o monitoramento e a
participação responsável dos cidadãos.

• Garantia da interoperabilidade, ou seja, operação entre os


sistemas, dos sistemas de dados e informações, conforme
os padrões estabelecidos nacionalmente.

• Atuação como um instrumento de gestão para o


planejamento, execução e avaliação de políticas de
segurança pública nacionais, regionais e locais, de forma

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


115 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
a possibilitar o aperfeiçoamento das políticas públicas
de segurança e o seu monitoramento responsável e
qualificado pelos operadores e dirigentes dos órgãos de
segurança pública e justiça criminal.

• Promoção, por meio da difusão da cultura do uso


operacional da informação, da melhoria constante dos
padrões de eficiência, eficácia e efetividade dos órgãos
de segurança pública e justiça criminal, assim como a
inovação desses órgãos.

• Promoção da elaboração de diagnósticos qualificados e


consistentes, buscando promover a excelência no campo
das informações e ampliar o universo do debate técnico
nas temáticas da segurança pública.

Com base no estudo da evolução dos sistemas de informações


criminais, desde a informatização de dados (SINESPJC) até
o SINESP (em sua versão atual), bem como a atuação da
SENASP no planejamento e na implantação do SINESP e ainda
as finalidades desse sistema, passaremos então ao estudo dos
stakeholders (partes interessadas) no SINESP.

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116 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Aula 3 – As Partes Interessadas:
Stakeholders no SINESP

CONTEXTUALIZANDO...
De acordo com o Dicionário Financeiro (2019), stakeholders
é um termo em inglês comumente utilizado para fazer
referência a todos os envolvidos ou interessados em um tipo
de processo, projetos ou resultado de uma empresa. Um dos
criadores do termo foi o filósofo Robert Edward Freeman.
Ele definia a palavra stakeholder como: grupos que poderiam
afetar ou serem afetados pelos objetivos da organização.

No nosso caso, que é a criação do SINESP, você saberia dizer


quem são os stakeholders na coleta, geração, fornecimento e
uso da informação? Nesta aula vamos conhecer quem são as
partes que produzem e/ou consomem informações direta ou
indiretamente relacionadas à segurança pública.

STAKEHOLDERS MAPEADOS NA
FORMULAÇÃO DO SINESP
Na formulação do SINESP, foram mapeados como stakeholders
tanto quem produz/gera/coleta ou fornece a informação na
área de segurança pública, como exemplo a própria SENASP,
ministérios, secretarias, ouvidorias, corregedorias, quanto os
usuários que consomem essas informações, como cidadãos,
policiais, formuladores de políticas públicas, mídias, entre outros.

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117 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Figura 5: Partes interessadas em informações de segurança pública.
Fonte: Shutterstock (2019), adaptado por labSEAD-UFSC (2019).

Assim, neste planejamento foi levado em consideração


diversos níveis de gestão e integração, como:

• Intergovernamental: realizado entre dois ou mais


governos/governadores. Como exemplo, temos o estado de
Santa Catarina com o estado de São Paulo.

• Intragovernamental: a gestão é realizada dentro do próprio


governo/órgão/entidade. Temos como exemplo a gestão da
União, Receita Federal, do Governo do DF etc.

• Multissetorial: é realizado entre setores diversos. Por


exemplo: o setor primário, secundário e terciário.

Observamos que esses níveis são agregados em três


dimensões básicas: planejamento, execução e avaliação.

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118 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Dessa forma, no planejamento do SINESP, foram identificados
os seguintes envolvidos potenciais, que fazem a coleta e
fornecem informações fundamentais para a implantação das
políticas e ações que envolver a segurança pública, conforme
apresentados a seguir:

Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP): acompanhamento


da implantação das políticas estaduais de segurança pública e do sistema
prisional de políticas sobre drogas.

Outros ministérios e outras secretarias: planejamento e acompanhamento


de áreas específicas, como: Ministério do Desenvolvimento Regional,
Ministério da Cidadania, Ministério da Saúde, Ministério da Educação,
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Secretarias estaduais de segurança pública, justiça e direitos humanos


ou equivalentes: diagnósticos para o planejamento de políticas
estaduais de segurança pública.

Organizações policiais e guardas municipais: processo de


planejamento e implantação das ações policiais e de defesa social.
PRODUTORES
E USUÁRIOS DE Ouvidorias e corregedorias: qualificação das iniciativas de controle dos
INFORMAÇÕES órgãos policiais.

Universidades, institutos e centros de pesquisa na área de


segurança pública: incrementar pesquisas desenvolvidas na área de
segurança pública.

Sistema Penitenciário: processo de planejamento e implantação das


ações na área do sistema penitenciário.

Poder Judiciário e Ministério Público: informações no monitoramento


e avaliação do fluxo de justiça criminal e construção de indicadores da
performance policial.

Sociedade civil: visa a participação nos debates sobre o planejamento


e implantação das políticas de segurança pública.

Figura 6 : Produtores e usuários de informações da segurança pública.


Fonte: Shutterstock (2019), adaptado por labSEAD-UFSC (2019).

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


119 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
É importante destacar que os envolvidos potenciais, além
de fazerem a coleta e fornecerem informações, também
as utilizam em alguns momentos, seja para produzirem
indicadores, formularem políticas públicas ou mesmo gerarem
novas informações.

O conhecimento de todas as partes envolvidas na geração


da coleta dos dados implica a utilização de informações
confiáveis para a área de segurança pública. Porém, é
importante entender também como é realizada a coleta de
informações primárias, as originadas dos estados para o
SINESP, que veremos na próxima aula. Fique atento!

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120 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Aula 4 – Dados Primários para a
Implantação do SINESP

CONTEXTUALIZANDO...
O SINESP foi desenhado considerando os interesses
políticos, o desenvolvimento tecnológico e os hábitos dos
seus usuários, levando em consideração realidades muito
diferentes de um estado para outro.

Consequentemente, o SINESP desenvolveu diferentes


módulos de coleta de dados primários, também conhecidos
pelos dados produzidos na fonte, tanto pelos estados
que já contavam com soluções tecnológicas e sistemas
próprios e decidiram permanecer com eles, como para
aqueles estados que não tinham muito recurso ou soluções
já prontas e decidiram implantar as ferramentas nacionais
disponibilizadas pelo SINESP.

ESTADOS QUE DECIDIRAM PERMANECER


COM SEUS PRÓPRIOS SISTEMAS
Em 2012, quando foi consolidado o SINESP, havia estados
com sistemas já consolidados e bem aceitos pelos usuários.

Alguns desses estados já possuíam os campos mínimos


do boletim de ocorrência padronizados em seus sistemas;
outros tinham alguns campos ainda para desenvolver, mas
cuja customização para se adequar ao modelo nacional seria
menos impactante ao usuário que a migração do sistema
todo para um novo sistema.

Para esses estados, o SINESP desenvolveu um módulo


chamado SINESP Integração.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


121 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
O SINESP Integração
Figura 7: SINESP se consolida como
Integração. uma grande base


Fonte: Shutterstock
(2019), Ministério de dados integrada
da Justiça e às bases estaduais
Segurança Pública
(2019), adaptado e federais por um
por labSEAD-UFSC serviço de webservice
(2019)
(serviço na web).

O SINESP Integração é uma espécie de “coração” do


SINESP, pois é o módulo/sistema responsável por
consolidar a base nacional de informações.

