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DOI: http://dx.doi.org/10.21452/rde.v17i31.

3728

A contribuição de polanyi na compreensão do


processo de mercantilização da sociedade rural*

Polanyi’s contribution to understanding the


commoditization process of rural society

Manoel Adir Kischener1


Miguel Angelo Perondi2
Marcelino Armindo Monteiro3
Everton Marcos Batistela4
Rosenilde Terezinha Borges5
Rosimara Kischener6

Resumo make their different commodifica- tribution of this author to a greater


Sabe-se que o mercado se faz tion of urban. This article, therefore, understanding of the Brazilian rural
presente em todas as instâncias da retains the Karl Polanyi’s contribu- development.
vida, entretanto, as relações pauta- tion to the understanding of the pro-
das especialmente pela reciproci- cess of transformation of Brazilian Keywords: Commoditization; Karl
dade ainda permanecem no mun- rural society in a market society and, Polanyi; Rural Society.
do rural e tornam seu processo de contemporizes the theoretical con-
mercantilização diferente do urba- JEL: AI4
no. Este artigo, portanto, resgata a
contribuição de Karl Polanyi para o 1
* Uma versão anterior deste artigo foi apresentada no III Congresso Nacional de
entendimento do processo de trans- Pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas (CONAPE), ocorrido em Francisco Bel-
trão, Paraná, nos dias 1º, 2 e 3 de outubro de 2014. Conferir KISCHENER, PERON-
formação da sociedade rural brasi- DI E MONTEIRO (2014). A versão atual foi ligeiramente modificada.
leira numa sociedade de mercado, 2
Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande
bem como, contemporiza o aporte (FURG), Especialista em História e Humanidades pela Universidade Estadual de
teórico desse autor para um maior Maringá (UEM), Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Tecnoló-
entendimento do desenvolvimento gica Federal do Paraná (UTFPR),. manoelkischener@yahoo.com.br
rural brasileiro. Engenheiro Agrônomo, Doutor em Desenvolvimento Rural pela Universidade Fe-
3

deral do Rio Grande do Sul (UFRGS), Professor Titular na UFPR, Câmpus Pato
Branco. miguelangeloperondi@gmail.com
Palavras-chave: Mercantilização; 4
Bacharel em Adminstração pela Universidade de São Paulo (USP), Mestre em De-
Karl Polanyi; Sociedade Rural. senvolvimento Regional pela UTFPR, Câmpus Pato Branco, Doutorando em De-
senvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do
Abstract Paraná (Unioeste), yuorna@gmail.com
It is known that the market is 5
Licenciado em Filosofia pela Unioeste, Doutor em Sociologia pela Universidade
present in all walks of life; however, Federal do Paraná (UFPR), Professor na UTFPR Câmpus Dois Vizinhos. em.batis-
tela@hotmail.com
relations especially guided by rec- 6
Acadêmica do Curso de Tecnologia de Alimentos na Faculdade de Tecnologia
iprocity remain in rural areas and
SENAI, Chapecó, SC. rosikischener@hotmail.com

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INTRODUÇÃO Em outra obra o mesmo autor comenta:
O mercado está presente em to-
das as instâncias da vida e para Po- [...] sempre que podem – como recorrentemente podem em democracias efetivas
lanyi (2000) coexistem três formas –, tendem de uma maneira ou de outra a insistir na primazia do social sobre o
econômico, na proteção de compromissos e obrigações sociais contra as pressões
econômicas de integração social e de
do mercado por ‘flexibilidade’, na expectativa de que a sociedade satisfaça as aspi-
alocação de recursos: a reciprocida-
rações humanas a uma vida fora da ditadura dos ‘sinais’ invisíveis dos mercados.
de, a redistribuição e a troca, cada Provavelmente, é esse o fenômeno que Polanyi descreveu em A grande transforma-
uma dessas formas pode gerar for- ção como um ‘contramovimento’ em reação à transformação do trabalho em merca-
mas específicas de interação com o doria (STREECK, 2012a, p. 38).
mercado porque são estratégias de
não mercado. Pode-se afirmar que a partir de Polanyi se admite a pluralidade de mer-
Exemplo concreto da mercan- cados, justamente, o objeto de estudo da Nova Sociologia Econômica9, e que
tilização7 na vida contemporânea, este foi o fundador da “teoria econômica substantiva” (RAMOS, 1989, p. 27).
Streeck (2013) cita as moedas, e a in- Assim, neste estudo são utilizadas passagens dos livros “A grande trans-
tegração de países, como o caso do formação” (POLANYI, 2000) e sua espécie de continuação, em “A subsis-
Euro, e assim se vale de argumen- tência do homem e ensaios correlatos” (POLANYI, 2012), obra como forma
tos de Polanyi para demonstrar sua de análise sobre o processo de mercantilização, e são utilizadas as recentes
atualidade. Desta forma, a moeda contribuições de Streeck (2012a), (2012b), (2013) e (2014) para compreender a
comum do bloco europeu: contribuição de Polanyi no reformismo da sociedade capitalista.
Assim, o texto a seguir apresenta a constituição dos mercados e do pro-
[...] atua como força motriz suple- cesso de mercantilização da sociedade, para então, por fim, dar a recepção da
mentar de uma expansão universal obra de Karl Polanyi e as considerações finais.
dos mercados e das suas condições
que é considerada uma conquista
capitalista, uma vez que, recorren- KARL POLANYI E A MERCANTILIZAÇÃO
do àquilo que Karl Polanyi desig-
nou como ‘laissez-faire planejado’
[...], procura substituir, de forma
A constituição dos mercados e a mercantilização da
mais ou menos violenta, os Estados sociedade
e as suas políticas por mercados e Karl Paul Polanyi “é mais um personagem da diáspora da elite intelec-
pelos seus automatismos autor- tual-artística judaica centro-europeia quando da ascensão do nazismo. Filho
reguladores” (STREECK, 2013, p. de pais húngaros, nasceu em Viena” (LISBOA, 2000, p. 2), em 25 de fevereiro
255). de 1886, como Károly Pál Pollacsek, e faleceu no Canadá em 23 de abril de
1964. Sendo a obra: A grande transformação, publicada em 1944, eleita pelo jor-
Se a mercantilização (com a nal Folha de São Paulo como um dos 100 mais importantes livros do século
globalização) e o neoliberalismo es- XX.
tão inclusive nos mais recônditos Nesta obra, a partir do estudo da Inglaterra da época da primeira Re-
lugares do mundo, para Sabourin volução Industrial, especialmente no século XIX, o autor avalia que se criou
(2006), também é verdade que, es- um abismo social muito maior do que com os cercamentos (enclosures). É
pecialmente no mundo rural, ainda uma escrita em tempos difíceis, época da Segunda Grande Guerra, talvez por
se encontram relações pautadas na isso o autor invoque constantemente a possível derrocada da sociedade, sem
reciprocidade, por exemplo. imaginar que ela viveria uma época de ouro logo em seguida, pois, no dizer de
Sobre a percepção do processo Streeck (2012a), ocorreu o estabelecimento completo do chamado capitalismo
de mercantilização da sociedade, democrático, “à época apenas nas porções ‘ocidentais’ do mundo, na Améri-
Streeck (2012b) estima que os so-
ciólogos econômicos atuais sequer
tenham captado a explosão da ques-
7
Mercantilização entendida a partir do conceito de Marsden (1995, p. 293): que “re-
presenta um amplo processo social e político pelo qual os valores mercantis são
tão8 no capitalismo contemporâneo; construídos e atribuídos a objetos rurais e agrícolas, mas também ao artesanato
que estes não conseguem responder e às pessoas. Ela não representa um processo único e universal que transforma
a questão: “por que as pessoas hoje, apenas o trabalho na agricultura (tal como sugerido na literatura marxista sobre o
mesmo sendo muito mais ricas do desenvolvimento agrário). Trata-se, ao contrário, de um fenômeno diversamente
construído, em torno do qual os processos de desenvolvimento coalescem e se
que anos atrás, trabalham muito generalizam”, apud Schneider (2003, p. 110, traduzido no original).
mais e de forma mais difícil, parece 8
Que deveria ser visto como uma sociedade no entender desse autor.
quase tabu”? (STREECK, 2012b, p. 9
Sobre a Sociologia Econômica consulte-se, Wilkinson (2008), especialmente o pri-
11-12, tradução dos autores). meiro item da parte II, p. 85-104 e Graça (2005).

