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Em O príncipe, sua obra mais notável, o florentino se debruçou sobre o Estado. Para
ser mais exato, ele se dedicou a compreender como o estado poderia se manter estável. Para
isso, ele estabelece como método a verdade efetiva das coisas, ou seja, ele se atém ao que é,
ao invés do que deve ser. Maquiavél promove um rompimento com o idealismo platônico e
aristotélico, buscando ater-se à realidade concreta. Com isso, ele se posiciona como o
pioneiro na compreensão do Estado, como resultante do conjunto de forças sociais contra a
barbárie e o caos (2000).
Pensar o Estado, para Maquiavél, não era refletir sobre o que ele poderia ser para
todos, mas sim o que poderia ser feito para que ele se mantivesse. Para tanto, ele reconhece
que parte do âmbito da atividade humana é regido pela sorte. A outra parte caberia aos
homens assumir suas responsabilidades. Segundo Maquiavél, um governante haveria de
conciliar duas características: a virtú e a fortuna. A virtú é a capacidade do governante de
solucionar conflitos e superar limitações, enquanto a fortuna seria todo o universo de fatores
que escapam ao controle dos líderes.
Fortuna era uma deusa que era compreendida com responsável pela boa ou má sorte
dos homens. Era à esta deusa que se atribuía todos os infortúnios que acometiam um governo,
de modo que o homem ficava restrito a desfrutar dos ventos favoráveis, buscando agradá-la
para provar ter virtú. Tanto para os filósofos da Antiguidade quanto para os do Cristianismo,
a deusa Fortuna representava um poder “incontornável”. A diferença é que o Cristianismo
não a considerava uma boa deusa, descartando que os homens a cortejassem, por ser uma
força “impiedosa”. (2000)
Maquiavél retoma a ideia de que todo poder é constituído por meio da força, mas a
força não seria mais uma mera característica que o príncipe haveria de ter para obter a
fortuna. Para Maquiavél, o governante precisaria conciliar força e sabedoria para conquistar o
poder e mantê-lo (2000). Neste caso, a virtú deixaria de representar a virilidade do homem ou
a vontade divina para traduzir as qualidades de um bom governante. Qualidade essas que
encampam virtudes e vícios, pois a virtú política não se aplica a nenhuma interpretação
moral.
Ser um bom governante, para Maquivél, significa ser hábil com as adversidades,
visando se manter no poder. Para isso, ele defende que a política possui ética e lógica
próprias, ou seja, ser um bom político não quer dizer que tenha de prestar contas a alguma
crença específica. Para Maquiavél, um líder precisar considerar o que os governados
precisam e não o que é “certo”, pois são as relações de poder que indicariam como melhor
proceder.
WEFFORT, Francisco C. “Os clássicos da política”, Editora Ática, São Paulo, 2000.