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(EE PLANOS supertol Dos limdes, uma limonada... Oi consegue costurar um acordo para aquisigéio da Br Telecom, criando uma supertele sem a presenca do Opportunity e com participacdo ampliada dos fundos de penso 1m dos imbréglios mais antigos envolvendo in- vestimentos de fundos de pensdo comegou a ser desfeito no fim de abril, quando os varios acio- nistas das empresas Brasil Telecom ¢ Oi (antiga, Telemar) conseguiram negociar um acordo que passa 0 controle da primeira para a segunda. O acordo foi fechado apés quatro meses de intensas negociagdes, envolvendo desde 0 prego a ser pago pelas ages dos sécios vendedores até o descruzamento das participacdes em cada uma dessas empresas, além de remincias em processos judiciais em andamento e uma nova estrutura societaria, Numa negociagdo como aquela, onde interesses fina ceiros se misturavam a acusagdes de corrupgao e a quase uma centena de processos judiciais que os sécios tinham aberlo uns contra os outros no Brasil ¢ no exterior nos liltimos dez anos, cada virgula a ser colocada no contrato cera motive de intensos debates, desconfiancas ¢ paralisa- ‘ges dos trabalhos. Ao final, 6 Opportunity, Citigroup & GP Investimentos estio deixando a estrutura societiria da ova empresa, enquanto os grupos Andrade Gutierrez ¢ La 20 Fonte ampliaram suas participagdes ¢ formaram, em as- sociagao com a fundagao Atlantico, um bloco de controle ‘com 50,1%, ¢ 0s fundos de pensio Previ, Petros ¢ Funcet montaram junto com 0 BNDES um bloco minoritirio de 49,9% com direitos de veto em virias decisdes estratégicas, previstas no acordo. Esse cuidado com a questo da participagao nas decisdes cestratégicas justifica-se, pois os fundos de pens nunca conseguiam ter voz ativa nas decisies estratégicas da operadora na época em que os dois fundos CVC (tanto 0 nacional quanto o internacional) tinhama gestio do Oppor- tunity. O banco de Daniel Dantas tomava as decisdes sem ouviras fundagdes, embora elas tivessem colocado a maior parte do dinkeiro usado para constituir a operadora. Um caso ilustrativo dessa situagao foi a batalha que as funda- Fundacées Atlantico, BrtPrev e 14 agoré ‘A compra da Br Telecom pela Oi colocaré para as, fandagdes Atlantico, BriPrev © 14 uma questilo interes- sante, que nos proximos meses deverd ser respondida pela patrocinadora que passara a ser tinica e pelos parti- cipantes que passardo a ser funcionarios de uma mesma ‘empresa: haverd condiges de juntar as trés em uma s6,, criando uma entidade mais forte © com menores custos administrativos? “Ainda no tivemos nenhuma sinalizagao sobre isso, sequer fomos informados oficialmente das negociagdes, ‘entre as empresas, o que sci é 0 que estou vendo pelos. jornais”, afirma Eléu Baccon, presidente da BriPrev © Fundagio 14. “O que sei & que houve um acordo de intengdes, mas a coneretizagio do negécio ainda depende de muitas coisas”. A BriPrev (Br Telecom) & uma fundagao de RS 1,15 bilhdo enquanto a Fundacdo 14 (antiga CRT - Cia Rio- grandense de Telecomunicagdes) tem ativos da ordem de RS 1,35 bilho. Somam juntas RS 2,5 bilhOes contra os RS 3,3 bilhdes da fundagdo Atlantico. Se somadas, as trés representariam ativos de RS 5,8 bilhdes, passando a disputar coma Fapes, do BNDES, 0 11° lugar do ranking, da SPC. A Fapes tinha, ao final de margo, RS 5,88 bilhdes. em ativos. Para 0 consultor da Watson Wyatt, Eder Carvalhaes, a ‘Ma/2008 - Invesnioo INSTIUCIONAL ‘des tiveram que travar para desti- tuir o Opportuni- ty da gestio dos {undo CVCnacio- nal, pois o estatu- to estipulava que ‘a mudanga s6 po- deriaser feitacom a aprovagio de 90% dos cotistas. Como a antiga Controle da Nova Empresa it q t ‘ Beta eet é Sistel tinha uma ee cS participagio de 17,78% no fundo, que era exercida pelo plano da Br Telecom, controlada entio pelo Opportunity, na pritica isso representava poder de veto do gestor a qualquer proposta por sua destituigao. Sem diivida, essa situagio foi lembrada pela fundagdes za hora de costurar 0 acordo. Nele, foram estabelecidos gatilhos para a tomada de decisées estratégicas, sendo necessirios 66,67% dos votos para alguns casos, 70% para outros e 84% para a aprovagdo das questdes mais delica~ das. Com isso, a participagdo de 50,1% do bloco de controle permite apenas a tomada de decisdes do dia a dia, mas nfo a tomada de decisdes estratégicas que mudem 0 rumo da empresa, Para a aprovagao do orgamento de investimentos, por exemplo, precisa ter 70% dos votos, jung das tr8s fundagdes em uma s6 seria um processo bastante longo ¢ dificil. Ele lembra 0 proceso de estru- turagio da Enerprev, fundo de pensio da Energias do Brasil criado pela