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Hipótese 2

Em Janeiro de 2017, no rescaldo da passagem de ano, António, pasteleiro de


profissão, decidiu mudar de vida e emigrou para o Dubai.
Em Portugal deixou a pastelaria Bombom, de que era proprietário há cerca de
uma década. Incumbiu Bento, seu irmão gémeo, de administrar o negócio por sua conta,
durante a sua ausência; passou-lhe, ainda, uma procuração, que redigiu manualmente
numa folha de papel timbrado com o logótipo da pastelaria, com o seguinte teor:
“Eu, António Manuel Santos e Santos, nomeio, Bento Manuel Santos e Santos,
meu bastante procurador, concedendo-lhe os mais amplos poderes de representação
em Direito permitidos, por tempo indeterminado”.
Em Abril de 2017, ainda sem encontrar trabalho no Dubai, António endereça a
Bento um e-mail onde lhe solicita que diligencie, com urgência, pela venda do seu
apartamento por valor não inferior a €200.000,00.
Em Setembro de 2017, António, que nunca mais obteve notícias do irmão
Bento, é obrigado a regressar a Portugal por falta de liquidez.
Apercebe-se, então, de que o irmão havia procedido à venda do apartamento por
€185.000,00, havia contraído em seu nome um empréstimo €18.000,00, junto do Banco
Xelim, e havia, ainda, recolhido todas as receitas da pastelaria desde Janeiro de 2017.
Além disso, havia utilizado parte do valor angariado na venda do apartamento
para, em nome próprio, substituir a carrinha de distribuição da pastelaria por um modelo
topo de gama. Quid Juris?

Hipótese 3

Antonieta, com a provecta idade de 98 anos, é proprietária de seis prédios


urbanos na zona de Lisboa.
De modo a fruir dos benefícios trazidos pela inflação imobiliária, decide colocar
dois deles à venda, para, com o capital auferido, remodelar o Palacete que habita na
Avenida da República.
Encarrega o sobrinho, Bernardo, proprietário de uma agência de mediação
imobiliária, de se ocupar das referidas alienações, instruindo-o, contudo, para que
apenas alienasse na condição de receber pronto e integral pagamento. Mune-o, para o
efeito, de procuração, lavrada por instrumento público notarial, onde lhe atribui poderes
específicos para alienação, pelo preço mínimo de €500,000.00, dos imóveis X e Y.
Passados dois meses, sem resposta de Bernardo às suas mensagens via
Whatsapp, Antonieta, ansiosa por poder iniciar as obras no Palacete, solicita o mesmo
favor a Elvira, dando a esta o prazo de dois meses para concretizar a incumbência e
entregando-lhe procuração bastante sujeita, porém, ao prazo geral de validade.
Aflita, Elvira pede ajuda ao marido, Guilherme, a quem explica com detalhe
todas as instruções recebidas. Através dos seus múltiplos contactos no Facebook,
Guilherme consegue vender o imóvel X a Teresa, por escritura pública que outorga
munido de um substabelecimento passado por Elvira, obrigando-se, a compradora, ao
pagamento de €500,000.00, fraccionados em 200 prestações de € 2,500.00, com
vencimento ao 5.º dia de cada mês (amortização em 16 anos e sete meses).
Elvira consegue, entretanto, celebrar contrato-promessa de compra e venda do
imóvel Y pelo valor de €515,000.00, com Júlia, que, vivendo no estrangeiro, enviou
procuração à irmã Olívia, para celebrar contrato de mútuo com o Banco Vivaldi e
outorgar em seu nome a escritura pública de compra e venda, condicionada à aprovação
do empréstimo.
Concomitantemente, Bernardo negoceia a venda do imóvel X com Liu Liu,
empresário chinês que lhe oferece o pagamento imediato de € 1,000,000.00; no dia da
escritura, que obrigou à deslocação do comprador de Xangai, paga por Bernardo, vêm
a descobrir que o imóvel está registado a favor de Teresa.

Quid ivris?

Sub-hipóteses:

1. Quid ivris se a alienação a Teresa tiver sido outorgada por Elvira após decurso do
prazo de dois meses dado por Antonieta?
2. Quid ivris se Bernardo perdeu a oportunidade de vender a Liu Liu um outro imóvel,
que lhe garantiria, até, uma maior comissão, para dar preferência ao negócio de
Antonieta que se gorou?
3. Na manhã do dia marcado para a celebração da escritura, Olívia visita o imóvel Y.
Apercebe-se, então, de que há sério risco de a irmã não poder habitar a casa aquando do
seu regresso do estrangeiro, por aquela necessitar de obras estruturais devido a severos
problemas de humidade que, pelas fotografias enviadas, eram imperceptíveis.
3.1. Quid ivris se tenta, sem sucesso, contactar a irmã?
3.2. Quid ivris se, contactando a irmã e explanando o problema, esta mantém a
vontade de adquirir o imóvel?

