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09-11102 CDD-224.506
Índices para catálogo sistemático:
1. Daniel : Livros proféticos : Bíblia :
Interpretação 224.506
1ª edição - 2009
2.000 exemplares
Abreviaturas .......................................................................................................VII
Guia para transliteração . .....................................................................................IX
Ao leitor ...............................................................................................................XI
I
Estudos introdutórios sobre Daniel
II
Estudos exegéticos sobre Daniel
Índex . ..............................................................................................453
AB Anchor Bible
ACF Almeida Corrigida e Fiel
AJSL American Journal of Semitic Languages and Literatures
ANE The Ancient Near East
ANET Ancient Near Eastern Texts
ANF The Ante-Nicene Fathers
Ant. Antiquities of the Jews, Josephus
APOT Apocrypha and Pseudepigrapha of the Old Testament
ARA Almeida Revista e Atualizada
ASTI Annual of the Swedish Theological Institute
ATQ Aramaic Texts From Qumran l
AUSS Andrews University Seminary Studies
BA Biblical Archaeologist
BASOR Bulletin of the American Schools of Oriental Research
BDB F. Brown, S. R. Driver e C. A. Briggs, A Hebrew and English
Lexicon of the Old Testament VII
BHK Bíblia Hebraica, ed. R. Kittel
BHS Bíblia Hebraica, eds. K. Ellinger and W. Rudolph
Bib Bíblica
BJ Bíblia de Jerusalém
BJRL Bulletin, John Rylands Library
BS Bibliotheca Sacra
CHAL A Concise Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament
CT Christianity Today
DA The Desire of Ages (O Desejado de Todas as Nações)
EncJud Encyclopedia Judaica
EvQ Evangelical Quarterly
ExpTim Expository Times
FE Fundamentals of Christian Education (Fundamentos da
Educação Cristã)
HAD Hebrew and Aramaic Dictionary of the OT
HAL Hebräisches und aramäisches Lexikon zum Alten Testament
HSM Harvard Semitic Monographs
HTS Harvard Theological Studies
HUCA Hebrew Union College Annual
IB Interpreter’s Bible
XII
I
Estudos introdutórios
1
sobre Daniel
Origem/autoria
Teologia/propósito
Datação
Unidade
Origem/desenvolvimento
da interpretação de
Antíoco IV Epifânio
Esboço da seção
1. Introdução
2. A tese exílica
3. A tese macabeia
4. Avaliação da tese macabeia
5. Resumo
Introdução
estrutura e teologia do livro de Daniel pelos eruditos. Neste capítulo, desejamos fazer
uma breve apresentação e avaliação das pressuposições de alguns eruditos da linha
crítico-histórica na atualidade em contraste com uma abordagem conservadora.
A tese exílica
A tese macabeia
De acordo com a tese macabeia, o livro de Daniel foi escrito (ao menos em
parte) e/ou editado por um autor desconhecido do segundo século a.C. que se
colocou como um estadista-profeta do sexto século chamado Daniel. Esse escri-
tor/editor tinha a pretensão de oferecer previsões genuinamente inspiradas, as
quais, na realidade, não eram nada mais que narrativas históricas sob o pretexto
de previsões proféticas.
O ponto de vista majoritário na atualidade propõe que a verdadeira época da
composição final pode ser determinada. Sugere-se que certas pistas históricas podem
ser encontradas dentro do livro, e que é possível discernir o ponto exato onde o autor
passa da história verdadeira para “expectação imaginária” e falsas previsões futuras.
Assim, A. Lacocque sugere que em Daniel 11 o autor: (1) dá evidência de que
tem conhecimento da profanação do templo de Jerusalém por Antíoco IV Epifânio
(7 de dezembro de 167 a.C.; conforme 11:31); (2) faz alusão à revolta dos macabeus
e às primeiras vitórias de Judá (166 a.C.); mas (3) não tem conhecimento da purifi-
cação do templo por Judas (14 de dezembro de 164 a.C.), nem da morte de Antíoco
(outono de 164 a.C.). A morte de Antíoco, no entanto, é erroneamente predita e
descrita em 11:40-45. Lacocque conclui que “podemos ao menos situar a segunda
parte do livro de Daniel (caps. 7-12), portanto, com ampla certeza em 164 a.C.”3
Uma vez que estudiosos da linha crítico-histórica desprenderam o livro de
6 Daniel dos ancoradouros de declarações bíblicas explícitas, foram impelidos a
conjecturar novas teorias de composição e propósito. Além disso, questões refe-
rentes à estrutura e à teologia tiveram agora que ser analisadas de uma perspectiva
totalmente diferente.
Até o momento em que o ponto de vista prevalecente era o de que o livro veio
das mãos de um autor do sexto século, questões de autoria, composição, estrutura
apresentavam poucos ou nenhum problema. Tudo isso agora mudou com a intro-
dução da tese macabeia. Em 1975, J. J. Collins reconhecia que “a composição do
livro de Daniel tem fomentado uma ampla confusão de opiniões de estudiosos”.4
Num estágio inicial da pesquisa crítico-histórica, prevalecia a opinião de que o
livro de Daniel originou-se in toto no segundo século a.C. Estudiosos da atualidade
são a favor de um longo processo de desenvolvimento do livro, iniciando na mes-
ma época do começo do exílio babilônico e findando cerca de 164 a.C.
J. G. Gammie defende, entretanto, que vários aspectos no livro de Daniel dis-
cordam da teoria que permite que o contexto macabeu (o estágio final na compo-
sição do livro) domine a interpretação do todo. Ele argumenta que “a única e mais
eminente fraqueza da teoria macabeia de interpretação é que o rei nos capítulos 1,
2, 3, 4 e 6 é estranhamente amigo e simpático com os jovens judeus membros de
sua corte. Esse retrato dificilmente se ajusta aos últimos dias do odiado heleniza-
dor, Antíoco IV Epifânio.”5
Este e outros fatores que serão mencionados depois instam os estudiosos a con-
siderarem a visão de que houve um crescimento no texto bíblico de Daniel a partir
de um estágio original (possivelmente oral) por meio de várias redações de capítu-
los individuais antes de ocorrerem a reunião dos capítulos 1–6 e a fusão das duas
metades do livro.6 O que fornece ao menos uma medida de unidade para as várias
porções do livro é a onipresença do tirano final, identificado como Antíoco.7
A teoria macabeia de interpretação também tem deixado uma marca indelé-
vel nas abordagens atuais da teologia do livro de Daniel. De acordo com Koch, a
pesquisa crítico-histórica tem procurado, nos últimos 200 anos, destruir a crença
centenária de que Daniel apresenta um esboço bem coordenado da história mun-
dial passada e futura, no qual a própria situação histórica do autor se apresenta
apenas incidentalmente.8
Estudos-chave atuais restringem a relevância do livro de Daniel à metade da
década do conflito entre círculos palestinos leais a Yahweh e seus suseranos selêu-
cidas. Consequentemente, vários estudiosos postulam que a teologia de Daniel re-
flete o conflito entre o judaísmo dos últimos anos – identificado com frequência
como uma religião determinada pela Torá – e o helenismo.
Recentemente, no entanto, Koch questionou outra vez se o livro é realmente
uma das testemunhas eminentes da disputa entre Atenas e Jerusalém. Ele indaga
se o livro de Daniel reflete lutas de poderes político-religiosos entre tobíadas [fac- 7
ção apoiadora das tendências helenistas] e oníadas [partidários do sumo sacerdote
Onias III, defensor do judaísmo] ou testifica de uma onda de religiões introduzi-
das a partir de Babilônia.9
Se a ênfase principal da teologia de Daniel é dar significado e encorajamento
às lutas religiosas dos judeus na metade do segundo século, então todo o aspecto
teológico deve ser considerado de uma perspectiva totalmente diferente do que a
sugerida pela tese exílica. As visões, nada mais que história escrita depois do acon-
tecimento, são dificilmente evidências de providência, previsões e supremacia divi-
nas. O esquema do império é pouco mais que um dispositivo literário designado a
contrastar poderes pagãos mundiais, liderança humana e reinado com Deus.
Da mesma forma, os períodos de tempo não mais transpõem os séculos. São
nada mais que uma série de términos sucessivos que se estendem por menos de
quatro anos, estabelecidos por um círculo cada vez mais frustrado e perseguido
de fiéis israelitas esperando por libertação. O “tempo do fim” é esperado ime-
diatamente – no máximo 1.335 dias à frente – quando o blasfemo tirano será
eliminado. É evidente que a tese macabeia aguarda um fim imediato e não um
fim distante (eschaton).
Pela interpretação macabeia, o vilão desafiador e blasfemo (dos capítulos 7, 8
e 11) é Antíoco IV, e uma dupla aplicação deste símbolo tanto ao soberano sírio
Problemas linguísticos
No livro, há vários estrangeirismos persas e gregos. Acredita-se que esses ter-
mos estrangeiros indicam uma data para o livro subsequente ao exílio, possivel- 9
mente depois de Alexandre, o grande conquistador da Palestina ou até uma data
tão tardia quanto o segundo século a.C.19
Além disso, S. H. Horn sugere que o aramaico de Daniel na sua forma presente
parece ser mais recente do que a língua aramaica do quinto século a.C., documentos
elefantinos e o livro bíblico de Esdras.20 Por outro lado, parece que o nível do aramai-
co representado no livro de Daniel é anterior ao Apócrifo de Gênesis (1QapGen)
e ao Targum de Jó (11QtgJob) datados do final do terceiro ou começo do segundo
século a.C.21 Enquanto esses fatores sugerem que o texto de Daniel na sua forma pre-
sente é de um estágio posterior ao sexto século a.C., eles não negam a possibilidade
de uma autoria do sexto século nem provam sua origem no segundo século.
Horn concilia suas descobertas com relação ao texto aramaico de Daniel com
uma origem no sexto século, assumindo que o texto aramaico de Daniel foi moder-
nizado da mesma forma que versões da Bíblia em diversos idiomas são adequadas
ao uso atual da ortografia e gramática. Tais atualizações do texto bíblico podem ser
claramente demonstradas como tendo ocorrido em séculos pré-cristãos.
Para os empréstimos da língua persa em Daniel, K. A. Kitchen observa que
essas são palavras específicas do persa antigo ocorrendo na história da língua persa
até 300 a.C. Ele sugere que se Daniel estava envolvido na administração persa,
como declara o livro, ele teria naturalmente adquirido esses termos (que são títu-
los principalmente oficiais) de seus colegas persas.
ataques de Antíoco a Jerusalém são apresentados como uma das maiores provas
de que o livro de Daniel surgiu no segundo século a.C.
Em terceiro lugar, enquanto se pode propor várias semelhanças entre o livro de
Daniel e a posição de Macabeus, há ainda mais diferenças que têm de ser ignoradas.
As semelhanças entre o capítulo 11 e os livros de Macabeus e Polybius in-
cluem: (1) referência ao estabelecimento da “abominação e desolação” (cf. 11:31;
1Macabeus 1:54; Dn 9:27; 12:11; Mt 24:15), e (2) o duplo conflito do rei do norte
com o rei do sul, bem como a retirada do tirano do norte depois de um encontro
com os navios de Quitim (11:25-31).
Quando esses detalhes são comparados com a profanação do templo por
Antíoco, seus dois ataques contra o Egito e sua expulsão pelo oficial romano
Popillius Laenas, sugere-se paralelos entre eles. Seria fácil para alguém que lesse o
capítulo 11 na época de Antíoco aplicar essas passagens para seu contexto.
No entanto, dada a premissa de que o capítulo 11 (e outras partes no livro de
Daniel) foi possivelmente escrito apenas alguns meses depois que os eventos acon-
teceram, é incrível que tão pouco no relato bíblico reflita os eventos registrados
em 1 e 2 Macabeus. Se, como tem sido proposto, o autor do livro de Daniel era
macabeu,30 ou no mínimo simpatizante da causa macabeia, o pesquisador deveria
esperar detalhes mais precisos de acontecimentos da época. Além disso, deveria
12 ser capaz de descobrir evidências de uma filosofia básica comum a ambos os escri-
tores dos livros de Macabeus e Daniel. Além disso, o teor de 1 e 2 Macabeus e o
de Daniel parecem ser opostos. A literatura macabeia está muito mais preocupada
com a oposição dos judeus ao rei selêucida, ao passo que Daniel está mais interes-
sado nas atividades do rei do norte. O capítulo 11 (principalmente os versículos
36-39 e 8:9-12) demonstra grande interesse no caráter do tirano blasfemo e o des-
creve em termos que muito superam qualquer coisa que conhecemos com relação
ao caráter, pretensões e ações de Antíoco Epifânio.
Antíoco deixou uma incrível impressão na mente e vida dos judeus de seu tem-
po. Ele interferiu nas suas observâncias religiosas, seus ideais, e seu sistema de adora-
ção. Ele atraiu colaboradores e perseguiu impiedosamente aqueles que relutavam a
cumprir seu programa. Antíoco e seus partidários marcharam pelo território judeu.
Ele profanou o templo erigindo uma imagem pagã no seu altar, porém não destruiu
o templo (veja, porém, 8:11). Desde a derrota de seu pai, Antíoco viveu à sombra de
Roma. Até onde podemos verificar, suas proezas militares dificilmente correspon-
dem àquelas atribuídas ao chifre pequeno e ao rei do norte em 8:9 e 11:22.
Mesmo o ponto de vista predominante concorda que 11:40-45 não se harmo-
niza com o que é conhecido sobre o fim de Antíoco. Esses versículos criam um
problema que a tese macabeia procura solucionar relegando esses versículos às
acalentadas, porém falsas esperanças do autor do segundo século. Tal explicação
14 Resumo
paralelos estreitos num relato que tenha sido escrito dentro do contexto dos
eventos narrados.
Ao autor deste ensaio parece que a crítica histórica rigorosa não apoia as de-
clarações positivas e confiáveis feitas por adeptos da tese macabeia. Como alter-
nativa, a tese exílica, que (embora não isenta de problemas) procura considerar
seriamente as afirmações do livro de Daniel é mais convincente e satisfatória.
Consequentemente, Daniel é responsável pelas mensagens que refletem sua vida e
a de seus companheiros, bem como pelas visões divinas que abrangem desde o seu
contexto contemporâneo do sexto século até o fim dos tempos (eschaton).
15
S inopse editorial. Uma obra literária pode ser uma composição de um autor
ou de vários. Obviamente, um ensaio produzido por um único autor dará
evidências de uma unidade que não seria possível ser alcançada numa obra de
vários autores.
Que evidência o livro de Daniel apresenta nesse sentido? Como um documen-
to escrito, não escapou da faca afiada da crítica literária. Sua unidade (autoria úni-
ca) tem sido objeto de debate desde 1674. Enquanto argumentos foram advogados
por eruditos histórico-críticos em prol de sua unidade (um autor macabeu), outros
têm sugerido vários autores (até nove). De acordo com a tese exílica (que considera
as informações do livro ao pé da letra) Daniel, o cativo judeu do sexto século, é o
autor de todo o livro.
Como observado na seção anterior, estudiosos crítico-históricos atualmente
argumentam em prol de uma autoria múltipla e um processo lento no desenvol-
vimento do livro (do cativeiro babilônico do sexto século à Palestina do segun-
do século). Argumentos contra a unidade de Daniel estão em geral baseados em
supostas contradições, repetições, peculiaridades de estilo e vocabulário, suposta
deficiência em coesão e progressão entre as unidades literárias, diferenças entre a
16
septuaginta grega e o texto hebraico-aramaico (o texto massorético), e especialmen-
te as implicações da tese macabeia. Mas esses argumentos não são convincentes,
uma vez que explicações razoáveis podem ser dadas.
Certas características internas sugerem que o livro de Daniel não foi escrito
de uma vez só; contudo, vários indicadores argumentam em prol de sua unidade e
autoria única. Por exemplo, as várias narrativas pressupõem umas as outras e dão
o contexto necessário para as visões. Temas comuns e marcadores cronológicos
tecem os doze capítulos em uma tapeçaria literária que tem o capítulo 7 como
um entrelaçamento central que liga as porções históricas e proféticas. Da mesma
forma, as estruturas quiásticas, bem como o paralelismo marcante, progressivo das
visões evidenciam o propósito e desígnio de uma única mente.
Esboço da seção
1. Introdução
2. Uma breve história do debate sobre a unidade de Daniel
3. Revisão dos argumentos contra a unidade
4. Indicadores da unidade
5. Conclusão
Introdução
O livro de Daniel, como outros livros da Bíblia, é uma obra literária. Assim
sendo, deve ser analisado segundo seu gênero (tipo de literatura), tom, forma, estru-
tura, estilo, vocabulário, etc. Falaremos de todos esses aspectos, mas nos limitare-
mos principalmente à estrutura do livro. Discussões gerais sobre a estrutura lidam
fundamentalmente com a soma da relação das partes não-formais da composição
literária. Discussões sobre estilo lidam com as partes formais. Neste capítulo, o ter-
mo “estrutura” irá abranger tanto os elementos formais como não-formais.
Composições literárias diferem muito em sua natureza. Assim, uma criação lite-
rária pode ser o produto de seu autor, composta em um período relativamente curto
e destinada a um público específico sobre um assunto específico. Pode ser uma cole-
ção de discursos, documentos, ou memórias desenvolvida para um certo público ou
públicos. Suas várias partes terão sido produzidas em um período de anos ou mesmo
toda uma vida. No primeiro tipo de composição, o leitor esperaria maior coesão e
unidade. No último, o tom, o vocabulário, a estrutura, o gênero podem variar, embo-
ra ele ainda visse evidência de características literárias e mentais semelhantes.
Por outro lado, obras literárias podem incluir ensaios submetidos por diferen-
tes indivíduos, mas selecionados e arranjados por um editor. Em tal caso, o tato e 17
possivelmente até mesmo a filosofia do editor que deu forma final à composição
pode estar evidente sem obscurecer completamente as características literárias dos
contribuidores individuais.
Na pesquisa do livro de Daniel, a análise da estrutura costumeiramente enfatiza
a questão da unidade do livro. À primeira vista, existem pelo menos três fundamen-
tos para uma teoria de autoria múltipla. São eles: (1) as duas línguas utilizadas no
livro – hebraico (1:1-2:4a; 8:1-12:13) e aramaico (2:4b-7:28); (2) a divisão de con-
teúdos em narrativas históricas (cap. 1:3-6) e visões (cap. 2:7-12); e (3) linguagem
em primeira pessoa da segunda metade do livro (começando com o capítulo 7) em
contraposição com a linguagem de terceira pessoa da primeira metade. Se esses cri-
térios coincidissem, haveria um argumento muito forte contra a unidade do livro.
Em vez disso, as divisões em seções em grego e em aramaico, narrativas e visões, e
relatos de primeira e terceira pessoa vão em direções diferentes e inconclusivas.
confessou nada saber do escritor dos primeiros sete capítulos.40 Spinoza conjectu-
rou que os capítulos 8-12 foram compilados antes dos primeiros sete.
No século seguinte, o cientista inglês I. Newton chegou a uma conclusão semelhan-
te. Ele argumentou que embora os capítulos 1-12 tenham vindo das mãos de Daniel,
o profeta, os primeiros seis eram uma coleção posterior de artigos históricos.41
A divisão do livro em várias seções e autores continuou, alcançando maré alta
no começo do século dezenove com L. Bertholdt. Ele postulou nove autores dife-
rentes que teriam escrito em épocas e lugares diferentes durante o período dos se-
lêucidas.42 J. Montgomery declarou essa multiplicidade de autores e composições
como “uma falência da crítica”.43 Enquanto tais teorias divergentes encontraram
apenas um pequeno seguimento, alcançou-se um ponto de convergência quando,
em 1822, F. Bleek argumentou em prol da unidade substancial do livro, a qual,
propôs ele, veio das mãos de um autor macabeu.44
Os argumentos a favor da unidade perduraram por aproximadamente um
século, como é evidente no comentário de Daniel por R. H. Charles, publicado
em 1929.45 A despeito de várias oposições (refletidas nas principais pesquisas
de M. Noth e H. L. Ginsberg),46 H. H. Rowley outra vez se levantou para alegar
uma única autoria de um macabeu no seu discurso presidencial à Sociedade de
Estudo do Antigo Testamento (Society for Old Testament Study) em Londres, em
18 janeiro de 1950.47 Fundamental para a maior parte desse debate foi a natureza do
capítulo 7 e sua relação com os outros capítulos do livro.48
Atualmente, a maioria dos estudiosos crítico-históricos abandonou a proposta
de Rowley. Eles tendem a defender a autoria múltipla e um processo prolongado
de composição do livro de Daniel (começando com o início do cativeiro babilôni-
co e finalizando em algum período do segundo século a.C.). Com frequência, tais
estudiosos rejeitam grande parte das insignificantes e numerosas divisões literá-
rias do texto bíblico de Daniel, mas mantêm a idéia de que as seções escritas pos-
teriormente (basicamente os capítulos 7-12, segundo eles) originaram-se durante
as perseguições religiosas aos judeus por Antíoco IV Epifânio. Argumenta-se que
esses materiais foram escritos para confortar e encorajar o fiel e o combatente.
De acordo com esse ponto de vista, o(s) autor(es) desse último estágio incor-
poraram à obra material escrito ou oral (consistindo fundamentalmente de passa-
gens nos capítulos 3-6) originalmente registrados bem antes da época de Antíoco
IV Epifânio e mantidos para um propósito diferente. Esses capítulos anteriores
foram modificados com as circunstâncias históricas variantes da comunidade
judaica e acrescentadas ao livro. A intenção era fazer com que essas primeiras
seções cumprissem o mesmo propósito conforme alegado sobre os capítulos 7-12.
Uma vez que nem todas as características desse primeiro material podem ser har-
monizadas com o objetivo dos capítulos posteriores, considera-se que cumprem
pouco ou nenhum propósito no livro como o temos agora.
outras partes do capítulo 2 contradiz o capítulo 1. Dessa forma, Davies propõe que
a passagem 2:13-23 seja concebida como uma inserção posterior pela pessoa res-
ponsável pela edição do capítulo 1. Apesar de o editor ter criado uma contradição,
ela pode ser vista apenas como uma omissão não intencional.
3. O capítulo que mais chama a atenção da análise crítica-literária é o 7. A
alternância entre prosa e poesia, fórmulas introdutórias características, detalhes
mencionados no capítulo, mas omitidos da primeira declaração da visão, e certos
sinônimos têm trazido à tona algumas das mais complexas teorias de progressão
para esse capítulo em particular.53 Alguns eruditos têm presumido estrangeiris-
mos de fontes antigas não-israelitas (por exemplo, babilônicas, cananeias, persas e
gregas) no capítulo 7. Enquanto alguns eruditos vêem essas inclusões de materiais
extra-bíblicos como nada mais que fontes utilizadas pelo editor, outros pesquisa-
dores consideram-nas indícios de autoria composta.
4. A falta de coesão interna entre os capítulos é sugerida como um índice de
falta de unidade.54 Exemplos dados incluem o fato de que apesar de o capítulo 2 re-
gistrar o reconhecimento de Nabucodonosor da superioridade do Deus de Daniel,
o capítulo 3 ainda narra a mesma exigência do rei por adoração a seus ídolos e a
imagem de ouro. No capítulo 3, o rei aparece completamente alheio à soberania do
Deus de Israel. Novamente, o chamado de Nabucodonosor e Belsazar por homens
20 sábios em vez do profeta no capítulo 4 e 5, bem como a aparente completa nova
introdução de Daniel em 10:1, supostamente corrobora a não-unidade interna.
Outros sinais de autorias divergentes são supostas disparidades teológicas. Os
exemplos incluem o seguinte: (1) Daniel 7:18 declara que o reinado será dado aos
santos no fim dos tempos (eschaton), enquanto 12:2 afirma que a ressurreição omi-
te qualquer referência à soberania deles. (2) Repetidas referências são feitas aos
anjos em 7-12. Por outro lado, nenhum desses seres é mencionado nos capítulos
anteriores; (3) há uma aparente disparidade entre a teologia da oração confessio-
nal de Daniel (9:3-21) e o restante do livro.
5. Outro fator que levou os eruditos a assumirem a multiplicidade da autoria
e de documentos é a diferença entre a tradução do grego antigo (conhecida como
a Septuaginta e intitulada LXX) e dos textos hebraicos e aramaicos (conhecidos
como textos massoréticos, abreviados TM) de Daniel. Além de adicionar seções
não encontradas nos TM ou documentos conhecidos do Mar Morto – A Canção
de Azarias (Dn 3:24-90), a história de Susana (13:1-64), Bel (14:1-22) e do Dragão
(14:23-42) – a LXX parece traduzir os capítulos 4 a 6 de uma forma um tanto livre,
ao passo que aderiu mais fielmente aos textos aramaicos e hebraicos na sua tradu-
ção dos capítulos 1-2 e 7-12.
6. Em 1980, P.R. Davies chamou a atenção para a confusão que definições
eruditas de “apocalíptico” estavam causando entre a primeira e a segunda parte
uma obra. Aqui, porém, não foi produzido nada que possa ser seriamente chama-
do de prova de autoria composta. Por outro lado, há evidências da unidade do
livro em sua totalidade.”58
Enquanto a maior parte da argumentação de Rowley nunca foi apropriadamente
respondida – mas curiosamente evitada – esse notável erudito inglês se superou quan-
do escreveu que “podem ser encontrados pontos para cada história da primeira parte do livro
no cenário da era dos macabeus, para a qual a última parte está designada”. 59
A resposta de J. J. Collins pode ser considerada como uma representação da
opinião majoritária a esse respeito: “A despeito dos extensos argumentos de Rowley,
está evidente que os contos da corte nos capítulos 16 não foram escritos na época
de macabeus. Sequer é possível isolar um único versículo que denuncie uma inser-
ção editorial daquele período.”60 Os capítulos de 1–6 não foram escritos na época
de Antíoco IV Epifânio porque:
“Essa posição se fundamenta principalmente nos argumentos de que os capítulos
1–6 não contêm clara referência a Antíoco Epifânio ou à sua época... Os contos dos
capítulos 1–6 são ambientados na Diáspora. Não há referências claras a eventos na
terra de Judá... Rowley demonstrou bem como alguém que tenha lido esses contos na
época de Antíoco poderia aplicá-los à sua própria situação. Isso, entretanto, não pro-
va que os contos foram escritos com aquela situação em mente. De fato, se considera-
22 mos os contos como um todo e não simplesmente isolamos seus elementos dispersos,
concluímos que são um tanto inadequados para o período de macabeus... Em suma,
a diferença entre Daniel 1–6 e as visões do restante do livro são muito mais importan-
tes do que os pontos nos quais os contos podem parecer apropriados para os tempos
de macabeus. Não apenas os contos não foram escritos pelo autor das visões, como
não foram sequer editados para mostrar qualquer evidência clara da perseguição de
Antíoco ou para expressar a mesma teologia como o restante do livro.”61
Mais tarde, Collins argumentou:
“Há amplo acordo entre os estudiosos que os contos se originaram na
Diáspora oriental. Embora essa tese não possa ser provada conclusivamente, car-
rega um forte peso de probabilidade. Não há razão aparente por que um judeu na
Palestina devesse escrever ou coletar um conjunto de contos, todos ocorridos em
Babilônia, e cujo herói é um sábio caldeu. Tais contos seriam mais relevantes aos
judeus na Diáspora, especialmente àqueles que tinham um cargo ou aspiravam a
um cargo em qualquer posição numa corte gentia. Isso se aplica não apenas aos
contos individuais, mas também ao conjunto deles.”62
Koch apoia a noção de um cenário oriental para as histórias porque, de acor-
do com E. Y. Kutscher, a vocalização do aramaico em Daniel parece ser oriental
e as personagens da realeza no livro, bem como o contexto da história, apontam
para o oriente.63
Em suma, Rowley tem que render um dos fundamentos básicos em sua argu-
mentação. Sua alegação em prol da unidade ou sua defesa por uma origem maca-
beia do livro todo deve ser abandonada. Estudiosos têm mostrado corretamente
que essas duas noções não podem ser mantidas de uma vez e ao mesmo tempo.
Apesar de as razões de Rowley para a origem macabeia do livro todo ter convencido
alguns, seus argumentos em prol da unidade ainda aguardam uma refutação.
Críticos que desconsideram o testemunho explícito do livro de Daniel e por
meio da crítica histórica procuram encontrar uma situação diferente para a his-
tória concluem que uma origem macabeia está fora de questão. Simplesmente,
não há clara referência a Antíoco, sua época, ou qualquer referência evidente a
eventos na terra de Judá durante esse período compreendendo Daniel 1-6, nem
há razão aparente por que alguém na Palestina devesse escrever tais narrativas
ambientadas no contexto babilônico.
Consideradas como um todo, as histórias da corte não são apenas impró-
prias para o período macabeu, elas, na verdade, conflitam com seu suposto pro-
pósito de encorajar os judeus perseguidos pelo seu suserano sírio. Atribuir o
capítulo 4 ao segundo século e considerar o orgulho, queda e restauração de
Nabucodonosor uma comparação com Antíoco Epifânio, afirmando que Deus
trataria Antíoco como tratou Nabucodonosor, poderia apenas desencorajar um
judeu que sofria naquele tempo.64 23
O próprio Rowley previu vários desses problemas. Por essa razão, argumentou
que muitos aspectos nas histórias não cumpriam e não deveria se esperar que cum-
prissem o propósito do autor.65 Tal solução parece extremamente inconsistente em
vista de sua justificada exigência por rigor metodológico e sua reprovação à divisão
do livro quando a evidência textual é inconveniente à teoria de alguém.
Parece que o próprio método de Rowley é uma divisão requerida pelo fato de que
a evidência é inconveniente e pode ser descrita, em suas próprias palavras, como “rude
propaganda para um teoria, no lugar de um estudo científico de evidência”.66 Para
manter sua própria explicação, Rowley teve que trazer à tona a evidência textual com
seu suposto propósito do livro e ignorar evidências contrárias como irrelevantes.
O que dizer, porém, dos argumentos acima mencionados a favor da autoria
múltipla? O que dizer das supostas repetições e contradições? Enquanto tais seme-
lhanças são encontradas na LXX de Daniel, isso dificilmente acontece no original
do mesmo livro. Não encontramos mais desnecessárias repetições e semelhanças
do que podem ser encontradas em outros documentos antigos cuja unidade é
questionada. Em Daniel, tais elementos (como listas de palavras para várias classes
de homens sábios, oficiais da realeza ou instrumentos) são com frequência parte
do estilo do escritor. São repetidos ao longo do capítulo de tal forma que realmen-
te se opõe ao argumento para autoria múltipla e favorece a unidade do livro.
Sem o poder representado pelo chifre pequeno (no capítulo 7 e outros lugares
no livro) a visão se enfraquece. “O que o autor do livro, e do capítulo 7 especial-
mente, está escrevendo se deve a uma convicção, que toma a forma de uma pro-
fecia, de que um clímax nos negócios do mundo, que requerem uma intervenção
direta e final de Deus, está se aproximando rapidamente. Essa consideração, isto
é, que uma visão sem o símbolo imperativo do chifre pequeno estaria sem con-
texto, e seria sem dúvida insignificante, parece ser bem mais importante do que o
argumento dado por North.”68
Da mesma forma, os argumentos que relegam a visão do julgamento, do
Ancião de Dias e do “um como o filho do homem” a um outro autor não reco-
nhecem a tendência do livro e do AT de geralmente expressar clímaxes em forma
poética e então interromper o ponto mais alto da visão.69 Razões negativas para
se rejeitar a unidade do capítulo 7 parecem ser reforçadas positivamente por uma
análise estrutural e temática do capítulo.70
Enquanto o estudioso da Bíblia pode tirar muito benefício da crítica literária
confiável, qualquer análise deve estar em harmonia com a natureza do texto.
No caso do capítulo 7, e do livro como um todo, normas e critérios propostos
para apoiar várias camadas textuais tendem a refletir um pensamento silogístico
ocidental que é imposto ao texto bíblico. A esse respeito, o aviso de Deissler é
oportuno: “Deve-se notar que quando se deseja lidar de maneira justa com o 25
texto, um texto antigo, oriental e principalmente apocalíptico, ele não pode ser
simplesmente pressionado a um leito de Procusto da lógica moderna ocidental.
Portanto, o argumento popular de que os versículos que tratam dos dez chifres
ou especificamente do décimo primeiro chifre... podem também ser omitidos
– demonstrando-se, assim, sua natureza secundária – não é válido, pois embora o
teste principal remanescente possa se tornar uniforme, isto é meramente um ‘tronco
apocalíptico’ estrutural e contextual”.71
Já notamos que as peculiaridades da tradução grega do livro de Daniel le-
varam alguns estudiosos a supor a autoria múltipla. A evidência presente cer-
tamente sugeriria que as orações e histórias não-canônicas que não são citadas
nos textos massoréticos hebraicos nem nos rolos do mar morto são composições
posteriores. O pensamento de que essas adições fazem parte de um “ciclo de
Daniel” de contos populares em circulação entre os judeus em direção ao fim da
era passada é apenas conjectura.72
A questão das traduções gregas de Daniel (e suas derivações) é complexa, e o
debate continua com relação a suas origens, natureza e data. A LXX de Daniel é
uma tradução pré-cristã do AT hebraico. A revisão Teodócio de Daniel, comumen-
te datada do segundo século d.C. pode representar um diferente texto, um fenô-
meno também em evidência para outros livros do AT.73 Assim, a revisão Teodócio
de Daniel, a mais recente das duas, pode ter ou corrigido a LXX de Daniel ou
seguido uma tradição textual pré-cristã anterior.
De acordo com Montgomery, lecionários gregos parecem conter apenas os
capítulos históricos do livro de Daniel.74 Isto, e o fato de que as histórias do capí-
tulo 3 e 6 são aludidas em 1 Macabeus 2, pode sugerir que as narrativas históricas
usufruíam de certa popularidade além das visões. Além disso, as leituras mais
midráshicas da LXX de Daniel 4-6 podem indicar que as traduções gregas são elabo-
rações secundárias. Essas elaborações poderiam ser ornamentos incluídos numa
época em que a fluidez textual não era incomum. A fluidez textual pode também
ter permitido a inclusão das partes não-canônicas.
Em suma, as narrativas históricas, sendo populares, podem ter circulado inde-
pendentemente, acrescentando-se a elas detalhes fictícios em uma ou mais tradi-
ções textuais específicas. Após obterem sua forma presente, os capítulos 4-6 foram
possivelmente emprestados pelo tradutor dos outros capítulos ou por algum com-
pilador posterior quando o livro foi finalmente reunido na forma que agora temos
a LXX de Daniel. Em vez de indicar dois autores diferentes, a evidência parece
apontar para diferentes tradutores ou compiladores.75
A observação de Davies de que a palavra “apocalíptica” causou divisão entre
as duas partes do livro é válida.76 Como resultado, as visões foram tratadas como
26 sendo a essência do livro, ao passo que as histórias são basicamente consideradas
como um prólogo que introduz o contexto e os personagens para as visões.
Davies é sensível ao fato de que os capítulos de 7-12 tendem a ser interpretados
a partir de um contexto sócio-religioso e literário alheio designado “apocalíptico” e
definido por características muito frequentemente estranhas ao livro de Daniel (e,
devemos acrescentar, às Escrituras como um todo). Entretanto, sua própria propo-
sição de que as histórias praticamente criaram as visões é inaceitável.
Sua tese de que as visões foram escritas durante o período dos macabeus como
uma aplicação contemporânea da mensagem das histórias é falha por causa da
falta de evidência para tal releitura. Ele quer ver uma ligação mais estreita entre
as histórias e as visões, e está correto ao enfatizar a continuidade entre as duas
partes do livro. No entanto, Davies falha em mostrar como “temas específicos na
escatologia das visões derivam de contos”.77
A continuidade entre as visões de Daniel e o material apocalíptico em geral
não pode ser negada. Isso não é inferir que exista alguma relação de origem entre
as duas, mas afirmar que a estrutura e coerência internas das visões “é semelhante
àquela dos apocalipses, e, portanto, destaca o modo de revelação, a natureza espe-
cífica da escatologia e a proeminência da Palavra divina sobrenatural representada
pelos anjos.”78 Deve-se acrescentar que embora apocalipses não-canônicos possam
ser ilustrativos, dificilmente são indispensáveis para nossa compreensão de Daniel.
Tudo isso tem levado vários comentaristas – de forma correta, cremos – a reco-
nhecer uma certa peculiaridade em Daniel. Consequentemente, Daniel não é consi-
derado como um espécime típico da literatura apocalíptica que surgiu entre 200 a.C.
e 200 d. C., aproximadamente.79 Baldwin observa de forma apropriada: “O livro de
Daniel é um dos primeiros exemplos de seu gênero; sem dúvida deve ser considerado
como um protótipo ou modelo no qual escritores mais tarde se inspiraram.”80
Outra alternativa que busca enquadrar as visões e as histórias sob um guarda-
chuva foi sugerida por Gammie. Ele amplia sua definição de apocalíptico para in-
cluir vários subgêneros, a fim de “dispensar estudiosos da necessidade de dissociar
os capítulos 1–6 da classificação ‘apocalíptica’”.81 Em ambos os casos, nenhuma di-
visão artificial é colocada entre as duas partes do livro por algum critério externo.
A análise histórica não é apenas útil, mas essencial à exegese, uma vez que respei-
te o texto. Entretanto, a crítica histórica pode facilmente levar ao raciocínio circular.
Isso acontece quando a crítica se afasta de uma passagem bíblica para descobrir algu-
ma identificação histórica e, então, retorna ao texto para remover material que não
esteja em harmonia com sua interpretação histórica hipotética. Rowley condenou
tal procedimento quando observou que “isto é fundamentar o caso nos supostos
enganos de uma teoria da origem do livro e não em evidência.”82 Sob nenhuma
circunstância deve o exegeta sacrificar a primazia e integridade do texto.
Irregularidade no texto também tem sido inferida com base no suposto emprés- 27
timo de antigo material tradicional extra-bíblico, principalmente nos capítulos 7-8
e 10-12. Embora nenhuma importação indiscriminada de tais materiais seja conce-
bida, estudiosos propõem derivação de temas da Babilônia, Canaã e Pérsia.83
Este autor examinou a hipótese da origem cananeia para o capítulo 7 e a
achou em falta.84 As teorias babilônicas e persas têm poucos seguidores atualmen-
te, e as alusões míticas sugeridas para os capítulos 8 e 10–12 têm pouca relevân-
cia.85 Outros estudiosos argumentam que o autor de Daniel, se e quando ele usou
fontes bíblicas ou extra-bíblicas, incorporou as fontes de tal maneira que não há
evidência de nenhuma junção.
Indicações de unidade
Os argumentos listados até agora não nos impõem o ponto de vista da autoria
múltipla do livro.86 Entretanto, essa não é uma demonstração em si da unidade
do livro. Há alguma evidência que sugira que a autoria única é uma alternativa
mais convincente?
Aspectos individuais de uma obra literária são essenciais e significativos, e não
pode haver nenhum produto literário sem vocabulário e sintaxe. Tais unidades
clímax, de um lado com uma pedra “cortada sem auxílio de mãos”, e, do outro, com
um reino e domínio eterno dados a “um como o Filho do Homem” e aos “santos do
altíssimo” (2:34, 45; 7:13-14, 27). O ciclo seguinte (caps. 3 e 6) é composto de duas
histórias de livramento, a saber, a salvação dos amigos de Daniel da fornalha ardente
e do resgate do próprio Daniel da cova dos leões. Dentro desse círculo novamente
estão os capítulos 4 e 5, que tratam do julgamento de dois reinos gentios.
Esses mesmos capítulos podem também ser dispostos numa forma literária
conhecida como quiasma, um recurso literário que unifica uma composição ao
arranjar suas partes correspondentes numa relação invertida uma com a outra.
Veja a seguinte ilustração:
Embora seja impossível demonstrar que esse quiasma foi escrito de forma
30 deliberada, é pouco provável que tenha sido escrito de maneira acidental, prin-
cipalmente quando se reconhece que estruturas semelhantes ocorrem em outros
capítulos desse livro.