O SINESP integra em seu sistema a base de dados nacional


de interesse para segurança pública, replicando dados e
São os dados de informações de várias outras bases de dados, exatamente na
outros dados, forma em que foram produzidos.
ou seja, são
informações que
acrescem aos ESTADOS QUE DECIDIRAM USAR O
dados e que têm SISTEMA DE DADOS DO SINESP
como objetivo A SENASP, durante a prática de coleta de dados do SINESPJC,
informar-nos
constatou a dificuldade de alguns estados no preenchimento
sobre eles para
tornar mais fácil a desses dados. Em alguns casos, tinham que depurar, ou
sua organização. seja, limpar e organizar os arquivos, registro por registro,
Exemplos: data e para preencherem as tabelas no SINESPJC, visto que não era
hora em que foram
possível fazer a extração direta e automática de dados de seus
feitas as ligações,
e-mails, arquivos e sistemas, já que não seguiam uma padronização anterior ou já
fotos; informações tinham seus dados organizados.
do aparelho celular
que você está
Dessa forma, constatou-se que para esses estados seria
usando, entre
outros. Fonte: Safer mais difícil preencher os campos mínimos do boletim
Net (2019). de ocorrência padronizados nacionalmente pelo SINESP,
inclusive seria necessário inserir metadados para explicar
melhor os dados já existentes.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


122 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Ou mesmo, como inserir o georreferenciamento de
ocorrências policiais do local da ocorrência de um delito.
Envolve a definição
da forma, dimensão
e localização Por conta disso, seria um esforço dispendioso, principalmente
das ocorrências aos estados que tinham limitações orçamentárias, de pessoal
criminais por
e que não tinham uma padronização prévia de informações,
meio de métodos
e ferramentas pois teriam que enfrentar um desafio e custos maiores para se
tecnológicas adequar à padronização nacional.
que permitam
o levantamento
Em outros casos, alguns estados já utilizavam sistemas que
dessas
informações. atendiam às suas necessidades. No entanto, esses sistemas
eram contratados de empresas privadas.

Nessas situações, cada customização do sistema ou mesmo a


integração entre o sistema da base local e o da base nacional
custava muito caro.

Diante desse cenário, foram desenvolvidas


duas grandes soluções que, desde a criação, se
estruturaram conforme os padrões nacionais e
sem custos para os estados que as adotaram: O
SINESP PPE – Procedimentos Policiais Eletrônicos,
para as polícias civis, e o SINESP CAD – Central de
Atendimento e Despacho, cujos principais usuários
sãos as polícias militares.

Desse modo, todos os dados produzidos tanto pelo SINESP


PPE quanto pelo SINESP CAD alimentavam automaticamente
o SINESP Integração, gerando uma base de dados única,
referente aos registros policiais gerados no país, conforme os
sistemas visualizados a seguir.

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123 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Aula 5 – As Soluções Geradas pelo SINESP

CONTEXTUALIZANDO...
Constatamos até o momento que o SINESP foi desenhado
considerando as diferentes realidades de cada estado,
possibilitando que cada um optasse por permanecer utilizando
seus sistemas desenvolvidos ou aderir ao sistema nacional.

Considerando as razões que justificaram a criação do SINESP,


a seguir vamos conhecer como ele está estruturado.

CONFIGURAÇÃO DOS MÓDULOS E


SISTEMAS DO SINESP
Desde 2019, o SINESP está estruturado em nove módulos ou
sistemas, cada um destinado a um tipo de atendimento/solução.

Figura 8: Módulos/
ferramentas do
SINESP.
Fonte: Ministério
da Justiça e
Segurança Pública
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019)

Além dos módulos descritos, há outros como o SINESP


Segurança, responsável pelo controle de acesso dos usuários
e pela auditoria em todos os outros módulos, e o Suporte
SINESP, sistema de atendimento ao usuário em três níveis
de complexidade para solucionar problemas na utilização de
ferramentas como o SINESP PPE e SINESPCAD.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


124 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Agora que você teve uma visão geral de todos os módulos e
seus respectivos sistemas e ferramentas das soluções que
compõem o SINESP, passaremos a detalhar cada um dos
módulos e seus sistemas.

SINESP Integração
O SINESP Integração é a solução do SINESP responsável por
garantir uma base nacional de informações de segurança
pública. Além disso, ele prioriza a integração de sistemas
e bancos de dados distintos, produzidos por órgãos
diretamente e indiretamente ligados à segurança pública,
como sistemas prisionais, Receita Federal, DENATRAN,
SINARM-DPF, entre outros.

Figura 9: SINESP
Integração, a
base nacional de
informações de
segurança pública.
Fonte: Shutterstock
(2019), Ministério
da Justiça e
Segurança Pública
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019)

De acordo com as finalidades do Projeto SINESP,


apresentamos a Lei n.º 13.675/2018, que disciplina a
organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, especificamente apresentando o Art. 36,
que trata dos objetivos do SINESP:

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


125 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
I - proceder à coleta, análise, atualização, sistematização,
integração e interpretação de dados e informações relativos às
políticas de segurança pública e defesa social;

II - disponibilizar estudos, estatísticas, indicadores e outras


informações para auxiliar na formulação, implementação,
execução, monitoramento e avaliação de políticas públicas;

III - promover a integração das redes e sistemas de dados


e informações de segurança pública, criminais, do sistema
prisional e sobre drogas;

IV - garantir a interoperabilidade dos sistemas de dados e


informações, conforme padrões definidos pelo Conselho Gestor.

Desses objetivos destacados no artigo, o SINESP Integração


é responsável pela coleta, atualização, sistematização,
integração de dados e informações relativos às políticas
de segurança pública e defesa social, além de promover a
integração das redes e sistemas de dados e informações de
segurança pública, criminais, do sistema prisional e sobre
drogas, visando garantir a interoperabilidade dos sistemas
de dados e informações, conforme os padrões definidos pelo
Conselho Gestor.

Todas as informações operadas no SINESP, em


algum momento do processo, passam por essa
importante ferramenta, que garante a confiabilidade
da informação e a superação das dificuldades.

Nesse sentido, temos como exemplo a precariedade da


Arquitetura da Base de Dados, a falta de uma política clara de
análise e divulgação de informações e falta de padronização na
forma de envio das informações enfrentadas pelo SINESPJC.

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126 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
SINESP PPe
O SINESP PPe – Procedimentos Policiais Eletrônicos é uma
solução disponibilizada gratuitamente pela SENASP/MJSP às
unidades da federação para o registro de boletins de ocorrências,
despachos homologatórios e a lavratura de procedimentos
de polícia previstos em nossa legislação, como Termo
Circunstanciado de Ocorrência, Inquérito Policial, Auto de Prisão
em Flagrante e os procedimentos para menores infratores.

Figura 10: SINESP


PPe, um módulo
para procedimentos
policiais
eletrônicos.
Fonte: Ministério
da Justiça e
Segurança Pública
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019)

Além de fornecer recursos que permitem a gestão cartorária e


compartilhamento e uso de dados e informações registrados
pelos entes federados participantes, o SINESP PPe apresenta
as funcionalidades em relação às outras soluções, como:

• Georreferenciamento das ocorrências com visualização


do street view da Google para imediato reconhecimento do
local e mapeamento de zonas de risco.

• Vinculação de objetos por envolvidos, ou seja, gestão de


vínculos.

• Vinculação dos tipos penais com cada um dos envolvidos


quando há concurso de pessoas.

• Aproveitamento automático dos dados registrados nos


boletins de ocorrência para os demais procedimentos,
evitando retrabalho.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


127 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
• Registro de identificações visuais, possibilitando cadastrar
tatuagem, cicatrizes ou outras marcas para identificação de
pessoas.

• Consultas diretas de bases de dados externas como BNMP,


DENATRAN, Receita Federal e SINARM.

Portanto, os recursos do SINESP PPe visam a produção


qualificada de informação sem prejuízo da usabilidade para
facilitar a vida do policial. O amadurecimento da ferramenta
possibilitou sua implantação em vários estados. A SENASP
estimula a substituição das soluções atualmente em uso,
a fim de que o SINESP PPe se torne uma solução nacional.
Isso possibilitará o fornecimento e o consumo de dados
e informações entre os seus integrantes, simplificando e
padronizando o processo de envio de dados ao governo federal
e desonerando os entes no que concerne à sustentação
e evoluções de soluções proprietárias, além de ampliar a
qualidade dos dados utilizados em processos investigativos e
de inteligência policial.

