Você está na página 1de 8

A OBRA PIANÍSTICA DO PADRE JOSÉ DE ALMEIDA PENALVA

Carmen Célia Fregoneze

Introdução

O panorama heterogêneo da música brasileira e, paradoxalmente, a centralização do


foco dos estudos sobre os movimentos musicais no eixo Rio-São Paulo, indicam a
necessidade de abordar e estender a análise crítica da produção musical brasileira
contemporânea às outras regiões do país. Neste intuito, verifica-se de imediato uma primeira
deficiência, que é a escassa bibliografia sobre os compositores regionais brasileiros
contemporâneos. Há uma falta de estudos sistemáticos de maior profundidade e que não
apenas citem brevemente os currículos e as principais obras dos compositores.
O Paraná, um estado que sempre valorizou a cultura, propiciou condições para o
desenvolvimento das artes e é hoje espaço de importantes músicos, intérpretes e
compositores. Muitos dos artistas que atuaram neste estado no passado têm sido alvo de
menções por parte de críticos e estudiosos da cultura paranaense. No entanto, não há menção
aos músicos contemporâneos paranaenses na bibliografia existente sobre a música brasileira
do século XX. A produção de compositores ainda vivos, como o Padre José Penalva, é
omitida simplesmente ou mencionada apenas de passagem.
Uma das personalidades mais atuantes na vida musical curitibana, o Padre José
Penalva é também teólogo, regente, escritor e professor e tem contribuído de maneira
significativa para o desenvolvimento da música erudita no Paraná. Nasceu em Campinas - São
Paulo, em 15 de maio de 1924. Começou seus estudos de piano aos quatro anos de idade.
O conjunto de obras do Padre José Penalva, cujo catálogo é integrado por 168 [1],
inclui 33 obras para voz e instrumento (constando deste grupo a sua primeira
composição, Quid Retribuam, de 1945), 61 obras para coro a capella e 18 obras para coro e
instrumentos. A produção para instrumentos solistas inclui uma peça para órgão e doze peças
para piano. São sete as obras para conjunto de música de câmara e cinco para orquestra. As
obras para orquestra, coro e solista são doze, constando deste último grupo o seu Oratório -
dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, estreado em maio de 1992. Neste catálogo é
proeminente a produção par piano que inclui: Sonata 2 (1960), Prelúdio e Fuga (1961)
[integrada a Nova et Vetera com o nome de Preludietto e Fuga, 1990], 3
Versetos (1963), Mini-Suíte nº 1 (1968), Mini-Suíte nº 2 (1969), Sonata 1 (1970), Mini-Suíte
nº 3 (1971), Marcas (1972), Diálogo (1973), Nova et Vetera (1990), Ponteio (1990), Sonata
3 (1991).
A falta de trabalhos analíticos sobre a obra pianística do Padre José Penalva justifica a
necessidade de oferecer uma alternativa aos escassos trabalhos bibliográficos sobre a música
deste compositor.
A presente pesquisa foi norteada pelas seguintes perguntas:
1 - A análise das obras pianísticas do Padre José Penalva resulta na identificação de
recursos composicionais consistentemente utilizados pelo compositor?
2 - A utilização destes recursos composicionais possibilita a delimitação dos traços
estilísticos do compositor?
A obra para Piano
O corpo de obras para piano do Padre José Penalva foi submetido no presente trabalho
a uma análise de superfície, com o propósito de determinar o idioma musical do compositor.
Esta observação analítica verificou se há ou não recursos musicais recorrentes, por constância
ou por contraste, que venham a constituir traços estilísticos próprios.
A análise de superfície deve ser entendida neste caso como a observação dos recursos
musicais de maior freqüência nas obras do compositor. Estes recursos provém de fontes
diversas (formas, idioma e técnicas composicionais, referências a outros repertórios), porém
são integrados a obras musicais resultando na construção do idioma musical do compositor,
definindo e sintetizando seus traços estilísticos. A análise de superfície e a conseqüente
identificação das técnicas composicionais e dos recursos musicais aos quais o compositor
mostrou-se mais sensível e que responderam às suas necessidades de expressão é que
delimitaram suas diversas fases de composição na presente pesquisa. Posteriormente a esta
análise, foram reunidos os recursos musicais que perpassam o todo da obra, definindo assim
os traços estilísticos do compositor.
