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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 403.958 - PB (2002/0003770-5)


RELATOR : MINISTRO FERNANDO GONÇALVES
RECORRENTE : HUMBERTO VICENTE DE ARAÚJO
ADVOGADOS : YURI PAULINO DE MIRANDA E OUTRO(S)
ANDRE LUIZ BRAVIM
RECORRENTE : MARCOS ALBERTO PEIXOTO WANDERLEY
ADVOGADO : TIAGO SOBRAL PEREIRA FILHO
RECORRIDO : CLEUDA RODRIGUES LEITE ARAÚJO E CÔNJUGE
ADVOGADO : SEBASTIÃO ALVES CARREIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DA PARAÍBA - IPEP
PROCURADOR : FRANCISCO RAMALHO DE ALENCAR E OUTRO(S)

EMENTA
RECURSOS ESPECIAIS. PRAZO EM DOBRO.
TEMPESTIVIDADE. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA.
PROPRIEDADE. NÃO TRANSMISSÃO.
1. Se antes do prazo para a interposição do recurso ocorre justa causa
a ensejar o afastamento do causídico e as partes constituem procuradores distintos, é
de lhes ser concedido o prazo em dobro a que alude o art. 191 do Código de
Processo Civil.
2. O compromisso de compra e venda, mesmo quitado e registrado,
não é suficiente para a transmissão da propriedade.
3. O compromisso de compra e venda gera direitos de expressão
econômica, transmissíveis aos herdeiros.
4. Recursos especiais não conhecidos.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer dos recursos especiais.
Os Ministros Aldir Passarinho Junior, João Otávio de Noronha, Luis Felipe
Salomão e Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP)
votaram com o Ministro Relator.
Brasília, 03 de novembro de 2009 (data de julgamento).

MINISTRO FERNANDO GONÇALVES, Relator

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16/11/2009
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 2002/0003770-5 REsp 403958 / PB

Números Origem: 20000052264 200960187710


PAUTA: 15/10/2009 JULGADO: 15/10/2009

Relator
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : HUMBERTO VICENTE DE ARAÚJO
ADVOGADO : YURI PAULINO DE MIRANDA E OUTRO(S)
RECORRENTE : MARCOS ALBERTO PEIXOTO WANDERLEY
ADVOGADO : TIAGO SOBRAL PEREIRA FILHO
RECORRIDO : CLEUDA RODRIGUES LEITE ARAÚJO E CÔNJUGE
ADVOGADO : SEBASTIÃO ALVES CARREIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DA PARAÍBA - IPEP
PROCURADOR : FRANCISCO RAMALHO DE ALENCAR E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Adiado por indicação do Sr. Ministro-Relator."
Brasília, 15 de outubro de 2009

TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI


Secretária

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 2002/0003770-5 REsp 403958 / PB

Números Origem: 20000052264 200960187710


PAUTA: 15/10/2009 JULGADO: 20/10/2009

Relator
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS FONSECA DA SILVA
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : HUMBERTO VICENTE DE ARAÚJO
ADVOGADO : YURI PAULINO DE MIRANDA E OUTRO(S)
RECORRENTE : MARCOS ALBERTO PEIXOTO WANDERLEY
ADVOGADO : TIAGO SOBRAL PEREIRA FILHO
RECORRIDO : CLEUDA RODRIGUES LEITE ARAÚJO E CÔNJUGE
ADVOGADO : SEBASTIÃO ALVES CARREIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DA PARAÍBA - IPEP
PROCURADOR : FRANCISCO RAMALHO DE ALENCAR E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado por indicação do Sr. Ministro Relator.
Brasília, 20 de outubro de 2009

TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI


Secretária

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 2002/0003770-5 REsp 403958 / PB