SINESP CAD
O SINESP CAD – Central de Atendimento e Despacho é a
solução de suporte a serviços públicos emergenciais que
permite a integração do atendimento de todas as forças
de segurança pública de emergência e de outros órgãos
emergenciais, como: Polícias Militares, Polícia Civis, Corpos
de Bombeiros, SAMU, PRF, Guardas Municipais etc., ou seja,
fornece uma solução de Tecnologia da Informação que
permite o atendimento a ocorrências solicitadas a partir da
ligação para um único número tridígito emergencial (190-PM,
192-SAMU, 193-BM, 191-PRF, dentre outros).

Figura 11: SINESP CAD, uma solução


de suporte a serviços públicos
emergenciais.
Fonte: Ministério da Justiça e
Segurança Pública (2019), adaptado
por labSEAD-UFSC (2019)

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


128 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
O sistema integra as agências de segurança pública em âmbito
nacional, estadual e municipal, promovendo uma gestão mais
eficaz dos recursos humanos e operacionais disponíveis e
diminuindo o tempo de resposta.

Caso um cidadão precise de atendimento, ao ligar para o


serviço de emergência, receberá atendimento através do
sistema, no qual são registradas informações relativas
a solicitações emergenciais, tais como a natureza do
fato comunicado, endereço para atendimento, nome ou
condições da vítima e/ou do informante da ocorrência. Esses
dados são colhidos pelo atendente, mas outros dados são
automaticamente registrados: data e hora da ocorrência,
identidade do responsável pelo atendimento e congêneres.

Após a fase de atendimento, o incidente gerado é distribuído


entre as corporações que, de maneira sistematizada, realizam
o despacho da ocorrência emergencial para a equipe de
serviço especializada em atender à solicitação. As viaturas são
cadastradas previamente no próprio sistema, para identificação
de disponibilidade e dos agentes que as compõem.

Assim como o SINESP PPe, o SINESP CAD também é oferecido


gratuitamente aos estados e órgãos públicos interessados.

SINESP Análise
Todas as informações produzidas e coletadas pelo SINESP
são encaminhadas ao SINESP Integração. Esse aglomerado de
informações é analisado por uma solução de suporte à gestão:
o SINESP Análise.

Figura 12: SINESP Análise


é uma ferramenta
avançada de Business
Intelligence.
Fonte: Ministério da
Justiça e Segurança
Pública (2019), adaptado
por labSEAD-UFSC (2019)

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


129 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Trata-se de uma ferramenta avançada de Business Intelligence


(BI). As soluções de BI:

[...] proporcionam uma forma de acumular dados para


encontrar informações, principalmente por meio de
consultas. Estas ferramentas auxiliam na preparação
de dados para análises, possibilitando a criação
de relatórios, painéis e visualizações de dados. Os
resultados dão aos funcionários e gerentes o poder de
acelerar e aprimorar as tomadas de decisões, aumentar
a eficiência operacional, localizar potenciais de receita,
identificar as tendências do mercado [...] (MICROSOFT

AZURE, 2019).

Assim, o SINESP Análise permite a extração, cruzamento e


análise de dados, construção de painéis gerenciais, chamados
dashboards e elaboração de mapas de múltiplas fontes de
dados, objetivando o auxílio na formulação, implementação,
execução, acompanhamento e validação das ações e políticas
no âmbito da segurança pública, sistema prisional, execução
penal e enfrentamento ao comércio de drogas ilícitas.

Dessa forma, o SINESP Análise se consolida como a solução


responsável por fornecer aos gestores e demais interessados
os meios apropriados para a construção de estudos e
estatísticas confiáveis de segurança pública, além de apoiar os
processos de investigação e inteligência.

SINESP Infoseg
Solução de pesquisa de uso restrito aos profissionais de
segurança pública, justiça, fiscalização e órgãos de controle,
que permite buscas inteligentes em soluções integradas de
dados e informações referentes a indivíduos, veículos, armas
e outras informações essenciais às ações policiais e nos
processos investigativos e de inteligência. Permite o uso de
descritores combinados, assemelhando-se aos melhores
cases de pesquisas do mercado.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


130 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Figura 13: SINESP
Infoseg, um sistema de
pesquisa de uso restrito
aos profissionais de
segurança pública.
Fonte: Ministério da
Justiça e Segurança
Pública (2019), adaptado
por labSEAD-UFSC (2019).

O SINESP Infoseg faz parte dos esforços da SENASP no


desenvolvimento de soluções que melhor atendam às
demandas dos profissionais de segurança pública e afins, no
que concerne ao fornecimento de mecanismos que permitam
o acesso imediato e seguro a dados e informações de
múltiplas fontes e órgãos, oferecendo aos profissionais maior
agilidade no combate ao crime.

SINESP Cidadão
O SINESP Cidadão é um aplicativo para smartphones que
permite ao cidadão consultar informações de veículos
roubados/furtados/clonados, mandados de prisão e
pessoas desaparecidas.

Figura 14: SINESP


Cidadão, um
aplicativo para uso
do cidadão.
Fonte: Aplicativo...
(2014), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


131 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
O aplicativo representa a interação prática da população com
a segurança pública. Tendo por público-alvo usuários comuns,
não policiais, o SINESP Cidadão possui limitações que o
tornam inadequado ao uso profissional, mas extremamente útil
para a solução de questões cotidianas.

Rede SINESP
O Rede SINESP é uma solução institucional de comunicação
e interação entre profissionais de segurança pública e demais
usuários do SINESP.

Figura 15: Rede SINESP, um


aplicativo de comunicação e
interação.
Fonte: Ministério da Justiça
e Segurança Pública (2019),
adaptado por labSEAD-
UFSC (2019)’

Possui funcionalidades que permitem criar grupos de discussão


sobre determinado assunto/tema relacionado à segurança
pública, possibilita o acompanhamento de operações policiais,
gestão de projetos e treinamentos, possui repositório de dados,
painel de notícias e possibilita troca de experiências e publicação
de informações institucionais e profissionais.

Enfim, trata-se de uma rede social restrita, que permite o fluxo


de conhecimento ágil e seguro de extrema importância à
segurança pública, quebrando barreiras geográficas e temporais,
e favorecendo o compartilhamento do conhecimento.

SINESP InfoGGI
Os Gabinetes de Gestão Integrada (GGI) foram concebidos
com o objetivo de serem espaços de interlocução permanente
entre as instituições do sistema de justiça criminal e os órgãos
de segurança pública, para debater e propor ações de redução
à violência e à criminalidade. Existem Gabinetes de Gestão
Integrada estaduais, municipais, distrital, de fronteira e regionais.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


132 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Figura 16: SINESP
infoGGI, um
aplicativo de
comunicação e
interação.
Fonte: Ministério
da Justiça e
Segurança Pública
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019)’

O SINESP InfoGGI é a ferramenta que auxilia o planejamento


e o registro de reuniões das plenárias dos GGI, e fornece o
registro e acompanhamento das ações pactuadas, além da
emissão de relatórios das atividades dos gabinetes.

Os insumos do SINESP InfoGGI produzem informações e


conhecimentos qualificados para retratar a realidade e as
necessidades dos Gabinetes de Gestão Integrada conforme
a circunscrição de atuação, visando aprimorar diagnósticos
locais e regionais.

SINESP Big Data


Lançado em agosto de 2019, o SINESP Big Data é uma
ferramenta de inteligência artificial, similar à inteligência
humana exibida por mecanismos ou software, capaz de
integrar dados em larga escala, a fim de prover insumos
para elaboração de políticas públicas e ações específicas de
enfrentamento à criminalidade em sentido amplo.

