SUL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS
IJUÍ-RS
2016
MARIA ARLITA DA SILVEIRA SOARES
IJUÍ-RS
2016
MARIA ARLITA DA SILVEIRA SOARES
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________
Profª. Dra. Cátia Maria Nehring (orientadora) - UNIJUÍ/Ijuí - RS
___________________________________________________________
Profª. Dra. Ângela Maria Hartmann - Unipampa/Campus Caçapava do Sul - RS
___________________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Jaime González - UNIJUÍ/Ijuí - RS
___________________________________________________________
Profª. Dra. Leandra Anversa Fioreze - UFRGS/Porto Alegre - RS
___________________________________________________________
Profª. Dra. Maria Cristina Pansera de Araújo - UNIJUÍ/Ijuí - RS
___________________________________________________________
Profª. Dra. Rita de Cássia Pistóia Mariani - UFSM/Santa Maria - RS
Ser forte é ter,
Coragem pra continuar
Ter força é ter,
Força pra se superar
[...]
O nosso tempo é tudo que temos
Nossas escolhas vão dizer pra onde iremos
Nossa vontade é o que faremos
[...]
CHARLIE BROWN
AGRADECIMENTOS
À professora Cátia Maria Nehring que confiou no meu trabalho, pela ajuda, disponibilidade e
dedicação ao orientar-me em todas as etapas, contribuindo para que os desafios fossem
superados.
À professora Rita de Cássia Pistóia Mariani pela amizade, conselhos, incentivos, pelas várias
discussões que tanto auxiliaram na elaboração deste estudo.
Aos professores, membros da banca, Ângela Maria Hartmann, Fernando Jaime González,
Leandra Anversa Fioreze e Maria Cristina P. de Araújo pelas contribuições pertinentes na
análise do trabalho.
Às professoras participantes desta pesquisa por terem acolhido a minha proposta de pesquisa e
disponibilidade em fornecer os materiais.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da Unijuí pelo que
representaram na minha formação.
Aos meus pais, Dejalmiro e Vera, por todo o apoio. À minha irmã, Juliana, que sempre me
incentivou a dar continuidade a minha formação.
Ao Leugim, meu amor, companheiro de todas as horas, por todo o auxílio nesta etapa da minha
formação acadêmica, sem palavras para agradecer a tua ajuda.
A presente pesquisa teve por objetivos identificar e analisar o tratamento dado ao conceito de
proporcionalidade e a presença das estruturas multiplicativas centrais do raciocínio
proporcional e da proporcionalidade no currículo planejado e em ação da Educação Básica,
considerando as escolhas de um grupo de professores. Bem como, verificar quais
transformações cognitivas são consideradas nas situações apresentadas nos materiais
curriculares e averiguar se a proporcionalidade é tratada como função. Para tanto, o referencial
teórico foi construído sustentado nas teorias que tratam da aprendizagem matemática sob a ótica
da psicologia cognitiva, neste caso, a teoria dos Registros de Representação Semiótica e a teoria
dos Campos Conceituais; e nas teorias que versam sobre o desenvolvimento do raciocínio
proporcional e conceito de proporcionalidade, principalmente, as categorias do campo das
estruturas multiplicativas e os “nós” da rede elaborada por Lamon. A fim de atingir o objetivo,
elaborou-se a seguinte questão norteadora: De que forma as estruturas multiplicativas centrais
do raciocínio proporcional e o conceito de proporcionalidade vem sendo abordados em
materiais que expressam o currículo planejado e o em ação, considerando as escolhas de um
grupo de professores? O desenvolvimento seguiu o Modelo de Romberg-Onuchic, por meio de
uma abordagem qualitativa e a produção de dados foi realizada, essencialmente, por análise de
documentos. Estes documentos representam as diferentes fases do currículo, a saber: currículo
planejado (coleções de livros didáticos de Matemática da Educação Básica) e currículo em
ação (planejamentos de professores). O procedimento adotado para a análise dos documentos
seguiu os princípios da Análise de Conteúdo. A análise das fontes de produção de dados
permitiu concluir que, a maioria das estruturas multiplicativas centrais do raciocínio
proporcional foram constatadas nos materiais curriculares analisados, no entanto, estes aspectos
são pouco explicitados, em outros termos, são abordados com foco no ensino de um conteúdo
específico sem estabelecer conexões com outros, o que limita o entendimento da
proporcionalidade como conceito unificador e formador da Matemática. Percebe-se, também,
que há um isolamento da proporcionalidade em relação a Álgebra, pois as relações verificadas
envolvem, principalmente, conceitos aritméticos e geométricos. Quanto as transformações
cognitivas, verificou-se que a conversão foi a mais enfatizada nas atividades analisadas.
Contudo, os sentidos das conversões na maioria das vezes foram explorados em um único
sentido, restringindo a compreensão dos objetos matemáticos. Além disso, a representação
auxiliar de transição, essencial à compreensão de enunciados de problemas multiplicativos, foi
proposta em poucas atividades tanto nas coleções de livros didáticos quanto nos planejamentos
dos professores. A proporcionalidade é tratada como função apenas nos materiais curriculares
do Ensino Médio, confirmando que a igualdade de proporção, ainda, é o modelo mais utilizado
nos materiais curriculares para abordar este conceito.
This research aimed to identify and analyze the treatment of the concept of proportionality and
the presence of central multiplicative structures of proportional reasoning and proportionality
in the planned and action curriculum of Basic Education, considering the choices of a group of
teachers. As well as determine which cognitive changes are considered in the situations
presented in the curriculum materials and determine whether proportionality is treated as a
function. Therefore, the theoretical framework was built sustained theories that deal with
mathematics learning from the perspective of cognitive psychology, in this case, the theory of
Semiotics Representation Registers and the theory of Conceptual Fields; and theories that deal
with the development of proportional reasoning and concept of proportionality, mainly the
categories of field of multiplicative structures and the "nodes" of the network prepared by
Lamon. In order to achieve the goal, it elaborated the following question: How central
multiplicative structures of proportional reasoning and the concept of proportionality has been
covered in materials that express the planned curriculum and in action, considering the choices
of a group of teachers? The development followed the model Romberg-Onuchic through a
qualitative approach and the production of data was carried out mainly by analysis of
documents. They represent the different stages of the curriculum, namely: planned curriculum
(collections of textbooks of Mathematics from Basic Education) and curriculum in action
(teacher planning). The procedure adopted for the analysis of documents followed the principles
of Content Analysis. The analysis of production data sources concluded that most central
multiplicative structures of proportional reasoning were found in curriculum materials
analyzed, however, these aspects are less explicit, in other words, are addressed with a focus
on educational content specific without establishing connections with other, which limits
understanding of proportionality as a unifying concept and trainer of mathematics. Also to
realize that there is an isolation of proportionality in relation to algebra, as verified relations
mainly involve arithmetic and geometric concepts. The cognitive changes, it was found that the
conversion was more emphasized on activities analyzed. However, the meanings of conversions
most often were exploited in one direction, restricting the understanding of mathematical
objects. Moreover, the auxiliary transition representation, essential to the understanding of
statements of multiplicative problems, was proposed in a few activities both in the collections
of textbooks and in the planning of teachers. Proportionality is treated as a function only in the
curriculum materials of high school, confirming that equal proportion, still, is the most widely
used model in the curriculum materials to address this concept.
Gráfico 1: Distribuição dos blocos de conteúdos por volume da coleção dos Anos Iniciais 114
Gráfico 2: Distribuição dos blocos de conteúdos por volume da coleção dos Anos Finais . 118
Gráfico 3: Distribuição dos conteúdos por volume da coleção do Ensino Médio .............. 121
Gráfico 4: Distribuição dos blocos de conteúdos por ano dos cadernos dos Anos Iniciais . 126
Gráfico 5: Distribuição dos blocos de conteúdos por ano dos cadernos dos Anos Finais .. 129
Gráfico 6: Distribuição dos conteúdos por ano dos cadernos do Ensino Médio ................. 132
Gráfico 7: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto ao primeiro
grupo de categorias ............................................................................................................... 158
Gráfico 8: Distribuição relativa das categorias do primeiro grupo em cada volume da
coleção .................................................................................................................................. 160
Gráfico 9: Distribuição relativa dos dados dos cadernos quanto as categorias de análise do
primeiro grupo ...................................................................................................................... 161
Gráfico 10: Distribuição relativa das categorias do primeiro grupo em cada caderno ......... 162
Gráfico 11: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto as relações
quaternárias ........................................................................................................................... 164
Gráfico 12: Distribuição relativa dos dados dos cadernos quanto as relações quaternárias . 174
Gráfico 13: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto a
comparação multiplicativa ................................................................................................... 181
Gráfico 14: Distribuição relativa dos dados dos cadernos quanto a comparação
multiplicativa ........................................................................................................................ 184
Gráfico 15: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto as
funções .................................................................................................................................. 187
Gráfico 16: Distribuição relativa dos dados dos cadernos quanto as funções ...................... 190
Gráfico 17: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto os “nós” da
rede de Lamon ...................................................................................................................... 194
Gráfico 18: Distribuição relativa dos “nós” da rede de Lamon em cada volume das
coleções ................................................................................................................................ 199
Gráfico 19: Distribuição relativa dos dados dos cadernos quanto aos “nós” da rede de
Lamon ................................................................................................................................... 201
Gráfico 20: Distribuição relativa dos “nós” da rede de Lamon em cada caderno ................ 203
Gráfico 21: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto as
interpretações do número racional ........................................................................................ 204
Gráfico 22: Distribuição relativa dos dados dos cadernos quanto as interpretações do número
racional .................................................................................................................................. 204
LISTA DE QUADROS
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 16
1
As frações representam um dos subconjuntos dos números racionais.
2
Faço uso da primeira pessoa do singular, nesta introdução, por tratar-se de minhas aproximações com o tema de
pesquisa antes do doutorado.
3
SOARES, M. A. Os números racionais e os registros de representação semiótica: análise de planejamentos
das séries finais do ensino fundamental. Dissertação (Mestrado Educação nas Ciências) – Universidade Regional
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, 2007.
4
A professora escolhida para participar desta pesquisa (2005-2007), ensinava matemática a alunos da 4ª a 8ª série
de uma mesma escola da rede particular de ensino de Santiago/RS.
17
A análise dos dados permitiu concluir que a organização do planejamento, para ensinar
número racional, tinha um caráter linear, ou seja, buscava esgotar em uma única série (5ª série)
os conceitos relacionados a este número. Quanto à apresentação dos vários registros de
representação do número racional, observou-se que foram mobilizados todos os registros no
decorrer das séries finais do Ensino Fundamental, com ênfase ao registro numérico. Também
foi constatado que a professora não trabalhava com a questão histórica do surgimento dos
racionais, ou seja, a necessidade de medir. Portanto, não explorava a ideia de segmentos
comensuráveis, enfatizando apenas o significado parte-todo.
Acredita-se que esta abordagem pode limitar o entendimento da evolução de outros
conceitos, por exemplo, proporcionalidade. Ainda, verificou-se que o invariante operatório5,
equivalência, foi trabalhado pela professora na 5ª série, “simplesmente”, como mais um
conteúdo relacionado à fração e deixado quase que totalmente de lado nas demais séries, porque
o foco de estudo eram as operações com números racionais, ensinado por meio de regras.
Spinillo (2002), em seu trabalho acerca do raciocínio proporcional, explica que as atividades
utilizadas para a investigação da compreensão relativa a este raciocínio são, em geral, agrupadas
em duas classes de tarefas: as de incógnita e as de comparação. Sendo que a última (tarefas de
comparação) requer a mobilização da noção de equivalência.
Além disso, os dados indicaram uma tendência em valorizar o uso de técnicas
operatórias (regras) que não são construídas pelo estudante, mas repassadas de forma direta,
talvez do mesmo modo como a professora aprendeu na formação inicial, ou até mesmo na
Educação Básica. Tal fato revela a importância de se repensar a formação inicial e continuada
de professores. Uma formação voltada para aprender a potencializar a aprendizagem do
estudante, bem como, a importância de se realizar pesquisas que revelem as escolhas didáticas
dos professores (seleção de situações para ensinar/desenvolver determinados conceitos,
procedimentos, ideias, raciocínios matemáticos) ao elaborarem seus planejamentos, mostrando
o quanto estão próximos ou não das orientações apresentadas em propostas curriculares.
Algumas questões, após o término da pesquisa realizada no mestrado, ficaram em
aberto, tais como: de que modo o entendimento de número racional pode contribuir no
desenvolvimento do raciocínio proporcional? um trabalho com números racionais, abordando
seus diferentes significados, pode contribuir na aquisição do conceito de proporcionalidade?
como os professores se apropriam dos objetivos e programas escolares, transformando-os
5
Conforme Vergnaud (1993, 2009a, 2009b) invariante operatório são objetos, propriedades e relações que
estruturam as formas de organização da atividade (esquemas), estes podem ser mobilizados para analisar e resolver
situações. Aspectos relacionados a este conceito serão apresentados no Capítulo 2, desta pesquisa.
18
Perímetro e área do quadrado Relação entre segmento 𝐴𝑋 e área do retângulo Relação entre segmento 𝐴𝑋 e área do triângulo
Fonte: Adaptado de Giraldo, Caetano, Mattos (2013, p. 197-199)
matemáticos. Vergnaud (1993, p. 82) apresenta algumas sugestões ao afirmar que: “é preciso
organizar rupturas importantes na progressão dos conhecimentos dos alunos - e que a realização
desta ruptura exige que se desestabilize, às vezes, profundamente, as convicções implícitas ou
explícitas”. Neste sentido, emergem outras questões: quais situações o professor pode propor
para desestabilizar as convicções dos estudantes em relação à variação entre grandezas e o
conceito de proporcionalidade? Quais as representações podem contribuir nessa
desestabilização? Que questionamentos o professor pode fazer para que o estudante se dê conta
do domínio de validade das estratégias utilizadas?
Essas questões foram exigindo algumas respostas, principalmente, durante minha
prática pedagógica tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior. Assim, um estudo
mais sistematizado das pesquisas, relacionadas ao conceito de proporcionalidade, iniciou na
orientação de trabalhos de conclusão de curso (TCC) e monografias (Pós-Graduação lato sensu)
ao me deparar com o artigo denominado “Modelagem Matemática e Sequências Didáticas: uma
relação de complementaridade”, elaborado por Nehring e Borges (2008). Neste artigo, os
autores propõem uma sequência de ensino, na qual o conceito de proporcionalidade é abordado
como função. Além disso, sugerem a comparação das situações propostas na sequência com as
situações propostas em livros didáticos do 7º ano do Ensino Fundamental.
O primeiro TCC que orientei sobre proporcionalidade foi o de Fagundes (2010), com
objetivo de analisar como o estudo do conceito de proporcionalidade é proposto por duas
coleções de livros didáticos, considerando a ampliação do grau de complexidade das situações
propostas. Para tanto, foram analisados os livros didáticos do 7º e 9º ano do Ensino Fundamental
e do 1º ano do Ensino Médio. A acadêmica constatou que a proporcionalidade é apresentada
como igualdade de razões. Quanto à ampliação do grau de complexidade das situações, uma
das coleções não aborda a proporcionalidade, explicitamente, no 1º ano do Ensino Médio,
apenas no 7º ano. Na outra coleção a noção de proporcionalidade foi com frequência revisitada
com retomadas e ampliações e explorada por meio de situações que potencializam o aluno a
analisar as regularidades, valorizando o uso de estratégias, em especial, a escalar6.
Orientei, também, mais dois trabalhados (COLPO, 2012; BERNARDI, 2013)
relacionados a proporcionalidade, cujo instrumento de análise de dados foi o livro didático. Isto
porque acredito que ao analisar livros didáticos se está, de forma indireta, investigando como
as mudanças curriculares vêm acontecendo na prática/práxis dos professores. Além disso, o
currículo (apresentado7) sugerido ao professor é influenciado por vários meios (livros didáticos,
6
São apresentados maiores detalhes para esta estratégia no Capítulo 2.
7
No Capítulo 1 são detalhadas as fases do currículo propostas por Sacristán (2013).
20
matriz de referência das avaliações em larga escala) e elaborado por diferentes instâncias, com
o intuito de traduzir os significados e os conteúdos prescritos, realizando (re)interpretações
destes (SACRISTÁN, 2013).
O primeiro trabalho, de autoria de Colpo (2012), objetivou analisar se e como os livros
didáticos do 1º ano do Ensino Médio aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático
(aprovados pelo PNLD/2012) abordam o conceito de proporcionalidade. A acadêmica verificou
que todos os livros didáticos apresentam atividades cujas variáveis são proporcionais. No
entanto, os autores perdem a oportunidade de discutir este conceito, visto que as situações com
variáveis proporcionais são propostas para “servirem” de base ao trabalho com a função linear,
sem estabelecer relações entre os conceitos.
O segundo trabalho, elaborado por Bernardi (2013), analisou como o conceito de
proporcionalidade é abordado por uma coleção de livros didáticos do Ensino Fundamental
(aprovada pelo PNLD/2011). O acadêmico constatou que há, em todos os livros da coleção,
atividades que requerem o entendimento da proporcionalidade, mas o termo proporcionalidade,
em geral, só é exposto nas situações propostas para o uso da regra de três.
É importante registrar que a teoria dos Registros de Representação Semiótica8 pautou
essas pesquisas e tem fundamentado a maioria das investigações que realizo, além de minha
prática docente, pois ela permite refletir sobre os saberes ensinados na escola numa perspectiva
cognitiva e epistemológica. No entanto, a prática pedagógica e sua análise exigem a busca pela
compreensão de outros componentes da aprendizagem, tais como a natureza das situações
propostas, pois uma situação, por mais simples que pareça, requer a mobilização de vários
conceitos matemáticos, que são construídos ao longo do tempo (VERGNAUD, 2009). Nesta
perspectiva, para orientar o trabalho de Bernardi (2013) busquei fundamentação na teoria dos
Campos Conceituais9, elaborada pelo psicólogo francês Gerard Vergnaud, que contribuiu na
análise dos tipos de situações e nas estratégias utilizadas/sugeridas para a resolução de
situações, principalmente, proporcionais.
Os estudos realizados, para orientar esses trabalhos e os respectivos resultados
alcançados (considerando suas limitações), revelam que há uma complexidade no processo de
8
Esta teoria destaca a importância dos aspectos semióticos na aprendizagem matemática. Para aprender
matemática, cujo objeto não é observável por meio de instrumentos, é preciso transitar entre vários registros de
representação dos objetos e coordená-los. Mais detalhes sobre os pressupostos desta teoria são apresentados no
Capítulo 2.
9
O objetivo desta teoria é proporcionar um quadro que possibilite entender as filiações e rupturas entre
conhecimentos, compreendendo por “‘conhecimento’ tanto o saber fazer como os saberes expressos e não
ignorando o fato de que os efeitos da aprendizagem e do desenvolvimento [na infância e na adolescência] intervêm
conjuntamente” (PIRES, 2013, p. 96). São apresentados no Capítulo, princípios desta teoria para a compreensão
da estrutura multiplicativa.
21
10
Boletim de Educação Matemática. Disponível em:
<http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/bolema> Acesso em: 14 de abril de 2015.
23
11
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
24
12
Este termo pode ser conceituado como sendo “um fato de interesse científico que pode ser descrito e explicado
cientificamente” (SOUZA, 2010, p.28).
25
por seis anos, identificando, neste período, as dificuldades dos estudantes no estudo do conceito
de função, principalmente, na análise da variação de grandezas. Estas dificuldades, também,
foram verificadas no trabalho realizado com acadêmicos de diversos cursos (Agronomia,
Ciência da Computação, Licenciatura em Ciências Exatas, Licenciatura em Matemática) 13 do
Ensino Superior.
Outro aspecto que constitui o Fenômeno de Interesse desta pesquisa foi a realização de
investigações envolvendo o conceito de proporcionalidade, em conjunto com acadêmicos de
um Curso de Licenciatura em Matemática, de uma universidade comunitária do interior do
estado do Rio Grande do Sul, já relatadas na Introdução, no intuito de compreender as
especificidades deste conceito matemático. Em outras palavras, o Fenômeno de Interesse desta
pesquisa é fruto de questões que desafiam a pesquisadora e, por isso, há comprometimento com
o trabalho.
Considerando os limites destas pesquisas, a complexidade do processo de ensino e
aprendizagem da proporcionalidade, a intencionalidade de compreender os conceitos
matemáticos relacionados a ela, e o desenvolvimento do raciocínio proporcional, definiu-se o
fenômeno de interesse como sendo: ensino de proporcionalidade e desenvolvimento do
raciocínio proporcional em materiais que expressam fases do currículo.
A segunda atividade, construir um Modelo Preliminar, é definida por Romberg (2007,
p. 6) como “um conjunto de descrições de variáveis-chave e as relações implícitas entre elas”,
conjunto este elaborado para auxiliar o pesquisador a entender um fenômeno complexo. O autor
sugere que após a elaboração do Modelo Preliminar, o pesquisador elabore uma primeira
pergunta que poderá orientar a identificação das variáveis-chave que deverão ser investigadas.
Ressalta-se que no modelo Romberg-Onuchic o Modelo Preliminar sofre alterações após
“ouvir” as ideias de outros pesquisadores.
Na Figura 3 apresenta-se o Modelo Preliminar elaborado para esta pesquisa. Neste
modelo são expostas variáveis-chave que podem interferir/condicionar/influenciar as escolhas
didáticas dos professores, escolhas estas, materializadas nos planejamentos para ensinar
conceitos matemáticos e desenvolver os diferentes tipos de raciocínios, em especial, o conceito
de proporcionalidade e o desenvolvimento do raciocínio proporcional.
13
Foram nestes cursos que a autora desta pesquisa trabalhou antes e durante a realização do doutorado.
26
A partir do modelo preliminar, criado para esta pesquisa, elaborou-se a pergunta que
busca atender ao fenômeno de interesse, a saber: De que forma o conceito de proporcionalidade
e o raciocínio proporcional vem sendo abordados em materiais que expressam o currículo da
Educação Básica?
Na terceira atividade, Relacionar com a ideia dos outros, o pesquisador organiza em um
texto as sugestões de outros pesquisadores, pois estas podem contribuir para esclarecer, ampliar
e alterar o Modelo Preliminar proposto. Para tanto, optou-se por explicar o porquê das variáveis-
chave, destacadas no Modelo Preliminar, bem como apresentar as contribuições de outros
pesquisadores para esta pesquisa na seção 1.1.2.
14
Este termo vem sendo utilizado nos estudos de Pires (2015, 2016) como o conjunto de materiais disponibilizados
aos professores para desenvolver o currículo de Matemática. Nesta pesquisa, este termo será utilizado para referir-
se aos recursos disponibilizados aos professores, por exemplo, livros didáticos, materiais elaborados pelas
secretarias de educação, planos de estudos, entre outros, além dos materiais produzidos pelos próprios professores
(planejamentos).
27
sociais, didáticas, de supervisão do sistema escolar, entre outras. Mesmo assim, o autor
apresenta um significado para esse conceito, para que haja entendimento ao falar desse
processo, a saber: “o conteúdo cultural que os centros educacionais tratam de difundir naqueles
que os frequentam, bem como os efeitos que tal conteúdo provoca em seus receptores”
(SACRISTÁN, 2013, p.10). Em outras palavras, currículo é a expressão e concretização da
seleção cultural que a escola torna realidade dentro de determinadas condições postas por
diversas práticas.
Pires (2000) compreende que os currículos escolares são estruturados após uma análise
dos saberes considerados socialmente válidos num determinado período por certos indivíduos
(pesquisadores, educadores, políticos), concretizados nas disciplinas escolares, pois nem todo
o conhecimento produzido pela humanidade faz parte desse currículo. Em outras palavras, o
currículo é um recorte da cultura humana, portanto, não é um instrumento neutro, é uma prática
constantemente em debate e negociação.
Mello (2009, p. 12) afirma que currículo é todo o conteúdo da experiência escolar que
envolve as atividades previstas no projeto pedagógico. Para a autora o currículo “estabelece o
básico que todo o aluno tem o direito de aprender e, para esse básico, detalha os contextos que
dão sentido aos conteúdos, as atividades de alunos e professores, aos recursos didáticos e as
formas de avaliação”, assim, pode ser entendido como o documento que organiza a escola.
Conforme Vece e Curi (2014, p. 622), “ao longo da história, o currículo escolar assumiu
um posicionamento nuclear e dinâmico. O currículo não é um documento fechado e burocrático;
pelo contrário, é orgânico e envolve desde a sua idealização até a sua projeção na sala de aula”.
Neste sentido, entende-se currículo como um processo de ação e reflexão, como um modo de
analisar e organizar as práticas educativas (SOARES et al, 2011), constituído por diferentes
materiais: orientações postas nos documentos oficiais, planos de ensino da escola, materiais
didáticos, planejamentos dos professores, aprendizagens dos estudantes, avaliações, entre
outros.
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN 9.394/96
(BRASIL, 1996) em seu Art. 9º, inciso IV, indica que a União incumbir-se-á de estabelecer, em
colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para
a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus
conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum.
Para tanto, o Ministério da Educação (MEC) e Conselho Nacional de Educação, no final
da década de 90, elaboraram documentos curriculares, dentre eles as Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN) (BRASIL, 1998) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL,
28
1997, 1998, 1999). O Parecer do CNE/CEB nº 04/1998 (BRASIL, 1998), que estabelecia as
DCN, sugeria as escolas que analisassem os PCN e as propostas curriculares de seus estados e
municípios para definirem a parte diversificada, conforme peculiaridades das regiões e
variedade de estudantes, que integraria a parte comum previstas nesses materiais (PIRES,
2014).
Os PCN apresentavam princípios e orientações gerais para organização de propostas
curriculares para cada disciplina, priorizando a aprendizagem ao invés do ensino, apoiados nos
resultados das pesquisas em Psicologia (Piaget, Vygotsky, Ausbel) e mudando o lugar do
conhecimento, ou seja, o considera como meio para o desenvolvimento de habilidades e
competências, influenciados pelos estudos de Cesar Coll. Os conteúdos não foram
secundarizados, pois é preciso selecionar conceitos, procedimentos e atitudes que contribuam
para o desenvolvimento de competências e habilidades (SAMPAIO, 2010).
Muitas críticas foram formuladas em relação aos PCN, em especial, quanto a amplitude.
Conforme Mello (2009, p. 11), “eram necessariamente amplos e, por essa razão, insuficientes
para estabelecer a ponte entre o currículo proposto [prescrito] e aquele que deve ser posto em
ação na escola e na sala de aula”, mas não se pode deixar de registrar a influência dos PCN na
(re)organização curricular brasileira, principalmente, na elaboração das propostas estaduais e
na produção de livros didáticos. Esta afirmação pode ser verificada no Relatório de análise de
propostas curriculares de Ensino Fundamental e Ensino Médio15, publicado em 2010 pelo
MEC, ao sublinhar:
As propostas atuais trazem as marcas das orientações presentes nos parâmetros e
diretrizes curriculares nacionais para a escola básica. Afinal, são documentos
produzidos no âmbito estadual e no municipal, como propostas oficiais, elaboradas na
interlocução com essas proposições. Nas propostas analisadas há muitas semelhanças
e significativa concordância com essas orientações. (BRASIL, 2010, p. 6)
As propostas atuais que Sampaio (2010) se refere são os referenciais elaborados por
estados e municípios, principalmente, a partir de 2007, para atender as exigências do Art. 9º,
inciso IV, da LDBEB 9.394/96. Estas propostas buscaram, entre outros objetivos, aprofundar e
detalhar as ideias expressas nas DCN e nos PCN, por vezes, entendidas como muito gerais.
15
Este relatório investigou propostas curriculares elaboradas pelas secretarias de educação, no âmbito estadual e
municipal. Os documentos foram solicitados pelos MEC as secretarias em março de 2009 e estes foram analisados
a partir de março de 2010. O grupo foi coordenado por Maria das Mercês Ferreira Sampaio e contou com mais
seis pesquisadores. Foram analisados um total de 60 propostas, sendo 34 de Ensino Fundamental, incluindo as 13
de secretarias municipais (principalmente, das capitais) e 21 de secretarias estaduais, e 26 propostas de Ensino
Médio. (BRASIL, 2010)
29
Na proposta curricular Lições do Rio Grande fica explícita a posição quanto a autonomia
da escola.
A partir desse Referencial, cada escola organiza o seu currículo. A autonomia
pedagógica da escola consiste na liberdade de escolher o método de ensino, em sua
16
Estes documentos podem ser acessados no site:
http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/refer_curric.jsp?ACAO=acao1 Acessados em novembro de 2015.
30
livre opção didático-metodológica, mas não no direito de não ensinar, de não levar os
alunos ao desenvolvimento daquelas habilidades e competências cognitivas ou de não
abordar aqueles conteúdos curriculares. (RIO GRANDE DO SUL, 2009, p.10)
Percebe-se que a escola tem a liberdade de organizar seu currículo no que tange as
escolhas didático-metodológicas, entretanto, não pode negligenciar as competências,
habilidades e conteúdos expostos na proposta. Cabe destacar que pesquisas indicam que
professores não seguem os currículos propostos por órgãos governamentais de forma mecânica,
ao contrário, eles se apropriam deles e os transformam em função das suas realidades locais e
de suas concepções sobre, por exemplo, ensino, aprendizagem e avaliação. (CRECCI;
FIORENTINI, 2014; VECE; CURI, 2014).
Ressalta-se que há, no Brasil, um trabalho direcionado para a elaboração e discussão de
um “currículo nacional”. O documento que apresenta as construções intitula-se Base Nacional
Comum Curricular e já está na segunda versão17. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
é uma proposta do MEC que visa orientar a formulação do Projeto Político Pedagógico das
escolas no que tange aos conhecimentos essenciais de cada área do conhecimento aos quais os
estudantes têm o direito de ter acesso e se apropriar durante a Educação Básica. Compreende-
se que a elaboração de um currículo, seja ele nacional, regional ou municipal, é apenas o início
de um processo que sofre várias transformações, (re)contextualizações, aproximações e
distanciamentos.
Sacristán e Pérez-Gómes (1998) sublinham que as sugestões expressas nos documentos
oficiais, denominados currículo prescrito, são interpretadas e expressas em outros currículos,
a saber: currículo planejado- criado para ser “consumido” por professores e estudantes,
materializados a partir dos livros didáticos, guias didáticos, etc.; currículo organizado- os
planos organizados pelas instituições escolares; currículo em ação- transformado/reelaborado
no planejamento do professor; currículo avaliado- práticas de controle internas e externas.
Estes são entendidos como fases do currículo. É importante destacar que estas fases, nem
sempre, se desenvolvem de forma contínua, ou seja, há rupturas que, geralmente, são
influenciadas pelos materiais curriculares acessados e escolhidos por professores para
desenvolver o currículo em ação.
Dentre os materiais curriculares, sublinha-se o livro didático, Sacristán (2013, p.31)
afirma que “o livro didático se converteu no agente praticamente exclusivo do desenvolvimento
do currículo”. Pode-se inferir que a seleção de conteúdos/conceitos e o tipo de atividades
apresentadas nesse material influencia as escolhas didáticas dos professores e seus
17
Dados atualizados em julho de 2016 por meio de acesso ao site http://basenacionalcomum.mec.gov.br.
31
planejamentos são recortes de vários livros (SOARES, 2007). Contudo, isto pode acontecer,
com maior ênfase, em determinados níveis de escolarização do que em outros, tornando-se
relevante investigações que apontam relações e rupturas que os professores estabelecem com
esses materiais no momento das escolhas didáticas e na materialização dessas escolhas
(elaboração dos planejamentos).