Os gêneros abordados na obra pianística do Padre José Penalva indicam a divisão de
suas peças em três grupos:
- Grupo das peças de dodecafonismo ortodoxo e não ortodoxo, seguindo o modelo
formal da suíte (Mini-Suítes 1, 2 e 3);
- Grupo das peças de grande forma, escritas em dodecafonismo ortodoxo, tonalismo e
atonalismo, seguindo o modelo formal da sonata clássica (Sonata 1, 2 e 3);
- Grupo das peças isoladas, com forma livre, escritas em dodecafonismo ortodoxo e
não ortodoxo, havendo também uma peça tonal e uma atonal.
Diante de cada peça pertencente a cada um dos três grupos, foi inicialmente analisada
a organização intrínseca de cada uma, avaliando-se os seguintes aspectos: construção formal,
divisão do todo em partes e/ou seções, elementos que se articulam como transição de seções
ou partes, elaboração de temas e fragmentos temáticos nas peças de grande forma (as
Sonatas), construção fraseológica, idioma harmônico, manipulação da série dodecafônica nas
peças seriais, texturas, contornos melódico e rítmico, fragmentações melódicas e rítmicas,
movimento dinâmico, freqüência de padrões rítmicos, variações de pulsação e andamento de
uma peça, liberdade de agógica, tratamento de teclado, contraste entre caráter rítmico e
caráter expressivo.
Posteriormente desenvolveu-se a análise de superfície propriamente dita. Sobre cada
peça foram fornecidas informações gerais, onde constam as características de maior
ocorrência encontradas no todo de cada obra. A análise de superfície é complementada
também pelos relatos do compositor, obtidos através de entrevista pessoal, e comentários,
onde encontra-se a observação analítica dos recursos musicais utilizados pelo compositor
dentro de cada parte, seção e movimento pertencente a uma obra.
Da análise de superfície resultaram observações que apresento a seguir
resumidamente, aludindo às Suítes, às Sonatas e às peças esparsas nesta ordem.
A Mini-Suíte nº 1 inclui quatro movimentos: Introdução, Ciranda, Modinha e Valsa.
O compositor utiliza o dodecafonismo como técnica composicional e trabalha com a série
original e sua inversão e retrogradação.
Na Mini-Suíte nº 2 o compositor utiliza o dodecafonismo procurando combiná-los com
elementos do folclore. A peça é constituída por três movimentos: Cana-
verde, Ponteio e Sincopado.
A Mini-Suíte nº 3 é integrada por apenas duas peças: Toc-toc e Murucututu. O
compositor continua utilizando aqui a técnica dodecafônica, porém em ambas as peças a série
aparece de forma fragmentária.
A Sonata 2 é propriamente a número 1. Foi um trabalho de escola, o qual o compositor
não publicou e nem pensa em publicar. É constituída por três
movimentos: Moderato, Andante Cantabile eRondo-Allegro.
Sonata 1: Foi a segunda Sonata escrita pelo compositor, porém a primeira a ser
editada. Contém apenas dois movimentos, Seresta e Desafio, onde o compositor
dodecafonizou linhas melódicas populares.
A Sonata 3, que ainda espera pela sua edição, possui linguagem atonal e inclui três
movimentos: Allegro, Andante e Rondo-Agitato.
Nova et Vetera: esta peça é a primeira composição do catálogo de obras para piano de
José Penalva e também a sua primeira peça em linguagem tonal, em releitura de 1990. Nesta
releitura o compositor reuniu três peças isoladas e as
refez: Fughetta (1956), Mozartiana (1960) e Preludietto e Fuga (1960).
3 Versetos: Primeira peça dodecafônica do compositor, segundo o seu próprio
depoimento, é fiel à técnica dodecafônica e integrada por pequenos versos independentes.
Marcas: Nesta peça o compositor utiliza novamente o dodecafonismo, porém de
maneira não ortodoxa. A série de doze sons aqui não é utilizada com caráter estrutural e sim
incidental.
Diálogo: Peça na qual o compositor utiliza técnicas expandidas no tratamento do
teclado. Possui caráter aleatório devido à execução indeterminada de certos recursos musicais
utilizados, como batidas na caixa do piano, tremolo com dois dedos e clusters.
Ponteio: Primeira peça atonal do catálogo de obras para piano do padre José Penalva,
conforme o próprio compositor, o nome veio depois que foi escrita.