Figura 17: SINESP


Big Data, um
aplicativo de
comunicação e
interação.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


133 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
A plataforma SINESP Big Data possibilita integrar e analisar
fontes de dados de segurança pública para um novo modelo
de governança estratégica.
Na Prática
Você está no meio de uma operação sigilosa em seu
departamento como agente de segurança pública, integrando
outros órgãos nessa operação. Para integrar a missão, você
e sua equipe deverão identificar o registro das ocorrências

 de uma quadrilha de narcotraficantes que atuam em


vários estados do país. Como sua equipe poderá conduzir o
acompanhamento e buscar informações e ficha criminal de
suspeitos? E, ainda, de que forma monitorar veículos roubados,
atuar no combate ao tráfico nas regiões de fronteiras?

Para tal operação, o SINESP Big Data orienta suas soluções


a partir do cenário tecnológico atual, com grandes avanços
tecnológicos e científicos em processamento massivo de
dados, sistemas de integração multiprotocolos, sistemas
automatizados de mineração de dados, aprendizado de
máquina e inteligência artificial. A arquitetura do SINESP Big
Data contempla os sistemas e dados para integrar e garantir a
interoperação através de protocolos padronizados para obter
resultados na interpretação de dados e informações relativos às
políticas de segurança pública e defesa social.

Dado o caráter inovador da utilização do big data em segurança


pública, nos dedicaremos um pouco mais a essa solução.

A coleta de boletins de ocorrência e procedimentos


policiais em uma base de dados única e
estruturada, consolidada no SINESP Integração,
representa uma grande evolução para a construção
das políticas públicas.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


134 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
No entanto, a análise apenas desses dados, sem compará-los
com dados não estruturados, é insuficiente para compreender
os fenômenos da violência por todos os prismas.

Como então comparar os dados estruturados da segurança


pública com os dados das redes sociais, do trânsito, dos
fóruns web, das tornozeleiras eletrônicas, dos sites de notícias
e várias outras fontes de informações?

Não é possível comparar essas informações utilizando


ferramentas convencionais, como o business intelligence, pois
não está estruturado um grande volume de dados.

Quando lemos um texto, ouvimos uma música ou assistimos


a um filme, para nós tudo representa informação. Contudo,
para os computadores, esses dados não estão devidamente
organizados para os processamentos convencionais.

Esses dados são armazenados não em tabela, na


qual cada informação que os compõe ocupa um
único espaço, mas como arquivos ou documentos
íntegros. Analisar dados estruturados é muito
mais simples que analisar textos, fotos ou áudios
e outros dados não estruturados, que exigem
técnicas de mineração de dados (data mining) para
localização da informação, muitas vezes em tempo
real, e inteligência artificial, para catalogação e
identificação das características da informação,
correlações e descobertas.

As ações de processamento em big data objetivam a análise


qualitativa dos dados de segurança pública em inter-relação
em eventos complexos. A plataforma permitirá investigar
e aplicar técnicas de ciência de dados de maneira eficiente
para análise e descoberta de conhecimento nos dados
integrados da segurança pública e implementar painéis de

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


135 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
controle em três níveis: estratégico, tático e operacional,
equipado com visualização analítica prospectiva e preditiva
dos dados e informações.

Ao finalizarmos este estudo, convidamos você a refletir


sobre o conhecimento adquirido, se ele foi suficiente para
deixá-lo(a) seguro(a) em relação ao SINESP e seus módulos
e sistemas disponíveis para utilização nas mais variadas
soluções de utilização.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


136 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
Referências
APLICATIVO verifica em tempo real se carro é roubado ou
clonado. Atual Amazonas, Manaus, 24 fev. 2014. Disponível em:
https://amazonasatual.com.br/aplicativo-verifica-em-tempo-real-
se-veiculo-e-roubado-ou-clonado/. Acesso em: 25 nov. 2019.

BEATO, C. C. Fontes de dados policiais em estudos


criminológicos: limites e potenciais. In: FÓRUM DO CESEC. 2000,
Rio de Janeiro, RJ. Anais[...]. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em:
https://www.ucamcesec.com.br/wp-content//uploads/2011/06/
Anais-Forum-CESeC-Ipea.pdf. Acesso em: 19 set. 2019.

BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de


Segurança Pública. Gestão da informação. In: SESI-RJ –
SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA DO RIO DE JANEIRO. (org.).
Arquitetura institucional do Sistema Único de Segurança
Pública. Rio de Janeiro: Senasp; Firjan; Pnud, 2004.

BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de


Segurança Pública. Pesquisa perfil das instituições de
segurança pública . Brasília, 2013. 254 p.

BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Assessoria


de Comunicação Social. MJSP lança quinta Pesquisa Perfil
das Instituições de Segurança Pública. Brasília, 2017.
Disponível em: https://justica.gov.br/news/mjsp-lanca-quinta-
pesquisa-perfil-das-instituicoes-de-seguranca-publica. Acesso
em: 19 set. 2019.

BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Ministério


entrega aos estados primeiras ferramentas de Big Data e
Inteligência Artificial para combater a criminalidade. Brasília,
2019. Disponível em: https://www.justica.gov.br/news/collective-
nitf-content-1566331890.72. Acesso em: 20 ago. 2019.

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


137 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Relatório
de Atividades da Coordenação Geral de Pesquisa da Secretaria
Nacional de Segurança Pública – 2003/2004. Brasília.

BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria


Nacional de Segurança Pública. O SINESP. 2019. Disponível
em: https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-
publica/sinesp-1. Acesso em: 19 set. 2019.

MICROSOFT AZURE. O que são ferramentas de Business


Intelligence (BI)? 2019. Disponível em: https://azure.microsoft.
com/pt-br/overview/what-are-business-intelligence-tools/.
Acesso em: 3 out. 2019.

SHUTTERSTOCK. [S.l.], 2019. Disponível em: https://www.


shutterstock.com/pt/. Acesso em: 4 dez. 2019.

STAKEHOLDER. In: DICIONÁRIO Financeiro. [S.l.], 2019.


Disponível em: https://www.dicionariofinanceiro.com/o-que-
sao-stakeholders/. Acesso em: 25 nov. 2019.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Laboratório


da Secretaria de Educação a Distância (labSEAD-UFSC).
Florianópolis, 2019. Disponível em: http://lab.sead.ufsc.br/.
Acesso em: 4 dez. 2019 .

Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade


138 • Módulo 4 de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas - SINESP
MÓDULO 5

TÉCNICAS BÁSICAS
DE ANÁLISE DE
DADOS
139 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados
Apresentação

Chegamos à etapa final do curso. Neste módulo, você vai


conhecer as técnicas de análise de dados usadas para elaboração
de indicadores sociais de criminalidade. Para esse fim, vamos
estudar a produção de indicadores por meio de cálculos, que são
instrumentos para elaboração de índices e projeções.

Além disso, você conhecerá formas de visualização e a


sistematização dos registros das informações para auxiliar na
análise estatística de dados criminais no seu cotidiano de trabalho.

Pronto para conhecer mais um ramo da ciência estatística?


Beleza, então vamos nessa!
Bons estudos!

OBJETIVOS
Conhecer as principais técnicas de análise estatística usadas
para elaboração de indicadores sociais de criminalidade e
a representação visual do fenômeno social, visando, assim,
subsidiar o planejamento operacional do agente público em
suas atividades.

ESTRUTURA DO MÓDULO
Este módulo abrange as seguintes aulas:

• Aula 1 – Cálculos para a Elaboração de Indicadores Sociais


de Criminalidade.
• Aula 2 – Sugestões de Indicadores Sociais de
Criminalidade.
• Aula 3 – Construção de Tabelas e Gráficos.
• Aula 4 – Elaboração de Mapas.
• Aula 5 – Elaboração de Relatórios.