Números Origem: 20000052264 200960187710


PAUTA: 15/10/2009 JULGADO: 27/10/2009

Relator
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ANA MARIA GUERRERO GUIMARÃES
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : HUMBERTO VICENTE DE ARAÚJO
ADVOGADO : YURI PAULINO DE MIRANDA E OUTRO(S)
RECORRENTE : MARCOS ALBERTO PEIXOTO WANDERLEY
ADVOGADO : TIAGO SOBRAL PEREIRA FILHO
RECORRIDO : CLEUDA RODRIGUES LEITE ARAÚJO E CÔNJUGE
ADVOGADO : SEBASTIÃO ALVES CARREIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DA PARAÍBA - IPEP
PROCURADOR : FRANCISCO RAMALHO DE ALENCAR E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado para a Sessão do dia 03/11/2009 por indicação do Sr. Ministro Relator.
Brasília, 27 de outubro de 2009

TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI


Secretária

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RECURSO ESPECIAL Nº 403.958 - PB (2002/0003770-5)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES:

Por ÁLVARO TOLEDO DA SILVA e esposa foi firmado compromisso


de compra e venda de imóvel com o antigo Montepio do Estado da Paraíba,
hoje Instituto de Previdência daquele Estado, pelo valor de Cr$ 105.507,50, a
ser amortizado em duzentas e dezesseis prestações, vencendo a primeira em
fevereiro de 1953. Em abril de 1975 falece a esposa do compromissário
comprador, que contrai novas núpcias em março de 1981.
Em 17 de setembro de 1984 é outorgada a escritura pública
definitiva do imóvel a Álvaro Toledo da Silva. Em outubro do mesmo ano, o
imóvel é vendido a Cleuda Rodrigues Leite de Araújo e esposo, mediante
escritura particular de promessa de compra e venda, com pacto adjeto de
hipoteca, devidamente averbada no Registro Imobiliário.
A par disso, em 15 de maio de 1985, Álvaro Toledo da Silva, com
o consentimento dos filhos do primeiro matrimônio, aliena novamente o
imóvel, agora a Marcos Antônio Peixoto Wanderley e Humberto Vicente de
Araújo, pela quantia de Cr$ 25.000.000,00.
Em agosto de 1985, Walkíria Toledo de Araújo, filha do primeiro
matrimônio de Álvaro Toledo da Silva, requer a abertura do inventário da
genitora, sendo, então, homologada a partilha do imóvel objeto das duas
alienações relatadas, único bem a partilhar. Em sede de apelação, interposta
pelos primeiros compradores, Cleuda Rodrigues Leite de Araújo e esposo, o
Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba anula a decisão, decretando a extinção
do inventário de Lindalva Vieira Toledo por não ter sido apresentado título de

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domínio do imóvel em nome da falecida (fls. 130/135). Não admitido o recurso


especial manejado pelo espólio, foi aviado agravo de instrumento, desprovido
pelo Ministro ATHOS CARNEIRO - AG 4342/PB.
Pelos segundos compradores, MARCOS ALBERTO PEIXOTO
WANDERLEY e HUMBERTO VICENTE DE ARAÚJO, bem como pelo espólio de

LINDALVA VIEIRA TOLEDO, é ajuizada, então, a presente "ação declaratória de

inexistência de ato jurídico perfeito, cumulada com anulação e indenização por


perdas e danos" em face de CLEUDA RODRIGUES LEITE ARAÚJO e seu cônjuge,
bem como do INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DA PARAÍBA, alegando,
em síntese, que o empréstimo realizado em 1953 para compra do imóvel foi
quitado em 1970, antes, portanto, da morte da cônjuge virago. Nesse contexto,
a entidade de previdência, ao outorgar a escritura definitiva do imóvel somente
em nome do cônjuge sobrevivente, treze anos depois, omitindo a existência do
anterior compromisso de compra e venda firmado entre as partes, usurpa o
direito de herança dos sucessores de Lindalva Vieira Toledo, o que acarreta,
ademais, a nulidade da escritura de promessa de compra e venda outorgada a
Cleuda Rodrigues Leite Araújo, dada a ausência de consentimento dos oito
herdeiros do bem alienado. Assinalam, ainda, o interesse do Instituto de
Previdência da Paraíba no negócio que se busca anular, realizado apenas um
mês depois da outorga da escritura definitiva, com a referida entidade
comparecendo como interveniente financiadora. Ressaltam, por fim, que
Álvaro Toledo da Silva, já com setenta e cinco anos de idade na ocasião, foi
induzido em erro, só se apercebendo da existência do compromisso de compra
e venda firmado com Cleuda quando os segundos compradores, Humberto
Vicente de Araújo e Marcos Alberto Peixoto Wanderlei, tentaram lavrar a
escritura de compra e venda no Registro Imobiliário.
A ação é julgada parcialmente procedente, sendo declarado nulo o
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contrato de compra e venda firmado entre ÁLVARO TOLEDO DA SILVA,