A análise das obras para piano do Padre José Penalva indica que há recursos musicais
que perpassam o todo da obra, proporcionando uma unidade. Embora fases diferentes possam
ser apontadas, há certos recursos musicais contrastantes cuja ocorrência é independente de
fases. Mesmo a diversidade de gêneros, formas, estruturas e técnicas composicionais não
impede o aparecimento de traços estilísticos individuais, já desde as primeiras obras. O
emprego contrastante de técnicas composicionais aponta para a ruptura definitiva entre uma
fase e outra, não como obras que finalizam uma fase e dão início a outra, mas sim com
modificações de linguagens que definem e separam as fases, inclusive com intervalo de mais
de uma década. A mudança radical de linguagens ocorre devido à vontade do compositor de
escrever música de seu tempo e, segundo seu depoimento, de misturar coisas antigas e novas.
São três as fases em que pode ser dividido o conjunto de obras do compositor
tomando-se por base a utilização de diferentes técnicas composicionais: fase tonal, fase serial
e fase atonal.
A primeira fase contém duas obras de linguagem tonal, Nova et Vetera e Sonata 2,
onde o compositor utilizou títulos provenientes do barroco e classicismo e seguiu modelos
formais clássicos. Nova et Vetera apesar de pertencer ao grupo de peças isoladas e com forma
livre, é constituída por duas peças que receberam uma moldura
clássica: Fughetta e Preludietto e Fuga. Nesta fase e dentro de uma mesma peça a roupagem
harmônica é tornada ambígua através de notas estranhas à tonalidade e da inclusão de trechos
dissonantes entre partes consonantes, como na Mozartiana. Estas características definem o
estilo do compositor nesta fase inicial. Na Sonata 2 também ocorre o distanciamento da
tonalidade através da utilização de notas estranhas e da presença freqüente de acordes com
sétima que não conduzem à tônica ou não encontram resolução. Esta dissimulação de
tonalidade, equivalente à utilização do tonalismo como "pano de fundo" de uma peça, é
também uma característica do estilo do compositor nesta fase inicial.
A utilização da técnica composicional dodecafônica inaugura a segunda fase da obra
do Padre José Penalva. Foi em 1960 que ele compôs sua primeira peça dodecafônica, o Duo
Seraphim, para coro e instrumentos. Foi em 1963, nos Versetos, única peça escrita em
dodecafonismo ortodoxo e com forma livre, que o compositor optou pelo dodecafonismo nas
suas composições para piano. Nesta fase, que se estende até 1973, encontra-se seu maior
número de obras, cuja unidade é garantida pela utilização do dodecafonismo como elemento
estruturador. Nas obras desta fase, o dodecafonismo está aliado à temática folclórica brasileira
e a modelos formais clássicos como a suíte nas Mini-Suítes e a sonata na Sonata 1. Até 1970,
as obras da fase dodecafônica revelam uma utilização ortodoxa da série, não fugindo dos
preceitos indicados por Schoenberg em suas primeiras obras seriais. No período final da fase
dodecafônica, entre 1972 e 1973, o compositor distancia-se da ortodoxia na utilização da série
de doze sons e passa a escrever com séries fragmentadas e que possuem caráter incidental e
não estrutural. A série passa a fazer parte do discurso musical como um elemento de
ocorrência, e não mais como elemento gerador do discurso.
Depois de dezoito anos, em 1990, o compositor dá início a sua fase atonal, onde ocorre
a presença de apenas uma outra peça isolada e com forma livre: o Ponteio. A Sonata
3 apresenta traços novos para o compositor que está fazendo renascer sua obra pianística e
que pretende refletir o momento atual através de uma nova linguagem. Esta se manifesta
através da utilização do atonalismo e de novos efeitos sonoros e novas combinações rítmicas.