Estudiosos que analisaram ambas as visões e o restante do capítulo 7 em várias
camadas passaram por alto a estrutura quiástica que une esse capítulo. Uma vez que
já discutimos essa característica em outra parte, um resumo de nossa análise será
suficiente aqui.95 É notável que – após uma visão preliminar dos reinos do mundo
(7:2b-3) – a visão flui numa sequência de unidades em direção ao clímax. Ela, en-
tão, reverte a mesma sequência temática como indica o esboço a seguir:
A estrutura quiástica dos versículos 4-14, com o juízo no seu centro, primeiro
descreve a ascensão limitada dos poderes do mundo antes de traçar seu destino
Além disso, há três descrições que tratam da opressão, do juízo do reino que
se repetem no capítulo:
Shea acredita que o Messias está no centro de 9:25-27 e sugere o seguinte padrão:98
32
A. Construção (v. 25a)
B. O Messias (v. 25b)
C. Construção (v. 25c)
D. O Messias (v. 26a)
C’. Destruição (v. 26b)
B’. O Messias (v. 27a)
A’. Destruição (v. 27c)
Embora esses padrões literários possam não ser o resultado de um plano deli-
berado, são, no entanto, de grande interesse em qualquer discussão da estrutura
e unidade desse livro.99 Os elementos centrais nessas estruturas chamam atenção
para o tema do julgamento, o conflito entre o chifre pequeno, o “Príncipe do
exército” e o Messias.
O livro de Daniel também retrata um padrão discernível na linguagem em-
pregada. Sua mudança do hebraico para o aramaico e de volta para o hebraico
segue um padrão A:B:A que também é encontrado no livro de Esdras. O recur-
so literário de envolver uma seção central de uma obra com um “envelope” de
um estilo diferente também é empregado no livro de Jó e no antigo Código de
Hamurabi. Jó começa com um prólogo em prosa, continua com poesia e termina
Conclusão
Em suma, embora as mensagens das histórias e visões não sejam idênticas, a re-
lação das duas seções do livro é mais do que simplesmente uma combinação literária
ou justaposição.103 Há um desenvolvimento orgânico – no qual as histórias preparam
para as visões – que torna improvável argumentar que as visões sempre existiram ou
foram planejadas sem as seções históricas. As narrativas pressupõem umas as outras
e as visões progressivamente correspondem umas as outras. Incidentes históricos são
selecionados sutilmente e simetria literária, detalhes cronológicos, as duas linguagens
e relatos de primeira e terceira pessoa integram ambas as partes.
Daniel 7, em virtude de sua simetria, linguagem, detalhes cronológicos e con-
teúdo liga os capítulos 1–12. As características únicas de estilo, linguística, temáti-
ca testificam uma mente única e um hábito mental semítico intocado por padrões
ocidentais modernos de lógica e literatura. Concordamos com Baldwin que “o
problema da autoria múltipla é o de que o livro apresenta bem poucos traços dos
supostos pontos de vista divergentes. Como uma obra literária, ela manifesta uni-
dade de propósito e desígnio”.104
Como uma estrutura literária simétrica, o livro de Daniel consiste de partes
constituintes, nenhuma das quais dispensável. Anteriormente, notamos as inade-
quações dos argumentos contra a unidade de Daniel. Essa avaliação negativa parece
ser justificada pelas ligações estruturais observáveis em todo o livro. Essas apontam
convincentemente em direção a uma autoria única para o livro de Daniel.
Poder-se-ia argumentar que um editor impôs essa estrutura sobre o livro de
Daniel ao reunir materiais diversos em um volume. Embora não possamos rejeitar
tal hipótese imediatamente, as idiossincrasias peculiares e quase inconscientes e as
características de estilo observadas acima tendem a favor da noção de que o livro
procedeu basicamente de uma pena e uma mente.
Ainda uma palavra precisa ser acrescentada. Mesmo que a autoria múlti-
pla seja rejeitada, há várias características do livro que indicam que ele não foi
escrito de uma vez. Com exceção dos capítulos 10–12, cada capítulo no livro
é independente um do outro. Alguns capítulos têm sua própria introdução e
conclusão (por exemplo, 7:1, 28). Enquanto a maioria dos capítulos se lê como
memórias, o capítulo 4 é claramente uma confissão de Nabucodonosor escrita
34 na forma de carta, a qual Daniel incorporou ao seu livro.105 Muitos capítulos são
datados, permitindo ao leitor precisar o ano durante o qual os eventos registra-
dos ocorreram. Apesar de 1:7 identificar Daniel com Beltessazar, isso é repetido
em 2:26; 4:8-9, 19; 5:12, e 10:1. Tal repetição de sua identificação indica relatos
originalmente independentes.
Daniel 1 começa com eventos datados de 605 a.C., mas termina com uma re-
ferência ao ministério de Daniel que se estende ao primeiro ano de Ciro, cerca de
70 anos mais tarde (v. 21). Isso indicaria que o capítulo 1 pode ser uma introdução
deliberada escrita algum tempo depois do primeiro ano de Ciro, mas antes dos
capítulos 10–12.106 Daniel 10:1 coloca a última visão de Daniel no terceiro ano de
Ciro –536/535 a.C. Apesar de essas datas poderem não indicar a época em que
os capítulos individuais foram escritos, não é impossível especular que eles podem
ter sido registrados (ao menos em forma de anotação) pouco depois da data dada.
Daniel pode tê-los mantido como uma coleção de memórias.
O fato de Daniel usar palavras de origem persa, principalmente na primeira
parte do livro, pode dar vazão ao fato de que os capítulos não foram escritos antes
(ou no mínimo foram atualizados) da época em que o império persa sucedeu o ba-
bilônico. Naquele período, Daniel tinha reassumido um alto posto administrativo
e estava constantemente em contato com seus colegas persas. A data dos capítulos
10–12 colocaria os últimos três capítulos do livro algum tempo depois do primeiro
ano de Ciro, tempo em que os capítulos 1–9 podem já ter sido coletados.
Em suma, se assumirmos que Daniel, sob a direção do Espírito Santo, compi-
lou o livro agora conhecido pelo seu nome até o final de sua vida, reunindo extra-
tos de suas memórias e outros materiais selecionados, podemos facilmente explicar
várias características literárias linguísticas e cronológicas observadas acima.
Nossa análise da estrutura do livro de Daniel nos levou a concluir a favor da uni-
dade do livro, na qual as partes constituintes são todas necessárias à estrutura como
um todo. Dado o argumento para a unidade do livro, podemos também assumir
que esse documento do sexto século apresenta uma teologia basicamente unificada
em vez de uma combinação ou justaposição de várias teologias contestantes, se não
contraditórias.107 Agora passaremos a um exame da teologia do livro de Daniel.
35
S inopse editorial. Inserida nas narrativas e visões está a descrição que o profeta
faz de Deus como o eterno, onisciente, onipotente, justo, misericordioso e cle-
mente soberano. Uma perspectiva global ou internacional caracteriza a descrição
de Daniel da Deidade. Ele é o Deus de todas as nações, bem como o de Israel. Ele
governa nos reinos dos homens. Ele não só revela o futuro, mas também intervém
na história. Ele não permite que nada frustre seu propósito e objetivo supremo.
Os anjos são proeminentes. Descritos como “santos”, os “guardiões” da ati-
vidade humana, compõem a multidão celestial que assiste o Ancião de Dias no
julgamento no Céu. Algumas vezes, são enviados para proteger e livrar os servos
de Deus. Aparecem mais notavelmente no livro como intérpretes das visões. Um
deles é designado pelo nome.
A fragilidade humana (dependência de Deus para existir) é contrastada com o
orgulho e a arrogância, que às vezes se jacta de sua auto-suficiência até ser humi-
lhada por decreto divino. As experiências de Daniel e seus amigos anteveem a ex-
periência profetizada dos santos. Eles são igualmente ameaçados com sofrimento,
distinguidos por sua lealdade e finalmente libertos. O nome de Daniel (“Deus é
meu juiz”) é uma constante lembrança do dever de prestar contas. Haverá um dia
36
em que os livros serão abertos e a sentença dada; aqueles que forem encontrados
inscritos no livro da vida serão salvos.
Em contraste com concepções pagãs evasivas, Daniel apresenta uma visão linear
da história. Esse eixo horizontal está expresso na cronologia do livro e se estende da
época do profeta através de reinados históricos sucessivos até o estabelecimento do
eterno reino de Deus na terra. Deus determinou o curso do futuro, mas não o des-
tino do indivíduo. O homem é livre para servir ou rejeitar a vontade divina dentro
do curso dos eventos determinado por Deus. Observa-se também no livro um eixo
vertical ou espacial da história. Há uma linha definida entre o plano do céu e o da
terra. Atividades e acontecimentos em ambos os planos se relacionam e afetam um ao
outro. A conexão entre o Céu e a terra é estreita; Deus está no controle de tudo.
O livro trata de uma variedade de temas escatológicos. O papel do Messias em
trazer o fim do pecado e estabelecer a justiça eterna, as aflições apocalípticas do
fim dos tempos, a ressurreição e final libertação do povo de Deus. Repetidamente,
o profeta retorna aos temas do julgamento e do estabelecimento do reino de Deus
na terra, a eterna possessão dos santos.
O livro de Daniel apresenta o escopo da história a partir da perspectiva divi-
na. Sua mensagem é de certeza. A despeito de todas as aparências do contrário, a
humanidade não é deixada às forças da ganância e ambição humanas ou à mera
sorte. Deus está no controle da vida hoje. Ele governa nos reinos dos homens para
cumprir seu propósito. O Deus onipotente e onisciente está cumprindo seu sábio
desígnio e irá salvar seu povo que depositou nele sua confiança.
Esboço da seção
Introdução
A descrição de Deus por Daniel
A função dos anjos
Natureza humana
Dimensões da história
Escatologia em Daniel
Propósito do livro de Daniel
Introdução
Logo de início, devemos reconhecer que Daniel nunca se propôs a escrever uma
teologia sistematicamente arranjada, a qual posteriormente os leitores pudessem 37
usar como um compêndio doutrinário. Nesse aspecto, o livro de Daniel é como os
outros escritos canônicos. Contudo, o livro em si chama o leitor a descobrir nas suas
páginas o Deus de Daniel e a maneira como Ele se relaciona com o mundo. Aqui
está uma riqueza e variedade de concepções que poucos livros bíblicos oferecem.
presta contas nem aos poderes do Céu, nem às pessoas na terra. A magnificência
divina é revelada pelos nomes atribuídos a Ele nesse livro.
Designações usadas pelos israelitas e estrangeiros incluem as seguintes: “Deus
do Céu” (2:18-19, 37, 44), “Rei do Céu” (4:37), “Céu” (4:26), “Altíssimo” (4:17, 25;
7:25), “Deus Altíssimo” (3:26; 4:2; 5:18, 21), “Deus dos deuses e Senhor dos reis”
(2:47), “Deus dos deuses” (11:36), “Deus vivo” (6:20), “Deus de meus pais” (2:23),
“Yahweh” (9:2, 4, 13-14, 20), “Senhor” (1:2; 9:3, 7, 8, 19, etc.), “Príncipe do exérci-
to” (8:11) e “Ancião de dias” (7:9,13).
Para Daniel, assim como para Isaías e Jeremias, há apenas um Deus verdadei-
ro, cuja habitação está nos Céus. Falsos deuses e o culto a eles são mera vaidade
(2:18,37). O arrogante desafio de Nabucodonosor expresso nas palavras “E quem
é o deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” apenas intensifica o contraste
entre a potestade terrena e o Senhor divino quando o rei babilônico finalmente
é forçado a curvar-se em homenagem ao Deus de todas as nações (3:15, 29).
A soberania divina também é demonstrada pela sabedoria ímpar de Deus. Do
Deus do Céu “é a sabedoria e o poder. ... Ele dá sabedoria aos sábios e entendi-
mento aos inteligentes. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está
em trevas, e com ele mora a luz” (2:20-22; cf. v. 47; Is 45:1-7). Os homens mais
instruídos e sábios do reino reconhecem suas limitações quando Nabucodonosor
38 pede-lhes que reproduzam seu sonho. Nenhum homem na terra pode relatar o so-
nho do monarca e dar sua interpretação (cf. 4:18) “A coisa que o rei exige é difícil,
e ninguém há que a possa revelar diante do rei, senão os deuses, e estes não moram
com os homens” (2:11, grifo nosso).
A Fonte de sabedoria revela mistérios e conhece “o que há de ser nos últimos
dias” (2:28-29, 45). O conhecimento divino é também demonstrado na habilidade
de Daniel de retomar o sonho do rei e apresentar seu significado (2:30; cf. 5:11).
Daniel apenas pode interpretar a visão do capítulo 4 e a escrita do capítulo 5 por
causa do “o espírito dos deuses santos” 4:18; 5:11-12). Da mesma forma, nas visões
do começo do capítulo 7, é Deus que torna conhecido o que irá acontecer “nos
últimos dias” (cf. 8:17, 19; 10:14; 12:9).
A Majestade eterna e sábia dos Céus também possui poder inigualável. Ele, a
quem pertence todo o poder, faz o que lhe apraz com os habitantes dos Céus e da
terra (2:20; 4:35). A liberdade de Deus para agir é reconhecida por Daniel e seus
amigos (3:17-18; 4:27). O Eterno estabelece limites pré-determinados à posse dos
impérios mundiais e verifica seu exercício e escopo de poder. É o Deus dos Céus
quem muda os “tempos e as estações” e “remove reis e estabelece reis” (2:21).
Todo reinado, grandeza, majestade, poder e glória vem do Altíssimo (2:37;
4:25; 5:18). Monarcas terrenos, bons ou maus, pagãos ou israelitas, exercem seu
reinado apenas pela graça divina e não meramente por “direito legal” ou conquista
(1:2; 4:36; 5:28; 7:6; 9:1). Mesmo aquele “como o Filho do Homem” recebe o “do-
mínio, e glória, e o reino”, assim como “o povo dos santos do Altíssimo”, das mãos
do Ancião de Dias (7:13-14, 27).
Dessa forma, Deus pode determinar os dias da potestade cujo reino encontra-
se em falta, trazê-lo a um fim, e dá-lo a outro (5:26-28). Ele pode humilhar o
orgulhoso (4:37) até que “conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio
sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer e até ao mais humilde dos homens
constitui sobre eles” (4:17). Esses conceitos teológicos são nada mais que uma
demonstração da autenticidade e aplicação da sabedoria israelita em referência à
exaltação e humilhação de reis (cf. Jó 34:16-30; 36:5-14; Pv 16:12).
Todos os reis e impérios devem prestar contas a Deus. Deus fala sério, e deso-
bediência voluntária resulta em terríveis consequências para israelitas ou pagãos,
indivíduos ou nações. Foi a rebelião deliberada de Israel e desobediência à lei de
Yahweh dada por meio de Moisés e pelas instruções dos profetas que ocasionou a
destruição de Jerusalém (9:9-13). No final, nenhum individuo ou reino escapa do
julgamento divino (4:5; 7:9-14; 12:1-2).
Deus não só sabe, como também age. Ele, que determina a história, também
intervém nela. As experiências de Nabucodonosor e Belsazar (caps. 4 e 5) mos-
tram que o Deus de Daniel revela seu plano e o coloca em prática da maneira mais
espetacular. Isso também é mostrado pela justaposição dos capítulos 8 e 9–12. 39
Essa visão do capítulo 8 (dada no terceiro ano do último rei de Babilônia)
designa a Medo-Pérsia como o próximo império (8:20). Tal revelação teria assegu-
rado ao profeta o futuro cumprimento das profecias dos capítulos 9 e 10–12, as
quais foram dadas alguns anos depois que Dario, o Medo e Ciro haviam sucedido
Belsazar. O fato de que Deus não apenas revela, mas também intervém é signifi-
cativo, pois desafia a ideia defendida por alguns de que o Deus da “apocalíptica”
é completamente distante e transcendente.109 Não devemos passar por alto esse
aspecto da intervenção divina ao focarmos a presciência e determinação divinas
da história, um tema para o qual retornaremos depois.110
Alguns atribuem a oração do capítulo 9 a um autor diferente porque pensam
que sua teologia difere do restante do livro – um procedimento um tanto arbitrário.
Mas se o relato é aceito sem questionamentos, ele retrata Daniel relembrando os
poderosos atos divinos de libertação do Egito e suplicando por outra intervenção
poderosa para a salvação em favor do povo escolhido (9:14-16).111 Os atos salvíficos
de Yahweh a favor de Israel não são meramente eventos de um passado distante. A
futura salvação dos santos pelo Ancião de Dias e por Miguel é garantida pelo teste-
munho de Nabucodonosor e Dario de que o Deus vivo liberta, resgata e faz sinais e
prodígios (7:21-22, 27; 12:1-2; 3:29; 6:26-27). A própria promessa da ressurreição é
uma demonstração adicional da liderança de Deus e de seu poder para salvar.
ampla, global é que domina o livro. O Deus dos Céus, que controla toda a história
e determina o futuro, é também o que guarda as alianças, conhecido dos israelitas.
Em majestade inigualável, rodeado por uma hoste celeste, Ele intervém na histó-
ria e não permite que nada frustre seu propósito final.
Natureza humana
calamidade de Israel nada mais era do que uma confirmação das palavras ditas
por Deus contra eles e seus governantes (9:12).
Ambas as partes do livro testificam do extermínio das nações consideradas
inadequadas ao governo pelo Senhor dos Senhores. Os privilégios do “reino e
grandeza, glória e majestade” haviam sido franqueados a fim de que potestades
terrenas assim favorecidas pudessem “praticar a justiça” e mostrar “misericórdia
aos pobres” (5:18; 4:27). Yahweh tinha concedido extraordinários privilégios a
Israel a fim de que pudesse ser sua testemunha e declarar seu louvor (9:15, 19;
cf. Isaías 43:12, 21).
O livro de Daniel é um constante recordar da realidade do julgamento. O
nome de seu autor provavelmente significa “Deus é meu juiz”. O fato de que o
Deus de Daniel é o supremo soberano do qual a vida e força humanas depen-
dem é razão de sobra para o ser humano prestar-lhe contas (5:23). Haverá um
dia quando livros serão abertos e sentenças proferidas (7:9-14) e aqueles que se
acharem inscritos no livro serão salvos (12:1-2).
Um remanescente que leva a sério o favor divino também é evidente nas
mensagens deste livro. Lemos sobre Daniel, seus amigos, e de uma incontável
multidão chamada de “os santos [literalmente ‘os sagrados’] do altíssimo”.
Para Daniel e seus amigos, a lealdade a Deus é mais importante do que a
43
própria vida. Eles se recusam a comer alimentos ofensivos à sua consciência ou
a se ajoelhar diante de ídolos de qualquer espécie. Sua confiante obediência é
incrível. Eles afirmam sua lealdade e convicção de que Deus é capaz de livrá-
los, mas “se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem
adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (3:18). Sua lealdade não apenas
testifica do compromisso deles, mas também os guia à salvação (3:28; 6:22).
A experiência de Daniel e seus contemporâneos prenuncia a experiência
dos santos mencionada mais tarde no livro. Eles são igualmente ameaçados
com sofrimento, distinguidos por sua lealdade, e finalmente salvos. Os santos
são o povo especial de Deus na terra, que sofre perseguição intensa por um
determinado período de tempo. Por meio de um veredicto judicial, finalmente
recebem o reino de Deus e a vida eterna (7:18, 21-22, 27).
Hasel conclui que “os santos do Altíssimo” em Daniel 7 devem ser identifi-
cados com os fiéis seguidores de Deus que constituem seu povo remanescente,
que são seus escolhidos, separados do restante das nações, perseguidos pelo
poder que se opõe a Deus, mas mantêm a aliança, sua confiança e fé em Deus,
de quem finalmente recebem um reino eterno”.113 Assim, no livro de Daniel,
Deus não desiste do homem. Seu objetivo na criação é alcançado no eschaton,
ou seja, no fim dos tempos (Gn 1:26; Dn 7:27).
Dimensões históricas
périos terrenos... A fim de que o cenário mundial tivesse qualquer sentido nesse
contexto, era necessária uma visão mais abarcante, na qual outras grandes na-
ções não estivessem apenas incluídas, mas também desempenhassem um papel
importante.”116 A interpretação histórica baseada na lealdade nacional agora ti-
nha que ser expandida. Expressões proféticas como “naquele dia”, “terremotos”,
“escurecimento do sol e da lua”, “fome” e “silêncio” – tão familiares aos ouvidos
israelitas – tinham que se adequar a novos idiomas escatológicos.
Daniel também vê a história humana da perspectiva divina. É seu resumo da
história mundial a partir da perspectiva divina que enfatiza uma medida de des-
continuidade entre Daniel e a profecia clássica em geral.
Uma vez que nosso autor tenha vivido e escrito na época do exílio, ele come-
çou sua história com o cativeiro babilônico, pressupondo o período pré-exílico.
Isso fica evidente em sua oração do capítulo 9, na qual faz alusão ao êxodo, à alian-
ça no Sinai e ao tempo dos reis e dos profetas. Começando com o sexto século, a
compreensão do autor da história se amplia e ele leva em conta não apenas a fé
de Israel, mas também aquela dos reinos do mundo dentro do propósito divino.
Finalmente, a história culmina com o reino eterno escatológico.117
“Determinismo” e história
Uma vez que toda a história foi divinamente traçada – uma posição bíblica
repulsiva à atmosfera empírica moderna – o futuro (num certo sentido) está ne-
cessariamente predeterminado. Assim, de acordo com a profecia do carneiro e do
bode (cap. 8, escrito durante os últimos anos da supremacia babilônica, por volta
de 548/547 a.C.), é dito que os poderes medo-persa e grego claramente identifica-
dos sucederão Babilônia e precederão a atividade do chifre pequeno (8:20-21). O
46 período compreendido pelo domínio medo-persa e a vida de Alexandre, o Gran-
de, abrange pelo menos duzentos anos após a morte de Daniel.
De acordo com o capítulo 8, esse período foi tão inevitável quanto o de sema-
nas de anos anunciado em 9:24-27.122 Assim como animais de vida curta designam
impérios de longa existência, curtos períodos de tempo intercalados dentro do
contexto desses animais por necessidade, também designam longos períodos de
tempo. Essa esquematização que o livro de Daniel faz da história (também presen-
te em outros escritos apocalípticos) tem levado os estudiosos a falar de “determi-
nismo” na literatura apocalíptica.123
Embora profetas e escritores da literatura de sabedoria não estivessem alheios
a tempos determinados da vida humana (Ec 3:1-8, 17; 8:6), “determinismo é um
fator muito mais definido na teologia do livro [de Daniel] do que em qualquer
outra parte do AT”.124 Da mesma forma, todas as coisas operam em harmonia
com o plano já determinado. O cumprimento de partes de uma previsão garante
o cumprimento do restante da profecia. O leitor pode colocar-se a si mesmo na
marcha histórica mundial.125 A ideia do “determinismo” é evidente em ambas as
partes do livro (4:14, 25; 2; 7-12).
D. S. Russell observa com propriedade: “Uma consideração do determinismo
da história conduz a outro assunto estreitamente interligado, o da relação entre
a liberdade humana e o controle divino.”126 No livro de Daniel, “determinismo”
Escatologia em Daniel
nais), definida com mais precisão, está especialmente interessada na “era porvir”.
É nesse segundo aspecto desse contraste em que agora nos deteremos.
dentais. Por um lado, a declaração de que “o Deus do Céu suscitará um reino que
não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo;... subsistirá para
sempre” (2:44) ecoa o pensamento de 7:18, 27.
Por outro lado, 2:34-35, 44b retrata o estabelecimento do reino por uma pe-
dra “cortada sem auxílio de mãos”. Ela fere a estátua, esmiúça todos os reinos
anteriores, leva-os a um fim, e se torna uma “grande montanha” que enche “toda
a terra”. Obviamente, eventos catastróficos são citados nesses versículos.140
Torna-se aparente, então, que a natureza do reino escatológico de Daniel, embora
em nenhuma parte tenha sido esboçado de forma sistemática, opõe-se às grosseiras
alternativas ocasionalmente apresentadas pela literatura secundária. O livro parece
apresentar um reino final, o qual, após um julgamento geral, origina-se com o Ancião
de Dias no Céu e é dado (provavelmente por meio do “semelhante a um Filho do
Homem”) aos santos. Todos os outros reinos terrestres foram destruídos de modo
sobrenatural antes de o reino escatológico ser estabelecido após as calamidades apo-
calípticas no clímax das eras. Os santos, incluindo aqueles levantados de modo sobre-
natural do túmulo para a vida eterna, reinarão e dominarão para todo o sempre.
Temas escatológicos
50 No livro de Daniel, passagens que focam o fim são surpreendentemente poucas
e limitadas principalmente aos capítulos 2, 7, 9 e 10–12. Temas escatológicos que
ocorrem nesses capítulos incluem: (1) a ideia do fim do pecado e do estabelecimen-
to da justiça eterna; (2) o papel do Messias, a vinda do “semelhante ao Filho do
Homem” e a figura de Miguel; (3) o conceito de julgamento; (4) calamidades apoca-
lípticas, libertação e ressurreição; e (5) o fim dos tempos e o reino escatológico.
Doukhan, num debate sobre “As Setenta Semanas de Daniel 9”,141 comenta
que essa passagem é “imbuída de escatologia”.142 Ele defende que a ideia do fim
dos tempos (o eschaton) é indicada de forma explícita pelos conteúdos dos versícu-
los 26-27, especialmente por expressões como “fim” (qēs e kālāh), “fazer ... cessar”
(yašbît), e as várias subdivisões específicas de “semanas”. A mesma ideia também
está implícita no versículo 24, principalmente nas referências do “cessar” da trans-
gressão e o “[selamento]” da visão. A visão aponta para além, ao cessar do pecado e
transgressão bem como ao estabelecimento da reconciliação e justiça eterna.
Doukhan oferece uma observação interessante e útil sobre o uso polêmico e
único de “Messias” em Daniel. Primeiro, ele chama atenção para o fato de que
no capítulo 9 dimensões particulares e universais são justapostas. Por exemplo,
palavras usadas na oração de Daniel (v. 3-19) num sentido definido, expressando
uma visão particular (tais como “pecado”, “iniquidade”, “justiça”) ocorrem nos
versículos 24-27 num sentido indefinido, expressando uma perspectiva universal.
Assim, Doukhan conclui que:
“À luz do que precede e devido à sua particularidade, o termo māšîah não quer
dizer um Messias em particular em meio a outros que têm uma certa missão, mas
ele é de fato o Messias por excelência. Consequentemente, não é de se surpreender
que esse Messias tenha algo a ver com o rabbim [o “muito”], uma palavra que tem
uma forte conotação universal. Ele é o Messias de todos os povos.”143
Outra figura proeminente no livro de Daniel inclui o “semelhante ao Filho do
Homem” e “Miguel”. O “um como o Filho do Homem” de 7:13, 14 levantou uma
multiplicidade de teorias de origem e interpretações que não necessitam ser dis-
cutidas aqui.144 Essa figura daniélica aparece “com as nuvens do Céu”, então vem
à presença do Ancião de Dias e é apresentado diante dele. A imagem da nuvem
sugere a origem sobrenatural e natureza dessa figura (Sl 104:3; Is 19:1).
“Domínio, e glória, e o reino” são dados a “um como o Filho do Homem”
para que “os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem”. A palavra
aqui traduzida “servissem” (pelah) no aramaico bíblico designa consistentemente
o serviço religioso, “culto” ou “veneração” tanto ao Deus de Israel como às deida-
des pagãs (3:12, 14, 17-18, 28; 6:16, 21; 7:14, 27; Esdras 7:24).145 As palavras que
concluem 7:14 são reminiscentes das doxologias recorrentes evidenciadas em 4:3,
34; 6:26, que atribuem louvor e reinado eterno ao Deus Altíssimo. Se essa doxolo-
gia em 7:14 se aplica ao “um como Filho do Homem”, uma razão extra é provida
51
para a tradução de pelah como “servir”.
Contudo, essa figura daniélica não é idêntica ao Ancião de Dias. Embora o
primeiro possua certos atributos divinos, ele também aceita uma função subordi-
nada àquela do Ancião de Dias. Daniel 7 não dá pistas de que o “um como Filho
do homem” participa na deliberação judicial em que preside o Ancião de Dias.
Em todo o capítulo, é o Ancião de Dias que se coloca como a figura proeminente,
e é dele que o “semelhante ao Filho do Homem” recebe o reino.
O “semelhante ao Filho do Homem” aparece na corte celestial como um ser
transcendente. Ele fica à parte do inumerável exército de assistentes celestiais de-
vido a sua missão e aparições. Ele também é diferente dos santos.
Embora pareça um ser humano e seja solidário aos santos (por exemplo, ele
compartilha seu reinado com eles), ele não é um ser terrestre. O cenário teofâ-
nico de sua chegada diante do Ancião de Dias no céu, a linguagem da audiência
real e investidura não se comparam a nenhuma descrição dos santos. De acordo
com o capítulo 7, ele é isento das perseguições e infelicidades dos santos. Em-
bora pareça um ser humano, ele é diferente dos “santos do Altíssimo”, que são
seres humanos.146
Daniel 7 envolve em mistério a atividade do “um como Filho do homem”
antes de sua aparição no versículo 13. No sentido de que ele aparece quando a his-
tória (simbolizada por elementos visionários precedentes) percorreu a maior parte
de seu curso, essa figura daniélica pode ser descrita como um ser escatológico. Em
suma, o “semelhante ao Filho do Homem” é um ser individual, escatológico, com
características messiânicas, diferente dos santos, mas que mantém um relaciona-
mento estreito com eles no fim dos tempos.147
Já falamos da figura de Miguel acima e não há necessidade de repetir esses
detalhes. Nas três referências daniélicas a Miguel (10:13, 21; 12:1) ele é caracteri-
zado como “príncipe” (śar). A palavra pode ser usada para designar “um oficial
importante” ou “líder” religioso ou militar, ou mesmo um “comandante” de um
exército celeste ou terreno.148
Miguel não é um príncipe comum, pois 10:13 o chama de “um dos primeiros prín-
cipes” e 12:1 o designa de “o grande príncipe”. Entretanto, Miguel não é simplesmente
um poderoso líder separado de seu povo. Ele demonstra profundo interesse pelo bem-
estar final de seu povo ao se levantar (hā‘ōmēd ‘al) pelos “filhos do teu povo” (12:1).
Assim como Miguel lutou contra o “príncipe do reino da Pérsia” no passado
(10:13, 21), ele agirá outra vez no futuro. É Miguel quem irá pôr fim ao último
“tempo de angústia” sem precedentes para seu povo. Os capítulos 10 e 11 atingem
seu clímax em 12:1-3. Daniel 11:45–12:2 é um perfil do “tempo do fim” que
inaugura o final da era (o eschaton). O povo de Deus é resgatado e seus inimigos
destruídos porque Miguel intervém durante esse tumultuoso período.
52 Daniel 12:1-3 também atribui uma função judicial a Miguel. Pode-se deduzir
isso a partir de uma referência ao “livro” e a ressurreição parcial que se segue (v.
1-2). Nickelsburg conclui corretamente que “a defesa da nação israelita por Mi-
guel não é apenas militar, mas também judicial. A guerra que ele empreende tem
caráter de julgamento.”149 Apenas aqueles inscritos no “livro” são salvos, ou seja,
aqueles encontrados no registro de cidadãos da Nova Israel.
Em suma, Miguel é um ser celestial que defendeu e guiou Israel no passado e o
fará novamente no eschaton. Ele tem um vital interesse no bem-estar de seu povo,
principalmente quando o destino deles está grandemente em risco. A intervenção
de Miguel, se militar, judicial ou ambas, resulta na destruição do inimigo e no
resgate e ressurreição do povo de Deus. Assim, os santos têm certeza da liberta-
ção e da restauração a uma nova comunidade. Paralelos entre o capítulo 7 e os
capítulos 10–12 sugerem importantes semelhanças entre Miguel e o “semelhante
a um Filho do Homem” do capítulo 7.150 Embora o escritor de Daniel não faça
uma ligação entre essas duas figuras, especificamente, suas afinidades substanciais
sugerem identidade similar.151
O tema do julgamento é proeminente em todo o livro de Daniel. O próprio
nome Daniel (“Deus é meu juiz”) transmite a mensagem de que Deus julga. Nos
capítulos históricos, Daniel e seus colegas são severamente testados e achados ab-
solutamente leais a Deus. De modo semelhante, os santos perseguidos nas visões
estão no julgamento e recebem o reino eterno e vida devido ao seu total compro-
metimento com o Senhor. A história de Belsazar, que é sentenciado à morte, é
análoga ao destino do futuro vilão arrogante dos capítulos 7 e 11, cujas blasfêmias
levam à perda do domínio e à sua destruição final.
O reino da “era porvir” nos capítulos 7 e 10–12 é precedido por um julgamen-
to.152 Collins fala sobre “o caráter explicitamente judicial da cena escatológica do
capítulo 7”. Nickelsburg acrescenta que “embora a descrição em 12:1-3 seja breve,
o caráter pictórico da linguagem justifica chamar esses versículos de ‘descrição de
uma cena de julgamento’”.153
No capítulo 7, o profeta, tendo observado o caos da terra, focaliza as ativida-
des do quarto animal. Sua atenção se centraliza particularmente no chifre peque-
no, que não apenas blasfema Deus, mas persegue o seu povo “por um tempo, dois
tempos e metade de um tempo”. O olhar do profeta se direciona ao Céu e se fixa
no Ancião de Dias que preside uma sessão de julgamento do “divino conselho”.154
Junto ao Ancião de Dias está um inumerável exército de atendentes celestiais. A
sessão da corte celestial se reúne depois de decorridos os “tempo, dois tempos, e
metade de um tempo” (v. 25) e antes de o reino da “era porvir” ser estabelecido.
Livros são abertos diante do tribunal. Embora esses registros não estejam iden-
tificados, parece, a partir do uso geral de tais livros (celestiais) no AT, que eles
dizem respeito e focalizam o povo de Deus.155 Na passagem paralela de 12:1, a 53
referência a “todo aquele que for achado inscrito no livro” indica um contexto
judicial, e os santos estão claramente inseridos nele.156 Entretanto, 12:1 não só
complementa, mas também suplementa o capítulo 7. Enquanto o capítulo 7 dife-
rencia os santos e seus inimigos, 12:1 acrescenta o fato de que uma real divisão irá
ocorrer entre os justos e os ímpios dentre o povo de Deus. Miguel salva apenas o
remanescente piedoso cujos nomes estão inseridos no “livro”.
No capítulo 12, como no capítulo 7, o julgamento é o prelúdio à reconstituição
de uma nova comunidade que irá gozar vida e privilégios na “era vindoura”. De
forma semelhante, o oráculo escatológico de Isaías 4:2-6 descreve o remanescente
purificado em Sião do tempo do fim como aqueles que são “inscritos para a vida”.
Wildberger, ao escrever sobre o conceito de “livros” na Bíblia, comenta: “Israel,
portanto, está ciente da noção de um livro celestial no qual Yahweh registra ou faz
registrar os nomes de todos os justos que devem permanecer vivos.”157 A ideia de
que Yahweh faz julgamento do seu povo eleito é antiga e ocorre com frequência no
AT. Assim, o uso de livros em 7:10 para indicar que o povo de Deus também está
inserido na consideração judicial não deve ser uma surpresa.158
Não está claro se os santos e o chifre pequeno (ou os poderes da besta) são escruti-
nados no julgamento do capítulo 7. Contudo, a ênfase na recompensa – tanto perda
quanto recebimento do domínio e reino (v. 11-12, 22, 26-27) – testifica que ocorreu
um julgamento das duas partes antes do eschaton e um veredicto foi dado.159 As re-
compensas são presumivelmente concomitantes com a conduta, pois a justiça divina
estaria sob severa pressão se Deus impusesse uma recompensa arbitrária ao homem.
Resumindo, o livro de Daniel volta repetidas vezes ao tema do julgamento de
justos e ímpios, tanto nos capítulos históricos como nos proféticos. Ações revelam
atitudes e lealdade. Por um lado, a blasfêmia insolente do tirano e a perseguição
que ele faz ao povo de Deus o tornam merecedor do mesmo destino reservado à
figura de “Lúcifer” em Isaías 14 (cf. 7:25; 8:10-12, 25; 11: 36-39).160 Por outro lado,
o paciente sofrimento e lealdade severamente provada em resposta à graça de
Deus revela que os santos são dignos de um lugar no seu reino.161
As experiências de Daniel e seus três colegas se tornam uma derrota para os re-
veses do povo de Deus como um todo. As primeiras visões falam do chifre pequeno
“fazendo guerra contra os santos”, “magoando os santos” e “destruindo os poderosos
e o povo santo” (7:21, 25; 8:10-12, 24). A visão posterior acrescenta que mesmo al-
guns dos sábios “cairão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo” (11:33) e
registra que a oposição irá culminar num ataque final violento no qual o mal parece
triunfar (12:1). Somente uma intervenção sobrenatural pode agora estabelecer o fato
de que Deus está ainda no controle (cf. 7:22, 26; 8:25; 12:1). O julgamento, a ressur-
reição e o estabelecimento do reino de Deus exemplificam essa verdade.
54 O tema da ressurreição na última visão de Daniel demonstra que nem mesmo
a morte pode frustrar o objetivo de Deus. Antigos profetas falaram da ressurrei-
ção, embora algumas vezes em termos puramente metafóricos (Os 6:1-2; Ez 37).
A passagem de Isaías 26:19, que apresenta irrefutáveis paralelos ideológicos e lin-
guísticos com 12:1-2, fala de maneira mais definida em trazer os mortos à vida,
embora no contexto da restauração de Israel.162 Daniel, porém, é mais abrangente
quando anuncia uma ressurreição física tanto de justos como de ímpios.163
Daniel 12 repetidamente se aproxima da terminologia de Isaías. A frase “aque-
les que dormem no pó da terra se levantarão” é reminiscente de “habitais no pó,
ressuscitarão” (Is 26:19b). Isaías 66:24 designa o horror inspirado pelos corpos
dos ímpios em decomposição como uma repugnância (NVI) (dērā’ôn). A única
outra ocorrência dessa palavra hebraica no AT está em 12:2 onde é usada para
descrever a repugnância do ímpio.164 O profeta Daniel parece ter entendido “sua
profecia da ressurreição como um cumprimento das profecias do AT”.165
De acordo com 12:1-3, a ressurreição se segue à vitória de Miguel sobre o mal –
subsequente à queda do último poder terreno (Dn 11:45). Enquanto os capítulos ante-
riores de Daniel descrevem o sofrimento do povo de Deus em termos de um processo,
12:1 apresenta a culminação do ataque violento do mal e o último aspecto do julga-
mento. No clímax das dificuldades, Miguel intervém e salva um remanescente.166 A
ressurreição que se segue “envolve um julgamento, a distinção entre bons e maus”.167
Infelizmente, o hebraico de 12:2 não traz detalhes, e isso “junto com certo ní-
vel de ambiguidade lexical e sintática requer extremo cuidado na interpretação do
texto”.168 Num importante estudo sobre o tema ressurreição, Hasel sugere que o
conceito de ressurreição de 12:2 é mais abrangente do que o de Isaías 26:12 e “en-
volve primeiramente aqueles que foram fiéis a Yahweh na hora das calamidades
apocalípticas. Além disso, o contexto apocalíptico mais amplo de Daniel aponta
na direção de uma ressurreição para vida eterna que não é restrita aos israelitas
nem inclui todos os israelitas.”169
Hasel continua: “correspondente ao momento apocalíptico decisivo de Daniel
7, que introduz a inauguração de um ‘reino eterno’ (v. 14, 24, 27) é a libertação do
remanescente vivo de Deus em Daniel 12 e a ressurreição dos fiéis para a ‘vida eter-
na’ (v. 2). Isso ocorre também no momento apocalíptico decisivo das eras e inaugu-
ra o reino eterno que é herdado pelo remanescente vivo e os justos ressuscitados.
