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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Instituto de Ciências Sociais


Licenciatura em Ciências Sociais
Disciplina: Práticas pedagógicas em Ciências Sociais III
Professor: Afrânio Oliveira Silva
Aluno: Anderson Ribeiro da Silva

Material didático sobre Nicoláu Maquiavél

“O controle da força impiedosa”

Você já ouviu alguém ser chamado de “maquiavélico”? É de amplo entendimento que


este adjetivo remeta àquele que é “mal”, “nefasto” e “ardiloso”. No entanto, representa
apenas a distorção, assimilada por detratores e pelo senso comum, de que Nicolau Maquiavel
era um defensor da tirania. Como veremos a seguir, o fiorentino pensava a figura do
“príncipe” de forma estratégica, visando a construção de um estado forte, controlado e inerte
a crises.

Nicolau Maquiavél (1469 – 1527) é um dos primeiros teóricos da teoria política


moderna. Sua produção intelectual foi largamente influenciada pela vida política conturbada
da Itália de seu tempo. A Itália dos séculos XV e XVI era composta de diversas formas de
condados e cidades-estados, que estavam em frequente enfrentamento entre si, e isso
atravessou sensivelmente Maquiavél, posto que chega a ser exilado, após enfrentar prisão e
tortura.

Em O príncipe, sua obra mais notável, o florentino se debruçou sobre o Estado. Para
ser mais exato, ele se dedicou a compreender como o estado poderia se manter estável. Para
isso, ele estabelece como método a verdade efetiva das coisas, ou seja, ele se atém ao que é,
ao invés do que deve ser. Maquiavél promove um rompimento com o idealismo platônico e
aristotélico, buscando ater-se à realidade concreta. Com isso, ele se posiciona como o
pioneiro na compreensão do Estado, como resultante do conjunto de forças sociais contra a
barbárie e o caos (2000).
Pensar o Estado, para Maquiavél, não era refletir sobre o que ele poderia ser para
todos, mas sim o que poderia ser feito para que ele se mantivesse. Para tanto, ele reconhece
que parte do âmbito da atividade humana é regido pela sorte. A outra parte caberia aos
homens assumir suas responsabilidades. Segundo Maquiavél, um governante haveria de
conciliar duas características: a virtú e a fortuna. A virtú é a capacidade do governante de
solucionar conflitos e superar limitações, enquanto a fortuna seria todo o universo de fatores
que escapam ao controle dos líderes.

Fortuna era uma deusa que era compreendida com responsável pela boa ou má sorte
dos homens. Era à esta deusa que se atribuía todos os infortúnios que acometiam um governo,
de modo que o homem ficava restrito a desfrutar dos ventos favoráveis, buscando agradá-la
para provar ter virtú. Tanto para os filósofos da Antiguidade quanto para os do Cristianismo,
a deusa Fortuna representava um poder “incontornável”. A diferença é que o Cristianismo
não a considerava uma boa deusa, descartando que os homens a cortejassem, por ser uma
força “impiedosa”. (2000)

Maquiavél retoma a ideia de que todo poder é constituído por meio da força, mas a
força não seria mais uma mera característica que o príncipe haveria de ter para obter a
fortuna. Para Maquiavél, o governante precisaria conciliar força e sabedoria para conquistar o
poder e mantê-lo (2000). Neste caso, a virtú deixaria de representar a virilidade do homem ou
a vontade divina para traduzir as qualidades de um bom governante. Qualidade essas que
encampam virtudes e vícios, pois a virtú política não se aplica a nenhuma interpretação
moral.

Ser um bom governante, para Maquivél, significa ser hábil com as adversidades,
visando se manter no poder. Para isso, ele defende que a política possui ética e lógica
próprias, ou seja, ser um bom político não quer dizer que tenha de prestar contas a alguma
crença específica. Para Maquiavél, um líder precisar considerar o que os governados
precisam e não o que é “certo”, pois são as relações de poder que indicariam como melhor
proceder.

MACHIAVELLI, Niccolò. “O Príncipe”, Ebooks Brasil, disponível em:


http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/principe.pdf

WEFFORT, Francisco C. “Os clássicos da política”, Editora Ática, São Paulo, 2000.

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