Você está na página 1de 17

96 vermífugo

Um
exemplo
de mau
exemplo
Francisco Rogério Madeira Pinto
Jurista

Carlos Medeiros da Silva foi um desses seres subterrâneos, com entrada ga-
rantida no catálogo da noite de Heráclito. Estéril, sem obra citável ou mesmo
legível, serviu com eficiência doentia ao principal artífice de toda legislação
liberticida brasileira, sempre que chamado: Francisco Campos. Chamado foi,
várias vezes, e Carlos Medeiros da Silva seguiu-o de escrivão, meticuloso e
perfeccionista. Deixou como profunda lição de Direito a tese de que só há ar-
bitrariedade se não existe lei que a regule. Arbitrariedade não é a violação da
lei, é tortura sem legislação que a autorize. Nenhum outro aspecto é relevante.
Escreva-se a legislação com correção técnica, e a arbitrariedade da tortura
desaparece. Era um homem da lei. O Judiciário brasileiro contemporâneo fler-
ta com o cadáver ritualizado de Carlos Medeiros da Silva.

JULHO • AGOSTo • SETEMBRo 2018 97


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

O “laboratório” era formado


por uma gigantesca biblioteca
particular com mais de 100
mil livros e distribuída em um
edifício de quatro andares,
especialmente construído para
abrigar um acervo que contava,
além de livros jurídicos, com

Q
obras raras amealhadas em
uem passa pela
constantes viagens à Europa.
Rua General Ur- nos revela o percurso
O seu antigo proprietário deu
quiza, no bairro ambíguo dos juristas
nome ao prédio agora edificado.
do Leblon, e se defronta em relação aos regimes
A denominação de “laboratório”
com o edifício Ministro de força que ajudaram
não foi construída como um
Carlos Medeiros Silva a legitimar. Trata-se de
uma metáfora aleatória e muito
não imagina que na- um personagem menos
menos forjada pelos detratores arcabouço jurídico da ditadura militar
quele endereço existia reconhecido, ou mes-
do jurista. Ela foi cunhada pelo em sua primeira fase (1964-1969)
um importante “labo- mo desconhecido, entre
primeiro presidente do ciclo mi- e sua posterior atuação na arena
ratório”. Nele foram aqueles que estudam
litar, o general Castelo Branco, pública durante a década de 1970.
elaborados alguns dos algumas das figuras de
como uma forma de reconheci- Delimitado em sua atuação a partir de
principais remédios proa de nosso autori-
mento pela rapidez e eficiência 1964, observa-se um percurso que se
– ou venenos – insti- tarismo. Nesse meio,
com que Carlos Medeiros Silva inicia com o franco apoio às medidas
tucionais para o país: Francisco Campos é,
atendia às emergências jurídicas de exceção, mas que vai se afastando
constituições, leis, de- certamente, o juriscon-
do regime.1 e estabelecendo reservas ao regime
cretos, decretos-leis, sulto mais lembrado e
Este artigo objetiva descor- que, inicialmente, contribuiu para
atos institucionais e isso se deve, além de
tinar alguns aspectos da his- estabelecer.
uma infinidade de ou- sua intensa contribuição
tória desse importante jurista Carlos Medeiros Silva fazia parte
tras fórmulas jurídicas pessoal para os regimes
brasileiro, privilegiando a sua de uma geração com sólida formação
produzidas a serviço de autoritários, pelo fato de
participação na formulação do intelectual, responsável por moldar a
todos os governos bra- sua obra ter ambições
sileiros desde a década legislação brasileira a partir da década
de 1930, especialmen- de 1930 e que teve ativa participação
te às nossas ditaduras. em regimes autoritários. Sua história

98 vermífugo
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

promotor público no Distrito Federal


(1939), consultor jurídico do DASP
(1944), consultor geral da República
teóricas e ter sido sistematizada em livros com objetivo
(1951-54) e procurador geral da Re-
de propagar sua doutrina.2 Campos é um daqueles au-
pública (1957-60). A sua passagem Desde 1936, Carlos Me­
tores com força de estilo. Suas ideias, apresentadas de
pelo STF, entretanto, seria breve, deiros vinha atuando de forma
forma mais atraente, ganham mais espaços e têm maior
durando apenas sete meses – entre intensa à sombra do poder.
possibilidade de expansão. Ao contrário de Campos, a
novembro de 1965 e julho de 1966. Naquele ano, assumiu a che-
obra de Medeiros possui um caráter técnico, reflexo de
Suas qualidades como um jurista fia de gabinete do então
sua atuação como jurista atuante na burocracia estatal,
eficiente, técnico e com expertise secretário de Educação do
e com objetivos mais práticos do que teóricos. Quando
acumulada durante o Estado Novo o Distrito Federal, Francisco
se lançava a uma discussão de maior abrangência sobre
gabaritava para mais uma importante Campos. Quando este foi no-
determinados temas nacionais, seus textos eram pu-
função: assumir o cargo de ministro meado ministro da Justiça e
blicados em revistas jurídicas, dirigidas, portanto, a um
da Justiça para institucionalizar o Negócios Interiores, em 1937,
público especializado e com poucas reedições em livros.
golpe militar de 1964. Medeiros passou a exercer a
Ademais, sua escrita é seca, direta, mais substantiva que
função de assistente jurídico
a adjetivada de Campos. Ao longo de sua vida, Medeiros
nesse Ministério. Foi como
reforçava essa imagem, afirmando que era técnico, e não
assistente de Campos que
opinava sobre fatos políticos quando instado a entrar no
datilografou, em segredo,
debate sobre temas mais polêmicos.3
o texto do que viria a ser
a Constituição de 1937. 5
O Institucionalizador da Revolução
Junto com seu trabalho com
Uma das grandes ambições de Carlos Medeiros era
se tornar ministro do Supremo Tribunal Federal. Por não
ter sido escolhido para ocupar uma vaga pelo presidente
Juscelino Kubitschek, exonera-se do cargo de procurador
geral da República em 3 de dezembro de 1960.4 Com o
Ato Institucional nº 2, que aumenta de 11 para 16 os
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), finalmente
realiza esse projeto que parecia ser, naquele momento,
o coroamento de uma rica e diversificada carreira nos
meios jurídicos. Medeiros já havia exercido os cargos de