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ca do Norte e na Europa Ocidental. assim os lucros não são mais garan- os bens materiais na medida em que
Ali funcionou muito bem durante as tidos e o mercador tem que colher eles servem a seus propósitos” (PO-
duas décadas seguintes” (STREECK, seus lucros no mercado. E este sis- LANYI, 2000, p. 65).
2012a, p. 36). tema para funcionar, necessitou de Para sustentar sua tese, Polanyi
Uma obra, conforme Ambrosini condições ainda não existentes, por afirma que todos os sistemas eco-
e Filippi (2008, p. 132) que busca- exemplo, a transformação do traba- nômicos conhecidos foram organi-
va “ampliar o sentido da economia lho, da terra e do dinheiro em mer- zados segundo três princípios: de
para além dos dogmas neoclássicos cadorias (PAULILO, 2005). reciprocidade, de redistribuição e de
e apreender os processos de produ- Por economia de mercado, Polanyi domesticidade (ou troca, segundo
ção e trocas estando relacionados ao entende: “um sistema auto-regulável algumas traduções); ou ainda uma
atendimento de necessidades, não de mercados, em termos ligeiramen- combinação dos três. Sendo que “Es-
individuais, mas comuns” e, espe- te mais técnicos, é uma economia ses princípios eram institucionaliza-
cialmente, “inseridos em um tecido dirigida pelos preços do mercado e dos com a ajuda de uma organização
social, onde história, cultura, valores nada além dos preços do mercado. social a qual [...] fez uso dos padrões
humanos fazem diferença”. Um sistema, capaz de organizar a de simetria, centralidade e autar-
A industrialização, conforme totalidade da vida econômica sem quia” (POLANYI, 2000, p. 75).
Polanyi (2000, p. 60) transformou a qualquer ajuda ou interferência ex- Nas palavras de Polanyi (2000,
sociedade antes primitiva numa so- terna” (POLANYI, 2000, p. 62). p. 70), reciprocidade é de forma sim-
ciedade de mercado, e com isso “a Conforme Abramovay (2004, ples: “o que se dá hoje é responsá-
motivação do lucro passa a substituir p. 54) “Karl Polanyi mostrou que a vel pelo que se toma amanhã”, ou
a motivação da subsistência”. E foi, ideia de ‘economia de mercado’ nem seja, “um toma-lá-dá-cá sistemático
provavelmente, este mecanismo de de longe contém o conjunto das ati- e organizado”. Redistribuição é com
mercado que instaurou a primazia vidades necessárias à reprodução a pessoa do chefe ou outro membro
do econômico, ou a “ilusão de que social e à sobrevivência humana”, proeminente do grupo que recebe e
o determinismo econômico é uma lei sendo o sistema econômico dirigi- distribui os suprimentos, especial-
geral de toda a sociedade humana” do por motivações não econômicas: mente se eles precisam ser armaze-
(POLANYI, 2012, p. 55), caro a algu- “Os ‘motivos econômicos’ reinavam nados. Deve-se ressaltar, no entanto,
mas interpretações marxistas. supremos, num mundo próprio, e o que muitas vezes o responsável pela
Neste sentido, Reis (1999, p. 9) indivíduo foi levado a neles calcar os redistribuição tentará “aumentar
alerta que “No alvorecer da era mo- seus atos, sob a pena de ser esmaga- seu poder político através da ma-
derna, as diferenciações que a socie- do pelo mercado avassalador” (PO- neira pela qual redistribui os bens”
dade estabeleceu entre o mercado e LANYI, 2012, p. 213). (POLANYI, 2000, p. 71). E o “princí-
o Estado, a filosofia e a ciência, ti- Sendo que para Polanyi nenhu- pio de domesticidade consiste na pro-
veram consequências intelectuais e ma sociedade não-capitalista viveu dução para uso próprio” (p. 73).
materiais definitivas na organização um tipo de sistema econômico ba- Os princípios eram institucio-
social”, toda uma sociedade, a de seado no livre intercâmbio, total- nalizados a partir de uma organiza-
mercado começava a imperar, a mes- mente regulado por mercados (RA- ção social, o lucro não ocupava um
ma já denunciada por Polanyi. DOMSKY; SCHNEIDER, 2007, p. papel central, mas sim motivações,
Conforme Polanyi o “O capi- 258) e, se fazer isso, ou seja, reduzir como costumes, lei, magia e religião
talismo liberal foi com efeito a res- o âmbito econômico apenas a esfera que induziam “o indivíduo a cum-
posta inicial do homem ao desafio dos fenômenos do mercado, seria prir as regras de comportamento”
da Revolução Industrial”, criando como “eliminar a maior parte da his- que “eventualmente, garantiam o
condições para utilizar a maquina- tória humana” (POLANYI, 2012, p. seu funcionamento no sistema eco-
ria criada por esta, pois “transfor- 48). nômico” (POLANYI, 2000, p. 75).
mamos a economia humana em um O autor propõe que “a econô- O autor mostra como se deu a
sistema autorregulado de mercados mica do homem, como regra, está evolução do padrão de mercado,
e moldamos nossos pensamentos e submersa em suas relações sociais”, afirmando que “A permuta, a bar-
valores com base nessa inovação sin- até porque “Ele não age desta forma ganha e a troca constituem um prin-
gular” (POLANYI, 2012, p. 209). para proteger o seu interesse indi- cípio de comportamento econômico
A economia de mercado, defen- vidual na posse de bens materiais”, que depende do padrão do merca-
de o autor, é um sistema auto-regu- assim “age para salvaguardar sua do”, sendo que “um mercado é um
lável, sendo que os preços devem ter situação social, sua exigência social, local de encontro para a finalidade
a liberdade de se autorregularem, seu patrimônio social. Ele valoriza da permuta ou da compra e venda”