140 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Aula 1 – Cálculos para a Elaboração de
Indicadores Sociais de Criminalidade

CONTEXTUALIZANDO...
Os indicadores sociais de criminalidade são instrumentos que
permitem o monitoramento da realidade social de determinada
população, bem como auxiliam na compreensão sobre o
comportamento social e os fatores que desencadeiam ou
intensificam ações violentas ou criminosas.

Para dar conta dessa temática, nesta aula vamos estudar a


construção de indicadores sociais de criminalidade, usando a
metodologia de cálculos para a elaboração de índices e projeções
mais elaboradas para a obtenção de medidas que visem ao
atendimento de políticas específicas de segurança pública.

INDICADORES SOCIAIS DE CRIMINALIDADE


A produção de indicadores sociais de criminalidade é feita
por meio de cálculos que permitem a elaboração de índices
que visem ao atendimento de políticas específicas de
segurança pública.

Figura 1:
Indicadores sociais
de criminalidade.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

141 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Dessa forma, antes de iniciarmos nosso estudo, vamos
retomar o conceito de indicadores sociais, que, de acordo
com Jannuzzi (2005), são instrumentos operacionais para o
monitoramento da realidade social.

Dito de outra forma, podemos dizer que os indicadores


contêm informações que refletem uma situação real
de determinada população. Assim, a elaboração
desses instrumentos auxilia na compreensão sobre o
comportamento social e os fatores que desencadeiam ou
intensificam ações violentas ou criminosas.

CÁLCULOS PARA A ELABORAÇÃO DE


INDICADORES CRIMINAIS
A elaboração de dados estatísticos permite a criação de
indicadores sociais de criminalidade com o intuito de mensurar
Previsto no artigo
121 do Código Penal fenômenos sociais relacionados ao universo criminal.
Brasileiro, homicídio Nesse aspecto, é fundamental o cuidado ao referenciar os
doloso ocorre dados numéricos, observando com cautela que o indicador
quando uma pessoa
represente a realidade, seja o suporte para a investigação
tira a vida de outra
intencionalmente criminal e para controle e diminuição do crime.
(AVIZ, [2019]).
Ainda é importante destacar que dados de homicídio doloso,
conforme a figura a seguir, são fontes de dados para o
levantamento de indicadores criminais.

Figura 2:
Indicadores sociais
de criminalidade.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

142 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Considerando que o indicador representa a realidade, vamos
observar na tabela a seguir os dados numéricos das vítimas de
homicídio doloso nos anos de 2017 e 2018 no Brasil, por região.

HOMICÍDIO DOLOSO
REGIÕES
2017 2018

Tabela 1: Total Centro-Oeste 4271 3905


de vítimas de
homicídio doloso Nordeste 24699 21010
no Brasil por
regiões. Fonte:
Norte 6542 6731
SINESPJC (2019)
e SINESP (2019),
adaptado por Sudeste 14209 12243
labSEAD-UFSC
(2019). Sul 6514 5259

Total 56235 49148

Portanto, com base nos registros de indicadores das vítimas


de homicídio doloso por regiões, podemos sistematizar as
informações dos crimes, a fim de que possam ser calculados
os indicadores. Vamos ver um exemplo desse cálculo, a seguir.

CÁLCULOS DE INDICADORES

1 - Porcentagem
Exemplo:
Porcentagem de homicídios na Região Nordeste
em relação ao total de homicídios no país em 2018:
Homicídios no
Nordeste em 2018 21020
X 100 = 42,7%
Total de Homicídios
no Brasil em 2018 49148

143 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


2- Variação
Exemplo:
Variação de homicídios entre 2017 e 2018 no Brasil:

Total de Homicídios

[( 49148
)]
no Brasil em 2018
-1 100 = - 12,6%
Total de Homicídios 56235
no Brasil em 2017

3 - Taxas
Exemplo:
Taxa bruta de homicídios em 2018:
Figura 3: Cálculos
Total de Homicídios
para análise de
no Brasil em 2018 49148
indicadores. Fonte: X 100.000 = 23,6
Número de
labSEAD-UFSC
(2019). habitantes em 2018
208.494.900 por 100
mil/hab

Tomando-se como referência os cálculos mais elementares,


visualizados na figura, é possível construir índices e projeções
mais elaboradas para a obtenção de medidas que visem ao
atendimento de políticas específicas de segurança pública.

Na Prática
Considerando os cálculos elementares, analise as informações

 com base nos dados do quadro de homicídio doloso e identifique


as variações de homicídios entre as regiões Sul e Sudeste, entre
os anos de 2017 e 2018.

De acordo, com os trabalhos de Beato (2004) e Peixoto,


Lima e Durante (2018), é possível a criação de um índice
de cálculo simples, com indicadores disponíveis para uma
avaliação eficiente de desempenho social, no que se refere
à segurança pública.

144 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Aula 2 – Sugestões de Indicadores Sociais
de Criminalidade

CONTEXTUALIZANDO...
A informação gerada a partir das ocorrências é uma
fotografia de um processo contínuo, que possibilita, assim,
o acompanhamento da tendência da criminalidade, que visa
subsidiar o planejamento operacional do agente público em
suas atividades.

Nesta aula, vamos falar sobre medidas de tendência central,


um dos ramos da estatística, que nos auxiliará no estudo dos
indicadores criminais. É também conhecida na estatística
como média ou apenas centro da distribuição.

MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL


As medidas de tendência central são números que resumem
e representam características importantes da distribuição
de frequências e podem ser apresentadas de várias formas,
dependendo daquilo que se pretende conhecer a respeito dos
dados. Cada medida envolve fórmulas e aplicações diferentes.

Medidas de tendência central também são


conhecidas como medidas de localização ou
medidas de posição.

Neste estudo, vamos conhecer as medidas mais usadas para


representar um conjunto de dados, como: média aritmética,
moda e mediana.

145 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Saiba mais
Para conhecer mais sobre o tema, conheça a definição das

 medidas de tendência central: média, mediana e moda,


acessando a aula da Khan Academy Brasil no link:
https://www.youtube.com/watch?v=_UMKANj_oaM

Portanto, as medidas de tendência central representam uma


certa realidade através do registo de um único número, ou
seja, resumem em apenas uma informação, a característica de
determinado conjunto de dados.

Podemos compreender que indicadores sociais de


criminalidade são expressões numéricas de fenômenos
quantificáveis. Assim, segundo Ferreira (2015), são
sinalizadores: indicam, mas não são a própria realidade. Logo,
baseiam-se na identificação de uma variável considerada
capaz de expressar um fenômeno de interesse.

MÉDIA ARITMÉTICA
A média aritmética, também conhecida como ponto de
equilíbrio ou centro de gravidade, é entendida como o ponto
central de cada conjunto de dados.

Dito de outra maneira, se os valores do conjunto fossem pesos


sobre uma tábua, a média seria a posição em que um suporte
equilibra essa tábua. Ela indica o valor em torno do qual há um
equilíbrio na distribuição dos dados.

A média aritmética nada mais é do que a soma de todos os


valores de vários conjuntos (n), dividida pela quantidade n de
conjuntos que se está somando.

146 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


MÉDIA ARITMÉTICA

5 armas
por oficial

Figura 4: Exemplo
de média aritmética.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

A expressão matemática abaixo “traduz” esse conceito:

Somatória dos elementos


Média =
Número de elementos
Quadro 1: Dados
estatísticos de
armas de fogo
apreendidas.
Fonte: Secretaria
de Segurança Agora, vamos entender como é feito o cálculo?
Pública do Estado
de São Paulo Com base nos dados do Portal do Governo, vejamos, a seguir,
(2018), adaptado
por labSEAD-UFSC
o cálculo da média mensal de armas de fogo apreendidas em
(2019). São Paulo, no ano 2018.