4. Quid ivris se Júlia – para reunir liquidez para satisfazer uma dívida perante Paulo,
marido de – solicitar a Olívia que, em nome próprio:
4.1. Aliene um apartamento de que é titular;
a) Pode Júlia demandar Olívia numa acção de condenação ao pagamento
da dívida do preço emergente da venda?
4.2. Adquira um imóvel a terceiro;
a) Pode Júlia solicitar o pagamento da dívida do preço a Olívia em caso
de mora do comprador?
b) Poderá Rui, credor de Olívia, nomear à penhora o automóvel
adquirido?
c) Se Olívia recusar a transmissão do imóvel a Júlia, de que meios de
defesa dispõe esta última?

4.3. Entretanto, Júlia vem a descobrir que Olívia a havia enganado nas contas
relativas à partilha da herança por óbito dos pais de ambas. Pretende, em face
disso, que sejam de nenhum efeito quaisquer relações jurídicas entre si. Quid
ivris?

Hipótese 4

Alberto, advogado, recebe €5,000.00 mensais da empresa de telecomunicações


B, Lda., de quem tem procuração forense nos seguintes termos:
B, Lda., sociedade por quotas, com sede na (…), pessoa colectiva n.º (NIPC n.º
…), aqui representada por R, sócio-gerente com poderes para o acto, constitui
seu bastante procurador Alberto (…), Advogado, portador da cédula
profissional n.º (…), com domicílio profissional na (…), a quem confere os mais
amplos poderes forenses em Direito permitidos.

Em Janeiro de 2018, a Assembleia Geral da B, Lda., deliberou que:


1. Em face do incumprimento de um contrato de fornecimento, deveria ser
intentada, contra a C, S.A., uma acção declarativa de condenação no
pagamento de uma indemnização fundada na responsabilidade civil
extracontratual;
2. Tendo sido aplicada pela ANACOM uma coima à empresa, por alegada
infração de regras do sector, esta decisão deveria ser imediatamente
contestada em sede de recurso, nomeadamente com os fundamentos x, y e z,
que impossibilitavam, notoriamente, a procedência da imputação;
Uma cópia da acta correspondente foi, no próprio dia, remetida a Alberto.
Alberto comunicou à B, Lda. que, no processo visado no ponto 2 da acta, se
faria substituir por Dália, sua sócia que, ao contrário dele próprio, era especialista na
matéria subjudice, e a quem concedeu cópia da acta e um documento onde se lê que:
Alberto (…) substabelece sem reservas, na ilustre colega, Dália, Advogada,
titular da cédula profissional n.º (…), com escritório (…), todos os poderes
forenses que lhe foram conferidos no processo contra-ordenacional n.º (…) que
corre termos junto da ANACOM (….)
Porém, pela circunstância de ter consultado de forma apressada os autos do
processo, Dália não apresentou recurso da decisão da ANACOM dentro do prazo
legalmente estabelecido para o efeito, pelo que a decisão transitou em julgado e a B,
Lda. foi em definitivo condenada.
Quanto ao assunto versado no ponto 1, Alberto, intentou a competente acção
cível mas, paladino de negociações amigáveis ao invés de grandes litigâncias
contenciosas, celebrou transacção sobre o pedido em termos que implicavam que a C,
S.A. pagasse um quantitativo indemnizatório inferior, em cinquenta por cento, ao valor
do interesse contratual positivo calculado objectivamente na petição inicial.
Notificada da exigibilidade da coima e da transacção com a C, S.A., a B, Lda.,
passou, a Helena, advogada, procuração com o seguinte teor:
B, Lda., sociedade por quotas, com sede na (…), pessoa colectiva n.º (NIPC n.º …),
aqui representada por R, sócio-gerente com poderes para o acto, constitui sua
bastante procuradora Helena (…), Advogada, portadora da cédula profissional n.º
(…), com domicílio profissional na (…), a quem confere os mais amplos poderes
forenses em Direito permitidos, incluindo os de confessar, desistir ou transigir, bem
como o de substabelecer.

1. Em nome da sua constituinte, Helena reencaminhou a Alberto comprovativos do


pagamento da coima, no valor de €70,000.00, além do que:
1.1. Notificou Alberto do termo das suas relações contratuais com a B, Lda.;
1.2. Solicitou a Alberto indemnização de montante equivalente ao da coima,
acrescendo-lhe compensação razoável pelos prejuízos da procedência de uma
decisão baseada em factos impossíveis e que eram facilmente impugnáveis em
sede de recurso. Quid ivris?

2. A B, Lda. pretende que Helena revogue a transacção celebrada com a C, S.A. e que
solicite uma indemnização a Alberto pelo incumprimento das instruções quanto à causa
de pedir da acção proposta; Helena solicita, então, à B, Lda. que lhe seja adiantada a
quantia de €2,000.00 para suportar os preparos dos actos processuais necessários, o que
a sociedade recusa peremptoriamente. Quid ivris?
3. Alberto continua a representar a B, S.A. nos demais processos pendentes e pretende
que lhe seja paga a remuneração correspondente, sob pena de reter no seu escritório
todo o arquivo documental da B, S.A.. Sabendo desta actuação de Alberto, Helena
pretende cessar a prestação de serviços para com aquela sociedade. Quid ivris?

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