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1 LUIS AUGUSTO FISCHER A

A
A cappella – Expressão italiana, usa- leiras? Pois é. Daí que existe, na arte de
da para designar o canto que se realiza fritar coisas, por exemplo bifes, uma mo-
sem acompanhamento algum de ins- dalidade que é, escrevendo em francês,
trumentos, só a voz vibrando no ar. à doré, quer dizer, à moda dourada. Con-
Pode ser entendido como “à maneira siste em, basicamente, passar ovo bati-
d[aquilo que acontece n]a capela”, isto do e uma farinhazinha em volta do bife, e
é, como acontece com o coro de uma levar essa deliciosa composição à fritura.
capela, que canta sem acompanhamen- Fica douradinho mesmo. Se diz mais ou
to algum. Se diz como se fosse portu- menos |a dô-RRÊ|, com o “r” rosnado.
guês mesmo, |a ca-PÉ-la|, mas pode pro- Ver também jeunesse dorée.
longar o “p” e o “l” que fica mais pare- À la carte – Este à la é francês e signi-
cido com o italiano. fica o mesmo que o nosso “à”, no sen-
À clef – Diz-se que um romance é à tido de “ao estilo de”, “à moda de”,
clef quando ele foi escrito decalcando “nos termos de”. Neste caso, é “nos
uma situação ou pessoas reais, que no termos da carta”, isto é, do cardápio
entanto são apresentadas sob algum impresso que o restaurante oferece.
disfarce, com nome trocado ou algo Quando um restaurante diz que serve
assim. Por isso a expressão francesa à à la carte, está querendo dizer que o
clef (também existe a forma à clé) quer freguês precisa encomendar algo que
dizer, literalmente, “a chave”, isto é, esteja lá, no car-
“com chave” – porque é preciso co- dápio, e por-
nhecer a chave de interpretação para tanto não há
saber quem é quem. Se diz |a CLÊ|. comida pron-
ta para servir,
À côté – Ver côté. um prato fei-
À doré – O verbo francês dorer signifi- to, um bas-
ca dourar, tornar parecido com a cor do tantão. Se diz
ouro, ou então botar ouro mesmo – mais ou me-
manja aqueles frisos de ouro em pó, que nos |a la-
aparecem em esculturas barrocas brasi- CARRT|.
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À la garçonne – Corte de cabelo femi- em cardápios. Seria uma expressão por


nino, à maneira de um menino, o tal assim dizer transitiva, exigindo um
garçon que em francês significa isso complemento, à la mode de Paris, à la
mesmo, rapaz. O corte este era meio mode du chef, etc. Só que de vez em
típico nos anos 50 franceses, e daí se quando ela vem sozinha, significando
espalharam ao mundo, como moda li- “à moda da casa”. Se diz |a la-MÓD|.
geiramente existencialista, com as mo-
ças que assim tosavam o cabelo se A media luz – Título de tango famo-
apresentando como transgressoras, síssimo, um dos cinco ou seis mais
liberadas, isso tudo expresso no cabe- gravados em todos os tempos, criado
lo curto, contrariando a tendência se- em 1924 por Carlos César Lenzi (letra)
cular de as mulheres manterem cabe- e Edgardo Donato (música). O come-
los longuíssimos. Se diz mais ou me- ço é famoso por dar um endereço:
nos como em português, apenas com Corrientes, tres cuatro ocho
o “r” forte |a-lá garr-ÇON|. Segundo piso, ascensor...
No hay porteros ni vecinos;
Adentro, cocktail y amor...