Outro fator que justifica o destaque dado ao livro didático está relacionado ao fato de
que nas últimas décadas a distribuição destes materiais foi intensificada, assim como sua
avaliação por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). O PNLD é organizado
em ciclos trienais alternados. Dessa forma, a cada ano o Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação (FNDE) adquire e distribui livros para estudantes de determinada etapa de ensino
e repõe e complementa os livros reutilizáveis para outras etapas. As etapas são: Anos Iniciais e
Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. São também distribuídos livros para as
modalidades Educação de Jovens e Adultos e Educação do Campo. Em 2015, foram
distribuídos para o Ensino Fundamental e Ensino Médio 137.804.058 livros didáticos, já em
201618, o número passou para 140.681.994.
Pires (2014, 2016) chama a atenção para a presença e influência dos materiais
produzidos para orientar a elaboração das avaliações externas organizadas pelo Sistema de
Avaliação da Educação Básica (SAEB), por exemplo, matriz da Prova Brasil e matriz do
ENEM19 no desenvolvimento curricular, principalmente, nos planos de ensino das escolas
(currículo organizado). “[...] embora, não tenhamos um currículo nacional e obrigatório, as
matrizes elaboradas para as avaliações externas têm ditado uma configuração curricular seguida
por muitas escolas brasileiras” (PIRES, 2014, p. 6).
Diante desse contexto, fica evidenciada a importância do professor no desenvolvimento
curricular. Segundo Januário, Lima e Pires (2016, p. 3, grifo nosso) os professores fazem uso
dos materiais curriculares,
[...] praticando e planejando a partir das orientações, escolhas didáticas e
metodológicas, teorizações e ideologias subjacentes nos materiais curriculares.
Porém, como agentes produtores de currículo, também fazem intervenções,
adaptando e improvisando em resposta às necessidades de aprendizagens dos
estudantes. Assim, materiais curriculares influenciam a prática pedagógica e
professores influenciam a prática desses recursos.
18
Dados disponibilizados no portal do FNDE http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-
dados-estatisticos. Acessado em 19 de julho de 2016.
19
Exame Nacional do Ensino Médio.
32
com a distinção de termos utilizados como sinônimos, nas pesquisas e propostas curriculares,
por exemplo, proporção utilizada como sinônimo de proporcionalidade.
No Brasil, os dados divulgados por Miranda (2009), com base nas publicações da revista
Zetetiké, mostram que, no período de 1971 a 2007, foram desenvolvidas, 19 dissertações e 2
teses sobre essa temática. Com o intuito de atualizar estes dados buscou-se, também, na Zetetiké
e no Banco de Dados de Teses e Dissertações da CAPES as pesquisas realizadas no período de
2008 a 201420. Para tanto, utilizou-se os descritores: proporcionalidade, raciocínio
proporcional, pensamento proporcional, proporções e proporção. A utilização destes descritores
justifica-se em função do fato de que em algumas pesquisas os termos citados são utilizados
como sinônimos. Sendo mapeadas mais 17 dissertações e 2 teses, totalizando 40 pesquisas
(Apêndice A). Estes dados confirmam que os descritores selecionados tem sido foco de várias
pesquisas nas últimas quatro décadas, principalmente, nas primeiras décadas dos anos dois mil
(28 pesquisas mapeadas).
Miranda (2009), em sua dissertação de mestrado, realizou uma metanálise21 das
pesquisas sobre pensamento proporcional22, cujo recorte deu-se a partir da análise das
investigações desenvolvidas no Estado de São Paulo, no período de 1971 a 2007. Para tal,
organizou quatro categorias de análise, conforme os objetivos das pesquisas mapeadas, a saber:
propor e realizar atividades; sugerir caminhos para os professores; avaliar aprendizagem;
analisar conteúdo de livros didáticos. Estas categorias permitiram a pesquisadora compor o
corpus documental de sua investigação, visto que das 7 pesquisas desenvolvidas no Estado de
São Paulo, naquele período, apenas, 2 contribuíram para atingir seus objetivos, pois pertenciam
a categoria propor e realizar atividades.
Constata-se que, as categorias propostas por Miranda (2009), contribuem na
reorganização do Modelo Preliminar desta pesquisa (Figura 3). Neste sentido, as 40 pesquisas
mapeadas (1971 a 2014) foram organizadas por meio das categorias estabelecidas por Miranda
(2009). Estas categorias emergiram dos objetivos das pesquisas mapeadas. Cabe destacar que,
a categoria analisar o conteúdo de livros didáticos foi alterada para analisar
pesquisas/materiais (Apêndice A). Isto porque há pesquisas, desenvolvidas nos últimos cinco
anos, cujo objetivo é analisar materiais curriculares, por exemplo, os cadernos da Proposta
20
Dados atualizados em dezembro de 2015.
21
Conforme Bicudo (2014, p. 9) metanálise é “uma investigação pautada em comparações e análises dos dados
primários de pesquisas, tomadas como significativas em relação ao tema posto sob foco.”
22
Com base nos estudos de Lamon (2007, 2008) e Post, Lesh e Behr (1988, 1995), nesta pesquisa, é utilizada a
expressão raciocínio proporcional.
34
Curricular de São Paulo e a própria pesquisa de Miranda (2009) que tem um caráter de
metanálise, o que exigiu a reorganização de tal categoria.
Verifica-se que há 7 pesquisas (17,5%) na categoria propor e realizar atividades; 4
pesquisas (10%) na categoria sugerir caminhos para os professores, 22 pesquisas (55%) na
categoria avaliar a aprendizagem e 7 pesquisas (17,5%) na categoria analisar
pesquisas/materiais.
Os resultados indicam que a categoria, avaliar a aprendizagem, contém a maioria das
pesquisas (55%). Esta categoria busca identificar as estratégias utilizadas, principalmente, por
estudantes do Ensino Fundamental (43% das pesquisas, conforme Apêndice B) na resolução de
situações envolvendo proporcionalidade direta, bem como, alguns dos erros e dificuldades mais
frequentes. Em relação as pesquisas, publicadas no período de 2008 a 2014, nota-se que esta
categoria continua preocupando muitos pesquisadores, pois 10 das 19 pesquisas mapeadas
(Apêndice A) analisaram a aprendizagem de estudantes.
Contudo, há pesquisadores que se interessam por investigar os
entendimentos/aprendizagens dos professores (SILVA, L., 2009) e futuros professores
(COSTA, M., 2012) de matemática, no que tange a mobilização do raciocínio proporcional na
resolução de situações. Muitas destas pesquisas buscaram respaldo, nos estudos de Vergnaud
(1993, 2009a) sobre a estrutura multiplicativa, para analisar as estratégias mobilizadas por
estudantes e professores (Apêndice B).
A categoria propor e realizar atividades obteve um aumento significativo no número
de pesquisas, no período de 2008 a 2014. Das 7 pesquisas mapeadas, 5 foram publicadas neste
período (BARNABÉ, 2011; COSTA JÚNIOR, 2010; FERREIRA, 2013; FIOREZE, 2010;
MACEDO, 2012). As investigações, classificadas nesta categoria, apresentam atividades
elaboradas e desenvolvidas pelos pesquisadores com intuito de ensinar e aprender o conceito
de proporcionalidade, razões e proporções em anos específicos do Ensino Fundamental, por
exemplo, 7º ano.
Dentre estas, sublinha-se a pesquisa de Fioreze (2010) que utilizou atividades digitais
relacionadas à aprendizagem da proporcionalidade. As atividades digitais constituíram as
sequências de ensino elaboradas pela pesquisadora e desenvolvidas com estudantes da 8ª série
(9º ano) do Ensino Fundamental. O destaque dado a esta pesquisa não é em função do uso de
atividades digitais, mas em relação a escolha das situações, pois valorizam a utilização de
diferentes estratégias, a variação das grandezas envolvidas, a mobilização e coordenação de
diferentes representações matemáticas. Acredita-se que as situações propostas permitem a
35
Física, por exemplo, no que tange a eletricidade há relações proporcionais entre a resistência
elétrica e as dimensões do condutor. A Figura 6 mostra uma situação em que: se a área de secção
do fio condutor é mantida constante e dobra-se o comprimento do fio, a resistência também
dobra, ou seja, comprimento e resistência são grandezas diretamente proporcionais.
23
Um modelo matemático é “uma descrição matemática (frequentemente por meio de uma função ou de uma
equação) de um fenômeno real [...]. O propósito do modelo é entender o fenômeno e talvez fazer predições sobre
o comportamento futuro” (STEWART, 2008, p.25).
24
Espaços de medidas referem-se a diferentes conjuntos de objetos, diferentes tipos de quantidades ou unidades
de medidas diferentes.
25
Este conceito receberá maior atenção no subitem 2.3.1.2.
40
Assim, a não compreensão desse conceito pelo estudante pode acarretar prejuízos na
aquisição de um conjunto de informações necessárias a interpretação e a modelagem de fatos,
fenômenos e eventos do mundo real, bem como, na construção de estruturas cognitivas
essenciais às atividades matemática e científica. Esta afirmação é corroborada nos estudos de
vários pesquisadores (IMENES, LELLIS, 2005; LAMON, 2007, 2008; LEVAIN, 1997;
NUNES, 2003; OLIVEIRA, 2000, 2009; PONTE et al., 2010; SCHLIEMANN E CARRAHER,
1993; SILVESTRE, 2012; TINOCO et al., 2011; VERGNAUD, 1993, 2009a, 2009b).
A importância da proporcionalidade é confirmada nas propostas curriculares
(prescritas) de diversos países. Por exemplo, o National Council of Teachers of Mathematics,
dos Estados Unidos da América, por meio da publicação denominada Principles and Standards
for School Mathematics27 - NCTM (APM, 200828) pontua que a proporcionalidade merece
qualquer tempo e esforço para garantir seu desenvolvimento, pois este conceito está presente
em várias situações do dia a dia dos estudantes e modela diversos fenômenos de outras áreas
do conhecimento. Além disso, a proporcionalidade é um conceito essencial e integrador que
estabelece conexões entre vários assuntos abordados do 6º ao 8º ano, conforme já (re)afirmado
por pesquisadores citados nesta seção.
26
Associa-se elementos de um conjunto a elementos de outro conjunto.
27
Princípios e Normas para a Matemática Escolar.
28
Nesta pesquisa utiliza-se da versão elaborada pela Associação de Professores de Matemática de Portugal.
41
na análise da variação em diversos contextos, por exemplo, o valor pago nas chamadas
telefônicas.
O Programa de Matemática do Ensino Básico de Portugal (ME-DEB, 2007), também,
assinala que a proporcionalidade está presente em muitas situações do dia a dia dos estudantes
(envolvendo, por exemplo, problemas de natureza multiplicativa nas compras, nas receitas
culinárias e porcentagens). No que tange aos conceitos matemáticos, o programa entende que a
proporcionalidade é uma relação importante no desenvolvimento do pensamento algébrico,
assim como na proposta curricular NCTM.
Silvestre (2012) desenvolveu sua tese de doutorado com estudantes portugueses e
analisou a proposta o Programa de Matemática do Ensino Básico de Portugal, constatando que
o conceito de proporcionalidade está proposto no tema Álgebra a ser desenvolvido no 2º ciclo.
Segundo a pesquisadora a presença da proporcionalidade neste tema é uma perspectiva
inovadora do programa, pois altera o ensino desse conceito que tem sido, geralmente, apoiado
na igualdade de razões e no algoritmo da regra de três, seguindo a teoria das proporções
29
Nesta proposta os procedimentos estão direcionados à consecução de uma meta e são entendidos como um
conteúdo que potencializa o desenvolvimento das capacidades ligadas ao saber fazer (processos para resolver
distintas situações).
42
proposta por Eudoxo30 (408 a.C - 355 a.C) para uma abordagem que trata a proporcionalidade
como função31.
No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) enfatizam a importância da
proporcionalidade na análise de situações do dia a dia e de outras áreas do conhecimento e a
consideram como uma ideia fundamental da Matemática. Isto porque a proporcionalidade está
presente explicitamente ou implicitamente numa gama de conceitos, ideias e conteúdos
matemáticos, por exemplo, nos problemas multiplicativos; nas situações relacionadas à
comparação entre razões, na variação de grandezas como perímetros, semelhança de figuras,
na construção e análise de tabelas e gráficos, no estudo de funções.
Esse documento sugere o trabalho com situações que permitam ao estudante “observar
a variação entre grandezas, estabelecendo relação entre elas e construir estratégias de solução”
(BRASIL, 1998, p. 65), estratégias estas não convencionais, ou seja, não relacionadas a um
algoritmo. Para o Ensino Médio, estes documentos apontam que, a proporcionalidade direta
deve ser explorada como um particular e importante modelo de crescimento (modelo linear:
𝑓(𝑥) = 𝑎𝑥), guardada suas restrições. “Neste momento, também é interessante discutir o
𝑎
modelo de decrescimento com proporcionalidade inversa 𝑓(𝑥) = 𝑥 ; 𝑥 ≠ 0” (BRASIL, 2006,
p. 72).
Percebe-se que os PCN (BRASIL, 1998, 2006), ao tratarem da proporcionalidade,
valorizam a relação com a Álgebra, assim como as demais propostas curriculares supracitadas,
especialmente, quando sugerem situações envolvendo variação e o estudo do crescimento
proporcional. Indo ao encontro das propostas de muitos pesquisadores (ÁVILA, 1986; LIMA,
1986; LAMON, 2007, 2008; LESH, POST, BEHR, 1988; PONTE et al., 2010; SILVESTRE,
2012; TINOCO et al., 2011), destacando-se, Behr et al. (1995) ao mencionarem que a
proporcionalidade fornece indícios para a representação algébrica.
Pode-se constatar a importância da proporcionalidade como um conceito essencial a
várias atividades do dia a dia, a outras áreas do conhecimento, bem como, formador e integrador
da Matemática. Formador, porque possibilita o desenvolvimento de estruturas cognitivas
fundamentais para a aprendizagem desta área do conhecimento, além disso, conceitos,
procedimentos e ideias matemáticas tem sua natureza relacionada a ele. Integrador porque
potencializa a conexão entre os diferentes campos da matemática e seus conceitos,
30
A teoria das proporções de Eudoxo pode ser estudada com maiores detalhes na seguinte referência:
BONGIOVANNI, V. “As duas maiores contribuições de Eudoxo de Cnido: A teoria das proporções e o método
de exaustão”. In: Revista Iberoamericana de Educación Matemática, n. 2, p. 91-110, Junho/2005.
31
A abordagem do conceito de proporcionalidade como função será destacada na seção 2.3.2.
43
procedimentos e ideias. Vale destacar que “apesar do uso prático no cotidiano [sublinhado por
pesquisadores e propostas curriculares prescritas], o conceito de proporcionalidade apresenta
grandes dificuldades em termos de formulação e aplicação” (TOLEDO; TOLEDO, 1997, p.
138), o que demanda um trabalho intencional no âmbito escolar.
Ao tratar do conceito de proporcionalidade, vários teóricos e programas de orientação
curricular mencionam a importância do raciocínio proporcional (LAMON, 2007, 2008; LESH,
POST, BEHR, 1988, LEVAIN, 1997; MARANHÃO, MACHADO, 2011; OLIVEIRA, 2009;
PONTE et al., 2010; SILVESTRE 2012; VERGNAUD, 2009a; BRASIL, 1998) tanto para a
Matemática como para as práticas sociais e outras áreas do conhecimento.
As contribuições da capacidade de raciocinar proporcionalmente em outras áreas do
conhecimento e disciplinas escolares, por exemplo, biologia, química e física são ressaltadas
por Godino e Batanero (2004) ao pontuarem que as inúmeras situações dessas áreas e
disciplinas requerem uma análise qualitativa e quantitativa do fenômeno investigado e,
geralmente, estas análises revelam princípios proporcionais.
As questões relacionadas ao desenvolvimento do raciocínio proporcional e suas
aplicações tanto dentro da Matemática quanto fora são salientadas por Lamon (2008, p. 3,
tradução nossa) ao afirmar que:
Claramente, muitas pessoas que não têm desenvolvido a sua capacidade de raciocínio
proporcional têm sido capazes de compensar usando regras de álgebra, geometria e
trigonometria, mas, no final, as regras são um substituto pobre para a compreensão.
Elas não estão preparadas para aplicações reais em estatística, biologia, geografia ou
física – nas quais o importante é que os princípios fundamentais dependem da
proporcionalidade. Isto é lamentável, num momento em que um número crescente de
profissões depende diretamente da matemática ou do uso de modelos matemáticos
para aumentar a eficiência, para salvar vidas, para poupar dinheiro ou tomar decisões
importantes32.
Constata-se, na afirmação acima, uma crítica ao uso exagerado de regras, pois estas não
revelam os princípios fundamentais dos fenômenos, por exemplo, taxa de variação.
No que se refere à Matemática como disciplina e área do conhecimento, Lamon (2007,
2008) chama a atenção de pesquisadores e professores para o fato de que o raciocínio
proporcional é um dos melhores indicadores do entendimento de número racional e dos
conceitos multiplicativos relacionados33. Este raciocínio é considerado, principalmente, por
32
Clearly, many people who have not developed their proportional reasoning ability have been able to compensate
by using rules in algebra, geometry, and trigonometry courses, but, in the end, the rules are a poor substitute for
understanding. They are unprepared for real applications in statistics, biology, geography, or physics—where
important, foundational principles rely on proportionality. This is unfortunate at a time when an everincreasing
number of professions rely on mathematics directly or use mathematical modeling to increase efficiency, to save
lives, to save money, or to make important decisions.
33
Na seção 2.3 serão destacados conceitos multiplicativos relacionados ao raciocínio proporcional.
44
professores como uma medida para identificar a compreensão de conceitos, conteúdos e ideias
matemáticas elementares, entendimento este que conduz a um trabalho restrito a poucos anos
de escolarização.
No entanto, o raciocínio proporcional, para a pesquisadora supracitada, é parte do
alicerce de conceitos mais complexos. Quanto ao termo raciocínio proporcional, Lamon (2008,
p. 8, tradução nossa) afirma que este:
[...] é usado para descrever sofisticadas maneiras de pensar em matemática que
emergem em algum momento no final dos anos do ensino fundamental ou médio e
continuam a crescer em profundidade e sofisticação ao longo do ensino médio e
superior. Ele significa a realização de certo nível de maturidade matemática que
consolida muitas ideias elementares e abre a porta ao mais avançado pensamento
matemático e científico34.
34
The term proportional reasoning is used to describe sophisticated mathematical ways of thinking that emerge
sometime in the late elementary or middle school years and continue to grow in depth and sophistication
throughout the high school and college years. It signifies the attainment of a certain level of mathematical maturity
that consolidates many elementary ideas and opens the door to more advanced mathematical and scientific
thinking.
35
[...] is a form of mathematical reasoning that involves a sense of co-variation and of multiple comparisons, and
the ability to mentally store and process several pieces of information. [...] is very much concerned with inference
and prediction and involves both qualitative and quantitative methods of thought. [...] the essential characteristics
of proportional reasoning to involve reasoning about the holistic relationship between two rational expressions
such as rates, ratios, quotients, and fractions. This invariably involves the mental assimilation and synthesis of the
various complements of these expressions and an ability to infer the equality or inequality of pairs or series of such
expressions based on this analysis and synthesis. It also involves the ability to generate successfully missing
components regardless of the numerical aspects of the problem situation.
45
que possibilitam fazer comparações múltiplas (numéricas e não numéricas) entre expressões
racionais e verificar sua igualdade ou desigualdade, bem como, resolver com destreza as
situações de valor omisso, sem depender dos valores numéricos. Há, na conceituação, um
destaque para a relação entre o raciocínio proporcional e o número racional que merece ser
ainda investigada, pois as pesquisas brasileiras, geralmente, estudam o raciocínio proporcional
e o número racional separadamente.
As propostas curriculares (ME-DEB, 2007; APM, 2008; PCN, 1998), assim como os
pesquisadores já citados acima, reforçam a importância do desenvolvimento do raciocínio
proporcional, pois a capacidade de raciocínio é essencial para o entendimento da Matemática e
à medida que os estudantes avançam nos anos escolares o repertório de tipos de raciocínio
(algébrico, proporcional, geométrico, probabilístico) deverá ampliar-se e contribuir na
resolução de situações propostas tanto no espaço escolar quanto em outros contextos.
Nesta perspectiva, os PCN salientam que:
[...] o desenvolvimento do raciocínio proporcional é útil na interpretação de
fenômenos do mundo real. Assim, é desejável explorar no terceiro ciclo problemas
[no documento elaborado para os anos iniciais essas ideias também são expostas] que
levem os alunos a fazer predições por meio de questões que envolvam aspectos
qualitativos e quantitativos (O número encontrado deveria ser maior ou menor?
Quanto maior? Essa resposta faz sentido?). (BRASIL, 1998, p. 67)
36
O pesquisador Raymond Duval tem desenvolvido seus estudos em psicologia cognitiva desde 1970. No período
de 1970 a 1995, foi pesquisador do Instituto de Pesquisa sobre o Ensino de Matemática – IREM de Estrasburgo,
46
No Brasil, há um crescimento significativo nos estudos que buscam nos RRS um aporte teórico
para interpretação e análise de problemas de pesquisa, segundo dados dos mapeamentos
realizados por Ferreira et al. (2013), Brandt e Moretti (2014).
Para situar sua teoria Duval (2004, 2011, 2013) analisou as contribuições dos criadores
da semiótica37, principalmente, Pierce, Saussure e Frege, destacando as áreas utilizadas para
analisar os signos, questões que estes pesquisadores se dedicaram a responder em seus estudos,
contribuições e limites de suas investigações. Além disso, reorganizou as questões dos
pesquisadores, com o intuito de definir o seu problema de pesquisa, de modo que este
descrevesse os processos de compreensão e as causas das dificuldades globais na aprendizagem
da Matemática. O Quadro 1 apresenta as ideias principais dos modelos de análise dos signos
elaborados pelos criadores da semiótica e a análise de Duval.
França. Atualmente, é professor emérito em Ciências da Educação da Université du Littoral Côte d'Opale, na
cidade de Boulogne-sur-mer (FREITAS, REZENDE, 2013).
37
Para Santaella (2002, p. 2) “semiótica é a ciência que tem por objetivo de investigação todas as linguagens
possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como
fenômeno de produção de significação e de sentido.”
38
O termo “não tautológico” é utilizado com um sentido de não repetitivo.
39
A definição clássica de signo, conforme Duval (2011, p. 26), refere-se a: “colocar-se no lugar dos próprios
objetos quando esses não são imediatamente acessíveis, isto é, permitir evocar os objetos em sua ausência”.
47
Ignora a propriedade
específica dos signos, ou
seja, sua relação com o
objetivo é uma relação de
referência e não de efeito e
causa. Há relação de causa e Considerou as escritas
Não considerou a
efeito para os objetos que simbólicas utilizadas em
diversidade de enunciados
podem ser acessados por álgebra e análise em
Limites que a língua pode gerar, bem
meio da percepção. Os detrimento aos outros
como as operações
objetos que não podem ser sistemas semióticos
discursivas exigidas.
acessados pela percepção utilizados na Matemática.
(por exemplo, objetos
matemáticos), este se dá por
meio da utilização
intencional dos signos
(referência).
Quais processo de
Em função de quais critérios discriminação permitem Quais são os mecanismos de
Questões podemos classificar todos os reconhecer as unidades de substituição ou de
(re)organizadas tipos de representações sentido matematicamente transformação próprios a
por Duval utilizáveis em Matemática e pertinentes em uma cada tipo de representação
no ensino de Matemática? expressão ou em uma utilizado em Matemática?
representação semiótica?
Fonte: Elaboração da autora com base em Duval (2011, p. 29-38)
40
O objeto e suas representações possuem características diferentes quanto a variabilidade, ou seja, o objeto possui
característica invariante e suas representações podem ser expostas por meio de diversas variações (DUVAL, 2011).
41
Nesta pesquisa utilizou-se a versão em espanhol desta obra. DUVAL, R. Semiosis y Pensamiento Humano.
Registres sémiotiques et apprentissages intellectuels: Santiago de Calai, Colômbia: 2004.
49
se acessá-los. O acesso aos objetos matemáticos é visto por Duval (2013) como primordial para
a formação e aprendizagem em Matemática, pois, esta última, não pode restringir-se aos
aspectos da prova e justificação.
A Matemática possui um caráter epistemológico (no sentido científico e não
intramatemático) e cognitivo, explicado por duas características:
- A primeira refere-se ao fato de que não há acesso perceptivo, direto ou instrumental
aos objetos matemáticos (números, funções, figuras geométricas). Para acessar os
objetos matemáticos, precisa-se de uma atividade de produção semiótica (DUVAL,
2011, 2013).
- A segunda traz para análise o modo de se trabalhar em matemática, no que tange a
natureza deste trabalho e ao funcionamento do pensamento, isto é, a maneira de explorar
uma situação matemática (elaborar conjecturas, testá-las, prová-las, resolver problemas)
sem depender de verificações empíricas.
Assim, o modo de se trabalhar em matemática é diferente do desenvolvido em outras
áreas do conhecimento e disciplinas escolares (DUVAL, 2011, 2013), pois depende de
representações.
Falar de representações, na perspectiva de Duval (2011, p. 47), é abordar uma relação
complexa em que o conteúdo da representação depende tanto do tipo de representação
mobilizada quanto do objeto representado, tem-se: “{{conteúdo da representação, tipo de
representação}, objeto representado}”. Esta relação produz uma dificuldade cognitiva que nas
disciplinas cujos objetos podem ser acessados de forma perceptiva, direta ou instrumental é
facilmente ultrapassada. Ou seja, na Matemática, há o risco de considerar duas representações
distintas de um mesmo objeto por objetos diferentes em função de os conteúdos das
representações serem distintos. Por exemplo, o número racional 0,01, escrito na representação
decimal, pode não ser reconhecido em notação científica (10−2).
A dificuldade, mencionada acima, gerou o que Duval (2003, 2004, 2011) denominou de
paradoxo cognitivo da matemática. Tem-se um paradoxo porque um objeto matemático não
pode ser confundido com suas representações semióticas, ao mesmo tempo que não é possível
acessar tal objeto sem recorrer as representações. É a possibilidade de utilizar diversas
representações de um mesmo objeto, bem como a potencialidade intrínseca das representações
semióticas, de serem transformadas em outras, que permite contornar este paradoxo.
Duval (2011, 2012) sublinha a atividade de “colocar em correspondência” como a
condição cognitiva que permite reconhecer um mesmo objeto matemático em suas distintas
representações. Para tanto, é preciso colocar em correspondência as unidades de sentido,
50
próprias de cada representação, porque esta atividade permite identificar propriedades e ter
acesso a novos objetos matemáticos. A Figura 7 exemplifica a correspondência das unidades
de sentido dos conteúdos das representações42 para a seguinte situação de divisão:
“Transportam-se 30 carros em vagões. Cada vagão pode transportar 3 carros. Quantos vagões
são necessários para transportar os carros?” (DUVAL, 2012, p. 312).
42
As unidades de sentido dos conteúdos das representações referem-se aos dados ou informações,
matematicamente pertinentes na análise da situação.
51
Conforme Duval (2011), a noção de sistema cognitivo não é suficiente para analisar as
transformações que constituem a dinâmica cognitiva da atividade matemática por dois motivos.
Primeiro, reduz a análise a um inventário de elementos primitivos e regras de combinação
(sistema formal) ao invés de tratar das operações cognitivas de cada tipo de representação
semiótica que não dependem apenas de seus conteúdo. Segundo, o sistema semiótico pode ser
entendido apenas como códigos. Os códigos tem a finalidade de apenas comunicar. As
representações semióticas vão além da comunicação, ou seja, permitem a objetivação e o
tratamento (transformações internas das representações semióticas), o que diferencia das
representações mentais.
Foi para distinguir os sistemas semióticos utilizados em Matemática de outros sistemas
semióticos, por exemplo, códigos, que Duval (2011, 2013) utilizou o termo “registro” em sua
teoria. Esta palavra foi utilizada pela primeira vez por Descartes para diferenciar a escrita
algébrica das curvas e suas representações figurais. Ela, também, “se refere à extensão dos
recursos disponíveis em domínios como a voz, os instrumentos musicais, os modos de se
expressar: falamos, por exemplo, de ‘registros’ para designar o comando de cada um dos jogos
de um órgão” (DUVAL, 2013, p. 16). São exemplos de registros: os sistemas de numeração, as
escritas algébricas, as figuras geométricas, tabelas, língua natural, entre outros, pois
desempenham as funções de comunicação, objetivação e tratamento, além disso, podem ser
transformados em outros sistemas semióticos.
Ainda, em relação a diferença entre códigos e registros, destaca-se o exemplo da língua
natural, visto sua importância no ensino da Matemática. As línguas naturais cumprem ao
mesmo tempo funções de comunicação e cognitivas. Por muito tempo considerou-se a língua
como código (DUVAL, 2011). Nesta perspectiva, o entendimento do enunciado de um
problema seria um caso de decodificação das informações que foram codificadas. Geralmente,
os professores, ao analisarem as dificuldades dos estudantes na resolução de problemas de
Matemática, comentam: “não sabem interpretar”; “não sabem português”; etc. No entanto,
“compreender não é decodificar uma sequência de palavras ou de frases, mas discriminar as
unidades de sentido em função de diferentes níveis de organização dos discursos e
eventualmente reformulá-los” (DUVAL, 2011, p. 75). As línguas naturais são registros de
representação semiótica, cognitivamente criadores e podem ser considerados os primeiros
registros de representação semiótica para o pensamento.
Portanto, a identificação de um sistema semiótico como um registro exige analisar:
produção de representações que permitam tanto ter acesso aos objetos quanto explorá-los, assim
como potencializar operações específicas que possibilitem transformar as representações
53
produzidas em outras. As exigências para caracterizar um sistema semiótico como registro dão-
se em função da produção de novos conhecimentos. Do ponto de vista matemático esta
produção relaciona-se as demonstrações, mas sob a ótica cognitiva depende da “consciência
das operações específicas de cada um dos registros mobilizados” (DUVAL, 2011, p. 97).
A tomada de consciência das operações de cada registro é proporcionada pela
conversão. Esta transformação, segundo Duval (2011), é o início da compreensão em
Matemática. Neste sentido, a relação entre o pensamento e a transformação de representações
se dá pela mobilização e coordenação de, pelo menos, dois registros, sem estas “produz-se um
bloqueio visto como incompreensão, não saber fazer, perda de sentido, etc.” (DUVAL, 2011,
p. 100).
Reiterando, para compreender e “fazer matemática” é preciso reconhecer as unidades
de sentido e apropriar-se das operações de transformações próprias de cada registro. De um
ponto de vista epistemológico, as produções matemáticas são de ordem semiótica. As atividades
matemáticas de exploração, prova, resolução de problemas, por exemplo, consistem na
transformação de representações semióticas. Assim, o funcionamento cognitivo do pensamento
matemático (noésis), mesmo a conceitualização, é eminentemente semiótico (DUVAL, 2011,
2012).
Duval (2011, 2012) afirma que o interesse na compreensão do funcionamento cognitivo
do pensamento (noésis) em termos de registros não é, a princípio, teórico, e sim metodológico.
Em outros termos, os registros oferecem ferramentas para analisar as duas condições
necessárias para compreender, “fazer” e utilizar Matemática: discernimento das unidade de
sentido matematicamente pertinentes no conteúdo das representações e operações de
transformações de cada registro.