“Aqueles que se levantarão para ‘vergonha’ e ‘horror eterno’ (Dn 12:2b) per-
tencem a um grupo diferente do primeiro. A natureza concisa do texto faz uma
identificação limitada desses ímpios. Pode-se pensar aqui particularmente de ar-
qui-pecadores e principais perseguidores.”170
Embora o conceito de uma ressurreição tanto de justos como de injustos seja
nova em Daniel, a “brevidade de 12:1-4 sugere que a ideia de ressurreição não era
nova”.171 No livro de Daniel, o salvamento do povo de Deus e a ressurreição física 55
dos mortos estão no cerne – sem dúvida são também o objetivo – da expectação
futura das visões. Nesse sentido, o escritor continua a orientação e expectação
futuras da primitiva fé em Yahweh.
Uma vez que a ressurreição é consequência de um julgamento prévio, seria
inútil negar uma ligação entre a ideia de retribuição (ou recompensa) e a ressurrei-
ção. O propósito, porém, da ressurreição é mais abrangente do que simplesmente
recompensar. A promessa vai além da ressurreição dos mortos e inclui a eliminação
permanente da morte.
Com a abolição do poder da morte, Deus comunica ao homem sua vida irres-
trita e abundante. Nada pode limitar as promessas divinas e o propósito final de
Deus.172 O Deus da escatologia é por definição também o Deus da promessa. A
morte é meramente uma interrupção temporária em seu relacionamento com os
justos. Portanto, o propósito da ressurreição é mais amplo e designado basicamen-
te para mostrar a glória, justiça e soberania de Deus. No final, nos diz o profeta,
nada pode frustrar o propósito de Deus e a comunhão com seu povo.
Os sábios, ou seja, aqueles que têm estreita comunhão com Deus, “resplan-
decerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça,
como as estrelas, sempre e eternamente” (12:3). A história, como a conhecemos,
percorreu seu curso. O julgamento foi feito, a ressurreição aconteceu, a instabili-
dade do presente acabou, e a nova era predita em grande parte das profecias de
Daniel foi estabelecida. Não mais sofrimento. Não mais perguntas. Deus e seus
santos reinam supremos e para sempre.
Notas
1
As designações “teses exílicas” e “teses macabeias” são sugeridas por K. Koch em co-
laboração com T. Niewisch e J. Tubach, Das Buch Daniel (Darmstadt, 1980), p. 8-9. Minha
revisão desse livro pode ser encontrada em JSOT 23 (1982): 119-23.
2
Ver Koch, p. 9, 185; cf. R. H. Pfeiffer, Introduction to the Old Testament (New York,
1941): 755. Uma discussão mais ampla sobre a interpretação de Porfírio e dos escritores
cristãos primitivos está disponível em meu ensaio “Porphyry: An Heir to Christian Exege-
sis?” em ZNW, vol. 73 n. 1/2 (1982): 141-47. Vislumbres da transição gradual na interpre-
tação podem ser encontrados em H. J. Kraus, Geschichte der historisch-kritischen Erforschung
des Alten Testaments (Neukirchen-Vluyn, 1956/69).
3
A. Lacocque, The Book of Daniel, tr. D. Pellauer (Atlanta, 1979), p. 8.
4
J. J. Colllins, “The Court-Tales in Daniel and the Development of Apocayptic”, JBL
94 (1975): 218; ver também p. 219-34.
5
J. G. Gammie, “The Classification, Stages of Growth, and Changing Intentions in
the Book of Daniel”, JBL 95 (1976): 191.
6
Ver também P. R. Davies, “Escatology in the Book of Daniel”, JSOT 17 (1980): 33-
53; id., “Daniel Chapter Two”, JTS 27 (1976): 392-401; Koch, p. 11-12, 61-76.
7
Lacocque, p. 15.
8
Koch, p. 127.
9
Ibid., p. 127-40.
10
Ibid., p. 186.
11
L. F. Hartman & A. Di Lella, The Book of Daniel, AB 23 (1978), p. 303; N.W. Por-
teous, “Daniel”, OTL (1965), p. 169.
12
Cf. Hartman & Di Lella, p. 276; Lacocque, p. 243.
13
J. J. Collins, “The Apocalyptic Vision of The Book of Daniel”, HSM 16 (1977), p. 191-
58 213; Hartman and Di Lella, p. 43, S. B. Frost, “Daniel”, IDB, 1:768; Koch, p. 158-79.
14
Outro problema filosófico é a possibilidade de predições a longo alcance. Tais
profecias são rejeitadas juntamente com outras manifestações sobrenaturais com base na
analogia. Discutindo especificamente a história antiga escrita, o erudito americano J. M.
Miller declara: “Na verdade, quando o método crítico-histórico de investigação é anali-
sado com respeito a suas pressuposições, fica evidente que muito mais está envolvido do
que a simples indiferença pelo sobrenatural ou ceticismo com respeito aos milagres. Essa
metodologia pressupõe, por algum motivo, que todos os fenômenos históricos estão su-
jeitos à explicação “análoga”— i.e., explicação em termos de outros fenômenos similares.
Portanto, em virtude dessa metodologia, historiadores modernos parecem assumir de an-
temão que não há ocorrências verdadeiramente únicas ou miraculosas na história. Tudo
pode ser explicado em termos de ocorrências normais… sem referências ao sobrenatural.
O conflito óbvio entre essas afirmações bíblicas, com respeito às ações visíveis e únicas de
Deus na história de Israel por um lado, e as pressuposições do método crítico-histórico
de investigação do outro, jaz no cerne de muitas discussões teológicas atualmente.” (The
Old Testament and the Historian [Londres, 1976], p. 18).
15
Muitos dos problemas históricos alegados serão abordados a seguir.
16
Para um resumo conveniente, veja G. F. Hasel, “The Book of Daniel: Evidences
Relating to Persons and Chronology”, AUSS 19 (1981): 37-49; G. L. Archer, Jr., “Modern
Rationalism and the Book of Daniel”, BS 136 (1979):129-47; A. R. Millard, “Daniel 1-6
and History”, EvQ 49 (1977): 67-73; J. G. Baldwin, “Daniel: An Introduction and Com-
mentary”, TOTC (1978), p. 19-29.
40
Rowley, p. 238; K. Koch, et al., Das Buch Daniel (Darmstadt, 1980), p. 56.
41
Rowley, p. 238.
42
Ibid., p. 239; Koch, p. 58.
43
J. A. Montgomery, “The Book of Daniel”, ICC (Edinburgo, 1927), p. 92.
44
Koch, p. 61.
45
Ibid.
46
M. Noth, “Zur Komposition dês Buches Daniel”, ThStKr 99 (1926): 143-63; H. L.
Ginsberg, Studies in Daniel (Nova Iorque, 1948). Ambos os estudiosos se beneficiaram
dos estudos anteriores de G. Hölscher, “Die Entstehung dês Buches Daniel”, ThStKr 92
(1919): 113-18; e M. Haller (“Das Alter Von Daniel 7”, ThStKr 93 [1920]: 83-87).
47
Rowley. O diálogo entre Rowley e Ginsberg está esboçado e documentado na mi-
nha tese, “The Apocalyptic ‘Son of Man’ em Daniel 7” (Tese de Th.D., Andrews Univer-
sity, 1979): 109-136.
48
Rowley, p. 242-45.
49
J. G. Gammie, “The Classification, Stages of Growth, and Changing Intentions in
the Book of Daniel”, JBL 95 (1976): 191-204.
50
Davies desconsidera os argumentos de Gammie a favor do primeiro estágio propos-
to ao observar que eles eram uma “notável combinação de especulação e argumentação
inválida.” (“Eschatology in Daniel”, p. 42, n. 13).
51
Koch, p. 65-76.
52
P. R. Davies, “Daniel Chapter Two”, JTS 27 (1976): 392-401.
53
Para uma discussão mais detalhada das principais visões representadas por E.
60 Sellin, G. Hölscher, M. Haller, M. Noth e H. Ginsberg, veja Ferch, “Son of Man”, p.
110-145. Uma análise literária altamente formal e crítica de Daniel 8,10–12 é oferecida
por B. Hasslberter, Hoffnung in der Bedrägnis ( St Ottilien, 1977). O último obteve pouca
repercussão.
54
Koch, p. 57-58, 64.
55
P. R. Davies, “Eschatology in the Book of Daniel”, JSOT 17 ( 1980): 37. Davies
argumenta que o resultado da análise dos capítulos 7–2 foi interpretado a partir de um
contexto externo.
56
Então, Gammie atribui o capítulo 3 ao reinado de Ptolomeu IV Philopator (221-
204 a.C.) com base na crítica histórica, e não apoia nada mais do que o argumento lin-
guístico de que a passagem sob análise não pode ser pré-antioquiana, pois utiliza a palavra
sûmpônyāh (p. 198). Tudo isso a despeito da condenação de Rowley de tal abordagem.
57
Rowley, p. 237-68.
58
Ibid., p. 268.
59
Ibid., p. 264.
60
J. J. Collins, “The Apocalyptic Vision of the Book of Daniel”, HSM 16 (1977): 11.
61
Ibid., p. 8-10; cf. Davies, “Eschatology of Daniel”, p. 35 ; Koch, p. 47.
62
Collins, “Apocalyptic Vision”, p. 55.
63
Koch, p. 47.
64
D. W. Gooding, “The Literaty Structure of The Book Of Daniel and Its Implica-
tions”, Tyndale Bulletin 32 (1981): 64-65, 72.
65
Rowley, p. 267.
66
Ibid., p. 264.
serviriam em cortes estrangeiras se cumpriram. Os israelitas deveriam ser uma “luz para
as nações”, com o propósito de que as nações conhecessem a soberania e o poder de sal-
vação de Jeová. (“On the Intention and Sources of Dan I-VI”, VT 31 [1981]: 282-92).
89
Embora Collins reconheça o arranjo quiástico dos capítulos 2–7, ele rejeita a impli-
cação de que o capítulo 7 repete o capítulo 2 numa forma expandida. Collins argumenta
que Daniel 2 não apresenta primeiramente uma visão escatológica como no capítulo
7; em vez disso, o capítulo 2 ilustra a superioridade de Daniel sobre os sábios pagãos.
Enquanto a superioridade de Daniel é uma característica incontestável no relato do capí-
tulo 2, a argumentação de Collins é insuficiente para negar a perspectiva escatológica do
mesmo capítulo. A afirmação de que Daniel 2 não é apocalíptico por não envolver uma
transformação cósmica e ensinar a doutrina de uma nova vida após a morte está baseada
numa noção anterior. (“Apocalyptic Vision”, p. 11-14).
Não podemos negar que existem diferenças entre os capítulos 2 e 7. Gooding sugere
que as diferenças chamam a atenção ao fato de que existem duas maneiras de se ver e
avaliar as forças e fraquezas do governo imperial pagão. Por um lado, os poderes estran-
geiros são descritos como “humanos, majestosos, mas atormentados pela fraqueza da
incoerência, e ao mesmo tempo, mostram outro ponto de vista de que os governos gen-
tios eram basicamente amorais, egocêntricos, cruelmente destrutivos e como um bando
de animais”. (“Literary Structure”, p. 61.) A despeito de se aceitar ou não a afirmação de
Gooding, é importante reconhecer a existência de ambas as similaridades e diferenças.
Concordamos com Davies que a estreita dependência do capítulo 7 ao capítulo 2, no
62 assunto e na forma, tende a ressaltar as diferenças. (“Eschatology in Daniel”, p. 37).
90
Ainda nenhuma solução satisfatória foi oferecida para a natureza bilíngue do li-
vro de Daniel. No entanto, “a sugestão de que o livro como um todo originado como
um produto bilíngue não pode ser desconsiderada em princípio; os problemas que essa
hipótese acarreta não são maiores do que aqueles acarretados por uma teoria de nova
tradução; para a qual não há evidência textual, e apenas dubiedade linguística”. (Davies,
“Eschatology in Daniel”, p. 49-50, n. 14).
91
Agradeço algumas dessas informações a W. H. Shea. Veja neste livro o capítulo 3
intitulado “Unidade de Daniel.”
92
Rowley , p. 261.
93
Assim , a perseguição do povo de Deus pode ser causada tanto pelas revoltas dos
gentios contra Deus ou pelo próprio pecado de Israel. Igualmente, a soberania de Deus
e o livre-arbítrio dos homens estão justapostos pelo único autor (por exemplo, Daniel
4:24-27).
94
A. Lenglet, “La structure litteraire de Daniel 2–7”, Bib 53 (1972): 169-90.
95
Ferch, “Son of Man”, p. 136-44.
96
Shea, “Unity of Daniel”, p. 195-201.
97
Veja J. Doukhan, “The Seventy Weeks of Dan 9: An Exegetical Study”, AUSS 17
(1979): 1-22; Shea, “Unity of Daniel”, p. 241-43, id., “Poetic Relations of the Time Perio-
ds in Dan 9:25”, AUSS 18 (1980): 59-63.
98
Shea, “Unity of Daniel”, p. 243-44.
99
Uma análise alternativa do livro, dentro de uma estrutura simétrica bipartida, foi
recentemente sugerida por David W. Gooding (p. 43-79). Gooding acredita que o autor
de Daniel compôs seu material em duas metades simétricas, consistindo dos capítulos
1–5 e 6–12. Cada metade consiste de cinco itens, sendo que o quinto apresenta um
clímax dentro do fluxo de pensamento de seu grupo. Individualmente, os capítulos se re-
lacionam um ao outro por meio de temas compartilhados e da progressão de pensamento
dentro dos subgrupos individuais.
100
ANE, 3a ed. rev., (1965), p. 83-84.
101
A justaposição no discurso da primeira e terceira pessoa é um fenômeno antigo,
na qual qualquer leitor das Guerras Gálicas de César se lembrará e, em si mesmas, não
discutem múltiplas autorias.
102
Baldwin, “Daniel”, p. 62.
103
Cf. Davies, “Eschatology in Daniel”, p. 33.
104
Baldwin, “Daniel”, p. 39.
105
Daniel 4, nas versões inglesas, também segue uma estrutura A:B:A, ao envolver o
sonho de Nabucodonosor, a interpretação e cumprimento com atribuições de louvor ao
Altíssimo ( v.1-3, 34-37).
106
Cf. Collins ,“Court Tales”, p. 227.
107
Ver Collins, “Apocalyptic Vision”, p. 20: “não é legítimo usar o conteúdo da
oração [de Daniel 9] como uma fonte para a teologia do livro”.
108
P. R. Davies, “Eschatology in the Book of Daniel”, JSOT 17 (1980): 39.
109
Ibid., p. 41.
110
Ibid., p. 40.
111
Concordamos com N. W. Porteous que “sem essa oração, algo de essencial estaria 63
faltando ao livro de Daniel. O livro foi escrito para anunciar que o Deus de Israel estava
prestes a desempenhar um de seus mais poderosos atos em favor do seu povo...” (“Da-
niel”, OTL [1965] p. 136).
112
Embora Daniel não denomine especificamente Satanás ou sua hoste angélica,
vários eruditos sugerem ligações entre os anjos caídos e os poderes referidos em Daniel
10 (cf. K. Koch, Daniel [Darmstadt, 1980], p. 207-10).
113
G. Hasel, “The Identity of “The Saints of the Most High in Daniel 7”, Bib 56
(1975): 192.
114
Cf. principalmente G. E. Wright, God Who Acts (Londres, 1952), p. 38-46. A despeito
das críticas subsequentes às propostas de Wrights, sua tese fundamental ainda permanece.
115
A. Jeffery, “The Book of Daniel”, IB 6 (1966): 351.
116
J. G. Baldwin, “Daniel: An Introduction and Commentary”, TOTC (1978), p. 54.
117
Não iremos interromper o estudo para revisar os detalhes na discussão atual sobre
“continuidade” e “descontinuidade” entre o método escatológico presente e futuro. Para
mais informações, consulte K. Koch, “Spätisraelitisches Geschichtsdenken am Beispiel
des Buches Daniel”, Historiche Zetischrift 193 (1961): 1-32; M. Noth, “The Understanding
of History in Old Testament Apocalyptic”, The Laws in the Pentateuch and other Essays
(Filadélfia, 1967), p. 194-214; R. Bultmann, History and Escathology (Nova Iorque, 1957),
p. 30; J. J. Collins, “The apocalyptic Vision of the Book of Daniel”, HMS 16 (1977), p.
153-79. É simplista demais optar pelos extremos. Daniel pode falar sobre a ressurreição
no final dos tempos, uma “pedra cortada, sem auxílio de mãos” e um reino eterno esca-
tológico que os santos herdam sem apresentar quaisquer detalhes extras. Isso não precisa
J. Doukhan, “The Seventy Weeks of Dan 9: and Exegetical Study”, AUSS 17 (1979): 1-22.
141
Ibid., p. 21.
142
143
Ibid.
144
Veja A. J. Ferch, “The Apocalyptic ‘Son of Man’ in Daniel 7” (Tese, Andrews
University, 1979), p. 40-107.
145
A tradução de pelah para “serviço” é possível, mas bastante duvidosa em Daniel 7.
O uso e significado de pelah em 7:27c ficou confuso por causa da tradução incorreta da
RSV dos sufixos da terceira pessoa do singular. Em lugar de “reino deles” e “deve servi-
los”, a tradução deveria ser, “o reino dele” e “devem adorá-lo.” A tradução da RSV foi
provavelmente motivada pela interpretação do capítulo 7 que identifica “um como Filho
do Homem” com os “santos do Altíssimo”.
146
Para mais detalhes, veja Ferch, “Son of Man”, p. 175-84.
147
Sobre as semelhanças e diferenças entre o Messias do NT como um ideal davídico
e o “um como o Filho do Homem” de Daniel 7 veja Ibid., p. 78-82.
148
L. Koehler e W. Baumgartner, VT (Leiden, 1958), p. 929-30. Para uma discussão
mais detalhada da imagem de Miguel veja Ferch, “Son of Man”, p. 94-105.
149
G. W. E. Nickelsburg, “Resurrection, Immortality and Eternal Life in Intertestamen-
tal Judaism”, HTS 26 (Cambridge, 1972), p. 14; cf. Collins, “Son of Man”, p. 57, n. 36.
150
Cf. A. Lacocque, The Book of Daniel, tr. D. Pellauer (Atlanta, 1979), p. 242.
151
De forma similar, K. Koch, numa correspondência pessoal de 23 de Junho de
1982. Outros autores são mencionados em Ferch, “Son of Man”, p. 95, n. 2.
152
Para uma análise mais ampla sobre a cena do julgamento em Daniel 7 veja Ferch, 65
“The Judgment Scene in Daniel 7”, The Sanctuary and the Atonement, p. 157-76. Uma
versão mais popular apareceu como “The Pre-Advent Judgment”, Adventist Review, 30
de Outubro, 1980, p. 4-7. Para uma discussão mais extensa do julgamento no livro de
Daniel e o VT, cf. W. H. Shea, Estudos Selecionados em Interpretação Profética (Unaspress,
SP, 2007), p. 1-24, 94-131. Veja também F. Guy, “Confidence in Salvation: The Meaning
of the Sanctuary”, Spectrum 11 (Novembro de 1980): 44-53.
153
Collins, “Son of Man”, p. 57, n. 36; id., “Apocalyptic Vision”, p. 136; Nickelsburg,
p. 27.
154
Collins, “Apocalyptic Vision”, p. 101, 160.
155
Veja Êxodo 32:32-33; Salmos 56:8; 69:28; 139:16; Daniel 12:1; Malaquias 3:16;
Filipenses 4:3; Apocalipse 3:5; 20:12; 21:27.
156
Nickelsburg, p. 14, 23.
157
H. Wildberger, “Jesaja” p. 1-12, 2a ed. rev., BK x (Neukirchen Vluyn, 1980), p.
157-58.
158
A preposição “le”relacionada a “santos do Altíssimo” em 7:22 pode ser traduzida
de várias formas incluindo “na qualidade de”, “em prol de”, “em nome de”, “relativo a”,
etc. Essa ambiguidade dificulta a exegese de 7:22. Entretanto, está claro o que os santos
simbolizam no julgamento.
159
U. Wolf nota que “a cena do julgamento em 7:9-14 não é necessariamente o jul-
gamento final, mas a entrega do reino aos santos.” (“Daniel and the Lord’s Prayer”, Int
15 [1961]: 408).
160
Nickelsburg, p. 15.
161
Cf. H. H. Rowley, “The Meaning of Daniel for Today”, Int 15 (1961): 395-96.
162
Até pouco tempo, grande parte da erudição bíblica defendia que a ideia de vida
eterna para as pessoas (individualmente) estava atrasada no pensamento israelita. Con-
tudo, M. Dahood, ao notar os paralelismos linguísticos na literatura ugarítica com as ex-
pressões dos Salmos sobre esperança pela ressurreição e vida eterna, indicou que aquelas
ideias de crença numa vida física após a morte eram antigas em Israel (Salmos I-III [Nova
York, 1965-70]). Lacocque critica Dahood por não reconhecer suficientemente a origi-
nalidade fundamental da noção israelita de vida eterna e seu corolário, a ressurreição.
Lacocque menciona que “para Canaã a sobrevivência foi um fato da natureza; para Israel
isto é um fenômeno histórico” (p. 237).
163
Lacocque observa que 12:2 “é o mais preciso texto acerca da ressurreição de (al-
guns dos) mortos nas escrituras hebraicas. O antigo historiador Porfírio [o qual tinha
aplicado essa passagem meramente ao renascimento de Macabeus logo após a morte de
Antíoco IV Epifânio] sem dúvida engana-se aqui por causa de seu historicismo”. Lacoc-
que acrescenta que muito das escrituras apócrifas e especialmente do Novo Testamento
foram inspirados por 12:2. O versículo, ele argumenta, liga-se a três registros também
encontrados no Novo Testamento: (a) o despertar dos mortos de seu sono; (b) a entrada
na vida eterna; (c) a glorificação. (Ibid., p. 243, n. 33).
164
Da mesma forma, 12:1 fala sobre o “tempo de angústia” em termos idênticos a
Jeremias 30:7b (‘ēt-sārāh).
165
Collins, “Apocalyptic Vision”, p. 171.
166
E. Jacob acredita que “apenas uns poucos serão salvos, aqueles cujos nomes estão
escritos no Livro de Deus (...)” (Theology of the Old Testament [Londres, 1958], p. 313).
66 167
Collins, “Apocalyptic Vision”, p. 172. Note também a afirmação de Montgomery,
“a ressurreição envolve um julgamento moral (...)” (p. 84). O uso de “o livro” para Lacoc-
que sugere a festa de outono. Sua sugestão de que em “Dn 12:1-4, assim como no calen-
dário das festas de outono, o Yom Kippur precede o Succoth”, é interessante (p. 240).
168
G. Hasel, “Ressurrection in the Theology of the Old Testament Apocalyptic”,
ZAW 92 (1980): 279.
169
Ibid., p. 280. É importante que a expressão “vida eterna”, tão frequente no Novo
Testamento, seja única aqui no Antigo Testamento hebraico e se refira à vida do “tempo
porvir”.
170
Ibid., p. 280-81.
171
Ibid., p. 281.
172
Ibid., p. 281-84; cf. W. Eichrodt, Theology of the Old Testament, tr. J. A. Baker, vol.
2 (Londres, 1967), p. 509-510.
173
D. W. Gooding, “The Literary Structure of the Book of Daniel and Its Implica-
tions”, Tyndale Bulletin 32 (1981): 68.
174
Baldwin, p. 17.
Questões históricas
S inopse editorial. Embora a data do período dos macabeus para o livro de Daniel
tenha se tornado uma posição firmada, permanece o fato de que esse consenso
crítico-histórico está apresentando cada vez mais problemas. O século 20, especial-
mente nas décadas posteriores à segunda Guerra Mundial, produziu uma corrente
de estudos que defendem o sexto século como data da origem do livro. Dados acu-
mulados têm minado afirmações críticas e fornecido novas ideias e soluções para su-
postos problemas anteriormente apontados como evidências de uma data posterior.
Algumas das questões históricas relacionadas a pessoas e cronologia estão resumidas
neste capítulo. Por exemplo:
Os antigos escritores gregos e romanos nunca se referiram a Nabucodonosor
como o construtor da nova Babilônia. Entretanto, registros cuneiformes contemporâ-
neos corroboram grandemente o registro da arrogância do rei no livro de Daniel. Um
tablete babilônico fragmentado pode, pela primeira vez, fornecer evidência contem-
porânea para a loucura temporária de Nabucodonosor. Uma nova análise dos dados
fornecidos por registros de época e a Bíblia indica que a experiência dos três notáveis
hebreus nas planícies de Dura pode ser datada com exatidão a 594/593 a.C.
Nenhum registro cuneiforme que se refira a Belsazar como “rei” foi encontrado.
Mas os registros afirmam que ele foi o primogênito de Nabonido, rei de Babilônia. A
história babilônica e assíria fornece a ideia de que a co-regência (pai e filho comparti-
lhando o trono) era praticada ocasionalmente pelos governantes dessas nações.
Este evidentemente foi o caso nos últimos anos do império neo-babilônico. Os
registros declaram que quando Nabonido partiu para uma longa estada em Tema
(Arábia), ele “confiou o reino” a Belsazar. Outros registros revelam que Belsazar exer-
ceu todas as prerrogativas comuns de poder real. Os registros cuneiformes também
esclarecem o fato de Daniel ter sido apontado por Belsazar como o “terceiro” no
reino. Uma vez que Nabonido compartilhava seu trono com Belsazar, a “terceira”
posição era a mais alta a ser conferida.
Esboço da seção
1. Importância da data
2. Consenso da Escola crítico-histórica moderna e seus dissidentes
3. Questões históricas relacionadas a pessoas
4. Questões históricas relacionadas à cronologia
Importância da Data
futuro) sem envolver-se num ato pecaminoso, embora soubesse que isso já se havia
cumprido no passado. Essa hipótese não satisfará a todos.
Alguns acham difícil entender como Jesus Cristo poderia ter adotado uma vi-
são errônea de seus contemporâneos sem tornar-se culpado. Recordamos Hebreus
4:15 que descreve Jesus: “foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança,
mas sem pecado”. “Se ele está errado na sua interpretação do livro, então ele deve
ser menos do que o Deus encarnado infalível, onisciente. Por outro lado, se sua
avaliação está correta, sua reivindicação à deidade não pode ser questionada a esse
respeito.”27 Em suma, datar a origem do livro de Daniel no segundo século tem
uma direta ligação com a natureza de Jesus Cristo e com a autoridade do NT.
As várias questões citadas há pouco estão entre aquelas que indicam que a
data do livro de Daniel é uma questão de máxima importância. Cada estudioso
do livro de Daniel precisa dar atenção especial à data do livro.
72 Parece que um racionalista judeu chamado Uriel Acosta (ou Gabriel da Costa,
1585-1640 d.C.) foi o primeiro da história moderna em interpretação a negar que
o livro derivou de Daniel no sexto século a.C.28 Acosta atribuiu todo o livro aos fa-
riseus devido aos seus ensinamentos sobre anjos e ressurreição.29 O famoso filóso-
fo de origem judaica Benedict Spinoza (1632-1677) referiu-se ao livro de Daniel em
sua famosa obra Tractatus Theologico-Politicus (publicada anonimamente em 1670 e
tida como a pioneira da crítica bíblica moderna) declarando que havia acréscimos
redatoriais dos saduceus no livro.30 Essas duas pessoas são as únicas conhecidas
como precursoras dessas afirmações que tiveram seu lugar no século dezoito (além
de Porfírio, o filósofo neoplatônico do segundo século).
Em 1727, o deísta inglês Anthony Collins escreveu uma obra31 na qual, se-
gundo declaração feita 150 anos mais tarde, “negou a autenticidade do livro de
Daniel tão completamente que a crítica tem apenas acrescentado comentários não
essenciais.”32 Collins referiu-se a Porfírio. Ele declarou que as predições em Da-
niel pertenciam à época de Antíoco IV Epifânio e eram nada mais que descrições
históricas: “À moda de profecia, com a clareza da história.”33 Ele defendeu (como
Porfírio) uma profecia vaticinia ex eventu.
Collins também empregou o princípio da analogia e falou da natureza singu-
lar das previsões no livro de Daniel. Elas têm um “estilo obscuro, emblemático,
enigmático, simbólico, parabólico e figurativo”,34 de forma que, juntamente com
suas cenas e figuras, são atípicas dos profetas do AT. Essa faceta do livro de Daniel
“está em harmonia com o novo estilo de escrita que os judeus assumiram quan-
do mais tarde se formaram nas escolas dos gregos”.35
A conclusão de Collins foi a seguinte: “O autor do livro ... de acordo com
o último capítulo do livro, parece claramente ser um escritor de coisas passa-
das, de maneira profética, e ter vivido após vários dos eventos dos quais parece
profetizar.”36 Com isso, Collins emerge como o primeiro estudioso do Iluminis-
mo a questionar a data do sexto século para a origem do livro de Daniel. Ele é
diretamente dependente de Porfírio e usa o esquema do vaticinia ex eventu para
datar Daniel do segundo século, a era de macabeus.
Esses pontos de vista estendem-se no curso do tempo. O erudito alemão L.
Bertholdt lida de forma extensiva com a data do livro de Daniel em seu comentá-
rio de dois volumes (1806-1808),37 a primeira exposição verdadeiramente crítico-
histórica de Daniel.38 Bertholdt argumenta que o livro é do segundo século a.C.
e tem vários autores.39 Em 1824, J. G. Eichhorn expandiu esses pontos de vista
pela primeira vez num prefácio do AT,40 do qual se estenderam como parte da
escola “liberal” de interpretação.
Durante os 100 anos seguintes, a hipótese da data de macabeus tornou-se a opi-
nião aceita pela escola crítica moderna. O professor R. K. Harrison diz que “obje-
ções à historicidade de Daniel foram copiadas sem crítica de livro a livro, e por volta
da segunda década do século 20 nenhum erudito liberal que desejasse preservar sua 73
reputação acadêmica ousou ou almejou desafiar a corrente crítica atual”.41
O consenso crítico-histórico de uma data do segundo século para o livro de
Daniel foi afirmado claramente pelo Professor W. Baumgartner no ano de 1939:
“Não há nenhuma outra questão crítica no AT na qual exista tal unidade univer-
sal como esta.”42 O Professor A. Jepsen repetiu a ideia em 1961: “Que o livro de
Daniel deriva em sua forma presente da época dos macabeus [no segundo século]
parece também hoje ainda ser essencialmente reconhecido.”43
No mesmo ano, o professor K. Koch também afirmou: “É um resultado se-
guro da pesquisa do AT hoje que a origem da presente forma desse livro deriva
da época da rebelião dos macabeus (168-165 a.C.).”44 Ele reafirmou essa visão em
1980, num livro que traça a história da pesquisa sobre o livro de Daniel.45 Esse
consenso crítico-histórico é repetido até os dias atuais, conforme demonstraram
os exemplos de F. Dexinger (1969),46 A. Robert e A. Feuillet (1970),47 R. J. Cli-
fford (1975),48 J. J. Collins (1981),49 P. A. Viviano (1983),50 e muitos outros51.
A reivindicação da escola crítico-histórica moderna é a de que a forma final
do livro de Daniel é datada do período de macabeus. É obra de um autor anô-
nimo ou autores que escreveram por volta de 168-163 a.C. A ideia de “forma
final” é importante aqui porque a questão da unidade em Daniel permanece
não solucionada até agora no meio crítico-histórico. Sem dúvida, ela é forte-
mente debatida.52
Um grupo de eruditos críticos sugere que houve apenas um autor para Daniel.
Esse escritor/editor desconhecido retrabalhou tradições mais antigas em forma
oral e/ou escrita e compôs todo o livro de Daniel como está preservado no texto
massorético da Bíblia hebraica. Entre os que defendem esse ponto de vista estão
eruditos como S. R. Driver,53 S. B. Frost,54 O. Eissfeldt,55 sendo que H. H. Row-
ley56 argumenta meticulosamente a favor dele.
Outro grupo de eruditos críticos sugere que o livro de Daniel foi organizado
na sua forma atual por volta de 164/3 a.C.,57 mas que existiram dois ou mais
autores do terceiro e segundo séculos a.C.58 Um redator final produziu a “forma
final” do livro como agora o temos. Essa hipótese segue a de L. Bertholdt (1806),
que argumentou que o livro de Daniel consiste de “nove partes únicas”, cada qual
com seu autor diferente.59
Mais recentemente, M. Noth defendeu a tese de oito estágios diferentes no
desenvolvimento do livro no período desde Alexandre, o Grande até 165 a.C.60 G.
Holscher defendeu sete estágios.61 A. Barton sugeriu seis autores.62 J. G. Gammie
tem uma hipótese complexa de três estágios principais de crescimento e vários
autores.63 A opinião de H. L. Ginsberg é de que havia um trecho chamado Dan
A (caps. 1–6) da época pouco depois de Alexandre, o Grande, o qual ele chama
Apoc I. Havia também um Dan B (caps. 7–12) com três autores, ou seja, Apoc II-
74 IV. O autor Apoc IV reuniu a forma atual do livro.64
Hoje, há uma tendência na escola crítico-histórica de optar por vários estágios
de desenvolvimento para o livro de Daniel. As narrativas dos capítulos 1–6 são
frequentemente vistas como tendo uma origem pré-macabeus, terceiro século a.C.
nas palavras de John J. Collins, os capítulos 1-6 “não são documentos históricos,
e foram compostos provavelmente no terceiro século a.C., embora possam incor-
porar material tradicional possivelmente mais antigo.”65
Diz-se também a respeito das visões apocalípticas dos capítulos 7–12 que elas
contêm material mais antigo do que o segundo século, principalmente da mitolo-
gia do antigo Oriente Médio.66 No entanto, essas visões são, em geral, datadas do
tempo de Antíoco IV Epifânio, muito embora alguma atividade editorial possa ser
de uma data posterior.67
Podemos concluir essa breve visão geral do consenso moderno da Escola críti-
co-histórica sobre a data para o livro de Daniel ressaltando dois aspectos:
(1) Há um consenso quanto à hipótese da data de macabeus. A forma final do li-
vro de Daniel deriva do segundo século a.C., particularmente no período de Antíoco
IV Epifânio, ou por volta de 167/6 a 164/3 a.C. (2) Uma vez que há elementos no
livro de Daniel que inquestionavelmente são mais antigos do que o segundo século
a.C. (caps. 1–6 ou certos aspectos nesses capítulos), é forte a tendência de datar partes
de todos esses capítulos do terceiro século e atribuí-los a um ou mais autores.
O impulso nessa direção (aspecto número 2) tem acelerado nos últimos anos,68
mas isso não quer dizer que o consenso sobre a hipótese da data de macabeus para
a forma final do livro tenha mudado de alguma maneira.
A afirmação de unidade no livro de Daniel por estudiosos que se recusam a
seguir o consenso crítico-histórico é unânime. Eruditos conservadores concordam
com H. H. Rowley, que observou de forma incisiva: “O ônus da prova [para a não-
unidade literária] repousa sobre aqueles que investigaram a obra.”69 A unidade de
Daniel é mantida por todos os estudiosos que afirmam que a data da origem do
livro é o sexto século a.C.
Vários eruditos nos séculos 19 e 20 não foram convencidos pelas razões advoga-
das pelos eruditos crítico-históricos para a data posterior do livro de Daniel. Pode
ser útil observar alguns dos principais eruditos, pois não é costume dos crítico-
históricos sequer mencioná-los em suas obras principais ou considerar seus argu-
mentos. O. Eissfeldt, por exemplo, em seu prefácio ao AT, menciona apenas W.
Möller (1958), J. Linder (1935), e E. J. Young (1949).70
No século 19, houve fortes oponentes à linha crítico-histórica. Os estudos
de H. A. C. Havernick (1832,1838)71 são de especial interesse, juntamente como
os comentários de C. A. Auberlen (1854),72 E. B. Pusey (1864),73 T. Kliefoth
(1868),74 R. Kranichfeld (1868),75 C. F. Keil (1869),76 e J. Knabenbauer (1891).77
Os estudos especializados de E. W. Hengstenberg (1831),78 D. Zündel (1861),79 e 75
F. Düsterwald (1890)80 também são importantes.
O século 20 produziu uma corrente cada vez maior de estudos defendendo o
sexto século como data de origem do livro de Daniel, especialmente nas décadas
a partir da Segunda Guerra Mundial. Na primeira metade do século, comentários
como os de A. C. Gaebelein (1911),81 G. C. Aalders (1935),82 M. A. Beck (1935)83
K. Hartenstein (1936)84 e prefácios ao AT como os de W. Möller (1934)85, bem
como os estudos de R. D. Wilson (1917/18)86 e C. Boutfloer (1923)87, chamam
atenção especial.
Um verdadeiro despertar da atribuição de uma data anterior para o livro de
Daniel, baseada em descobertas arqueológicas e outros estudos, ocorreu após a
Segunda Guerra Mundial, com comentários tais como de E. J. Young (1949),88 H.
C. Leupold (1949),89 R. D. Culver (1954, 1962),90 J. F. Walvoord (1971),91 L. Wood
(1973),92 J. G. Baldwin (1978),93 G. L. Archer, Jr.,94 e G. Maier (1982).95
Dentre os prefácios ao AT que defendem a data do sexto século estão os de G.
L. Archer (1964),96 R. K. Harrison (1969)97 e H. D. Hummel (1979).98 Estudos es-
pecializados e de importância são os de D. J. Wiseman e outros (1965),99 B. Waltke
(1976),100 G. L. Archer (1979),101 J. McDowell (1979),102 S. J. Schwantes (1980),103 D.
W. Gooding (1981),104 e A. J. Ferch (1983),105 os quais defendem o sexto século a.
C. como data para a origem do livro. Evidentemente, o segundo século como data
cia) através da qual o rio Eufrates corria. Uma muralha dupla protegia essa cida-
de.111 Envolvendo esse complexo interno estava a chamada “Muralha do Meio”,
que protegia a cidade do nordeste ao sul ou do Tigre ao Eufrates.112
As escavações da Babilônia antiga, que começaram em 1899 pelo escavador
alemão Robert Koldeway, trouxeram à luz centenas de tijolos de barro secados ao
sol, contendo uma inscrição que declara que Nabucodonosor foi o construtor de
Babilônia. Em outra inscrição, Nabucodonosor declarou: “As fortificações de Esa-
gila [templo de Marduque] e Babilônia, eu as fortaleci e estabeleci o reino do meu
nome para sempre.”113
Nabucodonosor é o verdadeiro reconstrutor de Babilônia, que foi destruída
em 689 a.C. pelo rei assírio Senaqueribe. Seus empreendimentos são evidentes
por quase toda a parte em Babilônia. Nas palavras de H. W. F. Saggs, isso indica
“que ele poderia com considerável razão ter declarado as palavras atribuídas a ele
em Daniel 4:27, 30”.114
Essa exatidão histórica é confusa para aqueles que sugerem que Daniel foi
escrito no segundo século a.C. R. H. Pfeiffer, da Universidade de Harvard, teve
que admitir: “Presumivelmente, jamais saberemos como nosso autor soube que
a nova Babilônia foi criação de Nabucodonosor (4:30 [27]), como têm provado
as escavações.”115 Visto que os últimos historiadores antigos aparentemente não
tinham conhecimento dos feitos de Nabucodonosor nesse aspecto, a evidência 77
cuneiforme contemporânea é de extrema importância para a data de Daniel, bem
como para a exatidão histórica do livro.
A loucura de Nabucodonosor
A narrativa da loucura de Nabucodonosor em Daniel 4 tem sido um ponto de
controvérsia há algum tempo. R. H. Pfeiffer a chamou de um “conto não-históri-
co”, “uma reminiscência confusa dos anos que Nabonido passou em Teima [Tema]
na Arábia.”116 Isso recebeu apoio de outros eruditos por meio da descoberta, em
1955, de quatro fragmentos de um texto desconhecido da Caverna 4 de Qumram,
(4QPrNab), publicado no ano seguinte sob o título “Oração de Nabonido”.117
Propõe-se que os fragmentos são a oração de Nabonido, “o [grande] rei, [quando
ele foi afligido] com furúnculos malignos por ordem do [Altíssimo Deus] na [cidade
de] Tema”.118 É dito que Nabonido , o último rei de Babilônia, foi afligido “por
sete anos”,119 até que um profeta [ou exorcista],120 que era um judeu [homem],121 che-
gou. O rei obtém perdão pelos seus pecados e é curado pelo profeta/exorcista.