Pisito que puso Mapple,
Piano, estera y velador,
Un telefón que contesta,
Una victrola que llora
Viejos tangos de mi flor,
Y un gato de porcelana
À la minuta – O mesmo à la já men- Pa’ que no maúlle al amor.
cionado antes, de origem francesa (ver
O tango não foi composto, como po-
à la carte) só que aqui significando
deria parecer, em Buenos Aires, onde
“a cada minuto”, ou seja, a toda hora,
de fato há uma famosa rua Corrientes;
na hora em que o freguês quiser. Num
e nem existe nada relevante neste nú-
restaurante, em geral a expressão sig-
mero, 348 (funcionava ali uma loja de
nifica que ali há um prato que se prepa- encerar e lustrar sapatos). Esse peque-
ra naquele exato momento, um no erro referencial se explica pelo fato
bastantão, em geral uma composição de os autores serem uruguaios e terem
de arroz, bife, batata frita, ovo frito e escrito a canção em Montevidéu. Um
alguma salada. A forma é híbrida: em amigo deles foi conferir o que havia
francês, a forma seria à la minute, que no lugar e ficou tremendamente decep-
a gente transformou para “à la minuta”, cionado. O estribilho é que menciona
e que se vê escrito de tudo quanto é a expressão:
jeito: ala minuta, a la minuta, ala-
minuta, à la minuta. O Aurélio, sabia- Y todo a media luz...
mente, diz que a forma mais correta em ¡Qué brujo es el amor!
português seria “à minuta”, sem o la A media luz los besos,
francês. Já Celso Luft sugere a la mi- A media luz los dos
nuta, sem o sinal de crase. Y todo a media luz,
Crepusculo interior...
À la mode – Expressão francesa, ¡Qué suave terciopelo
traduzível por “à moda”, que se usa la media luz de amor!
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A expressão significa “à meia luz”, no Georges Huysmans), nascido em 1848
escurinho. Se diz |a-MÊ-dia LUÇ|, com e falecido em 1907, romance famoso
“d” de dedo. por sua característica perversa, maldi-
ta (v. maudit), tendência que por mui-
À outrance – Francês, “a todo pano”,
to tempo foi chamada de decadentista.
“a todo transe”, “a todo custo”, “des-
medidamente”. Pronuncia-se |a u- À vol d’oiseau – Expressão francesa,
TRÃNÇ|, com o “r” na garganta (e não hoje pouco usada, mas de largo uso
com o “r” vibrante da ponta da língua durante a vigência do francês como lín-
batendo no alto dos dentes de cima), gua de cultura no Brasil, significa lite-
como sempre é de bom-tom na pronún- ralmente “a vôo de pássaro” e, com certa
cia do “r” francês. Em espanhol, os ca- licença metafórica, “vista (a coisa em
ras adaptaram para a ultranza. Eu acha- questão) desde o alto”, “vista panorâ-
va que eles tinham inventado esse “l” mica”. Pronuncia-se |a-VÓL dua-ZÔ|,
aí, mas – o dicionário sempre ajuda – o com o “l” bem líquido. Gentes de cultu-
Petit Robert informa que outré, exage- ra formal, feito advogados, usavam a
rado, excessivo, vem de outrer, que vem expressão como preliminar a alguma
de outre, que vem de ultra, do latim. observação que não se prenderia a de-
Enfim, o “l” está aí, firme e forte. talhes, mas ao contrário buscaria o de-
senho geral da questão, os grandes tra-
A posteriori – Latim bem conhecido,
ços do problema. Por exemplo, imagi-
que significa posterior, coisa resultan-
nemos um juiz de direito que, para pedir
te, “depois do ocorrido”, e se pronun-
escusas por não descer a detalhes ínfi-
cia |a pos-te-ri-Ó-ri|. Ver a priori.
mos de um caso, dissesse: “Vistas as
A priori – Latim manjado, que se pro- coisas à vol d’oiseau, quer parecer que
nuncia |a-pri-Ó-ri| e significa, para nós se trata de um caso patológico.” Falan-
que somos inocentes em Kant e racio- do nisso: advogado é useiro em expres-
cinamos com a linguagem de dia de sões que atenuam as afirmações. É o
semana, previamente, antes de qual- caso dos inúmeros “Salvo melhor juízo”,
quer outra coisa. Mas se o senhor le- expressão de cautela que antecede um
var a sério a questão, tem que ir ao juízo, muitas vezes óbvio.