CLEUDA RODRIGUES LEITE ARAÚJO e o IPEP - Instituto de Previdência do

Estado da Paraíba.
Inconformados os réus ingressam com apelação, provida pelo
Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em acórdão que guarda a seguinte
ementa:
"COMPRA E VENDA . Imóvel residencial. Aquisição. Financiamento.
Liquidação. Viuvez do compromissário comprador. Novas
núpcias. Outorga de escritura definitiva. Alienação. Contrato
particular de compra e venda, com força de escritura pública.
Financiamento. Pacto adjeto de hipoteca. Nulidade. Segunda
alienação. Simples recibo. Demanda procedente. Apelação dos
promovidos e do litisconsorte passivo. Preliminares de
ilegitimidade ativa ad causam, cerceamento do direito de defesa e
prescrição. Rejeição. Contrato particular de compra e venda, com
força de escritura pública, com financiamento e pacto adjeto de
hipoteca. Validade e legitimidade. Segunda alienação. Invalidade
e ineficácia. Formalização através de simples recibo. Provimento
de ambos os recursos.
Rejeitam-se preliminares suscitadas quando se patenteia a
legitimidade ativa ad causam dos beneficiários diretos da
pretendida declaração sentencial de nulidade de ato jurídico;
quando inexistente o cerceamento do direito de defesa, ante a
evidência de que a prova documental produzida é bastante para o
julgamento antecipado da lide; quando impertinente a invocação
de prescrição (art. 178, § 9º, V, "b", CC ), aplicável às ações
anulatórias de contratos e demais negócios jurídicos, infectados
de erro, dolo, simulação ou fraude, descabendo invocá-la em ação
declaratória de inexistência de ato jurídico, cujo lapso
prescricional é o comum.
A execução voluntária de contrato de promessa de compra e
venda, com a escrituração definitiva, transcrita no Registro de
Imóveis, confere ao compromissário comprador o domínio pleno
do imóvel, deste podendo usar, gozar e dispor como lhe aprouver,
eis que não integra o espólio da primeira esposa, cujo óbito
ocorreu anteriormente.
Não padece de nulidade o contrato particular de promessa de
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compra e venda de imóvel, com força de escritura pública ex-vi


legis, e pacto adjeto de hipoteca, inscrito no Registro de Imóveis,
firmado pelo vendedor, com outorga uxória da segunda esposa,
pelos compradores, e a interveniência do órgão financiador e
credor hipotecário.
Carece de validade a segunda alienação de imóvel, formalizada
em simples recibo, assinado pelo ex-proprietário e filhos do
primeiro matrimônio, porque, além de não mais pertencer ao
vendedor, o imóvel assim vendido não integrou o espólio da
primeira esposa, falecida antes da escrituração definitiva, e cujos
filhos, por isso mesmo, carecem de capacidade sucessória.
Averbado no Registro Imobiliário, o contrato de promessa de
venda é direito real sui generis, oponível a terceiros, mas não
translativo de propriedade.
Está isento de ônus da sucumbência o litisconsorte passivo que
intervém, em contrato particular de compra e venda, com força de
escritura pública, como pagador e credor hipotecário, na
condição de órgão financiador da aquisição de imóvel residencial,
em nada concorrendo para infirmar de nulidade o negócio
realizado." (fls. 308)
Embargos de declaração opostos pelos autores rejeitados (fls.
350/352).
Vem, então, o recurso especial de MARCOS ALBERTO PEIXOTO
WANDERLEY, com base na letra "a" do permissivo constitucional, no qual