Pode ser melhor fornecer uma tradução da “oração de Nabonido” (com pala-
vras duvidosas em itálico e palavras acrescentadas em colchetes):
“(1) As palavras da oração proferida por Nabonido, o rei da [terra de] Babilô-
nia, o [grande] rei, [quando ele foi afligido] (2) com furúnculos malignos por ordem
do [Altíssimo Deus] na [cidade de] Teman: [Com furúnculos malignos] (3) eu fui
afligido por sete anos, e então eu me tornei como [os animais; mas confessei meus
pecados] (4) e Ele me perdoou. Ele tinha um profeta, que era um judeu [homem
dos exilados, e ele] me disse: (5) Faça uma proclamação por escrito de que a honra, a
grandeza e a glória sejam dadas ao Deus [Altíssimo. Então, ele escreveu: Quando]
(6) eu fui afligido] com furúnculos [malignos] ... em Teman [por ordem do Altíssi-
mo Deus] (7) por sete anos, [eu] orei e [louvei] os deuses de prata e ouro, [bronze,
ferro] (8) madeira, pedra e barro, uma vez que ... eram deuses.”122
Vários eruditos argumentam que a narrativa da loucura de Nabucodonosor é
dependente da “oração de Nabonido”,123 que foi “escrita no começo da era cristã,
mas o escrito mesmo pode ser de alguns séculos antes”.124 Diz-se que o autor do
capítulo 4 confundiu os nomes de Nabucodonosor e Nabonido e/ou retrabalhou
tradições anteriores de Nabonido.
Essa posição é construída sobre uma tênue hipótese com as seguintes premis-
sas: (1) O livro de Daniel foi escrito depois; (2) o conteúdo da “Oração de Naboni-
do” é essencialmente histórico. Assume-se também que Nabonido residiu por sete
anos na cidade de Tema, Arábia, uma premissa que esperava ser confirmada pelos
“sete anos” de doença em Tema mencionados nos fragmentos de Qumran.
Novas descobertas alteraram o quadro de tal maneira que a hipótese teve de
78 ser abandonada. A evidência cuneiforme contemporânea da estela de Harã, pu-
blicada inicialmente em 1958, informa que Nabonido ficou em Tema por “dez
anos”, não sete, e que ele se mudou para lá por razões políticas.125 Esses fatos
agora lançam dúvida sobre a historicidade da informação na “Oração de Naboni-
do”. Assim, a evidência histórica de registros contemporâneos vai de encontro à
informação apresentada na “Oração de Nabonido” e à hipótese construída sobre
aquela informação errônea.
Além disso, há diferenças significativas entre Daniel 4 e a “Oração de Nabo-
nido” que não podem ser ignoradas: (1) Nabucodonosor foi afligido com uma
doença em Babilônia, mas Nabonido estava em Tema.126 (2) A doença de Nabonido
é descrita como “furúnculos malignos,”127 “erupção severa”128, ou “inflamação seve-
ra” 129, ao passo que Nabucodonosor teve um problema mental raro, similar a uma
variedade de monomania.130 (3) A doença de Nabucodonosor era uma punição
por sua arrogância, enquanto que a de Nabonido era aparentemente uma punição
devido à idolatria. (4) “Nabucodonosor foi curado pelo próprio Deus quando reco-
nheceu a soberania dele, ao passo que um exorcista judeu curou Nabonido...”131
É certo que a “Oração de Nabonido” na sua forma presente é posterior ao
capítulo 4. É certo também, com base na comparação, que “não podemos falar de
dependência literária direta”132 entre o capítulo 4 e a “Oração de Nabonido”. As
diferenças fundamentais entre os dois militam contra a premissa de que no capí-
que a palavra “pai” nas línguas semitas pode também significar avô, um ancestral
mais remoto ou mesmo um predecessor num ofício.160
D. J. Wiseman ressalta que a nomeação de Nabucodonosor como “pai” na ver-
dade “não contradiz os textos babilônicos que se referem a Belsazar como o filho de
Nabonido, uma vez que o último era um descendente da linhagem de Nabucodo-
nosor e pode muito bem ter sido relacionado a ele por meio de sua esposa”.161
Nabonido era um usurpador que tomou o trono de Babilônia em 556 a.C. de
Labashi-Marduk, cujo pai, Neriglissar, usurpou o trono antes do filho de Nabuco-
donosor, Amel-Marduk, em 560 a.C. Neriglissar, contudo, casou-se com a filha de
Nabucodonosor.162 Especula-se que Nabonido era também genro de Nabucodono-
sor.163 Nesse caso, Nabucodonosor era avô de Belsazar do lado de sua mãe.
Assim, com base no uso das palavras “pai” e “filho” nas línguas semitas, Nabu-
codonosor era o pai de Belsazar e Belsazar era filho de Nabucodonosor na relação
avô-neto. Evidência histórica de registros antigos se ajusta perfeitamente com a
informação fornecida no livro de Daniel.
Dario, o medo
Imediatamente depois da morte de “Belsazar, o rei caldeu” em outubro de 539
82
a.C., é declarado em 5:31 que Dario, o medo, “se apoderou do reino”. Isso pode
significar que ele foi constituído “rei sobre os caldeus” (9:1). Esse Dario era “da
linhagem dos medos” (9:1), portanto não era descendente dos persas.
Um erro grave alegado por alguns eruditos crítico-históricos é que o livro de Da-
niel retrata incorretamente o governo de Dario, o medo, após a queda de Babilônia
(539 a.C.), enquanto que, na verdade, foi Ciro, o grande da Pérsia, quem se tornou
governador de Babilônia depois de sua queda. Por exemplo, H. H. Rowley afirmou
em 1935 que “o problema histórico mais sério no livro de Daniel” é o de que Dario,
o medo, “ocupou o trono de Babilônia entre a morte de Belsazar e o reino de Ciro...
Pois, se sabe com certeza que o governador do império neobabilônico foi Ciro. ...”164
Essa opinião é ainda mantida por alguns,165 embora registros do mundo antigo
agora lancem nova luz sobre esse assunto. Em conseqüência disso, é apropriado
indicar sugestões importantes que foram dadas para identificar Dario, o medo,
com uma figura histórica do passado. Quem é o enigmático Dario, o medo?
1. Dario, o medo, é o rei Astíages? Astíages foi o último dos reis da Média.
Heródoto e Xenofonte relatam que Ciro nasceu da união de Cambises com a fi-
lha de Astíages, Mandane.166 Entretanto, o antigo historiador Ctésias fornece um
relato diferente: “Ciro não tinha nenhuma relação com Astíages, mas era filho de
um bandido e de uma garota que cuidava de cabras.”167
Embora a hipótese de que Astíages era Dario, o medo, tenha sido mantida
desde a época do pai da igreja Jerônimo168 até o presente,169 não há evidência
sólida que apoie essa identificação.170 Astíages nunca chegou aos portões de Babi-
lônia171 e seu pai não foi Assuero (Dn 9:1).
2. Dario, o medo, é Ciáxares II? O historiador judeu Josefo sugeriu que o
rei Ciáxares II, filho de Astíages (584-549 a.C.), é Dario, o medo, do livro de Da-
niel.172 Esse ponto de vista tinha muitos apoiadores mesmo recentemente.173 Nosso
conhecimento sobre Ciáxares II vem do historiador grego Xenofonte,174 cuja exa-
tidão histórica foi seriamente enfraquecida com base nos registros cuneiformes.
Além de Xenofonte nenhuma fonte antiga conhece Ciáxares II como o último rei
medo e parente de Ciro.175
3. Dario, o medo, é Cambises? Cambises, filho de Ciro, foi identificado como
Dario, o medo.176 Isto se adequaria de forma precisa, dado que Cambises foi “rei de
Babilônia”177 por um ano. “As datas e títulos em cerca de trinta textos cuneiformes
da Babilônia indicam que Ciro instalou seu filho Cambises como seu rei subordi-
nado em Babilônia por um ano, enquanto ele era ainda rei do império Persa.”178
Enquanto alguns aspectos se identificam com Dario, o medo, outros, como seu
pai sendo Ciro e não Assuero e a idade de 62, não se ajustam.179 Além de sua co-
regência com seu pai, essa hipótese não tem apoio histórico, adequado.
4. Dario, o medo, é Ciro? O famoso assiriologista D. J. Wiseman sugeriu em
1957180 que Dario, o medo, deveria ser identificado como Ciro.181 Sua sugestão en-
controu apoio de J. M. Bulman182 e é citado favoravelmente por J. G. Baldwin,183 83
A. R. Millard,184 e G. Wenham.185 Essa hipótese requer que a tradução de 6:28 seja
lida (de acordo com o ponto de vista da sintaxe hebraica) como:186 “Daniel, pois,
prosperou no reinado de Dario, a saber, o reinado de Ciro, o Persa.”
A conjunção hebraica waw é para expressar uma explicação (“a saber”, “ou
seja”) e não uma adição (“e”). Embora haja várias características positivas nessa
identificação, há também alguns problemas: (a) O livro de Daniel faz uma dis-
tinção natural entre “Dario, o medo,” e “Ciro”, como em 1:21; 6:1ff.; 6:28; 9:1;
10:1; 11:1.187 (b) Em nenhum outro caso uma pessoa é chamada por dois nomes
diferentes sem uma referência explícita com relação à renomeação (1:6-7). (c) As
referências datadas a esses dois reis em Daniel são um tanto casuais, sugerindo
uma distinção entre eles (10:1; 11:1).188
5. Dario, o medo, é Gubaru, governador de Babilônia? A hipótese de que Da-
rio, o medo, devesse ser identificado com Gubaru, governador de Babilônia, foi pro-
movida primeiramente pelo escritor francês E. Babelon no ano de 1881.189 Vários
eruditos a têm aprovado desde então,190 incluindo W. F. Albright.191 Seu mais forte
apoiador é J. C. Whitcome (1959),192 seguido por G. L. Archer,193 entre outros.
Gubaru tornou-se governador de Babilônia sob o comando de Ciro tempos
depois de sua conquista e aparece em textos cuneiformes por volta do quarto ano
de Ciro194 por um período de quatorze anos.195 Sua designação é “governador de
Babilônia e da região além do Rio”. Esse Gubaru não deve ser confundido com o
Gubaru/Ugbaru que era general no exército de Ciro e que conquistou Babilônia
de acordo com a crônica de Nabonido.
Há várias características interessantes nessa identificação que fizeram mais
seguidores recentemente,196 porém ela também apresenta algumas dificuldades.
“Não há evidência de que esse último Gubaru tenha sido outra coisa além de go-
vernador de Babilônia”.197 Jamais foi dito que ele tivesse o título de “rei”. Não há
evidência de que ele fosse um medo ou que seu pai fosse Assuero.
6. Dario, o medo, é Gubaru/Ugbaru, o general que conquistou Babilônia?
A identificação mais recente de Dario, o medo, é com o general conquistador do
exército de Ciro, chamado Gubaru/Ugbaru,198 por W. H. Shea.199 Ao investigar os
famosos tabletes cuneiformes relacionados à época em discussão, Shea descobriu
que por um período de cerca de nove meses após a captura de Babilônia, em 539
a.C., pelas forças combinadas da Medo-Pérsia, Ciro, o grande, não carregou o títu-
lo “Rei da Babilônia”. O título que ele levou durante esses nove meses foi “Rei de
terras”, e apenas esse. “Ao final do seu primeiro ano, ‘Rei da Babilônia’ foi adicio-
nado ao seu primeiro título nesses textos [cuneiformes babilônicos], produzindo
o título ‘Rei da Babilônia, Rei de terras’, que se tornou o título padrão usado por
ele pelo resto do seu reinado.”200
84 Assim, pela primeira vez confirmamos evidências contemporâneas de que
Ciro, o grande, cujas forças sob a liderança do governador de Gutium destruíram
Babilônia, nenhuma vez teve o título “Rei de Babilônia”. Quem quer que tenha
carregado o título “Rei de Babilônia” foi um rei subordinado a Ciro no primeiro
ano após a queda de Babilônia.
Também não deveria ser surpresa que Dario, o medo, fosse chamado “rei” (6:6, 9,
25). Um dos tabletes de Nabonido de Harã, escritos durante o reinado de Ciro, refere-
se ao “Rei dos Medos”, no décimo ano do reinado de Nabonido (546 a.C.). Isso indica
“que o título existiu depois que Ciro conquistou a Média”, por volta de 550 a.C.201
Com base na evidência histórica presente sabemos que Gubaru/Ugbaru, gover-
nador de Gutium e general sob o comando de Ciro, conquistou Babilônia.202 Tam-
bém, como observado acima, agora sabemos que por grande parte do primeiro ano
após a queda de Babilônia, Ciro não reivindicou o titulo “Rei de Babilônia”, indican-
do que outra pessoa era rei subordinado a ele. Shea defende que Gubaru/Ugbaru
morreu um ano e três meses depois da queda de Babilônia de acordo com um modo
consecutivo de calcular os dados cronológicos da Crônica de Nabonido.203
A hipótese Gubaru/Ugbaru é compatível com cada ponto de identificação no
livro de Daniel, exceto como observa W. H. Shea: “Dois pontos – sua ascendência
e origem étnica – não podem ser verificadas até agora por falta de documentação
histórica adequada.”204 Além disso, Gubaru/Ugbaru nunca é chamado “rei”, nem
designado Dario, o medo.
É um tanto contrário aos fatos agora conhecidos reivindicar (como foi feito
recentemente) que o autor de Daniel “não estava preocupado com tais detalhes
históricos que não significavam nada para sua mensagem espiritual”.217 Na verda-
de, Daniel, que morava em Babilônia, empregava o sistema babilônico de data;
e Jeremias, que morava na Palestina, utilizava o método palestino.218 Usando o
método de ano de ascensão, Daniel pôde identificar 605 a.C. como o terceiro ano
de Jeoaquim e ano de ascensão de Nabucodonosor como “rei de Babilônia”. Por
outro lado, Jeremias pôde designar o mesmo ano como o quarto de Jeoaquim e o
primeiro de Nabucodonosor seguindo o método ano de não-ascensão.
Além disso, há agora evidência astronômica irrefutável de eclipses de que o
terceiro/quarto ano de Jeoaquim, que foi também o primeiro ano/ascensão de
Nabucodonosor, foi de fato o ano de 605 a.C., e não 606 a.C.219 ou 604 a.C.220 A
historicidade da data agora está firmemente estabelecida.221
A tabulação diagramada segundo essa evidência pode ser demonstrada da se-
guinte forma:
A. C. Escala Jeoaquim 608 607 606 605 604 603 602 601
A captura de Jerusalém
por Nabucodonosor em
Dn 1:1; Jr 25:1, 9
S inopse editorial. Ao longo dos anos, os eruditos têm dado considerável aten-
ção às línguas nas quais foi escrito o livro de Daniel. As formas e gramática
do hebraico e do aramaico, bem como certos termos e empréstimos (gregos e
persas) têm sido analisados com cuidado. Estudos anteriores concluíram que
várias características linguísticas sob estudo forneciam evidentes marcadores in-
ternos que apontavam para o segundo século como data para origem do livro.
O estudo continuado e o acúmulo de novos dados da arqueologia mudaram
o quadro. A nova evidência linguística tem minado os argumentos mais antigos
e os tornado, em grande medida, insustentáveis. Por outro lado, serviu para
apoiar a origem do livro no sexto século, num contexto mesopotâmico.
Não se pode mais dizer que termos como “caldeu” para descrever uma clas-
se profissional e os nomes dos amigos de Daniel (Sadraque, Mesaque e Abed-
nego) constituem erros ou anacronismos – como suposta evidência para um
escritor do segundo século, não-familiar com a época neobabilônica anterior.
Eles se ajustam perfeitamente bem com o que é agora conhecido do contexto
de sexto século.
Agora é possível demonstrar que os empréstimos persas são palavras específi-
89
cas do persa antigo, que apontam para uma época anterior de escrita, em vez de
uma composição do segundo século. A cultura grega penetrou o antigo oriente
médio muito antes do período neobabilônico, um fato que invalida qualquer
tentativa de argumentar sobre uma data mais tardia para o livro com base nos
seus empréstimos gregos.
Argumentos para a composição de Daniel no segundo século, baseados nas
formas e gramática de suas seções aramaicas, foram completamente invalidados
por nova documentação da história e mudança da língua aramaica. A hipótese
da composição no segundo século deve ser agora eliminada. Com base nos no-
vos dados, pode-se afirmar que o aramaico de Daniel pertence à forma da língua
conhecida como aramaico oficial presente no sexto século a.C.
Da mesma forma, não há evidência linguística convincente para negar a com-
posição do livro no sexto século com base no hebraico que é empregado na pri-
meira e última parte do livro. Fragmentos de manuscritos de Daniel de cavernas
de Qumran mostram as mesmas mudanças do hebraico ao aramaico em 2:4b e
de volta ao hebraico em 8:1 como ocorre na nossa Bíblia hebraica atual (masso-
rética). Não há evidência documentada para apoiar a reivindicação de que o livro
tenha sido originalmente escrito em aramaico e, mais tarde, submetido a uma
tradução parcial para o hebraico, indicando uma data posterior para o livro.
Esboço da seção
Nomes Babilônicos
Há vários nomes que têm chamado atenção e requerem uma pesquisa mais
90 aprofundada.
1. O termo “caldeu”. O termo “caldeu” (Dn 2:2; 4:7; 5:7-11) tem, em seu
contexto, perturbado a muitos eruditos. De acordo com uma teoria, equivaler
“caldeu” a mágicos, encantadores e adivinhos (ou seja, como um termo que desig-
na uma profissão, além de seu significado étnico em 3:8; 9:1) é um “indubitável
anacronismo”225 para a época de Nabucodonosor (sexto século a.C.). Argumenta-
se que “caldeu” como um termo para designar profissão foi usado no período
persa226 e também mais tarde, mas nunca antes.
Evidência arqueológica indica que o termo “caldeu” foi usado num sentido
étnico em registros assírios dos sétimo e oitavo séculos a.C.227, mas não é encontra-
do nem em sentido étnico nem em sentido profissional em registros babilônicos
do sexto século a.C. como atualmente conhecidos ou publicados. Embora o uso
em Daniel ainda não encontre apoio em registros babilônicos conhecidos até o
presente (enquanto o sentido étnico é conhecido de registros assírios anteriores e
o sentido profissional, da época persa posterior), “não é seguro argumentar que a
palavra seja um anacronismo”.228
Alguns eruditos têm sugerido que o termo “caldeu” (kasdîm) é derivado de um
título antigo, o Kasdu ou Kaldu acadiano que significa um tipo de sacerdote. O ter-
mo acadiano deriva de um título sumeriano antigo, Gal-du (“Construtor Mestre”),
um termo que se refere à construção de gráficos astronômicos nos quais eram
Reavaliações atuais
A partir da discussão prévia, fica evidente que os problemas clássicos de sinta-
xe e ortografia no aramaico de Daniel (usado no passado por estudiosos críticos
como apoio para uma suposta data do período macabeu e uma proveniência oci-
dental ou Palestina) agora aparecem numa luz inteiramente nova. A nova evidência
e reavaliação apontam para uma data anterior ao segundo século a.C. e para uma
origem oriental (babilônica). A propósito disso, G. L. Archer observa que “com
base somente na ordem de palavras, é seguro concluir que Daniel não poderia ter
sido escrito na Palestina (como requer a hipótese do período macabeu), mas no
setor oriental do Crescente Fértil, com toda probabilidade na própria Babilônia”.
Archer então ressalta que sua pesquisa anterior sobre o aramaico no Apócrifo de
atribuído com total satisfação filológica ao segundo século; ao passo que, na evi-
dência comparativa, uma data anterior ao quarto século não pode na evidência
comparativa ser facilmente atribuída a ele”.313 P. R. Davies repete esses pontos de
vista anteriores ao afirmar: “O hebraico de Daniel certamente não é um hebraico
do exílio judeu do sexto século.”314 Essa repetição de opiniões anteriores sem novo
apoio de pesquisas recentes é típico da maioria dos estudiosos da Escola crítico-
histórica no presente. Por outro lado, vários comentaristas crítico-históricos da
atualidade têm abandonado o argumento de uma data posterior para a língua
hebraica do livro de Daniel (O. Ploger, D. S. Russell, A. Lacocque, J. J.Collins, W.
S. Towner e outros). K. Koch observou um tanto cuidadosamente em 1980 que no
hebraico do livro “nada fala contra uma data na época de macabeus”.315
Nem todos os estudiosos crítico-históricos concordam entre si. O professor T. K.
Cheyne, um dos críticos radicais do passado, declara: “Do hebraico do livro de Da-
niel não pode ser delineada, com segurança, nenhuma inferência importante quanto
à sua data.”316 S. R. Driver listou 30 expressões como apoio a uma data posterior. Um
novo reestudo dessas expressões por W. J. Martin levou à seguinte conclusão: “Não
há nada no hebraico de Daniel que pudesse ser considerado extraordinário para um
falante bilíngue ou talvez, nesse caso, trilingue da língua no sexto século a.C.”317
O hebraico do livro também pode ser comparado com o hebraico dos Rolos do
Mar Morto do segundo século a.C., bem como ao de Eclesiástico, que foi escrito 99
por volta de 190 a.C. G. L. Archer fez tal estudo e aponta para diferenças marcan-
tes entre o Eclesiástico e o hebraico do livro de Daniel.318 Uma comparação com
os rolos de Qumran revela que “nenhum dos documentos sectários compostos
em hebraico (“O Manual de Disciplina”, “A Guerra das Crianças da Luz contra
as Crianças das Trevas”, “Os Salmos de Ações de Graças”) nessa coleção mostram
características distintivas em comum com os capítulos em hebraico de Daniel”.319
Esse novo material é muito importante para avaliar a parte em hebraico de
Daniel. Se Daniel foi composto na Palestina do segundo século a.C., então deve-se
esperar algumas características em comum com o hebraico daquele tempo. A falta
de tais características parece apoiar uma data diferente, isto é, um período antes do
segundo século. Embora possa ser verdade que “o hebraico do livro não pode ser
atribuído, com segurança, a um século mais do que a outro”,320 não há evidência
convincente para negar o sexto século com base no hebraico empregado no livro.
Esboço da seção
Nova luz foi lançada sobre a data de Daniel com a descoberta dos rolos do
Mar Morto. Entre eles encontram-se fragmentos de nada menos que oito cópias
de Daniel.331 A primeira das onze cavernas do Qumran forneceram fragmentos
de dois rolos contendo o livro de Daniel. Um deles inclui Daniel 1:10-17 e
102 2:2-6 (1QDana),332 o outro, Daniel 3:22-30 (1QDanb).333 Como observado aci-
ma, o primeiro fragmento tem a transição do hebraico para o aramaico em 2:4b
(1QDana).
Até o presente, temos que nos contentar com a publicação dos fragmentos
de Daniel das cavernas 1 e 6. Os fragmentos da caverna 6 são todos escritos em
cursiva no papiro, em contraste com os da caverna 1, que estão no estilo de escrita
normal em couro (pergaminho). Os fragmentos da caverna 6 contêm Daniel 8:16-
17 (?); 8:20-21 (?); 10:8-16; 11:33-36, 38.334
Relata-se que foram encontrados na caverna 4 fragmentos de não menos que
quatro rolos diferentes do livro de Daniel. Infelizmente, ainda não foram publi-
cados.335 No entanto, alguns foram identificados. Um dos fragmentos contém
Daniel 2:19-358 (4QDana). Outro (4QDanb) contém a transição do aramaico
para o hebraico em Daniel 7:28–8:1,336 demonstrando, como observado anterior-
mente, o padrão hebraico-aramaico-hebraico que segue o padrão antigo literário
de A:B:A.337
A partir dessas descobertas, fica evidente que o livro de Daniel foi um dos
mais populares entre os da comunidade de Qumran. Uma comparação com ou-
tros materiais bíblicos ilustra isso. Até o momento, existem 14 cópias conhecidas
de Deuteronômio, 12 de Isaías, 10 de Salmos338 e 8 de Daniel.339 A estas devem ser
acrescentados os famosos “Florilégio” (4QFlor) da caverna 4, que contêm citações
Resumo
A grande importância dos Rolos do Mar Morto para o livro de Daniel pode
ser observada pelas seguintes razões:
Daniel e o cânon
Daniel e Eclesiástico
Por exemplo, “uma data posterior [para o livro] é defendida pela angeologia um
tanto desenvolvida conforme encontrada em Daniel 8:16 e 9:21.”368
Muito poderia ser dito sobre o tema dos anjos no AT. Os anjos no AT são
transmissores de mensagens a Abraão, Moisés, Josué, Gideão, Isaías, Zacarias e
Ezequiel. No Pentateuco, anjos protegem o povo de Deus, destroem seus inimigos
e revelam a vontade divina.369
O livro de Daniel oferece um panorama mais abrangente na sua visão de seres
angélicos do que os outros livros do AT; entretanto, está mais próximo do livro
de Zacarias.370 Apenas Daniel menciona um anjo por seu nome. A função do anjo
intérprete (angelus interpres) dos capítulos 7, 8, 9, 10–12 (que é identificado como
Gabriel em 8:16; 9:21) é parecida, se não idêntica, à função dos anjos intérpretes
em Zacarias (1:9, 14, 19; 2:1-3; 4:4-6, 11-14; 5:5-11; 6:4-8). Portanto, há uma angeo-
logia no AT. A característica única de Daniel nesse tema, ou seja, nomear Gabriel,
certamente não introduz uma nova doutrina de anjos ou faz com que o livro tenha
sido escrito numa data posterior. Uma comparação de Daniel no aspecto dos an-
jos e o que está disponível do Qumran do segundo século a.C. indica que Daniel
é mais antigo que os progressos em Qumran.371
O livro de Daniel também contém uma importante crença na ressurreição
(12:1-4). Uriel Acosta, um crítico atual, considerou a referência do documento à
107
ressurreição e sua angeologia como chaves para datar o livro num período poste-
rior e atribuí-lo aos fariseus. O argumento de que a crença daniélica na ressurrei-
ção é uma marca de uma data num período pós-exílico e mesmo mais tardio que
o segundo século tem persistido.372
A ideia da ressurreição está presente em várias passagens do AT de uma
época anterior a Daniel (Jó 19:25-27; Sl 16:9-11; 73:23-28; Is 25:8; 26:19; 53:10;
Ez 37:1-14; Os 6:1-3; 13:14). Eruditos da Escola crítico-histórica argumentam
que a maioria dessas passagens não contém a ideia de ressurreição. A opinião
crítica hoje sustenta que a ideia de uma ressurreição física está presente apenas
em Isaías 26:19.373
Nossa pesquisa da passagem sobre ressurreição em Daniel 12:1-4 revela que
há ligações irrevogáveis com Isaías 26:19. Daniel 12:1-4 também tem nova ênfase
e novos fatores,374 tais como a ressurreição dos justos e dos ímpios. Uma compa-
ração do pensamento de ressurreição na literatura intertestamentária, incluindo
o Qumran, revela a enorme diferença entre motivação, propósito e significado
da ressurreição nesse tipo de literatura e em Daniel 12:1-4.375 Conceitos de as-
sunção ou ressurreição do espírito e ideias de imortalidade encontradas nessa
literatura extra-bíblica são estranhas a Daniel e ao AT. De forma clara, a crença
na ressurreição não pode mais ser um recurso para a defesa de uma data poste-
rior para o livro de Daniel.
O neoplatônico Porfírio baseou sua posição para uma data posterior em Daniel
11. Deve ser dito que o principal argumento até o presente, para uma data no perío-
do de macabeus, está baseado no capítulo 11. Pode ser apropriado citar J. J. Collins,
um comentarista moderno, sobre esse ponto (1981): “...o filósofo neoplatônico Por-
fírio (última parte do segundo século a.C.)... defendeu que o livro foi escrito na épo-
ca de Antíoco Epifânio. [Ele argumentou que] as profecias de Daniel sobre aconteci-
mentos até a época de Antíoco foram escritas após os fatos, e eram exatas, enquanto
as previsões além dessa época não haviam se cumprido. A validade do argumento
admitidamente anti-cristão de Porfírio é amplamente reconhecido hoje.”389
Ele prossegue: “Primeiro, há o aspecto notado por Porfírio de que além de um
certo ponto na história as previsões não estão cumpridas. Os acontecimentos de
Daniel 11:40-45, até a morte de Antíoco, são os exemplos mais significativos.”390
Evidentemente, o principal argumento é a famosa “evidência interna”, como
sugerido por S. R. Driver,391 ou seja, a precisão da “previsão” do capítulo 11, a qual
é exata demais para ter sido feita antes dos acontecimentos. Em outras palavras, “a
questão sobre se Deus dá a um profeta tal visão exata do futuro divide os eruditos
110
e decide na análise final também a data do livro de Daniel.”392 Para estudiosos que
consideram o capítulo 11 uma predição exata dos eventos que incluem (11:1-20)
e levam às batalhas de Antíoco IV com os judeus (11:21-39),393 a decisão deve ser
tomada: o que é e o que não é predição genuína?
Alguns eruditos da Escola crítico-histórica consideram como axiomático que o
“reino do sobrenatural” esteja envolvido caso Daniel esteja fornecendo uma “pre-
visão correta no sexto século do curso da história até o segundo século”.394 Mas,
insiste R. H. Pfeiffer, que escreveu em 1948, defendendo esse ponto de vista, “a
pesquisa histórica pode lidar apenas com fatos autênticos que estejam dentro da
esfera de possibilidades naturais e deve se abster de afirmar como verdadeiros even-
tos sobrenaturais.”395
A questão sobre a data do livro de Daniel é, então, na análise final, uma
questão sobre uma pressuposição filosófica: se o sobrenatural pode atuar em pes-
quisas crítico-históricas. Dado que nesse ponto de vista o capítulo 11 não pode
ser uma profecia verdadeira para o futuro, um cenário sócio-político fora do sexto
século deve ser encontrado. A crise de Antíoco Epifânio parece apresentar-se
como o contexto ideal.
Uma abordagem crítico-histórica um pouco diferente, usada mais recentemen-
te, permite o sobrenatural, mas enfatiza outro aspecto. John J. Collins declarou de
maneira vigorosa em 1981: “A questão não é se um profeta divinamente inspirado
poderia ter predito os eventos que aconteceram na época de Antíoco Epifânio
Apocalíptica e pseudonomia
Conclusões
Notas
1
H. L. Ginsberg, Studies in Daniel (Nova Iorque, 1948) p. 27; A. Jeffery, “The Book of
Daniel” IB (1956), 6:359-60; G. Fohrer, Introduction to the Old Testament (Nashville, 1965),
p. 474; W. Lee Humphreys, “A Study of the Tales of Esther and Daniel”, JBL 92 (1973):
211-23, que distingue entre “contos de conflito na corte” (Dn 6) e “contos de disputa na
corte” (capítulos 4 e 5) e é seguido por J. J. Collins, “The Apocalyptic Vision of the Book
of Daniel”, HSM 16 (1977): 33; Id., Daniel, 1-2 Maccabees (Wilmington, 1981), p. 18, onde
ele os chama de “contos”; id., Daniel (Grand Rapids, 1984), p. 31, 34-36.
2
R.B.Y. Scott, “I Daniel, the Original Apocalypse”, AJSL 47 (1930-31): 290-91, chama
Daniel 1-6 de “romances históricos.” E. W. Heaton, The Book of Daniel (Londres, 1956), p.
32-47, os chama de “romances populares.”
114 3
W. Baumgartner, Das Buch Daniel (Giessen, 1926), p. 7; Fohrer, p. 474, chama Daniel
1-6 em parte de “contos da corte” e em parte de “lendas de mártir.”
4
L. Bushinski, C. S. SP., “Daniel: Midrash and Apocalyptic”, The Bible Today 21/4
(Julho de 1983), p. 228-29; L. F. Hartman e A. A. Di Lella, The Book of Daniel (Garden
City, Nova Iorque, 1978), p. 54.
5
J. Steinmann, Daniel (Paris, 1950), p. 27-28, o qual se refere à série de histórias de
edificação para moral e educação religiosa. Cf. L. F. Hartman, “Daniel”, Jerome Bible Com-
mentary (Londres, 1968), 1:447-48; A. Lacocque, The Book of Daniel (Atlanta, 1979), p. 8.
6
W. Sibley Towner, Daniel (Atlanta, 1984), p. 5.
7
M. Hengel, Judaism and Hellenism, 2a ed. (Filadélfia, 1981), 1:111.
8
Hartman, p. 448.
9
Collins, Daniel, 1-2 Maccabees, p. 19.
10
Em relação a esse gênero literário ou sociológico, veja J. G. Gammie, “The Classi-
fication, Stages of Growth, and Changing Intentions in the Book of Daniel”, JBL 95/2
(1976), p. 191-204; R. Martin-Achard, “L´apocalyptique d´apres trois travaux récents”,
RTP 103 (1970): 310-18; P. D. Hanson, “Old Testament Apocalyptic Re-examined”, Int 25
(1971): 454-79; I. Willi-Plein, “Das Geheimnis der Apokalyptik”, VT 27 (1977): 62-81; J.
Barr, “Jewish Apocalyptic in Recent Scholarly Study”, BJRL 77 (1975): 9-25; J. J. Collins,
“Apocalypse: The Morphology of a Genre”, Semeia 14 (1979): 9-49; J. Carmignac, “Qu´est-
ce que l´Apocalyptique? Son emploi a Qumrân”, RQ 37 (1979): 3-33.
39
Berthodt, vol. 1, p. 49-55.
40
J. G. Eichhorn, Einleitung ins Alte Testament: Band III, 4a ed. (Leipzig, 1824), p. 515-20.
41
Harrison, p. 1111.
42
W. Baumgartner, “Ein Vierteljahrhundert Danielforschung”, TRu 9 (1939): 70.
43
A. Jepsen, “Bemerkungen zum Danielbuch”, VT 11 (1961): 386.
44
K. Koch, “Spätisraelitisches Geschichtsdenken am Beispiel des Buches Daniel”, His-
torische Zeitschrift 193 (1961): 2.
45
K. Koch, Das Buch Daniel. Unter Mitarbeit von Till Niewisch und Jürgen Tubach (Erträge
der Forschung, Bd. 144; Darmstadt, 1980), p. 8-14.
46
F. Dexinger, Das Buch Daniel und seine Probleme (Stuttgart, 1969), p. 15: “O livro de
Daniel deriva em sua presente forma do tempo dos macabeus.”
47
A. Robert e A. Feuillet, Introduction to the Old Testament (Garden City, Nova Iorque,
1970), 2:269: “Logicamente, então, todo o livro [de Daniel] em sua presente forma pode
ser atribuído a um escritor da era macabeia.”
48
R. J. Clifford, “History and Myth in Daniel 10-12”, BASOR 220 (1975): 23: “Mas o
autor de Daniel, escrevendo entre 168 e 163 a.C., ou seja, na Pérsia, está vivendo no perío-
do de crise de 11:29-35, enquanto descreve eventos futuros a ele (Daniel 11:40-12:3).”
49
Collins, Daniel, 1-2 Maccabees, p. 11-14.
50
Viviano, “Daniel”, p. 225: “Existe um consenso geral de que o livro de Daniel foi
116 escrito em resposta à perseguição dos judeus por Antíoco IV.”
51
Qualquer comentário padrão, artigo ou introdução ao Antigo Testamento pelas
escolas crítico-históricas dá evidência disso.
52
Veja novamente P. R. Davies, Daniel. Old Testament Guides (Sheffield, 1985), p. 35-39.
53
S. R. Driver, An Introduction to the Literature of the Old Testament (publicação original
1897; reimpressão, Nova Iorque, 1965), p. 497-514; Id., The Book of Daniel (Cambridge,
1900), p. 62-65.
54
S. B. Frost, “Daniel”, IDB (Nashville, 1962), 1:764-67.
55
O. Eissfeldt, The Old Testament: An Introduction (Nova Iorque, 1965), p. 527.
56
H. H. Rowley, “The Unit of the Book of Daniel”, em The Servant of the Lord and
Other Essays on the OT, 2a ed. revisada (Oxford, 1965), p. 260-80.
57
Hartman e Di Lella, p. 16, reivindicam que a edição final foi publicada em 140 a.C.
58
Veja especialmente, Collins, Daniel, p. 27-40; Towner, p. 5-7; Davies, p. 121-126.
59
Bertholdt, vol. 1, p. 49, 83.
60
M. Noth, “Zur Komposition des Buches Daniel”, ThStKr 98/99 (1926): 143-63.
61
G. Holscher, “Die Entstehung des Buches Daniel”, ThStKr 92 (1919): 113-38.
62
A. Barton, “The Composition of the Book of Daniel”, JBL 18 (1898): 62-86.
63
Gammie, “Classification, Stages of Growth”, p. 191-94; Id., “On the Intention and
Sources of Daniel I-VI”, VT 31 (1981): 282-92.
64
H. L. Ginsberg, Studies in Daniel (1948) e “The Composition of the Book of Daniel”,
VT 4 (1954): 686-97.
94
G. L. Archer, Jr., “Daniel”, The Expositor´s Bible Commentary, ed. F. E. Gaebelein
(Grand Rapids, 1985), p. 4-26.
95
G. Maier, Der Prophet Daniel (Wuppertal, 1982).
96
G. L. Archer, Jr., A Survey of Old Testament Introduction (Chicago, 1964), p. 365-88.
97
Harrison, p. 1010-27.
98
H. D. Hummel, The Word Becoming Flesh: An Introduction to the Origin, Purpose, and
Meaning of the Old Testament (St. Louis, 1979), p. 549-71.
99
D. J. Wiseman, et al., Notes on Some Problems in the Book of Daniel (Londres, 1965).
100
B. K. Waltke, p. 319-29.
101
G. L. Archer, “Modern Rationalism and the Book of Daniel”, BS 137 (1979): 129-47.
102
J. McDowell, Daniel in the Critics´ Den. Historical Evidence for the Authenticity of the
Book of Daniel (San Bernardino, CA, 1979).
103
S. J. Schwantes, “La date du livre de Daniel”, em Daniel. Questions Debattues, ed. P.
Winandy (Collonges-sous-Saleve, 1980), p. 47-61.
104
W. D. Gooding, “The Literary Structure of the Book of Daniel and Its Implica-
tions”, Tyndale Bulletin 32 (1981): 43-79.
105
A. J. Ferch, “The Book of Daniel and the ‘Maccabean Thesis,’” AUSS 21 (1983):
129-38.
106
A seção sobre Nebucodonosor , Belsazar e Dario, o medo, é expandida a partir do
118 meu artigo, “The Book of Daniel: Evidences relating to Persons and Chronology”, AUSS
19 (1981): 37-49.
107
C. F. Pfeiffer, The Biblical World (Grand Rapids, 1966), p. 126.
108
Escrito no Grotefend Cylinder, KB iii, 2, p. 39, conforme citado em J. A. Montgo-
mery, “The Book of Daniel”, ICC [23] (1927), p. 243.
109
Montgomery, p. 244.
110
S. Langdon, Die neubabylonischen Königsinschriften (VAB, 3; Leipzig, 1912), p. 87.
111
B. Meissner, Babylonien und Assyrien, 2 vols. (Heidelberg, 1920, 1925), 1:299.
112
D. J. Wiseman, “Babilônia”, The International Standard Bible Encyclopedia (Grand
Rapids, 1979), 1:384-91.
113
G. A. Barton, Archeology and the Bible (Filadélfia, 1916), p. 479.
114
H. W. F. Saggs, “Babylon”, Archeology and Old Testament, ed. D. W. Thomas (Oxford,
1967), p. 42.
115
R. H. Pfeiffer, Introduction to the Old Testament (Nova Iorque, 1948), p. 758-59.
116
Ibid., 758. Cf. O. Kaiser, Einleitung in das Alte Testament (Gütersloh, 1969), p. 240.
117
J. T. Milik, “‘Prière de Nabonide’ et autres écrits d’um cycle de Daniel. Fragments
araméens de Qumran 4”, RB 63 (1965): 407-415. Foram feitas traduções em francês por J.
Carmignac em Les textes de Qmran traduits et annotes II (Paris, 1963), p. 289-94; em alemão
por W. Dommershausen, Nabonid im Buche Daniel (Mainz, 1964), p. 70 e A. Mertens, Das
Buch Daniel im Lichte der Texte vom Toten Meer (Stuttgart, 1971), p. 34-42; em inglês por G.