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(POLANYI, 2000, p. 75). O padrão mando que “Os mercados não são apenas por mercados”, em que toda
de mercado é mais específico do que instituições que funcionam princi- “a ordem e a distribuição dos bens
a simetria, centralidade ou a autar- palmente dentro de uma economia, é confiada neste mecanismo auto re-
quia. mas fora dela” (POLANYI, 2000, p. gulável (POLANYI, 2000, p. 89)” as-
Explicando esses conceitos, o au- 78). sim a ordem de produção e a distri-
tor afirma que: simetria é um arranjo Polanyi (2000, p. 83) exempli- buição de bens é assegurada apenas
sociológico que não dá origem a ins- fica essa afirmação em três tipos os e somente pelos preços ((POLANYI,
tituições isoladas, apenas padroniza mercados. E estes diferem nas suas 2000, p. 90).
as já existentes. Enquanto que centra- funções: mercado local, nacional e Sendo assim, “A auto-regulação
lidade “não implica na motivação que externo. O mercado local é aquele que significa que toda produção é essen-
particulariza a instituição resultante não gera competitividade baseado cialmente para a venda” e que todos
para uma função especifica única” e, principalmente na permuta, “são es- os rendimentos derivam do merca-
a “autarquia econômica é apenas um sencialmente mercados de vizinhan- do. Com isso o autor afirma que há
traço acessório de um grupo fechado ça”. O mercado externo também não mercado não apenas para os bens,
existente” (POLANYI, 2000, p. 77, gera competição, se trata da compra mas também para o trabalho, terra e
ênfase acrescida). e venda de bens não produzíveis dinheiro, sendo seus preços chama-
Dentro de um sistema de mer- de um país para outro (POLANYI, dos de salários, aluguel e juros (PO-
cado, continua Polanyi (2000, p. 77) 2000, p. 84-85). E o mercado nacional LANYI, 2000, p. 90).
“Em vez de a economia estar embu- ou interno nasce pela pressão do ata- Uma economia de mercado deve
tida nas relações sociais, são as rela- cadista capitalista que pretendia ex- compreender todos os componentes
ções sociais que estão embutidas no pandir os mercados, assim o estado da indústria, inclusive trabalho, ter-
sistema econômico”. Sendo assim, territorial passa a se projetar como ra e dinheiro. No entanto trabalho e
num sistema econômico que é orga- instrumento da nacionalização do terra envolvem mais que uma sim-
nizado em instituições separadas, “A mercado, criando o comércio inter- ples mercadoria, são os próprios se-
sociedade tem que ser modelada de no. Este mercado passou a ignorar res humanos e seu ambiente natural
maneira tal a permitir que o sistema “a distinção entre cidade e campo, nos quais consistem as sociedades,
funcione com suas próprias leis”. assim como as que existiam entre ci- desta forma, tê-los como mercadoria
Finaliza, assim, com a frase lapidar: dade e províncias” (POLANYI, 2000, é deixar a sociedade a mercê das leis
“uma economia de mercado só pode p. 86). do mercado (POLANYI, 2000).
funcionar numa sociedade de mer- Com estas pressões dos ataca- Para o autor o ponto crucial nes-
cado” ((POLANYI, 2000, p. 77). distas e a ação do estado territorial tas considerações é que trabalho,
No entanto, conforme Silva e ou- ocorre “A ‘libertação’ do comércio terra10 e dinheiro são essenciais à in-
tros (2011, p. 96) comentam que “É levada a efeito pelo mercantilismo dústria e eles têm que ser organiza-
oportuno salientar que Polanyi não apenas liberou o comércio do parti- dos em mercados, mas “obviamente
se volta contra os mercados ou o co- cularismo, porém, ao mesmo tempo, não são mercadorias” (POLANYI,
mércio e nem os questiona”, apenas ampliou o escopo da regulamenta- 2000, p. 94). Nenhum deles é produ-
afirma que a sociedade de mercado, ção” (POLANYI, 2000, p. 88), assim, zido para a venda, assim eles serão
um tipo peculiar e sem precedentes afirma: que “O sistema econômico considerados mercadorias fictícias.
na História, é uma construção artifi- estava submerso em relações sociais O autor alerta que se os três fos-
cial administrado pelo corpo social gerais; os mercados eram apenas um sem somente regulados pelo mer-
e, não é um processo natural. aspecto acessório de uma estrutura cado, simplesmente “resultaria no
Neste mesmo sentido, Carvalho institucional”, que era “controlada desmoronamento da sociedade”
(2011, p. 15) afirma que “Polanyi não e regulada, mais do que nunca, pela (POLANYI, 2000, p. 94). Nenhuma
acentua a questão da racionalidade autoridade social” (POLANYI, 2000, sociedade poderia suportar os efei-
econômica para diferenciar o mun- ênfase acrescida). tos deste sistema, a menos que “a
do antigo do moderno”. Sendo que, Ao comentar sobre o mercado sua substância humana natural, as-
para Polanyi os mercados não estão auto-regulável e as mercadorias, o sim como sua organização de negó-
associados ao desenvolvimento em autor afirma que “Uma econômica cios, fosse protegida contra assaltos
particular, de forma que a presença de mercado é um sistema econômi- desse moinho satânico” (POLANYI,
ou ausência de mercados ou de di- co controlado, regulado e dirigido 2000, p. 95). Pois, “nem mercados
nheiro não afeta necessariamente o
sistema econômico de uma socieda- 10
Seguntdo Polanyi (2012, p. 53), “o trabalho é apenas outro nome para ser huma-
de primitiva, por exemplo. Confir- no, e terra, outro nome para a natureza”.