aponta violação aos arts. 225, 262 e 1572 do Código Civil de 1916.
Assinala que Álvaro Toledo da Silva e Lindalva Vieira Toledo se
casaram sob o regime de comunhão universal de bens. Nesse passo, quando do
falecimento da virago, passaram aos filhos parte dos direitos decorrentes do
compromisso de compra e venda firmado pelos pais e já quitado na ocasião.
Ressalta, por outro lado, que nos termos do art. 225 do Código
Civil, não pode o viúvo, quando tiver filhos, contrair novas núpcias antes de
fazer o inventário dos bens relativos ao primeiro matrimônio. Nesse contexto,
entende que foi com a desobediência a inúmeras formalidades legais que se deu
o compromisso de compra e venda firmado com Cleuda Rodrigues Leite
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Araújo, sendo que pelo vendedor foram transmitidos mais direitos do que
detinha.
Afirma, por fim, que, ao persistir o entendimento exarado pela
Corte de origem, o cônjuge sobrevivente, detentor de uma promessa de compra
e venda devidamente quitada, pode facilmente lesionar os herdeiros, bastando
para tanto não escriturar e registrar o imóvel.
Há, também, recurso especial de HUMBERTO VICENTE DE ARAÚJO,
com fincas na alínea "a" do permissivo constitucional, assinalando maltrato aos
arts. 74, III, e 1572 do Código Civil de 1916.
Sustenta que na época em que quitado o compromisso de compra e
venda do bem em litígio, 1971, Lindalva Vieira Toledo ainda estava viva e
casada, razão pela qual metade do bem passou a integrar seu patrimônio. Nesse
contexto, quando de seu falecimento, os herdeiros passaram a ter direito sobre o
imóvel que não poderia, assim, ser vendido sem seu consentimento.
Aduz, de toda forma, que ainda que se considere não estar o
imóvel integrado no patrimônio da falecida, ao menos o direito a este foi por
ela alcançado, conforme ensina o art. 74, III, do Código Civil de 1916 ao dispor
que os direitos atuais são aqueles completamente adquiridos. Assim sendo,
quando aberta a sucessão, o direito à metade do imóvel foi automaticamente
transmitido aos seus herdeiros.
Nessa ordem de idéias, argumenta que Álvaro Toledo não poderia
transmitir aos recorridos o direito pleno sobre o imóvel, pois não o detinha,
devendo ser declarado nulo o compromisso de compra e venda por ele firmado.
Em contra-razões, Cleuda Rodrigues Leite Araújo e outro
assinalam a intempestividade dos recursos especiais, afirmando ser inaplicável
na espécie o benefício do art. 191 do Código de Processo Civil. Aduzem, por
outro lado, a falta de prequestionamento da matéria aventada nos apelos e a
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necessidade de revolvimento do conjunto fático-probatório para o deslinde da


controvérsia (fls. 389/393).
Os recursos foram admitidos por decisão do Presidente do Tribunal
de Justiça do Estado da Paraíba (fls. 399/400).
É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (RELATOR):