As peças de grande forma - as Sonatas - merecem comentários específicos, pois que
ali observa-se a exploração de outros recursos musicais. Estas peças são os pontos marcantes
de cada uma das fases, pertencendo cada sonata a uma fase diferente, havendo alguns
aspectos que são similares e outros que são contrastantes entre elas. A forma e a linguagem
são os elementos de maior importância a serem explicitados, pois o primeiro nos mostra as
similaridades e o segundo os contrastes que ocorrem. Os primeiros movimentos de cada uma
das três sonatas seguem o modelo formal da sonata clássica, contendo exposição,
desenvolvimento e reexposição. A exposição não é bitemática, não ocorrendo temas que
funcionem como idéia geral do movimento. Há diversidade e grande número de temas e
fragmentos temáticos nestas obras e sua manipulação é notável. Nos desenvolvimentos os
temas da exposição não são elaborados, ocorrendo apenas citações de fragmentos melódicos e
rítmicos já utilizados anteriormente, modificados em dinâmica e textura. Pode ocorrer
exposição de novos temas contrastantes, como na Sonata 3. Na reexposição há a repetição fiel
dos temas e fragmentos temáticos da exposição, com modificações apenas de dimensão,
devido ao acréscimo de compassos ao final da peça.
A Sonata 2 possui vários elementos que identificam características do compositor.
Entre eles estão diversidade de temas, contrastes rítmicos e expressivos entre eles, contrastes
de andamento dentro de um mesmo movimento, liberdade de agógica, reutilização de
fragmentos de elementos rítmicos e melódicos já ocorridos anteriormente, a presença de
seqüências ascendentes ou descendentes antecedendo novas seções, polirritmia e
deslocamentos rítmicos, repetições de um desenho melódico com ritmos diferentes,
fragmentações de elementos melódicos e rítmicos que são colocados como interjeições
durante o discurso musical ou no final de seções e repetições de elementos rítmicos e
melódicos em crescendo e accelerando nas transições de seções. A Sonata é o ponto
culminante da fase dodecafônica, possuindo um fio condutor que traça um elo com obras
anteriores e posteriores devido à recorrência de elementos do vocabulário musical do
compositor, ligando uma obra a outra.
É na Sonata 1 que observamos a amplitude do estilo do compositor, tal como na obra
coral, devido à maneira com que elabora e articula os elementos dentro do discurso musical.
Aqui, o que foi utilizado nas peças mais curtas é transformado e elaborado em novas
proporções. Esta obra tem um elo com as anteriores devido à utilização do serialismo aliado à
temática folclórica e aos modelos formais clássicos. O elo com as obras posteriores reside no
tratamento do teclado, na freqüência dos ritmos sincopado e em contratempo e na presença de
massas sonoras. Esta sonata marca o início da fase mais agressiva do compositor. Portanto,
esta obra reúne e resume todos os recursos musicais explorados pelo Padre José Penalva,
caracterizando de maneira clara seus traços estilísticos nesta fase de maior produção.
A Sonata 3 apresenta idéias distintas entre si e em relação às peças de fases anteriores,
porém não deixa de apresentar os traços estilísticos já estabelecidos pelo compositor, através
da utilização de elementos que formaram o seu vocabulário musical. Novamente muitos
recursos musicais de fases anteriores são incorporados, adquirindo nesta obra uma identidade
própria dentro do discurso musical.
Entre os recursos musicais que foram utilizados nesta obra destacam-se
particularmente a linguagem atonal, a textura mista, a freqüente utilização do cromatismo na
melodia e no acompanhamento, a presença de temas contrastantes no desenvolvimento e a
utilização da figuração rítmica de tercinas, as quais aparecem com freqüência nas partes
melódicas.
Nas três sonatas há sempre um elemento unificador ou estruturados dentro de cada
movimento. Muitos dos elementos que são utilizados nas três sonatas fazem parte do próprio
vocabulário musical do compositor e são encontrados desde as primeiras obras, definindo
traços estilísticos comuns.
No conjunto das obras do Padre José Penalva é relevante a fusão de diversos recursos
musicais, pois é uma característica que o percorre desde o início, configurando também um
traço estilístico. É relevante também a presença de recursos musicais contrastantes que
perpassam o conjunto das obras, sendo encontrados separadamente e em peças diferentes.