Neste sentido, para isolar as unidades de sentido matematicamente pertinentes, é preciso
converter a representação para outro registro, após, produzir as modificações possíveis para
convertê-la para esse outro registro, verificando se as variações feitas no primeiro registro
produzem covariações no segundo. Desse modo, o segundo registro revela as unidades de
sentido, matematicamente pertinentes, nas representações do registro de partida. No que se
refere a segunda condição, o procedimento restringe-se a um único registro, tratamentos.
Segundo, Duval (2011, p. 108)
Não podemos distinguir unidades de sentido matematicamente pertinentes no
conteúdo de uma representação sem convertê-las, implícita ou explicitamente, em
outro registro. No entanto, uma única conversão não é suficiente para reconhecer as
unidades de sentido, ou para justificar a pertinência objetiva das correspondências e
não correspondências entre a representação de partida e a representação de chegada.
54
Neste sentido, Duval (2011) chama atenção para o fato de não subordinar o estudo de
gráficos a noção de função, pois deixa-se de explorar a visualização, importante capacidade da
“alfabetização matemática”43, e esquece-se que o conceito de função requer um terceiro
registro, o verbal, que caracteriza a correspondência entre domínio e imagem. Uma situação
que exemplifica a redução da representação gráfica a uma entrada puramente numérica é,
geralmente, identificada na introdução de funções lineares ao apresentar uma tabela cujas
variáveis envolvidas são diretamente proporcionais e pressupor que os estudantes conseguem
43
No Brasil, este termo vem sendo utilizado nos documentos produzidos pelos MEC para referir-se ao trabalho
realizado, em especial, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental que compreende o processo de ensino e
aprendizagem da Matemática como “um instrumento para a leitura do mundo, uma perspectiva que supera a
simples decodificação dos números e a resolução das quatro operações básicas” (BRASIL, 2014, p. 5).
55
considerado por Duval (2011) como uma representação auxiliar na transição de uma
representação a outra. Destaca-se, na análise desta situação, a importância dos registros
auxiliares na aprendizagem matemática.
Percebe-se que o desenvolvimento do reconhecimento das unidades de sentido
matematicamente pertinentes, conforme Duval (2011), requer a organização de um tipo
diferente de tarefa. Sob a ótica da matemática a resolução de problemas é privilegiada como
situação de aprendizagem. Entretanto, do ponto de vista cognitivo, é importante organizar,
primeiro, tarefas de reconhecimento. Há duas diferenças entre a resolução de problemas e as
tarefas de reconhecimento: (i) a seleção dos problemas é realizada em função dos objetos e
propriedades matemáticas; (ii) a escolha das tarefas de reconhecimento está relacionada as
variáveis cognitivas (conversão das representações e tratamentos).
Assim, a “capacidade de iniciativa e de controle na resolução de um problema depende
inteiramente do reconhecimento dos dados do problema colocado, isto é, da discriminação das
variações de representações em um ou vários registros” (DUVAL, 2011, p. 114), e, além disso,
a escolha do segundo registro que servirá de registro revelador, é fundamental. Para as
representações gráficas, mencionadas anteriormente, o segundo registro escolhido foi o
algébrico e para análise deste último pode-se utilizar o registro gráfico.
Duval (2011) alerta que a escolha de um registro muda quando um deles não é
puramente matemático, por exemplo, a língua natural. Considerando que a língua natural tem
um papel importante na evolução da Matemática (formulação de definições, teoremas,
57
Ainda, em relação a resolução de situações dadas na língua natural, Duval (2011, p. 130)
sublinha:
[...] a distância entre a utilização comum da língua e sua utilização matemática não se
deve ao emprego de um vocabulário particular, mas à maneira específica de designar
verbalmente os dados de um problema: é preciso cruzar determinações semânticas
diferentes porque a conversão dos enunciados no registro das escritas simbólicas não
pode ser direta.
A conversão dos enunciados das situações para os registros matemáticos não é direta
porque há necessidade de uma representação auxiliar de transição, não só para os problemas
aditivos, mas para todos os enunciados de situações. Cabe destacar que, as representações
auxiliares de transição não serão as mesmas. Portanto, para os problemas multiplicativos, foco
de interesse desta pesquisa, torna-se essencial identificar as representações auxiliares de
transição potenciais para a resolução de tais problemas. Na Figura 9 tem-se um indicativo de
que as representações tabulares podem contribuir na conversão dos enunciados dos problemas
multiplicativos em registros matemáticos.
Nesse contexto, na próxima seção, recorre-se ao trabalho realizado por Vergnaud (1993,
2009a) no que tange aos problemas do campo das estruturas multiplicativas com intuito de
confirmar e ampliar o entendimento acerca da importância das representações auxiliares de
transição na resolução destes problemas, bem como analisar os tipos de problemas
multiplicativos e suas relações com o raciocínio proporcional e a proporcionalidade. Busca-se,
também, nas ideias de Lamon (2007, 2008) apresentar outros aspectos sobre a natureza
multiplicativa do raciocínio proporcional e da proporcionalidade.
Conforme Vergnaud (1993, 2009b), é por meio do conjunto de situações que os sujeitos
atribuem sentindo ao conceito e, progressivamente, permite significá-lo. O conjunto de
invariantes operatórios estruturam as formas de organização da atividade (esquemas). Em
outros termos, é neste conjunto de objetos, propriedades e relações que baseia-se a
operacionalidade do conceito. Cabe ao conjunto de representações (linguísticas e simbólicas)
representar os conceitos e suas relações (propriedades, procedimentos). Assim, a aquisição de
um campo de conceitual não pode ser resumida a um conjunto de regras, fórmulas ou
definições, também, não pode ser explorada em uma única etapa da escolaridade.
Percebe-se que a teoria dos Campos Conceituais enfatiza a noção de conceito e o tripé
que subjaz a sua formação para a aprendizagem e desenvolvimento cognitivo, entendendo a
situação como referência para os objetos matemáticos, os invariantes como significado e as
representações como significante. Do ponto de vista de Duval (204, 2011) a conceitualização
em Matemática é eminentemente semiótica, centrando-se na diversidade de registros de
representação semiótica e na coordenação destes registros para aprendizagem desta disciplina,
conforme mencionado na seção 2.2. Assim, há diferenças e aproximações entre estas teorias
que merecem ser analisadas para a compreensão da aprendizagem matemática.
A noção de esquema44, identificada na definição de campo conceitual, é a organização
invariante das atividades para uma certa classe de situações. Em outras palavras, tem uma parte
estável na organização da atividade, por isso, que o termo invariante não trata da atividade, mas
da organização desta. Um esquema se dirige a uma classe de situações e não apenas a uma
situação. O esquema, assim como o conceito, tem caráter universal para todas as situações de
44
A noção de esquema utilizada por Gérard Vergnaud foi desenvolvida, primeiramente, por Piaget.
62
uma classe. Além disso, ele possui um “papel central no funcionamento da representação dos
conceitos, pois proporciona o vínculo entre a conduta do sujeito e a representação e,
consequentemente, a conceitualização” (COLOMBO, 2008, p. 123).
O desenvolvimento de esquemas é um dos objetivos da instituição escolar. Para tanto, é
preciso analisar quais situações serão propostas aos estudantes. Vergnaud (1996, p. 156)
descreve duas classes de situações, a saber:
1 - classes de situações para as quais o sujeito dispõe, no seu repertório, num dado
momento do seu desenvolvimento, e em determinadas circunstâncias, das
competências45 necessárias ao tratamento relativamente imediato da situação;
2 - classes de situações para as quais o sujeito não dispõe de todas as competências
necessárias, o que o obriga a um tempo de reflexão e de exploração, a hesitações, a
tentativas abordadas, conduzindo-o, quer ao êxito, quer ao fracasso.
Propor situações em que os estudantes não dispõem dos esquemas necessários para
resolvê-las e, portanto, precisam aceitar a mudança de esquema, são importantes porque
possibilitam uma nova organização da atividade.
Entende-se que, sob a ótica dos RRS, a primeira classe de situações quando relacionadas
a conceitos matemáticos, pode ser interpretada, como problemas em que os sujeitos conseguem
discriminar as unidades de sentido pertinentes do registro de representação, no qual a situação
foi proposta, e transformá-lo em outro(s) registro(s). Caso a situação seja dada no registro da
língua natural, o sujeito conseguiu mobilizar representações auxiliares de transição. No caso da
segunda classe de situações, o sujeito ainda não consegue converter espontaneamente um
registro de representação em outro do mesmo objeto.
Ainda, em relação a noção de esquema, Vergnaud (2009b, p. 21) analisa a formação
destes a partir de quatro componentes, a saber: “um objetivo, subobjetivo e antecipações; regras
em ação de tomada de informação e de controle; invariantes operatórios: conceitos em ato e
teoremas em ato; possibilidade inferências em situação”. O primeiro componente refere-se as
antecipações das finalidades a serem alcançadas, dos efeitos a considerar e das etapas
intermediárias eventuais. O segundo componente trata das regras de ação que possibilitam gerar
a sequência de ações e levantar informações, bem como das ações controle que permitem ao
sujeito verificar o que está realizando.
O terceiro componente do esquema, invariantes operatórios, recebe uma atenção
especial na teoria de Vergnaud (1996, 2009b), sendo considerado um dos três elementos que
compõem a base da formação de uma campo conceitual (Figura 11). Os invariantes operatórios
são os conhecimentos contidos nos esquemas de ação do sujeito. Estes conhecimentos são
45
A ideia de competência pode ser compreendida como combinações de esquemas (GITIRANA et al., 2014).
63
Duval (2011), mencionadas na seção anterior, podem contribuir para identificar os elementos
pertinentes citados por Moreira (2012) como uma das dificuldades dos estudantes na resolução
de situações.
Quanto ao quarto componente dos esquemas, possibilidade de inferências em situações,
Vergnaud (1996, 2009b) refere-se a possibilidade de determinar as regras e as antecipações por
meio das informações e do sistema de invariantes operatórios de que dispõe o sujeito.
Diante desse contexto, é relevante registrar que o binômio sujeito-situação é outro
conceito-chave da teoria dos Campos Conceituais. Vergnaud (2010)46 afirma que, para
aprender, os sujeitos se adaptam as situações e estas não são apenas uma, mas um conjunto de
situações. Esta adaptação se dá por meio de uma organização da atividade (mobilização de
esquemas). Assim, não é por meio de uma única situação que o sujeito se apropria dos conceitos,
porque os conceitos não se formam sozinhos e uma situação não é resolvida por um único
conceito, é preciso um campo conceitual.
O conceito de situação utilizado por Vergnaud (1993, 1996, 2009b) refere-se a “um
dado complexo de objetos, propriedades e relações num espaço de tempo determinado,
envolvendo o sujeito e suas ações” (FRANCHI, 2002, p. 158). Para o autor, o primeiro ato de
mediação do professor é a escolha das situações. Nesta perspectiva, é importante selecionar
situações que permitam aos estudantes ampliarem seu repertório de esquemas e representações.
Ao mesmo tempo torna-se necessário um olhar cuidadoso para as situações propostas
em cada ano letivo, pois muitas vezes o professor propõe uma situação porque está nos livros
didáticos ou em outros materiais, mas desconhece a importância futura, podendo não atuar de
maneira adequada na problematização das mesmas, dificultando a elaboração de generalizações
e abstrações por parte dos estudantes. Por exemplo, o trabalho com padrões e sequências
numéricas, frequentemente realizado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, pode contribuir
na familiarização da noção de variável, relevante para a aquisição do conceito de
proporcionalidade. (PAVAN, 2010). Para tanto, precisa explorar a atividade matemática
“colocar em correspondência”, destacada por Duval (2011).
Vergnaud (2011), também, chama atenção para a importância das diferentes etapas do
ensino ao tratar dos conceitos de longo prazo e curto prazo na aprendizagem da matemática. O
longo prazo refere-se a perspectiva de desenvolvimento, visto que não é num ano letivo que o
estudante adquire um conceito, mas, sim, ao longo da escolarização, passando por numerosos
46
Anotações da palestra intitulada “Design e Engenharia em Didática das Matemáticas” proferida por Vergnaud,
na Universidade Bandeirantes (UNIBAN), em 2010, no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática.
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=pU7um4GX5XQ>. Acessado em maio de 2016.
65
Concorda-se com Colombo (2008) ao afirmar que uma das principais diferenças entre a
teoria dos RRS e a dos Campos Conceituais está no fato de que Vergnaud, mesmo considerando
a importância das representações, entende que a fonte e o critério da conceitualização referem-
se a ação do sujeito aprendiz na resolução de um conjunto de situações. No entanto, as
diferenças identificadas nas teorias não impedem a utilização de alguns dos seus pressupostos
para analisar o processo de ensino e aprendizagem da Matemática. Assim, da teoria dos RRS
evidencia-se as noções de transformações cognitivas (tratamento e conversão), em particular, a
noção de representação semiótica de transição. Da teoria dos Campos Conceituais toma-se a
noção de situações para referenciar os objetos matemáticos e as categorias da estrutura
multiplicativa (descritas na subseção 2.3.1.2). Porque compreende-se que ao se deparar com
uma variedade de situações, em especial, envolvendo o raciocínio proporcional e a
proporcionalidade, o estudante terá que mobilizar e coordenar diversos registros de
representação semiótica para resolvê-las, atribuindo significados para os procedimentos
utilizados. O esquema (Figura 12) apresenta conceitos das duas teorias (RRS e Campos
Conceituais) essenciais para a aprendizagem matemática.
47
O campo conceitual das estruturas aditivas é definido por Vergnaud (1993, p. 9) como o conjunto das situações
que requerem uma ou várias adições ou subtrações e “o conjunto dos conceitos e teoremas que permitem analisar
tais situações como tarefas matemáticas”.
48
Anotações da palestra intitulada “Ensinando a multiplicação da pré-escola ao fim do 1º grau” proferida no
Seminário Internacional Satélite do 34º Congresso de Psicologia d Educação Matemática – PME na Universidade
Bandeirantes (UNIBAN).
68
dois espaços de medidas, em que existe, para cada número, em um espaço de medida, outro
número correspondente no outro espaço de medida.
Ao abordar o campo das estruturas multiplicativas, Vergnaud (2009) sublinha que
podem ser distinguidas duas categorias de relações, a saber: ternárias e quaternárias. A mais
importante é a relação quaternária, pois “forma o tecido da grande maioria dos problemas
multiplicativos” (p.239) e não a relação ternária. Contudo, no ensino, geralmente, se trabalha
todos os problemas do campo das estruturas multiplicativas como se envolvesse uma relação
ternária, o que torna problemático o desenvolvimento do raciocínio proporcional, visto que este
depende da compreensão e da capacidade de utilização destas estruturas.
É relevante conceituar essas duas relações que comportam uma multiplicação e/ou
divisão. De acordo com Vergnaud (2009a, p. 71) as relações quaternárias possuem a seguinte
forma: “‘𝑎 está para 𝑏 assim como 𝑐 está para 𝑑’, [reafirmando] que a relação entre 𝑎 e 𝑏 é a
mesma que a relação entre 𝑐 e 𝑑”. Em relação as relações ternárias, estas conectam três variáveis
entre si, ou seja, 𝑎 × 𝑏 = 𝑐, estas são variáveis de mesma espécie.
Os problemas do campo das estruturas multiplicativas, pertencem a três grupos: i)
isomorfismo de medidas; ii) produto de medidas; e iii) proporções múltiplas. O isomorfismo de
medidas refere-se a relação quaternária entre quatro quantidades, de naturezas distintas duas as
duas. O eixo produto de medidas ou comparação múltipla trata da composição cartesiana de
duas quantidades de mesma natureza para determinar uma terceira, o que requer uma relação
terciária. Já o eixo proporções múltiplas, também, refere-se a relações quaternárias, em que há
mais de duas quantidades relacionadas duas a duas. (VERGNAUD, 2009a).
Diante desse contexto, para aprofundar os entendimentos acerca do campo das
estruturas multiplicativas, recorre-se ao esquema (Figura 13) elaborado pelos pesquisadores
Magina, Merlini e Santos (2011), fundamentados nas ideias de Vergnaud (2009a) e Nunes et
al. (2009). Entende-se que esse modelo sintetiza os diferentes conjuntos de situações desse
campo, bem como, contribui para as pesquisas no que tange a categorização das situações e
para as escolhas didáticas dos professores.
No esquema, verifica-se as duas relações que abrangem as situações multiplicativas,
destacadas por Vergnaud (2009a): quaternárias e terciárias. As relações quaternárias são
constituídas por dois eixos: proporção simples e proporção múltipla e nas terciárias destaca-se
os eixos: comparação multiplicativa e produto de medidas.
Como o foco desta pesquisa é o raciocínio proporcional e a proporcionalidade descreve-
se com maiores detalhes as relações quaternárias, evidenciando seus dois eixos (proporção
69
O eixo proporção simples envolve uma relação entre quatro quantidades, de naturezas
distintas duas a duas. Este eixo pode ser subdividido em duas classes de situações: um para
muitos e muitos para muitos. E, estas classes de situações podem envolver variáveis discretas
ou contínuas. Na classe um para muitos, pode-se ter três situações que requerem níveis de
complexidade diferentes, a saber: multiplicação, divisão partitiva e divisão quotitiva.
(MAGINA; MERLINI; SANTOS; 2011; SILVESTRE, 2012). O formato das situações da
classe um para muitos é apresentado no Quadro 2.
49
Ver Santos (2012); Merlini (2012); Gitirana et al. (2014) para uma discussão detalhada do eixo produto de
medida.
70
Caso a análise funcional seja escolhida (Figura 15), realiza-se a passagem de uma
categoria de medida à outra, ou seja, o número de figuras é igual a taxa (5 - número de figuras
71
Se for utilizada a estratégia funcional (Figura 18), verifica-se que o número de figuras
por embalagem é 5 (taxa). Na representação algébrica a situação é dada por: 𝑓(𝑥) = 5𝑥, em
que 𝑓(𝑥) representa o número total de figuras e 𝑥 a quantidade de embalagens (𝑓: ℕ → ℕ).
Correa e Spinillo (2004, p. 110) chamam a atenção para as situações envolvendo divisão
partitiva (distribuição) porque a resolução pode ser feita recorrendo a um
[...] raciocínio aditivo em que vai acrescentando mais um elemento a cada rodada até
que não haja mais elementos para uma nova distribuição. No entanto, dividir, como
73
uma operação multiplicativa, implica que a criança possa também prestar atenção às
relações entre as quantidades em jogo. Implica, em outras palavras, poder estabelecer
relações de covariação entre os termos envolvidos na operação.
Segundo Gitirana et al. (2014, p. 62), nas situações de divisão quotitiva os estudantes
não entendem, por exemplo, como dividir 75 figuras por 15 figuras, resulta em 5 embalagens.
O número de embalagens é compreendido pelo estudante como uma nova grandeza,
principalmente, quando a resolução evidencia o cálculo numérico. Neste sentido, “o uso da
razão já não é mais tão simples, pois ela terá que ser identificada pelos estudantes sem o valor
da unidade”. Talvez, a identificação da relação entre as variáveis de naturezas diferentes
(análise funcional) seja a estratégia que melhor justifique a variável embalagens na solução da
𝑓𝑖𝑔𝑢𝑟𝑎𝑠
situação (Figura 20), pois são: 75 𝑓𝑖𝑔𝑢𝑟𝑎𝑠 ÷ 15 (𝑒𝑚𝑏𝑎𝑙𝑎𝑔𝑒𝑚) = ? 𝑒𝑚𝑏𝑎𝑙𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠.
74
O exemplo (Figura 22) mostra uma situação da classe muitos para muitos e resolução
pelas análises escalar e funcional. Na resolução apresentada a esquerda há um operador escalar
que transforma as quantidades do mesmo tipo. Já a resolução a direita utiliza a relação linear
funcional entre os elementos correspondentes dos espaços de medidas.
75
Para resolver essa situação por meio da análise escalar o estudante pode buscar o valor
correspondente a unidade (se 3 novelos correspondem a 200 g, então 1 novelo corresponde a 𝑥
g) e assim trabalharia com um escalar inteiro ou determinaria o número racional que permite
solucionar a situação (que é a aplicação sucessiva de dois operadores ÷ 3 e × 8). Na análise
200 𝑔
funcional o operador 𝑓 desta situação é dado por . Segundo Vergnaud (2009a, p. 252)
3 𝑛𝑜𝑣𝑒𝑙𝑜𝑠
a “análise dessa correspondência em termos de função é, [...], muito mais delicada porque
implica não somente a noção de relação numérica, mas também aquela de quociente de
dimensões (no caso, gramas/novelos)”.
Acredita-se que as dificuldades sublinhadas por Vergnaud (2009a) na utilização da
análise funcional estão relacionadas, em especial, a identificação das estruturas centrais do
conceito de função, a saber: variável, correspondência, dependência, regularidade e
generalização (CARAÇA, 2003), imprescindíveis ao conceito de proporcionalidade, visto que
este está presente no pensamento multiplicativo implícita ou explicitamente e faz parte do
campo conceitual das funções.
Para Pavan (2010) o conceito de multiplicação se constrói e ao mesmo tempo serve de
apoio ao desenvolvimento das ideias básicas do conceito de função. Compreende-se que as
concepções de Pavan (2010) são relevantes mas, para tanto, o pensamento funcional deveria ser
abordado desde os Anos Iniciais do Ensino Fundamental e as situações propostas estariam
voltadas para o tipo de variação e dependência das variáveis envolvidas, principalmente, nas
situações proporcionais. Além disso, o trabalho com as representações auxiliares de transição,
evidenciado por Duval (2011, 2012), por exemplo, tabular precisa ser intensificado, visto a
76
possibilita esclarecer e explicitar a noção, “muito vaga”, de raciocínio, pois este tipo de cálculo
envolve mais que operações usuais da matemática (cálculo numérico).
Em outros termos, envolve também as operações de pensamento fundamentais para que
a manipulação das relações envolvidas na situação seja possível (GITIRANA et al., 2014).
Assim, ao escolher as situações o professor pode e deve levar em conta a classe de problemas,
pois abordar a mesma classe, na maioria das vezes, prejudica o estudante na ampliação do seu
conhecimento em relação ao cálculo relacional.
Ao tratar de raciocínio, em específico, o raciocínio matemático, recorre-se as ideias de
Oliveira (2009, p. 55, tradução nossa) que entende este como “uma atividade que permite as
pessoas organizarem seu conhecimento, numa sequência lógica que lhes permite atingir uma
conclusão, e, assim, produzir novos conhecimentos50”. Há diferentes tipos de raciocínios
matemáticos mobilizados no fazer matemática, a saber: intuitivo (presente na produção da
matemática, na formulação de novas conjecturas a serem testadas e validadas posteriormente);
lógico-dedutivo (próprio da Álgebra e Geometria, baseado em suposições explícitas, está
relacionado às provas de propriedades em todos os campos da Matemática); visão geométrico-
espacial (relacionada ao entendimento da geometria e de suas aplicações); e, não-determinístico
(ligado a estatística e a probabilidade) (BRASIL, 2014).
Neste sentido, compreende-se que a materialização do cálculo relacional (raciocínio
matemático) nas situações do campo das estruturas multiplicativas pode se dar por meio da
representação auxiliar de transição, representação tabular. Esta representação auxiliar
contribui na conversão dos demais registros (numérico, algébrico, gráfico), discriminando as
unidades de sentido do conteúdo das representações, proporcionando a aquisição do conceito
de proporcionalidade e o desenvolvimento do raciocínio proporcional.
Entende-se que as discussões já mencionadas sobre aprendizagem matemática, na
perspectiva de Duval (2004, 2011, 2012), e as problematizações da natureza multiplicativa do
raciocínio proporcional e da proporcionalidade, sob a ótica de Vergnaud (1993, 1996, 2009a),
ainda, exigem aproximações e, principalmente, diferenças no que tange a gama de conceitos
matemáticos a eles relacionados, principalmente, relações com os números racionais. Assim,
na próxima seção apresenta-se as ideias de Lamon (2007, 2008) para o desenvolvimentos do
raciocínio proporcional e aquisição do conceito de proporcionalidade.
50
[...] raisonnement mathématique est une activité qui permet aux individus d'organiser leurs connaissances, en
suivant une certaine logique qui leur permet d'arriver à une conclusion, et par là de produire de nouvelles
connaissances.
79
51
Central conceptual structures are critical systems—built-in and subject to developmental ceilings, and partly
nurtured through instruction—including content, action, associations with appropriate contexts, representations,
and a web of conceptual relations both within and between them. They are built up by a complex interaction of
knowledge and experience over a long period of time and are called central because they constitute part of the
very backbone of mathematics, ideas and processes and representations that are recurrent, recursive, and of
increasing complexity across mathematical and scientific domains. (LAMON, 2007, p. 652).
80
como o ato de medir requer três fases e três aspectos bem distintos: escolher a unidade,
comparar a grandeza a ser medida com a unidade e exprimir o resultado dessa comparação por
um número; o conjunto dos números racionais também não dá conta do ato de medir e há
necessidade, novamente, de criação de outro campo numérico, o dos irracionais. Por exemplo,
para medir a diagonal de uma quadrado, tomando como unidade seu lado, verifica-se que não
há um número racional que represente esta medida.
Esta discussão acerca do ato de medir exige um questionamento: qual a importância da
noção de medida para o desenvolvimento do raciocínio proporcional? Os conceitos
relacionados a ideia de medida estão presentes na constituição dos números racionais que, por
sua vez, são fundamentais ao desenvolvimento do raciocínio proporcional. Segundo Lamon
(2008, p. 40, tradução nossa) toda a interpretação do número racional pode ser entendida como
uma medida, visto que:
uma fração [comparação] parte-todo mede a relação multiplicativa de uma parte com
o todo à qual pertence;
uma razão mede grandezas relativas;
uma taxa como a velocidade é uma quantificação do movimento;
um quociente é uma medida de quanto 1 pessoa recebe quando 𝑚 pessoas
compartilham 𝑛 objetos;
um operador é uma medida de alguma mudança numa quantidade a partir de um
estado anterior;
como uma medida, um número racional quantifica diretamente uma qualidade, tal
como comprimento ou área52.
todo; razão (taxa é uma razão especial – razão entre variáveis de espaços de medida diferentes);
quociente; operador e medida. Estas interpretações do número racional também são
identificadas como um dos “nós” da rede (Figura 25).
Ao analisar as propostas curriculares dos Estados Unidos da América, Lamon (2008)
afirma que estas subestimam a importância da necessidade de medir, principalmente, no início
do estudo de frações porque as situações propostas não proporcionam a compreensão dos
princípios de medição (conservação da distância e área; deslocamento e particionamento;
relação entre unidades). As situações selecionadas para trabalhar a propriedade de densidade
dos racionais também, nem sempre, contribuem para a compreensão de que há um número
infinito de racionais entre qualquer par de racionais, permitindo que a aproximação torne-se
52
[...] a part–whole fraction measures the multiplicative relationship of a part to the whole to which it belongs; a
ratio measures relative magnitude; a rate such as speed is a quantification of motion; a quotient is a measure of
how much 1 person receives when m people share n objects; an operator is a measure of some change in a quantity
from a prior state; as a measure, a rational number directly quantifies a quality such as length or area.
82
cada vez mais próxima a uma medição. Esta noção, denominada limite, é um conceito
importante da Matemática abordada nos cursos superiores, “está no coração do cálculo”. A
pesquisadora, também, menciona que a maioria das atividades envolve transformação de
unidades. Nestas atividades a relação fixa entre as grandezas (eixo: comparação multiplicativa),
geralmente, não é evidenciada, sendo resolvidas por meio do algoritmo da operação de
multiplicação.
Outro aspecto relevante da noção de medição é conseguir discernir quando a contagem
e a medição direta são procedimentos inadequados. Este aspecto, também, é um ponto frágil do
currículo, segundo Lamon (2008), pois os estudantes se deparam com situações que envolvem
características que não podem ser medidas diretamente (inclinação, velocidade, densidade), ou
seja, a medida é uma nova quantidade que é formada por uma relação entre duas outras, sem
um trabalho específico para a medição das características qualitativas.
É preciso “tempo para analisar tais características como intensidade de cor, acidez,
arredondamento, concentração de uma bebida e a lotação de um elevador, por exemplo, e se
envolverem na justificava e argumentação sobre como medi-los53” (LAMON, 2008, p. 43,
tradução nossa). Para Lamon (2008) o ato de medir e a medição não precisam ser um item
específico nos materiais curriculares, mas oportunidades de trabalhar com estas noções devem
ser promovidas ao longo da escolaridade. Entende-se que a utilização da análise funcional por
meio da mobilização da representação auxiliar de transição (representação tabular) possibilita
a compreensão da medição das características qualitativas nas situações do campo das estruturas
multiplicativas porque torna explícita a taxa de variação entre as variáveis.
A noção de medição está intrinsecamente relacionada ao pensamento relativo (outro
“nó” da rede, Figura 25) e este ao desenvolvimento do raciocínio proporcional. Isto porque a
resolução de situações proporcionais exige a capacidade de analisar mudanças tanto em termos
absolutos quanto em termos relativos.
Por exemplo, ao comparar o número de meninas de duas famílias diferentes (Quadro 3),
pode-se verificar variações em termos absolutos (raciocínio aditivo) e relativos (raciocínio
multiplicativo): o número de meninas em cada família, representa uma variação absoluta
quando analisado o valor absoluto (2), e uma variação relativa quanto analisado em relação ao
total de crianças, ou seja, o número de meninas na família de King representa 50% e na família
53
[...] need time to analyze such characteristics as color intensity, sourness, roundness, the oranginess of a drink,
and the crowdedness of an elevator, for example, and to engage in argumentation and justification about how to
measure them.
83
54
Assuming that both pizzas are identical, how much more pizza (the shaded portion) is in pan B? How many
times could you serve the amount of pizza in pan A out of the pizza in pan B?
55
Invariance is not a priori datum of the mind, nor is it simply a matter of empirical observation. It is an abstraction
and students reach it in their own time. It is related to many rational number ideas: equivalence, the idea of showing
the same relative amount, and the relationship between the four quantities in a proportion, just to name a few.
85
possibilitam mensurar quantidades e analisar como estas quantidades (do mesmo espaço de
medidas) variam, bem como, identificar a invariância. Para tal, é preciso enfatizar a relação
quaternária.
Nesta perspectiva, pode-se afirmar que o raciocínio proporcional envolve relações
numéricas de ordem multiplicativa que se constituem entre duas variáveis proporcionais, o que
exige o entendimento de uma relação constante entre as duas variáveis (invariância) e de que
estas variam em conjunto (covariação).
Assim, os estudantes que possuem o senso de covariação analisam quantidades que
variam juntas, falam sobre a mudança e a taxa de mudança com facilidade e determinam as
relações que permanecem inalteradas. (LAMON, 2008). Para desenvolver o senso de
covariação e a invariância não é preciso propor um número exagerado de atividades, é
importante estar ciente do tipo de situações que potencializam fazer perguntas sobre as
quantidades e mudanças.
Lamon (2008) sugere alguns tipos de situações que contribuem para os estudantes
analisarem as diferenças entre objetos e os seus tamanhos relativos, bem como situações que
potencializam o entendimento da invariância. Para o primeiro caso, dois tipos de situações são
apresentadas: (i) atividades que requerem comparar a imagem de um objeto a algo externo,
normalmente o objeto real (explorar o conceito de escala); e (ii) atividades que questionem
sobre relações internas a um objeto (Quadro 5).
manipuláveis, por exemplo, Barras de Cuisenaire56, Frac-Soma 23557, nas quais sejam
propostas questões de comparação entre os tamanhos das peças duas as duas, três a três, entre
outras.