Kant, aliás Immanuel Kant (1724-1804),
alemão que nunca saiu de sua aldeia,
mas organizou racionalmente o mun-
do e tem no centro de sua filosofia a
Ab imo pectore – Latinório para “do
categoria a priori, que significa “coi-
fundo do peito”, isto é, verdadeiramen-
sa que não depende da facticidade ou
te, sinceramente, afetuosamente. Dizia-
da experiência”. Com todo o respeito.
se, no tempo do latim, que, por exem-
À rebours – Francês de novo, pronun- plo, se queria cumprimentar o candi-
ciado |a rrâ-BURR|, com os “r” sempre dato aprovado no concurso ab imo
naquela onda francesa, significa “ao pectore – atenção, dizendo |PÉC-to-re|.
contrário”, “a contrapelo”, “às aves- No mesmo sentido se usava também a
sas”, como o tremendo romance cha- expressão análoga ab imo corde, “do
mado justamente À rebours, de Joris fundo do coração”. Detalhe que vale
Karl Huysmans, escritor francês (cujo para outros casos: a preposição latina
verdadeiro nome era Charles Marie ab é uma das matrizes da preposição
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“a” do português, mas com um senti- Christum natum, antes de haver nas-
do preciso: no latim, era usada para cido Cristo, oposta a P.Chr.n., post
designar procedência, proveniência, Christum natum. Em inglês, usa-se
ao contrário de outra preposição lati- B.C., before Christ (antes de Cristo)
na, ad, que também confluiu no “a” do ou A.C., after Christ (depois de Cris-
português, mas com um sentido de di- to), e este A.C. inglês já foi confundi-
reção, de destino. do com o português a.C., sendo um o
oposto do outro, como deu pra ver.
Ab ovo – Expressão latina que signifi- Outra possibilidade é usar A.D. (tam-
ca “desde o começo”, “a partir do co- bém a.D.), ou por extenso Anno Domini
meço”, com o “ovo” ali significando (dito |DO-mi-ni|), latim para “Ano do
literalmente o ovo. Uma metáfora sim- Senhor”, para os anos posteriores ao
ples. Seria o começo de uma frase lati- suposto nascimento de Cristo (que,
na maior, ab ovo usque ad mala, isto tudo indica, nasceu uns 6 anos antes
é, “do ovo até a maçã”, porque certas do ano zero de nosso calendário, e daí
refeições romanas começavam no vem parte dessa bronca sobre quando
novo e terminavam mesmo na maçã. é que começou o novo milênio, mas
deixa pra lá). Os judeus, por motivos
ABS – Sigla moderna para um sistema
óbvios – não reconhecem Cristo como
de freios nos automóveis e motos. Nas- filho de Deus, e portanto ele não teria
ceu como Anti-Lock Breaking System, tanto prestígio a ponto de marcar a
sistema antibloqueante de freio. mudança de toda uma era –, usam, para
Abstract – Do inglês, significa resu- a era cristã, em português, a sigla E.C.,
mo, apanhado geral das idéias que Era Comum, e A.E.C., Antes da Era
aparece no começo dos trabalhos ci- Comum, para o tempo anterior. O que é
entíficos, idéias que obviamente estão compreensível, afinal: o calendário ju-
desenvolvidas no corpo do trabalho. daico está agora no ano cinco mil e
(Claro que a palavra também significa, tantos, e não seriam esses magros dois
mil anos que fariam assim tanta dife-
como se pode imaginar, aquilo que em
rença. A propósito, e para confundir
português a gente chama de abstrato,
um pouco mais: nos anos de 70 e 80,
oposto de concreto, incorpóreo, teóri- houve um conjunto de rock que fez
co, etc.) Se diz |ABÇ-tract|, ou se pre- furor, rock pesado, o dito heavy-me-
ferir a pronúncia texana |ÉBÇ-tréct|. tal, |RRÉ-vi-MÉ-tal|, ou “metal pesa-
A.C. – D.C. – bC/aC – A.D. – Em por- do” para os não iniciados, chamado
tuguês, por influência direta do catoli- justamente AC/DC, tudo junto e com
cismo, quando se trata de marcar o acentuado aspecto satânico (como o
número correspondente a determina- Black Sabbath), dito no Brasil com pro-
do ano como pertencente ou não à era núncia meio inglesa, |ei-ÇÍ dji-CÍ|. A
Cristã, usamos A.C. (ou a.C.), sigla banda era de país de língua inglesa;
então, por que a abreviatura em latim?