Vermes, The Dead Sea Scrolls em Inglês (Baltimore, 1962), p. 229-30 e B. Jongeling, C. J. La-
buschagne e A. S. van der Woude, ATQ (Leiden, 1976), p. 126-31. As restaurações diferem
significativamente e deve-se ter cuidado na leitura das várias traduções.
118
ATQ, p. 127. Itálico indica texto restaurado.
119
Ibid.
120
Traduzido assim pela maioria dos acadêmicos.
121
ATQ, p. 129.
122
Adaptado de ATQ, p. 127-29.
123
Milik, p. 411; W. H. Brownlee, The Meaning of the Scrolls for the Bible (Londres,
1964), p. 37; R. Meyer, Das Gebet des Nabonid (Berlim, 1962); Dexinger, Das Buch Daniel
und seine Probleme, p. 20; etc.
124
ATQ, p. 123.
125
ANET, Supp, p. 560-63.
126
Hartman e Di Lella, p. 179.
127
ATQ, p. 127.
128
Dommershausen, p. 71.
129
Brownlee, p. 37; cf. Hartman e Di Lella, p. 179.
130
Veja a explicação útil em Harison, p. 1115-17.
131
Vermes, p. 229.
132
D. N. Freedman, “The Prayer of Nabonidus”, BASOR 145 (1957), p. 31; também
Hartman e Di Lella, p. 179. 119
133
D. J. Wiseman, “Nebuchadnezzar”, Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, ed.
M. C. Tenny (Grand Rapids, 1977), 4:398.
134
Harrison, p. 1117-20.
135
F. M. Cross, Jr., The Ancient Library of Qumran, 2a ed. (Nova Iorque, 1961), p. 167.
136
A. K. Grayson, Babylonian Historical-Literary Texts (Toronto/Buffalo, 1975), p. 87-92.
137
Ibid., p. 89.
138
Ibid.
139
Ibid., p. 89, linhas 11-14.
140
Deve-se dar atenção à história da possessão de Nabucodonosor por Abydenus (se-
gundo século a.C.) conforme preservado em Eusébio, Praep. Evang. ix. 41.
141
W. H. Shea, “Daniel 3: Extra-biblical Texts and the Convocation on the Plain of
Dura”, AUSS 20 (1982): 30.
142
D. J. Wiseman, Chronicles of the Chaldean Kings (626-556 a.C.) no Museu Britânico
(Londres, 1956).
143
Shea, “Daniel 3”, p. 29-52.
144
ANET, p. 307-8.
145
Shea, “Daniel 3”, p. 50.
146
Archer, “Daniel”, p. 51, também fala de um “juramento de lealdade” em Daniel 3,
mas não correlaciona isso com a revolta. Ele vê isso como um evento anterior em conexão
com o estabelecimento do império babilônico como sucessor da Assíria.
147
H. H. Rowley, “The Historicity of the Fifth Chapter of Daniel”, JTS 32 (1930): 32.
148
As datas são fornecidas por R. H. Sack, Amel-Marduk, 562-560 a.C. (AOATS, 4;
Neukirchen-Vluyn, 1972), p. 2.
149
Nabonido não estava na cidade de Babilônia quando ela caiu. Ele escapou quando
a cidade foi tomada por Borsippa, mas entrou novamente na cidade e foi tomado prisio-
neiro. Supõe-se ter morrido na Carmenia,. Veja D. J. Wiseman, “Nabonidus”, Zondervan
Pictorial Encyclopedia of the Bible (Grand Rapids, 1977), 4:352.
150
A evidência cuneiforme é convenientemente coletada por R. P. Dougherty, Naboni-
dus and Belshazzar, Séries Orientais Yale, 15 (New Haven, CN, 1929).
151
Para o texto completo, veja A. L. Oppenheim em ANET2 , p. 312-15.
152
ANET2, p. 313b.
153
T. G. Pinches, Proceedings of the Society of Biblical Archeology 38 (1916): 30.
154
Dougherty, p. 93-95; A. T. Clay, Miscellaneous Inscriptions in the Yale Babylonian
Collection (New Haven, CN, 1915), p. 55-56; A. R. Millard, “Daniel 1-6 and History”, EvQ
49 (1979): 71.
155
Dougherty, p. 94-95.
156
Millard, p. 71-72.
157
W. H. Shea, “Nabonidus, Belshazzar, and the Book of Daniel: An Update”, AUSS
20 (1982): 133-49, em especial a página 136, sugere que Judá forneceu “um ambiente no
120 qual, ao contrário do reino onde eles estavam exilados, a co-regência era praticada... Da-
niel avaliou essa situação com base no que lhe era familiar da política econômica de Judá.”
Sugerimos que os métodos de se calcular as datas em Babilônia e Judá eram diferentes e
que a co-regência existiu em ambas as áreas. Entretanto, Daniel usou em 7:1 e 8:1 o méto-
do de datação existente em Judá.
158
Beek, p. 44, 51; S. Smith, Babylonian Historical Texts Relating to the Capture and Do-
wnfall of Babylon (1924; Hildesheim, 1975), p. 106-7; M. J. Gruenthaner, “The Last King
of Babylon”, CBQ 11 (1949): 406-427, esp. 416; Meissner, vol. 1, p. 78; Dougherty, p. 198;
Maier, p. 37.
159
Young, p. 117 (grifo do autor).
160
Veja também Archer, “Daniel”, p. 15-16.
161
D. J. Wiseman, “Belshazzar”, Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible (Grand
Rapids, 1975), 1:151.
162
D. Weisberg em P. Garelli, ed., Le palais et la royauté. Compte rendu de la XIXe rencon-
tre assyriologique internacionale (Paris, 1974), p. 447-54.
163
Millard, p. 72; Archer, “Daniel”, p. 16; cf. Maier, p. 204-10.
164
H. H. Rowley, Darius the Mede and the Four World Empires in the Book of Daniel: A
Historical Study of Contemporary Theories (Cardiff, 1935; reimpressão, 1964), p. 9.
165
Veja, por exemplo, Collins, Daniel, p. 69: “Nenhuma figura como Dario, o medo,
é conhecida na história.”
166
Ibid., p. 30-31.
240
S. R. Driver, Na Introduction to the Literature of the Old Testament, (org. publ. 1897;
reim Ed., Nova Iorque, 1965), p. 508.
241
J. A. Montgomery, “The Book of Daniel”, ICC [23] (1927), p. 22.
242
W. F. Albright, From Stone Age to Christianity, 2a ed. (Nova Iorque, 1957), p. 337.
243
E. Yamauchi, Greece and Babylon (Grand Rapids, 1967), p. 94; Id., “Daniel and Con-
tacts between the Aegean and the Near East Before Alexander” EvQ 53 (1981): 37-47.
244
L. F. Hartman e A. A. Di Lella, The Book of Daniel (Garden City, NY, 1978), p. 13.
245
P. W. Coxon, “Greek Loan-Words and Alleged Greek Loan Translations in the
Book of Daniel”, Glasgow University Oriental Society Transactions 25 (1976): 24.
246
Ibid., p. 31.
247
A. Sendry, Music in Ancient Israel (Nova Iorque, 1969), p. 297; cf. Coxon, “Greek
Loan-Words”, p. 31-32.
248
Yamauchi, “Archaeological Background of Daniel”, p. 12.
249
Coxon, “Greek Loan-Words”, p. 32-36.
250
Ibid, p. 36.
251
Yamauchi, “Archaeological Background of Daniel”, p. 13.
252
T. C. Michell e R. Joyce, “ The Musical Instruments in Nebuchadnezzar’s Orches-
tra”, Notes on Some Problems in the Book of Daniel, ed. D. J. Wiseman, et al. (Londres, 1965),
p. 27. Esses autores chegaram a essa conclusão independentemente do trabalho de outros
124 pesquisadores.
253
Hartman e Di Lella, p. 13.
254
Yamauchi, “Daniel and Contacts between the Aegean and the Near East”, p. 47.
255
Veja R. Degen, Altarmäische Grammatik (Wiesbaden, 1969), p. 103. S. Segert, Al-
tarmäische Grammatik (Leipzig, 1957), p. 36-39, prefere designar “Aramaico Antigo” como
“Fruharamäisch” (Aramaico Tardio) e estende a sua época à metade do sétimo século a.C.
256
Então, E. Y. Kutscher, “Aramaico”, EncJud (Jerusalém, 1971): 2:260. Uma descrição
de sua natureza é fornecida por S. A. Kaufman, The Akkadian Influences on Aramaic, Assyrio-
logical Studies, 19 (Chicago, 1974): 155-60.
257
Kutscher, “Aramaic”, EncJud, 2:260.
258
S. R. Driver, An Introduction to the Literature of the old Testament, p. 502-4.
259
Ibid., p. 508 (ênfase do autor).
260
C. C. Torrey, “Notes on the Aramaic Part of Daniel”, Transactions of the Connecticut
Academy of Arts and Sciences 15 (1909): 239-82; Id., “Stray Notes on the Aramaic of Daniel
and Ezra”, JAOS 43 (1923-): 229-38.
261
R. D. Wilson, “The Aramaic of Daniel”, Biblical and Theological Studies (Prince-
ton, NJ, 1912), p. 261-306; W. St. Clair Tisdall, “The Book of Daniel, Some linguistic
Evidence Regarding Its Date”, Journal of the Transactions of the Victoria Institute… of Great
Britain 23 (1921): 206-245; Charles Boutflower, In and Around the Book of Daniel (Lon-
dres, 1923), p. 226, 267.
262
G. R. Driver, “The Aramaic of the Book of Daniel” JBL 45 (1926): 110-19, 323-325;
279
G. L. Archer, Jr., “The Aramaic of the ‘Genesis Apocryphon’ Compared with the
Aramaic of Daniel”, New Perspectives on the Old Testament, ed. J. B. Payne (Waco, TX, 1970),
p. 160-69.
280
Ibid., p. 169.
281
G. L. Archer “Aramaic Language”, Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, ed.
M. C. Tenney (Grand Rapids, 1975), 1:255.
282
J. P. M van der Ploeg e A. S. van der Woude, eds., Le Targum de Job de la grotte XI de
Qumran (Leiden, 1971).
283
E.g., T. Muraoka, “The Aramaic of the Old Targum of Job From Qumran Cave
XI”, JJS 25 (1974): 442; S. A. Kaufman, “The Job Targum From Qumran”, JAOS 93 (1973):
327; Jongeling, 5; and Vasholz, “A Philological Comparison of Qumran Job Targum and
its Implications for the Dating of Daniel” (Tese doutoral, Universidade de Stellenbosch,
1976), p. 318-20.
284
Van der Ploeg e van der Woude, p. 4.
285
Kaufman, p. 327.
286
Ibid.
287
Ibid., p. 317.
288
Kitchen, p. 32.
289
Jongeling, et al., p. 6; Sokoloff, p. 25.
126 290
Muraoka, p. 442; Vasholz, p. 319.
291
Pode-se esperar que a publicação recente de fragmentos em aramaico dos livros de
Enoque lançará mais luz sobre o desenvolvimento do aramaico pós-bíblico, veja J. T. Milik,
The Books of Enoch: Aramaic Fragments of Qumran Cave 4 (Oxford, 1976); J. A. Fitzmyer,
“Implications of the New Enoch Literature From Qumran”, TS 83 (1977): 332-45.
292
Rowley, The Aramaic of the Old Testament, p. 11.
293
R. I. Vasholz.
294
Vasholz, “Qumran and the Dating of Daniel”, p. 320.
295
T. Muraoka, “Notes on the Syntax of Biblical Aramaic”, JSS 11 (1966): 151-67.
296
Ibid., p. 152-55.
297
P. W. Coxon, “The Syntax of the Aramaic of Daniel: A Dialectical Study”, HUCA
48 (1977): 107-122.
298
Ibid., p. 109.
299
Ibid., p. 112.
300
Ibid., p. 112-14.
301
Ibid., p. 115-16.
302
Ibid., p. 116-18.
303
Ibid., p. 119.
304
Veja a referência 256 acima, onde o estudo de Kaufman aparentemente desco-
nhecido para Coxon, é citado. E. Y. Kutscher, “Aramaic” Current Trends in Linguistics 6
(1970): 400 (veja também a referência 272 acima), sugeriu que a ordem de palavras do
aramaico bíblico é do tipo oriental. Essa conclusão é apoiada por Coxon, que conclui que
tal mudança fundamental na estrutura da sentença “certamente apontaria para uma data
anterior ao segundo século a.C.” (Veja “Syntax”, p. 121-22; e “A Philological Note on Dan
5:3f.”, ZAW 89 [1977]: 275-76).
P. W. Coxon “The Problem of Consonantal Mutations in Biblical Aramaic”,
305
326
Publicado por J. C. Trever “Completion of the Publication of Some Fragments
form Cave 1”, RevQ 19 (1965): 323-36.
327
F. M. Cross, Jr., “Editing the Manuscript Fragments From Qumran (4Q)”, BA 19
(1956): 86.
328
1QDana é do período herodiano, por volta de 60 d.C., de acordo com Trever, p.
323-36; 4QDanb é datado de cerca de 20-50 d.C. por Cross, p. 86.
329
O Plöger, Das Buch Danie (Gutersloh, 1965), p. 26-27.
330
R. Smend, Die Entstehung des Alten Testaments (Göttingen, 1978), p. 222; cf. J. A.
Soggin, Introduction to the Old Testament, 2a rev. ed. (Filadélfia, 1980), p. 410: “A mudança
da língua do hebraico ao aramaico ainda não foi explicada de forma adequada.”
33
Esse número é fornecido por J. A. Sanders, “The Dead Sea Scrolls – A Quarter
Century of Study”, BA 36 (1973):136.
332
Publicado por D. Barthelémy e J. T. Meek, Discoveries in the Judean Desert I, Qumran
Cave 1 (Oxford, 1955), p. 150-51.
333
Ibid., p. 151-52; veja também J. C. Trever, “Completion of the Publication of Some
Fragments From Cave 1”, RevQ 19 (1965): 323-44.
334
Publicado por M. Baillet, J. T. Milik, e R. de Vaux, Discoveries in the Judean Desert
III: Textes (Oxford, 1962), p. 114-16.
128 335
Veja J. A. Fitzmyer, SJ, The Dead Sea Scrolls: Major Publications and Tools for Study, 2a
ed. (Missoula, MT, 1977), p. 20.
336
F. F. Bruce, “The Book of Daniel and the Qumran Community”, Neotestamentica
et Semitica. Studies in honor of M. Black, eds. E. E. Ellis e M. Wilcox (Edinburgh, 1969),
p. 222.
337
R. K. Harrison, Introduction to the Old Testament (Grand Rapids, 1969), p. 1107, afir-
mou que em 1956 “dois manuscritos do texto hebraico foram recuperados do 11Q… para
suplementar porções da obra encontrada em outras cavernas do Qumran...” O presente
escritor não descobriu na literatura nada que fosse confirmar os manuscritos 11Q.
338
O número de cópias preservadas na Caverna 4.
339
Veja o n. 331 acima.
340
Publicado por J. M. Allegro e A. A. Anderson. Discoveries in the Judean Desert of
Jordan V (Oxford, 1968), p. 53-57.
341
F. F. Bruce, Second Thoughts on the Dead Sea Scrolls, 2a ed. (Grand Rapids, 1964), p.
57; Harrison, p. 1107.
342
G. R. Driver, The Hebrew Scrolls (oxford, 1951), p. 9, n. 5.
343
S. Z. Leiman, The Canonization of the Hebrew Scriptures (Hamden, CN, 1976).
344
F. M. Cross, Jr., The Ancient Library of Qumran, rev. ed. (Garden City, NY, 1961), p. 43.
345
Ibid. Em seu ensaio, “The Development of the Jewish Scripts”, The Bible and the
Ancient Near East, ed. E. E. Wright (Londres, 1961), p. 140, ele redatou 4QDanc para 100-
50 a.C.; Baldwin, p. 45.
372
S. R. Driver, p. 508.
373
Veja o estudo de G. F. Hasel, “Resurrection in the Theology of OT Apocalyptic”,
ZAW 92 (1980): 267-76, para o estudo de Isaías 26:19.
374
Ibid., p. 276-81.
375
Veja especialmente G. W. E. Nickelsburg, Jr., Resurrection, Immortality, and Eternal
Life in Intertestamental Judaism (Cambridge, 1972), p. 170-76.
376
Estudos-chave incluem, J. W. Swain, “The Theory of the Four Monarchies Oppo-
sition History Under the Roman Empire”, Classical Philology 35 (1940): 1-27; D. Flusser,
“The Four Empires in the Fourth Sibyl and in the Book of Daniel”, Israel Oriental Studies 2
(1972): 148-75; Hartman e Di Lella, p. 31-33; cf. Koch, Das Buch Daniel, p. 194-99.
377
A. K. Grayson, Babylonian Historical-Literary Texts (Toronto/Buffalo, 1975), p. 13-37.
378
Ibid., p. 24.
379
Ibid., p. 33-37.
380
G. F. Hasel, “The Four World Empires of Daniel 2 Against Its Near Eastern Envi-
ronment”, JSOT 12 (1979): 17-30, esp. 23.
381
K. Koch, “Spätisraelitisches Geschichtsdenken am Beispiel des Buches Daniel”,
Historische Zeitschrift 193 (1961): 2.
382
J. G. Eichhorn, Einleitung ins Alte Testament: Band III, 4a ed. (Leipzig, 1824), p. 393.
383
Dexinger, p. 33; R. H. Pfeiffer, Introduction to the Old Testament (Nova Iorque, 1948),
130 p. 757; A. Jepsen, “Bemerkungen zum Danielbuch”, VT 11 (1961): 387; H. H. Rowley,
Darius the Mede and the Four World Empires in the Book of Daniel: A Historical Study of Contem-
porary Theories, (Cardiff, 1935; re-impressão, 1964), p. 70-137.
384
Rowley, Darius the Mede, p. 73-80, para uma lista de defensores.
385
Koch, Das Buch Daniel, p. 194.
386
Maier, p. 56; J. G. Baldwin, Daniel. An Introduction and Commentary (Downers Gro-
ve, IL/Londres, 1978), p. 55, 65; Id., “Is There Pseudonymity in the Old Testament?” The-
melios 4/1 (1978): 10-12; E. J. Young, The Prophecy of Daniel: A Commentary (Grand Rapids,
1949), p. 275-80; W. Möller, Grundriss fur Alttestamentliche Einleitung (1934; re-impressão,
Berlim, 1958), p. 321; E. B. Pusey, Daniel the Prophet (Nova Iorque, 1864), p. 147; B. K.
Waltke, “The Date of the Book of Daniel”, BS 133 (1976): 326; etc.
387
Baldwin, “Pseudonymity”, p. 10.
388
Maier, p. 56.
389
J. J. Collins, Daniel, 1-2 Maccabees (Wilmington, 1981), p. 11.
390
Ibid., p. 12.
391
S. R. Driver, The Book of Daniel (Cambridge, 1900), p.47.
392
Maier, p. 56.
393
Koch, Das Buch Daniel, p. 142-43.
394
Pfeiffer, p. 755.
395
Ibid.
396
Collins, p. 11-12 (grifo do autor).
A unidade de Daniel
William H. Shea
Capítulos 2 e 7
S inopse editorial. Nas três primeiras seções deste capítulo, o autor se refere
detalhadamente à questão da unidade do livro de Daniel. O livro é produto
de vários autores que escreveram durante um período de vários séculos, como a
escola crítica afirma, ou existem indicadores no documento que apontam para
uma autoria única, como declaram os eruditos conservadores?
A evidência para a unidade de um livro bíblico deve ser retirada de sua clara
estrutura literária integrada, de temas teológicos comuns que se apresentam na
obra e de uma variedade de elementos linguísticos – pequenos aspectos básicos –
que servem para atar o todo. Numa análise passo-a-passo das porções proféticas do
livro, esses três níveis de investigação são explorados. A harmonia de pensamento
e relações demonstradas nos pequenos blocos de material do livro garantem a
harmonia do todo integrado.
Neste capítulo, o autor focaliza a clara correlação entre o sonho e a visão dos
capítulos 2 e 7. Os capítulos estão intimamente ligados por (1) várias conexões
linguísticas; (2) um esboço comum dos quatro grandes reinos; (3) uma divisão
final no quarto reino; e (4) o estabelecimento do reino eterno de Deus em algum
momento subsequente à divisão do quarto reino. Há paralelos entre as sequên-
cias de metais e animais. A primeira é descendente, movendo-se do metal mais
valioso (ouro) para o mais forte (ferro). De forma similar, a hierarquia dos animais
move-se do mais honroso (leão, rei dos animais) ao poder mais esmagador (animal
indescritível, mais feroz que qualquer um conhecido na natureza).
Embora haja similaridades entre as profecias desses dois capítulos, também
existem diferenças devido à progressão natural de outras revelações. Os novos
elementos do capítulo 7 são o blasfemo chifre pequeno, o julgamento celestial e
o fato de que os “santos do Altíssimo” irão afinal possuir o reino eterno de Deus.
Esses não teriam significado nada para Nabucodonosor se tivessem sido introdu-
zidos em seu sonho.
Esboço da seção
1. Introdução
134 2. Relação entre Daniel 2 e Daniel 7
3. Aspectos específicos de Daniel 7
Introdução
Pode-se propor algo similar para Daniel, muito embora sua estrutura li-
terária seja um tanto diferente da encontrada em Lamentações. A estrutura
geral será integrada na conclusão desse estudo. Entretanto, a fim de se chegar
a tal estrutura é necessário examinar primeiramente as unidades individuais
que formam a composição. Qualquer conclusão derivada de uma análise da
estrutura literária (principalmente se dá evidência de que o livro constitui uma
unidade literária geral) carrega implicações para a crítica literária do livro e
para a interpretação de suas profecias.
Se Daniel realmente apresenta uma estrutura literária unificada, então
torna-se mais difícil separar seus capítulos históricos (1–6) de seus capítulos
proféticos (7–12). Não será possível atribuir para a composição deles datas
que diferem por séculos. Uma estrutura literária unificada para Daniel tam-
bém fortalece, de maneira formal, a interpretação comumente (e corretamen-
te) sustentada de que os esquemas encontrados nos capítulos 2, 7, 8 e 11 tra-
tam todos do mesmo esboço profético básico, muito embora cada elaboração
difira em algum detalhe. As posições que essas diferentes apresentações do
esboço básico ocupam na estrutura literária do livro enfatizam a objetividade
de suas inter-relações.
Temas teológicos. Uma segunda maneira de se verificar a unidade de um
livro bíblico é comparar os temas teológicos comuns tratados em seus segmen- 135
tos individuais. Por exemplo, podemos observar as profecias messiânicas em
Isaías. Na primeira seção do livro, elas aparecem nos capítulos 7, 9 e 11. Na
segunda seção de Isaías, o mesmo tema é tratado novamente no que tem sido
chamado Cânticos do Servo dos capítulos 42, 49 e 53.
Assim, esse tema profético particular do Messias é tratado pelo menos três
vezes em cada uma das duas principais seções do livro. Por meio dessa ligação,
um tema teológico comum pode ser demonstrado nas duas seções dessa obra.
Esse tema comum não prova uma só autoria para essas seções, mas a informa-
ção está mais em harmonia com o ponto de vista de um único autor do que
com a teoria literária crítica de múltiplos autores.
Além disso, pode-se sugerir a partir dessas relações que o Messias tratado
em ambas as seções do livro é um e a mesma figura. Ao passo que cada uma
diz algo novo sobre ele, também descrevem atributos e atividades do mesmo
Messias. Portanto, não temos nas primeiras profecias de Isaías um Messias real
e um Messias servo diferente do encontrado nas últimas. Esses dois grupos
de profecias descrevem dois aspectos principais (mas diferentes) da obra e do
caráter da mesma pessoa.
A ordem na qual essas profecias estão apresentadas pode parecer invertida
quando julgada pelo nosso modo ocidental moderno de pensar. Raciocinamos
Daniel 2 Daniel 7
1. O quarto reino será “forte” 1. “sobremodo forte”, quarto reino
Aramaico, taqqîp, 2:40 Aramaico, taqqîp, 7:7
138
2. Forte como “ferro” 2. “Dentes de “ferro” do quarto animal
Aramaico, parzel, 2:40 Aramaico, parzel, 7: 7, 19
3. O quarto reino “fará em pedaços” 3. “fazia em pedaços” quarto reino
Aramaico, deqaq, 2:40 Aramaico, deqaq, 7: 19, 23
4. Quarto reino “dividido” 4. Não são usadas palavras, mas os dez
2:41 chifres significam as divisões, 7: 7
O rei que governou Babilônia depois de sua conquista foi um medo chamado
Dario (5:31). Consequentemente, o ponto de vista preterista infere que o autor
de Daniel erroneamente identificou o poder que conquistou Babilônia e veio a
governá-la como sendo a Média. Esse erro (supostamente encontrado nos capítulos
históricos de Daniel) é então sobreposto ao esquema de reinos nos capítulos profé-
ticos. Argumenta-se que o autor deva ter cometido o mesmo erro também aí.
Mesmo que Daniel tivesse cometido tal erro em seus capítulos históricos, o
esquema das nações nos capítulos proféticos ainda corresponde ao que ocorreu na
história. Existem também passagens em Daniel que contradizem essa visão prete-
rista. Por exemplo, 5:28 indica que os medos e os persas foram identificados como
co-conquistadores de Babilônia. Daniel 8:20 indica que os dois chifres do carneiro
representavam a Média e a Pérsia juntos. Além disso, a única tradução linguistica-
mente justificável do verbo passivo-causativo em 9:1 indica que Dario, o medo, “foi
constituído rei” sobre o reino dos caldeus por meio de outra pessoa, ou seja, Ciro.
Além disso, a visão preterista não leva em consideração a evidência para a exati-
dão histórica de Daniel a esse respeito, como indicam os tabletes neo-babilônicos
escritos no tempo em que ocorreu a transição para o governo Persa.3 Uma vez que
o ponto de vista da escola crítica sobre esse assunto é insatisfatório por várias ra-
zões, deveria ser rejeitado e o esquema padrão de Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e
140 Roma deveria ser mantido.
Da perspectiva do imaginário profético, os metais da imagem no capítulo 2 es-
tão listados em ordem decrescente de valor, porém crescente no quesito força. Por
consequência, o ouro da cabeça representa a riqueza do primeiro reino, enquanto
que o ferro das pernas representa a glória e o poder do quarto reino. Uma hierar-
quia semelhante de metais é conhecida em outro lugar nas Escrituras em contextos
não-proféticos (Ex 25:3; Nm 31:22; Js 6:19, 24; 1Cr 22:14; 2Cr 2:7, 14).
Os animais do capítulo 7 seguem um padrão um tanto semelhante. O leão que
representava o primeiro reino é conhecido como o rei dos animais, mas o poder es-
magador do quarto reino não era passível de representação por um animal conhe-
cido da natureza. Hierarquias do mundo animal similares a esta são encontradas
em vários textos bíblicos (1Sm 17:34-37; Pv 28:15; Os 13:7-8; Am 5:19; Jr 5:6). Fora
de Daniel, o uso de animais para representar reis é conhecido especialmente dos
profetas que eram contemporâneos de Daniel no sexto século a.C. Por exemplo,
Ezequiel referiu-se a Nabucodonosor como uma águia (17:1-6). Também se referiu
a Faraó do Egito como um águia, um leão e um dragão (17:7-10, 32:2). Jeremias
aplicou a metáfora de um leão para Nabucodonosor duas vezes (4:7; 50:17) e ao rei
da Assíria uma vez (50:17).
Há outras formas nas quais os capítulos 2 e 7 são semelhantes. Ambas as pro-
fecias foram dadas em sonhos noturnos – a primeira, a Nabucodonosor, e a segun-
da, a Daniel. Isso contrasta com as formas pelas quais Daniel recebeu as últimas
revelações dadas a ele. Ambas as descrições nessas duas profecias também se con-
centram mais sobre as consequências do quarto e último reino terrestre, o que
enfatiza a sua importância.
Embora existam várias semelhanças e correlações entre essas duas profecias,
há também contrastes. Uma vez que os símbolos de animais empregados nas úl-
timas eram animados, transmitem mais informações sobre as atividades desses
reinos. Isso é simplesmente uma amplificação de elementos presentes na primeira
profecia. Os elementos realmente novos do capítulo 7 envolvem sua nova revela-
ção sobre o chifre pequeno e o julgamento no Céu que o sucede. Por que eles não
foram mostrados a Nabucodonosor?
Uma vez que as convicções religiosas do rei sem dúvida eram as de um pagão
politeísta, uma quantidade razoável de informações do capítulo 7 não teriam sig-
nificado para ele. A fim de compreender a grandiosidade da “blasfêmia” dita pelo
chifre pequeno, ele teria que entender a religião monoteísta de Yahweh. Nabuco-
donosor teria bastante dificuldade de entender sobre os “santos do Altíssimo” que
foram designados como os recebedores do reino eterno no capítulo 7.
Esses novos elementos na segunda visão eram mais relevantes para o povo de
Deus do que para Nabucodonosor. O rei recebeu uma descrição mais rudimentar
da história do mundo, a qual ele estava mais apto a compreender. Os diferentes
contextos nos quais essas duas revelações foram dadas tornam suas diferenças 141
mais compreensíveis.
Estrutura literária
Três aspectos adicionais do capitulo 7 devem ser considerados como um base
para comparação com outras passagens proféticas do livro. O primeiro tem a ver
com a estrutura literária da descrição da visão nos versículos 2-14. O que segue a
descrição é o dialogo de Daniel com seu anjo intérprete e a explicação da visão
dada a Daniel por ele. Essa explicação é especialmente importante para a descri-
ção das características do chifre pequeno e da garantia de seu julgamento. O chifre
pequeno seria julgado por uma corte celestial e os “santos do Altíssimo” recebe-
riam sua herança no reino eterno de Deus.
No entanto, antes de considerar os aspectos da explicação, a estrutura literária
da visão em si deve ser examinada. Um ponto básico sobre essa estrutura literária
é que os elementos na visão descrita nos versículos 2-14 aparecem na ordem do
quiasma. Ou seja, primeiro aparecem em ordem consecutiva, então aparecem no-
vamente em ordem reversa. O quiasma pode ser resumido da seguinte forma:4
Veredito 2
Céu
Visão do profeta:
terra
da visão termina com o reino sendo dado ao Filho do Homem. Que o Filho do
Homem é uma figura individual, pessoal, escatológica, celestial foi demonstrado
recentemente por A. J. Ferch.6 A identidade dos “santos do Altíssimo” como o
povo de Deus na terra foi recentemente discutida por G. F. Hasel.7 As duas figuras
diferem entre si, sendo uma o governador e a outra, o governado. Não devem ser
entendidas como diretamente equivalentes.
Identificação histórica
Uma vez que o chifre pequeno figura de forma tão marcante na profecia do
capítulo 7, é apropriado propor uma identificação com base nas características
observadas ali. Elas incluem:
1. Surge dentre os 10 chifres do quarto animal, indicando que sua chegada é
após a divisão do quarto poder;
2. Três chifres caem diante dele;
3. Tem olhos como homem;
4. Tem uma boca que fala com insolência contra o Altíssimo;
5. Persegue os santos do Altíssimo;
6. Tem domínio principalmente por um período de três tempos e meio;
144
7. Tenta mudar tempos e lei;
8. Será finalmente destruído por uma decisão do tribunal celestial.
As características mais importantes para identificar essa entidade histórica são a
sua natureza geral e o lugar e época de sua origem. Muitas de suas atividades apontam
para sua natureza distintivamente religiosa (n.º 4, 5, 7). Dado que o quarto animal
foi identificado acima como a Roma Imperial, é evidente que o poder desse chifre
deveria surgir dela, mas não até seus chifres ou divisões terem aparecido (n.º 1).
O poder religioso particular que surgiu da Roma Imperial após o império ter
sido destruído foi a fase religiosa de Roma, centralizada no papado. Os três chifres
que caíram diante dele – historicamente pelo poder civil e autoridades – têm sido
identificados geralmente pelos intérpretes adventistas do sétimo dia como sendo
os hérulos, vândalos e ostrogodos (n.º 2). A motivação para a retirada desses três
poderes não foi apenas política, mas também teológica pois eram arianos por
convicções religiosas.
Embora tenham subsistido por mais alguns anos, a força militar do terceiro
desses poderes opositores ou chifres foi dizimada pela praga que se abateu so-
bre o campo ostrogodo durante o cerco de Roma, em 537-538. Quando ela se
retirou, o bispo de Roma e sua cidade ficaram livres do controle bárbaro pela
primeira vez em dois terços de século – desde o saqueamento de Roma, em 476.
No vácuo político que se desenvolveu pelas duas décadas seguintes à retirada do
cerco, o bispo de Roma adquiriu responsabilidade civil pela cidade também. As-
sim, o ano 538 pode ser visto como um importante marco do desenvolvimento
do papado medieval.
O chifre iria desempenhar certas atividades por um período profético espe-
cial de três tempos e meio (n.º 6). Com base em Daniel 4:16, 25, 29, 32, 34; 12:7;
e Apocalipse 12:6, 14, esses três tempos e meio podem ser identificados como
anos proféticos-simbólicos. Os dias desses anos devem então ser interpretados
de acordo com o princípio dia-ano,8 o que resulta em um período de 1.260 anos
históricos. Começando em 538, o período estende-se a 1798. Foi nesse ano que o
exército francês fez o que pareceu ser uma ferida de morte no papado, depondo
o papa e quebrando o poder temporário da igreja na Europa (n.º 6).
Que esse poder perseguiu o professo povo de Deus de tempos em tempos du-
rante o curso de seu domínio é evidente pelo destino sofrido por alguns dos val-
denses, albigenses, huguenotes, discípulos dos reformadores, vítimas da Inquisição
e outros (n.º 5). A referência aos olhos de homem do chifre (n.º 3) parece enfatizar
sua perspicaz percepção e inteligência, astúcia e engenho (cf. 8:23, 25). Em 7:8, 11,
20, lemos que esse chifre pequeno tinha uma boca que falava insolências contra
Deus (n.º 4). Isso provavelmente refere-se às declarações feitas por esse poder sobre
sua função como o representante de Deus na terra para cumprir sua vontade.
A fala do chifre é ampliada em 7:25a e c. Nesse versículo, um dos meios espe-
cíficos pelos quais o chifre pequeno fala contra o Altíssimo é a tentativa de mudar 145
seus tempos e lei (n.º 7). Esse poder afetou os tempos de várias formas. Ele intro-
duziu novos dias de festas, fixou a celebração da Páscoa no domingo, e mudou o
calendário no século 16 d.C. No entanto, nenhuma dessas ações parecem alcançar
a magnitude da mudança pretendida no tempo a que se refere aqui.
Por outro lado, há um tempo regular, repetido, indicado e fixado (o significa-
do da palavra aramaica zimnîn usada em Daniel 7:25c) que pertence ao Altíssimo,
sobre o qual esse poder tem exercido grande atividade na tentativa de mudança.
Essa tentativa tem a ver com a transferência das obrigações do quarto mandamen-
to do sétimo dia da semana para o primeiro.9
É importante notar que os “tempos” aqui estão estreitamente ligados com a
lei de Deus (“os tempos e a lei”). A palavra aramaica para “lei” nesse caso é dāt.
Em vista de suas outras ocorrências bíblicas (cognatas hebraicas: Ester 1:8, 13,
15, 19; 3:8; 4:11, 16; aramaicas: Esdras 7:12, 14, 21, 25, 26; Dn 6:5, 8, 12, 15),
essa referência em 7:25 não deveria ser considerada em termos do Pentateuco,
simplesmente como tôrāh (instruções gerais). Mas, em vez disso, deveria ser en-
tendida como se referindo mais especificamente a um decreto ou legislação emiti-
do por Deus, uma vez que constituem o fundamento legal sobre o qual se baseou
toda a legislação mosaica. Esse tipo de referência naturalmente traz os dez man-
damentos à tona. Tal interpretação do termo “lei” também enfatiza a conexão
146
Daniel 7:25 Apocalipse 12
2. Primeiro evento: perseguição (v. 25b) 2. Primeiro evento: perseguição (v. 14-15)
3. Segundo evento: ataque aos tempos e 3. Segundo evento: ataque ao povo que
lei do Altíssimo (v. 25c) guarda os mandamentos de Deus” (v. 17)
Pelas primeiras duas conexões entre essas passagens, parece razoável identificar
seu terceiro item como uma referência à mesma coisa. Ou seja, os “tempos e lei”
de 7:25 são “os mandamentos de Deus” de Apocalipse 12:17. Ambas se ajustam
bem como referência à lei de Deus dada no Sinai – os Dez Mandamentos. Como
o quarto desses mandamentos, o sábado vem à tona aqui. As referências aos “tem-
pos” que seriam alterados em 7:25 torna tal conexão muito plausível.
inspirado. Ele explica: As 2.300 tardes e manhãs podem ser vistas como “dias
do santuário”, uma vez que a sequência para o acender das lâmpadas era “desde
a tarde até pela manhã” (Êx 27:20-21). Além disso, a nuvem que envolvia a Di-
vindade tornava-se uma coluna de fogo à noite e voltava a ser uma nuvem pela
manhã (Nm 9:15-16).
Em outras palavras, a Divindade era associada tanto com o fogo como com
a nuvem em conexão com o “dia do santuário”. A visão no capítulo 8 focaliza o
santuário e sua purificação e restauração. Seu elemento tempo (2.300 tardes e ma-
nhãs) deve refletir o “dia do santuário”. Ao mesmo tempo, sua restauração se dá
com o julgamento celestial no qual a Divindade é associada ao fogo e à nuvem – o
trono chamejante ao redor do Ancião de Dias, e o Filho do Homem cercado “que
vinha com as nuvens do céu” (7:9-14).
Finalmente, ambas as visões focalizam a mesma pessoa – Jesus Cristo – sob
dois títulos diferentes: “o Filho do Homem” (cap. 7), e o “Príncipe dos exércitos”
(cap. 8). O último título focaliza a obra do Salvador como sumo sacerdote, reali-
zando o verdadeiro plano da salvação para os pecadores. Por outro lado, o primei-
ro título aponta adiante para seu reinado supremo sobre o povo que ele redimiu e
seu justo domínio da terra, o qual compartilha com ele.
148
Esboço da seção
(sacrifício diário) e o coloca sob controle de seu próprio exército. O chifre pequeno
também deita abaixo o “lugar do santuário” do Príncipe do exército no Céu e pisa
nele. O cumprimento histórico de tal linguagem simbólica pode ser aplicado a
eventos na terra, como é feito até certo ponto em 11:31. Entretanto, o nível básico
da linguagem simbólica que essa profecia emprega refere-se em primeiro lugar ao
santuário no Céu e como ele seria afetado.
Os verbos e preposições presentes nessa descrição enfatizam sua dimensão ver-
tical. O chifre pequeno primeiro se exalta (gādal) em direção ao sul, leste e a terra
gloriosa (ou Palestina). A preposição “para” (’el) é empregada para essas três direções
horizontais (v. 9). Então o chifre pequeno se engrandece (gādal novamente) em dire-
ção ao Céu. Essa transição é marcada por uma mudança para a preposição “até” (‘ad
[v.10]). Ele então lança por terra as estrelas do exército do Céu. Assim, um movimen-
to ao longo do eixo terra-Céu é apresentado aqui; e o movimento ao longo desse eixo
é descrito pelo uso do verbo “cair” (nāpal).
O verbo empregado para o movimento nessa direção é ainda mais gráfico na se-
ção seguinte dessa passagem (v. 11-12). O lugar do santuário é “deitado abaixo” (šālak),
e a verdade também é “deitada (šālak) por terra”. Essa parte da visão termina com uma
referência ao chifre pequeno colocando em prática sua astúcia e prosperando.
Assim, os problemas provocados pelas atividades do chifre pequeno, conforme
156 descritos nessa visão, não são solucionados no fim dela. A resolução é deixada para
a explicação transmitida pela harmonia do capítulo 8 com passagens paralelas em
outras profecias de Daniel.
