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República de Moçambique

Presidência da República

“Fortalecer o papel das instituições e dos cidadãos para prevenir os acidentes”

DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA FILIPE JACINTO NYUSI, PRESIDENTE


DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, POR OCASIÃO DO II SIMPÓSIO
NACIONAL SOBRE SEGURANÇA RODOVIÁRIA.

Maputo, 30 de Novembro de 2017


Senhor Ministro dos Transportes e Comunicações;

Senhores Ministros e Vice-Ministros;

Senhora Governadora da Cidade de Maputo;

Senhor Presidente do Conselho Municipal da Cidade de Maputo;

Senhora Representante da Organização Mundial da Saúde em Moçambique;

Senhores Membros do Corpo Diplomático e Representantes das Organizações


Internacionais;

Senhor Comandante-Geral da Polícia da República de Moçambique;

Senhores Parceiros de Segurança Rodoviária;

Senhores Representantes das Escolas de Condução;

Senhores Representantes das Organizações da Sociedade Civil e de Empresas


de Transporte Rodoviário;

Senhores Deputados;

Distintos Convidados;

Minhas Senhoras e Meus Senhores!

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Quero iniciar esta intervenção solidarizando-me com todas as famílias que foram,
directa ou indirectamente, afectadas pelos acidentes rodoviários.

À todos os presentes neste evento, de importância inquestionável para a vida dos


moçambicanos, endereço, uma saudação especial.

Nos últimos anos, Moçambique tem sido severamente afectado pelo fenómeno da
sinistralidade rodoviária que, pelas suas consequências sociais e económicas, já se
transformou num verdadeiro flagelo público.

Nesse contexto, milhares de vidas humanas perderam-se, e outros tantos


contraíram ferimentos, que se traduziram em sequelas, temporárias ou
permanentes.

Estes factos justificam uma reflexão profunda sobre as causas, factores, medidas e
estratégias que devem ser adoptadas para que a segurança nas nossas rodovias seja
a regra e a sinistralidade, uma excepção.

Por isso, saudamos o Ministério dos Transportes e Comunicações e demais


parceiros nacionais e estrangeiros, pela iniciativa de juntar na mesma sala todos os
actores que intervém na segurança rodoviária.

O lema escolhido para este que é o II Simpósio Nacional de Segurança Rodoviária -


“Segurança Rodoviária: Uma responsabilidade de todos, valorizemos a vida” -,
chama-nos a atenção para que todos e cada um de nós assuma as suas
responsabilidades na prevenção dos acidentes rodoviários, preservando assim a
vida humana.

Distintos convidados,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

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A importância da vida humana é reconhecida na nossa própria Carta Magna, a
Constituição da República de Moçambique que no seu artigo 40°, consagra o
Direito à vida e à integridade física e moral a todo o cidadão.

A mesma Constituição, no seu artigo 55° número 2, defende que o cidadão tem o
direito de circular livremente no interior e para o exterior do território nacional.

Portanto, ao prevenirmos a sinistralidade rodoviária, evitando danos humanos e


materiais, estamos a preservar a vida, como um direito fundamental, assegurando o
cumprimento do primado constitucional, a que aludimos, a circulação segura e sem
medo.

Ao reflectirmos sobre o problema neste prisma, torna-se incontornável falar sobre


a segurança rodoviária e compreender o que significa o binómio SEGURANÇA
RODOVIÁRIA.

A segurança significa ausência de perigo, dano, ou risco e a necessidade de


prevenção destas ameaças com o objectivo de proteger a vida.

Por outro lado, entenda-se rodoviária como o tipo de segurança que ocorre num
espaço específico, que são as estradas e outras vias públicas.

O II Simpósio de Segurança Rodoviária, que hoje nos junta, para nos debruçarmos
sobre este assunto, não é mero acaso, é imperativo nacional.

A vida é o bem mais precioso que possuímos.

Tão importante quanto a vida é a saúde, em todas as suas dimensões.

Ao prevenirmos os acidentes, evitando danos humanos e materiais, estamos a


preservar a vida e, ao mesmo tempo, a criar as bases para a edificação de uma
sociedade mais sã na qual os seus cidadãos direcionam as suas capacidades, físicas
e mentais, para a criação da riqueza e do bem estar individual e colectivo.