JULHO • AGOSTo • SETEMBRo 2018 99


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

De fato, a identificação de cada


lei elaborada ou que teve a contri-
buição de Carlos Medeiros seria
uma tarefa árdua. Seu currículo,
Campos, concentra, a partir de 1936, a função de divulgado em 1965 como requisito
redator-chefe da Revista Forense, cargo que ocuparia para aprovação de seu nome ao STF
até 1965. Entre 1944 e 1965, criou e passou a dirigir pelo Senado, nos oferece apenas
um panorama de sua produção, respondido: “Desses detalhes, o
a Revista de Direito Administrativo e foi redator chefe
especificamente daquela com a Carlos Medeiros pode cuidar...”.9
da Revista de Serviço Público (1944-47). Seu papel
qual trabalhou oficialmente.7 Con- Medeiros exercia, assim, seu
como fundador e editor de importantes revistas de
tudo, como afirmava Nunes Leal no papel de jurista prático, de acu-
direito nacionais demonstra sua importância como
mesmo discurso, sua participação, rada capacidade técnica para
uma das figuras centrais na circulação e difusão de
muitas vezes decisiva em grandes questões relacionadas ao direito
ideias jurídicas durante as décadas de 1930 e 1960,
acontecimentos nacionais, ocorreu em momentos de emergência.
especialmente durante o Estado Novo, período de
de forma discreta como “conse- O nome de Carlos Medeiros
grande efervescência intelectual no meio jurídico
lheiro não oficial de governantes”.8 foi indicado ao presidente Castelo
e de intensa codificação. Durante a década de
E foi dessa maneira que se deu Branco por seu companheiro de
1940 inicia-se de forma mais intensa sua atuação
sua contribuição ao regime, um longa data na Revista Forense, o
como legislador. Tamanha foi a sua participação na
pouco antes de assumir a função jurista e deputado federal Bilac
produção legislativa nacional que Victor Nunes Leal
de ministro do STF. Em abril de Pinto. Medeiros teria a função
afirmara, em discurso de despedida de Medeiros
1964, Medeiros foi indicado por de articular sugestões práticas,
no STF, que eram tantas as leis, decretos-leis e
seu patrono Francisco Campos para ou seja, deveria aperfeiçoar a
decretos com a marca de sua autoria, que o próprio
redigir os artigos que compunham o proposta do que ainda era tratado
homenageado teria dificuldade em listar caso a caso
primeiro ato institucional do regime como um Ato Adicional para es-
sua contribuição.6
militar, posteriormente denominado tabelecer algum mecanismo jurí-
AI-1. Campos não teria levado mais dico que garantisse certo nível de
do que 40 minutos para elaborar legalidade às ações daqueles que
seu preâmbulo e, após ser questio- estavam no comando do golpe.10
nado por Costa e Silva, a respeito
do conteúdo do documento, teria

100 vermífugo
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

A partir de 1966, Carlos Medeiros teria que exercer uma missão: a de coordenar, como ministro da Justiça, os trabalhos
posição de protagonismo, que, até então, não parecia ser de seu de reorganização constitucional, dentro dos postulados da
interesse. Convocado por Castelo Branco para outra missão, iria revolução de 31 de março”.11
assumir o cargo de ministro da Justiça e passaria a lidar com O seu nome era novamente acionado para atuar nos mo-
a exposição típica dessa função. Seu nome estaria cada vez mentos de crise. Em discurso com ministro da Justiça no TSE,
mais presente nas manchetes de jornais, envolvido nas disputas proferido na mesma data de sua visita ao STF, ele retomava
políticas e sofreria com os altos e baixos da notoriedade pública. o argumento de Francisco Campos em “A política e o nosso
Posição difícil para quem era reconhecido por sua discrição. tempo”, de 1935, em que este fazia alusão ao “aspecto trá-
Ao exercer o cargo de ministro da Justiça, Medeiros estava gico das épocas chamadas de transição”12 como fundamento
consciente de seu papel como institucionalizador da revolução para referendar “a técnica do estado totalitário a serviço da
e da consequente missão de produzir o arcabouço jurídico do democracia”.13 Tanto no texto de Francisco Campos quanto
regime. Em discurso de despedida no STF, em 25 de agosto de no de Medeiros, sobressai a concepção de que o momento
1966, declarava: “Como é notório, fui convocado pelo senhor exigia inovações e que as fórmulas jurídicas existentes eram
presidente da República para o desempenho de outra elevada obsoletas para lidar com os desafios que se apresentavam:

Carlos
Medeiros
teria que
exercer uma
posição de
protagonismo,
que, até então,
não parecia
ser de seu
interesse

JULHO • AGOSTo • SETEMBRo 2018 101


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

Nas épocas de transição, em que a pletora de leis


procura disciplinar uma realidade complexa e fugidia,
a missão de julgar se torna ainda mais difícil. O intér-
prete e aplicador da lei deve enquadrar, na decisão, o
individual e o social, com certa dose de intuição, ante
a insuficiência de textos sem a objetividade bastante,
a pressão dos interesses e a violência das paixões.
A crise que a ordem jurídica nacional atravessa, os medidas de ordem jurídica que o
preclaros membros deste Egrégio Tribunal bem a Ato consagra visam à aceleração
conhecem e avaliam sua extensão. Uma sociedade do processo legislativo, quanto
em desenvolvimento, regida por instrumentos jurídicos a possibilitar as reformas cons-
cuja inspiração a velocidade do tempo torna obsoleta titucionais e a elaboração das
em curto prazo, é a imagem do nosso tempo. O mime- leis”.15 Em declaração seguinte,
das leis e especificidade nacional
tismo, em relação a fórmulas e modelos alienígenas, posteriormente publicada no
seriam, mais uma vez, articulados
tão do gosto dos homens do princípio do século, não texto “O Ato Institucional e a ela-
para justificar uma nova experiência
sensibiliza mais o estudioso de nossos dias.14 boração legislativa” e resultado
autoritária.
de uma conferência pronunciada
A chegada de Medeiros ao Mi-
Há em sua fala os elementos do discurso jurídico em 30 de abril de 1964, Me-
nistério da Justiça iria propiciar-lhe
das décadas de 1930-1940 e que fundamentaram as deiros ressaltava que, “entre
a oportunidade de corrigir uma falha
inovações institucionais do Estado Novo: a constata- as inovações introduzidas pelo
que detectara no regime nos meses
ção de um momento de transição e crise, no qual a Ato” [...], as que mais interesse
seguintes ao seu estabelecimento:
ordem jurídica não possuía os instrumentos jurídicos despertam, no plano doutrinário,
o de não aproveitar o momento
adequados à gravidade do momento. Portanto, se são as pertinentes à elaboração
para fazer as mudanças legislativas
abria espaço para uma interpretação mais aberta legislativa (arts 3º, 4º e 5º)”.16
necessárias. Em sua primeira mani-
das regras jurídicas, muito mais sensível à pressão
festação sobre o ato institucional,
dos interesses. Nele, também a afirmação de nossa
em entrevista para O Globo, em 11
singularidade, a qual deveria se refletir na construção
de abril de 1964, apenas dois dias
urgente de fórmulas jurídicas adequadas à nossa
depois da edição da norma, defen-
realidade. Transição, crise, urgência na renovação
dia que a revolução era o momento
adequado para se estabelecer uma
série de inovações legislativas que
estavam travadas em razão do
jogo democrático parlamentar: “As