A dimensão vertical dessas relações apocalípticas pode ser apresentada como
se segue:
engrandeceu-se
157
O chifre pequeno e o que fez
“por terra” prosperou
da aliança e que olham para seu propiciatório. Essa é a espécie de imagem que é
trazida à mente pela referência aos dois “santos” em Daniel 8:13.
Resumindo, o uso aqui dos animais sacrificais como símbolos, a referência aos
quatro chifres, a menção de tāmîd e santuário, o uso das tardes e manhãs como
uma unidade de tempo e as referências aos dois anjos como “santos”, tudo enfa-
tiza a conexão dessa profecia com o santuário celestial. O capítulo 8 é, acima de
tudo, uma profecia a respeito do santuário e a relação entre ele e dois poderes: o
Príncipe e o chifre pequeno.
Resolução
Até aqui nossa atenção foi dirigida principalmente para o conteúdo da visão
do capítulo 8 (v. 2-12). Agora deve ser dada alguma consideração à resolução do
problema proposto na visão. Antes que ela desaparecesse da vista do profeta, a
visão concluiu com uma cena final mostrando o chifre pequeno ainda praticando
seus enganos e prosperando. Todavia, ele seria detido, como explicou o anjo-intér-
prete: “Mas será quebrado sem esforço de mãos humanas” (8:25).
Mais detalhes acerca do processo que daria fim ao chifre pequeno é revelado
no diálogo entre os dois anjos descrito em 8:13-14. No final do período de tempo
ali mencionado (os 2.300 dias proféticos e simbólicos), o santuário deveria ser
nisdaq (hebraico, 8:14b). Esse verbo passivo (na forma Niphal) vem da raiz sādaq,
“ser direito, justo.” A extensão semântica dessa raiz é bastante ampla. Consequen-
temente, o exato matiz de significado pretendido aqui é um tanto difícil de deter-
minar. Várias traduções têm sido sugeridas: (1) “restaurado”, (2) “purificado”, (3)
“justificado”, (4) “vindicado”, (5) “[emergir] vitorioso”.
Poder-se-ia encontrar muitos, senão todos, desses matizes de significado con-
firmando a raiz no Antigo Testamento. Além disso, todos eles se ajustam relativa-
mente bem à situação descrita no capítulo 8. A palavra que inclui a maioria desses
outros significados é provavelmente o termo “restaurado”.
A tradução que é escolhida para uso aqui deveria se referir, ao menos em par-
te, à obra do chifre pequeno contra o santuário. Isso não significa que o seu ata-
que é o único assunto ao qual nisdaq (“restaurado”) está se referindo. Permanece
o fato de que a verdadeira obra no santuário celestial transcende todo e qualquer
efeito negativo que o chifre tem sobre ele. Os paralelismos do capítulo 7 focalizam
o Filho do Homem e os santos do Altíssimo, bem como o chifre.
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8:25
162
Estudos sobre Daniel
Localização da
Texto Objeto Sacrifical Ação de rûm
Ação Final
2:9 porção da oferta de manjares “tomará” queimada sobre o altar
4:8 gordura da expiação sacerdotal pelo pecado “tirará” queimada sobre o altar
4:10 gordura do sacrifício pacífico “se tiram” queimada sobre o altar
4:19 gordura da oferta pelo pecado de “tirará” queimada sobre o altar
qualquer pessoa
6:10 cinzas do holocausto “levantará” posta ao lado do altar
6:15 porção da oferta de manjares “tomará” queimada sobre o altar
Localização da
Texto Objeto Sacrifical Ação de sûr
Ação Final
1:16 porção do holocausto “tirará” lançada junto ao altar
3:4 porção de oferta pacífica “tira-los-á” queimada sobre o altar
3:9 porção de oferta pacífica “tirará” queimada sobre o altar
3:10 porção de oferta pacífica “tira-los-á” queimada sobre o altar
3:15 porção de oferta pacífica “tira-los-á” queimada sobre o altar
4:9 porção de oferta sacerdotal pelo pecado “tira-los-á” queimada sobre o altar
4:31 gordura da oferta pelo pecado de “tirará” queimada sobre o altar
qualquer pessoa
4:35 gordura da oferta pelo pecado de “tirará” queimada sobre o altar
qualquer pessoa
7:4 porções de oferta pela culpa “se tirará” queimadas sobre o altar
A partir dessa lista de comparações fica evidente que as duas palavras transmi-
tem o mesmo significado quando usadas para descrever a manipulação das partes
das ofertas sacrificais. Embora rûm e sûr não sejam sinônimas, existe essa área de
superposição entre elas. Essas ações centralizam-se em torno do altar sobre o qual
as partes desses animais sacrificais eram queimadas. 165
Sûr pode ser usada desse modo; pode ser usada para descrever o simples ato físi-
co de tirar objetos ordinários. Pode ser também usada (ao menos em 17 ocorrências
do Antigo Testamento) para descrever o ato específico de tirar objetos ilegítimos de
culto, tais como altares idólatras e lugares altos. Ocorre muito comumente nessa
última conexão para descrever as reformas efetuadas pelos bons reis de Judá.
Entre elas estão as reformas levadas a cabo por Asa (2Cr 14:3, 5), Josafá (2Cr
17:6), Ezequias (2Cr 30:14, 22; 32:12, Is 36:7), Manassés (2Cr 33:15), e Josias (2
Rs 23:19; 2Cr 34:33). Às vezes se refere ao fato de que essas instalações de culto
não eram removidas quando deveriam ter sido (1Rs 22:43; 2Rs 14:4; 2Cr 15:17;
20:33). Somente um exemplo aparece em referência a tal ação no reino do Norte
(Os 2:17). O contraste aqui pode ter sido especialmente com o verdadeiro templo
em Jerusalém.
Nesses exemplos o verbo sûr parece ter tido um significado ampliado que não
era usado para rûm. O último nunca é usado para transmitir a ideia de tirar ou
remover objetos cultuais de apostasia. Quando usado, porém, para descrever fun-
ções aprovadas por Deus no sistema sacrifical levítico, seus significados parecem
ser praticamente idênticos.
Também é interessante notar as localizações desses verbos nas descrições sa-
crificais. Eles comumente entram na última seção das descrições. Por exemplo,
Assim, todo o sistema sacrifical está envolvido nas ações que esses verbos des-
crevem. Não estão limitados apenas ao holocausto. Todos os principais tipos de
sacrifícios enumerados em Levítico 1–7 são parte do sistema “diário” e, portanto
estão incluídos dentro desse escopo. Tudo isso (a realidade ou antítipo dos símbo-
los) o chifre pequeno tenta tirar do Príncipe celestial no capítulo 8.
Agora podemos comparar o uso dos verbos rûm e sûr em Levítico com suas
ocorrências nos contextos cultuais de Daniel. Há três dessas referências: uma no
capítulo 8, uma no capítulo 11, e uma no capítulo 12. O verbo rûm é usado com o
primeiro desses três casos e o verbo sûr ocorre nos outros dois exemplos. As duas
últimas ocorrências aparecem em passagens que são paralelas à primeira e explica-
tivas dela. O uso desses verbos diretamente relacionados interliga essas conexões
ainda mais firmemente. Essas ocorrências podem ser enumeradas com suas com-
parações em Levítico como segue:
Daniel
Passagem Objeto Sujeito Verbo Ação
8:11 o tāmîd o chifre pequeno rûm “tirou”
11:31 o tāmîd o rei do norte sûr “tirarão”
o tāmîd (os dois acima combinados) sûr “tirado”
12:11
Levítico
Passagem Objeto Sujeito Verbo Ação
6 passagens Porções de 5 Sacerdote rûm “tomará”
2:9ss. tipos de sacrifício
Para fins práticos coloquei o verbo passivo no ativo em 8:11 na lista dada
acima. Dessas comparações cultuais parece evidente de onde esse tipo de termino- 167
logia derivou para seu uso em Daniel. Tais comparações também indicam os tipos
de conexões com os rituais do santuário que o uso desses verbos conota.
As comparações também explicam por que o significado de rûm em 8:11 não é
tão incomum como parece a princípio (quando comparado com o significado de sua
raiz). Esse é um uso específico de um significado extenso do verbo. Dessa forma, ele
serviu como um termo técnico para as funções cultuais trazidas à tona na profecia.
Portanto, é completamente apropriado usar o verbo (no sentido de “tirar”) no capí-
tulo 8, onde o santuário e suas funções estão em debate. Essas conexões enfatizam
novamente quão fundamental é o santuário na profecia de Daniel 8.
Comparação de Daniel 7 e 8
Daniel 7 Daniel 8
em 7:9-10. Esses dois elementos estão em posições paralelas nas duas profecias para-
lelas. Em um caso é mostrado ao profeta um evento – o juízo pré-advento (cap. 7); no
outro é-lhe dito algo sobre ele – a purificação/restauração do santuário (cap. 8).
Agora surge a pergunta: Há outros vínculos corroborativos entre esses dois ele-
mentos paralelos? Sugerimos mais três maneiras pelas quais eles podem ser com-
parados: (1) do ponto de vista do contexto linguístico, (2) do ponto de vista dos
elementos fenomenológicos, e (3) do ponto de vista das pessoas presentes neles.
dúzia de vezes no aramaico bíblico. Todas, exceto uma (Esdras 7:24), estão no
livro de Daniel. O verbo ocorre seis vezes na narrativa do capítulo 3. Quatro vezes
(hebraico, imperfeitos) é usada no sentido de que se alguém não se curvasse diante
da imagem de ouro, seria “lançado” na fornalha ardente (3:6, 11, 15, 20). As duas
outras ocorrências nessa narrativa (hebraico, perfeitos) fazem alusão aos três dig-
nos hebreus que “tinham sido lançados” naquela fornalha (3:21, 24).
As próximas quatro ocorrências estão no capítulo 6, onde descrevem como
Daniel veio a ser “lançado” na cova dos leões. As duas primeiras aparecem na for-
ma imperfeita e se referem à futura possibilidade de que os violadores do decreto
do rei sobre a proibição da oração fossem lançados na cova dos leões (6:7, 12). A
próxima ocorrência é um perfeito se referindo à ação de lançar Daniel naquela
cova (6:16). A ocorrência final (também um perfeito) se refere ao lançamento dos
servos ímpios do rei aos leões (6:24).
O significado evidente desse verbo em dez ocorrências no livro de Daniel
sugere que sua décima primeira ocorrência em 7:9 deveria ser traduzida com o
mesmo significado de “lançar, arremessar, jogar, atirar”. Pode ser descrito como
um “perfeito profético” porque sua forma perfeita ou completa é usada para des-
crever um evento futuro como se já tivesse acontecido (a única ocorrência desse
verbo no sentido de “impor” imposto ou tributo [Esdras 7:24] não ajuda a elucidar
170 o significado dessa ocorrência. O significado exclusivo presente nas utilizações de
Daniel tem precedência sobre considerações externas.)
Rāmāh I, o verbo cognato no hebraico bíblico, ocorre poucas vezes (Êx 15:1,
21, Jr 4:29; Sl 78:9), mas quando aparece transmite o significado de “lançar, ar-
remessar, atirar”. Assim, essa consideração de uma evidência cognata transmite a
mesma conclusão à qual já se chegou do aramaico de Daniel. Esse verbo, portan-
to, deve ser traduzido com o significado de “lançar, abaixar” em 7:9.
Há outros verbos aramaicos – com cognatos hebraicos – que os escritores
bíblicos poderiam ter usado para indicar a colocação de tronos. Por exemplo, em
2 Samuel 3:10 o verbo hebraico qûm é usado para o estabelecimento do trono de
Davi. O mesmo verbo é usado frequentemente no aramaico de Daniel. Ocorre
duas vezes no capítulo 2 – referindo-se ao estabelecimento dos reinos terrestres (v.
21, 44). Aparece nove vezes no capítulo 3 – descrevendo o levantamento da grande
imagem (v. 1-3, 5, 7, 12, 14, 18). No capítulo 4 é aplicado aos governantes a quem
Deus tem posto sobre reinos (v. 17). Finalmente, aparece duas vezes no capítulo 6
para descrever o estabelecimento de oficiais sobre a província persa de Babilônia
(v. 1, 3). Esse teria sido um verbo apropriado para descrever a colocação de tronos
em 7:9, mas não foi escolhido.
A mesma coisa pode ser dita para o verbo hebraico e aramaico śîm “pôr, estabe-
lecer, colocar”. Esse verbo é usado duas vezes no hebraico de Jeremias para se referir
ao ato de pôr ou estabelecer tronos (43:10; 49:38). O mesmo verbo ocorre no ara-
maico de Daniel (6:14). Portanto, é evidente que o nosso autor estava familiarizado
com esse verbo que teria sido apropriado, mas ele não o usou também em 7:9. Uma
vez que o escritor usou especificamente o verbo remā’, “lançar, arremessar, atirar”,
especial e incomum, deve ter havido alguma razão específica para tal procedimento.
Deve tratar-se de algum conceito ou conexão especial que ele desejou expressar.
O motivo não é imediatamente evidente do contexto da cena do tribunal
celestial em 7:9-14. Nem é prontamente evidente do contexto do capítulo 7. Por
outro lado, no capítulo 8 algo da terminologia usada para descrever a atividade do
chifre pequeno naquela visão está intimamente relacionado com a ideia expressa
por esse verbo especial em 7:9. A dimensão vertical da obra do chifre pequeno é
introduzida no capítulo 8, que o retrata chegando até o Céu. Dali, ele primeiro
lançou por terra algumas das estrelas ou santos de Deus (v.10).
O verbo no versículo 10 é nāpal, “cair”. Esse verbo não está diretamente
relacionado com remā’ em 7:9 como está a noção verbal que aparece a seguir na
passagem e que lida com o efeito simbólico do chifre pequeno sobre o santuário
celestial. Quando o texto chega a esse ponto (v. 11-12), destaca que “o lugar do
seu (do Príncipe) santuário foi deitado abaixo”. O verbo usado para esse ato
de atirar ou lançar por terra é šālak. A mesma ideia é reforçada pela declaração
conclusiva de que “a verdade (acerca do santuário e seu ministério) foi lançada 171
(šālak) por terra”.
Nesses exemplos um equivalente semântico um tanto direto pode ser encon-
trado para o verbo remā’ em 7:9. O verbo šālak usado em 8:12 descreve o mesmo
tipo de ação que faz remā’ na passagem anterior – lançar ou deitar por terra. Mas
essas duas ações são executadas por poderes diferentes. No capítulo 8 é o chifre
pequeno que deita abaixo, e é o lugar do santuário que ele simbolicamente lança
por terra. Por outro lado, no capítulo 7 os agentes do Ancião de dias efetuam o
lançar. Nesse último caso é o trono de Deus que é descido ou baixado para que
Ele possa assentar-se a fim de começar o seu juízo.
Uma das ações desse juízo (mas não a única) é julgar o chifre pequeno. Além
disso, o chifre pequeno deve ser julgado pelos feitos terrestres simbolizados por
sua ação de deitar abaixo o lugar do santuário celestial. Em outras palavras, o
trono de Deus no santuário celestial é “lançado por terra” quando chega o tempo
de julgar o chifre pequeno, que anteriormente havia “deitado abaixo” o lugar
daquele mesmo santuário. Donde uma ação de deitar abaixo resulta em outra
ação de deitar abaixo. Essa conexão ideológica pode prover uma explicação para
o motivo pela qual um verbo incomum foi escolhido para expressar essa ação em
7:9. Ele resolveu o problema proposto por uma ação semelhante e expressa de
uma maneira relacionada em 8:12.
A relação pode ser expressa em termos mais específicos quando se olha para o
que foi lançado por terra em 8:12. Não foi o santuário em si que foi ali deitado por
terra. Antes, foi o “lugar” (hebraico, mākŏn) do santuário que foi deitado abaixo.
Como esse lugar servia o santuário celestial?
Há duas possibilidades: (1) que esse mākôn servia todo o santuário celestial,
ou (2) que ele servia especificamente como o lugar para o trono de Deus naquele
santuário. O apoio para qualquer um desses dois pontos de vista pode ser encon-
trado em outras passagens do Antigo Testamento.
A palavra hebraica comum usada na Bíblia para indicar “lugar” é māqôm.
Ocorre cerca de 400 vezes. Mas o termo usado em 8:12 é mākôn, palavra que deriva
da raiz kûn, “fundar, erigir, estabelecer”. A forma substantiva dessa raiz aparece 16
vezes fora de Daniel. Em 15 exemplos ela está ligada ou com o santuário terrestre
ou com o santuário celestial como a habitação de Deus (Salmo 104:5 é a única
exceção; ali o termo designa os fundamentos da terra).
Dois terços das ocorrências são aplicados ao santuário celestial, e o restante
é aplicado ao santuário terrestre. Em essência, portanto, essa palavra é usada
no Antigo Testamento como uma palavra para santuário. Refere-se ao santuário
como o lugar da habitação de Deus, a localização do seu trono e o lugar a partir
de onde Ele age. As atividades divinas descritas desse modo são especificamente
172 as de responder à oração e administrar justiça e retidão por meio da dádiva do
julgamento ou da sentença.
Com respeito ao santuário, o termo mākôn é usado em dois sentidos gerais.
Por um lado, há aqueles exemplos onde ele claramente se refere a todo o lugar
sobre o qual repousava o santuário. Por exemplo, Esdras 2:68 tem em vista todo o
fundamento sob o santuário terrestre, uma vez que é uma referência à reconstru-
ção do templo. O monte Sião está incluído na referência aos fundamentos que são
abrangidos em Isaías 4:5. Isso indica que a base para toda a cidade de Jerusalém
está relatada ali. Nesse exemplo, a futura cidade, purificada e santa, deveria fun-
cionar como o tabernáculo no deserto, pois a coluna de nuvem estaria sobre ela.
A referência aos fundamentos da terra em Salmo 104:5 é um caso semelhante a
esse porque se refere aos fundamentos debaixo de toda a terra.
Por outro lado, a palavra às vezes se refere mais especificamente ao lugar do
trono de Deus. Os Salmos 89:14 e 97:2 são um exemplo disso em suas declarações
idênticas de que “justiça e juízo são o fundamento de seu trono”. Salmo 33:14 che-
ga muito perto desse tipo de linguagem quando se refere ao lugar onde Deus está
entronizado. Isaías 18:4 é um tanto semelhante (porém mais geral) ao se referir ao
lugar de onde Deus olha e age.
Entre esses dois pólos de utilização há outros exemplos em que o mākôn do
santuário envolvido é deixado em limites de referência mais gerais. Dada a nature-
za geral dessas declarações, pode ser que todo o santuário esteja sendo menciona-
do nesses exemplos. Êxodo 15:17 e 1 Reis 8:13 se referem a todo o santuário caso
o paralelismo presente nestas passagens seja de natureza sinônima. Se, porém,
esse paralelismo poético for sintético, a segunda linha estará se referindo direta-
mente ao fundamento do trono de Deus. Dada a menção do Céu com as tríplices
referências idênticas ao mākôn em 1 Reis 8:39, 43, 49 e 2 Crônicas 6:30, 33, 39
(“Céu lugar da tua habitação”), essas declarações provavelmente se referem a todo
o santuário celestial, embora esta conclusão não seja inteiramente certa.
Tendo em vista seu uso, é evidente que mākôn pode se referir ao lugar de todo
o santuário, ou mais especificamente ao lugar sobre o qual repousa o trono de
Deus. Por qual desses dois significados deve a palavra ser interpretada em 8:12?
Não parece haver informação suficiente apenas nessa passagem ou em seu contex-
to imediato para responder com exatidão a essa pergunta.
Quando essa passagem é comparada com o capítulo 7, outra sugestão pode ser
dada acerca do possível significado pretendido no capítulo 8. Se era o fundamento
específico do trono de Deus que foi deitado abaixo em 8:12, o abaixamento do
trono de Deus na cena do tribunal celestial em 7:9-10 requer uma restauração ali.
O trono de um monarca terrestre geralmente é colocado sobre uma plataforma
erguida ou dossel na sala do trono do palácio.
Daniel 7:9-10 transmite um quadro similar. O trono de Deus que foi “abaixa- 173
do” ou estabelecido nessa cena do juízo naturalmente seria estabelecido sobre tal
dossel. O exército celestial reunido para o juízo congrega-se diante daquele trono
sobre seu dossel. A plataforma ou dossel aqui subentendido (em 7:9-10) natural-
mente teria sido identificado como o mākôn para aquele trono.
O paralelo, portanto, é que no capítulo 8 o profeta viu o mākôn simbolica-
mente “lançado” por terra. Por outro lado, no capítulo 7 o profeta viu o mākôn
literal “restaurado”, por assim dizer, à sua posição natural no santuário celestial.
Então o trono de Deus foi lançado sobre aquele mākôn. Em um caso, foi o mākôn
do santuário ou trono de Deus que foi “deitado abaixo”, ao passo que no outro
exemplo, o trono de Deus foi lançado sobre seu mākôn a fim de começar o juízo
descrito nessa cena.
Há um outro elo linguístico (porém, indireto) entre essas duas cenas em 7:9-10
e 8:11-12. Isso tem a ver com o uso do verbo aramaico remā’(“lançar, atirar”) em
7:9 e rûm em 8:11. O verbo rûm foi discutido longamente acima como o verbo que
descreve a ação de “tirar” o tāmîd em 8:11. É interessante notar a íntima relação
entre remā’ e rûm em termos de sua fonologia ou som.
“R” e “M” são as duas principais consoantes com que ambas as raízes verbais
são construídas. Embora venham de raízes diferentes com significados diferentes,
são verbos de sons muito similares. É possível que tenham sido escolhidos para
descrever suas respectivas ações nessas duas cenas relacionadas por causa de sua si-
milaridade de som. Assim remā’ em 7:9 pode estar relacionado com šālak em 8:12
porque seu significado é essencialmente o mesmo – “deitar abaixo” ou “lançar por
terra”. E pode estar relacionado com rûm em 8:11 porque seu som é similar àquela
construção fonológica do verbo.
santuário celestial para efetuar um juízo. Também pode ser vista uma conexão
entre a coluna de nuvem sobre o santuário terrestre durante o dia e a “coluna” de
nuvem que circunda o Filho do Homem quando Ele aparece nessa mesma sala
de audiência celestial. As manifestações físicas da presença divina originalmente
empregadas em relação ao santuário terrestre agora são manifestadas mais uma vez
no tempo do fim no santuário celestial, quando esse juízo é efetuado.
A visão desses fenômenos pelo profeta em 7:9-14 sugere que podem estar re-
lacionados com os mesmos fenômenos que aconteciam no momento dos rituais
da tarde e da manhã do santuário terrestre. O uso de tardes-manhãs como uni-
dades de tempo em 8:14 bem pode basear-se em sua relação com esses mesmos
fenômenos e sua conexão com o santuário. Se essa relação foi corretamente veri-
ficada, o período de tempo representado pelas 2.300 tardes-manhãs deve apontar
o caminho para a manifestação profetizada desses fenômenos na cena do juízo do
santuário celestial mostrada ao profeta em 7:9-14.
retrata o Filho do Homem como o grande soberano cujo reinado sobre os santos
do Altíssimo será universal e eterno. Isso seguirá a destruição do chifre peque-
no. Sendo que os chifres pequenos do capítulo 7 e 8 representam o mesmo po-
der, o domínio final do Filho do Homem (cap. 7) deve vir depois do domínio
preliminar do Príncipe (cap. 8).
Portanto, se nos afigura haver duas fases do mesmo tipo de domínio repre-
sentadas nessas profecias paralelas e relacionadas. Embora seja possível para
Deus governar sobre seu povo por meio de um personagem celestial em uma
era, e por meio de outro personagem celestial em outra era, é mais provável que
esses dois personagens representem a mesma pessoa. Sua descrição no capítulo
8 enfatiza assim uma fase do seu domínio, enquanto a descrição no capítulo 7
enfatiza outra fase. Há um bom motivo para identificar esses dois personagens
dessas profecias paralelas com base em que eles servem em funções semelhantes
e relacionadas.
Se, porém, olharmos apenas para o aspecto do domínio nessas duas profe-
cias, omitiremos a dimensão da obra do Príncipe que é adicionada no capítulo
8, sua obra como sacerdote. De fato, a visão do capítulo 8 coloca mais ênfase
sobre sua obra como sacerdote do que sobre sua função como soberano. É o
tāmîd do ministério do Príncipe que o chifre pequeno procura tirar e falsificar.
176 É o lugar do seu santuário que o chifre pequeno simbolicamente lança por ter-
ra. É a verdade sobre Ele, seu ministério e seu santuário que o chifre pequeno
deita por terra e espezinha.
Embora parte da luta entre o chifre pequeno e o Príncipe no capítulo envol-
va o exército de suas estrelas – os santos –, a maior parte dele trata da obra do
Príncipe no santuário pelo seu povo. Por que o santuário é tão importante? A
razão evidente para sua importância tem a ver com o que ocorre nele.
É no santuário (por meio do seu ministério) que o Príncipe está trabalhan-
do pela salvação do povo. Isto é o que o chifre pequeno tenta tirar e controlar,
desviando desse modo a atenção do povo do verdadeiro plano da salvação. Mas
o verdadeiro plano da salvação, conforme executado pelo Príncipe, prevalece-
rá no final. A salvação do povo será efetuada. Assim, tal aspecto da obra do
Príncipe no capítulo 8 explica como o Filho do homem vem a ter seus súditos
no capítulo 7. Primeiro Ele opera sua salvação como Sumo Sacerdote (cap. 8),
então Ele vem para governar sobre eles no eterno reino de Deus (cap. 7).
Essa é a diferença na ênfase sobre sua obra nesses dois capítulos. No capí-
tulo 8, Ele serve principalmente como sacerdote; no capítulo 7 Ele serve final-
mente como rei. Sendo que as obras de Deus em favor do seu povo (conforme
descritas nesses dois capítulos) estão diretamente relacionadas como causa e
efeito, o indivíduo em quem essas obras estão centralizadas deve ser também
177
das “tardes e manhãs” (8:26, RSV). É a essa porção que Gabriel se refere no capítulo
9 quando diz a Daniel: “considera, pois, a coisa e entende a mar’eh (‘visão’)”.
4. O significado da raiz do verbo hebraico traduzido por “determinadas” ou
“decretadas” em nossas Bíblias comuns em 9:24 é “cortadas”. Esse é o seu original
e concreto significado. Os termos abstratos “decretar” e “determinar” são nuanças
posteriormente derivadas que se desenvolveram um milênio depois do tempo de
Daniel. O hebraico mishnaico (hebraico tardio) indica que a palavra era usada
mais comumente com o sentido de “cortar” do que com os significados deriva-
dos. As ligações próximas dessas duas visões argumentam fortemente em favor do
ponto de vista de que as 70 semanas devem ser compreendidas como cortadas do
período de tempo mais longo dos 2.300 dias, provendo, desse modo, os pontos de
partida para ambos os períodos.
Como visto anteriormente, a profecia do capítulo 9 focaliza o Messias: seu
aparecimento, sua rejeição e morte, e o efeito da última sobre a aliança e o sistema
sacrifical. Teologicamente, a profecia pode ser vista como apresentando sua morte
como expiação da iniquidade, o que resulta na justiça eterna. Finalmente, a profe-
cia olha além da morte expiatória do Messias para a unção do santuário celestial e
o seu ministério sacerdotal dos méritos de sua morte expiatória.
Comparando as visões dos capítulos 7–9 pode-se observar que seus períodos de
tempo variam em extensão: curto (cap. 9), intermediário (cap. 8), extenso (cap. 7). 179
Também deve ser notado que sua sequência (em termos de eventos) está invertida
(um modelo comum do pensamento hebraico que raciocina de efeito para causa).
O capítulo 9 ressalta a morte do Messias; o capítulo 8 revela o seu ministério
sacerdotal no santuário celestial e o ataque do chifre pequeno numa tentativa de
interrompê-lo ou desvirtuá-lo; o capítulo 7 olha além desse ponto para a recepção
do reino eterno pelo Messias. Assim, no capítulo 9 Ele é retratado como sacrifício
sob o título de “Messias, o Príncipe”. No capítulo 8 Ele é descrito como sacerdote
sob o título de “Príncipe do exército”. No capítulo 7 Ele é representado como rei
sob o título de “Filho do Homem”. Na visão dos capítulos 11–12 Ele é designado
como “Miguel, o grande príncipe” que representa o seu povo e intervém em seu
favor. Em nossa maneira de pensar ocidental – e nos reais cumprimentos históricos
– os eventos do capítulo 9 deveriam (e o fizeram) vir primeiro, então os do capítulo
8, seguidos por sua vez pelo juízo final e o recebimento do reino no capítulo 7.
Daniel 9:24-27 pode ser demonstrado como uma passagem composta de duas
estruturas literárias cuidadosamente trabalhadas, cujos elementos estão arranjados
de tal forma como para enfatizar a morte expiatória do Messias e o seu resultado
em prover a justiça eterna.
Três importantes passagens na visão dos capítulos 11–12 relacionam-se com
as visões anteriores dos capítulos 7–9 (11:22 com 9:25-27; 11:31 com 8:11-13;
11:33-34 com 7:25 e 12:7). Essas passagens interligadas provêem outra evidência
da unidade interna do livro.
Finalmente, o escritor chama a atenção para a dupla estrutura literária quiásti-
ca do livro. Os capítulos 1–7 (a porção aramaica do livro) formam um quiasmo en-
quanto que os capítulos 8–12 (a porção hebraica) formam outro. Estes interligam
história e profecia. Os elementos cuidadosamente equilibrados do livro como uma
peça literária, o entrelaçamento por meio de seus temas comuns – especialmente o
central, que cria um rico retrato do Messias – claramente indicam a unidade do li-
vro de Daniel e apontam para sua única autoria pelo profeta do sexto século a.C.
Esboço da seção
ria da lacuna não é compatível com várias das interpretações de Daniel sugeridas
abaixo. Mas esse assunto não é o enfoque do nosso estudo aqui.
Nosso propósito nesta discussão introdutória é notar que há duas opiniões
principais sobre as quais se centraliza a profecia do capítulo 9: Antíoco Epifânio
no segundo século a.C., e eventos na Palestina sob governo dos romanos no pri-
meiro século d.C.
Sendo que a segunda opinião é adotada por este volume, algumas falhas da
opinião alternativa podem ser mencionadas de passagem. Restringimos nossas
observações aos três pontos principais, embora outras críticas possam ser suscita-
das. São os seguintes: (1) seu problema com os períodos de tempo proféticos, (2)
seu problema com o destino de Jerusalém, e (3) seu problema com os títulos das
pessoas presentes nessa profecia.
1. O problema com o período de tempo profético do capítulo 9 (70 sema-
nas) é simples, mas é importante. Mesmo se alguém iniciar esse período de tempo
no começo do sexto século a.C. (cerca de 593 a.C.), como fazem os preteristas, é
impossível comprimir os 490 anos das 70 semanas proféticas dentro do período
compreendido entre essa data e o tempo de Antíoco Epifânio (175-164 a.C.). Um
mínimo de 490 anos nos leva além de Antíoco por mais de um século e meio. Os
interpretes mais imparciais dessa escola de interpretação têm admitido essa dificul-
dade, mas ela ainda não os dissuadiu de aderir a essa interpretação. Se as unidades 181
de tempo dessa profecia datam seus principais eventos muito além da morte de
Antíoco Epifânio, parece pouco razoável vê-lo como participante nesses eventos.
2. A profecia fala de várias coisas que aconteceriam a Jerusalém em algum tem-
po depois da sua restauração. Ela viria ao seu fim (hebraico, qēs); seria destruída
(hebraico, šāhat); e seria desolada (hebraico, šāmēm). Antíoco Epifânio, porém,
não fez nenhuma dessas coisas a Jerusalém ou ao seu templo. Ele profanou o tem-
plo e interrompeu seus rituais, mas não há nenhuma evidência histórica de que
ele causou qualquer dano arquitetônico significativo ao templo ou à cidade.
Entretanto, a combinação dessas três palavras fortemente expressa uma des-
truição antecipada da cidade e do templo. Isso é o que os romanos fizeram a
Jerusalém e ao seu templo, mas não Antíoco. O cumprimento dessas declarações
proféticas deveria, portanto, estar ligado aos romanos em vez de a Antíoco.
3. Uma terceira objeção à opinião preterista do capítulo 9 tem a ver com o uso
e a identidade dos títulos “Messias” [ou Ungido] e “Príncipe”. Os termos ocorrem
no texto duas vezes cada: primeiro juntos, então uma vez cada separadamente (v.
25-26). No esquema preterista esses títulos são distribuídos a três diferentes indi-
víduos: Ciro ou Zorobabel, Onias III e Antíoco Epifânio.
Antes, porém, de alguém interpretar esses títulos historicamente, seu uso no
texto deveria ser examinado. Quando isso é feito, torna-se evidente que foi empre-
gado o seguinte modelo:
Nesse exemplo uma expressão par (“Messias” e “Príncipe”) foi separada, e cada
metade do par foi distribuída às sucessivas declarações da profecia. Sendo que as
palavras usadas separadamente foram usadas primeiro juntas como um par, o mo-
delo apóia a ideia de que todas as três referências deveriam ser aplicadas ao mesmo
indivíduo, quem quer que tenha sido.
Quando comparada com esse modelo estrutural literário, a tríplice identifica-
ção preterista não se ajusta ao texto e deve ser descartada. A opinião que se ajusta
melhor ao modelo literário é aquela que aplica esse título nas três referências a Jesus
Cristo como o Messias dos tempos romanos no final do período das 70 semanas.
Resumindo, podemos afirmar que a interpretação de Antíoco no capítulo 9
carece de adequadas explicações exegéticas e históricas a fim de tornar essa inter-
pretação plausível. Os períodos de tempo se estendem além dos tempos de Antí-
oco. Ele não destruiu Jerusalém e o seu templo. E, finalmente, os títulos pessoais
dados na profecia também não se ajustam a ele.
Como está explicado no estudo mais detalhado de Daniel 8, no volume 3 da
182 Série Santuário e Profecias Apocalípticas, esses fatores se adaptam muito melhor
com o cumprimento em termos de Jesus de Nazaré como o Messias predito a vir
nos tempos romanos do primeiro século d.C. O equilíbrio do presente estudo
sobre o capítulo 9 fundamenta-se desta conclusão.
Cronologia
1. As 70 semanas como anos sabáticos. As datas históricas para os eventos que
cumpriram essa profecia são discutidas com algum detalhamento no estudo exegé-
tico do volume 3, conforme mencionado acima. As datas ali determinadas são 457
a.C. para o início das 70 semanas, 27 d.C. para o início da setuagésima semana, e
34 d.C. para o final da setuagésima semana. Nenhuma nova informação histórica
sobre essas datas está disponível, porém mais informação sobre as unidades de
tempo que elas medem tem vindo à tona.
No estudo exegético do capítulo 9 é mostrado que várias linhas diferentes de
evidência linguística convergem para indicar que a palavra šābû‘a (usada para as
unidades de tempo nessa profecia) deve ser traduzida como “semanas”, em vez de
“setes”. A partir dessa conclusão pode-se ainda perguntar: Que espécie de semanas
se tem aqui em vista? A palavra para “semana” pode ser usada em dois sentidos
diferentes. (1) Ela pode medir uma unidade de sete dias sucessivos, não importa
o dia em que eles começam (por exemplo, de terça a segunda). Ou (2) a palavra
pode ser usada para referir-se especificamente às semanas sabáticas que começam
no domingo e terminam no sábado. Essas podem ser mencionadas como semanas
não-sabáticas e sabáticas respectivamente.
A pergunta é: Deveriam as 70 semanas simbólicas do tempo profético de Daniel
ser interpretadas nos termos do modelo das semanas sabáticas ou não-sabáticas?
Caso se tenha em vista semanas não-sabáticas, essas unidades de tempo simples-
mente se referem coletivamente a um período global de 490 anos. Por outro lado,
se são pretendidas semanas sabáticas, esse período de 490 anos sucessivos deve ser
divisível por períodos de ano sabático ou ciclos de sete anos cada (veja Lv 25:1-7).
O texto em si não dá nenhuma indicação explícita sobre que tipo de semana
se tinha em vista. Nesse exemplo, a melhor maneira de responder à nossa pergun-
ta é aplicar um teste pragmático e examinar as datas da profecia para ver se os seus
cumprimentos se ajustam aos conhecidos anos sabáticos.
Recentemente, fontes extra-bíblicas nos têm provido a informação que agora
torna possível datar os anos sabáticos do período pós-exílico – o sétimo ano em
uma unidade de sete (Lv 25:1-7).15 Veja Nota de fim deste capítulo para um resu-
mo e uma análise dessas fontes. Pode agora ser demonstrado que as datas de 457
a.C., 27 d.C. e 34 d.C. (datas para eventos básicos da profecia do capítulo 9) foram
anos sabáticos. Assim, a resposta à nossa pergunta inicial é que as “semanas” da
profecia do capítulo 9 se referem especificamente a semanas sabáticas que, por sua 183
vez, envolvem anos sabáticos.
A teologia por trás dos anos sabáticos pode, portanto, adicionar algum sig-
nificado aos eventos profetizados no capítulo 9. Em anos sabáticos, os escravos
deveriam ser libertados e a terra deveria ser revertida aos proprietários originais.
Tal conexão pode ser vista com os eventos de 457 a.C., no início das 70 semanas.
Naquela ocasião, mais exilados retornaram do seu cativeiro babilônio e voltaram
para a terra à qual eles e suas famílias originalmente pertenciam.
Outro exemplo disso pode ser encontrado em conexão com a ocasião em que
Jesus leu Isaías 61 na sinagoga de Nazaré (Lucas 4:16, 21). O evento assume maior
significado quando se leva em conta que Jesus leu esse texto alusivo ao ano sabáti-
co em um ano sabático – 27 d.C. –, e o aplicou a si mesmo no início do seu minis-
tério. Assim fazendo, Ele anunciou-se a si mesmo como o Grande Libertador dos
judeus e de toda a raça humana. Não foi por acaso que Ele fez tal anúncio nessa
ocasião. Dada sua conexão com Levítico, Isaías e Daniel, isso parece ter sido feito
nessa ocasião por desígnio divino.
2. A conexão entre os períodos de tempo de Daniel 8 e 9. Publiquei anterior-
mente um estudo mais detalhado sobre o assunto da relação entre as 70 semanas
do capítulo 9 e os 2.300 dias do capítulo 8.16 Apenas um breve resumo de alguns
pontos desse estudo anterior será mencionado aqui. Há vários pontos de contato
entre os períodos de tempo dessas duas profecias que as ligam de tal maneira a su-
gerir que o ponto de partida dado na segunda deve também ser empregado como
o ponto de partida da primeira.
A. Distribuição do elemento tempo. A localização costumeira para os ele-
mentos de tempo nas profecias de Daniel está próxima do final. De sorte que os
2.300 dias em 8:14 ocorrem no fim daquela visão. Os três anos e meio de 7:25
ocorrem em torno do fim da interpretação dada ali. As tríplices declarações sobre
tempo em 12:7, 11-12 ocorrem no final dessa profecia.
A profecia do capítulo 9 é singular nesse sentido. Nesse exemplo, a profecia
começa com um período de tempo, e os elementos de tempo estão distribuídos
por todo ele. Em termos de estrutura literária, esse arranjo justapõe as 70 semanas
(no início da profecia do capítulo 9) sobre os 2.300 dias (no final da profecia na
visão do capítulo 9). Essa justaposição literária sugere que esses elementos de tem-
po devem ser vistos como diretamente relacionados uns com os outros.
B. Começando no período persa. As 70 semanas começam no período per-
sa. Foi um rei persa quem deu o decreto para reconstruir Jerusalém, o ponto de
partida dessa profecia de tempo. Em outro lugar, discuti os motivos por que o
período de tempo dos 2.300 dias dado em 8:14 começou no período persa.17 Isso
significa que o período de tempo do capítulo 8 começou em um ponto indefinido
184 no período persa, enquanto que o período de tempo do capítulo 9 se iniciou em
um ponto específico da mesma era persa. Dadas essas relações, a data específica
do último prontamente pode ser vista como suprindo a especificidade exigida pela
data mais geral do primeiro.