A atividade exposta no Quadro 6 permite explorar o que foi alterado e o que permanece
inalterado no conjunto de fichas. Percebe-se que apenas o agrupamento das fichas foi alterado,
pois o número de fichas permanece o mesmo. Em ambos os agrupamentos, cada grupo
apresentou duas fichas pretas para cada ficha branca. Esta relação constante pode ser expressa
como uma razão: 1: 2.
No Quadro 7 há exemplos de situações que exploram analogias. Conforme Lamon
(2008) a análise destas analogias possibilita um meio alternativo e abstrato para estudar as
relações. Pois há uma relação entre o primeiro par de termos e o objetivo é fornecer o termo
faltante no segundo par de modo que ele exponha uma relação semelhante. Cabe destacar que,
é preciso explicar o relacionamento que conduz à resposta, caso contrário, pode-se completar
uma analogia meramente fazendo associações e sem pensar na semelhança relacional.
56
Este material Cuisenaire é formado por várias barras de madeira, sem divisão em unidades e com tamanhos
variando de uma até dez unidades. Para cada tamanho há cor específica associada. Foi criado pelo belga Georges
Cuisenaire Hottelet (1891-1980). (LORENZATO, 2006).
57
Este é um material didático elaborado pelo professor Roberto Ribeiro Baldino. Tem por objetivo auxiliar no
estudo de frações. É constituído por barras de mesmo tamanho (por exemplo, 60 centímetros), divididas em peças
congruentes, com divisores múltiplos de 2, 3e 5. (BALDINO, 1983).
87
Observa-se que, duas colunas podem representar 1/3, assim como, uma linha (6 círculos
de 18). Para representar 1/9, pode-se tomar dois círculos. A representação de 1/36 requer que
cada círculo seja dividido em 2, após, deve-se considerar um círculo inteiro e uma metade (1
1/2 círculo). Atividades como esta contribuem na compreensão das operações com número
racional na representação fracionária. (LAMON, 2008).
Lamon (2008) afirma que o currículo planejado (livros didáticos) raramente incentiva
a unitização. As situações propostas, por estes materiais, não favorecem o desenvolvimento do
uso flexível de unidades. Este fato é preocupante porque a unitização contribui na compreensão
88
Constata-se, na definição dada por Oliveira (2014) com base em Lamon (2008), que
esses raciocínios evidenciam a noção de unidade de medida no estudo de situações envolvendo
número racional (representação fracionária). A ênfase dada a unidade deve-se ao fato de que o
ensino de fração tem explorado esta noção como um único objeto. No entanto, quando se trata
de frações a unidade não precisa ser um objeto (pizza, barra de chocolate), pode ser um conjunto
de objetos representando-a. A atividade reproduzida no Quadro 10 exemplifica esta afirmação.
58
No original Reasoning Up and Down (LAMON, 2007, 2008).
89
Ressalta-se que cada fração é uma quantidade relativa e esta informa quanto da unidade
foi considerado. Se o estudante não compreender a importância da unidade no estudo de número
racional na representação fracionária o desenvolvimento do raciocínio proporcional ficará
comprometido em função das dificuldades na mobilização dos raciocínios progressivo e
regressivo. (LAMON, 2008).
As unidades podem ser definidas implicitamente. As situações que atendem este critério
são consideradas, por Lamon (2008), como potenciais para desenvolver os raciocínios
progressivo e regressivo. Uma vez que, como já mencionado na definição destes raciocínios,
permitem pensar acima de alguma fração da unidade e voltar abaixo a partir da unidade para
outra fração. A atividade apresentada no Quadro 11 exemplifica a afirmação.
Considerando , então: Se 6 seções são 3/4, em seguida, duas seções são1/4 e 8 seções são 4/4
ou 1.
*Representação tabular:
3
6 𝑠𝑒çõ𝑒𝑠 → 𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
4
1
2 𝑠𝑒çõ𝑒𝑠 → 𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
4
4
8 𝑠𝑒çõ𝑒𝑠 → 𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
4
As frações tem sua origem na ideia de partilha, no ato de particionar a unidade (discreta
ou contínua). Este ato é denominado particionamento, processo pelo qual um objeto (ou vários)
são divididos em um número de partes disjuntas, finitas e iguais, isto é, as partes não são
sobrepostas e todas elas compõem a unidade.
O processo de particionamento situa-se no “coração” da compreensão de número
racional e de suas diferentes representações (fracionária, decimal- unidade dividida em 10
partes, percentual). Além disso, ele está relacionado aos dois invariantes operatórios das
frações, a saber: equivalência e comparação. Com base nestes entendimentos Lamon (2008)
propõe, como um dos nós da rede de aspectos centrais no desenvolvimento do raciocínio
proporcional, a partilha e comparação.
90
As crianças possuem boas estratégias intuitivas para compartilhar objetos, mas podem
precisar de alguns lembretes sobre as regras para o particionamento: a unidade deve ser dividida
em partes iguais; se uma unidade é constituída por mais de um item, estes devem ser do mesmo
tamanho; igualdade significa de montante igual (não precisa ter o mesmo número de peças);
partes iguais não tem que ter a mesma forma. (LAMON, 2008). Destaca-se que, geralmente, as
atividades de particionamento propostas aos estudantes envolvem números naturais e podem
ser categorizadas como situações de divisão partitiva (uma das classes das situações
proporcionais simples, destacadas por Vergnaud (2009a)).
Mais do que particionar é importante comparar. Por exemplo, nas atividades de
particionamento, além de sombrear uma figura para visualmente julgar que 2/3 de uma barra
de chocolate é mais do que 1/2 da barra, deseja-se saber quanto mais. Em outras palavras,
espera-se que análise da situação vá além dos julgamentos qualitativos. Para quantificar quanto
mais ou quanto menos é necessário o entendimento de equivalência e ordem e este processo se
desenvolve no decorrer de um longo período de tempo. (LAMON, 2008).
Outro nó da rede, refere-se as interpretações do número racional. Para apresentar estas
interpretações, organizou-se o Quadro 12 com o intuito de sintetizar as noções principais com
base nas ideias de Lamon (2007, 2008), Onuchic e Allevato (2008), Oliveira (2014), Romio et
al. (2010), Soares (2007). É importante registrar que as interpretações parte-todo e medida são
apresentadas juntas, em função, das relações que podem ser estabelecidas entre elas. Além
disso, ao explicitar a interpretação razão, sublinha-se seu caso particular – taxa - em função da
relevância desta para o entendimento do conceito de proporcionalidade.
de área é uma maneira conveniente para ilustrar estas composições. Na Figura 26 percebe-se
que o inteiro, primeiramente, foi dividido em 4 partes (divisão realizada no sentido vertical),
tomando-se 3 destas partes; depois foi dividido em 3 partes (divisão feita no sentido horizontal),
6 1
tomando-se duas partes, ou seja, a ação dos dois operadores sobre o inteiro resulta em 12 = 2.
59
[...] lengthen or shorten line segments, increase or decrease the number of items in a set of discrete objects,
ortake a figure in the geometric plane, such as a triangle or a rectangle, and map it onto a larger or smaller figure
of the same shape.
60
[...]the significant relationship is the comparison between the quantity resulting from an operation and the
quantity that is acted upon.
92
Figura 26: Exemplo de composição de operadores para resolver multiplicação de números racionais
3 2
A Figura 27 mostra os procedimentos realizados para determinar ÷ 3, por meio da
4
Figura 27: Exemplo de composição de operadores para resolver divisão de números racionais
(na quarta pizza). (LAMON, 2008). Analisando as representações figurais elaboradas constata-
se uma evolução nas construções, sendo que as marcações sem cortes mostram uma transição
entre a contagem de pedaços e a equivalência.
As interpretações do número racional parte-todo, razão e taxa, são problematizadas por
Lamon (2007, 2008), no que tange as diferenças e aproximações, visto que em muitos materiais
curriculares os termos são utilizados como sinônimos, podendo dificultar o desenvolvimento
do raciocínio proporcional. Como mencionado acima, na sequência, apresenta-se argumentos
para diferenciar e aproximar estas interpretações do número racional.
A distinção entre fração, razão e taxa foi uma tarefa realizada por vários pesquisadores
(BEHR et al., 1988; SCHWART, 1988 apud LAMON, 2007; VERGNAUD, 1983 apud
LAMON, 2007). As primeiras distinções entre razão e taxa estavam relacionadas a
comparações dentro e entre espaços de medidas. Uma razão foi definida como uma comparação
entre quantidades semelhantes (por exemplo, 𝑟𝑒𝑎𝑖𝑠 𝑅$: 𝑟𝑒𝑎𝑖𝑠 𝑅$). Já uma taxa foi considerada
uma comparação de quantidades diferentes (por exemplo: 𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎: 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜). Behr et al.
94
(1998) e Lamon (2007, 2008) apontam que esta diferenciação gerou alguns problemas, por
exemplo, 4 𝑞𝑢𝑎𝑟𝑡𝑜𝑠61: 1 𝑑ó𝑙𝑎𝑟, é uma taxa ou uma razão?
A fim de reduzir as ambiguidades na conceituação de fração, razão e taxa, Lamon (2008)
define razão como uma comparação62 de quaisquer duas quantidades; e esta pode ser utilizada
para conceber uma ideia que não pode ser expressa como um único número. Nesta primeira
definição, percebe-se uma diferença entre razão e fração, pois a última, segundo a autora, é um
número racional não negativo, ou seja, no conjunto dos números racionais, a representação
𝑎
, (𝑎 𝑒 𝑏 inteiros positivos ou negativos), com restrição para o valor de 𝑏, o qual precisa ser
𝑏
61
Os estadunidenses por convenção utilizam o termo 𝑞𝑢𝑎𝑟𝑡𝑜 para referir-se a 𝑈𝑆$ 0,25.
62
É importante registrar que a atividade de comparação está relacionada a constatação da relação entre grandezas
ou quantidades. Esta relação pode ser de diferentes formas: ordem (comparar idades para determinar quem é o
mais velho por meio da diferença), esta comparação pertence ao campo das estruturas aditivas; razão (comparar
as idades por meio do produto ou quociente), esta comparação pertence ao campo das estruturas multiplicativas.
(RIPOLL et al., 2016).
63
Part–whole comparisons are ratios that compare the measure of part of a set to the measure of the whole set.
Part–part comparisons compare the measure of part of a set to the measure of another part of the set.
64
I reject the use of the word fraction as referring exclusively to one of the interpretations of the rational numbers,
namely, part-whole comparisons. Because the part-whole comparison was the only meaning ever used in
instruction, it is understandable that fraction and part-whole fraction became synonymous. However, educators
now realize that restricting instruction to the part-whole interpretation has left students with an impoverished
notion of the rational numbers, and increasingly, teachers are becoming aware of the alternate interpretations or
subconstructs of the rational numbers and referring to them as operator, measure, ratio, and quotient. Part-whole
comparisons are on equal ground with the other interpretations and no longer merit the distinction of being
synonymous with fractions.
95
Assim, comparação parte-todo não precisa ser denominada fração, bem como, frações
e números racionais não são sinônimos, frações são subconjuntos dos números racionais. Já
razões, em algumas circunstâncias, são como as outras interpretações dos números racionais,
mas em outras não. Isto porque razões nem sempre são números racionais, no entanto,
comparações parte-todo, operador, medida e quociente são sempre números racionais. A razão
𝐶
da circunferência de um círculo com seu diâmetro: 𝑑, resulta no número 𝜋 que não é um número
racional, porque não pode ser expresso como o quociente de dois inteiros (medidas
comensuráveis), ele representa medidas incomensuráveis (número irracional).
Até o momento mencionou-se a comparação de medidas iguais e quando a comparação
é entre medidas diferentes, deixa de ser razão? A resposta para esta pergunta binária, é não.
Quando comparamos medidas de diferentes tipos temos uma razão e esta é utilizada para
descrever uma qualidade que é comum há muitas situações, por exemplo, 𝐾𝑚/ℎ, nestas
situações a razão torna-se uma taxa. Assim, pode-se “pensar em taxa como uma razão estendida,
uma razão que não aplica-se somente a situação em mãos mas a uma gama de situações nas
quais duas quantidades estão relacionadas da mesma forma65” (LAMON, 2008, p. 192).
As taxas são identificadas pelo uso do termo “por” (distância por tempo, velocidade por
tempo) e podem ser reduzidas a uma relação entre uma quantidade e uma unidade de outra
quantidade, sendo denominada de taxa unitária. Por exemplo, 300 quilômetros por 4 horas pode
ser expresso como 75 quilômetros por 1 hora. Neste caso, a unidade taxa é de 75 Km/h.
A inquietação em estabelecer as diferenças entre fração, razão, taxa e outros conceitos
matemáticos é uma preocupação dos educadores e psicólogos e não dos matemáticos porque os
últimos investigam a estrutura dos conceitos e não com a mobilização destes em diferentes
situações. No entanto, o uso, em geral, de forma inconsistente, dos termos fração, razão e taxa
nos contextos não matemáticos exige do professor estar atento para ajudar os estudantes a
analisar as diversas situações, pois o conhecimento conceitual emerge da resolução de situações
e cada problema traz em si vários conceitos (VERGNAUD, 2009a).
Diante desse contexto, o estudantes que compreendem as diferentes interpretações do
número racional desenvolvem a capacidade de estimar, tomar decisões, fazer julgamentos
coerentes, pensar qualitativamente e quantitativamente e resolver situações proporcionais,
movem-se de forma flexível entre interpretações e representações, capacidades estas essenciais
65
[...] think of a rate as an extended ratio, a ratio that applies not just to the situation at hand, but to a while range
of situations in which two quantities are related in the same way.
96
66
[...] consequence of understanding the nature of rational numbers.
67
[...] is a mathematical construct referring to the condition or the underlying structure of a situation in which a
special invariant (constant) relationship exists between two covarying quantities (quantities that are linked and
changing together).
68
[...] understanding the larger concept of proportionality comes about later, through interaction with mathematical
and scientific systems that involve the invariance of a ratio or of a product.
97
inversa).” As condições para que uma grandeza 𝑦 seja diretamente proporcional a uma grandeza
𝑥 (𝑦 e 𝑥 grandezas cuja medida é um número positivo) são: 1ª) 𝑦 é uma função crescente de 𝑥;
2ª) se multiplicarmos 𝑥 por um número 𝑛, o valor correspondente de 𝑦 também ficará
multiplicado por 𝑛. Analogamente, diz-se que 𝑦 é inversamente proporcional a uma grandeza
𝑥 quando 𝑦 = 𝑓(𝑥) é uma função decrescente de 𝑥 e ao multiplicarmos 𝑥 por um número 𝑛, o
valor correspondente de 𝑦 ficará divido por 𝑛. Estas duas condições não podem ser omitidas na
definição de grandezas direta ou inversamente proporcionais (LIMA, 1991).
No ensino dos conceitos de proporcionalidade e função é importante destacar que 𝑦
pode ser uma função crescente (ou decrescente) de 𝑥 sem que seja diretamente (ou
inversamente) proporcional a 𝑥. Por exemplo, a área de um quadrado é uma função crescente
do lado, mas essas grandezas não são proporcionais. No entanto, muitos estudantes utilizam
69
[...] investigating and discerning principles and regularities in problem situations before using proportions to
express those relationships symbolically, and then interpreting the symbols and what one has learned in terms of
the specific context to which they apply (as in the gas consumption problem). Mathematicians recognize this
process as mathematical modeling.
70
O que o matemático faz é analisar padrões abstratos (numéricos, formas, movimento, comportamento). Estes
padrões tanto podem ser reais como imaginários, visuais ou mentais, estáticos ou dinâmicos, qualitativos ou
quantitativos, puramente utilitários ou assumindo um interesse pouco mais que recreativo. (DEVLIN, 2002, p. 9).
98
diretamente proporcionais se o quociente entre elas é constante, por exemplo, medida do lado
de um quadrado e seu perímetro. E, duas grandezas são inversamente proporcionais se o
produto entre elas é constante.
As definições e teoremas sobre proporcionalidade são importantes porque permitem ao
estudante, mediante duas perguntas simples (𝑦 cresce quando 𝑥 cresce? ao dobrarmos,
triplicarmos, etc. o valor de 𝑥 ocorre o mesmo com 𝑦?), analisar se o modelo 𝑦 = 𝑘𝑥 se aplica
à situação considerada (LIMA, 1991). Vale ressaltar que ao analisar “uma situação que possa
envolver proporcionalidade, seja ela de natureza científica ou prática, a equação é a etapa final
da resolução de problema” (p. 139).
Segundo Lamon (2007) a constante 𝑘 desempenha um papel fundamental no
entendimento da proporcionalidade. Contudo, ela é um “personagem escorregadio”, pois sua
aparência muda conforme o contexto da situação e da representação semiótica utilizada para
expressar esta situação. “Ela frequentemente não aparece explicitamente no contexto em que
desempenha um papel, mas sim é um elemento estrutural à espera de ser descoberta sob os
99
detalhes óbvios71” (LAMON, 2007, p. 638, tradução nossa). Analisando esta afirmação de
Lamon com base na teoria dos RRS, dir-se-ia que os detalhes não são tão óbvios assim; e não
há descoberta, mas “é preciso discernir as informações pertinentes em qualquer que seja a
produção semiótica (esquemas, gráficos, figuras geométricas) e organizar as informações
pertinentes produzindo, por si mesmo, em outro tipo de representação semiótica” (DUVAL,
2015, p. 8), além daquela dada na situação.
A tarefa de determinar a constante 𝑘 em situações apresentadas em diferentes registros
de representação semiótica pode ser desafiadora para o estudante. Isto porque no registro
simbólico é uma constante, no registro numérico pode ser uma porcentagem, no registro gráfico
é o declive/inclinação, no registro tabular pode ser a diferença entre uma entrada e a anterior
(ressalta-se que esta diferença não é suficiente para determinar 𝑘) ou a taxa à qual uma
quantidade muda com respeito a outra (taxa constante). Já nos mapas (registro figural) é a
escala. Neste sentido, o significado atribuído a constante de proporcionalidade (𝑘) é específico
da situação. Assim, do ponto de vista cognitivo, reconhecer uma relação de proporcionalidade
em situações dadas em diversos registros de representação semiótica, bem como, converter uma
representação em outra é fundamental para a aquisição desse conceito. (LAMON, 2008).
De modo que, para a aquisição do conceito de proporcionalidade é fundamental que os
estudantes sejam capazes de:
-expressar os significados das quantidades e variáveis e a constante de
proporcionalidade em contextos os quais são usados;
[...]
-a capacidade de usar a proporcionalidade como um modelo matemático para
organizar em contextos apropriados do mundo real;
-a capacidade de distinguir as situações nas quais a proporcionalidade não é um
modelo matemático apropriado de situações em que é útil;
[...]
-uso de funções para expressar a covariação de 2 quantidades;
-a capacidade de explicar a diferença entre as funções da forma 𝑦 = 𝑚𝑥 e funções
da forma 𝑦 = 𝑚𝑥 + 𝑏. Na última função, 𝑦 não é proporcional a 𝑥, mas Δy é
proporcional à Δx;
-saber que o gráfico de uma situação diretamente proporcional é uma linha reta que
passa pela origem;
-saber que o gráfico de 𝑦 = 𝑚𝑥 + 𝑏 é uma linha reta que intersecta o eixo 𝑦,
𝑏 unidades da origem;
-a capacidade de distinguir diferentes tipos de proporcionalidade e associar cada um
deles com situações apropriadas do mundo real nas quais são aplicáveis: proporções
diretas, proporções inversas, proporções quadradas (𝑦 = 𝑘𝑥 2 ), e proporções cúbicas
(𝑦 = 𝑘𝑥 3 );
-saber que k é razão constante entre duas grandezas em uma situação diretamente
proporcional;
-saber que 𝑘, a constante numa situação inversamente proporcional, é simplesmente
o produto de qualquer par de valores das duas quantidades;
71
It frequently does not appear explicitly in the context in which it plays a role, but rather is a structural element
waiting to be discovered beneath the obvious details.
100
Constata-se, a partir da citação, que Lamon (2007), assim como outros pesquisadores
(ÁVILA, 1986; LIMA, 1986; PONTE et al., 2010; SILVESTRE, 2012), defende o ensino da
proporcionalidade como função e percebe-se uma preocupação com as diferentes
representações matemáticas, por exemplo, a gráfica. No entanto, é preciso ressaltar que, nem
sempre, é este o modelo escolhido no ensino, geralmente, opta-se pelo modelo baseado nas
propriedades da proporção72.
72
Maiores detalhes sobre a transposição didática do objeto proporção ver Bernal (2004).
101
O estudo da teoria dos RRS, seção 2.2, possibilitou ampliar a compreensão sobre a
aprendizagem matemática do ponto de vista epistemológico e cognitivo, visto que esta teoria
tem balizado os estudos da autora desta pesquisa. Neste sentido, destaca-se a importância das
representações semióticas para o acesso aos objetos matemáticos, pois estes não são empíricos,
são semióticos. Assim, a atividade matemática requer que sejam mobilizados e coordenados
muitos sistemas de representação semióticos, ou seja, que ocorram transformações de
representações. Estas transformações de uma representação à outra do mesmo objeto
matemático é a “condição cognitiva para poder compreender e utilizar os conceitos e
algoritmos” (DUVAL, 2014, p. 37).
Há dois tipos de transformação cognitiva o tratamento e a conversão que precisam ser
considerados na elaboração de situações para a aprendizagem matemática. Se as situações são
propostas no registro da língua natural, por exemplo, os problemas multiplicativos, é importante
a mobilização de uma representação auxiliar de transição, neste caso, a tabular, pois esta
permite discriminar as unidades de sentido pertinentes no enunciado do problema e transformar
em outros registros matemáticos. Ressalta-se que os dados do mapeamento (Apêndice B)
revelam que a teoria dos Registros de Representação Semiótica foi utilizada, apenas, na
pesquisa Vizzoli (2006). A construção elaborada na seção 2.2 evidencia a importância desta
103
teoria cognitiva na análise dos materiais curriculares, pois permite analisar o paradoxo
cognitivo da matemática, ou seja, não confundir o objeto com a representação, mesmo que o
aceso só possa ser feito por meio de representações semióticas.
A pesquisa realizada para elaborar a seção 2.3 exigiu aprofundar o entendimento de
conceitos-chave da teoria dos Campos Conceituais (subseção 2.3.1), em especial, o conceito de
situação, pois para Vergnaud (1993, 1996, 2009b) o conhecimento é elaborado em situações.
Os conceitos tem seus sentidos traçados por meio da variedade de situações. Assim, as situações
dão sentido aos conceitos e são referência dos objetos. Cada situação não pode ser analisada
por um conceito apenas, precisa-se de um campo de conceitos.
A opção por compreender os conceitos-chave da teoria dos Campos Conceituais deu-
se, principalmente, pelo interesse nos estudos realizados por Vergnaud (2009a) quanto ao
campo das estruturas multiplicativas, pois identificou-se no mapeamento (Apêndice B) que a
maioria das pesquisas busca nos tipos de problemas deste campo suporte para elaborar
sequências de ensino, analisar o desempenho de estudantes e analisar alguns materiais
curriculares (livros didáticos e materiais elaborados pelas secretarias dos estados). Além disso,
ao apresentar as categorias do campo conceitual multiplicativo (subseção 2.3.1.2) foi possível
evidenciar a natureza multiplicativa da proporcionalidade e do raciocínio proporcional, assim
como, destacar para cada classe de situações estratégias (análise escalar e funcional) que podem
ser utilizadas pelos estudantes. Confirmou-se a importância das representações auxiliares de
transição para resolver as situações por meio da análise escalar e funcional.
Sublinha-se que o esquema do campo conceitual das estruturas multiplicativas (Figura
13), elaborado por Magina, Merlini e Santos (2010), com base em Vergnaud (2009a) sintetiza
os diferentes conjuntos de situações deste campo e pode contribuir na análise e elaboração de
materiais curriculares.
Os dados do mapeamento das pesquisas (Apêndice C), também, indicam que ao tratar
do raciocínio proporcional os pesquisadores buscam respaldo teórico, principalmente, nos
estudos de Lesh, Post e Behr (1988) e as estruturas multiplicativas centrais (rede de conceitos,
Figura 25) elencadas por Lamon (2007, 2008) foram mencionadas em apenas três pesquisas
(MIRANDA, 2009; CARVALHO, 2013; OLIVEIRA, 2014). Destas apenas a pesquisa
realizada por Oliveira (2014) utilizou a rede de Lamon (2008) para elaborar e analisar atividades
propostas para um grupo de professores em formação continuada. Considerando que poucas
pesquisas discutem a rede de conceitos de Lamon (2007, 2008) para investigar o
desenvolvimento do raciocínio proporcional e aquisição da proporcionalidade, optou-se por
apresentar os conceitos-chave desta rede.
104
A leitura das obras de Lamon (2007, 2008) permitiu compreender as relações entre o
raciocínio proporcional e as diferentes interpretações do número racional, relações já
identificadas no final da realização da pesquisa de mestrado da autora do trabalho, bem como
destacar, no campo das estruturas multiplicativas, conceitos (medida, partilha, comparação,
quantidade, covariação, unitização) e raciocínios (absoluto, relativo, progressivo e regressivo)
a serem investigados no conjuntos de situações propostas nos materiais curriculares,
especialmente, nos livros didáticos e planejamentos dos professores, dada a relevância na
aprendizagem da proporcionalidade.
Diante das reflexões postas até aqui, fundamentas nas produções de “outros”
pesquisadores e no Modelo Preliminar, expõe-se, na Figura 30, o Modelo Modificado desta
pesquisa (etapa 4 do Modelo de Romberg-Onuchic).
73
Este número é constituído por 6 professoras do Anos Iniciais (2 professoras de cada um dos anos investigados,
do 3º ano ao 5º ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental) e 7 professoras de Matemática (1 professora de
cada um dos anos investigados, do 6º ano dos Anos Finais do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio).
108
(cadernos dos estudantes). Cabe destacar que as coleções de livros didáticos foram a primeira
opção do grupo de professoras no momento de escolha destes materiais curriculares nos editais
do PNLD.
Quadro 13: Fontes de produção de dados da pesquisa referentes ao currículo planejado e em ação
Etapas da Coleção de Livros Didáticos Núm. de Planejamentos
Educação Básica (Cadernos dos Estudantes)
Anos Iniciais do Coleção Ápis Alfabetização Matemática – Autor: 3 planejamentos (3º, 4º e 5º
Ensino Fundamental Luiz Roberto Dante – Editora Ática – PNLD 2013 anos)
- volume 2, 3, 4 e 5.
Anos Finais do Projeto Radix Matemática – Autor: Jackson da 4 planejamentos (6º e 7º anos; 7ª
Ensino Fundamental Silva Ribeiro – Editora: Scipione – PNLD 2011 - e 8ª séries)
todos os volumes.
Ensino Médio Coleção Novo Olhar – Autor: Joamir Souza – 3 planejamentos (1º, 2º e 3º ano)
Editora: FTD – PNLD 2012 – volume 1, 2 e 3.
Fonte: Elaborado pela autora.
74
Cabe destacar que esta opção pode apresentar algumas limitações, por exemplo, não apresentar todas as situações
trabalhadas no ano letivo, devido aos dias que o estudante faltou aula.
110
Assim, nas próximas seções são descritas como foram selecionadas, categorizadas e
organizadas as informações desta pesquisa, conforme os pressupostos da Análise de Conteúdo.
A interpretação dos dados será apresentada no Capítulo 4.
3.2.1.1 Pré-análise da coleção de Livros Didáticos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
A coleção de livros didáticos escolhida pelo grupo de professoras dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental possui duas denominações, a saber: “Ápis Alfabetização Matemática”
para os primeiros três anos da fase inicial do Ensino Fundamental e “Ápis Matemática” para o
4º e 5º ano do Ensino Fundamental, sendo que os professores poderiam selecionar uma coleção
diferente para o 4º e o 5º ano. Contudo, as professoras optaram por trabalhar com as obras do
mesmo autor, durante toda a primeira fase do Ensino Fundamental. Assim, neste texto, a
distinção entre as denominações da coleção de livros didáticos não será realizada, visto que a
111
Quadro 14: Dados dos Livros Didáticos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Editora Autor Livros ISBN (Livro Aluno) ISBN (Livro Professor)
2º ano 978 85 08 14430 3 978 85 08 14431 0
Ática 3º ano 978 85 08 14432 7 978 85 08 14433 4
Luiz Roberto Dante
1º Edição 2011 4º ano 978 85 08 14434 1 978 85 08 14435 8
5º ano 978 85 08 14436 5 978 85 08 14437 2
Fonte: www.atica.com.br/pnld2013/apis
Quadro 15: Organização da Coleção de Livros Didáticos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Localização Seção Objetivo(s)
Desafio Incentivar a discussão entre estudantes e professor,
bem como incentivar o desenvolvimento do espírito
Bate Papo
Ao longo do investigativo e a capacidade de resolver problemas.
Capítulo Você sabia que...
Vamos Ler? Apresentar sugestões de leituras.
Você vai gostar!
Retomar conceitos e procedimentos já apresentados
Vamos ver de novo?
nos capítulos ou volumes anteriores.
Sistematizar os principais conteúdos abordados e
O que estudamos
Final do Capítulo orientar a família no auxílio aos estudantes.
Apresentar jogos que contribuem no aprendizado de
Brincando também se
conceitos, conteúdos, procedimentos, atitudes, entre
aprende
outros.
Mensagem de fim de ano
Destacar a importância dos conteúdos estudados.
Você terminou o livro!
Registrar os termos específicos da Matemática
Final do Livro Glossário
apresentados ao longo do volume.
Expor as referências utilizadas para elaborar o
Bibliografia
volume.
Fonte: Adaptado de Dante (2011)
Quadro 16: Síntese das Ideias Apresentadas no “Manual do Professor” da coleção dos Anos Iniciais
Aspectos Síntese
destacados
Os pressupostos apresentados explicitam tendências atuais das pesquisas em Educação
Matemática, em especial, as relacionadas à primeira fase do Ensino Fundamental. Neste
Fundamentos
item, as questões ligadas à metodologia ganham destaque. São apresentados exemplos
teóricos
para cada metodologia que pode ser utilizada no processo de ensino e aprendizagem da
matemática.
Organização do
Destaca-se a escolha por um ensino espiral.
Ensino
A estrutura da coleção é detalhada e há orientações para as atividades propostas no livro
Orientações para uso
do aluno. São apresentadas, também, observações e sugestões específicas para cada
do livro
capítulo.
Sugestões de
Para cada capítulo são apresentadas sugestões de atividades diferentes daqueles
atividades
presentes no livro do aluno.
complementares
Resolução das
São apresentadas respostas para todas as atividades e as resoluções para algumas delas.
atividades
Aborda orientações gerais sobre o processo de avaliação, principalmente, no que tange
Orientações para a avaliação formativa, diagnóstica, contínua e dinâmica. São citados e analisados alguns
avaliação instrumentos de avaliação. No final do “manual” de cada volume, há uma sugestão de
instrumento de avaliação da aprendizagem referente àquele ano.
Indicações para A formação continuada é valorizada na coleção, constatada pela indicação de grupos
formação do de pesquisa, instituições, sites, revistas, boletins, documentos governamentais, além de
professor oferecida uma lista com referências bibliográficas por tema.