102 vermífugo
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

No entanto, poucos meses


depois, começaram a aparecer Sem base legal sólida, que não tiveram, esses atos
as primeiras frustrações do juris- correm o risco de completa revisão judicial, ou da anis-
ta com a falta de compromisso tia, instigadas pelo clamor das vítimas e o sentimento
do regime com a institucionaliza- nacional de perdão. A precariedade do expurgo de ele-
O jurista decepcionava-se por mentos subversivos e corruptos já realizado aconselha
ção de determinadas medidas.
ter verificado que poucas mudanças a elaboração imediata de lei que possibilite a repressão
Passados seis meses da edição
legislativas haviam sido efetivadas eficaz dos crimes contra o Estado e seu patrimônio ou
do ato, muitas medidas jurídicas
no plano administrativo, consti- de atos de “guerra revolucionária” [...]. Caso contrário,
consideradas necessárias para
tucional e ordinário, inclusive, na as perplexidades continuarão e a insegurança jurídica
consolidar suas propostas ainda
legislação repressiva do regime. das medidas punitivas será fato de impunidade ou de
não haviam sido concretizadas:
Em sua visão, a falta de dinamismo abusos, ou mesmo de violências injustificáveis, que a
do governo no plano legislativo po- ação corregedora do chefe do governo será impotente
O ato institucional, a despeito
deria afetar, inclusive, as medidas para evitar [...]. Era de se esperar que nos primeiros
de peculiaridades originais,
repressivas outorgadas logo após a dias da revolução uma lei, conferindo amplos poderes
encontra plena correspon-
tomada de poder. ao Executivo, tivesse sido solicitada ao Congresso para
dência, neste particular, com
aqueles modelos tradicionais pôr fim a essa caótica situação (RDA, vol. 78, p. 451).
de nossa formação política
e jurídica. Mas no plano le- Para ele, era necessário construir o arcabouço
gislativo e da renovação dos jurídico que ofereceria legitimidade às medidas do
institutos jurídicos muita coisa novo regime e, assim, transformar regras de exceção
já poderia ter sido feita e não em legislação ordinária. Caso não se levasse a cabo
o foi, sendo amplos os horizon- essa modificação, essas medidas se transformariam
tes ainda por atingir.17 em puro arbítrio, perdendo-se, dessa maneira, os
frágeis contornos que propiciavam a existência de um
Estado de Direito, mesmo nos regimes autoritários.
A permanência de uma esfera normativa tratava-
-se de um tema fundamental para os juristas. Para
estes profissionais, a existência do Estado de Direito,
por mais restrito e limitado que fosse, possibilitava
sua atuação profissional.18 A crise política, a ser ma-
nejada pelo uso de instrumentos jurídicos de exceção

JULHO • AGOSTo • SETEMBRo 2018 103


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

(estado de sítio, estado de guerra, estado de emergência, atos com maiores edições de decretos-leis durante a ditadura
adicionais, atos complementares e atos institucionais), era militar foram os de 1967 e 1969, exatamente os anos em
uma oportunidade para efetivar mudanças legislativas que não que foram outorgadas novas constituições.20 Desse modo, na
poderia ser desperdiçada. Desse modo, mais do que a imagem primeira fase do regime militar, o período de maior produção
de um desprezo às leis, os regimes autoritários celebram a legislativa coincide com a atuação de Carlos Medeiros Silva
legalidade. E é nesse momento que se estabelece a estreita como ministro da Justiça (19 de julho de 1966 a 15 de março
relação entre autoritarismo e direito, a qual se concretiza em de 1967) e o segundo se dá posteriormente ao chamado golpe
um processo de intensa produção legislativa para dar suporte dentro do golpe, após a edição do AI-5, e a tomada do poder
institucional ao novo regime e, também, como prêmio àqueles pela junta militar com o impedimento de Costa e Silva.
setores da sociedade que apoiaram o restabelecimento da No cargo de ministro da Justiça, Medeiros busca corrigir a
ordem. falta de senso de oportunidade legislativa do regime. É durante
Exemplar desse fenômeno é o pico legislativo que se dá seu curto período no ministério que produziu os principais mar-
nos primeiros anos após a tomada do poder. Com base em cos jurídicos da ditadura em seu momento inicial: além do Ato
estudo sobre a produção legislativa de decretos-leis entre Institucional nº 1, escrito antes de sua posse como ministro
1937 e 1987, pode-se observar que, entre 1937 e 1946, sua da Justiça, deve-se ao jurista a Constituição de 1967, o Ato
edição atingiu média anual de 988. Durante a ditadura militar, Institucional nº 4, Ato Institucional nº 12, a Lei de Imprensa
o ápice se deu entre 1966 e 1969, com média anual de 268 (Lei nº 5.250, de 09/02/1967), a Lei de Segurança Nacional
decretos-leis, e de apenas 74 entre 1970 e 1988.19 Os anos (Decreto-Lei nº 314, de 13/03/1967) e o Decreto nº 200, de

