Fichamento 1
Foram lidos os capítulos oito, nove e dez do livro de Boehrer sobre o partido
republicano e a sua atuação nos anos finais da Império. Cada um possui um objetivo
específico dentro do livro, sendo o oitavo intitulado A Plataforma do Partido: Unidade
e Divergências; o nono Questões Políticas. A Linha do Partido e o décimo Conclusão.
Todos relacionam-se um ao outro para construir as conclusões do autor apresentadas no
último capítulo.
Com relação a como deveria ser a república, havia aqueles que defendiam uma
república ditatorial e não democrática. Estes eram especialmente alunos da Escola
Militar do Rio de Janeiro onde os ideais positivistas de Comte tiveram bastante adesão,
sobretudo graças ao professor Benjamin Constant. Mas este modelo também foi
defendido pelo grupo positivista paulista liderado por Silva Jardim e Aníbal Falcão. A
chamada Escola Positivista era minoria no Partido, mas se envolveu em grandes
discussões políticas.
O federalismo também não era unanimidade, de modo que havia uma discussão
entre o separatismo e a centralização. O centro desta disputa estava no temor de que o
federalismo levasse ao desmembramento do Brasil, temor que aumentou quando alguns
membros do partido republicano paulista passaram a pedir a independência da província
de São Paulo como estratégia para chegar ao federalismo. Isto criou grandes discussões
dentro do Partido Republicano Brasileiro, com alguns temendo o estado que o Brasil
ficaria se São Paulo se separasse. O partido paulista se colocou contra a ideia, mas dizia
que os membros poderiam aderir a ela individualmente. Em geral, o separatismo era
defendido por uma corrente minoritária, principalmente por aqueles vindos do Partido
Liberal, que não desfrutavam das vantagens da centralização, mas, quando assumem o
poder, em 1889, abandonam a ideia.
Com tudo isso, entendo que o objetivo do autor foi alcançado ao final do
capítulo. Boehrer foi capaz de determinar as linhas gerais do partido e as principais
discussões dentro dele. Entendo que o principal deste capítulo foi mostrar que os
republicanos não eram um grupo homogêneo. Porém, encontrei dificuldade em entender
melhor as aspirações da Escola Positivista e as suas dissidências internas. Também acho
que o autor poderia ter trazido mais evidências de que o que aponta como diretrizes
oficiais do partido eram efetivamente endossados pela maioria dos seus membros. Digo
isso porque achei a argumentação de Boehrer contraditória quando ele começa dizendo
que os princípios do Manifesto de 1870 eram apoiados pela maioria dos republicanos,
mas, ao final do capítulo, ele diz que a maioria dos membros acreditava numa
revolução. Será que só pelo fato de os dirigentes do partido não defenderem a violência
como uma diretriz oficial, pode-se afirmar que os republicanos, em geral, tendiam a
defender os meios pacíficos? Talvez o autor pudesse ter deixado mais claro que, neste
ponto, houve uma mudança na opinião geral ao longo do tempo.
No caso da princesa Isabel e seu marido, porém, os ataques pessoais foram mais
intensos, especialmente nos últimos anos do Império, quando se entendia que a sucessão
estava próxima. Em geral, Isabel era atacada por seu fervor religioso, acusando-a de
representar a ingerência da Igreja no Estado brasileiro e sua personalidade dita tímida e
fraca. Seu marido era criticado por ser estrangeiro, era tido como um aproveitador,
pouco inteligente, autoritário, um militar pouco valoroso e tendo ideais retrógrados
como a crença no direito divino dos reis. Alguns diziam que a timidez de Isabel faria
com que o governante efetivo fosse seu marido, representando um risco para a liberdade
no Brasil. Também foi forte a campanha contra a sucessão, especialmente após o
adoecimento de Pedro II em 1887. Em geral, o reinado de Isabel era tido como a
continuidade dos vícios administrativos, econômicos e sociais do se Pedro II, mas havia
risco de piora.
O Partido tinha que lidar também com os seus membros católicos, de modo que
não podiam atacar tão firmemente a Igreja para não os afastar. Para alguns, o conflito
com a Igreja poderia torná-la uma importante aliada contra o Império, mas, neste ponto,
houve divergências entre republicanos, como Boehrer mostra por diferentes jornais. A
atitude dos positivistas de respeito à Igreja, apesar de considerarem-na obsoleta,
também mostra as diferenças dentro do Partido. Ao mesmo tempo, ao tomar parte da
disputa, o Partido podia divulgar sua política religiosa, que incluía a separação entre
Igreja e Estado, a igualdade de religião, ensino secular, o casamento civil e o registro
civil de nascimentos e óbitos. No fim, o autor entende que o Partido não se utilizou
politicamente do afastamento entre o Império e a Igreja e esta não via vantagens em se
aproximar do partido.
Com esta escolha, o partido contou com o apoio e a influência política de ricos
senhores de escravos até 1888. Após a abolição, o partido se beneficiou com a entrada
de ex-senhores desgostosos com a decisão da Coroa de abolir a escravidão sem
indenização. Tal fato gerou algumas críticas ao partido, mas o autor entende que o
partido sofreu pouco com a atitude indecisa em relação à abolição. Apesar de algumas
deserções, os ganhos foram maiores que as perdas.