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Os dados estatísticos que possuímos indicam que, a nível da SADC, Moçambique é
o país que apresenta o quarto maior índice de mortes por acidentes de viação: 32
mortes por cada 100.000 veículos.

Fazendo uma análise da situação interna, constatamos que nos últimos seis anos, -
portanto de 2011 a 2017 -, os acidentes rodoviários ceifaram mais de dez mil vidas e
causaram mais de trinta mil feridos, entre graves e ligeiros.

O ano de 2014 foi o que apresentou mais perdas de vidas humanas, com o registo
de um total de duas mil e quarenta mortes (2040).

Outro elemento que pretendemos partilhar, e que muito nos preocupa, é a idade
das pessoas envolvidas nos acidentes, em Moçambique: parte considerável são
jovens e adultos, do sexo masculino, na faixa dos 18 aos 45 anos; portanto, pessoas
na fase final da sua formação académica e que muito ainda tem a dar ao país e pais
de família que, em virtude do acidente, deixam de poder cumprir o papel de
provedor, lançando para a incerteza crianças de tenra idade e outros dependentes.

Estes dados são assustadores, não apenas, porque estamos a falar de pessoas
concretas que viram as suas vidas destruídas ou transformadas em consequência
dos acidentes, mas também pelos efeitos perversos que estes causam no nosso
tecido económico e social.

Um acidente rodoviário, para além dos custos físicos e psicológicos que atingem as
pessoas directa ou indirectamente envolvidas, impacta negativamente nos serviços
de saúde e nas infraestruturas públicas e privadas (refiro-me aos postes eléctricos,
semáforos, condutas de água, praças, edifícios, etc), desviando recursos públicos
que podiam ser direcionados à outras prioridades da nossa governação.

Não podemos continuar a assistir, de forma impávida e serena, a esta calamidade


pública.

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Mais do que palavras, urge responsabilizar todos aqueles que são os causadores
desta desgraça.

Caros participantes,

Minhas senhoras e meus senhores,

Ao tentarmos perceber este fenómeno, fomos obrigados a mapear as zonas de


ocorrência dos acidentes, o tipo de veículos envolvidos, os dias e horário em que
ocorrem mais acidentes, bem como as prováveis causas.

Desse questionário, obtivemos as seguintes respostas que vamos partilhar, e que


queremos que sejam objecto da vossa reflexão:

- maior parte dos acidentes ocorreu na Cidade de Maputo e nas Províncias de


Maputo, Nampula e Sofala, durante os fins-de-semana, e no período
compreendido entre 15 e 21 horas;

- os acidentes mais trágicos, ou seja, com maior número de sinistrados, são os que
envolvem veículos pesados de transporte e/ou de passageiros, vulgo chapas; e

- os relatórios apontam como principais causas o excesso de velocidade,


manobras perigosas, condução em estado de racionalidade condicionada
devido ao consumo excessivo de álcool ou de substâncias psicotrópicas,
sonolência, cansaço, mau estado das viaturas, inobservância das regras
básicas de condução, mau estado das vias, má sinalização rodoviária e a má
travessia de peões.

Daqui se depreende que, de alguma forma, todas ou as principais causas estão


associadas à acção humana.

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Com efeito, é responsabilidade do homem atravessar a rua correctamente, como
também cabe ao homem cuidar do estado da sua viatura e conduzir com prudência.

É também obrigação do homem educar outros homens para observarem as regras


de trânsito ou sancioná-lo quando essas regras são violadas.

Em poucas palavras, o homem é o primeiro e o último responsável pela garantia da


segurança rodoviária.

Assim, é forçoso concluir que se as causas dos acidentes estão associadas à acção
humana, é com, e sobre as pessoas que devemos incidir a nossa acção.

Todos, sem excepção, devemos assumir as nossas responsabilidades. Só com um


compromisso individual e colectivo, responsável, podemos inverter a tendência
assustadora a que acabamos de aludir. Esta é uma frente de luta que devemos
vencer e para qual ninguém se deve eximir. Todos somos chamados, pois todos
corremos riscos: como condutores, como transportadores, como transportados e,
até, como peões.

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Neste ciclo de governação, definimos como uma das prioridades o


desenvolvimento do capital humano. Fizemo-lo, porque entendemos que as
pessoas são o bem mais precioso que uma nação pode ter.