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são autorreguláveis, nem governos têm a capacidade de regular, sem que, LANYI, 2012, p. 209), aos problemas
em ambos, haja margem para escolhas individuais socialmente enraizadas” causados por ela.
(VINHA, 2001, p. 217). A liberdade era muito restrita
Conforme Polanyi “Como o desenvolvimento do sistema fabril se orga- nas sociedades de mercado, sendo
nizara como parte de um processo de compra e venda, o trabalho, a terra e o que os países se inserirem no merca-
dinheiro também tiveram que se transformar em mercadorias para manter a do internacional tinham que aceitar
produção em andamento” (POLANYI, 2000, p. 97), desta forma a ficção de seus ditames. Os países em desen-
serem produzidos tornou-se princípio organizador da sociedade, pois, “Se- volvimento tinham menor margem
guindo este raciocínio, a sociedade humana tonara-se acessório do sistema para definir seus próprios rumos de
econômico (POLANYI, 2000, p. 97)”. forma diferente (POLANYI, 2000, p.
Polanyi afirma que o progresso é feito à custa da desarticulação social e 293). E, que, aí residia o problema
se o ritmo é exagerado, a comunidade pode sucumbir durante este processo. concreto de nossa civilização. E, essa
O autor acredita que ao contrário do que ocorreu com a intervenção da coroa “nova ordem requer uma liberdade
nos cercamentos, o povo comum da Inglaterra não foi protegido e o resul- interior para a qual estamos mal pre-
tado foram efeitos “terríveis, quase indescritíveis” (POLANYI, 2000, p. 98). parados” (POLANYI, 2012, p. 210).
O autor é bastante crítico quando afirma que “A sociedade humana po- Neste sentido, Foucault (1994, p.
deria ter sido aniquilada, de fato, não fosse a ocorrência de alguns contramo- 140) também alerta, que “Os homens
vimentos protetores que cercearam a ação desse mecanismo autodestrutivo” sempre sonharam com máquinas li-
(POLANYI, 2000, p. 98), ou que “Fora dos Estados Unidos, já mal se pode beradoras. Mas estas máquinas, por
dizer que o capitalismo liberal continue a existir” (POLANYI, 2012, p. 209). definição, não existem”.
Polanyi faz distinção em dois
Dos riscos de uma sociedade dependente do mercado níveis de liberdade, um relacionado
Polanyi entende que a civilização do século XIX foi destruída, graças às às instituições sociais que implica
medidas que a sociedade adotou para controlar o mercado auto-regulado. em ampliar ou reduzir as liberdades
Para o autor a sociedade deve se proteger quando ameaçada de ser aniquila- das pessoas e outro nível que classi-
da, mas entende que a sociedade industrial deve se subordinar às exigências fica como mais profundo e difícil de
da natureza do homem e não voltar-se para o autointeresse do lucro puro atingir que é mais ligada à moral e à
(POLANYI, 2000, p. 289). religião (POLANYI, 2000).
Polanyi critica os pensadores do século XIX que naturalizaram e reduzi- Comenta o autor que só atingi-
ram o homem ao aspecto econômico e à ideia de que a sociedade naturalmen- remos a liberdade que procuramos
te deveria subordinar-se a esta lógica. Recorre a historiadores e antropólo- se entendermos a sociedade atual na
gos modernos para mostrar que mesmo os mercados quando desenvolvidos sua complexidade. Em uma socieda-
visavam mais do que só a economia, e sim alcançar outras finalidades não de de natureza complexa as institui-
econômicas (POLANYI, 2000). ções podem ampliar as liberdades
Neste sentido, Carvalho (2011) afirma que para Polanyi, “nas socieda- para as classes menos favorecidas
des primitivas, as transações econômicas não estão salvaguardadas em ins- pelas riquezas, tendo mais seguran-
tituições especificamente econômicas”, estas “estão imbricadas (embedded) ça, cultura, educação, etc.; e isso im-
na esfera do parentesco, do Estado, do mágico e da religião, estas esferas plica no oposto em relação às classes
são originadoras dos sistemas de status, dos quais as transações econômicas mais ricas (a perda das liberdades).
eventualmente tendem a desgarrar-se” (CARVALHO, 2011, p. 13). O mercado por si só não garante
Conforme o autor, a retirada do trabalho, da terra e do dinheiro do mer- essa regulamentação (ampliação ou
cado, é “um ato uniforme apenas do ponto de vista do mercado, que lidavam diminuição das liberdades) como já
com eles como se fossem mercadorias”, pois do “ponto de vista da realidade se provou por mais de um século
humana, aquilo que é restaurado pelo desmantelamento da ficção mercado- (POLANYI, 2000).
ria está em todas as direções do compasso social” (POLANYI, 2000, p. 292). Além dos direitos gerais formais
O autor ainda afirma que “O fim da sociedade de mercado não significa, tem-se que garantir direitos dos in-
de forma alguma, a ausência de mercados” (POLANYI, 2000, p. 292). “Es- divíduos, como ao trabalho, a opi-
tes continuam, de várias maneiras, a garantir a liberdade do consumidor, a nião à religião etc. O autor afirma
indicar a mudança da demanda, a influenciar a renda dos produtores” (PO- que as liberdades individuais não
LANYI, 2000, p. 292-293). podem perder em nada o que já se
Polanyi diz que “A busca da democracia industrial não é a mera procura conquistou, ao contrário, devem ser
de uma solução para os problemas do capitalismo”, originados na Revolução ampliadas e o direito de contestação
Industrial, mas que é a procura “de uma resposta à própria indústria” (PO-