para “Antes de Cristo”, para os anos
Porque também lá eruditamente se usa
anteriores ao calendário cristão, e D.C.
AC para anno Christi, “ano de Cris-
(ou d.C.), “Depois de Cristo”, para os to”, isto é, depois dele, do Salvador
demais. Na tradição latina, provavel- dos cristãos (este uso do AC, como
mente a matriz da forma portuguesa, deu para ver, é oposto ao anotado ali
também se usou a sigla A.Chr.n, ante em cima, e esse paradoxo tem registro
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em dicionários da língua inglesa). Por dos primeiros praticantes da idéia foi
que será que o nome era esse? Seria Zenão, aquele famoso discípulo de
para marcar a banca como algo Parmênides, lá no século 5 a.C.
transcendental? Deve ter a ver com um Parmênides, filósofo pré-socrático,
outro sentido da sigla: AC significa achava que este mundo que conhece-
também, em inglês, corrente alternada mos não é o verdadeiro mundo, mas
(alternating current), ao passo que DC apenas uma espécie de ordenação en-
significa direct current, corrente contí- ganosa das palavras, e que mudança e
nua, em português. Outra hipótese plau- movimento de fato não existiam; Zenão
sível: na gíria norte-americana, AC/DC resolveu demonstrar tal coisa median-
é designação para bissexualidade, numa te um raciocínio que procurava provar
insinuação metafórica de que o indiví- que não existe movimento – a gente
duo em questão funciona nas duas cor- aprende no colégio aquela história
rentes – coisa que no Rio de Janeiro, paradoxal que ele apresentou: uma fle-
em épocas passadas, se usava qualifi- cha que sai de um arco em direção a
car como “barca da Cantareira”, a bar- um alvo tem que se deslocar por um
ca da travessia Rio-Niterói, que atraca-
certo trecho; este trecho pode ser di-
va dos dois lados...
vidido, e este resultado pode ser mais
Acquaplaning – Mistura entre acqua, uma vez dividido, e assim sucessiva-
água em latim, e o verbo to plane, do mente, até o infinito, que nesse caso
inglês, que dá no nosso planar. É o efei- seria o não deslocamento, de forma
to que acontece em carros que andam que, pensava nosso Zenão, a flecha
rápido sobre superfícies lisas (asfalto), de fato não se movimentava.
feito os carros de corrida como os Fór-
mula 1, efeito que os faz deslizar, planar Ad aeternum – Expressão bastante
sobre a água. Diz-se |acua-PLÊI-nin|. Já usada na linguagem mais ou menos
apareceu escrito como acquaplanning polida, como sinônimo de “para sem-
(que se diria |acua-PLÉ-nin|), com dois pre”, eternamente para todo o sempre,
“n”; mas aí não dá, porque se trataria daí por diante até o fim. Caberia dizer
do verbo to plan, planejar. no mesmo sentido ad aeternitatem,
“até a eternidade”. Diz-se |ad e-TÉR-
A.D. – Anno Domini: Ver A.C. num| ou |a-de-TÉR-num|. Nos manuais
Ad absurdum – Latim para “ao absur- de latim como o Não perca seu latim,
do”, isto é, “levadas as coisas até o de Paulo Rónai, ou o
limite do absurdo”. Se diz |ad ab-ÇUR- impagável Phrases
dum| ou |a-dab-ÇUR-dum|. Usa-se para e curiosidades
certo procedimento matemático de de- latinas, de
monstração negativa, em que se pro- Arthur Re-
cura explicitar o resultado absurdo que zende, estra-
derivaria da adoção de determinado nhamente
caminho argumentativo ou da radica- não aparece
lização última de certa tese. Também a expressão,
usado em situação de debate regido que talvez
pela lógica, em geral. A expressão com- seja menos
pleta seria reductio ad absurdum, ”re- tradicional
dução até o absurdo”. Parece que um que uma
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sua parente, ad infinitum, que quer argumento ou um exemplo forjado ape-


dizer a mesmíssima coisa. nas para comprovar a tese em pauta.