A formação do capital humano é um processo a longo prazo, cujos resultados


tardam a aparecer. Porém, esse é um processo necessário ao qual não nos pudemos
furtar. É neste prisma que nos repugna o facto de continuarmos a perder este
capital humano, depois de elevados investimentos para torná-lo produtivo e
competitivo.

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O nível de sinistralidade que atingimos, está a pôr em causa todos os esforços que
estamos a fazer para edificar esta nação. Por estes e mais motivos, a realização
deste simpósio revela-se de inestimável relevância nacional, pelo que convidamos a
todos, independentemente do local onde se encontrem, a fazer parte desta reflexão
colectiva.

Mais importante que a reflexão é que, doravante, as nossas atitudes na estrada


mudem e, em consequência, mais vidas sejam poupadas.

Ilustres Participantes,

O problema que nos apoquenta, a sinistralidade rodoviária, está perfeitamente


identificado. Também estão identificados os seus responsáveis como as suas
causas. Agora, cabe-nos atacar essas causas e outras, identificando as formas de
combatê-las, de modo efectivo e consequente.

Não queremos que este seja mais um seminário. É preciso que este simpósio traga,
à superfície, a real causa dos acidentes e desenhe as medidas para a sua eliminação.
É também importante que reflicta sobre as medidas já em curso, questionando o
porquê de não estarem a produzir os resultados esperados.

Como sabemos, a situação económica mundial e, em particular, de Moçambique


tem estado a experimentar momentos difíceis que inibem um crescimento linear.

Este é mais um motivo para que os escassos recursos disponíveis continuem a ser
investidos nas áreas sociais e económicas, ao invés de suportarem as despesas
decorrentes dos acidentes.

É hora de adoptarmos a lógica de tolerância zero aos infractores que promovem


situações que conduzam a acidentes rodoviários.

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Reflictamos sobre a possibilidade de criminalização de algumas dessas infracções;
aliás, de acordo com o programa, esta reflexão já está prevista.

Este Simpósio não deve, simplesmente, discutir teorias, dogmas ou repetir estudos
e pesquisas já realizados, sobre a situação de acidentes em Moçambique. Este
espaço deve servir de plataforma para os diferentes sectores, com obrigações claras
na prevenção e combate aos acidentes, apresentarem as suas contribuições para a
solução dos problemas já identificados.

Cada interveniente deve aproveitar este fórum para avaliar as suas


responsabilidades, assumindo um compromisso claro e objectivo, sobre como
pretende colaborar na prevenção da sinistralidade. Refiro-me às Escolas de
Condução, ao INATTER e à Polícia de Trânsito.

Todos os aspectos: o estado das vias de acesso, o estado eléctrico e mecânico das
viaturas, a qualidade das inspecções aos veículos, os processos da certificação de
condutores, bem como a certificação e licenciamento de transportes de
passageiros, devem ser objecto de análise durante os debates.

À semelhança das instituições que acima arrolámos, importa aqui também


mencionar a necessidade de colaboração do judiciário -, a Procuradoria da
República e os tribunais; da Autoridade Tributária; das empresas de seguro e da
sociedade civil, no geral.

Não nos esqueçamos que todos nós podemos ser autores e/ou vítimas de acidentes.

Compatriotas!

O mês de Dezembro, que a amanhã inicia, tem sido caracterizado pelo movimento
desusado de pessoas e bens. É o momento em que as famílias se juntam para
repousar, depois de um ano de trabalho e reflectem sobre os fracassos e sucessos

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do ano que termina; é o momento sagrado em que se regeneram as energias para a
época seguinte.

Este momento de festa, por vezes, propicia excessos que acabam em tragédia, luto
e dor nas nossas famílias.

Queremos que, depois deste simpósio nacional, entremos na quadra festiva que se
avizinha, munidos de maior respeito e responsabilidade para com as nossas vidas e
às de terceiros; que as famílias possam, sem medo, sair do Índico ao Zumbo e de
Maputo ao Rovuma, e vice-versa, circulando livremente e transportando os seus
bens.

Termino, endereçando mais uma vez, os nossos agradecimentos à todos os que


tornaram possível a realização deste evento, esperando que os debates sejam
francos, honestos e responsáveis e sejam um prelúdio dum novo tempo, livre de
acidentes rodoviários.

Com estas palavras, tenho a honra de declarar aberto o II Simpósio Nacional


sobre Segurança Rodoviária.

Muito Obrigado pela vossa atenção!

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