C. Terminologia profética técnica. Quando Gabriel veio a Daniel ele o instruiu
a “compreender a palavra [que eu agora te trago] e entender a visão [que tu viste an-
teriormente]” (9:23, minha trad.). Aqui Gabriel remeteu Daniel à profecia anterior
(cap. 8), mas fez isso de um modo muito específico. A palavra hebraica traduzida
por “visão” nesse exemplo é mar’eh. Esse termo contrasta com o hebraico hāzôn, a
palavra mais comumente usada em Daniel para visões simbólicas. O significado da
diferença entre essas duas palavras foi discutido em um estudo anterior.18
A distinção entre essas duas palavras é mantida em 8:26, onde Gabriel assegu-
ra a Daniel que a mar’eh das tardes e manhãs “é verdadeira”, mas ele foi instruído
a “selar a visão (hāzôn)”. A primeira referência é quanto ao aparecimento de dois
personagens angélicos que discutiam o período de tempo das tardes e manhãs
nos versículos 13-14. A segunda referência é quanto ao que Daniel viu até aquele
ponto – a visão simbólica dos versículos 2-12.
Gabriel, portanto, não remeteu Daniel à visão em geral. Antes, ele o remeteu
especificamente à mar’eh dos dois seres angélicos e sua conversação sobre a pu-
rificação/restauração do santuário no final dos 2.300 dias (8:13-14). Sendo que
tem de estar com o verbo. Esse sujeito adicional pode ser ou “coisas, possessões”
ou “povo”. Se o primeiro está correto, isso seria uma referência à pobreza do Mes-
sias quando Ele morreu. Isso foi verdade quanto a Jesus, porém Deus está mais
interessado em pessoas do que em possessões.
Sendo que a palavra para “povo” ocorre na frase seguinte da profecia, torna-
se aqui um sujeito melhor compreendido. Nesse caso, a frase pode ser traduzida
como “ninguém estará por Ele”. Na medida em que essa declaração ocorre em co-
nexão com sua morte, significaria que Ele seria rejeitado em um sentido especial
ao morrer. Essa foi certamente a experiência de Jesus sobre a cruz.
Ele faria firme aliança com muitos por uma semana (v. 27). Jesus é conheci-
do no Novo Testamento como o fundador da nova aliança (Marcos 14:24). Ele foi
também o cumprimento da provisão profética da antiga aliança para o Messias
vindouro (Dt 18:18). Essa declaração profética se refere à última semana da an-
tiga aliança ou à primeira semana da nova aliança? A cronologia aqui envolvida
sugere a primeira.
A setuagésima e última semana da profecia deve ser datada de 27 d.C. a 34
d.C. Jesus iniciou o seu ministério no começo dessa semana, e não morreu até “a
metade da semana”. Ele fundou a nova aliança em seu próprio sangue quando
morreu. O uso do verbo “fortalecer” (gābar) subentende que essa aliança já existia.
A setuagésima semana também está em continuidade com as outras 69 que a pre- 187
cederam. Assim, vários fatores sugerem que a semana mencionada na passagem
foi a última semana da antiga aliança, não a primeira semana da nova aliança. Esse
foi o período final de provação estendido ao Israel nacional (cf. Rm 15:8).
Ele teria um impacto sobre o sistema sacrifical (v. 27). No meio da setuagésima
semana profética, isto é, no tempo histórico quando Jesus morreu, o Messias “faria
cessar o sacrifício [animal] e a oferta [de manjares]”. Isso não aconteceu fisicamente
senão 40 anos depois da morte de Jesus. Com sua morte, porém, Ele esvaziou todo
o sistema sacrifical de qualquer outro significado teológico. Aquilo para o qual
todo o sistema apontava encontrou o seu antítipo – Jesus Cristo. Deus demonstrou
esse fato enfática e sobrenaturalmente quando fez o véu do templo rasgar-se de alto
abaixo no exato momento em que Jesus morreu na cruz (Mt 27:51).
Voltemos agora para as obras mais gerais que seriam realizadas por Deus por
meio do seu Messias, conforme subentendido no versículo 24:
Ele expiaria a iniquidade (v. 24). O texto não declara explicitamente como ou
por quem a expiação seria feita. Contudo, isso pode ser inferido por um processo
de eliminação e correlação. Ou seja, podemos eliminar os sacrifícios do templo
como tendo uma função no cumprimento disso, uma vez que se diz que eles ces-
sariam (9:27). Por outro lado, podemos correlacionar a morte do Messias como
o evento central no restante da profecia com o testemunho do Novo Testamento.
Desse modo, as estendem até ao tempo de um anticristo final. O capítulo 8 pode ser
uma exceção parcial pelo fato de o anticristo final ser encontrado ali em tipo.
Quando interpretadas segundo a escola historicista de pensamento, eu sugiro
que essas três profecias sucessivas sejam vistas com extensões diversas. As relações
envolvidas podem ser diagramadas como a seguir:
Foi sugerido anteriormente que há uma relação direta entre o Príncipe que
governa sobre seus santos a partir do santuário celestial de um modo preliminar
(cap. 8) e o Filho do Homem a quem é outorgado o governo final sobre eles em
seu domínio eterno (cap. 7). Não somente estão eles ligados por meio dessas fases
de domínio preliminar e final, mas também podem ser identificados como reali-
zando obras relacionadas em favor desse povo. A obra sacerdotal que o Príncipe
leva adiante no capítulo 8 explica como os santos vieram a ser recebidos no reino
governado pelo Filho do Homem no capítulo 7. Assim, há bases textuais definidas
para identificar essas duas figuras como representando o mesmo indivíduo.
Roma (1ª fase) Roma (2ª fase) tempo do fim fim do tempo
4.° animal, 7:9a chifre pequeno, 7:9b Depois de 3½ tempos Fim da cena do tribunal
chifre pequeno, 8:9 chifre pequeno, 8:10-12 7:25-26
Daniel_OFICIAL.indd 194
assolador, 9:27 Fim dos 2300 dias
8:13-14
194
Estudos sobre Daniel
Historicamente, essa predição foi cumprida quando Jesus Cristo, rejeitado por
seu próprio povo e abandonado por seus seguidores, foi executado no Calvário.
A profecia salienta a “solidão” que Ele experimentou em sua misteriosa morte
(“ninguém será por ele”). Portanto, no próprio ápice da estrutura literária dessa
profecia, o Messias está sozinho em sua morte.
A sorte do povo é descrita em um ou outro lado do ápice. Antes desse tempo
houve uma edificação do povo, sua nação e sua capital. Todavia, em seguida à
sua morte e a rejeição, haveria uma dissolução de tudo isso. A cidade e o santu-
ário que havia nela deveriam ser destruídos pelo assolador que havia de vir (os
romanos). Assim, os vínculos temáticos entre a primeira metade dessa passagem
e a segunda metade, que segue à sua morte, podem ser resumidos nas palavras
“construção” e “destruição”.
Resta-nos agora ligar o quiasmo do versículo 24 com o quiasmo dos versículos
25-27. Eles podem ser sobrepostos um ao outro, por assim dizer. Desse modo,
pode ser visto que da mesma forma que a morte do Messias ocorre no centro do
quiasmo nos versículos 25-27, assim o significado teológico de sua morte é expli-
cado no centro do quiasmo no versículo 24. Foi a sua morte, como bem sabemos
do Novo Testamento, que fez expiação por toda a iniquidade e trouxe, por meio
disso, justiça eterna. Assim, a estrutura literária sugere uma relação entre o evento
198 central descrito na segunda seção da profecia – a morte do Messias (v. 26) – e a
realização teológica central descrita na primeira seção – expiação/justiça (v. 24).
2. Os futuristas comumente continuam com Antíoco III até o versículo 20. Eles
então vêem Antíoco IV Epifânio entrando em cena no versículo 21. Ele permanece
sendo o foco da atenção até o versículo 35. No versículo 36, a transição é feita –
com uma lacuna de 2.000 anos – até o grande anticristo do fim dos tempos.
3. Os preteristas concordam com a transição de Antíoco III para Antíoco IV
nos versículos 20-21, mas retêm o último como o foco de atenção até o fim do
capítulo. Para os preteristas, essa passagem é simplesmente história descrita como
profecia por um escritor do segundo século a.C. Sendo que os versículos 40-45
nunca foram cumpridos por eventos no reinado de Antíoco IV, eles são conside-
rados como profecias do próprio autor que jamais ocorreram.
Não é nossa finalidade prover uma interpretação detalhada de todas as decla-
rações sucessivas dessa profecia. Nosso intento é simplesmente ressaltar algumas
relações linguísticas preeminentes entre essa profecia e as anteriores no livro de
Daniel. Isso proverá evidência adicional para a interpretação do capítulo 11 e dos
capítulos 7–9.
1. Vínculos linguísticos entre os capítulos 9 e 11. A primeira dessas co-
nexões envolve a relação entre 11:22 e 9:25-27. Segundo 11:22, “o rei do norte”
deveria quebrantar o príncipe da aliança. A palavra usada para “príncipe” nesse
versículo não é a palavra comum (šar) empregada em outro lugar no hebraico de
Daniel. Em vez disso, é a palavra nāgîd. Nāgîd ocorre em apenas outra passagem 199
de Daniel – em 9:25-27. Ali, menciona-se um nāgîd-príncipe que faria uma firme
aliança com muitos.
O nāgîd-príncipe em 9:25-27 não somente faria uma firme aliança, mas tam-
bém seria morto (v. 26). Sendo que um nāgîd-príncipe da aliança seria também
quebrantado em 11:22, essas duas figuras (mencionadas com a mesma fraseologia
em ambas as passagens) devem ser identificadas como o mesmo indivíduo. Em
nossa discussão anterior do capítulo 9, identificamos esse príncipe como Jesus
Cristo, o Messias. Portanto, Ele deveria também ser identificado como o príncipe
em 11:22. O rei do norte que o quebrantaria, portanto, deve ser identificado
como Roma imperial. Isso provê um vínculo específico entre os capítulos 9 e 11,
no versículo 22 do último.
2. Vínculos linguísticos entre os capítulos 8 e 11. A conexão mais específica
entre os capítulos 8 e 11 ocorre na retirada do tāmîd ou “diário, contínuo”, e
no estabelecimento da abominação da desolação. Isso é mencionado em 11:31.
A fraseologia usada é essencialmente equivalente àquela encontrada em 8:11-13.
Essas passagens deveriam ser interpretadas como se referindo às mesmas ações do
mesmo poder, ao mesmo tempo. No capítulo 8, esse poder foi identificado como
a segunda fase ou fase religiosa de Roma, assim ele deveria ser identificado similar-
mente a essa altura em 11:31. Isso provê um vínculo específico entre os capítulos
8 e 11, no versículo 31 do último.
Notamos antes que as visões dos caps. 7–9 foram apresentadas na ordem in-
versa, movendo-se de julgamento final/reino (7) para uma luta sobre o santuário
celestial e seu ministério (8), para a data da expiação do Messias (9). O capítulo 11
agora alinha essas visões e retrata os eventos na correta ordem histórica e cronoló-
gica. Isso confirma o ponto de vista de que a ordem inversa era intencional.
201
10 operam em um nível mais corporativo. Daniel sentiu que o tempo havia chegado
para o retorno do exilado povo de Deus. Sendo que isso não tinha acontecido, ele
sentiu a responsabilidade de interceder com Deus em favor do seu povo (cap. 9). Seu
luto e jejum no capítulo 10 enquanto Gabriel e Miguel lutavam com o(s) rei(s) da
Pérsia no terceiro ano de Ciro, mais provavelmente tinham a ver com a suspensão da
construção do templo de Jerusalém devido à oposição (cf. Esdras 4:1-4).
Duas profecias acerca de dois monarcas neobabilônios aparecem no centro do
quiasmo na primeira metade do livro (caps. 4, 5). A segunda metade do livro não
traz narrativas completas de uma natureza semelhante, mas traz algumas declara-
ções proféticas acerca das obras de monarcas individuais ou poderes estrangeiros.
Foi a obra de um monarca persa individual que enviou Esdras e Neemias de volta
a Jerusalém para começar e concluir sua reconstrução. A obra de destruir a cidade
de Jerusalém em 70 d.C. foi a obra de um específico general romano e César. Des-
se modo, esses elementos relacionados ainda se equilibram uns com os outros em
suas respectivas seções do livro.
A despeito das várias semelhanças entre as estruturas quiásticas encontradas
na primeira e segunda metades de Daniel, uma notável diferença se destaca. Não
há nenhum topo na pirâmide literária quiástica da primeira metade do livro. Con-
tudo, há um topo ou ápice no quiasmo da segunda metade. O primeiro quiasmo é
composto de um número regular de equilíbrio – três pares deles. O segundo quias- 203
mo é formado por um número irregular de elementos. Isto lhe fornece um ápice
ou bloco central. Desse modo, a estrutura literária da segunda metade do livro
concentra-se no Messias, especialmente sobre sua morte e rejeição pelo povo.
Sendo que um dos principais propósitos das estruturas quiásticas é o de enfa-
tizar seus elementos centrais, constata-se aqui uma ênfase preeminente em termos
da estrutura literária do livro. “Elevando-se sobre os destroços do tempo”, erguido
entre o céu e a terra, encontra-se o Messias, morrendo sozinho e rejeitado, mas
provendo expiação e justiça eterna naquela morte solitária. Este é o monte Eve-
rest, o cume literário do livro de Daniel, e aqui encontramos a Jesus Cristo como
o Messias sofredor e moribundo.
Tem sido dito ocasionalmente que o livro de Apocalipse bem poderia ser cha-
mado o Livro do Cordeiro, por causa da frequência com que esta designação ocor-
re nele. Como um paralelo a esse livro, o livro de Daniel poderia ser intitulado
o livro do Príncipe. Primeiro, o encontramos como um ser de semelhança divina
no contexto de 3:25. Então, a título de contraste, o encontramos como um ser de
semelhança humana no contexto celestial de 7:13-14.
Em seguida, Ele é o Príncipe do exército empenhado em uma luta sobre o
santuário celestial e o seu ministério no capítulo 8. No capítulo 9, Ele aparece no
ápice da estrutura literária da segunda metade do livro como o Príncipe da alian-
ça, o Príncipe dos sofredores. No capítulo 10, Ele é Miguel que luta com os antigos
reis da Pérsia sobre o destino do seu povo. Mais uma vez, e pela última vez, Ele
se envolverá em tal luta, quando se levantar para assumir o domínio e soberania
sobre o eterno reino de Deus, segundo os capítulos 12 e 7.
Conclusão
Nota final
no Egito, 332/331 a.C. Por ocasião dessa visita, o sumo sacerdote em Jerusalém
solicitou de Alexandre que os judeus fossem isentados do tributo a cada ano sabá-
tico. Alexandre concordou. Esse texto não declara que a visita ocorreu em um ano
sabático. Contudo, seu ajuste cronológico com o ano registrado abaixo, adiciona
significado ao motivo para essa solicitação, sendo que aquelas correlações indicam
que um ano sabático teve início no outono de 331 a.C.
3. I Macabeus 6:49-53; Josefo, Antiguidades, XII, 378. Esses textos falam do
cerco e da conquista de Betsur e o cerco de Jerusalém por Antíoco V. Os supri-
mentos para os judeus eram escassos porque esse ataque ocorreu durante um ano
sabático, quando não havia colheitas para ceifar. Josefo e 1 Macabeus 6:20 datam
esses eventos no centésimo-quinquagésimo ano da era selêucida. A despeito de
algumas dificuldades cronológicas com a data, esse ano sabático pode ser equacio-
nado com aquele que começou no outono de 163 a.C.
4. 1 Macabeus 16:14-21; Josefo, Antiguidades, XIII, 228-235. Aqui Josefo
fala do cerco de João Hircano a Ptolomeu em sua fortaleza Dagon. Ptolomeu esca-
pou porque um ano sabático se aproximava. Macabeus data esses eventos no ano
selêucida cento e setenta e sete, que assim equipara esse ano sabático com aquele
que começou no outono de 135 a.C.
5. Josefo, Antiguidades, XIV, 465-491. Aqui Josefo se refere a um ano sabá-
tico que começou enquanto Jerusalém estava sendo cercada por Herodes e o ge- 205
neral romano Sósio. Sendo que esse ataque ocorreu em 37 a.C., esse ano sabático
pode ser tomado como aquele que começou no outono desse ano.
6. Mishnah Sotah 7:8. Esse texto conta a história de como Herodes Agripa
I se levantou para ler uma passagem de Deuteronômio em um ritual durante
a Festa dos Tabernáculos celebrada em um ano em seguida a um ano sabático.
Esse festival pode ser datado no outono de 42 d.C., donde o ano sabático que
havia terminado deve ter sido aquele que se estendeu do outono de 41 d.C. ao
outono de 42 d.C.
7. Papiro Wadi Murabba‛at n.° 18. Esse documento relata um contrato em
que um mutuário prometeu restituir 20 dinares de prata. Ele recebeu esse emprés-
timo em um ano sabático datado no segundo ano de Nero ou 55/56 d.C.
8. Seder Olam Rabbah 30, 74a-75a. Esse texto declara que o templo foi des-
truído no nono dia de Ab em um pós-ano sabático. Tomado em sentido literal,
seria em 69/70 esse pós-ano sabático em que o templo foi destruído. O ano sa-
bático precedente, portanto, teria sido 68/69. Esse ano sabático está em seu ciclo
um ano antes daqueles discutidos acima.
Contudo, a exatidão dessa declaração pode ser questionada, sendo que algumas
outras declarações claramente errôneas aparecem na mesma passagem. Essa data
parece ter estado relacionada com um esquema rabínico de cronologia. É também
possível que calendários conflitantes pudessem estar envolvidos aqui. Além disso,
outra declaração rabínica parece exigir a datação da destruição do templo em um
ano sabático (Abodah Zarah 9b). Embora esses vários fatores suscitem uma dúvida
sobre a validade dessa data, a diferença de um ano não é grande, e a presente dúvi-
da sobre a exatidão da declaração pode ser deixada em aberto.
9. Papiro Wadi Murabba‛at n.° 24. Os fragmentos desse texto constituem
um documento que originalmente mencionava o aluguel de uma extensão de ter-
ra por cinco anos. Esse contrato começou no ano dois da revolta de Bar Kochba
e o seu período de cinco anos devia levar o arrendatário até à véspera de um ano
sabático. Essa revolta irrompeu na primavera ou no verão de 132 d.C. O segundo
ano a partir disso, o ano em que esse contrato foi escrito, deveria então ser o ano
de outono a outono de 134 d.C. Acrescentando-se cinco anos a isto, chega-se em
138/139. A expiração desse quinto e último ano se estende, como declara o con-
trato, à véspera do ano sabático – aquele que começou no outono de 139 d.C.
10. Inscrições tumulares do Ghor. Três inscrições tumulares judaicas foram
descobertas na região ao longo da costa sudeste do Mar Morto, que datam do
quarto e quinto séculos d.C. As inscrições sobre essas lápides contêm dados. Os
dados ligam seus anos com ciclos sabáticos e com o número de anos transcorridos
desde a destruição do templo.
206 As pedras datam até o terceiro, primeiro, e sétimo anos de ciclos sabáticos e fo-
ram inscritas 300, 364 e 435 anos, respectivamente, desde a destruição do templo.
Há algumas inconsistências entre essas datas, mas a segunda delas, que equipara
364 anos da destruição do templo com o ano um de um ciclo sabático, data esse
ano em 434/435 d.C. O ano sabático com que se encerrou o ciclo anterior foi
portanto 433/434 d.C. Essa data é consistente com as datas registradas acima para
anos sabáticos em outros ciclos.
Os dados compilados acima das dez fontes registradas que fornecem referências
datáveis para anos sabáticos indicam que os anos sabáticos mencionados nessas
fontes podem ser datados dos anos a.C. 443/442, 331/330, 163/162, 135/134,
37/36, e dos anos d.C. 41/42, 55/56, 69/70, 139/140 e 433/434. Essas datas são
coerentes entre si. Elas podem ser esboçadas em um gráfico e, assim, as datas para
os outros anos sabáticos entre elas podem ser inferidas. Isso nos provê uma tabela
completa de datas para os anos sabáticos posteriores ao exílio.
Notas
W. H. Shea, “The Qinah Structure of the Book of Lamentations”, Bib 60 (1979): 103-7.
1
Id. “An Unrecognized Vassal King of Babylon in the Early Achaemenid Period”, AUSS 10
(1972): 88-117, 147-78. Este material é resumido em Id., “Darius the Mede: An Update”,
AUSS 20 (1982): 229-47.
4
Esse esquema é tirado de A. Ferch, The Son of Man in Daniel Seven, Andrews University
Doctoral Dissertation Series, vol. 6 (Berrien Springs, MI, 1983), p. 136.
5
Para uma das descrições das características da profecia apocalíptica, veja K. Strand,
Perspectives in the Book of Revelation (Worthington, OH, 1975), p. 41-43.
6
Ferch, p. 192.
7
G. F. Hasel, “The Identity of ‘The Saints of the Most High’ in Daniel 7”, Bib 56
(1975): 173-92.
8
Para a aplicação do princípio dia-ano do tempo das profecias na apocalíptica veja W.
H. Shea, Estudos Selecionados em Interpretação Profética, Série Santuário e Profecias Apocalíp-
ticas, vol. 1 (Unaspress, SP, 2007), capítulo 3.
9
Para a igreja em Roma como uma agência envolvida nessa transferência veja S. Bac-
chiocchi, An Examination of the Biblical and Patristic Texts of the First Four Centuries to Ascertain
the Time and Causes of the Origino f Sunday as the Lord´s Day (Roma: Editora da Pontifícia
Universidade Gregoriana, 1975); e Id., From Sabbath to Sunday (Roma: Editora da Pontifícia
Universidade Gregoriana, 1977).
10
Para a fase especificamente religiosa da ação do chifre pequeno, veja o debate sobre
Daniel 8:11-12 em meu estudo, “Dimensões Espaciais na Visão de Daniel 8”, capítulo 9
neste volume.
11
W. H. Shea, Estudos Selecionados em Interpretação Profética, Série Santuário e Profecias
Apocalípticas, vol. 1 (Unaspress, SP, 2007), cap. 2. 207
12
Veja a referência no. 1.
13
Veja o cap. 10 neste volume, Angel M. Rodríguez, “Significado da Linguagem Cultual
em Daniel 8:9-14.”
14
Veja meu estudo, “A Profecia de Daniel 9”, vol. 3, cap. 3 da Série Santuário e Profe-
cias Apocalípticas.
15
B. Z. Wacholder, “The Calendar of Sabbatical Cycles During the Second Temple and
the Early Rabbinic Period”, HUCA 44 (1973): 153-96.
16
W. H. Shea, “The Relationship Between the Prophecies of Daniel 8 and Daniel 9”,
em The Sanctuary and the Atonement, eds. A. V. Wallenkampf e R. Lesher (Washington, DC,
1981), p. 228-50.
17
W. H. Shea, Estudos Selecionados em Interpretação Profética (Unaspress, 2007), p. 74-76.
18
Shea, “The Relationship Between the Prophecies of Daniel 8 and Daniel 9, p. 241-46.
19
A. Lenglet, “La structure litteraire de Daniel 2-7”, Bib 53 (1972): 169-90.
Daniel. São examinadas sete fontes. Tanto Irineu quanto Orígenes identificam o
chifre pequeno do capítulo 8 com um futuro anticristo.
Hipólito, aluno de Irineu que, posteriormente, serviu como bispo na vizinhança
de Roma durante o início do terceiro século, evidentemente tornou-se uma espécie
de divisor de águas para a interpretação profética. Se ele vivesse hoje, poderia facil-
mente relacionar-se com três das principais escolas de interpretação profética. Foi um
historicista em sua interpretação de Daniel 2 e 7. Por outro lado, foi um futurista em
sua interpretação de Daniel 9, sendo o primeiro expositor conhecido a separar a setu-
agésima semana das 69 precedentes e colocar o seu cumprimento no final da era.
Mas em sua interpretação de Daniel 8 e 11, Hipólito foi um preterista. Ele
identificou o chifre pequeno do capítulo 8 e várias partes do capítulo 11 (de uma
maneira assistemática) com Antíoco Epifânio. Pode-se determinar (comparando
seus comentários com 1 Macabeus) que ele o usou como sua chave para interpre-
tar Daniel 8. Ele é o primeiro comentarista cristão a identificar o chifre pequeno
(cap. 8) com Antíoco Epifânio.
Introdução
Epifânio. Contudo, o propósito deste ensaio não é criticar esses pontos de vista,
mas explorar o desenvolvimento histórico da interpretação que tem aplicado as
figuras proféticas de Daniel a Antíoco e ao seu tempo.
Intérpretes judeus
O primeiro rei é descrito como (1) um homem violento vestido com um man-
to púrpura que viria para dominar a Ásia e destruir (2) sua própria família; “mas
depois de deixar [3] uma raiz, que [4] o Destruidor cortará dentre os dez chifres,
ele produzirá [5] um renovo. Ele [5] abaterá [4] o pai guerreiro da linhagem púrpu-
ra, e ele mesmo [5] às mãos do [6, 7] seu neto perecerá em uma fatalidade seme-
lhante de guerra. E então [8] um chifre parasita terá domínio.”10
Alguns têm identificado esses reis como (1) Antíoco IV Epifânio, (2) Seleuco
IV Filopater, (3) Antíoco V Eupater, (4) Demétrio I Soter, (5) Alexandre Balas, (6)
Demétrio II Nicator, (7) Antíoco VII Sidetes, e (8) Alexandre Zabinas.11
Há considerável desacordo sobre essa passagem, mas ela foi aplicada durante
todo o tempo desde o quarto século a.C. ao segundo século d.C.12 A fim de fazer
esses indivíduos se ajustarem melhor à série, duas das linhas foram emendadas. So-
mente oito reis têm sido identificados em uma série que deveria conter dez. Outro
rei, Antíoco VI Dionísio – foi omitido da série, e o último não subiu ao trono.
Além desses problemas, há uma grande diferença entre a maneira como o
símbolo do chifre é usado nessa passagem e a maneira como ele é usado no ca-
pítulo 7.13 Uma vez que tantas diferenças estão envolvidas, não se pode dizer que
esse texto apoia a ideia de que seu escritor também identificou Antíoco Epifânio
como o chifre pequeno do capítulo 7. O máximo que pode ser dito é que o orácu-
lo parece usar a figura de chifres para representar reis individuais e que esses reis 213
provavelmente são selêucidas.
Uma passagem do quarto oráculo sibilino (datada de cerca de 80 d.C.) registra
cinco reinos mundiais que deveriam dominar sobre o mundo por dez gerações
desde o tempo do Dilúvio (v. 51-104). Os assírios deveriam reinar por seis gera-
ções, os medos por duas, os persas por uma, e os macedônios por uma. Então vêm
os romanos. Este esquema se assemelha apenas num sentido muito geral àquele
do capítulo 2 e do capítulo 7. Não se pode dizer que o autor dessa passagem estava
tentando dar-nos sua interpretação dos quatro metais e dos quatro animais que
são encontrados em Daniel.14
4. 1 Enoque. Esta composição pseudepígrafa foi uma obra de múltipla au-
toria, cujos autores provavelmente escreveram suas diversas seções em várias oca-
siões durante o segundo e o primeiro séculos a.C.15 Sendo que vários assuntos de
Daniel aparecem em 1 Enoque, é interessante considerar que evidência pode ser
extraída dele para a conexão entre Antíoco Epifânio e as profecias de Daniel.
O primeiro aspecto de 1 Enoque que se destaca nessa conexão é a maneira
como a cena do tribunal celestial de 7:9-10 foi empregada. Aparece frequentemen-
te através do livro como uma introdução a vários pronunciamentos proféticos16
que são geralmente de natureza profética futura e nenhum deles parece lidar com
Antíoco Epifânio. Um importante aspecto da função da cena do tribunal no capí-
tulo 7 é o de julgar e dispor do chifre pequeno. Se é que se acreditava que o chifre
1. Helenização do sacerdócio;
2. Perseguição por parte de Antíoco;
3. Rededicação do templo em 165 a.C.;
4. Estabelecimento do sacerdócio hasmoneano em 152 a.C.
Afirmava-se terem passado sete jubileus (cerca de três séculos e meio) até esse
ponto. A partir daqui, o texto faz uma descrição direta do grande sacerdócio mes- 215
siânico por vir. Mais três jubileus de impiedade sacerdotal deveriam transcorrer
até que se chegasse ao fim todo o período das 70 semanas, com o aparecimento do
grande sacerdote messiânico que deveria estabelecer o seu reino.
Sendo que os eventos da sétima semana do sétimo jubileu descritos em Levi
17:11 ocorreram por volta de 150 a.C., o século e meio dos jubileus 8, 9 e 10 deve-
ria ter levado esse período profético a um término em torno do final do primeiro
século a.C. Este parece ter sido o tempo em que o grande sacerdote messiânico era
esperado pelo autor dessa passagem do Testamento de Levi.
As 70 semanas proféticas utilizadas aqui parecem ter sido moldadas segundo as
70 semanas proféticas de Daniel 9:24-27. Historicamente, elas se estendem até ao
período romano na opinião do autor deste texto. Elas não terminam ou culminam
com Antíoco no segundo século a.C. Ele desempenha uma parte nessa profecia,
mas apenas como um marco histórico ao longo do caminho, num momento em
que dois terços do tempo designado já tinham seguido o seu curso. Mais três jubi-
leus (um século e meio das 70 semanas) deveriam se estender além do seu tempo.
6. Qumran. Os comentaristas do Rolo da Guerra comumente concordam
que a primeira parte de sua primeira coluna de texto foi escrita sob a influência
de Daniel 11:40-12:3.20 O contexto dessa introdução à obra literária é a grande
guerra escatológica final. Sem levar em consideração quão pequena ou quão
termina com uma águia simbolizando Roma (11:1-35; 12:1-30) como equivalente
ao quarto animal do capítulo 7 (11:40-41; cf. também 2 Bar 39:3-7).
Embora a passagem exata ou livro das “Sagradas Escrituras” que proveu essas
interpretações divergentes não seja identificado, F. F. Bruce sugeriu que elas pro-
vavelmente foram tiradas de Daniel 9:26, que se refere ao “povo do príncipe que
há de vir destruirá a cidade e o santuário.”40
Independentemente de como interpretaram a segunda metade dessa frase, os
judeus acerca de quem Josefo escreveu parecem ter interpretado a primeira meta-
de dela em termos messiânicos. O próprio Josefo, por outro lado, vê um príncipe
romano presente, e ele identifica esse príncipe como Vespasiano. Mas nenhuma
dessas duas opiniões faz qualquer concessão para um cumprimento dessa profecia
por Antíoco Epifânio.
para postular aqui uma conexão. 1 Macabeus, porém, não vai além desse ponto,
embora uma frase semelhante apareça quatro vezes em Daniel (8:13; 9:27; 11:31;
12:11). Sua forma mais específica aparece somente nas duas últimas passagens.
3. Daniel 9. Para essa profecia somente uma referência foi encontrada para
identificar Antíoco como desempenhando uma parte significativa em seu cum-
primento – a Antiga Versão Grega da LXX. Outras fontes desse período têm uma
opinião diferente do seu cumprimento. Os escritores de Qunram, Josefo, o Testa-
mento de Levi, os rabis que comentaram sobre isso e 1 Enoque (em um sentido
mais geral), todos estenderam as 70 semanas ou dez jubileus do capítulo 9 até ao
seu próprio tempo e além. Essas interpretações deixam pouco espaço para Antí-
oco. Nesse aspecto, a Antiga Versão Grega da LXX se destaca como excepcional.
A frequência de referências a elementos do capítulo 9 faz essa exceção salientar-se
como ainda mais impressionante.
4. Daniel 11. O Rolo da Guerra de Qunram é a única fonte desse período
que se relaciona diretamente com a interpretação do capítulo 11. Ele aplicou a
parte final dessa profecia (v. 40ss.) a uma guerra escatológica final no futuro, e não
a Antíoco no passado.
O padrão, portanto, é que Antíoco não é encontrado em Daniel 2, 7 ou 9 por
intérpretes judeus desse período, com a única exceção da Antiga Versão Grega da
220 LXX, que o encontrou no capítulo 9. A única fonte importante que interpreta o
capítulo 8 achou Antíoco ali, mas com uma interessante dificuldade envolvendo
o período de tempo do texto. O escritor de Macabeus também parece vincular
Antíoco aos capítulos 8 e 11 (1 Macabeus 1:54). Uma fonte que se relaciona com
a interpretação do capítulo 11 foi localizada, mas a presença de Antíoco não foi
percebida na parte daquela profecia utilizada.
Ele sentia que o surgimento do chifre estava ainda no futuro, e que, quando ele
surgisse, exerceria domínio por três anos e meio literais.
3. Irineu. A obra de Irineu Contra as Heresias fornece um retrato bastante
completo de suas opiniões sobre as duas primeiras grandes profecias de Daniel.
Escrita na segunda metade do segundo século d.C. (150-200 d.C.), ele interpretou
o quarto reino dos capítulos 2 e 7 como Roma. Além disso, ele sustentava que
Roma logo deveria ser dividida em dez partes.42 Ele encontrou evidência para essa
futura divisão nos dez dedos do capítulo 2 e nos dez chifres do capítulo 7. O chifre
pequeno ainda estava no futuro, e deveria dominar por três anos e meio literais.
Ele aplicou 8:12 a esse mesmo anticristo ainda futuro.43
4. Tertuliano. Nenhuma interpretação dos reinos mundiais de Daniel apa-
rece entre os escritos conhecidos de Tertuliano (160-240 d.C.), mas uma extensa
exposição de 9:24-27 está presente em sua obra Uma Resposta aos Judeus. Aqui ele
usou as 70 semanas para mostrar aos judeus que eles deveriam ter reconhecido
Jesus Cristo como o Messias da profecia de Daniel.44 Ao tratar das unidades de
tempo dessa profecia, ele inverteu sua ordem localizando as sete semanas depois
das sessenta e duas semanas. Ali, as sete semanas se tornaram o intervalo de tempo
entre Cristo e a destruição de Jerusalém.
Tertuliano procurou dar uma exata cronologia secular para os reis que reina-
221
ram ao longo dos períodos abrangidos por essa profecia, mas sua data para os reis
persas e helenísticos é muito inexata e incompleta. Ele registrou Antíoco Epifânio
entre os reis helenísticos que pertenceram ao período das 62 semanas, mas para
Tertuliano, Antíoco obviamente não desempenhou uma parte muito significativa
no cumprimento dessa profecia.
5. Clemente de Alexandria. Clemente (150?-220? d.C.) lidou com 9:24-27 no
contexto de uma cronologia completa para o antigo Israel e os períodos sucessivos
até aos tempos romanos.45 A grande quantidade de dados cronológicos citados dá
a errônea impressão de que ele pretendia apresentar uma cronologia exata para as
70 semanas. Mas não está claro se Clemente usou essas semanas como simbólicas
de períodos aproximados de tempo ou se ele as compreendia como significando
unidades de sete anos históricos.
Clemente colocou o início das 70 semanas no segundo ano de Dario I Histas-
pes (cf. Esdras 4:24; 5:15), mas ele aplicou a primeira unidade de sete semanas à
construção do templo, não à cidade. Com a conclusão do templo, Cristo começou
a reinar como rei dos judeus. As 62 semanas então se estendiam até ao tempo do
batismo de Cristo. A setuagésima semana parece não ter sido vista como contígua
às 62 porque Clemente a estendeu de Nero (que supostamente teria estabelecido
a Abominação da Desolação) a Vespasiano, que destruiu o templo. Sua cronologia
é exata apenas para esse período final.
antes do tempo de Porfírio. Ele foi discípulo de Irineu e serviu como bispo na vi-
zinhança de Roma durante o início do terceiro século (cerca de 236). Seu papel da
interpretação de Daniel foi importante. Sua exposição desse livro bíblico é a mais
completa do que a de qualquer escritor cristão até sua época.51
Hipólito foi um expositor sistemático das profecias de Daniel, mas seu(s)
sistema(s) de exposição seguiu a interpretação dessas profecias em direções dife-
rentes mais além do que tinham sido seguidas antes. Há uma corrente predomi-
nante em seus escritos que foi chamada no período moderno de interpretação
historicista. Uma forte característica de preterismo também aparece em sua expo-
sição, sendo que ele achava ser Antíoco Epifânio uma importante presença nos
capítulos 8 e 11. Além disso, um forte toque de futurismo está presente em sua in-
terpretação, sendo que ele localizou o cumprimento da maior parte das profecias
de tempo de Daniel (inclusive a setuagésima semana do capítulo 9) até ao fim dos
tempos. Esses três tópicos – o historicismo de Hipólito, bem como seu preterismo
e seu futurismo – serão retomados à medida que sua exposição das sucessivas pro-
fecias de Daniel for examinada.
1. Daniel 2 e 7. Para o lado historicista de sua obra, está claro que ele apon-
tou os reinos dos capítulos 2 e 7 nesta sequência: Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia
e Roma. Ele identificou todos os quatro poderes em detalhes específicos, mais
do que tinha sido feito previamente. Além disso, integrou essas duas linhas da 223
profecia uma com a outra ligando especificamente o ouro, prata, bronze e ferro
do capítulo 2 com o leão, urso, leopardo e animal não descrito do capítulo 7 res-
pectivamente.
Ele disse que o quarto reino, o romano, era o único “que ainda permanece”.52
Ele equacionou os pés e dedos de ferro e barro do capítulo 2 com os dez chifres do
quarto animal do capítulo 7, e os interpretou esses como reinos ainda a surgir. O
chifre pequeno – o anticristo – então crescerá entre eles. Mas Cristo virá do Céu
e trará juízo, e então seu reino de pedra será estabelecido.
2. Daniel 8. Hipólito interrompeu o fluxo do seu comentário sobre Daniel
para inserir uma longa discussão parentética da teoria dos 6.000 anos ou eras mi-
lenares da história terrestre.53 Quando ele retornou ao texto de Daniel, retomou
o capítulo 8 identificando o carneiro como os persas (especialmente Dario) e o
bode como os macedônios (especialmente Alexandre). Em seguida, ele menciona
a divisão do reino de Alexandre em quatro principados. Ele então citou 8:10, que
se refere ao chifre pequeno exaltando-se até ao poder do Céu. Ele identifica essa
figura profética como Antíoco Epifânio. É aqui que o preterismo entra em sua
interpretação de Daniel.
Hipólito segue muito claramente os livros de Macabeus em vários lugares em
que ele apresenta a sua exposição histórica das profecias de Daniel.54 Isto prova ser
verdade também aqui no capítulo 8, quando ele interpreta as atividades do chifre
Hipólito55 1 Macabeus (NEB)
Depois que ele [Antíoco Epifânio] Quando ele estava firmemente esta-
tinha reinado na Síria belecido sobre seu trono
O primeiro ponto importante que pode ser provado aqui é que dado esse nú-
mero de correspondências em ordem entre essas duas fontes, parece muito prová-
vel que Hipólito estivesse seguindo seu caminho através de 1 Macabeus em busca 225
de correspondências históricas para sua exegese das frases sucessivas de 8:10-14. As-
sim, parece provável que ele obteve a ideia de achar Antíoco Epifânio nessa profe-
cia partindo do relato de Macabeus daqueles tempos. Para sua interpretação desse
capítulo de Daniel em particular, sua ideia dominante pode ser traçada diretamen-
te de Macabeus sem passar por quaisquer fontes intermediárias reconhecíveis.
Um segundo ponto de interesse tem a ver com seu modo de tratar o período
de tempo do versículo 14. Onde ele obteve esse número de 1.300 dias? Três prin-
cipais respostas a essa pergunta parecem possíveis: (1) ele o obteve de um manus-
crito bíblico, (2) ele o obteve dos 1.296 dias que Josefo usou para 8:14, ou (3) ele
mesmo fez essa alteração para obter essa variante.
Não há nenhuma testemunha textual para a variante de 1.300 nesse versí-
culo. Assim, é improvável que ele tenha obtido isto de uma tradição manuscrita
variante. Falta evidência para a dependência de Josefo em outra parte, donde é
improvável que dependesse dele aqui. Por outro lado, há considerável evidência
para sua dependência de Macabeus aqui e em outro lugar.