Pronúncia abrasileirada: |a-DÓ-qui|.
Ad astra per ardua – Frase latina, que
o defenestrado presidente Collor, de má Ad hominem – por extenso argumen-
memória, usou em uma de suas camise- tum ad hominem, quer dizer ao pé da
tas famosas (hoje esquecidas, talvez, letra “ao homem” e “argumento ao ho-
mas fizeram sucesso: ele punha uma mem” (para ser politicamente correto
camiseta nova, a cada domingo de ma- deveríamos providenciar um ad
nhã, e saía a correr pela redondeza da feminam ou ad mulierem, quando es-
Casa da Dinda, com a imprensa em seu tivesse na cena uma mulher). Diz-se
encalço). Quer dizer, literalmente, “Aos |ad O-mi-nem| ou |a-DO-mi-nem|. Usa-
astros (se chega) por caminhos estrei- se para designar um argumento que é
tos”, “difíceis”. A pronúncia é |ad AS- usado especificamente contra o
tra per AR-dua ou |a-DAS-tra pe-RAR- contendor, não contra as idéias que
dua|. A frase tem variações em latim ele defende em geral – é um ataque, de
mesmo: Ad astra per aspera (dita |AS- fato. Outro sentido, para a mesma ex-
pe-ra|, significa dificuldades); e outra, pressão: argumentar e debater ad
mais distante: Ad augusta per angusta, hominem é também promover a argu-
dita |ad au-GUS-ta per an-GUS-ta| ou |a- mentação usando as palavras ou as
dau-GUS-ta pe-ran-GUS-ta|, significan- idéias do adversário para contraditá-las.
do “A coisas sublimes, (se chega) por
Ad infinitum – o mesmo sentido de
caminhos difíceis”.
ad eternum, neste caso “ao infinito”,
Ad hoc – do latim, muito usada na lin- “até o infinito”, literalmente. Na pro-
guagem erudita, significa “para este núncia, cuidado: deve dizer-se |ad in-
fim”, “para isto” que se acabou de fi-NI-tum|, |a-din-fi-NI-tum|, mas sem
mencionar. Diz-se |ad-ÓC| ou |a-DÓC| palatalizar o “d”, isto é, não pronunci-
ou, para ficar pedante e posar de baca- ar |a-djin-fi-NI-tum|.
na, |ad-RRÓC|, com o “r” aspirado. Por
Ad libitum – Dito |ad LI-bi-tum|, como
exemplo: numa tese universitária, pode
uma proparoxítona. Significa “à von-
acontecer de o sujeito precisar usar
tade”, do jeito que interessar. Usa-se
determinado conceito ad hoc, isto é,
no mundo da música erudita como in-
para aquele caso que está sendo ana-
dicação para o executante, que pode
lisado especificamente. Ao mencionar
exercitar sua liberdade naquela parte
a expressão, o sujeito está dizendo,
assinalada com a expressão.
