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Primordialmente o conceito de família era unicamente ligado ao casamento, não admitindo

diversidade como, por exemplo, a união estável, o que por consequência também não admitia
o divórcio; além disso possuía base patrimonial, o patriarcado era predominante portanto o
casamento e formação de família eram intimamente relacionados a poder, patrimônio e status
social, nada tinha a ver com a afeição, como é atualmente. O conceito de família não se
manteve com o passar dos anos, pois assim como a sociedade, muda gradativamente de
acordo com a nossa evolução. Atualmente o conceito de família moderno, abandonou o
modelo patriarcal anteriormente usado, dando lugar ao principio da igualdade que rege que o
homem e a mulher são iguais e ambos compartilham de igualdade de direitos e deveres, esse
principio também recai sobre os filhos, não há mais distinção entre filhos, como anteriormente
eram divididos entre legítimos, ilegítimos, legitimados e adotivos, todos são iguais em direitos,
e ficam afastados de acepção, isso parte também do (principio da pluralidade familiar) que
admite a diversidade de formas de constituição familiar, hoje a família não tem ligação com
casamento e sim afeição (principio da afetividade) , sendo admitido famílias matrimoniais,
família proveniente de união estável, homo afetiva, monoparental, anaparental, pluriparental
e multiparentalidade. Principio da dignidade humana e da solidariedade também
possibilitaram esses avanços para a evolução do conceito. E por fim o principio da monogamia,
que não é explicito todavia em nossa legislação no código penal diz (Art. 235 - Contrair alguém,
sendo casado, novo casamento. Pena - reclusão, de dois a seis anos) anteriormente esse
principio estava relacionado com o crime de adultério, anterior a existência do divórcio, hoje
com a existência do divórcio, este principio bate de frente com o principio da afetividade e a
liberdade da constituição de famílias poliafetivas.

O RECURSO ESPECIAL Nº 1.157.273 - RN (2009/0189223-0) proposto para análise diz respeito a


um caso de famílias paralelas, o que é bem comum, todavia é mal visto socialmente
justamente pelos resquícios do antigo crime de adultério e do ainda atual principio da
monogamia. O caso trata-se de uma discussão judicial em face do reconhecimento de união
estável e direito a pensão por morte do de cujus que mantinha duplo relacionamento ora com
sua ex esposa ora com a companheira que não contraiu vinculo conjugal todavia mantinha
também relacionamento amoroso, até o dia de sua morte.

Há divergência de opiniões sobre o caso, todavia, independente de vínculo matrimonial


anterior, ambas comprovaram relação com o de cujus, inclusive por meio de documentos
escritos de próprio punho pelo falecido.

De um lado fica a família constituída pelo de cujus, conjuntamente com sua ex mulher e filhos,
ficando comprovado que mesmo após o divorcio, ambos mantinham dependência emocional e
financeira, pois o de cujos contribuía economicamente com a ex esposa.

De outro lado fica a companheira do de cujus que comprovou também relação com este,
apesar de não possuir antigo vinculo de sociedade conjugal, nem filhos proveniente da relação
(Ambos possuíam filhos de relacionamento anterior).

Na jurisprudência não se encontra pacificidade sobre o assunto, as opiniões são muito


divergentes portanto é um caso que deve ser conduzido e analisado de forma criteriosa e
levando-se em consideração os princípios da afetividade, dignidade da pessoa humana, busca
da felicidade, solidariedade, igualdade dentre outros. Apesar da ausência do importante
critério de fidelidade, a questão é complexa e comporta diversas interpretações, deve-se
ponderar cada caso e apesar da diferença estrutural deles, não deve um ser mais valorado do
que o outro de maneira superficial, tendo em vista que a afetividade possui suma importância
na validação das relações.

É necessário levar em consideração no entanto que a relação do de cujus com sua ex esposa,
pode ser considerada sociedade de fato todavia não como união estável pois há falta de um
elemento essencial: objetivo de formar família. Com a dissolução do matrimonio nos termos
do art. 1.724 do CC/02 e

posterior continuidade apresenta obstáculo no dever de lealdade esperado entre os


companheiros “O dever de lealdade “implica franqueza, consideração, sinceridade,
informação e, sem dúvida, fidelidade. Numa relação afetiva entre homem e mulher,
necessariamente monogâmica, constitutiva de família, além de um dever jurídico, a fidelidade
é requisito natural” (Veloso, Zeno apud Ponzoni, Laura de Toledo. Famílias simultâneas: união
estável e concubinato. Disponível em http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=461. Acesso
em abril de 2010). - Uma sociedade que apresenta como elemento estrutural a monogamia
não pode atenuar o dever de fidelidade – que integra o conceito de lealdade – para o fim de
inserir no âmbito do Direito de Família relações afetivas paralelas e, por consequência,
desleais, sem descurar que o núcleo familiar contemporâneo tem como escopo a busca da
realização de seus integrantes, vale dizer, a busca da felicidade.”

Já com a companheira, o relacionamento com o de cujus enquadra-se nos requisitos


essenciais, sendo reconhecido pela corte como única relação estável existente e fazendo com
que seu pedido seja considerado procedente e tenha direito a 100% da pensão por morte
como assim foi definido pelo voto do ministro Marco Aurélio. Já a ex esposa por sua vez tendo
interesse em eventual partilha de bens poderá fazer prova em processo diverso.

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