Natureza Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total

Número de
armas de fogo 1.155 1.191 1.191 1.164 1.238 991 1.122 1.073 1.056 983 1.011 963 13.138
apreendidas

147 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Para calcular a média mensal dessas apreensões, fazemos
o seguinte:

13138
Média = = 1094,8
12

Ou seja, a média mensal de apreensão de armas no ano de


2018, em São Paulo, foi de 1.094,8. A partir desses dados,
ainda poderíamos extrair a média diária, mesmo sem dispor
dessas informações diariamente, basta pegar o total no ano e
dividi-lo pela quantidade de dias do ano (365).

Dando sequência às formas de medida de tendência, vamos


conhecer agora a moda.

MODA
Entende-se por moda o valor que ocorre com maior repetição em
um conjunto de dados, conforme visualizado na figura a seguir.

Figura 5: Conjunto
de dados de
registros digitais.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado por
labSEAD (2019).

148 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Por isso, é possível descobrir a moda de uma sequência de
valores facilmente, apenas observando o número que mais
aparece nela.

Observe o cálculo da moda conforme os seguintes conjuntos


de dados a seguir.

DESCOBRINDO O CONJUNTO DE MODA (MO)

1) Conjunto unimodal - apenas uma moda


A
1 7
6
2
6 Moda = 6
4 8
8 7 6

2) Conjunto bimodal - duas modas


B
1 2 2
5 6 Moda = 2 e
2
4 4 Moda = 4
3 4 5

3) Conjunto plurimodal - mais de duas modas


C
2 2
4 Moda = 2,
5 1
3 Moda = 3
4 3
2 Moda = 4
3 4

4) Conjunto amodal - sem nenhum valor predominante


Figura 6: Exemplos D
de conjunto de
moda. Fonte: 6
labSEAD-UFSC 5 2
(2019). Sem Moda
1
3 4

149 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Em resumo, a moda na situação apresentada reflete o valor
mais frequente dentro de determinada sequência, que pode
ocorrer unimodal, bimodal, plurimodal ou amodal.

Tudo certo até aqui? Então vamos ver do que se trata a última
medida de tendência central: a mediana.

MEDIANA
É o elemento central em um conjunto de dados ordenado. Por
isso, pela mediana o conjunto de dados é dividido em duas
partes iguais, sendo metade dos valores abaixo da mediana, e
a outra metade, acima.

Vamos visualizar para ficar mais claro? Observe o número de


valores ímpares, considerando o conjunto de dados:

MEDIANA DO CONJUNTO DE DADOS ÍMPARES

1 Temos como base o conjunto A = (5, 2, 7, 10, 3, 6, 1)

2 Para encontrarmos a mediana, primeiro colocaremos os


valores em ordem crescente: A = (1, 2, 3, 5, 6, 7, 10)

Com a fórmula para encontrar a posição (P) da Mediana


3 P=(n+1)/2, na qual n é o número de itens do conjunto,
vamos substituir a incógnita por seu valor:
n = 7, então:
7+1
Figura 7: Mediana
P= = 4 (posição da Mediana)
do conjunto de 2
dados ímpares. O número que ocupa a 4ª posição no conjunto é o 5.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2019).
A = (1, 2, 3, 5, 6, 7, 10)

150 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Agora, observe o conjunto de dados com número de
valores pares:

MEDIANA DO CONJUNTO DE DADOS PARES

1 Temos como base o conjunto B = (4, 3, 9, 8, 7, 2, 10, 6)

2 Para encontrarmos a mediana, primeiro colocaremos os


valores em ordem crescente: B = (2, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10)

3
Antes de calcularmos a mediana de um conjunto com
um número par de itens, é necessário encontrar primeiro
as duas posições centrais (P1 e P2) do conjunto. Para
isso, apresentamos as fórmulas P1=n/2 e P2=n/2+1.
Substituindo n pelo número de elementos do conjunto,
temos:
8
P1 = = 4 (posição 1)
2
8
P2 = + 1 = 5 (posição 2)
2
O número que se encontra na 4ª posição é o número 6.
O número que se encontra na 5ª posição é o número 7.

Agora, para sabermos qual é a mediana, basta somar


Figura 8: Mediana 4 os números da 4ª e 5ª posição do conjunto e dividir por
do conjunto de dois. Assim,
dados pares. Fonte:
labSEAD-UFSC
(2019). 6+7
Mediana = = 6,5
2

151 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Portanto, sempre que você precisar encontrar a mediana de
uma sequência, comece reorganizando assim:

Quando forem elementos ímpares, a mediana será o


número que ocupar a posição central do conjunto de
elementos, e quando for elementos pares, a mediana
será a média aritmética simples dos dois números
que estiverem no centro do conjunto de elementos.

Agora, saber se é mais conveniente usar a média aritmética, a


moda ou a mediana depende de cada situação.

152 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Aula 3 – Construção de Tabelas e Gráficos

CONTEXTUALIZANDO...
Durante o processo da análise criminal, as informações
analisadas visam estabelecer os padrões do crime. Nessa
etapa, ocorre o desdobramento das informações – em que os
dados obtidos são transformados em informações, por meio
do mapeamento, para identificar as áreas mais vulneráveis – e
também a elaboração de tabelas com informações comparativas,
horários de maior incidência, entre outros registros.

Assim, nesta aula você conhecerá alguns tipos de tabelas


e gráficos que podem ser elaborados a partir da análise
de informações, para que possam ser usados para o
monitoramento e planejamento de ações estratégicas na
área de segurança pública.

TABELAS
A tabela tem como objetivo a apresentação numérica dos
dados. Consiste em dispor os dados em linhas e colunas
distribuídos de modo ordenado. As tabelas têm a vantagem
de conseguir expor, sistematicamente, em um só local, os
resultados sobre determinado assunto, de modo a se obter
uma visão global mais rápida daquilo que se pretende analisar.

A principal diferença entre tabela e quadro está


relacionada ao conteúdo e à formatação.

A informação central de uma tabela é o dado numérico.


Lembrando que a Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) não especifica o tipo de conteúdo a ser incluído em
um quadro. Com relação à formatação, a tabela apresenta os
seguintes elementos: título, cabeçalho, conteúdo, fonte e, se
necessário, nota(s) explicativa(s) (geral e/ou específica).

153 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Observemos um exemplo de tabela a seguir.

HOMICÍDIO DOLOSO
REGIÕES
2017 2018

Centro-Oeste 4271 3905

Nordeste 24699 21010

Norte 6542 6731

Sudeste 14209 12243

Sul 6514 5259

Total 56235 49148

Tabela 2: Total de vítimas de homicídio doloso no Brasil por regiões.


Fonte: SINESPJC (2019) e SINESP (2019), adaptado por labSEAD-UFSC (2019).

A tabela é dividida pelo mínimo possível de linhas na


horizontal e as bordas laterais não podem ser fechadas. Já o
quadro, embora siga especificações semelhantes (título, fonte,
Quadro 2:
Estatísticas de legenda, nota(s) e outras informações necessárias), tem suas
ocorrências no bordas fechadas.
estado de São
Paulo, de 2017.
Fonte: Secretaria Vamos identificar no quadro a seguir dados estatísticos de
de Segurança
Pública do Estado ocorrências no estado de São Paulo de 2017, representando as
de São Paulo (2018), ocorrências mensais e suas naturezas.
adaptado por
labSEAD (2019).
2017

Natureza Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total

Homicídio
281 296 301 284 258 242 269 242 266 242 284 329 3.294
doloso

Homicídio
254 278 291 315 342 316 379 295 307 286 262 321 3.646
culposo

Tentativa de
335 326 341 340 317 292 271 285 291 338 309 368 3.813
homicídio

154 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Interessante frisar que, no quadro, as laterais são fechadas e
sem limite de linhas horizontais.