No cargo
de ministro
da Justiça,
Medeiros busca
corrigir a falta
de senso de
oportunidade
legislativa
do regime

104 vermífugo
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

25 de fevereiro de 1967, por meio do qual se implantou


a reforma administrativa no país e que contava com
estudos de Carlos Medeiros desde 1960.21
Em seus pareceres como advogado, após sua
saída do Ministério da Justiça, faz, ainda, referências
a alguns dos 21 atos complementares que referendou
durante sua gestão como ministro. Entre eles o Ato
Complementar 23, de 20/10/1966, que decretou o
recesso do Congresso por um mês e autorizou o pre-
sidente da República a legislar durante esse período.
em projetos de lei.26 Determi-
Editados com os mais diversos conteúdos – legislação
nava, ainda, o impedimento, por
eleitoral, orçamentária, tributária e administrativa – es-
parte do Judiciário, de apreciar
ses atos eram editados com o objetivo de regulamen-
qualquer ato praticado pelo Co-
tar os atos institucionais. Nesses pareceres, Medeiros
um emaranhado de textos concebi- mando Supremo da Revolução
apresentava seu entendimento sobre a natureza
dos e baixados a toque de caixa.23 – o qual ficou consignado no
jurídica desses instrumentos legislativos de exceção:
No centro dessa operação, estava art. 173 do texto final. Em sua
a Constituição de 1967. O projeto exposição de motivos, estava
De fato, baixados sem a participação do Congresso
definitivo do texto foi fruto do tra- clara sua inspiração antiliberal
Nacional e imunes ao controle do Poder Judiciário, os
balho individual de Carlos Medeiros, ao criticar as constituições de
Atos Institucionais e Complementares constituem uma
convocado do STF para corrigir o 1891, 1934 e 1946, identifi-
categoria especial de normas jurídicas, autônomas e
anteprojeto da primeira comissão, cadas pela incapacidade de
soberanas, cogentes por si mesmas, sem possibilidade
considerado excessivamente liberal oferecerem ao país estabilidade
de confronto ou contraste, de efeito negativo, com
por Castelo Branco.24 política.27
quaisquer outras).22
Medeiros adaptou a Carta ao
gosto do governo, produzindo, como
A Constituição de 1967
declarou posteriormente, em menos
O objetivo precípuo de Castelo Branco ao convocar
de um mês, um novo texto a ser
Medeiros para a missão institucionalizadora era de
submetido à cúpula do governo.25 O
limitar o poder de ação do futuro presidente Costa e
projeto instituía, entre outros pontos,
Silva. Sua estratégia visava prender Costa e Silva em
que os direitos e garantias individuais
e trabalhistas seriam estabelecidos de
forma geral para serem detalhados

JULHO • AGOSTo • SETEMBRo 2018 105


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

regime da lei, e sem lei não há liber-


dade”,32 frase esta que desvela as
complexas relações entre legalidade técnica, como tudo”. Em uma comparação com a
A fundamentação do texto
a autoritarismo. Ela demonstra como Constituição que lhe era mais assemelhada, dizia
de 1967 se assemelhava ao
era possível conceber, para os juristas que “[...] nem de longe se aproximava das qualidades
seu congênere autoritário de
da linhagem de Medeiros, que era da Carta de 1937, redigida por Francisco Campos,
1937.28 Em seu projeto, Medeiros
plenamente justificável a ideia de de- texto este que, apesar de detestável historicamente,
defendia um novo arranjo dos
mocracia num regime autoritário, uma denotava a força intelectual de seu autor. Linguagem
poderes que superasse a divisão
vez que o conceito de democracia era pífia, técnica duvidosa, confusa doutrina, eis o que
proposta pelo liberalismo, numa
reduzido à existência de um Estado de se me deparou na leitura, desde o primeiro artigo.”34
fórmula em que os parlamentos
Direito, entendido como um arcabouço Arinos atingia, de forma contundente, a vaidade
conservariam “o controle político
jurídico previamente legitimado a partir de Medeiros ao compará-lo negativamente ante a
da elaboração legislativa, mas
do poder constituinte intrínseco a toda figura de seu padrinho de lides autoritárias Francisco
deixam, aos órgãos técnicos do
revolução.33 Campos. Criticava e o desmerecia naquilo em que
Executivo, o preparo de projetos
Em relação à proposta de Medei- ele era mais cioso: a técnica jurídica.35 Uma crítica
de relevância, especialmente no
ros, Afonso Arinos dizia que, além do dentro do campo jurídico e não ideológica, mas que
campo da segurança nacional,
aspecto material do projeto – seu marcava as cisões entre os juristas apoiadores do
da economia e das finanças”.29
autoritarismo essencial –, ele tam- regime. Contudo, no aniversário de dez anos da
Destacava, assim, a ampliação
bém era reprovável formalmente: Constituição de 1967, período marcado por intenso
do Executivo30 para estabelecer
“Mas o projeto era muito ruim como debate sobre alternativas institucionais para supri-
um diploma constitucional que
documento, como linguagem, como mir o AI-5, entre elas o retorno do texto de 1967,
refletisse nossas tradições, tema
Arinos reconhecia algumas virtudes no trabalho de
caro à concepção orgânica de
Medeiros. Apontava que o rápido naufrágio da Carta
constituição desenvolvida pelos
de 1967, substituído pela Emenda nº 1 de 1969, se
ideólogos do autoritarismo.31 De
devia pela completa falta de apoio do regime: “porque
acordo com seu entendimento,
nela estava configurada o empenho de seu primeiro
estaria dotando o país com cons-
presidente, o marechal Castelo Branco, em limitar o
tituição democrática, definindo
período de excepcionalidade e arbítrio”, declarando,
que “O regime democrático é o
distanciado da paixão da época, elogio indireto a
Medeiros: “a Constituição era dura, mas era lei. E
andavam todos a pedir o arbítrio”.36