De início, afasto a preliminar de intempestividade dos recursos


especiais trazida em contra-razões.
Com efeito, o procurador que representava os recorrentes foi
convocado a tomar posse no cargo de Delegado da Polícia Civil em 21.09.2001
(fls. 364), sendo nomeado em 24.10.2001, não mais podendo, em vista do cargo
público, exercer a advocacia. Em razão disso, substabelece, sem reservas, em
04.10.2001 e 08.10.2001 respectivamente (fls. 362 e 382), os poderes a ele
outorgados pelos recorrentes. Assim, também, age o causídico que com ele
atuava conjuntamente (fls. 363 e 383).
Nesse contexto, se antes do prazo para a interposição do recurso
especial, iniciado em 10.10.2001 (fls. 353), ocorre justa causa a ensejar o
afastamento do causídico e as partes constituem procuradores distintos, é de
lhes ser concedido o prazo em dobro a que alude o art. 191 do Código de
Processo Civil.
A propósito:
"PROCESSUAL CIVIL. LITISCONSORTES COM PROCURADORES
DIVERSOS. EXISTÊNCIA DE SUBSTABELECIMENTO SEM RESERVAS.
BENEFÍCIO DO PRAZO EM DOBRO PARA CONTESTAR. INTELIGÊNCIA
DO ARTIGO 191 DO CPC.
1. A constituição de mandatário judicial diverso, por um dos
litisconsortes, ainda que por intermédio de um substabelecimento
sem reserva, basta, por si só, para legitimar a invocação da norma
inscrita no artigo 191 do Código de Processo Civil, que veicula o
benefício excepcional da dilatação dos prazos processuais. Isto
porque, consoante a melhor doutrina, o substabelecimento sem
reservas caracteriza renúncia à representação judicial. (Pontes de
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Miranda, Serpa Lopes, Orlando Gomes, Clóvis Bevilacqua)


2. É cediço no E.S.T.J . que o direito ao prazo em dobro, previsto no
art. 191 do CPC , não está sujeito à prévia declaração dos
litisconsortes passivos de que terão mais de um advogado e nem
ao fato de os advogados pertencerem à mesma banca de
advocacia, sendo assegurado à parte a apresentação da peça,
ainda que posteriormente ao término da contagem do prazo
simples.
3. "Em interpretação integrativa, é de aplicar-se a regra benévola
do art. 191, CPC , mesmo quando apenas um dos co-réus contesta o
feito, e no prazo duplo." (RE sp 277.155/ PR , Rel. Ministro SÁLVIO
DE FIGUEIREDO TEIXEIRA , DJ de 11.12.2000)
4. A jurisprudência do STJ assenta o entendimento de que havendo
litisconsórcio passivo, com diferentes procuradores, o prazo para
contestação é contado em dobro, de sorte que não se apresenta
possível proclamar revelia antes de expirados trinta dias da
efetiva citação do último réu.
5. Recurso especial provido, para reformar o acórdão recorrido,
dando provimento ao agravo de instrumento e determinando o
recebimento da contestação e o conseqüente prosseguimento
regular à instrução processual." (RE sp 713.367/ SP , Rel. Ministro
LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 07/06/2005, DJ 27/06/2005
p. 273)
Superada a preliminar, passo ao julgamento dos apelos especiais na
ordem em que foram relatados.
Pelo Montepio do Estado da Paraíba foi vendido a Álvaro Toledo
da Silva imóvel residencial através de escritura pública de promessa de compra
e venda, não figurando no título, como signatária, a esposa do comprador,
Lindalva Vieira Toledo. Pagas as duzentas e dezesseis prestações contratadas
em 1971, a outorga da escritura de compra e venda somente se dá em 1984.
Assim, quando da morte da esposa do compromissário comprador,
em 1975, o compromisso estava quitado, porém, não havia sido outorgada a
escritura definitiva. A partir desses fatos, o Tribunal de origem conclui que nem
a esposa falecida e, por mais razão, seus herdeiros detêm qualquer direito sobre
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o imóvel em questão, consoante se verifica do seguinte trecho do voto condutor