Entre eles estão:
- em Nova et Vetera - exceção entre as peças isoladas e que possuem forma livre, pois
entre as três peças que a integram, duas seguem modelos formais
clássicos: Fughetta e Preludietto e Fuga;
- nos 3 Versetos - a série fornecida não é utilizada em todas as peças;
- na Mini-Suíte nº 1 - na Introdução não ocorre a utilização da temática folclórica, a
qual percorre a peça;
- na Mini-Suíte nº 2 - exposição da série não apenas em textura horizontal, mas
também em textura vertical, com alturas integradas a interjeições de acordes;
- na Mini-Suíte nº 3 - exposição da série inicialmente fragmentada;
- na Sonata 1 - única ocorrência de dois movimentos em peça de grande forma;
- em Marcas - peça multisseccional constituída por temas contrastantes, contendo uma
série dodecafônica que não funciona como elemento estruturador da peça;
- no Diálogo - peça na qual ocorre a fusão das técnicas composicionais dodecafônica,
aleatória e expandida;
- na Sonata 3- predominância de intervalos cromáticos na melodia. O
desenvolvimento possui nesta peça uma função estrutural, porém não se utiliza de temas e
fragmentos temáticos da exposição, como nas Sonatas 1 e 2;
- no Ponteio - única peça isolada e com forma livre de linguagem atonal.
Das três fases em que foi dividida a obra para piano de José Penalva é possível extrair
os recursos musicais que perpassam a obra por completo e que configuram traços estilísticos
individuais. São eles:
- Utilização de modelos formais clássicos;
- Contrastes entre textura horizontal e textura vertical dentro de uma mesma peça;
- Ocorrência de um elemento que proporciona unidade à obra, sendo muitas vezes o
elemento gerador do discurso, como por exemplo a utilização da série dodecafônica;
- Exploração do teclado de maneira predominantemente percussiva, devido à
utilização de agregados verticais, clusters e blocos sonoros dissonantes;
- Flexibilidade na indicação metronômica;
- Liberdade de agógica devido às constantes indicações de mudanças de andamento;
- Diversidade de pulsação dentro de uma mesma peça ou movimento;
- Freqüentes e abruptos contrastes de dinâmica e de registros;
- Presença constante de contrastes entre caráter expressivo e caráter rítmico;
- Reforço dos deslocamentos rítmicos pelas indicações dos acentos tenuto e marcato;
- Uso da síncope e do contratempo;
- Freqüente utilização da polirritmia;
- Repetições de um desenho melódico com ritmos diferentes;
- Alargamento do tempo cronológico através de ligaduras que se estendem para além
da barra de compasso ou através de fermatas no final das peças, prolongando as ressonâncias;
- Presença de reminiscências melódicas e rítmicas de seções anteriores no final de
várias obras;
- Diversidade de temas e fragmentos temáticos dentro de um mesmo movimento ou
peça;
- Fragmentações melódicas e rítmicas no decorrer do discurso musical;
- Presença de seqüências ascendentes e descendentes antecedendo novas seções;
- Freqüentes indicações quanto ao caráter do ritmo e da melodia.
Segundo Stein [2], "basicamente, análise implica em identificar e relacionar
semelhanças e distinguir diferenças. Conseqüentemente, nem descrição ou avaliação são as
bases da análise, mas sim o estabelecimento de relações". Esta citação serve como síntese do
que foi realizado nesta pesquisa, pois foi a relação entre as semelhanças e a distinção entre as
diferenças que possibilitaram a análise das obras e a delimitação dos tempos estilísticos do
compositor. A análise da obra pianística do Padre José Penalva e a observação dos materiais
básicos utilizados, das características próprias de cada obra e da maneira como os elementos
musicais se articulam e transformam dentro do discurso musical, resultaram na identificação
de uma pluralidade de recursos musicais utilizados pelo compositor. Ao mesmo tempo, há
uma constância na utilização destes elementos, o que produz uma linguagem musical
consistente. Dentro de cada fase composicional apontada, há coesão devido tanto à utilização
de recursos musicais comuns quanto à utilização de recursos musicais contrastantes. Foi esta
coesão resultante de elementos diversos que possibilitou delimitar os traços estilísticos
individuais do compositor. A superposição e a fusão de elementos da linguagem musical,
independentemente de serem novos ou velhos, comuns ou contrastantes, é o ponto culminante
da obra pianística do Padre José Penalva, individualizando-a dentro da produção musical
brasileira.

Referências Bibliográficas
(1) José Penalva - Catálogo de Obras. Boletim informativo da Casa Romário
Martins. Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba, 1988, vol. 15, nº 80., 44 p. (retorna)
(2) Apud GANDELMANN, Salomea. Literatura Pianística Brasileira Contemporânea.
Comunicação apresentada no IV Encontro Anual da ANPPOM, Porto Alegre, 17 de setembro
de 1991. IV Encontro Anual da ANPPOM - Anais, Porto Alegre, 1991. 4 p. (retorna)

Você também pode gostar