106 vermífugo
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

da paz.38 No texto seguinte, “O Ato


Institucional e a elaboração legisla-
tiva”, de 30 de abril de 1964, a frase
que abre o texto é a definição do
A permanência da exceção como crítica ao regime
Ato como algo transitório: “O Ato
Passados tantos anos de ditadura e da infinidade de
Institucional, de 9 de abril de 1964,
instrumentos jurídicos que foram construídos para lhe Para Medeiros, as medi-
é uma lei constitucional temporá-
oferecer legitimidade, a questão da transitoriedade da das que suspendiam direitos
ria, cuja vigência, iniciada na sua
legislação de emergência parece ser um detalhe menor, e garantias constitucionais
data, terminará em 31 de janeiro
sendo continuamente desconsiderado. No entanto, se faziam necessárias para
de 1966”.39 No texto que encerra a
não só para Carlos Medeiros como para importantes o governo restabelecer uma
série, “Seis meses de aplicação do
juristas que, ao longo de suas vidas apoiaram os golpes determinada concepção de
ato institucional”, de 21 de outubro
de Estado no país, a questão da limitação no tempo de ordem. Todavia, não pode-
de 64, mesmo contendo restrições
medidas de exceção era o que estabelecia a distinção riam se prolongar no tempo,
à falta de legislação de apoio ao Ato,
entre um governo autoritário de uma ditadura. sob pena de se instituir um
Medeiros ainda destaca a proviso-
Essa a argumentação pode ser identificada na governo regido, não por leis,
riedade das medidas:
sequência dos já referidos textos de Carlos Medeiros mas pelo arbítrio de seus
justificadores do Ato Institucional, de 9 de abril de governantes. Nesse sentido,
[...] o Ato definiu claramente o
1964. O discurso era de que se estava preservando a a declaração de Medeiros
seu objetivo, fixando prazos e
normalidade institucional, sem romper com a própria de que era admirador dos
estabelecendo limitações, a fim de
normatividade, e de que apenas se agia com algumas Estados autoritários, mas não
livrar as instituições e seus órgãos
medidas mais duras, mas limitadas no tempo. No ditatoriais.41 Uma diferencia-
daqueles que não souberam ou não
texto que abre a série, Medeiros elogia a definição ção de pouco efeito prático,
quiseram cumprir os compromis-
do prazo contido no documento: “Foi cauteloso, neste porém que, certamente, ser-
sos assumidos perante a nação.
particular, o Ato, ao limitar, no tempo máximo de seis via como uma justificativa ou
Este aspecto do Ato, que alguns
meses, a suspensão de certas garantias constitucio- exculpação para aqueles que
denunciaram como incompatível e
nais e legais”.37 De acordo com o jurista, as medidas aderiam ao golpismo. Sua
contraditório com a revolução, foi a
restritivas das liberdades individuais e os expurgos que declaração destacava uma
sua mais feliz inspiração.40
promovia eram medidas normais e necessárias, tanto diferença construída, desde
para a preservação da ordem, do funcionamento dos a década de 1930, de que os
demais poderes e pela necessidade da consolidação regimes autoritários estariam

JULHO • AGOSTo • SETEMBRo 2018 107


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

ares liberalizantes durante o processo


constituinte de 1934, contudo, em
1937, se não apoia diretamente o
baseados na legalidade enquanto as ditaduras
Estado Novo, não entra em confronto
fundamentar-se-iam apenas na vontade do líder.42
direto. Durante os anos finais da di-
Desse modo, nos regimes autoritários, a autoridade a política nacional. O golpe de Es-
tadura varguista, retomam os valores
representada pelo chefe do Executivo não se coloca tado, tal como defendia Medeiros,
democráticos com fortes críticas ao
acima das leis, ao contrário, se apresenta como seria uma “obra de restauração”
regime. Para aqueles que se man-
defensora da ordem e da legalidade. Definindo-se para evitar a destruição do que
tiveram vivos e atuantes, chega à
como adepto do autoritarismo, tal como definido seria tradicional no campo político,
adesão à UDN e à chancela ao golpe
no contexto de sua formação, Medeiros elucidava social e econômico.47
de 1964.45 Poucos encarnaram tão
a tênue distinção desse regime com a ditadura em No caso de 1964, passado
bem esse trajeto quanto Francisco
entrevista do ano de 1978: o primeiro momento de apoio
Campos, porém outros poderiam ser
citados como Vicente Rao, Bilac Pinto quase incondicional à instalação
Não sou liberal. Sou pelo Estado forte, ou, segundo a do novo regime por parte de
e Pedro Aleixo.
terminologia moderna, autoritário, mas não ditatorial. alguns dos principais juristas do
Em comum em seus discursos, a
O que chamamos de Estado forte é aquele cuja Cons- período, estes se deram conta
ideia de que se faz necessário o ma-
tituição faculta ao chefe do governo providências para de que não era possível conviver,
nejo de determinados instrumentos
conjurar crises e vencer dificuldades. Na ditadura, o até por uma questão de sobre-
jurídicos para “reestabelecer” uma
ditador não tem regras e age de acordo com a sua vivência profissional, com um
ordem que parece estar ameaçada
vontade. É o poder pessoal (...). O Estado autoritário governo que limitava e cerceava
naquele momento por determinados
deve autorizar medidas, mas medidas precisas. Não sobremaneira o manejo de instru-
inimigos – de forma geral os repre-
pode deixar brechas, senão alarga a exceção.43 mentos jurídicos com os quais se
sentantes do espectro mais à es-
querda da política ou que, de alguma fundamentavam o seu exercício
A exigência de limitação temporal também explica profissional. Estabeleceu-se o que
forma, defendam propostas de cunho
o percurso errático e pendular de tantos de nossos o jornalista Carlos Chagas deno-
popular. Se jogam às favas todos os
juristas, sejam liberais ou conservadores, quanto ao minou como “um choque entre o
escrúpulos da consciência,46 seja
respeito ao resultado das eleições. De forma geral, e espírito da revolução e o espírito
esta liberal ou não, em nome de uma
com raras exceções,44 a geração de Carlos Medeiros jurídico-político”.48 Esse choque
correção da rota institucional para
foi liberal durante a década de 1920, mas aprovou a
evitar a intromissão de elementos
derrubada de Washington Luís em 1930; renova seus
estranhos a uma determinada con-
cepção de como deveria ser guiada