GRÁFICOS
Os gráficos são instrumentos que permitem a representação
de dados, de forma a tornar sua leitura mais visual e de fácil
compreensão dos dados apresentados. Apresentamos a
seguir três tipos de gráficos principais: gráfico de linha, gráfico
de barras e gráfico de setores.

Gráfico de Linha
O gráfico de linha é usualmente aplicável em situações onde
possuímos uma série de informações sobre um mesmo
indicador, por exemplo, o número de vítimas de homicídio
no Brasil por mês, conforme podemos visualizar no gráfico a
seguir, o registro dos dados, de janeiro a maio de 2018 e 2019,
de vítimas de homicídio doloso no país.

4888
5000
4464
4213 4311
4107

4000 3748
3526 3482
3097
2810
3000

Figura 9: Vítimas de 2000


homicídio doloso
no Brasil.
Fonte: SINESP
Integração (2019), 1000
adaptado por
labSEAD-UFSC
(2019).
0
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio

2018 2019

Os gráficos de linha são muito utilizados em situações


em que precisamos visualizar os registros de dados em
determinado período.

155 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Gráfico de Barras
O gráfico de barras é utilizado principalmente para realizar
análises comparativas da situação em diferentes contextos
espaciais. Realizar, por exemplo, comparações entre países,
estados ou cidades diferentes, conforme podemos analisar
no gráfico a seguir, em que está representado o número de
homicídios por região em 2018.

25000

21010

20000

15000
12243

Figura 10: Vítimas


de homicídios no 10000
Brasil por região em
6731
2018.
Fonte: SINESPJC e 5259
SINESP Integração 5000 3905
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019). 0
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul

Os gráficos de barra possuem uma disposição que facilita a


compreensão e visualização dos dados. Esse tipo de gráfico
possui subtipos, como: barras agrupadas e barras agrupadas
em 3D; barras empilhadas e barras empilhadas em 3D; barras
100% empilhadas e barras 100% empilhadas em 3D; cone,
cilindro e pirâmides horizontais.

Gráfico de Setores
É a representação gráfica de uma série estatística, que pode ser
em um círculo de raio qualquer, por meio de setores com ângulos
centrais proporcionais às ocorrências. Geralmente, é utilizado
quando se pretende comparar cada valor da série com o total.

Vejamos a seguir um exemplo de gráfico em forma circular,


revelando dados de homicídios dolosos por sexo no ano de 2018.

156 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


7,74%
4,65%

Masculino

Figura 11: Exemplo Feminino


de gráfico do
número de vítimas Não informado
de homicídio
doloso no Brasil
por sexo em 2018.
Fonte: SINESPJC e
Sinesp Integração
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC 87,61%
(2019).

Para tanto, é importante escolher adequadamente a forma


como as informações poderão ser disponibilizadas, bem como
requer que você considere a forma que possa enriquecer a
leitura, tornando os dados visualmente acessíveis.

Saiba mais
A escolha visual de apresentação dos dados facilita a

 interpretação dos indicadores. Confira outras formas visuais de


gráficos utilizados, acessando o link:
https://www.datageeks.com.br/tipos-de-graficos/

Por fim, vale lembrar que a representação visual por meio de


gráfico é um facilitador no processo de tomada de decisões
sobre os dados.

157 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Aula 4 – Elaboração de Mapas

CONTEXTUALIZANDO...
A utilização de mapas no planejamento de políticas públicas
para análise da criminalidade não é um fenômeno recente.
Seu uso é empregado inclusive na segurança pública, tanto
para o planejamento de ações preventivas quanto repressivas
(SILVA, 2019).

Nesta aula você irá conhecer três tipos diferentes de mapas,


que demonstram a mesma informação de formas diferentes.
Cada uma das formas nos permite utilizar as informações de
maneira distinta.

ELABORAÇÃO DE MAPAS
A elaboração de mapas na segurança pública não é um
fenômeno recente. O mapa é a forma de linguagem mais
antiga que a própria escrita. De acordo com Almeida (2007),
sempre foi utilizado pelos homens para orientação, para se
localizarem e se informarem, ou seja, para comunicação.

Figura 12: Mapa de


segurança pública.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

158 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


O uso da cartografia como ferramenta de investigação
permite organizar adequadamente as ações estratégicas no
combate ao crime.

O importante na sinalização dos crimes em


um espaço geográfico, como em qualquer outro
mapa, não é o que aparece por si só, mas como é
interpretado.

A visualização do mapa permite uma compreensão do todo


e transforma a cartografia como instrumento de análise do
território geográfico e a incidência de ocorrências criminais.

Por esse motivo, as análises de mapas são realizadas por


unidades especializadas que interpretam as informações de
maneira distinta dos diferentes tipos de mapas.

MAPA DE PONTOS
O mapa de pontos permite uma visualização do local exato das
ocorrências criminais, detalhando com exatidão o logradouro
onde elas ocorreram. O ponto positivo é o ganho em termos da
qualificação exata da localização.

Porém, isso leva, em muitas situações, a redução da


capacidade de compreensão da incidência da criminalidade
em termos mais gerais, como podemos visualizar a seguir no
mapa de roubos no município de Goiânia, em agosto de 2019.

159 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Figura 13: Roubos
em Goiânia em
agosto de 2019.
Fonte: SINESP
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

A atividade de análise do mapa de pontos permite ter uma base


de dados do fenômeno da ocorrência geográfica dos crimes.

Na Prática
No interior da Região Centro-Oeste do estado do Maranhão,
houve um aumento de roubos aos postos de combustíveis. De

 que forma a equipe segurança policial pode trabalhar com o


mapa de pontos desta região? Como essas informações podem
orientar para a melhora do policiamento da área na prevenção
e repressão do crime?

A produção de conhecimento estratégico por meio do


mapeamento de pontos, com a visualização do local exato das
ocorrências criminais, auxilia no planejamento organizacional
de ações estratégicas no combate à criminalidade.

MAPA TEMÁTICO
O mapa temático constitui uma das formas de se trabalhar
a visualização de um maior número de pontos. Assim,
informações são sistematizadas para regiões (bairros,
municípios, quarteirões etc.) e sua visualização ocorre para
estes níveis de análise de dados.

160 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


O mapeamento temático é uma forma poderosa
de análise e visualização de dados criminais,
pois através de forma gráfica podemos visualizar
padrões e tendências que seriam quase impossíveis
de serem detectados em tabelas.

Contudo, o problema desse tipo de análise é que toda uma


região é caracterizada da mesma forma e, por essa razão,
perde-se o entendimento sobre a heterogeneidade que existe
em cada região. Conforme vemos no mapa de roubo por
município da região metropolitana de Natal.

Figura 14:
Roubos na região
metropolitana de
Natal em 2018.
Fonte: SINESP
Integração (2019),
adaptado por
labSEAD-UFSC
(2019).

De acordo com o mapa de roubos no ano de 2018 na região


metropolitana de Natal, o mapa temático cumpre sua função,
quando possibilita a visualização, mostrando qual crime e
onde este ocorre.

MAPA DE KERNEL
O mapa de Kernel é elaborado a partir de uma análise
estatística de concentração dos pontos de incidência dos
crimes. Em inglês, a palavra Kernel significa “núcleo”, o que
significa dizer que é possível visualizar a intensidade pontual

161 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


de determinado fenômeno em toda a região de estudo. Dito
de forma simples, o mapa de Kernel é uma alternativa para
análise geográfica de padrões de comportamentos. Assim,
ganha-se precisão sobre a heterogeneidade que existe
internamente nas diversas regiões. Esse mapa constitui, assim,
uma poderosa ferramenta para análise.