210 Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 206-217, jan./jun. 2015
deve ser garantido plenamente (PO- exercido em prol de garantir a per- instabilidade do mercado financeiro
LANYI, 2000, p. 295-296). manência social e a regulação social, tornou-se, no momento, a maior e
Mesmo em prejuízo à eficiência sendo que a opinião individual das mais ampla ameaça à vida das di-
na produção, na economia de con- pessoas é importante e deve ser le- ferentes sociedades”, a ameaça do
sumo, na racionalidade administra- vada em conta para exercer tal poder mercado paira sobre a sociedade
tiva, deve-se preservar a todo custo (POLANYI, 2000). (REIS, 1999, p. 10).
a liberdade e os direitos das pessoas, Porém depois da grande crise de Streeck (2014) escrevendo a res-
numa sociedade industrial (PO- 1998, Streeck (2012a) afirma que “na peito de como terminará o capita-
LANYI, 2000). atual crise a democracia está tanto lismo se é que isso venha a ocorrer,
Mas o autor confirma afirman- em risco quanto a economia, se não contemporiza a partir da ideia das
do que se, na sociedade de merca- mais”, pois, “Não só a ‘integração três mercadorias fictícias em Polanyi
do, a liberdade era bastante restriti- sistêmica’ das sociedades contem- (2000): trabalho, terra (ou natureza)
va, agora não é possível avançar ao porâneas – ou seja, o funcionamento e dinheiro, como três zonas fronteiri-
máximo, ampliar a justiça a níveis eficaz de suas economias capitalistas ças e afirma que “A questão de como
nunca vistos, se deve ter cautela – precarizou, mas também sua ‘inte- e onde a acumulação de capital deve
(POLANYI, 2000). Critica que a so- gração social’” (STREECK, 2012a, p. ser restringida, a fim de proteger
ciedade foi levada a acreditar que 54). as três mercadorias fictícias a partir
“os incentivos sobre os quais se or- Por fim, Polanyi afirma que a mercantilização total tem sido con-
ganiza a cotidiana provêm das moti- liberdade está em reconhecer a reali- testada em toda a história do capi-
vações ‘materiais’” apenas e, que isso dade da sociedade industrial e resig- talismo” (STREECK, 2014, p. 54, tra-
só valeria para aquela economia, do nar-se a esta realidade, que é com- dução dos autores).
século XIX, distanciando-se mais ao plexa, mas permite pela participação No entanto, na atual desordem
passado “essa visão não ia além de consciente das pessoas, a tomada de mundial, com a crescente mercan-
um anacronismo” (POLANYI, 2012, decisões (POLANYI, 2000, p. 301). tilização da vida da social do capi-
p. 210 e 211). Avançado à sociedade atual, talismo contemporâneo, essas “três
Também critica os liberais por talvez o perigo dos mercados seja zonas fronteiriças” ocorre algo dife-
terem reduzido a liberdade apenas maior, lembrando que Polanyi “não rente, conforme o mesmo autor:
à dimensão econômica de relação foi capaz de transpor sua teoria para
entre produtores e consumidores o sistema capitalista do século XX” [...] resulta de um ataque espetacu-
portadores de vontades individuais, (VINHA, 2001, p. 221), pois, “‘os larmente bem-sucedido de merca-
e que não levavam em conta a socie- mercados’ passaram a ditar por vias dos, expandindo mais rapidamen-
dade como um todo orgânico e com- sem precedentes o que Estados su- te do que nunca, em uma ampla
gama de instituições e atores que,
plexo, implicando relações sociais postamente soberanos e democráti-
que herdadas do passado ou cons-
mais amplas que as puramente eco- cos ainda podem fazer por seus ci- truídas nas longas lutas políticas,
nômicas (POLANYI, 2000). dadãos e o que devem lhes recusar” que durante algum tempo manteve
Neste sentido, no entender de (STREECK, 2012a, p. 54). o avanço do capitalismo, em certa
Lisboa (2000) “A solução liberal (ou Reis (1999) analisando o bug do medida socialmente incorporado.
mesmo anarquista) é extremamente milênio, em relação inclusive com As zonas de crise do trabalho, ter-
perigosa”, concordando com Po- as ciências, afirma que temos agora ras e dinheiro se tornaram simul-
taneamente após a ‘globalização’
lanyi, o autor afirma que “Somente uma nova situação de artificialida-
dotada de relações de mercado
através de uma regulação social so- de: “a mera intenção de comprar e e cadeias de produção com uma
bre o mercado e que delimite a vo- vender é suficiente para substituir o capacidade sem precedentes para
racidade dos capitais privados e dos dinheiro. A artificialidade da moeda atravessar as fronteiras das jurisdi-
indivíduos solipsimistas11”, mesmo virtual parece colocar em sério risco ções políticas e jurídicas nacionais.
que restringindo a liberdade de al- a vida da sociedade”, sendo que, “A O resultado é uma desorganização
guns cidadãos “é que será possível
criar uma liberdade mais ampla 11
Termo associado ao solipsismo, que conforme Abbagnano (2007) seria a ideia da
para todos” (LISBOA, 2000, p. 11).12 “Tese de que só eu existo e de que todos os outros entes (homens e coisas) são
Polanyi ainda busca argumen- apenas idéias minhas” (ABBAGNANO, 2007, p. 918).
to nas questões do poder de estado 12
Também Streeck (2012a), estudando o capitalismo recente, vai ao encontro da
e do valor econômico, que derivam ótica pouco animadora de Polanyi, afirmando que “os riscos parecem estar se
da vida social e não só das relações ampliando, tanto para a democracia quanto para a economia. Desde a Grande
Depressão, os formuladores de políticas raras vezes – talvez jamais – depararam
individuais. O poder existe para ser com tanta incerteza como hoje” (STREECK, 2012a, p. 53).

Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 206-217, jan./jun. 2015 211
fundamental das agências que têm, na era moderna, mais ou menos domestica- gia Econômica e tendências pareci-
das, com o sucesso capitalista, ‘espíritos animais’, para o bem da sociedade como das como no grupo MAUSS14.
um todo, bem como do próprio capitalismo” (STREECK, 2014, p. 54, tradução dos
Entre estudos e pesquisas que
autores).
têm utilizado da obra de Polanyi,
Silvaet al (2011), estudando uma
Com a expansão dos mercados na sociedade atual, as mercadorias elen-
associação no município de Currais
cadas por Polanyi (2000) podem estar em risco de desaparecer, por exemplo,
Novos – RN, concluíram que “po-
a dependência de combustíveis fósseis; de outra maneira, os renováveis ain-
dem ser encontrados formas de or-
da não podem substituir em sua totalidade a matriz energética de consumo
ganização social fundamentadas nos
que se necessita com a intensificação da industrialização e do consumo, em
princípios levantados por Polanyi,
época sem precedente na história. Em decorrência do risco de desapareci-
dentro de uma realidade de Econo-
mento das mercadorias fictícias, como afirma Streeck (2014), o capitalismo
mia Solidária”, mesmo sendo difícil
tal qual como foi concebido, como uma ordem social que prometia progresso
de visualizar dentro da realidade
coletivo, sem limites, está em condição crítica, pois:
econômica do século XXI, no “Po-
voado Cruz, é visível que, mesmo
Nas três fronteiras da mercantilização – natureza, trabalho e dinheiro – as institui-
dentro de um contexto de economia
ções regulatórias que restringem o avanço do capitalismo para seu próprio bem
de mercado, estes princípios são vi-
têm entrado em colapso, e depois da vitória final do capitalismo sobre seus inimi-
gos nenhuma agência política capaz de reconstruí-los está à vista. (...) O que é de venciados” (SILVA et al, 2011, p. 105
se esperar, com base no recente registro histórico do capitalismo, é um período de e 104).
decadência cumulativo longo e doloroso: de intensificar os atritos, de fragilidade A própria Dora de Lima fazen-
e incerteza, e de uma sucessão constante de ‘acidentes normais’ - não necessaria- do “A analise dum fenômeno apa-
mente, mas muito possivelmente, na escala de repartição mundial dos anos 1930” rentemente puramente político – as
(STREECK, 2014, p. 64, tradução dos autores).
alianças diplomáticas entre os go-
vernadores portugueses e os sobas
Por fim, restará saber se o pessimismo de Polanyi (2000) a respeito dos em Angola – à luz da ideia de desin-
riscos de uma sociedade dependente dos mercados se conformará como ten- crustação/incrustação desenvolvida
ta antecipar Streeck (2014) contemporizando Polanyi a respeito de como ter- na economia política de Polanyi”,
minará o capitalismo. confirma que se “põe em relevo as
porosidades das fronteiras que se-
A recepção da obra de Polanyi param os sistemas fiscais (o tributo)
Polanyi “é um autor ainda pouco conhecido no Brasil”, conforme Sch- e os sistemas diplomáticos (o mimo/
neider e Escher (2011, p. 187), mas o interesse por sua obra é crescente e, presente)”, enfatizando a relevância
conforme Benjamin (2012, p. 10), esta por estar desvinculada de correntes de sua obra (LIMA, 2013).
políticas organizadas13, “vem despertando crescente interesse, graças, exclu- Já Santos (2004, p. 12) consegue
sivamente, à força intrínseca das ideias que apresenta”. ver na emergente “Economia Soli-
Dentre as críticas à obra de Polanyi, Abramovay (2004, p. 55) enfatiza que dária” princípios estabelecidos pela
este não teria estudado “o próprio mercado como realidade sociológica, abrir obra polanyiana: “Na ‘economia so-
sua caixa-preta e examinar os vínculos sociais de que é feito”. lidária’, o princípio da reciprocidade
Lima (2013), a respeito de textos antropológicos de Polanyi, comenta que aparece ao lado do mercado e da
“os especialistas da colonização europeia criticaram por vezes virulentamen- redistribuição, adquirindo o papel
te a ideia de passividade das colônias perante um processo que teria sido que tinha antes de ter sido ofuscado
estritamente ocidental”, e também “a visão redutora que Polanyi tem sobre pelos outros dois princípios”.
as relações entre os colonos e os colonizados” (LIMA, 2013). Sachs (1992, p. 13) afirma que
Na mesma linha da autora acima, Wilkinson (2002, p. 811) afirma que “No plano teórico, a obra de Polanyi
sua interpretação histórica tem sido sujeita a muitas críticas, mas, “suas dis- oferece um apoio sólido à crítica
tinções entre economia e mercado, a sua identificação das distintas formas de do reducionismo economicista e à
intercâmbio de bens e serviços e a sua caracterização da dinâmica peculiar introdução de juízos de valor qua-
das mercadorias fictícias têm sido incorporadas”, especialmente na Sociolo- litativos que autorizem a distinção
entre desenvolvimento e maldesen-
13
O mesmo autor comenta que Polanyi foi “Socialista desde jovem, não aderiu ao
volvimento”.
marxismo nem militou em partidos” (BENJAMIN, 2012, p. 7). O desafio de Polanyi, conforme
14
Movimento Anti-Utilitarista nas Ciências Sociais, criado em 1981 na Europa.Ares- Ambrosini e Filippi (2008), citando
peito deste, conferir Leite (2007) e Martins (2008). North15 (1997, p. 51), “é demonstrar