108 vermífugo
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

só aumentou nos anos subsequentes e acabou por gerar uma da ditadura que não contava com sua contribuição.49 Para ele,
cisão entre os chamados liberais e os conservadores. o AI-5 teria acabado “com uma situação constitucional para
Mais do que ninguém, Medeiros era identificado como levar-nos a uma ditadura”, repetindo a advertência que “uma
pertencente à segunda vertente (conservadores e antiliberais). situação excepcional sem prazo” seria um absurdo.50
Contudo, mesmo uma figura como a dele, envolvida de forma A sua primeira manifestação se deu na forma de uma
tão orgânica com a fundação do regime, ao longo dos anos, foi conferência pronunciada em agosto de 1973 na Escola Superior
se afastando e criticando o caminho adotado pelos militares de de Guerra com o tema O poder judiciário na conjuntura política
cercear os instrumentos jurídicos de atuação advocatícia e de nacional.51 Em razão de seu conteúdo e da importância de seu
intensificar os instrumentos legislativos autoritários, mesmo emissor, o pronunciamento mereceu destaque na imprensa da
que ele tivesse, pessoalmente, contribuído para a confecção época com a publicação de vários trechos.52 Era a primeira mani-
dessas normas. festação pública de Medeiros desde o adoecimento do presidente
Afastado desde 1969 do papel – seja oficial ou não oficial – Costa e Silva, quando três ministros militares tomaram o poder,
de consultor jurídico da do regime, a partir de 1973, iniciam-se impedindo que um civil, o vice-presidente Pedro Aleixo, assumis-
suas investidas para oferecer saídas institucionais que resguar- se a Presidência do país. O instrumento jurídico justificador da
dassem o governo militar, mas que estabelecessem limites ação foi o AI-12, outro ato institucional da lavra de Medeiros.53
ao que denominava arbítrio. Suas críticas endereçavam-se, Em 1973, o jurista concentrava suas críticas contra a
especialmente, ao AI-5, um dos raros instrumentos jurídicos Emenda Constitucional nº 1, de 1969, e, em particular, às res-

O golpe de
Estado, tal
como defendia
Medeiros, seria
uma “obra de
restauração”
para evitar a
destruição do que
seria tradicional
no campo
político, social e
econômico
JULHO • AGOSTo • SETEMBRo 2018 109
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

trições que o AI-5 impunha às competências


do STF na concessão do habeas corpus.
Falando para uma audiência formada ma- como Conselho de Emergência – que teria
joritariamente por militares, para Medeiros a competência de autorizar o Poder Exe-
não haveria razão de ordem doutrinária cutivo a aplicar determinadas medidas de
para se restringir demasiado o âmbito do e lamentavam que o novo sistema salvação nacional, configuradas no corpo
habeas-corpus, quando em jogo a ameaça, legal não oferecesse suporte para de um Estado de Emergência dentro de
violência ou coação, no que toca a liberdade medidas discricionárias. Para o certos limites e por um período deter-
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de jurista, o AI-5 não precisaria ter minado.57 Outras manifestações nesse
poder, destacando ainda que, fora do estado sido editado caso se utilizassem os sentido poderiam ser encontradas, como
de sítio, o remédio judicial deveria subsistir, mecanismos constitucionais pre- sua crítica ao excesso de centralização
sem atenção à natureza do delito.54 vistos na Constituição, ressaltando, por parte do Executivo em prejuízo da
Ao longo dos anos seguintes, até en- mais uma vez, que o mais grave autonomia dos estados,58 e sua atuação
contrar seu ápice no ano de 1977, as inter- problema do referido Ato era não conjunta com o jurista símbolo do libera-
venções públicas de Medeiros na forma de ter sido limitado temporalmente, lismo político, Raymundo Faoro, contra
críticas a alguns instrumentos da ditadura se como acontecera com o AI-1 e AI-2. os decretos do governo que submetiam
mantiveram constantes. Por certo, não se Medeiros defendia a formação de a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
colocava como um opositor, mas sim como um sistema novo que reduzisse o à supervisão do Ministério do Trabalho.59
alguém que visava a corrigir os excessos arbítrio.56 Como sugestão, propunha Todo esse percurso demonstra as
autoritários do regime. Medeiros passa a a criação de um Conselho de Defesa relações complexas, por vezes ambíguas,
enaltecer as soluções apresentadas naquela do Estado – denominado, por vezes, dos juristas mais ligados aos regimes au-
que parecia ser sua obra mais importante, toritários. De início, a adesão incontinenti,
a Constituição de 1967. Em entrevista para passando pela contribuição prática na
a imprensa em 1977, concordava que a construção do arcabouço jurídico legi-
simples restauração do texto constitucional timador do novo governo, seguindo-se
bastaria para implantar o Estado de Direi- por um processo de afastamento gradual
to.55 O fracasso da Carta de 1967, afirmava, motivado por uma série de fatores que
se devia à disputa entre os liberais – que ainda necessitam serem elucidados.
acusavam a Constituição de ser autoritária No caso específico de Carlos Medeiros,
e queriam a volta das premissas de 1946
– e os radicais – que entendiam que a
reconstitucionalização tinha sido prematura

110 vermífugo
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

diferentemente de outros próceres de decisório e na crença de que, para a garante no poder por meio das armas.
nosso pensamento jurídico autoritário, defesa dessa ideia, mecanismos de Tratava-se de uma defesa da autorida-
como Vicente Rao e Francisco Campos, exceção podem e devem ser utilizados. de, a qual poderia alçar à forma de um
não se pode negar sua coerência antili- Sua crítica, contudo, não era quanto à regime autoritário, mas que renegava
beral ao longo de toda a sua carreira. O natureza dessas medidas, mas quanto sua degeneração em ditadura. Diferen-
jurista não oscilou entre adesões e trai- ao seu tempo de atuação, o qual poderia ças sutis, que certamente faziam mais
ções ao credo liberal. Seu compromisso perverter a organização institucional do sentido para juristas, mas não evitaram
era com uma concepção de Estado de Estado para transformá-lo apenas em que em nome do Estado se procedesse
Direito representativa do conservado- instrumento da vontade daquele que se a várias violências.
rismo de nossas elites, fundamentada,
precipuamente, na ideia de ordem, O autor é doutor em Direito pela Universidade
de afastamento popular do processo de Brasília (UnB).
rogeriomadeira@ig.com