Fonte: Adaptado de Brasil (2012).
numa perspectiva de currículo em espiral. Esta perspectiva foi elaborada por Bruner, em 1960,
e propõe que no trabalho com conceitos, conteúdos, ideias é preciso voltar repetidas vezes a
eles, elaborando-os e reelaborando-os, de modo que o estudante tenha capacidade de fazer uma
formulação sistemática. Em outras palavras, no currículo em espiral
[...] os conteúdos ou bloco de conteúdos são tão mais importantes quão maiores forem
as possibilidades de serem retomados em outras etapas da Educação Básica, ou seja,
a ênfase está na articulação e integração curricular vertical. Cada tema é abordado,
inicialmente, em sua essência, com suas características peculiares mais importantes
para, depois, ser explorado em outros contextos, na maioria deles como ferramenta
para resolver parte de uma situação-problema mais complexa, servindo como uma das
partes que irão compor um novo conceito. (SILVA; PIRES, 2013, p. 255)
Gráfico 1: Distribuição dos blocos de conteúdos por volume da coleção dos Anos Iniciais
5. Ano
Números e Operações
4. Ano
Geometria
Grandezas e Medidas
3. Ano
Tratamento da Informação
2. Ano
há, ao longo da coleção, situações que abordam o tema regularidades com intuito de abordar o
reconhecimento de um padrão e a representação do padrão em outro registro.
Os conceitos/conteúdos relacionados ao bloco “Grandezas e Medidas”, também, são
relevantes para o desenvolvimento do raciocínio proporcional e, conforme os PCN’AI
(BRASIL, 1997), são contextos ricos para o estudo da proporcionalidade. Na rede proposta por
Lamon (2007, 2008) (Figura 25) fica explícita a importância da medição para a compreensão
dos números racionais e, consequentemente, do raciocínio proporcional. Sendo assim,
identificou-se como os pesquisadores, que elaboraram as resenhas para o guia de livros
didáticos, avaliaram esse bloco de conteúdos.
Segundo os pesquisadores que fazem parte da comissão do guia de Livros Didáticos do
PLND/2012, nos livros do 1º, 2º e 3º anos “são propostas poucas atividades de comparação de
grandezas sem medição. Encontram-se atividades com unidades de medida não convencionais,
mas a transição para o trabalho com as unidades convencionais é feita de maneira muito rápida”
(BRASIL, 2012, p. 49). As poucas atividades de comparação de grandezas sem medição pode
ser um fator limitador no desenvolvimento do raciocínio proporcional. Em relação aos livros
do 4º e 5º anos, os pesquisadores constataram que são poucas as situações que favorecem a
distinção entre área e perímetro. Entende-se que estes conceitos proporcionam situações ricas
para diferenciar situações proporcionais de não-proporcionais.
Quanto ao bloco “Espaço e Forma”, a análise realizada no guia de livros didáticos
permite afirmar que há maior ênfase para classificações e nomenclatura, excesso de notação e
“as noções de ângulo e de ampliação e redução de figuras geométricas também são pouco
focalizadas” (BRASIL, 2012, p. 158). Para o bloco “Tratamento da Informação” a avaliação
indica que as situações propostas priorizam a leitura e o preenchimento de tabelas e gráficos
em detrimento das atividades de organização de dados, importantes no desenvolvimento de uma
pesquisa (BRASIL, 2012).
3.2.1.2 Pré-análise da coleção de Livros Didáticos dos Anos Finais do Ensino Fundamental
A coleção de livros didáticos escolhida pelo grupo de professoras dos Anos Finais do
Ensino Fundamental é denominada Projeto Radix: Matemática. Os dados sobre sua catalogação
podem ser verificados no Quadro 17.
116
Quadro 18: Organização da Coleção de Livros Didáticos dos Anos Finais do Ensino Fundamental
Localização Seção Objetivo(s)
Propor textos e questões introdutórios aos tópicos em
Para começar
discussão.
Saiba que Possibilitar a sistematização dos conteúdos.
Ao longo do Capítulo
Expor informações adicionais envolvendo aspectos da
Algo a mais história da Matemática e/ou temas relacionados a
outras áreas do conhecimento.
Atividades de revisão
Apresentar atividades e textos com intuito de retomar
Final do Capítulo Saiba que...
os conteúdos apresentados nos capítulos e na unidade.
Complementando
Incentivar o uso de calculadoras e instrumentos de
Cadernos de recursos
desenho.
Definir os termos específicos da Matemática
Final do Livro Glossário
apresentados no volume.
Apresentar dicas de livros e de sites de interesse sobre
Para saber mais
os conteúdos tratados.
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2010)
Quadro 19: Síntese das Ideias Apresentadas no “Manual do Professor” da Coleção dos Anos Finais
Aspectos destacados Síntese
Destaca à resolução de problemas, o trabalho em grupo, uso de recursos
Fundamentos teóricos
tecnológicos e à interdisciplinaridade.
Organização do Ensino Trabalho desenvolvido de forma espiral.
Orientações para uso do Sugere estratégias, atividades em grupo ou complementares com objetivo de
livro aprofundar alguns temas.
Sugestões de atividades Apresenta sugestões de atividades diferentes daquelas presentes no livro do
complementares aluno.
Resolução das atividades Expõe respostas para todas as atividades e as resoluções para poucas.
Discute os objetivos da avaliação, conforme orientações dos PCN’AF75 e
Orientações para avaliação
concepções de pesquisadores da área da Educação e Educação Matemática.
Indicações para formação Apresenta orientações para pesquisas na Internet, alguns textos para leituras
do professor complementares e referências bibliográficas.
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2010).
75
Parâmetros Curriculares Nacionais Anos Finais.
118
Gráfico 2: Distribuição dos blocos de conteúdos por volume da coleção dos Anos Finais
9. Ano
Números e Operações
8. Ano Geometria
Grandezas e Medidas
7. Ano Tratamento da Informação
Álgebra
6. Ano
76
Medidas utilizadas para armazenamento/endereçamento de informações em computadores e calculadoras
avançadas, por exemplo, bit e byte e seus múltiplos (kilobyte, megabyte), entre outros.
119
A coleção é composta por 3 volumes e organiza-se por meio de unidades compostas por
capítulos, e estes se subdividem em itens. Os itens apresentam as especificidades de cada
conteúdo. No Quadro 21 pode-se verificar quais são as seções que a coleção apresenta, bem
como, uma síntese de cada uma.
Quadro 22: Síntese das ideias apresentadas nas “Orientações para o professor” da coleção do Ensino Médio
Aspectos destacados Síntese
Destaca-se a contextualização de conteúdos matemáticos, bem como a relação com
outras áreas do conhecimento. Em termos de abordagem dos conteúdos, as
Fundamentos teóricos
explanações teóricas são seguidas por exemplos, atividades resolvidas e exercício de
aplicação.
Organização do
Geralmente, busca-se esgotar um tema em único capítulo.
Ensino
Orientações para uso Apresenta sugestões para o professor selecionar ou reorganizar os conteúdos
do livro propostos, mas as orientações não são suficientes.
Sugestões de Há sugestões para que o professor proponha atividades complementares, por
atividades exemplo, pesquisa, atividades com jogos, experimentos, mas são expostas de forma
complementares bem geral e há poucas dessas atividades na seção “Orientações para o professor”.
Resolução das Para todas as atividades propostas na coleção apresenta-se a resolução, porém, são
atividades poucas as atividades em que mais de uma estratégia é proposta.
Orientações para
As sugestões para a avaliação são apresentadas de forma geral.
avaliação
Indicações para Há uma lista de livros, organizados por áreas da matemática e sites que contribuem
formação do professor para o professor manter-se atualizado.
Fonte: Adaptado de Souza (2010) e Brasil (2011)
77
O guia de livros didáticos (BRASIL, 2011), tendo como base propostas curriculares para o Ensino Médio, por
exemplo, PCN+ (BRASIL, 2002), organiza os conteúdos em campos da Matemática e não mais em blocos como
no Ensino Fundamental.
122
diminui consideravelmente nos demais anos, o que revela um tratamento extenso (em um único
ano, ou seja, tentativa de esgotar o tema neste ano) e fragmentado deste conceito e de suas
propriedades.
Ainda, em relação ao conceito de “Função”, o guia de livros didáticos (BRASIL, 2011,
p. 100), afirma que as “sequências são trabalhadas como um caso especial de função. Na
apresentação das progressões aritmética e geométrica, as fórmulas são deduzidas com clareza
e faz-se a articulação com funções afim, quadrática e exponencial”. Entende-se que trabalhar
as sequências como função possibilita a compreensão do conceito de função, desde que as
situações propostas vão além das progressões aritmética e geométrica.
Os conteúdos relacionados a Matemática Financeira foram categorizados, pelos
pesquisadores da comissão de elaboração do guia de livros didáticos (BRASIL, 2011), no
campo Função. Cabe destacar que, a aquisição da maioria dos conteúdos relacionados a
Matemática Financeira depende do raciocínio proporcional e do conceito de proporcionalidade,
especialmente, se for abordado sem ênfase em fórmulas.
O campo “Números e Operações” recebe um tratamento menor se comparado a outros
campos e, principalmente, se for analisada a ênfase dada no Ensino Fundamental. No 1º ano os
conjuntos numéricos e suas propriedades são retomados, mas o foco é o estudo dos números
reais e a representação em intervalos. Já no 3º ano, o foco é apresentação de um novo conjunto
numérico, a saber: os complexos, suas propriedades e operações.
A “Geometria” é abordada em todos os anos, porém há maior destaque, para este campo,
no 3º ano, no estudo da geometria de posição, das grandezas geométricas área e volume,
associadas a figuras planas ou espaciais. O trabalho com a Geometria Analítica é enfatizado no
3º ano. Além disso, este campo não é abordado em todos os anos do Ensino Médio.
O campo “Equações Algébricas” ganha destaque no 2º ano. Sendo abordados os
conteúdos de matrizes, determinantes e sistemas lineares. Já, no 3º ano é proposto o estudo de
polinômios.
Quanto ao bloco “Estatística e Probabilidades”, constata-se que os conteúdos são
desenvolvidos em todos os anos, com destaque ao 2º ano quando é abordado o conceito de
probabilidade. Conforme o guia de livros didáticos (BRASIL, 2011, p. 102), os conteúdos deste
campo “são desenvolvidos em linguagem clara e com propostas de atividades variadas e
interessantes. Encontram-se tabelas e gráficos com dados relativos a variados contextos”.
Contudo, há imprecisões no tratamento de alguns temas de estatística, como por exemplo,
mediana (BRASIL, 2011).
123
denominação atribuída aos profissionais que trabalham com a alfabetização e letramento 78 nas
diversas áreas do conhecimento.
Contudo, isto não significa que o trabalho é realizado de forma articulada, pois, em
vários momentos, percebe-se, nos planejamentos, a separação, em especial, entre letramento
linguístico e letramento matemático. Este fato fica explícito nas frases escritas pelos estudantes:
“agora é hora de Matemática”, “agora é hora de cálculos”, entre outras. Considerando que
estas frases não foram identificadas sempre, foi necessário ler todas as atividades com o intuito
de verificar quais envolviam conteúdos/conceitos matemáticos. Após, foi preciso identificar as
atividades relacionados ao campo das estruturas multiplicativas.
Como mencionado no item 3.1.2, foram identificados, nos cadernos, a estrutura geral,
tipos de registros escritos, tipos de atividades e/ou exercícios propostos e práticas e estratégias
docentes utilizadas durante o ano letivo.
Em relação a estrutura geral dos cadernos, pode-se identificar: 1) regras de convivência;
2) Revisão de conceitos das áreas de matemática e língua portuguesa; 3) Síntese das atividades
que serão desenvolvidas no dia; 4) Conteúdos das áreas de língua portuguesa, matemática,
ciências e história, ministrados em aula; 5) Atividades e/ou exercícios. Todos os cadernos
apresentam inicialmente uma revisão dos conteúdos estudados no ano anterior. As atividades
propostas para esta revisão são bem semelhantes as trabalhadas no ano anterior e as vezes até
iguais, o que mostra a preocupação das professoras em retomar os conteúdos/conceitos.
Contudo, esta retomada é explicitada nos cadernos no início do ano letivo e nas chamadas
“Revisão para a prova”. Em outras palavras, a retomada dos conteúdos/conceitos para introduzir
outros, geralmente, não foi observada.
Constatou-se, também, que todos os cadernos apresentam uma síntese de todas as
atividades que serão realizadas no dia, mostrando as intenções dos docentes. Os
conteúdos/conceitos matemáticos são apresentados, na maioria das vezes, a partir de uma
situação retirada do texto escolhido para o dia. Estes textos, geralmente, destacam uma data
comemorativa (municipal, estatual ou nacional) ou um tema de relevância social (água, lixo).
Seguem-se as explicações, apoiadas em exemplos, que são completados por atividades
propostas.
78
Conforme o informações extraídas do site do Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP) o letramento, em particular, o matemático “refere-se à capacidade de identificar e compreender o
papel da Matemática no mundo moderno, de tal forma a fazer julgamentos bem-embasados e a utilizar e envolver-
se com a Matemática, com o objetivo de atender às necessidades do indivíduo no cumprimento de seu papel de
cidadão consciente, crítico e construtivo”. Disponível em: <
http://download.inep.gov.br/download/internacional/pisa/2010/letramento_matematico.pdf> Acessado em junho
2016.
125
Quanto aos tipos de registros escritos, verificou-se que há: datas de avaliações; cópia do
conteúdo abordado; resoluções de atividades; anotações descrevendo os materiais necessários
para a realização da próxima aula; desenhos; esquemas; “tabuadas”; recados formais e
informais; normas para a realização de trabalhos em grupos; correções feitas pela professora.
Os tipos de registros com maior destaque são cópia do conteúdo e resolução de atividades.
As “tabuadas” – operação de multiplicação envolvendo números naturais de 2 a 10 –
foram observadas em todos os cadernos, na parte interna como exercícios a serem realizados,
nos cantos do caderno e nas capas internas como uma forma do estudante ter acesso aos
resultados de forma rápida. Este dado indica a importância dada a memorização das “tabuadas”
nesta fase do Ensino Fundamental. Não identificou-se, nestes registros, conclusões acerca das
relações que há entre as “tabuadas”. Além disso, todas as vezes que as “tabuadas” foram
identificadas nos cadernos seu registro se efetivou na ordem crescente, ou seja, primeiro a do
2, depois do 3, e assim sucessivamente.
A concepção, do autor da coleção de livros didáticos dos Anos Iniciais, de que o caderno
do estudante deve ser entendido como um relatório e, para tal, deve-se registrar as várias
maneiras de resolver uma situação, observações feitas pelo professor e colegas, as dúvidas e os
erros mais cometidos, entre outros; ainda não faz parte da organização dos cadernos analisados.
No que se refere aos tipos de atividades e/ou exercícios propostos79 de Matemática,
constatou-se as seguintes ações: contar, calcular, classificar, ordenar, localizar, estimar,
transformar e representar. As ações mais enfatizadas são: contar e calcular, propostas em todos
os conteúdos abordados. Com menor ênfase identificou-se a ação localizar, geralmente, em
atividades envolvendo mapas. As demais ações dependem fortemente do conteúdo que está
sendo abordado, por exemplo, medir é uma ação que foi proposta em atividades envolvendo a
grandeza comprimento.
Ainda, em relação aos tipos de atividades e/ou exercícios propostos, verificou-se um
expressivo número de exercícios que envolvem a aplicação dos algoritmos das operações de
multiplicação e divisão, principalmente, no caderno do 3º ano.
As estratégias de ensino identificadas na pré-análise foram: proposição de textos e, a
partir destes apresentação de atividades envolvendo conceitos das diferentes áreas do
conhecimento; histórias em quadrinhos; produções textuais envolvendo datas comemorativas;
79
Para identificar as ações nos tipos de atividades e/ou exercícios propostos nos cadernos, tomou-se como
referência as ações relacionadas a atividade matemática descritas no Referencial Curricular do Estado do Rio
Grande do Sul (2009), a saber: relacionar, representar, classificar, modelar, ordenar, localizar, medir, transformar,
comparar, deduzir, induzir, contar, generalizar, calcular, estimar.
126
problemas matemáticos envolvendo dados oriundos das datas comemorativas; cartazes com as
“tabuadas”, destacando a ideia de soma de parcelas iguais; utilização de panfletos de lojas para
resolução de problemas matemáticos; quebra-cabeças cujas peças apresentam cálculos
matemáticos; material manipulável (material dourado) para auxiliar nas atividades relacionadas
ao sistema de numeração decimal e operações; atividades cujos conteúdos vinculam-se aos
propostos em livros didáticos; loterias numéricas; revisão dos conteúdos/conceitos para a
avaliação; trabalhos em grupos; idas ao laboratório de informática.
Constata-se que há uma diversidade de estratégias de ensino utilizadas pelas professoras
para desenvolver os conteúdos/conceitos matemáticos, bem como alguns entendimentos em
relação ao campo das estruturas multiplicativas, por exemplo, o destaque para a soma de
parcelas iguais na operação de multiplicação.
O Gráfico 4 apresenta a distribuição dos blocos de conteúdos verificados na pré-análise
dos cadernos. Vale destacar que, para organizar os dados deste gráfico e dos demais referentes
a pré-análise dos cadernos, utilizou-se os títulos dados às introduções de conteúdos/conceitos
matemáticos.
Gráfico 4: Distribuição dos blocos de conteúdos por ano dos cadernos dos Anos Iniciais
5. Ano
Numeros e Operações
Geometria
4. Ano
Grandezas e Medidas
Tratamento da Informação
3. Ano
neste ano que são introduzidas as grandezas capacidade, massa, área e perímetro, além das
grandezas tempo e comprimento, abordadas no 3º e 4º anos. Já os conteúdos/conceitos do bloco
“Geometria” receberam menor atenção do que os demais blocos. Os conteúdos/conceitos
identificados, na pré-análise, referem-se a: algumas características de sólidos geométricos
(rolam ou não rolam, vértices, faces e arestas) e noção de localização e deslocamento,
destacadas nos descritores da Prova Brasil.
Ao compararmos este resultado com os dados do Gráfico 1 percebe-se que na coleção
de livros didáticos há um certo equilíbrio entre os blocos “Geometria” e “Grandezas e
Medidas”, o que não acontece nos planejamentos. Conforme mencionado, em especial, no
Capítulo 2, os conceitos geométricos são importantes para o desenvolvimento do raciocínio
proporcional e se alguns não são abordados pode-se limitar o desenvolvimento de diferentes
raciocínios matemáticos.
Em todos os cadernos foram verificadas atividades envolvendo tabelas e gráficos, com
ênfase para gráficos de barras e colunas. Porém, são raras as atividades em que os estudantes
precisam construir essas representações, o que pode comprometer as capacidades de produção
e organização de dados. O tratamento dado a este bloco, nos cadernos, é semelhante ao que está
proposto na coleção de livros didáticos dos Anos Iniciais. Entende-se que a escolha de quais
representações gráficas serão utilizadas para explicitar os dados produzidos requer, geralmente,
a mobilização do raciocínio proporcional e da proporcionalidade. Por isso, chama-se a atenção
para a importância de manter o equilíbrio entre a análise de tabelas e gráficos e a construção
destas representações.
A pré-análise dos cadernos, também, revelou que são poucas as atividades propostas
pelas professoras cuja fonte é a coleção de livros didáticos escolhida por elas. Contudo,
constata-se que para vários conteúdos/conceitos as atividades propostas pelas professoras,
mesmo não sendo iguais as da coleção, possuem o mesmo contexto, envolvem os mesmos
registros de representação, requerem as mesmas transformações cognitivas, entre outras
semelhanças.
Gráfico 5: Distribuição dos blocos de conteúdos por ano dos cadernos dos Anos Finais
9. Ano
Numeros e Operações
8. Ano Geometria
Grandezas e Medidas
6. Ano
duas das quatro dimensões da Álgebra, a saber: equação e estrutural. Ressalta-se que, nesses
cadernos, não foram observados tópicos relacionados ao conceito de função como verificado
na coleção de livros didáticos (Projeto Radix – Matemática). Contudo, está previsto, no
currículo organizado, o estudo de funções (afim e quadrática). Talvez isto acontece em função
da ênfase dada para este conceito no 1º ano do Ensino Médio. É importante destacar que a
aprendizagem de conceitos exige um trabalho sistematizado com os conceitos ao longo da
Educação Básica e não apenas em um único ano.
Nos cadernos o bloco “Grandezas e Medidas” recebe mais atenção do que o bloco
“Geometria”. Já na coleção de livros didáticos há um equilíbrio na distribuição dos conteúdos
para estes dois blocos. O Gráfico 5 mostra que no 6º ano há presença expressiva dos conteúdos
do bloco “Grandezas e Medidas”. Verificou-se que neste ano as grandezas já trabalhadas no 5º
ano (tempo, comprimento, capacidade, massa, área e perímetro) são retomadas, tendo como
foco as transformações de unidades. No 8º ano há várias atividades relacionadas as
transformações de unidade envolvendo medidas angulares, o que justifica o percentual do bloco
“Grandezas e Medidas”. Acredita-se que este resultado esteja relacionado a necessidade dos
professores de Matemática trabalharem com algoritmos e a ênfase ao tratamentos.
Em relação aos conteúdos do bloco “Geometria”, os dados revelam pouco equilíbrio na
distribuição dos conteúdos/conceitos. Os conteúdos/conceitos identificados foram: figuras
planas, pontos, retas, planos, ângulos, relações métricas no triângulo retângulo, teorema de
Pitágoras e Tales, e segmentos proporcionais. Assim como na pré-análise da coleção de livros
didáticos dos Anos Finais do Ensino Fundamental, destaca-se as situações envolvendo o
teorema de Tales e segmentos proporcionais para o desenvolvimento do raciocínio
proporcional.
O bloco “Tratamento da Informação” recebe pouca atenção no 6º, 8º e 9º ano e nenhuma
no 7º ano. Este resultado pode acarretar prejuízos no desenvolvimento de diversas capacidades
cognitivas, a saber: comunicar e representar, generalizar e abstrair, relevantes para a
compreensão de vários conceitos matemáticos.
A estrutura geral dos cadernos do Ensino Médio segue a mesma dos cadernos dos Anos
Finais do Ensino Fundamental: 1) Revisão de conceitos matemáticos; 2) Conteúdos/Conceitos
ministrados em aula; 3) Atividades diversas. Todos os cadernos desta etapa da Educação Básica
apresentam revisões dos conteúdos no início do ano letivo e antes dos períodos de avaliação,
assim como os demais cadernos analisados do Ensino Fundamental. Pode-se afirmar que a
retomada dos conteúdos/conceitos pelo grupo de professoras sempre é realizada em momentos
pontuais do ano letivo.
Além disso, a retomada dos conteúdos/conceitos para introduzir outras ideias
matemáticas, geralmente, não é proposta. Identificou-se que a apresentação e sistematização
dos conteúdos/conceitos são propostas de forma sintetizada e rápida, por meio de definições,
seguidas de exemplos, abordados como modelos a serem seguidos na resolução das atividades.
Estas últimas na maioria das vezes são reproduções das atividades propostas na coleção de
livros didáticos escolhida para o Ensino Médio ou reproduções de outros livros didáticos.
Quanto aos tipos de registros escritos, identificou-se: datas de avaliações; cópia do
conteúdo abordado; resoluções de atividades; gráficos; esquemas; recados formais e informais;
normas para a realização de trabalhos em grupos. Constata-se que nos cadernos do Ensino
Médio há um aumento no número de esquemas que buscam sintetizar e relacionar os
conteúdos/conceitos, em relação aos cadernos do Ensino Fundamental. Bem como, percebe-se
o registro gráfico (elaboração dos estudantes) com maior frequência.
Os tipos de atividades e/ou exercícios propostos verificados nos cadernos foram:
calcular, estimar, classificar, ordenar, localizar, transformar, representar, medir, comparar,
relacionar e generalizar. As ações identificadas com maior frequência foram: calcular,
representar e transformar. Já, as ações relacionar e generalizar foram observadas em poucas
atividades mesmo nesta etapa da Educação Básica cujo objetivo é o desenvolvimento da
abstração. Cabe destacar que nesta fase da Análise de Conteúdo, não identificou-se atividades
que requerem as ações como modelar, induzir e deduzir. Talvez porque os registros dos
cadernos evidenciam a repetição de raciocínios em problemas que utilizam fórmulas pré-
determinadas. Em outros termos, fórmulas utilizadas sem a realização de sua demonstração.
No que tange as estratégias docentes identificadas, constatou-se: definição de
conteúdos/conceitos matemáticos; exemplos; atividades cujos conteúdos/conceitos
matemáticos vinculam-se aos propostos em livros didáticos; revisão dos conteúdos/conceitos
para avaliação; trabalhos em grupos; elaboração e desenvolvimento de pesquisas, sendo que
esta última é a única que não foi verificada nos cadernos dos Anos Finais do Ensino
Fundamental.
132
Gráfico 6: Distribuição dos conteúdos por ano dos cadernos do Ensino Médio
A análise do Gráfico 6 permite afirmar que é dada maior ênfase ao estudo de funções,
principalmente, no 1º ano. Neste ano, foi identificado o estudo das funções afim, quadrática,
exponencial e logarítmica, nesta ordem. No 2º ano são abordadas as funções trigonométricas
(seno, cosseno e tangente) e as progressões. No 3º ano, mais de 20% dos conteúdos/conceitos
referem-se a Matemática Financeira. A concentração do campo Funções no 1º ano, também, foi
verificado na coleção de livros didáticos. Será analisado no Capítulo 4 se e como são propostas
relações entre a função afim (no caso específico função linear), visto que este tipo de função é
𝑎
modelo das grandezas diretamente proporcionais e funções racionais do tipo 𝑓(𝑥) = 𝑥 ; 𝑥 ≠ 0,
planejamentos dos professores? Ela permite, quando utilizada com categorias complementares
e articuladas, expor julgamentos valiosos para validação dos atributos implícitos das
mensagens, bem como pode constituir-se em um “importante guia de referência para a análise
e intepretação do conteúdo e dos dados” (FRANCO, 2005, p.41), identificados nas coleções de
livros didáticos e planejamentos.
Considerando que o raciocínio proporcional e a proporcionalidade são compreendidos,
nesta pesquisa, como formadores e unificadores de estruturas cognitivas, conceitos e conteúdos
matemáticos, selecionou-se como unidades de análise os capítulos das coleções de livros
didáticos. Para apresentar as unidades de análise optou-se por organizar quadros (Quadros 23,
24 e 25) com os conteúdos matemáticos abordados nas coleções, sendo estes expostos por
etapas da Educação Básica e classificados por cores80 de acordo com os blocos de conteúdos
definidos pelo PNLD.
Estes quadros, também, apresentam os resultados da enumeração, ou seja, o
quantitativo de atividades analisadas. Para tanto, foi necessário contar todas as atividades
identificadas como propostas, ou seja, atividades para serem resolvidas pelos estudantes. Vale
ressaltar que não foram contadas atividades resolvidas, situações que visam complementar a
teoria apresentada e exemplos propostos, pois estes, em geral, expõem as estratégias de
resolução a serem utilizadas para solucionar as atividades propostas.
A apresentação das atividades propostas nas coleções analisadas segue uma numeração
que não foi possível adotar na etapa de enumeração, pois em vários capítulos há atividades
compostas por subitens que requerem a mobilização de transformações cognitivas diferentes,
significados diferentes, entre outros. Por exemplo, a atividade 5 (Figura 31) apresenta três
situações que abordam significados diferentes da operação de multiplicação.
80
As cores utilizadas para classificar os capítulos por blocos de conteúdos seguem os tons escolhidos na construção
dos gráficos apresentados na seção 3.1.
135
Quadro 23: Conteúdos abordados na coleção de Livros Didáticos dos Anos Iniciais
2ºano 3º ano 4º ano 5º ano
1. Números; 1. Números; 1. Sistema de 1. Sistema de
2. Sólidos 2. Sólidos numeração; numeração;
geométricos; geométricos; 2. Sólidos 2. Geometria;
3. Adição e 3. Adição e geométricos; 3. Adição e subtração
subtração; subtração; 3. Grandezas e com números
4. Regiões planas e 4. Regiões planas e medidas: tempo e naturais;
seus contornos; seus contornos; dinheiro; 4. Multiplicação e
5. Sistemas de 5. Multiplicação; 4. Regiões planas e divisão com números
numeração decimal; 6. Divisão; seus contornos; naturais;
6. Grandezas e suas 7. Grandezas e 5. Adição e subtração 5. Estatística;
C
medidas; medidas: tempo e com números 6. Retomando as
A
7. Ampliando o dinheiro; naturais; quatro operações
P
estudo da adição; 8. Sistema de 6. Simetria; com naturais;
Í
8. Multiplicação; Numeração Decimal; 7. Multiplicação com 7. Frações;
T
9. Ampliando o 9. Retomando as números naturais; 8. Porcentagem e
U
estudo da subtração; quatro operações; 8. Divisão com probabilidade;
L
10. Divisão; 10. Grandezas e números naturais; 9. Retomando a
O
medidas: 9. Grandezas e geometria;
S
comprimento, massa medidas: 10. Números
e capacidade; comprimento e decimais;
superfície; 11. Grandezas e
10. Frações e medidas;
probabilidade;
11. Números
decimais;
12. Grandezas e
medidas: massa e
capacidade;
T. A.81 963 1312 1812 2101
T. A. C.82 193 450 728 1112
Fonte: Adaptado de Dante (2011).
81
Total de atividades.
82
Total de atividades categorizadas.
138
Quadro 24: Conteúdos abordados na coleção de Livros Didáticos dos Anos Finais
6ºano 7º ano 8º ano 9º ano
1-Sistemas de 1-Figuras 1-Números primos e 1-Radiciação:
numeração – figuras geométricas espaciais compostos; fatoração; operações com
geométricas – operações com mmc; operações com radicais,
espaciais; vistas; frações; frações; racionalização;
2-Números naturais: 2-Operações com 2-Potências: 2-Segmentos
pares e ímpares, números decimais; propriedades, notação proporcionais:
operações; 3-Ângulos: conceitos, científica; raízes; teorema de Tales;
3-Medidas de medidas, operações; conjuntos numéricos; semelhança de
comprimento: polígonos; 3-Ângulos: figuras;
perímetro – múltiplos 4-Números positivos propriedades, retas 3-Equações do 2º
e divisores – figuras e negativos; paralelas cortadas por grau: resolução,
simétricas – medidas 5-Localização e transversal, bissetriz; raízes, sistemas;
de tempo; deslocamentos: polígonos; 4-Triângulo
4-Frações: caminhos, 4-Gráficos, tabelas; retângulo: teorema de
simplificação e coordenadas – probabilidades – Pitágoras, relações
M comparação, frações medidas: volume, simetrias: rotação, trigonométricas;
Ó decimais e capacidade; translação; 5-Variável estatística
D porcentagem, 6-Cálculo algébrico, 5-Cálculo algébrico: e tipos de frequência;
U operações; fórmulas, equações; monômios, média aritmética,
L 5-Números decimais e 7-Proporção; escala; operações; moda, mediana –
O operações; regras de três; polinômios; produtos plano cartesiano:
S 6-Retas e ângulos; porcentagem; notáveis; frações coordenadas;
polígonos – potências; 8-Gráficos, tabelas; algébricas; 6-Funções: afim,
raízes; expressões possibilidades – 6-Equações do 1º quadrática; gráficos;
numéricas; medidas de grau: com uma e duas 7-Circunferência:
7-Triângulos e informática – incógnitas, comprimento,
quadriláteros – simetrias de figuras fracionárias, posições relativas
medidas de área; área sistemas; inequações entre retas e
do quadrado – do 1º grau com uma circunferências, entre
interpretação de incógnita; duas circunferências;
informações; 7-Triângulos; polígonos inscritos e
8-Ampliação e quadriláteros; circunscritos – área:
redução de figuras – 8-Área: quadriláteros, círculo, setor circular,
medidas de massa; triângulos – regras de coroa circular;
três – circunferência e 8- Volumes de
círculo; sólidos; capacidade –
juros
T. A. 1956 1783 2202 1728
T.A. C. 971 688 618 451
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2010).