212 Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 206-217, jan./jun. 2015
que na história do mundo ocidental, ção pública (STREECK, 2012b, p. 9, Nesta mesma linha, sobre a atua-
a não ser por um período breve de tradução dos autores). lidade do pensamento de Polanyi,
tempo, os mercados [não] dominam Vinha (2001, p. 219-220) sugere que
a alocação de recursos”, desta forma, Rodrigues (2013) ressalta a seus pressupostos principais quan-
“todo o aparato, tanto neoclássico, contribuição de Streeck ao deba- to ao comportamento social, podem
quanto marxista não dá conta de te contemporâneo do capitalismo, explicar, ao menos parcialmente, fe-
explicar senão de ‘uma ínfima por- em especial em “Tempo compra- nômenos contemporâneos como o
ção de uma longa história de 5.000 do” (STREECK, 2013) e confirma desenvolvimento sustentável.
anos’” (AMBROSINI, FILIPPI, 2008, o resgate sugerido de Polanyi por Escandell (2012) associando o
p. 131, com acréscimo). este autor. Streeck (2013) defende a pensamento de Polanyi a um pos-
No entanto, “apesar de Polanyi “validade de um projeto intelectual sível republicanismo, afirma que
ter fornecido alguns dos mais con- realista”, inspirado em pressupos- estes, o sistema político e o autor,
tundentes argumentos para a inexis- tos tanto da teoria marxista, quanto “coincidem-na necessidade de cons-
tência de um mercado inteiramente com “o institucionalismo crítico de truir uma estratégia para restringir
auto-regulável, não foi capaz de Polanyi”, tradições que segundo o de forma não arbitrária aquelas for-
transpor sua teoria para o sistema autor, dialogaram (RODRIGUES, ças sociais que, por sua despropor-
capitalista do século XX” (VINHA, 2013, p. 153). cionada acumulação de riquezas e
2001, p. 221). Desta forma, para estudar o ca- recursos”, restringem “a possibili-
Escher (2011, p. 139) valendo-se pitalismo contemporâneo no enten- dade de desfrutar da liberdade de
da noção de “contramovimento” de der de Streeck “é preciso transgredir forma equitativa a toda a sociedade”
Polanyi, sugerindo a atualidade do as barreiras disciplinares” (RODRI- (ESCANDELL, 2012, p. 114, tradu-
autor, afirma que os agricultores fa- GUES, 2013, p. 153). ção dos autores).
miliares “se veem na necessidade de Dentro da ideia de que se deve Latour (1999), escrevendo para
reorientar as suas formas de atuação reformar a ciência e de que o para- o jornal Folha de São Paulo, senten-
em termos mais propositivos e proa- digma atual está em crise, Lisboa ciou: “Se Polanyi, 50 anos depois,
tivos”, no plano institucional, inclu- (2000) afirma que “Polanyi consti- permanece exatamente tão novo
sive, “ocupando postos em instân- tui-se num suporte imprescindível quanto em seus primeiros dias –
cias do Estado e colaborando com para enfrentar e superar o econo- enquanto Marx parece tão datado
a formulação de políticas públicas”, micismo e os graves desafios con- – é porque ele é o único a ter sabido
constituindo assim, conforme o au- temporâneos da nossa civilização, antropologizar o mercado” (LATOUR,
tor, “como uma série de ‘contramo- proporcionando insights e pistas de 1999, ênfase acrescida) e também de
vimentos’ da agricultura familiar”. caminhos seguros que nos ajudam a “demonstrar que não há nada de na-
Streeck (2012b) ressalta que os construir o tão almejado pensamen- tural no capitalismo e nas suas pre-
conceitos básicos em Polanyi, de ter- to complexo” (LISBOA, 2000, p. 15), tensas ‘leis universais’, desse modo
ra, trabalho e natureza, podem auxi- pois a ciência Economia está em des- retirando qualquer carácter ontoló-
liar na compreensão de problemas conexão com as demais ciências do gico à economia de mercado” (MA-
atuais, pois estas “mercadorias fic- social (LISBOA, 2008). CHADO, 2009, p. 146).
tícias” parecem estar em estado crí- Voltando a Ambrosini e Filippi De forma ainda mais contun-
tico, com o que está em jogo, como (2008) sugerem “resgatar a obra de dente, finaliza afirmando que “Se
resultado da dinâmica da mercanti- Polanyi, trazendo os elementos que este século foi tão frequentemente
lização avançada, assim alerta que: caracterizam a economia substan- marxista, o próximo será talvez po-
tiva para ressaltar a abordagem do lanyista” (LATOUR, 1999), com a
Considerando que a mercantili- SIAL16 enquanto referencial para ressalva de Lisboa (2008, p. 24), que
zação do dinheiro no curso de ‘fi- análise de dinâmicas endógenas”, denuncia que há uma tendência em
nanceirização’ minou seu status inscrevendo-o “um paradigma de fazer do autor “uma nova moda in-
coletivo como um meio confiável desenvolvimento rural sustentável” telectual”, negando-o assim, já “que
de troca e medida de valor, o des-
(AMBROSINI, FILIPPI, 2008, p. 136).
perdício da natureza para fins co-
merciais está prestes a destruir os
fundamentos da vida como a co-
nhecemos, enquanto a mercantili-
zação da força de trabalho humana 15
In: NORTH, Douglass. «Le défi de Karl Polanyi, le marché et les autres systèmes
chegou a um ponto onde a repro- d’allocation des ressources». in: Revue du Mauss, n. 10, p. 51-64, 1997.
dução física das sociedades ricas 16
Conforme Ambrosini e Filippi (2008), Sistema Agroalimentar Localizado.
tinha de se tornar uma preocupa-

Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 206-217, jan./jun. 2015 213
este construiu um pensamento plural e independente, procurando ser livre gere o autor que “em última análise,
dos esquematismos vulgares”. não podemos nos limitar a contras-
Será? Pois, na moda discursiva de se superar o paradigma da ciência pre- tá-las; precisamos também examinar
valecente, o próprio Polanyi já anunciava, lá atrás, essa crise, tão alardeada suas interrelações” (WILLIAMS,
hoje, pois, no seio da própria ciência surge o espectro da insanidade. Eis o 2011, p. 471-483).
problema que precisa ser resolvido (POLANYI, 2012). Assim, o urbano e o rural, apesar
O que fazer? Dale (2013) diz que a “teoria de Polanyi da forma merca- de suas especificidades e da constru-
doria [...] é pouco desenvolvida” e que, além disso, “sua rejeição do conceito ção social e histórica ao longo dos
de capitalismo o inibiu a investigar alguns dos processos que são indispen- tempos em torno de suas noções –
sáveis à análise da economia mundial contemporânea”, principalmente “a em especial desde o advento da Re-
acumulação, competição, concentração e centralização, e desenvolvimento volução Industrial na Inglaterra e do
desigual” (DALE, 2013, p. 41). sistema capitalista –, possuem suas
As leituras e apropriações, o entendimento a recepção a respeito da obra interrelações.
de Polanyi, como se tentou expor, são os mais variados, o que demonstra que Wolfgang Streeck enquanto au-
o autor ainda precisa ser estudado, indo além da incipiente análise que este tor que tem buscado o resgate da
artigo propõe. contribuição de Karl Polanyi para o
entendimento do capitalismo con-
Como fazer uso da obra de Polanyi? temporâneo, de sua fase de extrema
Se a sociedade rural brasileira atravessa período que Buainain e outros mercantilização, alerta que a acu-
(2014) entendem como a conformação de um “novo padrão agrário e agríco- mulação deste sistema deveria ser
la”, onde a lógica do mercado e a expansão, quase desmedida do capitalismo restringida, como forma de proteger
em sua fase mais aguda de financeirização como aponta Streeck (2012b), o as “mercadorias fictícias” em Po-
capitalismo contemporâneo como uma sociedade,mais do que nunca se po- lanyi, qual sejam: natureza, trabalho
derá lançar mão da obra de Karl Polanyi para buscar aqueles elementos que e dinheiro (STREECK, 2014).
não estão em evidência nesta perspectiva de sociedade, que tem em sua base Se estas mercadorias estão em
econômica a exportação de commodities. risco o resgate dos mecanismos de
Por sociedade rural entende-se aqui aquela em que campo e cidade man- integração em Polanyi se fazem ne-
têm inter-relações, conforme entende Williams (2011), isto é, que tanto os cessários: a reciprocidade, a redi-
aspectos ditos de “urbanidade” quanto os de “ruralidade” mantém laços, stribuição e a troca. O desafio será
mesmo que estes espaços tenham suas especificidades ou singularidades, buscar evidências destas práticas
conquanto que sejam construções sociais, históricas. e, enquanto política de desenvolvi-
Conforme Navarro e outros (2014, p. 39), Williams tem entre os princi- mento rural17, o incentivo de ações
pais temas de sua obra o da “dificuldade de explicar os ritmos diferentes que que coloquem a sociedade em sin-
distanciam fortemente as visões humanas (e suas interpretações) dos proces- tonia e equilíbrio, tirando-a da con-
sos de mudanças sociais experimentados pela sociedade, especialmente os dição de refém do mercado tal como
econômicos”. se encontra. Entre as estratégias,
E esses processos de mudanças sociais experimentados pela sociedade a diversificação dos meios de vida
dizem respeito ao campo e a cidade, ou entre os limites que muitos auto- como sugere Perondi (2007), poderá
res colocam entre o que é urbano e o que é rural, ou, em outra perspectiva, ser uma delas. Pois, “O trabalho e a
daquilo que recentemente vem sendo matizada de nova ruralidade, como se terra – ‘os seres humanos’ e ‘o meio
fosse a confluência mais possível de ser aceita. natural’ em que existe a sociedade –
Williams (2011) argumenta que “o campo e a cidade são realidades his- não são ‘produzidos para a venda’”,
tóricas em transformação tanto em si próprias quanto em suas interrelações”, ou não deveriam ser estritamente18,
mas também são poderosas imagens construídas particularmente a partir da conforme escreve Cangiani (2012, p.
Revolução Industrial, que, desta forma, “se constituem maneiras de nos co- 13), parafraseando Polanyi, assim
locarmos diante de todo um desenvolvimento social”, assim, a despeito das prioriza-se a utilidade para a socie-
“pendengas” possíveis nessa temática, ou como interpretações parciais, su- dade em geral em detrimento da
lucratividade de poucos. E que as
17
Por desenvolvimento rural entende-se aquilo que Navarro (2001, p. 88), descreve carências e as necessidades, confor-
como uma “ação previamente articuladaque induz (ou pretende induzir) mudan- me Polanyi (2012, p. 75), não sejam
ças em um determinado ambiente rural”. tratadas apenas como escala de “va-
18
O próprio Polanyi afirma que a transformação da terra e do trabalho em mercado- lores utilitaristas de indivíduos iso-
rias, seria “apenas uma fórmula abreviada para a liquidação de toda e qualquer
insituição cultural numa sociedade orgânica” (POLANYI, 2012, p. 373).
lados operando em mercados”, pois