BIBLIOGRAFIA

Jornais e revistas consultados LEAL, Vitor Nunes. Ministro. Carlos Medeiros Silva. Des- MEDEIROS SILVA, Carlos. Pareceres. Atos Institucionais
Veja – edições de 1977 a 1983 pedida do Supremo Tribunal e visita ao Tribunal Superior e Atos Complementares – Delegação Legislativa – Re-
Jornal do Brasil – edições de 1974 a 1978 Eleitoral. Revista de Direito Administrativo, vol. 85, 1966, presentação de Inconstitucionalidade – Imposto sobre
O Globo – edições de 1973 a 1977 pp.410-418. Circulação de Mercadorias. Revista de Direito Adminis-
Folha de São Paulo – edições de 1977 a 1983. trativo, vol. 95, 1969, pp. 282-289.
MEDEIROS SILVA, Carlos. Técnica Legislativa. Revista
Forense, vol. 165, n. 635-636, mai./jun., 1956, p. 397-399. MEDEIROS SILVA, Carlos. O Poder Judiciário na conjuntura
BARBOSA, Leonardo. Mudança constitucional, autoritaris- política nacional. Revista de Direito Administrativo, vol.
mo e democracia no Brasil pós-1964. Tese (Doutorado em MEDEIROS SILVA, Carlos. Observações sobre o ato ins- 114, 1973, p. 1-32.
Direito) – Universidade de Brasília (UnB), Brasília, 2009. titucional. Revista de Direito Administrativo, vol. 76, abr./
jun., 1964a, p. 473-475. PEREIRA, Anthony W. Ditadura e repressão: o autoritarismo
BRASIL. Diário do Congresso Nacional (Seção II), terça- e estado de direito no Brasil, no Chile e na Argentina;
-feira, 9 de novembro de 1965, p. 3903. MEDEIROS SILVA, Carlos. O Ato institucional e a elabora- trad. Patrícia de Queiroz Carvalho Zimbres. São Paulo:
ção legislativa. Revista de Direito Administrativo, vol. 77, Paz e Terra, 2010.
CAMPOS, Francisco. O Estado Nacional: sua estrutura, seu jul./set., 1964b, p. 1-12.
conteúdo ideológico. Brasília: Senado Federal, Conselho PORTO, Walter Costa. 1937 (Coleção Constituições Bra-
Editorial, 2001. MEDEIROS SILVA, Carlos. Seis meses de aplicação do ato sileiras, vol. 4). Brasília: Senado Federal – Subsecretaria
institucional. Revista de Direito Administrativo, vol. 78, out./ de Edições Técnicas, 2012.
CHAGAS, Carlos. 113 dias de angústia – o impedimento dez., 1964c, p. 449-452.
e morte de um presidente. Rio de Janeiro: Image, 1970. RECONDO, Felipe. Tanques e togas – O STF e a ditadura
MEDEIROS SILVA, Carlos. Notas e Comentários. Ministro militar (Coleção Arquivos da Repressão no Brasil). São
CHAGAS, Carlos. Bastidores de um drama acontecido há Carlos Medeiros Silva – nomeação para o Supremo Paulo: Companhia das Letras, 2018.
30 anos. João Pessoa: A União Editora, 1999. Tribunal Federal. Revista de Direito Administrativo, vol. 83,
jan/mar., 1966a, p. 428-430. SILVEIRA, Mariana de Moraes. Revistas em tempos de
CHAGAS, Carlos. A ditadura militar e os golpes dentro do reformas: pensamento jurídico, legislação e política nas
golpe (1964-1969). Rio de Janeiro: Record, 2014. MEDEIROS SILVA. Carlos. Ministro Carlos Medeiros Silva. páginas dos periódicos de direito (1936-1943). Disser-
Posse no Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Re- tação (Mestrado em História) – Universidade Federal de
CPDOC-FGV. Verbete MEDEIROS, Carlos. Disponível em vista de Direito Administrativo, vol. 85, 1966b, p. 410-418. Minas Gerais (UFMG). Faculdade de Filosofia e Ciências
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete- Humanas, Belo Horizonte, 2013.
-biografico/carlos-medeiros-silva; MEDEIROS SILVA. Carlos. Ministro Carlos Medeiros Silva.
Despedida do Supremo Tribunal Federal e visita ao Tribunal VIANNA, O. O idealismo da Constituição. 2ª ed. São Paulo:
GOMES, Fábio de Barros Correia. Interações entre o Superior Eleitoral. Revista de Direito Administrativo, vol. 85, Companhia Editora Nacional, 1939.
Legislativo e o Executivo federal do Brasil na definição de 1966c, p. 410-418.
políticas de interesse amplo: uma abordagem sistêmica, VIANNA, Oliveira. As garantias da magistratura nos
com aplicação na saúde. Tese (doutorado). Universidade MEDEIROS SILVA, Carlos. A elaboração constitucional – regimes autoritários (O artigo 177 da Constituição
do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos Sociais exposição de motivos do projeto de constituição. Revista Federal de 1937). In Ensaios inéditos. Campinas: Editora
e Políticos, 2011. de Direito Administrativo, vol. 86, out./dez., 1966d, p. 1-15. da UNICAMP, 1991.