do aresto recorrido, verbis :
"Ao falecer Dona Lindalva Vieira Toledo, a 10 de abril de 1975, o
proprietário ex jure do imóvel era o IPEP , e não seu marido, que
detinha somente o jus possessionis , o domínio útil do prédio. A
extinta era pessoa estranha ao negócio jurídico porque,
simplesmente, não figurara, a qualquer título, como interveniente,
na escritura pública de promessa de compra e venda do imóvel.
Tratando-se de contrato de promessa de compra e venda, a
propriedade plena de Álvaro Toledo da Silva sobre o imóvel
somente se consolidou depois que o IPEP lhe passou a escritura
definitiva de compra e venda, levada a registro no Serviço
Registral competente (f.f. 52/55 e 121/122) quando, então, ele
adquiriu o domínio pleno do imóvel.
(...)
Por isso, não se há falar em direito sucessório dos filhos do
primeiro matrimônio sobre o imóvel, tanto que o processo de
inventário de seus bens foi extinto, em segunda instância, com o
provimento do recurso apelatório interposto da sentença
homologatória (f.f. 130/135), ao fundamento de que as
declarações iniciais prestadas pela Inventariante, Walkíria Toledo
de Araújo, não correspondiam à verdade.
A história, como se vê, é bem diversa daquela que engendraram os
Apelados. Os autos demonstram, à saciedade que, em 02 de
fevereiro de 1953, Álvaro Toledo da Silva adquiriu, através de
promessa de compra e venda, o imóvel questionado com
financiamento do então Montepio do Estado da Paraíba, hoje
IPEP , pagando-o em duzentas e dezesseis prestações, sem qualquer
participação da esposa, Dona Lindalva Vieira Toledo, falecida em
1975." (fls. 317)
Sustenta Marcos Alberto Peixoto Wanderley que, ao assim decidir,
o Tribunal de origem ofende o disposto no art. 1572 do Código Civil de 1916,
porquanto não somente a propriedade se transmite com a morte, mas também a
posse e os direitos titularizados pelo de cujus .
Creio que a questão merece alguma ponderação.
Com efeito, o compromisso de compra e venda, mesmo quitado e
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registrado, não é suficiente para a transmissão da propriedade. É de se ver,


porém, que referido contrato gera para o compromissário o direito de usar, fruir
e, segundo alguns doutrinadores, dispor do imóvel, poderes que se tornam
definitivos com o pagamento do preço.
Nesse sentido:
"Compromisso de compra e venda. Distrato. Fraude de execução.
Precedente da Corte.
1. O compromisso de compra e venda, embora assinado em
caráter irrevogável e irretratável, não tem o condão de transferir
o domínio. Com isso, posterior distrato, ainda que em período
suspeito, impede que a execução seja processada com base no
imóvel a que se refere o negócio.
2. Recurso especial conhecido e provido." (RE sp 667.242/ PR , Rel.
Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Terceira Turma, DJ
22/10/2007)
"AÇÃO RESCISÓRIA. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. POSSE.
TRANSFERÊNCIA. USUCAPIÃO. PRAZO. OPOSIÇÃO. INEXISTÊNCIA.
1. Compromisso de compra e venda de imóvel é título hábil à
transferência da posse.
2. A teor do Art. 551 do Código Beviláqua, é de dez anos o prazo
da prescrição aquisitiva quando as partes que contendem a
respeito da usucapião residem no mesmo Município.
3. A posse mansa e pacífica não se interrompe quando o possuidor
direto propõe medidas judiciais contra o suposto turbador,
especialmente se tais medidas de proteção são declaradas
procedentes." (AR 3.449/ GO , Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE
BARROS, Segunda Seção , DJ e 06/03/2008)

No caso dos autos, o compromisso de compra e venda foi firmado


e inteiramente pago na vigência do matrimônio de Álvaro e Lindalva, realizado
sob o regime da comunhão universal de bens. Nesse contexto, conquanto
somente Álvaro compareça no contrato como compromissário comprador, os
direitos decorrentes do ajuste se comunicam a Lindalva, especialmente porque
ostentam inegável expressão econômica.