2º grau no volume do 9º ano. Porque a ênfase foi para o conteúdo e não para a formação de
conceitos.
Assim como na coleção de livros didáticos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
verificou-se que a maioria das atividades categorizadas pertencem ao bloco “Números e
Operações” (cor azul, Quadro 24), seguido pelo bloco “Grandezas e Medidas” (cor verde).
Muda a posição do bloco “Geometria” (cor vermelha), de último na coleção dos Anos Iniciais
para terceiro nesta coleção. Este resultado é influenciado pelo número de atividades
categorizadas no livro didático do 9º ano envolvendo os conteúdos de: segmentos
proporcionais, semelhança de triângulos e razões trigonométricas; conteúdos abordados apenas
neste ano de escolaridade. O número de atividades categorizadas no bloco “Tratamento da
Informação” (cor roxa) o coloca em 4º lugar nesta coleção. Deixando para a 5ª, e última posição
o bloco “Álgebra” (cor azul claro). Esperava-se uma abordagem de proporcionalidade como
função, o que ampliaria o número de atividades relacionadas ao bloco “Álgebra”.
Quanto ao Quadro 25, observa-se a distribuição das unidades e capítulos que compõem
a coleção de livros didáticos do Ensino Médio. Reafirma-se a ênfase dada ao conceito de função
no 1º ano e aos conceitos relacionados a Geometria no 2º e 3º anos, principalmente, neste último
quando apresenta-se os conceitos de Geometria Espacial e Analítica.
Constata-se, no Quadro 25, que a coleção está organizada em seções. Optou-se por não
categorizar as atividades propostas nas páginas de abertura das unidades porque, geralmente,
as repostas são de cunho pessoal. A seção questões do ENEM não foi categorizada por expor
apenas atividades reproduzidas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), avaliação esta
que não é foco desta pesquisa.
Das 4705 atividades propostas na coleção foram categorizadas 758, representando
16,1% do total. Ao contrário das demais coleções analisadas em que foram categorizadas
atividades em praticamente todos os capítulos, nesta coleção houveram capítulos que não
identificou-se situações que apresentam relações (explícita ou implicitamente) com o raciocínio
proporcional e o conceito de proporcionalidade, por exemplo, capítulo 5 do livro do 2º ano e
capítulo 6 do livro do 3º ano. Vale ressaltar que, dos capítulos que não tiveram atividades
categorizadas, a maioria trata de conteúdos abordados pela primeira vez no Ensino Médio:
matrizes, geometria analítica, números complexos, entre outros. Neste sentido, percebe-se
destaque exagerado, em geral, relacionado aos conteúdos de cada representação do objeto
matemático, sem atentar-se para a relação com outros tipos de registros que requerem a
mobilização de outros conteúdos.
140
Conforme Bardin (1977, p. 119), a “categorização tem como primeiro objetivo (da
mesma maneira que a análise documental), fornecer, por condensação, uma representação
simplificada dos dados brutos”. Assim, além dos totais de atividades categorizadas nas coleções
de livros didáticos das três etapas da Educação Básica apresentadas nos Quadros 23, 24 e 25, é
141
preciso explicitar o quantitativo por categorias de análise. Para isso, foram organizados dois
quadros, 26 e 28.
O Quadro 26, expõe o primeiro grupo de categorias de análise. São categorias deste
grupo: as categorias do campo das estruturas multiplicativas, proposto por Vergnaud (2009a) e
reorganizadas por Magina, Merlini e Santos (2011), quanto as relações quaternárias e
ternárias (Figura 13); as funções, por entender a proporcionalidade como função; e, as
“operações”, devido ao alto índice de atividades identificadas na pré-análise envolvendo
operações com números naturais e racionais, bem como as interpretações do número racional
quando a transformação cognitiva exigida é o tratamento, além dos invariantes do número
racional (equivalência e ordem). No Quadro 28, foram organizadas categorias de análise
conforme a rede de conceitos, das estruturas multiplicativas centrais, proposta por Lamon
(2007, 2008) (Figura 25), constituindo o segundo grupo de categorias de análise.
É possível observar, no Quadro 26, o quantitativo das atividades categorizadas conforme
as relações quaternárias e ternárias. As relações quaternárias, conforme mencionado no
Capítulo 2, dividem-se em dois eixos (situações proporcionais83 simples e múltiplas) e estes em
duas classes (um para muitos e muitos para muitos). A identificação de quais eixos e classes
são abordados nas coleções de livros didáticos é essencial aos objetivos desta pesquisa.
As relações ternárias, também, dividem-se em dois eixos (comparação multiplicativa
e produto de medida). Por entender que a atividade de comparação, conforme discutido no
Capítulo 2, contribui no desenvolvimento do raciocínio proporcional, pois está diretamente
relacionada ao conceito de razão, optou-se por categorizar, das relações ternárias, apenas as
atividades que envolvem comparação multiplicativa. Além disso, estas, também, foram
classificadas em duas classes (relação desconhecida e referido desconhecido).
Na categoria funções as atividades foram classificadas em: funções proporcionais e
não-proporcionais. Decidiu-se por categorizar as atividades que envolviam o conceito de
função por concordar com Lamon (2007, 2008) que a compreensão do conceito de
proporcionalidade está relacionada ao ato de investigar e reconhecer princípios e regularidades
(padrões) em situações problemas, sem a necessidade de utilizar proporções para expressar as
relações entre variáveis. Vale destacar que, mesmo nas situações em que as variáveis não são
proporcionais para determinar o modelo matemático, entende-se que as primeiras análises
83
A partir deste momento no lugar termo proporção simples e múltipla, exposto no esquema elaborado por Magina,
Merlini, Santos (2011) (Figura 13), será utilizado situações proporcionais simples e múltiplas. Esta mudança será
feita por entender que as situações proporcionais podem ser resolvidas por meio da análise funcional, sem precisar
recorrer as propriedades da proporção.
142
mobilizam o raciocínio proporcional. Por isso, nas situações cujas grandezas não são
proporcionais foram categorizadas apenas as que exigiam a lei da função (modelo matemático).
Na pré-análise e na definição das unidades de análise (recortes) percebeu-se que, nas
coleções de livros didáticos do Ensino Fundamental, são propostas muitas atividades
envolvendo operações (multiplicação, divisão, potenciação e radiciação) com números naturais
e racionais, geralmente, exigindo apenas a utilização de algoritmos. Assim, optou-se, também,
por elaborar uma categoria denominada de “operações” que permite comparar os resultados
desta categoria com as demais nas três fases da Educação Básica, visto que é recomendável a
abordagem das operações associadas a resolução de situações problemas, bem como é
importante a relação entre os números racionais e o desenvolvimento do raciocínio
proporcional. Ressalta-se que, nesta categoria, em relação aos números racionais, incluiu-se
atividades que abordam as interpretações do número racional e os invariantes operatórios
destes números (equivalência e ordem), atividades em que a transformação cognitiva
mobilizada é o tratamento, principalmente, o numérico.
Destaca-se, também, que todas as atividades categorizadas foram analisadas quanto as
transformações cognitivas (tratamento e conversão) e em relação aos sentidos das conversões.
Devido à variedade de sentidos das conversões identificados nas atividades categorizadas,
optou-se por apresentar os resultados obtidos no Apêndice E.
Os dados do Quadro 26 evidenciam, ainda, que foram identificadas atividades para a
maioria das categorias ao longo da Educação Básica. Com base nestes dados foi possível
construir a Tabela 1 que expõe o percentual de atividades categorizadas de cada volume em
relação ao total de atividades propostas no volume.
Constata-se que o maior número de atividades categorizadas foi no 5º ano do Ensino
Fundamental (53% do total de atividade propostas no livro didático) e o menor número foi no
3º ano do Ensino Médio (8,5% do total de atividades propostas no livro). Também, verifica-se
que há ênfase para a categoria “operações” do 2º ano dos Anos Iniciais até o 6º ano dos Anos
Finais do Ensino Fundamental, resultado este que confirma as afirmações apresentadas na pré-
análise das coleções para esta etapa da Educação Básica. No Ensino Médio a proporcionalidade
e os aspectos relacionados ao raciocínio proporcional tendem a diminuir, visto que o número
de conteúdos/conceitos matemáticos a serem abordados aumenta em relação ao Ensino
Fundamental. Contudo, se a proporcionalidade for entendida como função (modelo
matemático) e relacionada com outros conceitos o número de atividades nesta fase da Educação
Básica não deve ter uma queda muito acentuada.
143
Divisão Partitiva 8 23 31 23 24 18 8 8 4 1 0
Rel. Quaternária
46 123 107 143 136 226 109 219 124 125 61 1419
Prop. Múltipla 0 0 0 0 0 0 21 0 0 0 0 21
46 123 107 143 136 226 130 219 124 125 61 1440
253
Rel. Tern.
Referente Desconhecido 27 20 43 33 56 56 17 1 0 0 0
C. Mult.
144
145
Para atender as características do aporte teórico escolhido para esta pesquisa foi
necessário analisar, novamente, as atividades categorizadas à luz da estrutura multiplicativa, do
conceito de função e das operações matemáticas (Quadro 26), a partir da perspectiva de Lamon
(2007, 2008) para o desenvolvimento do raciocínio proporcional e aquisição do conceito de
proporcionalidade.
Desta forma, as 5976 atividades categorizadas no primeiro grupo de categorias (Quadro
27) foram analisadas de acordo com os cinco nós da rede de aspectos centrais no
desenvolvimento do raciocínio proporcional, elaborada por Lamon (2007, 2008), a saber:
interpretações do número racional; medida; quantidade e covariação; unitização; partilha e
comparação. Assim, as atividades propostas não foram categorizadas quanto aos raciocínios
relativo, progressivo e regressivo. Optou-se por não quantificar o número de atividades em
relação aos tipos de raciocínios, indicados por Lamon (2007, 2008), por compreender que estes
podem ser analisados em situações categorizadas em outros nós presentes na rede. Por exemplo,
ao analisar as situações que envolvem a interpretação do número racional razão pode-se
verificar se estas potencializam o desenvolvimento do raciocínio relativo. Além disso, as
estratégias e as representações semióticas utilizadas para resolver as situações interferem na
mobilização ou não destes raciocínios. Portanto, será apresentada uma breve análise qualitativa
para os raciocínios relativo, progressivo e regressivo no Capítulo 4.
Os resultados quantitativos para o segundo grupo de categorias podem ser observados
no Quadro 28. Ressalta-se que, para Lamon (2007, 2008), os nós da rede são sistemas
construídos por uma complexa relação e interação de conhecimentos, ideias, processos e
representações; conectados ao desenvolvimento do raciocínio consciente e deliberado, e
alimentados por meio do ensino. Assim, nem todas as 5976 atividades puderam ser
categorizadas quanto a estes nós, pois algumas não atendiam suas características principais. Por
exemplo, as atividades categorizadas na classe um para muitos e identificadas como
multiplicação que tinham por objetivo explorar o algoritmo da operação, bem como as que
incentivam a resolução por meio da adição de parcelas iguais não puderam ser categorizadas
por entender que dificultam a transição da estrutura aditiva para a multiplicativa.
Há, também, atividades que foram categorizadas em mais de um nó por priorizarem a
relação entre diferentes conceitos, processos e representações. Por exemplo, a atividade
reproduzida na Figura 32 foi categorizada no nó partilha e comparação por envolver a divisão
e a comparação de volumes, e no nó unitização, pois as grandezas podem ser reagrupadas em
grupos que representam as mesmas quantidades totais (12 caixas podem ser organizadas em 2
embalagens com 6 caixas; 3 embalagens com 4 caixas).
146
Além disso, foi necessário estabelecer algumas relações entre as categorias do primeiro
grupo (Quadro 26) e as relacionadas aos nós da rede de Lamon (segundo grupo). Para tanto,
comparou-se os enunciados das atividades e as resoluções propostas nas coleções de livros
didáticos, bem como as resoluções elaboradas pela pesquisadora na realização da pré-análise,
com as situações apresentadas por Lamon na obra “Ensinado Frações e Razões para
compreensão: conhecimento essencial do conteúdo e estratégias de ensino para professores”84.
Destaca-se que exemplos destas situações foram apresentados no Capítulo 2.
O Quadro 27 apresenta como as atividades classificadas no primeiro grupo de categorias
de análise foram categorizadas de acordo com os nós da rede de Lamon (2007, 2008). Ressalta-
se que as relações entre as categorias do primeiro grupo com as do segundo foram discutidas
ao longo do Capítulo 2 (seção 2.3).
84
Teaching fractions and ratios for understanding: essential content knowledge and instructional strategies for
teachers.
147
Quadro 27: Relações entre as categorias de análise do primeiro grupo e do segundo grupo
Primeiro Grupo de Categorias de Análise Segundo Grupo de Categorias de Análise
Situações Proporcionais Simples e Múltipla – (relação
Quantidade e Covariação
quaternária evidenciada)
Situações Proporcionais Simples: Um para muitos - Divisão
Partilha e Comparação
Partitiva
Situações Proporcionais Simples: Um para muitos - Divisão
Quotitiva (no mínimo uma das quantidades/grandezas não Interpretação Quociente
envolvendo números naturais)
Situações Proporcionais Simples: Muitos para muitos Quantidade e Covariação
Situações Proporcionais Simples e Múltipla – Muitos para
muitos (por exemplo, envolvendo problemas do tipo Unitização
comparação)
Comparação Multiplicativa - (situações envolvendo
Medida
transformação de unidades)
Interpretações Número Racional (Operador
Comparação Multiplicativa - envolvendo números racionais
Multiplicativo)
Funções85 Não foram categorizadas no 2º grupo
Operações: Números Naturais Não foram categorizadas no 2º grupo
Operações: Números Racionais – operações, equivalência e Interpretações Número Racional; Medida;
ordem Partilha e Comparação
Fonte: Elaborado pela autora.
Com base nos dados do Quadro 28 foi possível construir a Tabela 2 que expõe o
percentual de atividades categorizadas de cada volume em relação ao total de atividades
propostas no volume, conforme os nós da rede de Lamon (2007, 2008).
85
Ressalta-se que as situações categorizadas como Função na primeira análise não foram classificadas na segunda
porque optou-se por identificar as situações relacionadas aos nós da rede de Lamon (2007, 2008) para o
desenvolvimento do raciocínio proporcional e o conceito de função refere-se a especificidade da proporcionalidade
em relação a este raciocínio.
Quadro 28: Segundo Grupo de Categorias de Análise das Coleções de Livros Didáticos
EFAI2 EFAI3 EFAI4 EFAI5 EFAF6 EFAF7 EFAF8 EFAF9 EM1 EM2 EM3
Número Racional Comparação Parte-Todo 0 0 78 65 86 31 1 0 0 1 0
Total de Atividades Categorizadas
Interpretações
Quociente 0 0 0 28 12 1 0 0 0 0 0
Operador Multiplicativo 0 0 50 147 136 211 208 64 57 2 0
Medida 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Razão/Taxa 0 0 26 59 8 22 37 28 19 52 34
0 0 154 299 242 265 246 92 76 55 34
Medida 4 10 139 99 102 158 7 122 42 34 46
Quantidade e Covariação 12 17 15 49 65 152 117 178 94 121 25
Unitização 0 2 5 9 1 4 0 0 0 0 0
Partilha e Comparação 7 23 29 23 24 20 8 8 4 1 0
23 52 342 479 434 599 378 400 216 211 105
Total de Atividades Categorizadas no Primeiro
193 451 731 1115 971 688 618 451 358 275 125
Grupo
Total de Atividades Propostas no Livro Didático 963 1312 1812 2101 1956 1783 2202 1728 1955 1272 1478
Fonte: Elaborado pela autora.
148
149
estudantes para analisar se as estratégias utilizadas são iguais, bem como se os destaques dados
aos conteúdos/conceitos matemáticos e aos invariantes operatórios são os mesmos.
O Quadro 29 expõe as unidades de análise dos cadernos dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental. Percebe-se a ênfase dada ao bloco “Números e Operações” por meio dos
conteúdos/conceitos abordados nos três anos (sistema de numeração decimal, operações de
adição e subtração e operação de multiplicação e divisão), já mencionadas na seção 3.1.2.1.
Nesta fase do Ensino Fundamental foram analisados os enunciados de 3900 atividades,
destas, foram categorizadas 1387, o que representa 35,6% do total do 1º grupo de categorias.
Comparando com o percentual de atividades categorizadas na coleção de livros didáticos dos
Anos Iniciais (40,13%), constata-se que há uma redução no número de situações. Mas, é
importante lembrar que nos livros foram analisados 4 volumes, correspondentes ao 2º, 3º, 4º e
5º ano, e nos cadernos o material do 2º ano não foi investigado por não haver um trabalho
sistemático com o campo das estruturas multiplicativas neste ano, conforme falas das
professoras participantes.
A maioria das atividades categorizadas pertencem ao bloco “Números e Operações”
(cor azul, no Quadro 29), assim como na coleção de livros didáticos para esta fase do Ensino
Fundamental. O segundo bloco, em número de atividades, é “Grandezas e Medidas”,
identificadas, principalmente, no caderno do 5º ano no estudo das unidades convencionais de
medidas. Evidencia-se que não foram categorizadas atividades nos conteúdos relacionados ao
bloco “Espaço e Forma” (sólidos geométricos e deslocamento), pois os tipos de situações
propostas não exploravam, por exemplo, situações de ampliação e redução como identificadas
nos livros didáticos.
151
86
Total de Atividades.
87
Total de atividades categorizadas.
152
Em relação a análise dos cadernos do Ensino Médio, percebe-se que no 1º ano o trabalho
restringe-se ao conceito de função e aos conjuntos numéricos. O estudo de conteúdos
relacionados a funções diminui consideravelmente nos demais anos, bem como o estudo de
conjuntos numéricos. O estudo de equações algébricas concentra-se no 2º ano e os conteúdos
de geometria no 3º ano, o que confirma os resultados descritos na seção 3.1.2.3.
Foram enumeradas 1153 atividades nos cadernos do Ensino Médio (Quadro 31), destas
238 foram categorizadas, representando 20,6%. Este percentual é maior que o identificado na
coleção de livros didáticos desta fase da Educação Básica (16,1%). Sendo que, a maioria das
atividades categorizadas refere-se ao campo da Matemática “Geometria”, principalmente,
razões trigonométricas abordadas no 2º ano e situações envolvendo conceitos de Geometria
Plana e Espacial, no 3º ano, que exigiam transformação de unidades. O campo “Funções”
apesenta o segundo maior número de situações categorizadas. No campo “Equações
153
Algébricas” não foram categorizadas atividades. Devido, provavelmente, a ênfase dada aos
conteúdos específicos sem o estabelecimento de relações com os outros campos da matemática.
A escolha das categorias para analisar os cadernos seguiu os mesmos critérios utilizados
na análise das coleções de livros didáticos. Assim, o Quadro 32 apresenta o quantitativo das
categorias estrutura multiplicativa, funções e operações. Estes resultados permitiram construir
a Tabela 3 que evidencia os percentuais de atividades identificadas nestas categorias.
Divisão Partitiva - 14 33 19 11 2 0 0 0 2 0
Rel. Quaternárias
Divisão Quotitiva - 2 3 9 6 7 0 1 0 0 1 29
- 52 165 111 127 19 0 2 0 6 13 495
Muitos para muitos - 0 2 30 13 51 0 72 4 22 39 233
Total de Atividades Categorizadas
Funções Proporcionais - 3 5 1 8 0 17 0 24 0 0 58
- 17 7 1 48 1 19 3 44 0 1 141
Naturais - 308 268 102 349 113 0 81 0 38 0 1259
Op.
154
Quadro 33: Segundo Grupo de Categorias de Análise dos Cadernos
EFAI2 EFAI3 EFAI4 EFAI5 EFAF6 EFAF7 EFAF8 EFAF9 EM1 EM2 EM3
Número Racional Comparação Parte-Todo - 0 86 33 53 17 0 0 0 0 0
Total de Atividades Categorizadas
Interpretações
Quociente - 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Operador Multiplicativo - 0 59 44 8 18 0 0 0 0 0
Medida - 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Razão/Taxa - 0 0 21 25 62 0 40 0 15 7
- 0 145 98 86 97 0 40 0 15 7
Medida - 8 13 70 120 25 45 74 0 47 12
Quantidade e Covariação - 3 28 41 20 58 0 72 4 41 42
Unitização - 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Partilha e Comparação - 14 33 19 11 2 0 0 0 2 0
- 25 219 228 237 182 45 186 4 105 61
Total de Atividades Categorizadas no
- 394 601 493 830 413 64 381 74 100 64
Primeiro Grupo
Total de Atividades Categorizadas nos
- 1109 1314 1477 1380 1057 746 976 520 328 305
Cadernos
Fonte: Elaborado pela autora.
155
156
Este capítulo tem por objetivo apresentar duas das três etapas do terceiro bloco do
Modelo de Romberg-Onuchic, a saber: 9 (interpretar evidências) e 10 (relatar resultados). Neste
sentido, são interpretados e relatados os dados empíricos à luz do aporte teórico explicitado
nesta pesquisa. Para tanto, a interpretação dos materiais que expressam o currículo planejado
e em ação, da Educação Básica, escolhidos e produzidos pelo grupo de professoras participantes
desta pesquisa, está organizada em 2 seções. Na seção 4.1, destaca-se a interpretação dos
materiais curriculares quanto ao primeiro grupo de categorias de análise. A seção 4.2 expõe a
interpretação dos materiais curriculares quanto ao segundo grupo de categorias de análise.
Para tanto, foram elaborados gráficos que indicam a distribuição relativa das categorias
nas três fases da Educação Básica (gráficos de linhas)88, ou seja, gráficos que expressam, do
total de atividades classificadas por categoria, o percentual presente em cada ano letivo.
Também, foram elaborados gráficos referentes a distribuição das categorias de análise em cada
volume ou em cada caderno (gráficos de barras verticais), em outras palavras, gráficos que
expressam, do total de atividades classificadas por ano letivo, o percentual relacionado a cada
categoria de análise. Ressalta-se que estes gráficos foram produzidos com base nos dados
exibidos nos Quadros 26 e 32.
A apresentação das interpretações ocorrerá inicialmente pelos livros didáticos, seguido
dos cadernos. Além disso, sempre que possível, serão realizadas comparações entre as fontes
de produção de dados. Os Gráficos 7 e 8 apresentam as quatro categorias do primeiro grupo
(relações quaternárias, relações ternárias, funções e “operações”) para as três coleções de livros
didáticos.
Gráfico 7: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto ao
primeiro grupo de categorias
40%
30%
20%
10%
0%
88
Optou-se por utilizar gráficos de linha, mesmo os dados desta pesquisa sendo discretos, pois estes permitem
representar séries longas, auxiliando na detecção de flutuações e análise de tendências. Assim, torna-se possível
verificar a distribuição percentual das categorias, bem como visualizar o “movimento” destas categorias ao longo
da Educação Básica.
159
80%
60%
40%
20%
0%
Ressalta-se que mesmo as relações ternárias não tendo destaque em nenhum ano,
possuem um alto índice de situações propostas, porém elas se restringem a situações abordando
dobro e triplo, operador multiplicativo e transformações de unidades.
Os dados do gráfico permitem, também, constatar que em todos os anos da Educação
Básica, são propostas situações para todas as categorias. Outro ponto a sublinhar relaciona-se a
categoria “operações”, das atividades classificadas, pode-se perceber que, pelo menos, 25% das
situações propostas para cada ano são desta categoria.
Quando se analisa as fases da Educação Básica é possível verificar que no Ensino
Fundamental a categoria “operações” possui maior ênfase, se mantendo nos Anos Finais. Já, no
Ensino Médio esta categoria equilibra-se com as relações quaternárias.
É importante ressaltar que, as situações categorizadas, também, foram analisadas sob a
ótica dos RRS, no que tange as transformações cognitivas (tratamento e conversão). Das 5976
atividades classificadas nas quatro categorias do primeiro grupo, 35% requerem a conversão
entre registros de representação semiótica (a maioria do registro da língua natural para o
numérico) e 65% exigem tratamentos (a maioria tratamentos numéricos). Este resultado é
influenciado pelo domínio em praticamente todos os anos da Educação Básica da categoria
“operações” (Gráfico 8), em especial, no 5º e 6º ano do Ensino Fundamental. Considerando que
para a aquisição dos conceitos é importante a atividade cognitiva da conversão (DUVAL, 2004,
2011) pode-se inferir que o aspecto procedimental é mais valorizado do que o conceitual quando
se trata do campo conceitual das estruturas multiplicativas.
161
40%
30%
20%
10%
0%
Vale destacar que o caderno do 2º ano do Ensino Fundamental não foi analisado,
conforme mencionado no Capítulo 3, por isso, os gráficos não apresentam valores para este
ano. Quanto aos demais anos, o Gráfico 9 permite visualizar, no que tange as relações
quaternárias, que o maior índice de situações está presente no 4º ano do Ensino Fundamental
seguido do 5º e 6º anos (22,9%, 19,3% e 19,2%, respectivamente), concentrando 61,4% do total
de situações classificadas nesta categoria, devido à grande quantidade de atividades envolvendo
as variáveis quantidade de itens e valor (monetário). Constata-se também, que no 8º ano não há
atividades categorizadas, pois a ênfase é dada aos conceitos da álgebra 89 (monômios,
polinômios, operações com polinômios, produtos notáveis).
As relações ternárias são apresentadas em maior índice no 5º ano do Ensino
Fundamental. Resultado justificado em função do número de atividades envolvendo operador
multiplicativo. Em contrapartida, no 9º ano do Ensino Fundamental e no 1º ano do Ensino
Médio, não foram identificadas situações, pois no 9º ano há destaque para o estudo das equações
89
Os conteúdos abordados no 8º ano do Ensino Fundamental restringem-se as dimensões estrutural e equação da
álgebra, conforme categorização dos PCN (BRASIL, 1998).
162
Gráfico 10: Distribuição relativa das categorias do primeiro grupo em cada caderno
80%
60%
40%
20%
0%
Diferentemente dos livros didáticos, nos cadernos as categorias não são trabalhadas em
todos os anos, por exemplo, relações ternárias e funções. A exceção do 8º ano do Ensino
163
Gráfico 11: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto as
relações quaternárias
40%
30%
20%
10%
0%
Pode-se observar, no Gráfico 11, que o maior índice para a classe um para muitos é do
3º ano do Ensino Fundamental (16,3%), devido a ênfase dada à situações cujo modelo
matemático corresponde a operação de multiplicação. Deste percentual, 71% são situações
envolvendo operação de multiplicação, em outras palavras, do total de atividades categorizadas
como um para muitos 71% são situações que requerem esta operação. As demais podem ser
resolvidas pela operação de divisão. Também, verifica-se que até o 7º ano do Ensino
Fundamental há certo equilíbrio na distribuição das atividades desta subcategoria. O menor
índice é evidenciado no 2º ano do Ensino Médio, pois, neste ano, são abordados conteúdos
relacionados a sistemas lineares, matrizes e determinantes, em geral, sendo trabalhados pela
primeira vez, neste ano.
Nesta classe, há três grupos de situações caracterizadas pela posição da incógnita (𝑥) na
relação (multiplicação, divisão partitiva e divisão quotitiva). Com o intuito de identificar como
165
estes grupos foram abordados nas diferentes fases da Educação Básica, elaborou-se o Quadro
34 que detalha o percentual de situações categorizadas para cada grupo.
Quadro 34: Percentual de situações dos grupos na classe um para muitos nas
diferentes fases da Educação Básica propostas nos livros didáticos
Divisão
Operações Multiplicação Divisão Quotitiva
(Partitiva)
Modelo
1 → 𝑎 1 → 𝑥 1 → 𝑎
Matemático
𝑏 → 𝑥 𝑏 → 𝑐 𝑥 → 𝑐
Quantidade (%) 63,7% 19,9% 16,4%
Fonte: Elaborado pela pesquisadora.
muitos é do grupo multiplicação nos Anos Iniciais da Educação Básica. Além disso, mais da
metade das situações está no Ensino Fundamental.
Quadro 35: Percentual de situações dos grupos na classe um para muitos em cada fase
da Educação Básica propostas nos livros didáticos
Divisão
Operações Multiplicação Divisão Quotitiva
(Partitiva)
Modelo
1 → 𝑎 1 → 𝑥 1 → 𝑎
Matemático
𝑏 → 𝑥 𝑏 → 𝑐 𝑥 → 𝑐
Anos Iniciais 33,1% 11,4% 6,7%
Anos Finais 22,3% 7,8% 7,7%
Ensino Médio 8,3% 0,7% 2%
Total 63,7% 19,9% 16,4%
Fonte: Elaborado pela pesquisadora.
O baixo índice para situações do grupo divisão, em especial, nos Anos Iniciais talvez
deva-se a crença de que esta operação é muito difícil. No “Manual do Professor” do livro
didático do 5º ano, o autor reforça esta crença ao afirmar que a divisão é a operação que os
estudantes tem a maior dificuldade. Acredita-se que esta dificuldade pode estar relacionada a
forma como a operação é abordada, ou seja, sem relação com a operação de multiplicação e
com a ideia de proporcionalidade.
166
Os dados da Tabela 3 indicam que o sentido da conversão mais explorado nas coleções
de livros didáticos é do RLN para o RN, principalmente, nos Anos Iniciais (3º, 4º e 5º ano) e
no início dos Anos Finais do Ensino Fundamental (6º e 7º ano), nestes últimos devido as
situações envolvendo números racionais na representação decimal (compra de produtos). O
segundo sentido das conversões mais abordado na classe um para muitos envolve três registros:
RLN para RF e desta para o RN. Esta transformação de registros é observada, especialmente,
nos Anos Iniciais, sendo o registro figural apresentado para “facilitar” a conversão do RLN para
o RN. Percebeu-se que muitas das situações propostas poderiam ser resolvidas apenas pela
contagem das figuras expostas (soma de parcelas iguais), o que não contribui na transição do
campo aditivo para o multiplicativo (VERGNAUD, 2009a, LAMON, 2008).
90
Lista de símbolos está disponível no Apêndice E.
167
Ainda, em relação a classe muitos para muitos na coleção dos Anos Iniciais, constatou-
se que no “Manual do Professor” do livro didático do 2º ano há sugestões para professor
trabalhar situações desta classe, identificadas no exemplo: 2 abacaxis custam R$ 6,00, então 5
abacaxis custam? Contudo, este tipo de situações não foram incluídas no livro do estudante do
2º ano. No livro do 5º ano, observou-se pela primeira vez o uso do termo proporcionalidade,
pelo autor, visto que ele não apresenta na coleção a proporcionalidade como um dos
significados da multiplicação.
A Figura 35 foi localizada na seção revisão do capítulo intitulado Porcentagem e
Probabilidade. Ao analisar as situações propostas percebe-se que a análise escalar é valorizada
pelo autor. Além disso, a situação proposta na letra “d” envolve números racionais na
representação fracionária. Estas situações são consideradas por Lamon (2008) como propícias
ao desenvolvimento do raciocínio progressivo e regressivo, pois possibilitam a utilização de
procedimentos que a partir de uma fração qualquer é buscada a unidade e por meio das relações
proporcionais são determinadas outras frações quaisquer da unidade.