JULHO • AGOSTo • SETEMBRo 2018 111


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

notas de rodapé

1. Veja, 9 de março de 1983, p. 29. A denominação 16. MEDEIROS SILVA, 1964b, p. 3. 38. Ibid, p. 475.
aparece com algumas variações nos textos que fazem
referência à Medeiros, como, por exemplo, “laboratório 17.MEDEIROS SILVA, 1964c, p. 450, grifos nossos. 39. MEDEIROS SILVA, 1964b, p. 1
de atos institucionais” (Veja, 12.10.77).
18. Nesse sentido cf. PEREIRA, 2010, p. 45. 40. MEDEIROS SILVA, 1964c, p. 450.
2. Nesse sentido, o livro de Francisco Campos (2001), O
19. GOMES, 2011, p. 113. 41. Veja, 09 de março, 1983, p. 29.
Estado Nacional: sua estrutura, seu conteúdo ideológico,
de 1940. 20. Ibid, p. 114. 42. Nesse sentido VIANNA, 1991, p. 178.
3. Cf. declaração ao Jornal do Brasil, de 28.08.1977, 1º 21. CPDOC-FGV. Verbete Carlos Medeiros Silva. 43. Folha de São Paulo, 4.03.1983, Primeiro Caderno, p. 6.
caderno, p. 12.
22. MEDEIROS SILVA, 1969, p. 286, grifos do autor. 44. Entre estas exceções, o próprio Carlos Medeiros e
4. CPDOC-FVG. Verbete Carlos Medeiros Silva; RECONDO, Miguel Reale. Este, por exemplo, era um antiliberal con-
2018, P. 115-116. 23. BARBOSA, 2009, p. 84; Folha de São Paulo, 15.05.77, victo em sua juventude, atuando fortemente como um dos
p. 2, primeiro caderno. mais importantes ideólogos do movimento integralista.
5. Em entrevista para o Jornal do Brasil, (10/11/1977, p.
12), Medeiros afirmou: “eu bati à máquina bem antes, o 24. A comissão era formada por Levi Carneiro, Orosimbo 45. SILVEIRA, 2013, p. 206.
documento secreto que seria a Carta de 37. As folhas Nonato, Miguel Seabra Fagundes e presidida por Temís-
manuscritas me eram passadas por Francisco Campos, tocles Cavalcanti. 46. Refiro-me aqui à frase de Jarbas Passarinho, então
então secretário de Educação do Distrito Federal”, con- ministro do Trabalho e da Previdência Social, durante
cluindo o seu papel como simples redator: “Fui apenas 25. Veja, 12.10.1977, p. 25. reunião em que se decidia a edição do AI-5 em 1968.
o datilógrafo”.
26. Capítulo que foi posteriormente modificado no texto 47. MEDEIROS SILVA, 1964c, p. 449-450. Essa foi a
6. MEDEIROS SILVA, 1966c, p. 411. final da Constituição por pressão de Afonso Arinos, Daniel mesma justificação apresentada por Francisco Campos
Krieger e Pedro Aleixo. Para uma análise mais detalhada em sua revisão crítica da Constituição de 1937 e do Estado
7. BRASIL, 1965, p. 3903; MEDEIROS SILVA, 1966a, do processo constituinte de 1967 cf. BARBOSA, 2009, Novo (PORTO, 2012, p. 32-33).
p.428-430. Consta sua participação como membro das pp. 91-100.
comissões elaboradoras das seguintes legislações: lei de 48. CHAGAS, 2014, p. 77.
executivos fiscais (1938); lei de desapropriações (1941); 27.MEDEIROS SILVA, 1966d, p.3-4.
código rural (1941-1942); comissão de defesa territorial 49. Cf. O Globo, 11.12.77, Matutina, O país, p. 6; Jornal
antiaérea (1939-1942); comissão do fundo de indenização 28. Nos debates sobre os 40 anos da implantação do do Brasil, 13.12.1977, 1º caderno, p. 3.
(1942); lei do inquilinato (1946); comissão de reparação Estado Novo, Medeiros observava muitas similaridades
de guerra (1946); revisão do código de minas (1947); lei entre os dos regimes, afirmando que era um exagero 50. Jornal do Brasil, 10.12.1977, 1ª pagina e página 7
orgânica do Ministério Público Federal (1950); membro da chamar de fascista a Constituição de 1937: “Nela havia do 1º Caderno.
comissão nacional de política agrária (1951-52); comissão muita coisa inédita boa, que não foi colocada em prática”
(Jornal do Brasil, 10.11.77, Governo e Política, p. 12). 51. MEDEIROS SILVA, 1973.
elaboradora dos atos constitutivos da Petrobrás (1953); re-
gulamentos gerais da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros 29. MEDEIROS SILVA, 1966d, p. 5. 52. Cf. O Globo, de 09.08.73, Matutina, Geral, p. 8 e Veja,
do Distrito Federal (1956). Participou da Comissão Nereu 15.08, 1973, p. 21.
Ramos de reforma constitucional (1956), da comissão que 30. Ibid, p. 5.
elaborou os anteprojetos de organização administrativa e 53. Jornal do Brasil, 7.4.78, 1º Caderno, Nacional, p. 9 e
judiciária de Brasília (1959) e das comissões de reforma 31. Nesse sentido a proposta de Oliveira Vianna em O CHAGAS, 1970; 1999 e 2014.
administrativas de 1956, 1960, 1963 e 1964. idealismo da Constituição, 1939.
54. MEDEIROS SILVA, 1973, p. 6.
8. MEDEIROS SILVA, 1966c, p. 412. 32. MEDEIROS SILVA, 1966d, p. 4.
55. Veja, 12 de outubro de 1977, p. 25-26.
9. CHAGAS, 2014, p. 112. 33. MEDEIROS SILVA, 1969, p. 282-289.
56. Veja, 12 de outubro de 1977, p. 26; O Globo,
10. Ibid, p. 71. 34. Folha de São Paulo, 23.01.77, Primeiro Caderno, p. 5. 11.12.1977, matutina; O país, p. 6.

11. MEDEIROS SILVA, 1966c, p. 415. 35. Para um panorama da importância que Medeiros 57. Jornal do Brasil, 12.08.74. p. 12, Caderno Política e
dava ao tema, conferir seu texto denominado “Técnica Governo, 1º caderno.
12. CAMPOS, 2001, p. 13. Legislativa” in Revista Forense, vol. 165, n. 635-636, mai./
jun., 1956, p. 397-399. 58. O Globo, 07.06.1974, matutina, Rio, p. 9.
13. Ibid, p. 29.
36. Jornal do Brasil, 30.01.77. Caderno Especial: 1967- A 59. Jornal do Brasil, 17.02.78, 1º caderno, p. 8.
14. MEDEIROS SILVA, 1966c, p. 414. constituição que nasceu morta.
15. MEDEIROS SILVA, 1964a, p. 474. 37. MEDEIROS SILVA, 1966a, p. 475

112 vermífugo

Você também pode gostar