incorporago das fundagdes Enersul, Escelsos e do plano da Bandeirantes Energia que se ‘encontrava abrigado na Funcesp. O processo foi conduzi- do pela Watson. “Comegamos em 2005 e somente agora cele esté operacional”, diz Carvalhaes. “Mas valeu a pena, ‘deu uma economia de cerca de R$ 1 milhio por ano em taxas de administragio para o plano, 0 que representa centre 20% e 25% dos seus custos”. processo de incorporago, no projeto apresentado pela Watson a Energias do Brasil, era o mais adequado, pois 0 novo fundo seria 0 sucessor de todas as pendéncias, existentes. Mesmo assim, demorou quase trés anos para set aprovado e se tomar operacional. A altemnativa & incorporagao seria liquidar os planos existentes anterior- mente e transferir tudo para um novo plano. “Mas, nesse caso, teria que pagar as insuficiéncias de cada plano ea seguir pegar as rescrvas c os participantes ¢ transferie tudo para 0 novo”, explica o consultor da Watson. “De- moraria demais, nao h4 sequer uma legislaco para regu- lar esse processo de liquidagao de fundos no Brasil”. Carvalhaes conta que 0 processo de jungdo de funda- es, seja por liquidagdo ou incorporaciio das anteriores, Inwesripor InsTITUcIONAL - Mai/2008 ‘enquanto para a venda de participagdes a grupos de fora sto necessirios 84% dos votos, o que quer dizer que dependendo da pauta, 0s majoritérios vio precisar do apoio de um, dois ou dos trés sécios para aprové-la. No caso de venda de participagdes, apenas com 0 apoio do BNDES, que tem 16,86% dos votos, 0 quérum de 84% poderd ser atingido, o que equivale a um poder de veto. SEM Livicios - “Foi um negécio muito bom para_os fundos, saimos de duas participagdes cheias de conflito para uma participago numa empresa maior € que nto envolve litigios”, resumiu o presidente da Petros, Wagner Pinheiro, “Transformamos dois limées azedos numa limo- nada”, diz inspirado o presidente da Funcef, Guilherme Lacerda. Na nova estrutura, diferente daquela emaranhada teia que 0 Opportunity havia tecido na década de 90 para controlar a Br Telecom através de infimeras participagdes, cruzadas, as posigdes de cada sécio passam a ser diretas € mais claras: a Andrade Gutierrez. (AG) terd 19.34%; La Fonte (LF) 19,34%; Fundagao Atlantico 11,50%; BNDES- Part 16,86%; Previ 12,96%; Petros 10%; Funcef 10%. (Os trés sécios que nao entraram na nova estrutura socie- tiria, Opportunity, Citigroup ¢ GP Investimentos, vende- ‘ram suas participagdes por cerca de RS 3 bilhdes. Apenas a parte do Opportunity teria alcangado valor de RS 1,45 bilhdo. Essas participagdes foram compradas pela AG & LF, na proporgao de 50% cada uma, permitindo que esse grupo assumisse junto com a fundago Atléntico o controle 1 estao sob 0 mesmo teto. Isso sugere algo? cenfrenta muitas resisténcias por parte dos participantes, ‘que temem mudar de um plano que ja conhecem para um novo plano. No caso do Enerprev, os sindicatos eriaram ‘bstéculos, os aposentados entraram na justiga mas a SPC aprovou o processo 9 meses depois de apresentado. “Fun- ddos mais novos so mais ficeis de mudar, os mais antigos so mais complicados, tem uma histria& qual as pessoas se apegam”. Tio caso do BrProv, criada hd 29 ance e qua tem 70% dos seus 5.900 participantes na condigo de assistidos. Apenas 30% siio ativos. “E um plano maduro”, diz Bac- con. Jaa Fundagdo 14, também com 5.900 participants, tem uma relagio inversa: apenas 30% s80 assistidos contra 70% de atives. A Atlantico, com 20.300 partici- ppantes, tem 64% de participantes ativos e apenas 36% de assistidos. Se pode ser complicado juntar todos em um tinico plano, manté-los em planos distintos ¢ que as vezes oferecem beneficios diferenciados poder ser ainda mais, complicado. “Como se conseguir explicar para um em- pregado da nova empresa que veio da Br Telecom que os seus beneficios sllo diferentes daqueles que so oferec dos a0 empregado da mesma empresa s6 que vindo da OF", questiona Carvalhaes. “Na nova estrutura, sero todos empregados da mesma empresa”. 2 4éa nova operadora. As fimndagdes Petros e Funcef, que a0 ‘migrarem suas participagdes na Br Telecom para a nova ‘empresa encolheram para 3%, resolveram investir dinhei- ro novo para fortalecer suas posigBes na nova companbiia sem earteira ¢ dinheiro novo, a Funcef colocou mais RS 280 milhdes enguanto a Petros colocou mais RS 420 milhdes. “Acreditamos no sucesso da nova empresa”, diz Pinheiro. “Com o tamanho que ficou, ela vai disputar no apenas 0 mercado brasileiro mas também outros mer- cados na América Latina e Africa’ A validade do acordo, entretanto, ainda depende da ‘mudanga da legislagao do setor, de forma a permitir que

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