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Basicamente pra Marx existe apenas a burguesia e o proletariado, então, para Marx a
Classe Média seria apenas uma categoria residual que com o tempo seria incorporada à
classe trabalhadora, como camponeses, comerciantes, artesãos etc. Com o avanço do
capitalismo, a competição da indústria moderna e o desenvolvimento de novos métodos
produtivos, que cada vez menos dependeriam de habilidades específicas por parte dos
trabalhadores, esses estratos seriam incorporados à classe trabalhadora.
De acordo com Wacquant (1992, p. 43) foi possível identificar três diferentes
abordagens sobre a Classe Média nos recentes estudos marxistas sobre o tema:
- primeira reduz essa classe a uma mera aglomeração de indivíduos; (americano Harry
Braverman)
- a segunda a reconhece como uma classe “real” num primeiro momento, para
posteriormente a rejeita; (Nicos Poulantzas)
Charles Wright Mills foi um dos que utilizaram da teoria de weber para analisar a
formação da Nova Classe Média nos Estados Unidos. Traz a questão da divisão entre
trabalhadores manuais e não-manuais, que marca a estratificação das sociedades
modernas.
O trabalho de Giddens (1973) chama a atenção para o fato de que a Classe Média –
assim como a “classe trabalhadora” – não seria somente um agregado de indivíduos
compartilhando chances de mercado ou perspectivas econômicas semelhantes, mas
também uma formação social que dependeria de diversos outros fatores para sua
realização.
O esquema de classes de Goldthorpe é construído a partir das informações
ocupacionais, e seu desafio é encontrar a melhor maneira de agregar essas ocupações a
fim de satisfazer os pressupostos teóricos e os requerimentos empíricos da pesquisa.
Roberts et al. (1977) propõem então, como saída, que maior atenção seja dada à esfera
subjetiva, às identidades e percepções de classe. Nesse sentido eles definem “classes”
como as “coletividades com as quais os indivíduos se identificam” (Roberts et al., 1977,
p. 18). Ao contrário de agregados de indivíduos, por apresentarem algum critério
objetivo – renda, escolaridade, ocupação, etc –, para Roberts et al. (1977) a ideia de
classe envolveria o sentimento de “comunidade”, ou seja, a identificação dos indivíduos
com uma coletividade em comum.
Então, na pesquisa deste livro Salata, ele diz: [...] em vez de procurarmos impor uma
classificação aos dados, procuram compreender como os próprios indivíduos se
classificam.
Acreditamos que esse possa ser um caminho interessante também no atual debate sobre
a Classe Média no Brasil. Afinal, poderíamos seguir dois caminhos distintos: o
primeiro, a nosso ver menos promissor, seria adotar um critério dado a priori – seja ele
renda, escolaridade, ocupação, ou qualquer outra variável ou conjunto de variáveis
socioeconômicas – a fim de definir os contornos do que entendemos por Classe Média,
e então mensurá-la. O segundo caminho, por sua vez, o qual seguiremos em nossas
análises neste trabalho, tem como foco a classificação subjetiva dos próprios indivíduos
sobre sua posição social. Em vez de adotarmos uma definição a priori das fronteiras da
Classe Média, procuraremos compreender como os próprios indivíduos as percebem e
são percebidos por outros.
Como já comentamos sobre a crítica ao trabalho na adoção por escolher apenas um dos
métodos, não li as entrevistas e os resultados, porém acredito que a combinação deles
talvez tornaria mais interessante a pesquisa.
3.4 Classe média no Brasil
Nascida nos chamados países “desenvolvidos”, essa imagem de Classe Média, de
acordo com Owensby (1999), teria sido importada para o Brasil por volta da década de
1920, e teria se tornado o meio pelo qual os então novos estratos urbanos (profissionais,
administradores e trabalhadores de colarinho branco de uma maneira geral) procuravam
entender seu lugar dentro daquela sociedade que passava por profundas mudanças. A
representação de Classe Média importada para o Brasil seria, portanto, baseada na
realidade (muitas vezes idealizada) daquela classe nos países desenvolvidos, de modo
que pouquíssimas pessoas no Brasil poderiam de fato alcançar esse ideal. Além disso,
tal imagem englobaria, também, o mito de uma classe modernizadora, progressista e
meritocrática; ou seja, assumia uma conotação extremamente positiva. Tratava-se,
portanto, de uma imagem quase inalcançável – baseada na experiência dos países
desenvolvidos –, cujo padrão de vida poucos setores da sociedade brasileira podiam
corresponder. A ideia de modernidade e mundo desenvolvido a partir dos padrões de
consumo importados da Europa e Estados Unidos passam a ser idealizados, porém uma
um padrão de vida que seria inalcançável para a grande maioria da população brasileira.