Pode-se visualizar, no Gráfico 11, que 60,4% das situações da classe muitos para muitos
foram categorizadas na coleção de livros didáticos dos Anos Finais do Ensino Fundamental,
principalmente, no 7º e 9º anos, conforme mencionado anteriormente. Dada a importância de
tal evidência para os objetivos desta pesquisa, optou-se por detalhar alguns resultados que
explicam os índices do 7º e 9º ano do Ensino Fundamental na classe muitos para muitos, bem
como o índice do 8º ano (13, 3%).
No livro didático do 7º ano há um capítulo intitulado “Proporção”. Neste capítulo, o
autor propõe o estudo de grandezas direta e inversamente proporcionais, relacionadas a regra
de três e a noção de escala relacionada a ideia de razão. No “Manual do Professor”, fica explícito
o objetivo de abordar a proporcionalidade de forma contextualizada e a ênfase à regra de três.
[...] o conteúdo de proporcionalidade é explorado de maneira contextualizada, a fim
de levar o aluno a diferenciar grandezas direta e inversamente proporcionais, além de
identificar grandezas que não são proporcionais. No trabalho com proporção, é
importante a interpretação dos problemas, o que favorece o desenvolvimento do
raciocínio lógico-matemático. O trabalho com a regra de três visa a levar o aluno a
resolver situações-problema que envolvem grandezas direta e inversamente
proporcionais, em vez de utilizar somente métodos não convencionais. (RIBEIRO,
2011, p. 51, manual do professor, grifo nosso).
Imenes e Lellis (2005) chamam atenção para as muitas vezes que a proporcionalidade é
abordada nos livros didáticos de “forma tradicional”. Em outros termos, é dado realce a
igualdade de razões (proporção), seguindo três fases: a primeira visa à definição de razão; a
segunda dirige-se à definição de proporção (razões são iguais) e a terceira constitui-se em
definir quando que duas grandezas são direta ou inversamente proporcionais, sequência esta
observada no livro didático do 7º ano. Para os pesquisadores, essa abordagem não garante ao
estudante a aprendizagem do conceito de proporcionalidade, pois pode saber usar a regra de
três, mas ao resolver problemas que se diferem desse padrão, esboça dificuldades na análise de
como variam as grandezas.
Tinoco (2011) reforça essas ideias ao afirmar que impor a solução de situações de
proporcionalidade direta ou inversa pela igualdade de duas razões não contribui no
desenvolvimento do raciocínio proporcional. Os pesquisadores mencionados acima defendem
a abordagem do conceito de proporcionalidade como função.
É essencial registrar que no livro do 8º ano, também, há um capítulo denominado Regra
de Três. O objetivo deste capítulo é retomar proporção simples e abordar proporções múltiplas.
A análise escalar (covariação) continua sendo a única a ser explorada tanto para situações
envolvendo grandezas diretamente proporcionais quanto para inversamente proporcionais. A
maioria das situações envolvendo proporção simples apresentam grandezas diretamente
proporcionais. No que se refere as situações do eixo proporção múltipla, é neste ano que foram
identificadas as únicas atividades propostas (21 situações) em todas as fases da Educação
Básica. A abordagem segue a mesma escolhida para o trabalho com proporção simples, isto é,
ênfase no uso da regra de três com situações envolvendo grandezas diretamente proporcionais.
Pode-se constatar (no Gráfico 11) que mesmo os livros do 7º e 8º anos possuindo
capítulos específicos para abordar proporção e regra de três, é no livro do 9º ano que constata-
se o maior índice de atividades categorizadas na classe muitos para muitos. Como já foi
mencionado acima, este resultado deve-se, principalmente, as situações propostas envolvendo
os conteúdos de segmentos proporcionais, semelhança de figuras, razões trigonométricas e
teorema de Tales. No “Manual do Professor” deste ano há sugestões para o professor retomar
o “conteúdo regra de três”. Percebe-se que o algoritmo recebe status de conteúdo matemático,
segundo o autor “durante o desenvolvimento do capítulo, os alunos utilizam seus
conhecimentos sobre regra de três simples na realização dos cálculos” (RIBEIRO, 2011, p. 23,
manual do professor). Entende-se que as situações envolvendo estes conteúdos podem ser
resolvidas por meio da mobilização de outras estratégias, por exemplo, escalar e funcional. Bem
como, da utilização das interpretações do número racional, em especial, razão e taxa.
172
É importante mencionar que fazem parte dos resultados da classe muitos para muitos
para as três fases da Educação Básica, as situações que exigem a conversão do registro da língua
natural para outros registros cujos dados envolvem a representação percentual dos números
racionais. A maioria das situações categorizadas nesta classe, nos livros didáticos, com exceção
do 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental, estão relacionadas a porcentagem.
A análise dos dados das coleções de livros didático quanto as transformações cognitivas
na classe muitos para muitos permitiu elaborar a Tabela 4. Na Tabela 4 são destacados como
ficou o percentual de conversões e tratamentos em relação ao número de atividades propostas
nesta classe, os sentidos das conversões mais explorados, bem como a utilização da
representação tabular.
Pode-se constatar, por meio dos resultados expostos na Tabela 4, que a conversão do
RLN para o RN, assim como na classe um para muitos, continua recebendo maior atenção.
Entretanto, a maioria das situações que exigem esta conversão não foi identificada nos Anos
Iniciais e, sim nos Anos Finais do Ensino Fundamental (7º e 8º ano), devido aos capítulos
específicos denominados de Proporção e Regra de Três. A conversão do RGeo para o RA é a
segunda mais explorada nesta classe, principalmente, no 9º ano do Ensino Fundamental quando
são apresentados os conceitos geométricos que requerem a relação com a proporcionalidade
(segmentos proporcionais, teorema de Tales, semelhança de figuras, razões trigonométricas).
Esta conversão também recebe atenção no 1º ano do Ensino Médio, devido, especialmente, ao
capítulo que trata das razões trigonométricas.
O percentual de situações envolvendo conversões com a representação tabular
aumentou em relação ao índice verificado na classe um para muitos. Contudo, se analisarmos
estas conversões nos Anos Iniciais constata-se que representam apenas 0,7% do total de
situações desta classe (muitos para muitos) que requerem apenas conversões. Além disso, todas
foram identificadas no livro didático do 5º ano. Assim, a maioria das conversões que envolvem
173
Ressalta-se que, nesta classe, foram identificadas situações que exploram o registro
gráfico a maioria localizada nos capítulos específicos para o estudo de conceitos estatísticos na
coleção de livros didáticos dos Anos Finais do Ensino Fundamental. A relação da
proporcionalidade com a estatística torna-se cada vez mais importante em função do grande
número de dados e informações apresentados pelas mídias digitais e impressas acerca das
situações sociais, econômicas, ambientais, entre outras. Assim como na classe um para muitos,
o sentido inverso das conversões foi identificado nas atividades envolvendo as representações
tabulares e gráficas (RTRG e RGRT).
Conforme mencionado anteriormente, o Gráfico 12 expõe a distribuição das situações
na subcategoria situações proporcionais simples quanto aos planejamentos do grupo de
professoras.
174
Gráfico 12: Distribuição relativa dos dados dos cadernos quanto as relações
quaternárias
Neste gráfico, é possível perceber que o maior índice para a classificação um para
muitos está no 4º ano (33,3%) seguida do 6º ano (25,6%). No 4º ano, deve-se ao fato de que as
operações de multiplicação e divisão são retomadas e ampliadas, bem como, no 6º ano as
operações com números racionais nas representações fracionária e decimal também são
retomadas e ampliadas. Além disso, é possível verificar que 92% das atividades da classe um
para muitos estão concentradas do 3º ao 6º ano do Ensino Fundamental e que no Ensino Médio
as situações desta classe são praticamente inexistentes (havendo pouquíssimas no 3º ano
relacionadas a Matemática Financeira). Assim como nos livros didáticos, elaborou-se o Quadro
36 que detalha o percentual de situações categorizadas para cada grupo, em relação aos
cadernos.
Quadro 36: Percentual de situações dos grupos na classe um para muitos nas
diferentes fases da Educação Básica propostas nos cadernos
Divisão
Operações Multiplicação Divisão Quotitiva
(Partitiva)
Modelo
1 → 𝑎 1 → 𝑥 1 → 𝑎
Matemático
𝑏 → 𝑥 𝑏 → 𝑐 𝑥 → 𝑐
Quantidade (%) 77,8% 16,4% 5,8%
Fonte: Elaborado pela pesquisadora.
Destas situações a mais enfatizada, assim como nos livros didáticos, é do grupo divisão
partitiva. Os termos utilizados para abordar a operação de divisão evidenciam as ideias de
repartir, distribuir, número de parcelas iguais, o que pode conduzir os estudantes a procura
destes termos para resolver a situação e não analisar a relação entre as variáveis.
No Quadro 37 pode-se visualizar a distribuição das situações destes três grupos em
relação a cada fase da Educação Básica.
Quadro 37: Percentual de situações dos grupos na classe um para muitos em cada fase
da Educação Básica propostas nos cadernos
Divisão
Operações Multiplicação Divisão Quotitiva
(Partitiva)
Modelo
1 → 𝑎 1 → 𝑥 1 → 𝑎
Matemático
𝑏 → 𝑥 𝑏 → 𝑐 𝑥 → 𝑐
Anos Iniciais 50,2% 13,4% 2,8%
Anos Finais 24,4% 2,6% 2,8%
Ensino Médio 3,2% 0,4% 0,2%
Total 77,8% 16,4% 5,8%
Fonte: Elaborado pela pesquisadora.
Fica evidente que mais da metade do total de atividades um para muitos é do grupo
multiplicação nos Anos Iniciais da Educação Básica. Além disso, 74,6% das situações está no
grupo multiplicação e são propostas no Ensino Fundamental. Pode-se afirmar que tanto nos
livros didáticos quantos nos cadernos há uma preferência pelas situações do grupo
multiplicação, sendo muitas as razões que explicam esta ênfase. Sublinha-se duas delas, com
base em Gitirana et al. (2014) Merlini (2012), Nunes (2010), Santos (2012), e no currículo
prescrito (PCN’AI, PCN’AF, RC/RS):
1. As situações de multiplicação permitem relacionar as atividades do campo
aditivo com as do campo multiplicativo, visto que as situações de multiplicação podem
ser resolvidas como a soma de parcelas iguais. Contudo, ressalta-se que a relação entre
multiplicação e adição não é conceitual, mas está centrada no processo de cálculo
(NUNES, 2010).
Ao analisar a coleção de livros didáticos percebe-se que uma das ideias associadas a
multiplicação é “juntar quantidades iguais” (Figura 38). No “Manual do Professor” do livro do
2º ano dos Anos Iniciais, ficam explícitos os significados destacados pelo autor para trabalhar
a multiplicação “nesse capítulo são trabalhadas informalmente as ideias de multiplicação:
adição de parcelas iguais, disposição retangular e número total de possibilidades” (DANTE,
2011, p. 75, manual do professor). A escolha por trabalhar com a adição de parcelas iguais é
176
justificada pelo autor ao afirmar que a adição de números iguais é a ideia mais comum e natural
da operação de multiplicação.
Entretanto, no manual do 2º ano identifica-se sugestões de situações em que a relação
da multiplicação com a proporcionalidade pode ser abordada. Nos outros manuais percebe-se
que as ideias associadas a multiplicação são tratadas para além da soma de parcelas iguais, em
outros termos são propostas situações envolvendo representação retangular, combinatória e a
própria proporcionalidade como foi mencionado anteriormente e exemplificado pela Figura 35.
Para Gitirana et al. (2014, p. 31) é cada vez mais relevante destacar a multiplicação
como uma relação quaternária, pois “o ensino da multiplicação como continuidade da adição,
em geral traz dificuldades na aprendizagem da multiplicação quando ocorrem as rupturas
necessárias entre as duas operações”, principalmente, quando se faz a análise dimensional da
situação, ou seja, a análise das variáveis envolvidas. Corrobora com esta afirmação Nunes
(2010) ao sublinhar que os estudantes precisam analisar as duas variáveis envolvidas em uma
situação para ampliar o conceito de multiplicação.
Na Tabela 5 pode-se observar os resultados das atividades categorizadas na classe um
para muitos quanto as transformações cognitivas.
Constata-se que, assim como nas coleções de livros didáticos, o sentido da conversão
mais explorado é do RNL para o RN, com sua grande maioria (81,1%) nos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental. A conversão do RLN para o RF e deste para o RN foi o segundo registro
mais abordado, também, com ênfase nos Anos Iniciais. Quanto a presença da representação
tabular nas situações desta classe, percebe-se que o índice (2,8%) nos cadernos é um pouco
menor do que nas coleções de livros didáticos (3,6%). Pode-se inferir que a representação
auxiliar de transição para resolver situações do campo das estruturas multiplicativas (classe um
para muitos) é pouco explorada nos dois materiais curriculares analisados, indo contra as
sugestões dos teóricos e pesquisadores citados, em especial, no Capítulo 2, ao tratarem do
desenvolvimento do raciocínio proporcional.
Pode-se visualizar no Gráfico 12 que, nos cadernos, a classe muitos para muitos, assim
como no livro didático, tem seu maior índice no 9º ano seguido do 7º ano (30,9% e 21,9%,
respectivamente). Em contrapartida, no 3º e no 8º anos do Ensino Fundamental não são
identificadas situações, devido, no 3º ano as situações dos grupos multiplicação e divisão serem
privilegiadas, e no 8º ano ao trabalho com conceitos algébricos (monômios, polinômios,
produtos notáveis).
179
Nos cadernos, como nas coleções de livros didáticos, a maioria das situações propostas
na classe muitos para muitos (58,4%) concentra-se nos Anos Finais do Ensino Fundamental.
Por isso, torna-se necessário expor os motivos que justificam este índice, principalmente, para
o 7º e 9º anos.
Ao analisar o caderno do 7º ano, constatou-se que a professora seguiu algumas sugestões
do livro didático, em especial, as atividades. Assim, as situações propostas são resolvidas pelo
método das proporções com ênfase na regra de três, visto que a análise escalar, abordada no
início do capítulo Proporções, do livro didático, não foi trabalhada. As grandezas diretamente
proporcionais são abordadas com maior ênfase do que as inversamente proporcionais. Na
Figura 40 pode-se verificar a situação escolhida para iniciar o estudo de grandezas
proporcionais (diretamente proporcionais). A tabela construída apresenta apenas 3 valores da
variável independente (tempo), o que pode limitar a análise do padrão e possíveis
generalizações. Há destaque para a igualdade de razões, no entanto, estas não foram
simplificadas e não há questionamentos sobre o que a razão representa, nesta situação
(tempo/distância ou distância/tempo).
Assim como no livro didático do 7º ano, percebe-se, no caderno deste ano, a ênfase à
determinação do valor de 𝑥 por meio do uso da regra de três em detrimento da análise da
covariação e invariância das variáveis envolvidas.
No caderno do 9º ano, verifica-se que as situações da classe muitos para muitos, em sua
maioria, envolvem a relação da proporcionalidade com a geometria, em especial, teorema de
Tales e razões trigonométricas. O teorema de Tales foi abordado com ênfase para os tratamentos
algébricos, assim, as relações proporcionais ficaram mascaradas pelo uso da regra de três.
Quanto as razões trigonométricas, constatou-se que foram exploradas sem estabelecer relação
com a semelhança de figuras, um dos conceitos importantes no desenvolvimento do raciocínio
proporcional, com ênfase para os tratamentos algébricos. Ressalta-se que a proporcionalidade
é a ideia formadora das noções de seno, cosseno e tangente. Assim, a compreensão deste
conceito precisa estar consolidada antes do início do estudo do estudo das razões e funções
trigonométricas (SÃO PAULO, 2008).
Diante destes resultados, pode-se afirmar que, assim como no livro didático, a classe
muitos para muitos é pouco abordada nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A maioria das
atividades classificadas nesta fase da Educação Básica, em especial, no 5º ano, envolve
porcentagem.
Em relação as transformações cognitivas, a Tabela 6 expõe os resultados da
categorização das situações para a classe muitos para muitos.
O sentido das conversões mais enfatizado na classe muitos para muitos nos cadernos,
assim como nas coleções de livros didáticos, é do RLN para o RN, presentes, principalmente,
no caderno do 7º ano, devido ao item dedicado as Proporções, conforme já mencionado na
análise do Gráfico 12. A conversão do RGeo para o RA foi a segunda mais abordada nas três
fases da Educação Básica. Destaca-se que este sentido da conversão, para a classe muitos para
muitos, foi identificado apenas nos cadernos do 9º ano do Ensino Fundamental e no 2º ano do
181
Gráfico 13: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto a
comparação multiplicativa
Comparação Multiplicativa
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Constata-se, no Gráfico 11, que os maiores índices para a classe referido desconhecido,
encontra-se nos 6º e 7º anos do Ensino Fundamental, ambos com 22,1% do total de atividades
propostas nas três fases da Educação Básica, devido a ênfase dada à situações envolvendo a
interpretação do número racional operador multiplicativo. É possível verificar, também, que
não foram identificadas situações desta classe no Ensino Médio. Uma possível justificativa para
182
este resultado são as poucas situações propostas nesta fase da Educação Básica relacionadas as
interpretações do número racional. A análise das situações categorizadas, nesta classe, permite
afirmar que, dos 48,6% de atividades identificadas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental a
maioria encontra-se, principalmente, no 4º e 5º ano, assim como nos Anos Finais, a ênfase é
para a interpretação do número racional operador multiplicativo.
Ressalta-se que há situações desta classe que exigem níveis cognitivos mais elaborados,
ou seja, as situações que apresentam no enunciado os termos “vezes mais”, “vezes maior”,
“vezes menos” e “vezes menor” são, geralmente, interpretadas pelos estudantes dos Anos
Iniciais como do campo aditivo pela influência das palavras “mais” e “menos”. (GITIRANA et
al., 2014; LAMON, 2008; MERLINI, 2012; SANTOS, 2012; VERGNAUD, 2009a). Para que
estas dificuldades sejam amenizadas é importante propor situações em que estes termos sejam
apresentados de modo a identificar como está ocorrendo a transição do campo aditivo para o
multiplicativo. Na Figura 41 pode-se observar uma das poucas atividades que exploram alguns
dos termos mencionados para a classe referido desconhecido.
Gráfico 14: Distribuição relativa dos dados dos cadernos quanto a comparação
multiplicativa
Comparação Multiplicativa
50%
40%
30%
20%
10%
0%
“Grandezas e Medidas” perdem espaço no Ensino Médio. Destaca-se que 15,6% das situações
da classe relação desconhecida foram identificadas no caderno do 2º ano do Ensino Médio,
sendo todas classificadas como transformação de unidades (ângulo), no estudo das razões
trigonométricas.
A ênfase dada as transformações de unidades praticamente anulou o trabalho com o
conceito de razão, sendo identificadas poucas situações no 7º e 9º ano do Ensino Fundamental,
ou seja, o trabalho com o conceito de razão é tardio. Além disso, o tratamento dado está muito
próximo do realizado com os números racionais, sem uma significativa diferenciação
(GUACANEME, 2002; LAMON, 2008), assim como, verificou-se nas coleções de livros
didáticos.
Na Tabela 8 são apresentados os percentuais, levando em consideração as
transformações cognitivas, para o eixo comparação multiplicativa (referido desconhecido e
relação desconhecida), em relação aos cadernos.
A primeira observação que pode ser feita, com base nos indicativos dos dados da Tabela
8, é a de que as conversões são enfatizadas na classe referido desconhecido e os tratamentos na
classe relação desconhecida. A justificativa para o destaque dado aos tratamentos na relação
desconhecida deve-se ao número excessivo de situações de transformação de unidades,
conforme já mencionado acima. Deste modo, há um descompasso entre as escolhas do grupo
de professoras quanto as transformações cognitivas para o eixo comparação multiplicativa,
também, percebido na análise das coleções de livros didáticos.
Na categoria Funções classificou-se as atividades cujas as variáveis envolvidas são
proporcionais e as que não são proporcionais. Os resultados desta classificação para as coleções
de livros didáticos e cadernos são apresentados, respectivamente, nos Gráficos 15 e 16.
187
Gráfico 15: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto as
funções
Funções
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Há várias razões que explicam este resultado, destaca-se três: (i) nos Anos Iniciais,
principalmente, são propostas a análise de várias sequências numéricas cujo padrão é linear
com o intuito de potencializar a compreensão do sistema de numeração decimal; (ii) deixa-se
para o Ensino Médio a discussão de situações que são modeladas por funções não lineares; (iii)
considera-se as situações cujas variáveis são proporcionais como as mais simples de serem
ensinadas no Ensino Fundamental.
No entanto, ressalta-se que para a compreensão de proporcionalidade direta (função
linear) é importante apresentar, aos estudantes, situações que envolvem este conceito e outras
em que a relação fixa entre as variáveis não existe, pois “a aquisição de noções não é
independente da solução de problemas que colocam essas noções em ação. A solução de
problemas é, ao mesmo tempo, um meio e um critério da aquisição de noções” (VERGNAUD,
2009a, p. 269).
A análise das coleções dos livros didáticos em relação as transformações cognitivas e
os sentidos da conversão para a categoria função permitiu elaborar a Tabela 9.
A partir da observação dos dados da Tabela 9, pode-se notar que há um destaque para a
conversão do RLN para o RA e deste para o RN, pois a maioria das situações que exigia a
determinação da lei da função, em seguida, solicitava que fosse calculado o valor da 𝑓(𝑥) para
um determinado valor de 𝑥 ou que fosse encontrada a raiz da função, este último procedimento
resultando na resolução de uma equação.
As situações envolvendo o registro figural como intermediário foram identificadas, em
sua maioria, no 9º ano do Ensino Fundamental e no 1º ano do Ensino Médio, neste último as
atividades concentram-se no capítulo sequências numéricas. Diante deste resultado, sublinha-
se que o trabalho com sequências figurais pode contribuir para a aquisição do conceito de
função e, por consequência, da proporcionalidade desde que sejam propostas situações variadas
190
Gráfico 16: Distribuição relativa dos dados dos cadernos quanto as funções
Funções
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1º ano do Ensino Médio e a maioria das atividades propostas explora mais a determinação de
raízes, pontos máximos e mínimos, valores específicos das funções, entre outros do que modelar
as situações por meio da representação algébrica.
Não foram identificadas atividades desta subcategoria no 5º ano do Ensino Fundamental
e 2º ano do Ensino Médio. No 5º ano, não foram propostas situações envolvendo sequências
numéricas como identificou-se no 3º e 4º ano dos Anos Iniciais, pois há ênfase para operações
com números naturais. Percebe-se atividades que permitem explorar padrões, mas a forma
como foram organizadas valoriza o uso de algoritmos da multiplicação e divisão, como pode-
se observar na atividade exposta na Figura 42.
O fato de não ter categorizado nenhuma atividade no 2º ano do Ensino Médio, mesmo
sendo abordados os conteúdos de progressões (aritméticas e geométricas) e funções
trigonométricas, é preocupante. Pois, indica que o conceito de sequências numéricas foi
reduzido as progressões, principalmente, a utilização das fórmulas para determinar o termo
geral e não foram propostas atividades cujo modelo matemático é dado por uma função
trigonométrica, o que limita a análise da variação e invariância dos espaços de medidas
presentes em cada situação.
Neste sentido, acredita-se que serão atribuídos significados aos conceitos da estrutura
multiplicativa, em especial, função, à medida que o estudante se depare com situações que
exijam a análise de regularidades. Este caminho permite “desenvolver as capacidades que
envolvem o raciocínio proporcional, em particular o sentido de covariação [análise vertical
(escalar)] e de inferência [análise horizontal (funcional)], ao mesmo tempo que contribui para
o desenvolvimento da capacidade de generalização” (PONTE et al. 2010, p. 7).
Em relação a subcategoria funções proporcionais, constata-se que o maior índice refere-
se ao 1º ano do Ensino Médio (41,4%), devido ao fato de ter um item que trata da relação da
proporcionalidade com a função afim, com base na proposta apresentada pelo livro didático.
192
Ao analisar o caderno deste ano percebe-se que o número de situações cujo modelo matemático
é representado por uma função linear é maior que número de situações que são modeladas por
outras funções. Tem-se, este resultado, porque ao abordar a função exponencial a ênfase dada
foi para a equação exponencial e no estudo da função quadrática a ênfase foi para as
coordenadas do vértice. O que indica que mesmo no estudo de funções a abordagem limita-se
a dimensão equação da álgebra.
Diante disso, é possível afirmar que são abordadas situações cuja análise do padrão
restringe-se a função afim e quadrática, o que pode limitar o desenvolvimento do conceito de
proporcionalidade, pois, conforme Lamon (2008), quanto mais situações com padrões
diferentes forem propostas aos estudantes mais ele apropria-se das características da
proporcionalidade, ou seja, razão ou produto constante.
Entende-se que reconhecer uma relação de proporcionalidade em situações dadas em
diversas representações semióticas e, progressivamente, converter uma representação em outra
para modelar problemas é essencial para a aquisição deste conceito, por isso, foram organizadas
as tabelas, já apresentadas, destacando as transformações cognitivas exploradas nos materiais
analisados. Sendo assim, a Tabela 10 expõe os percentuais quanto as transformações cognitivas
abordadas no cadernos em relação a categoria função.
Gráfico 17: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto os
“nós” da rede de Lamon
60%
40%
20%
0%
É possível observar (Gráfico 17) que a maioria das situações categorizadas em relação
aos “nós” da rede de Lamon não ultrapassa mais que 20%. Este índice baixo justifica-se em
função das atividades propostas nas coleções de livros didáticos, geralmente, evidenciarem
mais os aspectos procedimentais do que os conceituais.
Em relação ao “nó” interpretações do número racional, pode-se perceber que seu maior
índice encontra-se no 5º ano do Ensino Fundamental (20,4%), seguido do 7º ano do Ensino
Fundamental (18,1%). Estes valores são verificados, no 5º ano pela retomada e ampliação do
conceito de fração e no 7º ano pela retomada das operações com números racionais, destacando-
se assim, a interpretação operador multiplicativo. Além disso, é possível constatar que do 4º ao
8º ano do Ensino Fundamental há uma variação de 10% a 20% nos percentuais de atividades
categorizadas neste “nó”.
Desconsiderando os anos em que não foram identificadas situações o menor índice está
situado no 3º ano do Ensino Médio. Fato este relacionado ao trabalho específico com apenas
uma das interpretações razão/taxa, principalmente, estudo de conceitos geométricos. Vale
ressaltar que posteriormente, no Gráfico 21, será detalhada a distribuição relativa para as
diferentes interpretações.
195
Para o “nó” quantidade e covariação verifica-se que o maior índice está no 9º ano do
Ensino Fundamental devido aos capítulos que abordam os conceitos de ampliação e redução de
figuras, escala, semelhança de figuras, homotetia, bem como, uma quantidade significativa de
situações da classe muitos para muitos relacionadas aos conceitos geométricos. Os menores
índices estão nos três primeiros anos dos Anos Iniciais, pois, nestes anos, as situações
envolvendo operações de multiplicação e divisão em sua maioria não evidenciam a relação
entre duas variáveis (resoluções com base na relação ternária) e a ampliação e redução de
figuras são abordadas em poucas atividades.
Outro ponto a destacar diz respeito ao período compreendido entre o 7º ano do Ensino
Fundamental e o 2º ano do Ensino Médio, período em que há certa regularidade na distribuição
das situações envolvendo este “nó”, devido, principalmente, ao trabalho com o conceito de
porcentagem e atividades de ampliação e redução de figuras, sendo estas destacadas por Lamon
(2008) por contribuir na análise de diferentes objetos quanto aos seus tamanhos relativos
(raciocínio relativo).
Ao discutir sobre este “nó” Lamon (2008) sublinha que para desenvolver o senso de
covariação e a invariância e, consequentemente, o raciocínio proporcional é preciso escolher
atividades (não precisam ser muitas) que possibilitem aos estudantes discernir as características
quantificáveis importantes da situação e observar se as quantidades estão ou não mudando.
Segundo a pesquisadora, os estudantes, geralmente, acreditam que duas quantidades aumentam
ou diminuem juntas.
Por exemplo, em uma foto há três crianças e duas barra de chocolate, na outra foto há
duas crianças e apenas uma barra de chocolate. Nesta situação, quais as quantidades estão
mudando? O número de crianças e a quantidade de chocolates por criança. De que forma estas
quantidades mudam? Quanto mais crianças para compartilhar, menos chocolate cada criança
receberá. Ressalta-se que ao analisar as coleções de livros didáticos não foram observadas
atividades que apresentassem estes questionamentos. Talvez porque, como já mencionado, a
preocupação está na utilização dos procedimentos operatórios e não nos aspectos conceituais.
Outras atividades sugeridas por Lamon (2008) e também pouco identificadas nas
coleções de livros didáticos para este “nó” referem-se a utilização de materiais manipuláveis no
estudo de equivalência e comparação de frações, em que sejam propostas questões de
comparação entre os tamanhos das peças duas as duas, três a três, entre outras (determinar
quantas vezes uma peça cabe na outra). A Figura 43 (letra d) expõe uma das poucas situações
que se aproximam das atividades propostas por Lamon (2008) no que tange ao trabalho com
equivalência e comparação de frações.
196
mas na atividade de comparação deseja-se saber “quanto mais”, em outros termos, ir além do
julgamento qualitativo (maior), identificando por meio do particionamento, buscando a
2 1 1
equivalência (figura à direita) que permite afirmar que 3 é 6 maior que 2.
197
A análise das situações, proposta nas coleções de livros didáticos quanto a equivalência
e comparação de frações, permite concordar com Lamon (2008, p. 93, tradução nossa) ao
afirmar que
Infelizmente, o ensino tem feito muito pouco uso do particionamento. É usado
implicitamente no início do ensino fração quando frações parte-todo são definidas: o
denominador informa o número de partes iguais em que o conjunto é dividido. Os
alunos normalmente fazem algumas imagens para representar comparações parte-
todo, mas, em seguida, o desenho de imagem é abandonado. Isso é lamentável,
porque, embora as crianças possam ver rapidamente que um valor é maior ou menor
do que o outro, isso leva algum tempo, antes que sejam capazes de quantificar
diferenças. "Quanto mais?" É uma pergunta muito difícil 91.
91
Unfortunately, instruction has made very little use of partitioning. It is used implicitly in the beginning of fraction
instruction when part–whole fractions are defined: the denominator tells the number of equal parts into which the
whole is divided. Students usually make some pictures to represent part–whole comparisons, but then picture
drawing is abandoned. This is unfortunate because, although children may quickly see that one amount is larger
or smaller than another, it takes some time before they are able to quantify differences. “How much more?” is a
very difficult question.
198
Devido ao baixo número de atividades, não foram evidenciadas situações em seis anos
da Educação Básica. Lamon (2008) menciona que os livros didáticos (currículo planejado), em
geral, não incentivam a unitização. Uma vez que são poucas as situações que permitem
reorganizar as grandezas, (re)agrupando-as para formar grupos que representam as mesmas
quantidades totais, bem como, situações nas quais a unidade não é só um objeto, ou seja, que
envolvam um conjunto de objetos. Além disso, há poucas atividades do tipo “melhor preço”,
denominação dada por Lamon (2008), nas coleções de livros didáticos. Para ela, estas atividades
199
Gráfico 18: Distribuição relativa dos “nós” da rede de Lamon em cada volume das
coleções
Com base nos dados do gráfico é possível perceber que, das atividades categorizadas
por ano, o “nó” interpretações do número racional é o mais destacado no 8º ano do Ensino
Fundamental seguido do 5º ano do Ensino Fundamental. O “nó” partilha e comparação é
destacado no 3º ano do Ensino Fundamental. Em relação ao “nó” quantidade e covariação, este
é enfatizado no 2º ano do Ensino Médio. O “nó” medida possui maior destaque no 3º ano do
Ensino Médio. Por fim o “nó” unitização não possui destaque em nenhum ano da Educação
Básica, conforme mencionado anteriormente.