implicitamente, que ele sabe que há
outros casos possíveis. Sinônimo no Ad maiorem gloriam Dei – Literalmen-
português, mas meio desusado: adre- te, “Para maior glória de Deus”, dito
de (dito com o “e” tônico aberto). Tam- |ad mai-Ó-rem GLÓ-riam DÊI|. A frase é
bém acontece na linguagem formal que a divisa da Companhia de Jesus, quer
algum cargo seja ocupado por um su- dizer, dos jesuítas. Aparece também na
jeito nomeado ad hoc, isto é, com fun- forma Ad majorem Dei gloriam (ou
ções limitadas especificamente àquele maiorem, indistintamente).
caso: procurador ad hoc, escrivão ad
Ad nauseam – Do latim, dito |ad NÁU-
hoc. No mundo acadêmico, tem tam-
zeam|, o “m”dito como se viesse uma
bém sentido pejorativo, indicando um
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vogal depois, quer dizer ao pé da letra um diminutivo afetuoso para “droga-
“até à náusea”, isto é, até os limites mais do”). Coisas do curso da língua: du-
remotos que se possa imaginar, até a rante muito tempo se chamou o depen-
saciedade. (Entre parênteses: ao invés dente de álcool de alcoólatra, aquele
de dizer “ao pé da letra” ou “literalmen- que idolatra o álcool; depois, com o
te”, usa-se, embora raramente, dizer o aparecimento da noção de que não se
latinório conveniente, ad litteram, dito trata de amor, mas de doença, mudou-
|ad LI-te-ram|, ou então, mais comum, se o termo para alcoólico, e o alcoólatra
ipsis litteris, dito |IP-çis LI-teris|, que caiu em desuso. Assim também com o
quer dizer “com as mesmas letras”, “nos drogado, que foi reconhecido como
mesmos termos”, “textualmente”.) A dependente, adicto. Quando se usa o
expressão é usada para configurar a nome da coisa, se usa “adicção”, com
reiteração de algum procedimento até os dois “c”, naturalmente para diferen-
dizer chega: repetir um exercício ad ciar de adição, pura e simples, se bem
nauseam, um chato fica dizendo as que o Houaiss registre “adição” mes-
mesmas coisas ad nauseam, etc. mo para os dois significados.
Adiós, muchachos – Na língua comum
de nosso país, volta e meia se diz a ex-
pressão para marcar o fim de algo. “Se
tudo der certo no meu plano, adiós,
muchachos”, por exemplo. É expressão
da língua espanhola, literalmente
“adeus, rapazes”, ou melhor, “tchau,
rapaziada”, e deve ter sido populariza-
Ad referendum – Outro latim, desta vez da por causa de uma canção de muita
bastante usado na linguagem burocrá- fama, um tango, que se chama, precisa-
tica quando alguém dá seguimento a mente, Adiós, muchachos, letra de
alguma iniciativa, mas faz a restrição de César Felipe Vedani para música de Ju-
que será preciso consultar os envolvi- lio César Alberto Sanders, de 1927, gra-
dos ou as instâncias superiores, para vado por todo mundo e imortalizada por
confirmação da validade da decisão. ninguém menos que Carlos Gardel, e
Literalmente significa “ao referendo”, que começa assim:
isto é, que se deve ainda confirmar, que
deve ganhar o referendo de outrem. A Adiós, muchachos, compañeros de
palavra referendum é paroxítona. mi vida
Barra querida de aquellos tiempos.
Adicto – Direto do latim addictu, signi- Me toca a mí hoy emprender
fica afeiçoado, dedicado, mas entrou na la retirada,
circulação do português contemporâ- Debo alejarme de mi
neo para o drogado, que é um depen- buena muchachada..
dente. Usa-se o termo drogadicção para Adiós, muchachos, ya me vou y me
o fenômeno da dependência de alguém resigno,
à droga e drogadito ou drogadicto para Contra el Destino nadie la talla...
o dependente (“drogadito”, quando Se terminaron para mí todas
ouvi pela primeira vez numa palestra de las farras,
psicólogo escolar, me pareceu apenas Mi cuerpo enfermo no resiste más.

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