Por meio dessa aplicação, as ocorrências criminais podem


ser especificadas diretamente em um mapa via satélite e
visualizadas as áreas de maior ocorrência criminal.

Dessa forma, é possível, por meio da análise estatística de


concentração dos pontos de incidência dos crimes, identificar as
regiões mais violentas e menos violentas dentro de um mesmo
bairro, conforme o mapa de homicídios a seguir no município de
Ananindeua, no período de janeiro a agosto de 2019.

Figura 15:
Homicídios no
município de
Ananindeua de
janeiro a agosto de
2019.
Fonte: SINESP
Integração (2019),
adaptado por
labSEAD-UFSC
(2019).

Esse tipo de mapeamento permite estimar valores onde existe


crimes e onde não existe, bem como a análise geográfica de
determinados padrões de comportamentos.

162 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Aula 5 – Elaboração de Relatórios

CONTEXTUALIZANDO...
A elaboração de um relatório deve garantir a compreensão
clara e objetiva, tanto para o pessoal técnico como para o setor
administrativo. É evidente que, se for necessário algum esforço
para ler e decifrar um relatório, restará menos energia para a
compreensão de seu conteúdo.

Então, lembre-se: mesmo não sendo o fator mais importante


na apreciação global de um relatório, a boa apresentação não
deve ser dispensada. Nesta aula você conhecerá os elementos
e as seções que compõem a elaboração de um relatório.

RELATÓRIO
O relatório consiste numa apresentação lógica, simples e
sistemática das ideias e conclusões referentes ao objetivo
da avaliação. Fornece, dessa maneira, não só uma descrição
geral do trabalho efetuado, como também os resultados e a
importância destes.

Figura 16:
Elaboração de
relatório.
Fonte: Shutterstock
(2019), adaptado
por labSEAD-UFSC
(2019).

O relatório deve ser escrito de modo a garantir sua


compreensão pelo pessoal técnico e é utilizado por este como
instrumento de trabalho.

163 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Enquanto um relatório informal, normalmente
se dirige unicamente ao supervisor e responde a
questões de caráter imediato, um relatório formal
tem uma ação mais institucional e uma maior
importância.

Como um relatório pode ser lido por pessoas não


familiarizadas com o assunto abordado, não se deve referir
diretamente a um assunto sem dar uma explicação prévia dele.

Logo, para que um relatório apresente clareza e objetividade,


deve conter algumas seções essenciais, tais como:

Página de Título
A página de título deve ser mais do que a capa do relatório;
deve conter a informação necessária para identificação
do trabalho e dos seus autores, as datas de início e fim do
trabalho e de entrega do relatório.

Sumário
É de vital importância para o leitor que não tem tempo a perder
e quer se inteirar rapidamente do trabalho. Deve ser conciso e
abranger o que se pretende: objetivo do trabalho, resultados e
conclusões em poucas linhas.

Índice
Contém títulos de tabelas, de quadros, de imagens, de mapas,
favorecendo a visualização e permitindo o fácil acesso a eles.

Introdução
A primeira coisa que o leitor de um relatório quer saber é o
objetivo do trabalho realizado. Em seguida, deve ser informado
sobre as questões pertinentes ao trabalho prévio que se
relacionam com o trabalho atual. A introdução deve fornecer
um breve histórico relacionado com o trabalho de análise.
Caso tenha ocorrido o uso de alguma bibliografia, deve conter

164 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


um resumo das bases teóricas que suportam o problema
proposto, sendo obrigatória a referência das fontes de
informação utilizadas no texto.

Importante salientar que, ao elaborar a introdução


do relatório, deve-se evitar expressar opiniões,
conclusões e recomendações do autor, nem adiantar
os resultados obtidos.

Em resumo, a introdução servirá para fornecer ao leitor não


familiarizado com o assunto um conhecimento mais completo
do trabalho efetuado, assim como a teoria que está em sua base.

Método de Análise
Essa seção tem importância fundamental em um relatório.
Se o leitor duvidar dos resultados obtidos, poderá repetir
o trabalho com a devida rigorosidade científica, baseando-
se unicamente no procedimento metodológico aplicado
na análise e na produção de dados. Quando o trabalho
é efetuado a partir de publicações ou procedimentos já
popularizados, é suficiente a referência do processo utilizado.
No caso de se modificarem esses métodos, devem ser
referidas as alterações.

Observações Experimentais e Resultados


Essa seção não deve ser uma mistura aleatória de tabelas
e gráficos, mas, sim, um texto descritivo dos dados que
se registraram e dos resultados que se obtiveram. Nesse
segmento, introduzimos as tabelas e os gráficos que
embasaram a análise. Também devem ser anotados todos os
dados, assim como as informações sobre a localização da
análise no tempo e espaço. Lembrando que todos os gráficos
devem ser legendados, com os eixos bem referenciados e os
módulos devidamente assinalados.

165 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Discussão dos Resultados e Conclusões
A discussão deve ser crítica, detalhada e baseada nas seções
precedentes, e deve indicar o significado e a precisão dos
resultados. Todas as hipóteses, limitações, possibilidades
de erro, de falsas interpretações, entre outras, devem ser
salientadas. A partir da discussão, serão apresentadas as
bases para as conclusões do trabalho. Na discussão dos
resultados, deve figurar uma análise cuidadosa de possíveis
fontes de erro, que permita avaliar a precisão dos métodos
utilizados para obter os resultados.

Na medida do possível, quando se discutem


os resultados obtidos, não basta especular
qualitativamente sobre os motivos dos desvios
entre os resultados obtidos e os valores esperados,
deve-se buscar uma análise quantitativa e objetiva.

O leitor deve ser conduzido sistematicamente para as


conclusões finais, por meio dos fatos, teorias e argumentos.
As conclusões são uma continuação direta da discussão e
devem ser sempre justificadas e complementadas com os
dados experimentais e resultados obtidos.

Bibliografia
Caso tenha ocorrido o uso de alguma bibliografia, é necessário
fazer as devidas referências. Devemos atentar para as citações
diretas e indiretas de acordo com as normas da ABNT. A
maior parte da informação utilizada é obtida de várias fontes
bibliográficas, tais como livros, artigos ou comunicações
particulares. Para dar crédito a essas fontes e registrá-las para
posterior referência, é necessária uma lista conveniente que
possibilite um acesso fácil.

Apêndices
Nos apêndices deve constar toda a informação necessária
para a elaboração do relatório, mas que, devido à sua menor

166 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


importância, não deve sobrecarregar o corpo do texto. Devem
ser apresentadas as fontes de dados utilizadas, exceto no
caso de serem dados de conhecimento geral. Assim, se os
dados pertencerem a uma parte do relatório, devemos fazer
referência à tabela à qual eles figuram; se pertencerem a um
texto ou livro, é necessário citar o autor, o título e a página.
Há distinção entre clareza e excesso de detalhe. Assim,
devemos ter o cuidado de garantir o equilíbrio entre um
cálculo claro e o pormenor desnecessário, o que é atingido
normalmente após alguma prática.

De maneira geral, devemos observar no relatório a distinção


entre clareza e excesso de detalhe. Portanto, é necessário
ter o cuidado de garantir o equilíbrio e fluidez da informação
presente no relatório.

167 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados


Referências
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Contexto, 2007.

AVIZ, Raphael. Homicídio doloso e homicídio culposo. [2019].


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BEATO, C. C. Gestão da informação. In: SESI-RJ – SERVIÇO


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Janeiro: SENASP, Firjan, Pnud, 2004.

BRASIL. Assessoria de Comunicação Social. Ministério da


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Disponível em: https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-
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BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sistema
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Produzido e publicado por Khan Academy Brasil. 2014. Disponível
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169 • Módulo 5 Técnicas Básicas de Análise de Dados

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