Outra observação relevante a ser destacada é o fato de que, a coleção dos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental é a que explorou o maior número de “nós” da rede de Lamon. No 4º e
5º anos foram identificadas situações para os 5 “nós”. Sublinha-se as situações categorizadas
no “nó” quantidade e covariação relacionadas a ampliação e redução de figuras, identificadas
em todos os volumes da coleção. Na visão do autor da coleção estas atividades são importantes
pois integram números e operações à geometria. Entende-se que elas permitem trabalhar com
as diversas representações semióticas (numérica, algébrica, geométrica), relacionar vários
conceitos matemáticos, por exemplo, escala, semelhança, entre outros; abordar a interpretação
do número racional operador multiplicativo. Em outros termos, as situações envolvendo
ampliação e redução de figuras potencializam a compreensão de alguns conceitos destacados
por Lamon (2007, 2008) para o desenvolvimento do raciocínio proporcional.
Quanto a coleção dos Anos Finais do Ensino Fundamental, percebe-se que a maioria
das situações foi categorizada no “nó” interpretação do número racional, em função da
quantidade de capítulos específicos para abordar, principalmente, as operações com esses
números. O “nó” quantidade e covariação é o segundo mais explorado, devido aos capítulos
específicos para tratar de Proporção, assim, pode-se afirmar que possui um número
significativo de atividades da classe muitos para muitos quando comparado com os demais anos
da Educação Básica. Vale registrar que o trabalho com o conceito de escala é bastante
reducionista, pois não relaciona o conceito com outros, por exemplo, número racional.
Em relação a coleção do Ensino Médio, constata-se que a maior quantidade de
atividades categorizadas pertence ao “nó” quantidade e covariação, devido ao número de
atividades da classe muitos para muitos, identificadas no 1º e 2º anos.
O Gráfico 19 mostra a distribuição, nas fases da Educação Básica, do segundo grupo de
categorias de análise para os cadernos.
201
Gráfico 19: Distribuição relativa dos dados dos cadernos quanto aos “nós” da rede de
Lamon
60%
40%
20%
0%
para tal. Não sendo encontradas situações nos 8º e 9º anos do Ensino Fundamental e nos 1º e 3º
anos do Ensino Médio.
O Gráfico 20 apresenta a distribuição relativa dos “nós” da rede de Lamon, para cada
ano letivo, em relação aos cadernos.
Gráfico 20: Distribuição relativa dos “nós” da rede de Lamon em cada caderno
A partir dos dados do gráfico é possível verificar que o “nó” interpretações do número
racional é destacado no 4º ano do Ensino Fundamental, diferentemente das coleções de livros
didáticos em que este fica a cargo do 8º ano, seguido do 5º ano, ambos do Ensino Fundamental.
Em relação ao “nó” partilha e comparação este é evidenciado no 3º ano do Ensino
Fundamental, assim como na coleção de livros didáticos. Já o “nó” quantidade e covariação
tem sua ênfase no 1º ano do Ensino Médio devido ao item específico relacionando
proporcionalidade à função linear. Por fim, o “nó” medida é trabalhado com total destaque no
8º ano do Ensino Fundamental, pois foram propostas atividades envolvendo transformação de
unidades (grandezas angulares).
Ao analisar a distribuição relativa dos “nós” em cada ano letivo, percebe-se que nos
Anos Iniciais, mesmo sendo o início do trabalho, as interpretações do número racional são
privilegiadas. Nos Anos Finais o “nó” mais abordado é medida, e da gama de situações que
podem ser propostas para explorar este “nó” verificou-se apenas atividades do tipo
transformação de unidades. O “nó” quantidade e covariação é evidenciado no Ensino Médio.
Pode-se dizer que não há equilíbrio no trabalho com os “nós” da rede de Lamon (2008) nos
cadernos (currículo em ação), o que pode dificultar o desenvolvimento do raciocínio
proporcional. Além disso, há diferenças entre as atividades propostas por Lamon (2008) e as
204
verificadas nos cadernos, pois a maioria das situações objetiva a aplicação de um algoritmo ou
de uma regra, afirmação também feita para as coleções de livros didáticos.
Os Gráficos 21 e 22 apresentam a distribuição relativa dos dados das coleções de livros
didáticos e dos cadernos quanto as interpretações do número racional, em outras palavras, as
subcategorias do “nó” interpretações do número racional.
Gráfico 21: Distribuição relativa dos dados das coleções de livros didáticos quanto as
interpretações do número racional
60%
40%
20%
0%
Gráfico 22: Distribuição relativa dos dados dos cadernos quanto as interpretações do
número racional
60%
40%
20%
0%
Para razão/taxa, nas coleções de livros didáticos, o maior número de atividades está
localizado no 5º ano do Ensino Fundamental seguido do 2º ano do Ensino Médio (20,7% e
18,2%, respectivamente). Já, nos cadernos, encontram-se no 7º e no 9º anos do Ensino
Fundamental (36,5% e 23,5%, respectivamente). Ainda, em relação aos cadernos é possível
constatar que 87% das situações foram identificadas entre o 5º e o 9º anos do Ensino
Fundamental.
Estes resultados devem-se, principalmente, ao trabalho com porcentagem em quase
todos os anos da Educação Básica. A porcentagem, no entendimento de Lamon (2007),
possibilita explorar aspectos das interpretações operador multiplicativo e razão. Nesta
pesquisa, as situações envolvendo porcentagem foram categorizadas como razão. Na
interpretação razão, a primeira quantidade está sempre relacionada a uma segunda quantidade
centesimal (100).
Pode-se afirmar que as situações envolvendo porcentagens são um dos raros momentos
em que identificou-se a necessidade explícita da mobilização do raciocínio relativo tanto nas
atividades propostas nas coleções quanto nos cadernos. Entretanto, para que o raciocínio
relativo seja desenvolvido precisa-se relacionar mais a porcentagem a interpretação razão do
que a operador multiplicativo, pois há muitas situações que exigem apenas calcular, por
exemplo, 80% do preço de uma mercadoria, dando ênfase para os aspectos operatórios em
detrimento dos conceituais.
208
Ressalta-se, também, que é essencial propor mais situações que exijam expressar uma
quantidade fracionária como porcentagem, pois estas possibilitam o desenvolvimento do
raciocínios progressivos e regressivos. Estes tipos de situações foram identificadas nos
materiais curriculares analisados, mas apenas no início do estudo de porcentagens. No Quadro
38 apresenta-se um exemplo de atividade sugerido por Lamon (2008) envolvendo porcentagem
que favorece o desenvolvimento dos raciocínios progressivos e regressivos. Justifica-se a
apresentação desta atividade porque há várias semelhantes nos materiais curriculares
analisados, contudo, Lamon (2008) dá ênfase para a representação tabular e descrição da ação
realizada e não apenas para o procedimento operatório.
muitos, mesmo sendo propostas com destaque no 7º e 9º anos do Ensino Fundamental, foram
abordadas nos demais anos. Já, nos cadernos, as situações da classe muitos para muitos foram
tratadas quase que exclusivamente no 7º e 9º anos do Ensino Fundamental.
A prioridade dada à classe um para muitos em ambos os materiais curriculares deve-se,
principalmente, as atividades propostas no grupo de situações multiplicação, em especial, nos
primeiros anos escolares, visto que estas recebem uma atenção maior do que as situações do
grupo divisão. Ressalta-se que a maioria das atividades do grupo de situações multiplicação
identificadas nos cadernos, em particular, do 3º ao 5º ano mantém uma relação com o campo
das estruturas aditivas, pois abordam a multiplicação como soma de parcelas iguais. Esta
abordagem é considerada, por diversos pesquisadores (VERGNAUD, 2009a; NUNES, 2010;
MAGINA et al. 2011), como limitada porque o raciocínio multiplicativo é caracterizado por
duas variáveis numa relação fixa uma com a outra, noção fundamental para o entendimento da
proporcionalidade, e não pela relação parte-todo presente na soma de parcelas iguais. É preciso,
registrar que, na coleção de livros didáticos dos Anos Iniciais, esta abordagem é explorada nos
volumes 2 e 3, principalmente, mas verificou-se a preocupação do autor em propor situações
que potencializam a transição do campo das estruturas aditivas para as multiplicativas, em
especial, no volume 5.
No que tange as transformações cognitivas para o eixo das situações proporcionais,
observou-se que as conversões são mais exploradas do que os tratamentos em ambos os
materiais curriculares analisados. Entretanto, constatou-se que as situações propostas nas
coleções de livros didáticos requerem a mobilização e coordenação de um número maior de
registros de representação semiótica do que as identificadas nos cadernos. Com base nas ideias
de Duval (2011, 2012), compreende-se que a resolução de problemas multiplicativos pode ser
facilitada se representações auxiliares de transição forem mobilizadas, por exemplo, a
representação tabular, assim, olhou-se atentamente para as situações que exploram esta
representação. Percebeu-se que tanto nas coleções de livros didáticos quanto nos cadernos a
representação tabular não recebe tanta atenção. Talvez porque a importância dos registros de
representação semiótica para a atividade matemática, ainda, não faça parte dos critérios de
autores de livros didáticos e professores para selecionar as situações. Este resultado, também,
pode estar relacionado ao fato de que a análise escalar (covariação), a análise funcional
(invariância) e o cálculo relacional foram pouco observados nos materiais analisados, para a
resolução de situações proporcionais, sendo que estes ficam melhor estruturados por meio da
representação tabular. É importante lembrar que, conforme afirma Vergnaud (1996), a escolha
das situações é o primeiro ato de mediação do professor para a formação de conceito dos
214
elaborado e admite-se que outros estudos podem revisar, ampliar e/ou consolidar os conceitos
apresentados e elaborados. Há várias possibilidades de dar continuidade a esta pesquisa, aponta-
se duas: (i) analisar as coleções de livros didáticos dos Anos Finais do Ensino Fundamental e
Ensino Médio do autor da coleção dos Anos Iniciais que foi fonte de análise desta pesquisa,
pois pode haver outro tratamento para a proporcionalidade, identificando outras estruturas
centrais do raciocínio proporcional, visto que os 4 volumes analisados já apontavam a
preocupação com as interpretações do número racionais e com o conceito de função desde os
anos iniciais; (ii) investigar as potencialidades e limitações de um processo formativo para
professores da Educação Básica a fim de discutir aspectos relacionados ao desenvolvimento do
raciocínio proporcional, discussões estas pautadas na proposta de Lamon (2007, 2008).
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APÊNDICE A
Quadro 39: Relação das dissertações e teses sobre raciocínio proporcional produzidas no Brasil de 1971 a 2014
Propor e Sugerir Avaliar a Analisar
realizar caminhos aprendiza- pesquisas/
Pesquisa
atividades para prof. gem92 materiais
93
92
Estratégias mobilizadas pelos alunos ao resolverem situações-problema propostas.
93
Nesta categoria encontram-se as pesquisas que realizaram meta-análise, análise de livros didáticos e materiais
curriculares, por exemplo, os cadernos da Proposta de São Paulo.
233
Quadro 40: Relação das dissertações e teses sobre raciocínio proporcional produzidas no Brasil de 2008 a 2014
1 BARNABÉ (2011), Dissertação de Mestrado, USP.
2 CARVALHO (2013), Dissertação de Mestrado, PUC/SP.
3 COSTA JÚNIOR (2010), Dissertação de Mestrado, UFRN.
4 COSTA, M. S. (2012), Tese de Doutorado, UNICSUL.
5 FERREIRA (2013), Dissertação de Mestrado (PROFMAT), UFMA.
6 FIOREZE (2010), Tese de doutorado, UFRGS.
7 GONÇALVES (2010), Dissertação de Mestrado, UFMGS.
8 MACEDO (2012) Dissertação de Mestrado, PUC/SP.
9 MAZZANTI (2008) Dissertação de Mestrado, PUC/SP.
10 MIRANDA (2009), Dissertação de Mestrado, PUC/SP.
11 NASCIMENTO (2012), Dissertação de Mestrado, UNIBAN.
12 OLIVEIRA, L. M. C. P. (2014), Dissertação de Mestrado, UEL/Londrina.
13 PAULA, M. B. (2010) Dissertação de Mestrado, PUC/SP.
14 POGGIO (2012), Dissertação de Mestrado, UNIBAN.
15 SANTOS, L. R. (2011), Dissertação de Mestrado, UFMT.
16 SILVA (2008), Dissertação de Mestrado, UFPE/Recife.
17 SILVA, E. (2008), Dissertação de Mestrado, UTP/Paraná.
18 SILVA, L. C. (2009), Dissertação de Mestrado, UFPR.
19 SILVA, R. L. (2013), Dissertação de Mestrado, PUC/SP.
234
APÊNDICE B
Quadro 41: Relação das dissertações e teses sobre raciocínio proporcional produzidas no Brasil quanto a
fundamentação teórica, participantes/instrumentos de produção de dados
Pesquisa Fundamentação Teórica Participantes/Fontes para produção de
dados
Entrevistas clínicas com 48 estudantes do
AGUIAR (1980), Concepções de PIAGET e
pré-escolar ao 2° grau (Ensino Médio), entre
Dissertação de Mestrado, INHELDER sobre fração e
5 a 18 anos, em sua maioria filhos de
UFPE. proporcionalidade.
operários, selecionados de 72.
ALMEIDA (2004),
Desenvolvimento histórico e
Dissertação de Mestrado, Livros didáticos.
fenomenologia
PUC/RJ.
Abordagem histórica do
BARNABÉ (2011),
conceito de razão; discussão Atividades envolvendo professores de
Dissertação de Mestrado,
sobre interdisciplinaridade matemática.
USP.
(Matemática e Música).
BARRETO (2001), Procedimentos utilizados por estudantes da
VERGNAUD (Teoria dos
Dissertação de Mestrado, 5ª série na resolução de problemas
Campos Conceituais).
PUC/SP. multiplicativos.
BERNAL (2004),
CHEVALLARD (tarefas, Livros didáticos (6ª série), trabalho de um
Dissertação de Mestrado,
técnicas e tecnologias). professor;
UFSC.
BOTTA (1997), Dissertação OHSSON, KIEREN, LESH,
de Mestrado, UNESP/Rio VERGNAUD (Teoria dos -
Claro. Campos Conceituais).
CARVALHO (2013),
Caderno do 5º ano da proposta curricular de
Dissertação de Mestrado, MARANHÃO e MACHADO.
São Paulo.
PUC/SP.
COSTA (2005), Dissertação ALINE ROBERT;
Livros Didáticos (anos 60/70; 80; 2000).
de Mestrado, PUC/SP. CHERVEL.
COSTA JÚNIOR (2010),
Atividades desenvolvidas com professores
Dissertação de Mestrado, História da Matemática.
de Matemática do EF e EM.
UFRN.
Autores da formação de
professores e resolução de
problemas. Quanto a
COSTA, M. S. (2012), Tese
proporcionalidade, destaca Grupo de futuros professores de Matemática.
de Doutorado, UNICSUL.
pesquisadores brasileiros, por
exemplo, SPINILLO e
TINOCO.
CUELLO (1995), Atividades para investigar as estratégias
VERGNAUD (Teoria dos
Dissertação de Mestrado, mobilizadas por 147 estudantes dos Anos
Campos Conceituais).
PUC/RJ. Iniciais EF.
FERREIRA (2013), RUIZ (1986); PEROTTI
Sequência didática desenvolvida com
Dissertação de Mestrado (1999); ÁVILA E LIMA
estudantes do 7º ano do EF.
(PROFMAT), UFMA. (1986);
Sequência de Ensino desenvolvida com
FIOREZE (2010), Tese de VERGNAUD (Teoria dos
estudantes do 9º ano EF, utilizando recursos
doutorado, UFRGS. Campos Conceituais).
tecnológicos.
FLORIANI (2004),
VERGNAUD (Teoria dos Estratégias mobilizadas por 82 estudantes do
Dissertação de Mestrado,
Campos Conceituais). EF e 2º ano EM ao resolverem 9 problemas;
Univali/Itajaí/SC.
FREITAS (1996),
VERGNAUD (Teoria dos Atividades desenvolvidas com 180
Dissertação de Mestrado,
Campos Conceituais). estudantes do 4º ao 9º ano.
UFPE/Recife.
GATASS (1994),
Teorias de aprendizagem e Apresenta uma proposta de ensino e
Dissertação de Mestrado,
ensino: AUSUBEL; aprendizagem (não foi desenvolvida com
UNESP/Rio Claro.
235
BORDIEU e PASSERON;
Analisou as aulas da 5ª série e 6ª série e o
PONTES (1996), Tese de PONCE; SNYDERS e
trabalho realizado por alguns profissionais
doutorado, GRAMSCI (discussão da
(costureira, comerciante, cozinheira,
Unicamp/Campinas. matemática acadêmica e
marceneiro, mestre de obras e oleiro).
matemática do cotidiano)
RUIZ (1986), Dissertação INHELDER e PIAGET; Sequência de Ensino desenvolvida com
de Mestrado, USP. KARPLUS; NOELTING; estudantes da 7ª série do EF.
SANTOS, H (2000),
Dissertação de Mestrado, Atividades desenvolvidas com estudantes da
PIAGET (estágios operatórios)
Universidade Santa 6ª série e 8ª série.
Úrsula/RJ.
SANTOS, L. R. (2011),
Dissertação de Mestrado, Teóricos da EJA Livros didáticos EJA.
UFMT.
SERAFIM (2004), Abordagem histórica e
Dissertação de Mestrado, epistemológica – Modelo dos Livros Didáticos
UFPA/Curitiba. Campos Semânticos
SILVA (2008), Dissertação VERGNAUD (Teoria dos
Atividades com estudantes do EF.
de Mestrado, UFPE/Recife. Campos Conceituais)
SILVA, E. (2008),
VERGNAUD (Teoria dos Atividades desenvolvidas com estudantes da
Dissertação de Mestrado,
Campos Conceituais) 6º série e 8º série do EF (estratégias).
UTP/Paraná.
SILVA, L. C. (2009),
Dissertação de Mestrado, CHEVALLARD Atividades com professores de Física.
UFPR.
SILVA, R. L. (2013),
Dissertação de Mestrado, AUSUBEL (pré-requisitos) Atividades com estudantes de 6º e 7º ano EF.
PUC/SP.
VIZOLLI (2006), Tese de DUVAL (Registros de Fala e registros de estudantes e professores
Doutorado, UFPR. Representação Semiótica) da EJA
237
APÊNDICE C
Quadro 42: Relação das dissertações e teses sobre raciocínio proporcional produzidas no Brasil quanto ao
termo utilizado no título componentes/descritores/estruturas do raciocínio proporcional e
teóricos/pesquisadores
Termo utilizado no título Componentes /
Teóricos /
Descritores /
Proporção pesquisadores
Pesquisa Proporcio- Estruturas acerca
ou outros (utilizados com
nalidade do Raciocínio
termos ênfase)
Proporcional
AGUIAR (1980), Dissertação
X -
de Mestrado, UFPE.
ALMEIDA (2004), Dissertação
X -
de Mestrado, PUC/RJ.
BARNABÉ (2011), Dissertação
X - -
de Mestrado, USP.
BARRETO (2001), Dissertação
X - Vergnaud
de Mestrado, PUC/SP.
BERNAL (2004), Dissertação
X Ávila e Lima
de Mestrado, UFSC.
BOTTA (1997), Dissertação de Kieren, Lesh,
Mestrado, UNESP/Rio Claro. Harel, Post,
X X
Behr, Schwartz,
Vergnaud
CARVALHO (2013), Maranhão e
Dissertação de Mestrado, Machado
PUC/SP. X X (fundamentadas
em Behr, Post e
Lesh)
COSTA (2005), Dissertação de
X - -
Mestrado, PUC/SP.
COSTA JÚNIOR (2010),
Dissertação de Mestrado, X - Ávila e Lima
UFRN.
COSTA, M. S. (2012), Tese de
X -
Doutorado, UNICSUL.
CUELLO (1995), Dissertação
X - Vergnaud
de Mestrado, PUC/RJ.
FERREIRA (2013),
Dissertação de Mestrado X - Ávila e Lima
(PROFMAT), UFMA.
FIOREZE (2010), Tese de Lesh, Post e
doutorado, UFRGS. Behr;
X X Lamon (apud
Barreto),
Vergnaud
FLORIANI (2004), Dissertação
X - Vergnaud
de Mestrado, Univali/Itajaí/SC.
FREITAS (1996), Dissertação
X - Vergnaud
de Mestrado, UFPE/Recife.
GATASS (1994), Dissertação Carraehr;
de Mestrado, UNESP/Rio Claro. Karplus e
Karplus;
Karplus e
X - Peterson;
Karplus, Pulos e
Stage; Kurtz e
Karplus; Lunzer
e Punfrey;
238
Piaget; Inhelder
e Piaget;
Wollman e
Karplus
GONÇALVES (2010), Lima, Spinillo,
Dissertação de Mestrado, X X Carraher, Post,
UFMGS. Lesh, Behr
HAGG (1991), Dissertação de
X -
Mestrado, PUC/RS.
LEÃO (1986), Dissertação de
X -
Mestrado, PUC/RJ.
MACEDO (2012) Dissertação
X - Vergnaud
de Mestrado, PUC/SP.
MAGALHÃES (1990),
Dissertação de Mestrado, X -
UFPE/Recife.
MAZZANTI (2008)
Dissertação de Mestrado, X - -
PUC/SP (Profissionalizante)
MIRANDA (2009), Dissertação Behr, Post,
X X
de Mestrado, PUC/SP. Lesh
NASCIMENTO (2012),
Dissertação de Mestrado, X - -
UNIBAN.
OLIVEIRA (2000), Vergnaud,
Dissertação de Mestrado, X X Nunes e outros,
UFPE/Recife. Spinillo
OLIVEIRA, L. M. C. P.
(2014), Dissertação de X X Lamon
Mestrado, UEL/Londrina.
PAULA, M. B. (2010)
Dissertação de Mestrado, X - Vergnaud
PUC/SP.
PEREIRA NETO (1998), Piaget,
Dissertação de Mestrado, X X Vergnaud,
UFPE/Recife. Carraher
PEROTTI (1999), Dissertação
X - Vergnaud
de Mestrado, PUC/SP.
POGGIO (2012), Dissertação Lima,
X -
de Mestrado, UNIBAN. Sierspinska
PONTES (1996), Tese de
X - -
doutorado, Unicamp/Campinas.
RUIZ (1986), Dissertação de Dolle; Inhelder
Mestrado, USP. e Piaget;
Karplus e
Peterson;
Karplus e
X X
Karplus; Pulos
e Stage;
Noelting;
Wollman e
Karplus
SANTOS, H (2000),
Dissertação de Mestrado, X -
Universidade Santa Úrsula/RJ.
SANTOS, L. R. (2011), Post, Behr,
Dissertação de Mestrado, Lesh; Ponte e
X X
UFMT. Silvestre; Lins e
Gimenez
239
Um para TGeo 1 1
Muitos TN 1 10 1 14 26
1 4 2 0 0 0 0 11 0 1 14 33
Rel. Quat.
TA 12 8 1 7 28
Muitos TGeo 15 12 27
para
Muitos TN 15 1 1 17
0 0 0 0 0 15 12 23 14 8 0 72
TF 2 2
Ref. Desc. TN 4 9 10 3 16 10 52
Rel. Tern. 6 9 10 3 16 10 0 0 0 0 0 54
TN 4 17 109 59 69 113 1 22 8 1 403
Rel. Desc.
4 17 109 59 69 113 1 22 0 8 1 403
TA 54 1 55
TF 1 2 2 1 5 1 12
Funções
TN 17 18 8 8 10 8 15 4 12 100
18 20 10 9 15 8 70 4 12 0 1 167
29 50 131 71 100 146 83 60 26 17 16 729
Simbologia:
-RA: Registro Algébrico; -RF: Registro Figural; -RG: Registro Gráfico;
-RGeo: Registro Geométrico; -RLN: Registro da Língua Natural; -RN: Registro Numérico;
-RT: Registro Tabular -TA: Tratamento Algébrico; -TF: Tratamento Figural;
-TGeo: Tratamento Geométrico; -TN: Tratamento Numérico.
240
Quadro 44: Conversões – Coleções de Livros Didáticos
EFAI2 EFAI3 EFAI4 EFAI5 EFAF6 EFAF7 EFAF8 EFAF9 EM1 EM2 EM3 Total
RA->RG 2 2
RA->RLN 1 1
RA->RN 3 3
RF->RA 5 5
RF->RLN 1 1
RF->RLN->RN 2 2
RF->RN 14 16 10 4 17 12 4 27 104
RF->RN->RF 3 3
RF->RT 4 4
RG->RN 1 1
RG (Barra)->RN 1 1 2
RG (Linha)->RN 1 1
Rel. Um para RG (Setor)->RN 2 2
Quat. Muitos RG (Setor)->RT 1 1 2
RGeo->RN 3 5 3 11
RLN->RA 4 4 1 9
RLN->RA->RN 2 2
RLN->RF 1 1
RLN->RF->RA 2 2
RLN->RF->RN 15 13 3 7 5 43
RLN->RG->RN 1 1
RLN->RGeo->RN 8 8
RLN->RN 12 85 83 89 76 78 14 7 18 8 8 478
RLN->RN->RLN 1 1
RLN->RT 1 1
RLN->RT->RN 2 2
241
RT->RG (Barras)->RG
(Setor) 1 1
RT->RN 3 2 2 4 2 2 2 17
45 117 101 110 106 100 19 45 33 11 23 710
RF->RN 9 12 1 9 31
RG->RA 2 2
RG->RN 1 1
RG (Barras)->RN 1 4 3 4 4 3 19
RG (Barras)->RT->RN 1 1
RG (Colunas)->RN 1 1
RG (Linha)->RN 1 1
RG (Setor)->RN 1 1 9 7 3 1 7 29
RGeo->RA 75 56 17 148
RGeo->RN 14 4 1 19
Muitos RLN->RA 4 1 5 10
para RLN->RA->RN 2 2
Muitos
RLN->RGeo 2 1 3
RLN->RGeo->RA 3 14 17
RLN->RGeo->RN 1 6 7
RLN->RN 2 3 28 19 81 49 11 1 53 9 256
RLN->RN->RG (Setor) 1 1
RLN->RT 1 1
RLN->RT->RN 1 1
RT->RG (Barras) 1 1
RT->RG (Setor) 2 3 3 8
RT->RN 2 17 9 11 3 1 2 45
0 2 4 33 30 111 78 140 77 105 24 604
RG->RN 1 1
RG->RT->RN 1 1
242
RG (Barra)->RN 1 1
RG (Barra)->RT 1 1
RG (Setor)->RN 6 6
RGeo->RN 1 1
RLN->RF->RN 11 11 9 3 1 35
RLN->RN 8 10 19 20 31 45 17 1 151
RLN->RT->RG (Barras) 1 1
RN->RF 1 1
21 11 33 30 40 46 17 1 0 0 0 199
RLN->RF->RN 1 3 2 1 33 40
RF->RT 1 1
RG (Barras)->RN 1 2 3 6
RGeo->RN 3 1 4
Relação RLN->RA 1 1 2
Desc. RLN->RN 24 17 22 24 3 3 93
RLN->RT-> RG (Barras) 1 1
RLN->RT->RN 1 1
RT->RN 4 2 6
2 0 32 24 27 25 7 36 1 0 0 154
RLN->RF->RA 2 1 13 19 35
RF->RA->RN 1 8 9
RLN->RF->RN 3 2 8 6 4 23
RF (Reta)->RN 1 1
RG->RA 2 4 6
Funções
RG->RA->RN 4 4 8
RG (Cart)->RA->RN 6 9 15
RGeo->RA 2 2
RGeo->RN 2 2
RLN->RA->RN 1 6 1 2 20 10 69 11 1 121
243
RLN->RA->RG (Cart) 4 4
RLN->RA 2 19 11 32
RLN->RF->RA 1 1
RLN->RG 1 1 2
RT->RA 7 5 12
RT->RLN 5 5
RT->RN 3 7 1 2 1 14
10 11 1 16 7 12 26 56 126 19 8 292
78 141 171 213 210 294 147 278 237 135 55 1959
244
Quadro 45: Tratamentos – Cadernos
EFAI2 EFAI3 EFAI4 EFAI5 EFAF6 EFAF7 EFAF8 EFAF9 EM1 EM2 EM3 Total
Um para TN 75 3 78
Muitos
0 0 0 0 75 0 0 0 0 0 3 78
Rel. Quat TA 11 11
Muitos
para TN 7 7
Muitos
0 0 0 0 0 18 0 0 0 0 0 18
TN 1 34 13 2 50
Ref. Desc.
0 1 34 13 0 2 0 0 0 0 0 50
Rel. Tern.
TN 1 3 13 15 45 19 4 100
Rel. Desc.
0 1 3 13 15 0 45 0 0 19 4 100
TA 4 4
Funções TN 17 5 1 43 1 1 5 73
0 17 5 1 43 1 4 1 5 0 0 77
0 19 42 27 133 21 49 1 5 19 7 323
245
Quadro 46: Conversões – Cadernos
EFAI2 EFAI3 EFAI4 EFAI5 EFAF6 EFAF7 EFAF8 EFAF9 EM1 EM2 EM3 Total
RG->RN 2 2
RGeo->RN 1 1
RLN->RF->RN 12 6 2 8 28
Um para RLN->RGeo->RN 1 1
Muitos
RLN->RN 40 155 106 38 16 2 6 8 371
RT->RLN 2 2
RT->RN 4 1 6 1 12
0 52 165 111 52 19 0 2 0 6 10 417
RG->RN 1 1
Rel. Quat. RG (Barras)->RN 1 1
RG (Setor)->RN 2 2
RGeo->RA 67 22 89
Muitos RLN->RA 4 4
para RLN->RG->RN 1 2 3
Muitos
RLN->RN 2 28 10 30 1 37 108
RLN->RT 2 2
RT->RG 2 2
RT->RN 1 2 3
0 0 2 30 13 33 0 72 4 22 39 215
RLN->RF->RN 10 2 12
RG->RN 1 1
Referido
Desc. RG (Setor)->RN 2 2
RLN->RN 12 20 90 21 16 159
Rel. Tern.
0 12 31 94 21 16 0 0 0 0 0 174
RLN->RF->RN 1 1
Relação
Desc. RLN->RN 1 19 1 21
0 2 0 19 0 1 0 0 0 0 0 22
246
RLN->RF->RN 4 2 6
RLN->RF->RT 1 1
RF->RT->RA 1 1
RF->RT->RA->RG 2 2
RF->RT->RA->RN 1 1
RG->RA->RN 1 2 3
RG (Cart)->RA->RN 3 3
Funções RLN->RA 1 1
RLN->RA->RN 15 15 30
RLN->RN 1 1
RT->RA 9 9
RT->RA->RN 4 4
RT->RN 1 1
RT->RN->RA->RG 1 1
0 0 2 0 5 0 15 2 39 0 1 64
0 66 200 254 91 69 15 76 43 28 50 892
247
ANEXOS
249
ANEXO 1