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A propósito:
"DIVÓRCIO. PARTILHA DE IMÓVEL ADQUIRIDO PELO VARÃO ANTES
DO CASAMENTO PELO SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO.
PRESTAÇÕES CONCERNENTES AO FINANCIAMENTO SOLVIDAS COM O
ESFORÇO COMUM DO CASAL. ADEQUADA SOLUÇÃO ENCONTRADA
PELO ACÓRDÃO RECORRIDO: A MULHER FICA COM O DIREITO À
METADE DAS PRESTAÇÕES PAGAS NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO, MAIS
AS BENFEITORIAS REALIZADAS.
- Reconhecido pelo V. Acórdão que a aquisição do imóvel se dera
com a contribuição, direta ou indireta, de ambos os cônjuges,
justo e razoável que a mulher fique com o direito à metade dos
valores pagos na constância da sociedade conjugal, acrescido das
benfeitorias realizadas nesse período, respeitado o direito de
propriedade do varão.
- Pretensão do recorrente de modificar a base fática da lide, ao
sustentar que a unidade habitacional tivera sido comprada com
recursos exclusivamente seus. Incidência do verbete sumular nº
07- STJ .
- Inocorrência de contrariedade à lei federal e não demonstração
do dissídio pretoriano.
Recurso especial não conhecido." (RE sp 108.140/ BA , Rel. Ministro
BARROS MONTEIRO, Quarta Turma, julgado em 08/02/2000, DJ
02/05/2000 p. 142)
Então, quando da abertura da sucessão de Lindalva, os direitos a
ela pertencentes se transmitiram incontinenti a seus herdeiros, nos moldes
determinados pelo art. 1572 do Código Civil de 1916 (princípio da saisine ).
Assim, os herdeiros passaram, em 1975, a titularizar, na mesma
porcentagem que antes era da falecida, os direitos de usar e gozar do imóvel.
Fazem jus, assim, a serem indenizados pelo pai no correspondente ao valor
desses direitos, não ostentando, porém, direito de propriedade em relação ao
imóvel, porquanto, consoante já referido, esse não lhes foi transmitido.
Nessa ordem de idéias, não há como anular o compromisso de
compra e venda firmado por Cleuda Rodrigues de Araújo e esposo, porquanto o
imóvel foi alienado por quem efetivamente detinha a propriedade sobre ele,

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devendo ser mantido o acórdão recorrido no particular, ainda que por outros
fundamentos.
Cumpre assinalar, ademais, a boa-fé dos primeiros adquirentes,
porquanto não tinham como verificar a ocorrência de qualquer vício a inquinar
o negócio por eles firmado, porquanto na matrícula do imóvel não havia
referência ao primeiro matrimônio do vendedor, à morte da esposa e, muito
menos, à existência de herdeiros.
Por fim, a matéria contida nos arts. 225 e 262 do Código Civil de
1916 não foi objeto de decisão pelo aresto recorrido, ressentido-se o recurso, no
particular, do indispensável prequestionamento.
No que se refere ao recurso especial de Humberto Vicente Araújo,
nada mais há a acrescentar, porquanto as questões aventadas já foram
enfrentadas no julgamento do primeiro apelo.
Ante o exposto, não conheço dos recursos.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 2002/0003770-5 REsp 403958 / PB

Números Origem: 20000052264 200960187710


PAUTA: 15/10/2009 JULGADO: 03/11/2009

Relator
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. DURVAL TADEU GUIMARÃES
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : HUMBERTO VICENTE DE ARAÚJO
ADVOGADO : YURI PAULINO DE MIRANDA E OUTRO(S)
RECORRENTE : MARCOS ALBERTO PEIXOTO WANDERLEY
ADVOGADO : TIAGO SOBRAL PEREIRA FILHO
RECORRIDO : CLEUDA RODRIGUES LEITE ARAÚJO E CÔNJUGE
ADVOGADO : SEBASTIÃO ALVES CARREIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DA PARAÍBA - IPEP
PROCURADOR : FRANCISCO RAMALHO DE ALENCAR E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO

SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). ANDRE LUIZ BRAVIM, pela parte RECORRENTE: HUMBERTO VICENTE DE
ARAÚJO
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, não conheceu dos recursos especiais, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator.

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Os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, João Otávio de Noronha, Luis Felipe Salomão
e Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP) votaram com o Sr.
Ministro Relator.
Brasília, 03 de novembro de 2009

TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI


Secretária

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