214 Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 206-217, jan./jun. 2015
o homem é um ser social, para tal a Desta forma, se evidenciou que o aporte teórico de Polanyi, para o enten-
sociedade foi instituída, que entrou dimento da mercantilização contemporizado a partir das lentes de Streeck, é
em voga um pacto pela vida em har- uma maneira de contribuir para o entendimento das regiões rurais brasilei-
monia, ao menos, da maioria. ras e para o desenvolvimento rural.
Por fim, acredita-se que o en-
tendimento do processo de trans- REFERÊNCIAS
formação da sociedade rural brasi-
leira numa sociedade de mercado ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução Alfredo Bosi e
contemporizada a partir do aporte Ivone C. Benedetti. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
teórico desse autor, poderá possibi-
litar um maior entendimento do de-
ABRAMOVAY, Ricardo. Entre deus e o diabo: mercados e interação humana
senvolvimento rural brasileiro. No
nas ciências sociais. Tempo Social, v. 16, n. 2, p. 35-64, 2004.
entanto, com o desenvolvimento de
estudos a partir das evidências em-
piricas19 que denotem que a expan- AMBROSINI, Larissa B.; FILIPPI, Eduardo E. Da era do desenvolvimento ao
são do capitalismo pela sociedade desenvolvimento rural: sistemas produtivos localizados sob a perspectiva
brasileira. de Karl Polanyi. Redes, v. 13, n. 3, p. 121-139, set./dez., 2008.

CONSIDERAÇÕES BENJAMIN, César. Nota da edição brasileira. In: POLANYI, Karl. A


subsistência do homem e ensaios correlatos. Tradução Vera Ribeiro. Rio de
FINAIS
Janeiro: Contraponto, 2012, p. 7-10.
Pode-se concluir que, a despeito
das controvérsias, a obra de Polanyi
continua relevante, pois, ao contrá- BUAINAIN, Antônio M. et al. (Editores técnicos). O mundo rural no Brasil
rio de ser uma obra datada, permite do século 21: a formação de um novo padrão agrário e agrícola. Brasília:
compreender o capitalismo de seu Embrapa, 2014.
tempo, mas também àquele relati-
vo aos anos de ouro, a crise dos anos CANGIANI, Michele. A teoria institucional de Karl Polanyi: a sociedade
1970, ou a recente crise iniciada em de mercado e sua economia “desenraizada”. In: POLANYI, Karl. A
2008, e compreender as manifesta- subsistência do homem e ensaios correlatos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de
ções contemporâneas no Brasil. Janeiro: Contraponto, 2012, p. 11-44.
Entende-se que a mercantiliza-
ção se faz presente em todas as ins-
tâncias da vida e, a despeito que o CARVALHO, Alexandre G. As contribuições de Max Weber e Karl Polanyi
neoliberalismo em tempos recentes ao debate do oikos a partir de suas concepções de economia e de mercado.
tenha levado a se assimilar todos os In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA - ANPUH, 26., 2011, São Paulo.
mercados ao mercado do intercâmbio Anais... São Paulo, ANPUH, 2011.
capitalista, ainda assim a contribui-
ção da obra de Polanyi pode auxiliar DALE, Gareth. Duplos movimentos e forças pendulares: perspectivas
a explicar porque relações pautadas polanyianas sobre a era neoliberal. Otra Economía, v. 7, n. 12, p. 26-44, ene./
especialmente na reciprocidade per- jun. 2013.
manecem no mundo rural.
O uso de Streeck para contem-
porizar Polanyi permitiu atualizar ESCANDELL, Bru L. ¿Un Karl Polanyi republicano? Otra Economía, v. 6,
sua interpretação, pois a despeito n. 11, p. 107-116, jul./dic., 2012.
do que este antecipou, acerca dos
riscos de uma sociedade dependen-
te dos mercados, Streeck reafirma a
19
Existirão essas evidências em uma sociedade rural brasileira cada vez mais mer-
cantilizada? Talvez se possa seguir o alerta de Martins (2014, p. 28), no sentido de
possibilidade de colapso do sistema que “A persistência de costumes, da chamadatradição, não expressa a funciona-
capitalista à medida que aprofunda lidade do atraso, mas indica que o retardamento de umasrelações sociais quanto
o processo de mercantilização do a outras se insere na própria dialética da transformação social”.O mesmo autor
trabalho, da natureza e do dinheiro. escreveu em outra obra que, no Brasil “a transição para o capitalismo teve seu
próprio percurso e seu próprio ritmo”, e continua a ter, acredita-se, “extraviada nos
atalhos de inovações sociais e econômicas tópicas” (MARTINS, 2013, p. 10).

Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 206-217, jan./jun. 2015 215
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