Pelo processo de eliminação, há a probabilidade de que a correção tenha se
originado com o próprio Hipólito. Sendo que ele parece ter alterado o mesmo
número para um número diferente – 1.400 tardes e manhãs – em seu comentário
sobre 12:11 no final do livro,56 suas referências nesse sentido parecem confiáveis o
suficiente por ele ter sido responsável por essa variante também aqui.
Hipólito então volta atrás para tratar da passagem 11:6-8. Comentaristas moder-
nos colocam esses eventos no terceiro século a.C., primeiramente quando Ptolomeu
II dá Berenice em casamento a Antíoco II, e então na vitória militar de Ptolomeu III
sobre Seleuco II. Hipólito, porém, vê o cumprimento desses versículos em um acor-
233
Pensamento de Porfírio sobre Daniel
sempre se ele o identificava com Judas Macabeu.78 A maneira como o pai da Igreja
lançou o seu desafio deve ser observada com atenção.
Ele não disse que Porfírio identificava o Filho do Homem com Judas. Jerôni-
mo apenas disse que se ele o havia feito, teria de explicar como os outros aspectos
dessa passagem poderiam ser aplicados a ele.Não declarou inequivocamente que
essa era a interpretação de Porfírio. Por outro lado, tal interpretação se harmo-
nizaria bem com a interpretação de Porfírio da pedra-reino do capítulo 2 como
sendo os judeus. Esse reino seria visto, conforme descrito aqui, com os santos
do Altíssimo sendo identificados como os macabeus em geral, e Judas Macabeu
como o Filho do Homem, que era seu soberano. As observações de Jerônimo,
porém, não chegam a demonstrar isso claramente.
2. Daniel 11. Também é lamentável que Jerônimo não tenha feito nenhu-
ma menção das opiniões de Porfírio sobre o capítulo 8 ou o capítulo 9 em seu
comentário sobre essas passagens; consequentemente, não sabemos como Porfírio
as interpretava. A título de contraste, Jerônimo nos forneceu uma considerável
soma de informação quanto às opiniões de Porfírio sobre o capítulo 11. De fato,
essa passagem no comentário representa uma importante contribuição para a dis-
cussão das profecias de Daniel nas fontes desse período.
Um aspecto surpreendente de suas interpretações do capítulo 11 é que Jerôni-
mo basicamente concordava com Porfírio sobre a interpretação até o versículo 21. 235
Embora Jerônimo não nos forneça as identificações de Porfírio para cada um dos
reis até esse ponto, um reconhecimento desse acordo baseia-se em uma explícita
declaração que ele faz sobre o versículo 21: “Até este ponto, a ordem histórica foi
seguida e não houve nenhum ponto de divergência entre Porfírio e aqueles que
estão do nosso lado.”79
Antes de nos voltarmos para os pontos divergentes a partir do versículo 21,
devemos recapitular os pontos de concordância que levam até ele. O que é in-
teressante não é meramente a concordância de Jerônimo com Porfírio, mas seu
combinado desacordo com o esquema de Hipólito para o capítulo 11 conforme
observado acima.
Para a presente finalidade, um simples esboço dos reis que Jerônimo identifi-
cou nesses versículos será suficiente. Sendo que Jerônimo declara que ele estava
de acordo com Porfírio, podemos supor que os reis eram também os que Porfírio
encontrou nesses versículos. Além disso, sendo que ele escreveu antes de Jerôni-
mo, é justo dizer que Porfírio foi o primeiro a fazer essas identificações. Jerônimo,
portanto, estava apenas concordando com o trabalho que Porfírio já tinha feito.
Também sabemos que essa era uma nova obra de Porfírio porque o esboço difere
da obra anterior de Hipólito.
Porfírio com mais conexões históricas diretas. Porfírio, contudo, não fez nenhuma
concessão ao futuro anticristo de Hipólito. Ele estendeu Antíoco IV por todo o
caminho até o final do capítulo. Esses foram dois importantes desenvolvimentos
na interpretação de Daniel, ambos ocorrendo no terceiro século d.C.
Do versículo 21 em diante, Jerônimo mudou diretamente para o futuro an-
ticristo, enquanto Porfírio continuou com Antíoco IV. Obviamente, portanto,
houve grandes divergências entre eles pelo restante desse capítulo. Foram esses
desacordos que levaram Jerônimo a dar-nos a evidência para aquelas opiniões de
Porfírio. Jerônimo fez isso no interesse de responder a Porfírio. Podemos usar esse
material de forma diferente a fim de determinar tanto quanto possível acerca das
opiniões de Porfírio sobre o restante do capítulo. Assim, do versículo 21 ao versí-
culo 35 as opiniões de Porfírio podem ser esboçadas como segue:
1. Versículos 21-24
a. “Se levantará” – ascensão de Antíoco IV
b. “forças inundantes” ou “braços quebrados” – derrota de Ptolomeu VI
c. “Príncipe da aliança” – Judas Macabeu ou Antíoco
d. “Usará de engano” – em negociações com os egípcios
e. “Entrará em ricas cidades” – em campanhas no Egito
2. Versículos 25-26, derrota de Ptolomeu VI por Antíoco 237
3. Versículos 27-28, o tratado de paz de Antíoco com Ptolomeu
4. Versículos 28-30
a. Voltando do Egito, Antíoco saqueia o templo
b. Segunda campanha contra o Egito, rechaçado pelos romanos
5. Versículo 30, judeus helenizantes dão as boas-vindas a Antíoco de volta
do Egito
6. Versículo 31, profanação do templo por Antíoco
7. Versículo 32, transigências dos judeus helenizantes
8. Versículo 33, perseguição dos judeus por Antíoco
9. Versículos 34-35, perseguição de Antíoco, ajuda ou socorro de Matatias
238 O “pequeno socorro” dado aqui aos santos perseguidos é o mesmo nas in-
terpretações de Hipólito e Porfírio. Aqui estamos lidando apenas com uma frase
curta em um versículo desse capítulo, e eles interpretam da mesma forma uma
frase tão breve e desfavorável.
A perseguição é a mesma. Para Hipólito, o pequeno socorro que os santos
receberiam foi a liderança dada por Matatias e Judas. Para Porfírio, foi a liderança
dada por Matatias, seguida por Judas e seus irmãos. As referências aos livros dos
Macabeus por ambos os escritores devem ser observadas. Essa foi, incidentalmente,
a única consulta de Porfírio. Não foi a de seu copiador, Jerônimo. Assim, Porfírio
também ecoa Hipólito nesse sentido. As repetições e expansões na obra de Porfírio,
conforme transmitidas a nós por Jerônimo, são exatamente o que alguém poderia
esperar encontrar no caso de dependência literária de Hipólito.
Da estreita convergência entre essas duas interpretações, a maneira semelhan-
te como elas são declaradas e a natureza expansionista da declaração de Porfírio,
parece evidente que Porfírio obteve essa interpretação do comentário de Hipólito.
Essa conclusão também indica que Porfírio deveria estar bem familiarizado com o
restante do comentário de Hipólito.
Voltaremos à relação entre Porfírio e Hipólito depois de concluirmos o esboço
das opiniões de Porfírio sobre os capítulos 11 e 12.
Resumo. Podemos agora resumir a essência da obra de Porfírio. Sendo que 239
um vínculo entre sua obra e a de Hipólito foi proposto acima, e que um vínculo
ainda maior entre elas é proposto abaixo, essas duas obras podem ser comparadas
à medida que são resumidas.
Hipólito aderiu a uma interpretação padrão dos capítulos 2 e 7 que identi-
ficou seus quatro reinos como Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma. Após o
esfacelamento de Roma, surgiria um futuro anticristo e seria destruído quando
Deus estabelecesse o seu reino final.
Porfírio separou-se de Hipólito e de todos os intérpretes judeus e cristãos ante-
riores desses dois capítulos (até onde conhecemos). Devido às observações incom-
pletas de Jerônimo, as opiniões de Porfírio sobre o capítulo 2 não são muito bem
conhecidas, mas é razoável supor que elas se harmonizavam com suas opiniões mais
bem conhecidas sobre o capítulo 7. Aqui, Porfírio viu o terceiro e o quarto animais-
reinos como representando Alexandre e os sucessores de Alexandre, e assim ele
provavelmente identificou os dois primeiros como Babilônia e Medo-Pérsia.
Os dez chifres do quarto animal representavam uma série de reis ímpios das
quatro divisões do império de Alexandre, e o chifre pequeno que surgiu entre eles
representava Antíoco Epifânio. Não estamos bem informados da natureza das opini-
ões de Porfírio sobre o restante desta visão. Parece que ele defendia que Antíoco en-
contraria sua ruína no reino dos macabeus dirigido contra ele por Judas Macabeu.
Porfírio
Fontes de Porfírio
o autor do primeiro comentário completo que ainda existe sobre um livro bíblico
– seu comentário sobre Daniel.91 Seu comentário sobre Daniel ocupa, sem dúvida,
uma posição de honra entre seus comentários bíblicos.92 A estreita correspondência
entre a essência da obra de Porfírio e o ponto de vista oposto expresso apenas uma
geração antes na mesma arena geográfica de discussão filosófica parece ser mais do
que uma coincidência. Pode-se facilmente considerar a obra de Porfírio como uma
tentativa de refutar a obra de Hipólito sobre a interpretação das mesmas profecias.
Como Porfírio atacaria essa opinião particular sobre profecia apresentada em
duas das obras influentes de Hipólito que circulavam em sua cidade e época? O
próprio Hipólito parece ter-lhe provido a ferramenta com que atacar sua posição
sobre os capítulos 2 e 7 apresentando Antíoco Epifânio como o principal cumpri-
mento da maior parte dos capítulos 8 e 11.
Provavelmente, não havia nenhuma diferença significativa entre Porfírio e Hi-
pólito sobre o capítulo 8. Hipólito apontou Antíoco em toda essa profecia desde o
aparecimento do chifre pequeno em diante. No que se refere ao capítulo 11, Porfí-
rio parece ter sido o único responsável pela retificação das principais dificuldades
exegéticas e históricas apresentadas na obra de Hipólito. Aqui, a obra de Hipóli-
to é distintamente inferior, sendo que suas interpretações passaram por cima de
grandes lacunas históricas e inverteu a ordem do texto em alguns lugares.
242 Da presença de Antíoco nos capítulos 8 e 11 como já proposta por Hipólito,
Porfírio parece ter simplesmente continuado sua própria aplicação dessa ideia
derivada até a conclusão final. Ele continuou a aplicação da profecia a Antíoco
no capítulo 11 até o final do capítulo e prosseguiu até o fim de toda essa profecia
no capítulo 12. Tendo argumentado a favor de Antíoco até o fim dos capítulos
8 e 11-12 depois da ruptura do império de Alexandre, Porfírio então parece ter
dado o passo adicional em ler um tipo de interpretação de Antíoco na profecia do
capítulo 7, e provavelmente na do capítulo 2. Com relação ao que ele fez com o
capítulo 9, não temos nenhuma maneira de saber.
Além dessas relações gerais porém hipotéticas, há mais alguma evidência es-
pecífica para ligar diretamente esses dois intérpretes? A informação de Jerônimo
quanto à exegese de Porfírio de 11:34 provê esse elo perdido de uma natureza
precisa e definida entre alguns dos pontos mais excelentes em suas respectivas in-
terpretações. Da discussão anterior até este ponto, parece facilmente evidente que
Porfírio se apropriou da interpretação de Hipólito nesse exemplo.
Sendo que a relação demonstrada aqui se relaciona diretamente com a visão
de Antíoco como um cumprimento das profecias de Daniel, é razoável estimar que
esse elo confirma as relações mais gerais que têm sido propostas acima entre esses
dois intérpretes. Isso provê uma confirmação da identificação da fonte da qual
Porfírio obteve essa ideia mais geral como um todo. Hipólito lançou claramente
Aqui ele tomou emprestada uma frase de Daniel 9:27, mas expandiu o seu perío-
do de tempo da metade de uma semana para uma semana e meia, evidentemente
aplicando isso a todo o reinado de Antíoco, sendo que ele reinou 11 anos.
Além disso, são citadas atividades antijudaicas de Antíoco,99 e então ele re-
torna ao elemento tempo, citando-o como um tempo e uma metade [sic] de Daniel
7:25.100 Apagando dois tempos desse período profético [“um tempo, dois tempos,
e metade de um tempo”], ele pôde fazer o tempo restante e uma metade combinar
com sua expansão de uma semana e meia em 9:27. Para o fim de Antíoco, ele
parafraseou 7:26 de uma forma um tanto livre e citou a natureza de sua morte a
partir de 2 Macabeus 9:5-8 para o seu cumprimento.101
Essa conclusão deixou Afraate com o problema do que fazer com o recebimen-
to do reino pelos santos retratada na última parte do capítulo 7. Isso ele duramen-
te negou aos judeus.102 Deste ponto ele foi para 9:25, de onde citou as 62 semanas
como se estendendo além do tempo de Antíoco até Cristo.103 No entanto, sendo
que os judeus rejeitaram o Salvador quando Ele veio, a inferência é que a Igreja
surgiu para substituí-los como o povo eleito de Deus e, portanto, constituirá o
corpo de santos do Altíssimo que receberão o eterno reino de Deus.104
A fim de chegar à sua interpretação do capítulo 8, Afraate primeiro seguiu os
seus símbolos até ao ponto em que o bode grego derrotou o carneiro persa e lhe
244 quebrou os chifres. Ele datou esse acontecimento no início da era selêucida ou em
312 a.C.105 A essa altura em sua narração do capítulo 8, ele introduziu o quarto
animal do capítulo 7, que identificou como Roma. Esse poder, sustentava ele,
continuaria até o fim: “Porque o animal não será morto até que o Ancião de dias
se assente sobre o trono, e o Filho do homem se aproxime dele, e autoridade lhe
seja dada.”106 Em essência, ele concluiu o capítulo 8 com a conclusão do capítulo
7. Para ele, a presença específica de Antíoco foi notada em conexão com sua inter-
pretação do capítulo 7, não do capítulo 8.
Ao se avaliar a interpretação de Afraate sobre Daniel, o primeiro ponto que
deve ser observado é que ele ainda aderiu ao esboço cristão padronizado para os
quatro reinos dos capítulos 2 e 7. Essas linhas da profecia deveriam concluir com a
destruição de Roma e o estabelecimento do reino de Deus. Nesse sistema, porém,
ele enxertou um novo elemento dando uma aplicação dupla ao quarto animal
do capítulo 7. O outro lado dessa aplicação dupla ele obteve de Porfírio: que isso
representava os sucessores de Alexandre e Antíoco, que saiu dessa linhagem. Essa
espécie de aplicação dupla em Daniel era nova. Jerônimo, que escreveu depois de
Afraate, fez verdadeiras aplicações duplas nos capítulos 8 e 11, mas nunca fez tal
aplicação no capítulo 7.
O próximo ponto importante a ser notado na obra de Afraate é a nova manei-
ra como ele interpretou os dez chifres do capítulo 7. Ele foi o primeiro a propor
sua identificação com monarcas selêucidas sucessivos como agora é comum entre
intérpretes preteristas. Finalmente, deve ser observado o ponto de vista em que
Afraate terminou o capítulo 7. Se o chifre pequeno era Antíoco, a dádiva do reino
aos santos deveria ter se referido aos judeus que viveram ao longo dos eventos
do seu tempo. Contudo, nosso autor rejeita tal conclusão. Em vez disso, Afraate
mudou outra vez de direção para aplicá-la ao recebimento do reino por todos os
santos de Deus, inclusive aqueles da era da Igreja.
2. Efraim Sírio. A informação sobre a interpretação de Daniel por Efraim
Sírio (306-373 d.C.) de Nisibis e Edessa não está tão prontamente disponível ou
tão detalhada como a que temos de Afraate. Ele sustentava que a maior parte dos
sinais proféticos tinha se cumprido e que quando o anticristo aparecesse o Impé-
rio Romano chegaria ao seu fim.107
Ele identificou o chifre pequeno do capítulo 7 como Antíoco, que perseguiu
o povo de Deus,108 e nisso ele parece ter seguido Afraate. Ele deu a 7:13 uma inter-
pretação dupla aplicando-a aos dias dos Macabeus e à consumação final em Cris-
to. Essa mesma consumação ele encontrou em 12:2, onde ele diferia da aplicação
de Porfírio dessa passagem exclusivamente aos macabeus.109
3. Policrônio. Policrônio de Apaméia (374-430 d.C.) foi além de Afraate na
aplicação do esquema porfiriano de Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia I e Grécia II aos
quatro reinos mundiais dos capítulos 2 e 7.110 Ele seguiu Afraate na identificação dos 245
dez chifres do capítulo 7 como os reis selêucidas entre Alexandre e Antíoco. Foi além
de Afraate na identificação dos três chifres arrancados como os egípcios, os judeus e
os persas.111 Também foi além de Efraim Sírio pela interpretação de 12:2 na maneira
figurativa de Porfírio.112 Não foi tão longe como Efraim Sírio na interpretação do
Filho do Homem do capítulo 7, porque ele observou que o anjo não deu mais infor-
mação sobre esse personagem.113 Sobre 9:24-27 ele foi muito cristocêntrico.
Policrônio também lutou com o problema de ajustar os períodos de tempo de
Daniel a Antíoco. Os três tempos e meio de 7:25 ele interpretou como três anos
e um quarto literais.114 Esses ele igualou com os 1.150 dias que tirou de 8:14 divi-
dindo pela metade o período de tempo ali registrado por cada uma de suas tardes
e manhãs.115 Assim, ele parece ter abreviado primeiro o último período e depois o
primeiro período em uma tentativa de combiná-lo. É o primeiro escritor conheci-
do na história da interpretação de Daniel a reduzir à metade os 2.300 dias de 8:14,
uma prática agora comumente seguida por muitos eruditos modernos.
Resumo. Em geral, pode-se dizer que em alguns sentidos as posições adotadas
por Policrônio foram além daquelas de Afraate ou Efraim Sírio, a quem ele acom-
panhou. Embora Policrônio seguisse a linha de tradição deles sobre a interpreta-
ção de Daniel, ele levou suas opiniões – e as de Porfírio, de quem derivaram suas
ideias – a um ponto mais além desse método de interpretação.
Intérpretes não-porfirianos
1. Cipriano. Esse eclesiástico foi um bispo de Cartago (200-258 d.C.) e con-
temporâneo de Hipólito. Ele escreveu com certo detalhe sobre Antíoco Epifânio,
mas não relacionou essa informação com as profecias de Daniel.116 Em vez disso,
ele tirou lições alegóricas da vida dos irmãos de Judas Macabeus. Os quatro impé-
rios mundiais de Daniel não são identificados em seus escritos existentes, mas ele
viu o anticristo como um personagem do futuro.117
2. Lactâncio. Lactâncio (250-330 d.C.) proveu alguns pontos gerais de contato
com as profecias de Daniel, mas não possuímos dele uma relação abrangente des-
sas profecias. De uma maneira apocalíptica ele se referiu à ruptura de Roma e aos
dez reinos que deveriam emergir a partir disso.118 O anticristo deveria então entrar
em ação, mas ele será destruído por Deus quando os santos forem ressuscitados.
Dada essa orientação em torno do futuro, haveria pouco espaço para Antíoco na
246 interpretação profética de Lactâncio.
3. Eusébio. Eusébio de Cesaréia (260-340 d.C.) ocupa uma posição um tanto
curiosa no curso da interpretação apocalíptica desse período. Ele é conhecido por
ter escrito contra as opiniões de Porfírio sobre Daniel, embora essa porção da obra
de Eusébio não tenha sobrevivido.119 Suas expressões anteriores sobre esse assunto
seguem um ponto de vista um tanto tradicional. Em sua obra Prova do Evangelho ele
identificou os quatro reinos mundiais de Daniel como Assíria (Babilônia), Pérsia,
Macedônia e Roma.120 Em seguida a isso, ele viu o reino de Deus estabelecido.
Também relacionou as profecias dos capítulos 2 e 7 diretamente de uma para a
outra. Aplicou 7:9-14 à segunda vinda de Cristo.121 A profecia de 9:24-27 predisse
sua primeira vinda.122
Com a conversão de Constantino e a aceitação pública geral da Igreja, uma
nova explicação aparece na utilização de Eusébio de uma das profecias de Daniel.
Os santos do Altíssimo que recebem o reino segundo 7:18 são interpretados como
os filhos e um sobrinho de Constantino, que foram apontados para partilhar do
poder imperial com ele.123 Sendo que essa passagem ocorre em um discurso apre-
sentado em honra de Constantino, é possível que Eusébio estivesse simplesmente
fazendo um uso homilético dessa frase, embora sua interpretação dela seja declara-
da em termos inequívocos. Embora Eusébio possa ter dado espaço a Constantino
na profecia, ele não é conhecido por ter dado a Antíoco tão favorável tratamento.
ataque contra os filhos de Israel, sendo que eles eram assistidos por anjos. Antíoco
tirou a “oferta contínua” que era comumente sacrificada de manhã e à tarde”.135
Jerônimo chega então à sua interpretação de 8:13-14. Parafraseando e explicando
esse texto ele narra minuciosamente a pergunta do versículo 13: “Um anjo pergunta
a outro anjo por quanto tempo o templo estará sob o juízo de Deus para ser desola-
do sob o domínio de Antíoco, rei da Síria, e até quando a imagem de Júpiter deve
estar no templo de Deus.”136 Para responder quais eventos históricos datados delimi-
tam esse período profético, Jerônimo voltou-se para Josefo e, ainda mais importante,
para os livros de Macabeus. De Macabeus ele tira as datas para esses acontecimentos
e podemos segui-las de perto na fonte original e no uso que ele fez delas.
Primeiro ele notou que Antíoco entrou em Jerusalém e fez “uma devastação
geral”. Isso ele datou no ano 143. Aqui, ele obviamente se refere ao que Antíoco
fez em Jerusalém ao retornar de sua primeira campanha contra o Egito no ano
selêucida 143, de acordo com 1 Macabeus 1:21-24.137
Em seguida, Jerônimo utiliza-se de 1 Macabeus 1:29 e o relaciona com o perí-
odo de tempo profético envolvido. “Os dias se passaram, e depois de dois anos o
rei enviou o misarca para as cidades de Judá” (JB). Ele usará posteriormente essa
figura para expandir o elemento tempo na profecia.
Depois da primeira depredação de Jerusalém em 143, Jerônimo notou que An-
tíoco “voltou outra vez no terceiro ano e colocou a estátua de Júpiter no templo”.138 249
Primeiro Macabeus data esses eventos no ano 145, de sorte que não há dúvida
quanto a que ano se refere a expressão “dois anos” antes em 1:29. Mas Jerônimo
não usou a última data mais explícita aqui em 1:54. Para Jerônimo, o período
de tempo profético total terminou então com a purificação do templo por Judas
Macabeu no 108° ano [sic, 148° ano].
Com base nessas observações cronológicas, Jerônimo então conclui que “Je-
rusalém jazeu desolada por um período de seis anos, e por três [desses] anos o
templo foi profanado; perfazendo um total de dois mil e trezentos dias mais três
meses”.139 Aqui o comentarista tentou expandir o período de tempo precedendo o
período da desolação do templo com os “dois anos” de 1:54, uma má aplicação.
Dessa breve revisão fica evidente que Jerônimo se deparou com uma con-
siderável dificuldade tentando ajustar os 2.300 dias à carreira de Antíoco. Ele
declarou especificamente que a pergunta do anjo no versículo 13 se referia a “por
quanto tempo o templo deveria, pelo juízo de Deus, ser desolado sob o domínio
de Antíoco”.140 Contudo, como ele observou em seu comentário seguinte, isso
durou apenas três anos. A fim de fazer esse período de seis anos responder à
pergunta que ele fez do texto bíblico, acrescentou mais três anos à “devastação”
de Jerusalém. Se, contudo, alguém examina 1 Macabeus 1:21-24, é evidente que
nenhuma devastação de Jerusalém ocorreu então.141
Os comentários sobre esses versículos foram citados em sua ordem no texto. Suas
declarações tornam-se mais e mais firmes contra a opinião de Porfírio. Assim,
quanto mais longe Jerônimo ia nesse capítulo, menos ele era atraído para sua
aplicação helenística, até o momento em que ele chegou à sua seção final e a
rejeitou inteiramente.156
Para as declarações de transição (B), a da primeira passagem dessa seção do
capítulo 11, sobre os versículos 21-14, é ilustrativa daquelas que seguem: “Antíoco
deve ser considerado como um tipo do Anticristo, e aquelas coisas que lhe aconte-
ceram devem ser completamente cumpridas no caso do Anticristo.”157 Declarações
de natureza semelhante aparecem no mínimo em 16 diferentes passagens no co-
mentário sobre essa profecia.158
A fraseologia usada também ilustra essa relação. As palavras para “tipo” ou “ti-
picamente” aparecem no mínimo quatro vezes no comentário sobre esse capítulo,
duas vezes no comentário sobre os versículos 21-24, e uma vez cada nos comentá-
rios sobre os versículos 28-30 e versículo 31. Jerônimo disse que os eventos descritos
nos versículos 28-30 “prefiguravam” e “prenunciavam” as ações correspondentes
do futuro anticristo. Os eventos do versículo 30, disse ele, seriam “cumpridos pelo
anticristo de forma mais ampla”, e aqueles do versículo 31 ocorreram de uma ma-
neira “preliminar” sob Antíoco. Todas essas declarações enfatizam um enfoque
sobre os pontos transicionais em suas respectivas passagens do comentário. 253
Um perfil pode ser traçado para o próprio anticristo (C) da segunda metade da
aplicação dupla dessa profecia por Jerônimo. Ele será um indivíduo judeu que con-
quistará o domínio do mundo derrotando Roma (versículos 21-24). Egito, Líbia e
Etiópia serão incluídos em suas conquistas (versículos 25-29, 40). Ele traçará planos
contra aqueles a quem ele deseja que abandonem a lei e a aliança de Deus (versícu-
los 30, 32-33). Assentar-se-á no templo de Deus, proferirá grandes palavras contra
Deus, e pretenderá ser Deus (versículos 31, 36). Fará uma pretensão de castidade e
concederá grandes dons aos seus soldados (versículos 37-39). Perseguirá os santos e
eles serão livrados somente pela segunda vinda de Cristo (versículos 34-35). Quando
Cristo vier, destruirá também o anticristo e ressuscitará os justos mortos (12:1-3).
Resumo. Da recapitulação precedente dos pontos de vista adotados por Je-
rônimo sobre as profecias dos capítulos 2, 7, 8, 9 e 11, sua obra agora pode ser
sumariada em uma série de proposições que enfatizam sua importância para o
assunto geral examinado neste estudo:
1. Ele reafirmou o esboço histórico dos quatro reinos mundiais e preencheu
esse esboço com detalhes históricos adicionais. Nisso ele concordou com a maio-
ria dos intérpretes judeus e cristãos que o precederam.
2. Ele viu 9:24-27 como uma passagem messiânica e cristocêntrica. Aqui ele tam-
bém concordou com praticamente todos os intérpretes cristãos que o precederam.
Resumo geral
Apêndice
Primeira interpretação de Daniel 8:14 257
Um subtema que foi tratado nessa revisão da literatura primitiva sobre a in-
terpretação de Daniel envolve a maneira como o elemento tempo de 8:14 era
manuseado por aqueles que a aplicavam a Antíoco Epifânio. A gama de opinião
sobre esse ponto é notavelmente variada. Nenhum dos intérpretes que escreveram
sobre isso concordou com algum outro que lidou com ele.
Josefo iniciou esse processo inserindo seus 1.296 dias (adaptado de 12:11) no
lugar onde ocorriam os 2.300 dias. Hipólito corrigiu esse número para 1.300 e
1.400 dias. Jerônimo tratou as datas de 1 Macabeus de tal maneira a formar um
período de cinco anos (derivado delas) estendendo-o para mais de seis anos. Ele
também mencionou “algumas autoridades” que trabalharam com o número de
2.200 em vez de 2.300. Não sabemos o que Porfírio pensava acerca desse período
de tempo, mas ele pode ter sido uma das pessoas a quem Jerônimo se referiu.
Afraate substituiu o tempo em que Antíoco profanou o templo por uma forma
corrigida de um período de tempo tirada de 9:27 em lugar dos 2.300 dias originais
de 8:14. Daniel 9:27 menciona a metade de uma semana, mas Afraate a expandiu
para formar uma semana e meia, que ele então interpretou como dez anos e meio.
Isso ele evidentemente aplicou a toda a extensão do reinado de Antíoco. Com
isso ele combinou um período de tempo corrigido tirado de 7:25. Em vez de três
tempos e meio, ele tirou um tempo e meio dessa passagem a fim de constituir os
mesmos dez anos e meio.
Policrônio dividiu pela metade as 2.300 tardes e manhãs, obtendo 1.150 dias –
ele interpretou o primeiro tempo a primeira como elementos compostos que cons-
tituíam o último. Esta é a abordagem ainda seguida por muitos críticos eruditos
modernos. Com um número diferente para usar em 8:14, Policrônio então seguiu
uma abordagem diferente para o período de tempo de 7:25. A fim de combinar os
três tempos e meio dessa passagem com seus 1.150 dias, ele os interpretou como
três anos e meio ou 1.170 dias.
Temos então neste período meia dúzia de interpretações diferentes do período
de tempo de 8:14, todas elas distintas umas das outras. Duas dessas interpretações
eram baseadas em uma correção de 8:14. Mais duas transpuseram os períodos de
tempo de outras passagens de Daniel a fim de substituir o número original de
8:14. Mais uma dividiu o número pela metade segundo a maneira pela qual se
pensava que suas unidades de tempo deviam ser tratadas. Outro ponto de vista
exigiu adaptar as datas de 1 Macabeus para se ajsutarem à extensão de tempo de
Daniel. Intérpretes que propunham duas dessas opiniões também corrigiram nú-
meros em outra parte de Daniel para fazê-los se ajustar com 8:14.
Esse cenário interpretativo é extraordinariamente diverso, uma diversidade obvia-
258 mente sintomática das dificuldades que esses intérpretes encontraram ao tentar fazer
uma aplicação desse período de tempo a Antíoco Epifânio.
Notas
1
Um representante da geração mais antiga desta escola de pensamento é H. H.
Rowley, Darius the Mede and the Four World Empires in the Book of Daniel (Cardiff, 1935),
p. 93-97.
2
Liderando o caminho na ênfase dessa nova mudança de opinião estava H. L. Gins-
berg, Studies in Daniel, Textos e Estudos do Seminário Teológico Judaico da América, vol.
14 (New York: Jewish Theological Seminary of America, 1948), p. 6-10.
3
O representante aqui é J. F. Walvoord, Daniel: The Key to Prophetic Revelation (Chica-
go, 1971), p. 270ss.
4
Ibid., p. 190, 195-96.
5
Ibid., p. 68ss, 159ss.
6
Padrão neste sentido é The Seventh-day Adventist Bible Commentary 4 (Washington,
D.C., 1955): 771-76, 820-76. Uma obra mais recente escrita a partir do mesmo ponto de
vista é C. M. Maxwell, God Cares (Mountain View, CA, 1981). Embora tenha sido publica-
da por uma editora adventista, Daniel de D. Ford (Nashville, 1978) é excepcional ao tentar
harmonizar todas as três destas principais escolas de interpretação profética por meio de
seu “Princípio Apotelesmático”.
16
As passagens relevantes de 1 Enoque são 14:24; 40:1; 46:1; 47:3; 48:2, 4; 48:1-3;
61:9-13; 69:38-41; 70:14-16; 89:12-13. Essas citações seguem o sistema de versificação de
R. Laurence, The Book of Enoch the Prophet (Edimburgo, 1892), p. 19, 44, 50, 52, 53-54, 66,
74, 88, 91, 140 respectivamente.
17
Milik, p. 48.
18
Ibid.
19
Para o texto grego do Testamento de Levi veja M. de Jonge, Testamenta XII Patriarcha-
rum (Leiden, 1964), p. 20-21; R. H. Charles, The Greek Versions of the Testaments of the Twelve
Patriarchs (Oxford, 1908), p. 58-61. Para uma tradução inglesa veja id., The Testaments of the
Twelve Patriarchs (Londres, 1917), p. 45ss.
20
P. R. Davies, IQM, The War Scroll From Qumran, Biblica et Orientalia, no. 32 (Roma,
1977), p. 14, 59, 81, 116.
21
Davies vê uma divisão na estrutura literária do Rolo da Guerra com as colunas II-IX
originadas de uma compilação feita no período dos hasmoneus, e as colunas XV-XIX re-
presentam uma redação final nos tempos romanos, na segunda metade do primeiro século
a.C. As colunas X-XIV representam ainda uma terceira coleção de vários tipos diferentes
de materiais do tempo dos hasmoneus. Ibid., p. 123-24. Para as opiniões divergentes de
outros comentaristas veja Ibid., p. 11-20.
22
Para a publicação original deste texto em inglês veja A. S. van der Woude e M. de
260 Jorge, “11Q Melchizedek and the New Testament”, NTS 12 (1965/1966): 301-326. Im-
portantes correções foram feitas por J. A. Fitzmyer, “Further Light on Melchizedek from
Qumran Cave 11”, JBL 86 (1967): 24-41. Uma abordagem mais recente com importantes
correções adicionais é a de J. T. Milk, “Milkî-sedeq et Milkî-reša‘dans les anciens écrits juifs
et chrétiens”, JJS 23 (1972): 95-144.
23
Ben Zion Wacholder observou que “apesar do fato de o pesher utilizar uma longa
lista de passagens bíblicas, 9:24-27 permaneceu a chave para a cronologia do autor do
messianismo sabático”. Em “Chronomessianism”, HUCA 46 (1975): 211. R. T. Beckwith
contribui com a observação de que “o Documento de Melchizedeque, portanto, baseia-se
na profecia de Daniel das 70 semanas (9:24-27), que são mais uma vez reorganizadas como
10 jubileus, e assim são claramente consideradas como sendo semanas de anos (70 x 7
anos = 10 x 49 anos = 490 anos)”. Em “The Significance of the Calendar for Interpreting
Essene Chronology and Eschatology”, RevQ 38 (1980): 171.
24
Fitzmyer, p. 40.
25
Para a data geral deste texto veja Davies, p. 123-24. Seu escrito data da segunda
metade do primeiro século a.C.
26
Tudo o que sabemos desse texto foi-nos citado de fontes não publicadas por J. T.
Milik, em The Books of Enoch, p. 254-55: “Um ciclo de setenta semanas de anos é equiva-
lente a um ciclo de dez jubileus 70 x 7 = 10 x 49. Um apocalipse de dez jubileus aparece
em um grupo de manuscritos do Qumrân que será editado por J. Strugnell sob a sigla
4Q384 a 389. Nessas várias cópias de um documento atribuído a Ezequiel, Strugnell acha
uma série longa e um tanto confusa de semanas e jubileus, mas a condição fragmentária
dos manuscritos dificilmente lhe parece permitir alguma outra elucidação. Graças a sua
bondosa autorização (e o empréstimo do manuscrito de sua edição e a fotografia), sou
capaz de citar aqui (juntamente com minhas restaurações) algumas frases de 4Q390, que
é provavelmente outra cópia do mesmo pseudo-Ezequiel. O autor deste texto, como o
autor do Testamento de Levi em aramaico, está interessado primeiramente nos destinos
do sacerdócio aarônico. As repetidas transgressões dos filhos de Arão os abandonam au-
tomaticamente ao poder dos anjos ímpios: [frases das três passagens são citadas com esse
objetivo]. O início da contagem dos dez jubileus coincide com a ‘destruição da terra’ [em
hebraico] I 7-8 (O lamed preposicional aqui é determinativo da era, como é comum nas
datas de documentos). Os jubileus são divididos em semanas de anos, outra vez como no
Testamento de Levi.”
27
Justino Mártir para Trifo: “Mas tu, sendo ignorante de até quando ele terá domí-
nio, manténs outra opinião. Porque tu interpretas o “tempo” como sendo uma centena
de anos. Mas se isto é assim, o homem do pecado deve, no mínimo, reinar trezentos e
cinquenta anos, a fim de que possamos calcular aquilo que é dito pelo santo Daniel – ‘e
tempos’ – ser apenas dois tempos.” (Diálogo com Trifo, cap. 32, em ANF, 1:210.)
28
Megillah 11a; Kiddushin 72a; Abodah Zarah 2b; Yalkut, Isaías, 452; Lekah Tob para
Ester 44a; Yalkut, Provérbios, 962; Yalkut, Daniel, 1064. Para estas referências e aquelas
que se seguem nas notas subsequentes sou agradecido a J. Braverman, Jerome’s Commentary 261
on Daniel, CBQ Séries de Dissertações no. 7 (Washington: Catholic Biblical Association
in America, 1978), p. 84-96.
29
Kiddushin 72a.
30
Proem para Esther Rabbah, 5; Midrash Tehillim 18:11; Yalkut, Amós, 545, Yalkut,
Ester, 1045.
31
Braverman, p. 86.
32
Yalkut, Zacarias, 574. Veja também a identificação da Medo-Pérsia como um lobo
se encaixando nesta série. Gênesis Rabbah, 99:2; Levítico Rabbah 13:5; Proem para Ester
Rabbah, 5; Tanhuma Vayehi, 14; Yalkut Levítico, 536; Ester Rabbah 10:13.
33
Levítico Rabbah 13:5; Cântico dos Cânticos Rabbah 3:4; Midrash Salmos 80:6;
Abot de Rabi Natan A, 34; Gênesis Rabbah 35:5; Sekel Tob, Toldot, 26:33; Yalkut, Sal-
mos, 830.
34
Pesahim 118b; Êxodo Rabbah 35:5; Sanhedrin 21b, Shabbat 56b; Cântico dos Cân-
ticos Rabbah 1, 6:4.
35
Gênesis Rabbah 65:1; Levítico Rabbah 13:5; Sekel Tob, Toldot, 6:33; Yalkut, Sal-
mos, 830; Yalkut Makiri 73:22; Abot de Rabbi Natan A, 34.
36
Êxodo Rabbah 15:6; 25:8; Tanhuma Tazri, 8; Yalkut 1, Vayelek, 941; Yalkut 2, 562, 1064.
37
Targum Jerushalmi 1, Gn 15:12; Targums Jerushalmi 1 e 2, Lv 26:44; Gênesis Rab-
bah 44:15 e 83:3. Para referências sobre este ponto veja também L. Ginzberg, The Legends
of the Jews, 5 (Filadélfia, 1925): 272-73, n. 19.
38
Ben Zion Wacholder, “Chronomessianism: The Time of Messianic Movements ad
the Calendar of Sabbatical Cycles”.
39
Josefo, The Jewish War, Livros IV-VII, trad. H. St. J. Trackeray, vol. 3, Loeb Classical
Library (Cambridge, 1927), p. 467.
40
F. F. Bruce, “Josephus and Daniel”, Annual of the Swedish Theological Institute 4 (1965): 157.
41
The Epistol of Barnabas, cap. 4, em ANF, 1:138.
42
Irineu, Against Heresies, livro 5, cap. 26, em ANF, 1:553-55.
43
Ibid., livro 25, p. 554.
44
Tertuliano, An Answers to the Jews, cap. 8, em ANF, 3:159-60.
45
Clemente, o Stromata, ou Miscellanies, livro 1, caps. 21-23, em ANF, 2:324-36. Veja
especialmente a p. 329 para Daniel 9:24-27.
46
Ibid., p. 334.
47
Chronography, fragmentos 16-18, em ANF, 6:134-37.
48
Ibid., p. 137.
49
Orígenes, Against Celso, livro 6, cap. 46, em ANF, 4:594.
50
Orígenes, Series Commentaiorum, cap. 40, em Migne, PG, vol. 13, cols. 1656-58.
51
L. E. Froom se refere a ele como o “primeiro expositor sistemático” destas profecias e
descreveu o Treatise on Christ and the Antichrist de Hipólito como “a mais notável exposição
contemporânea das profecias registradas do terceiro século.” – The Prophetic Faith of Our
262 Fathers 1 (Washington, 1950): 271.
52
Hipólito, Fragments from Commentaries, “On Daniel”, fragmento II, cap. 1, em ANF,
5:178. Sobre este ponto ele reiterou em outro lugar: “Tem-se em vista os romanos que ago-
ra retêm o império.” – Ibid., cap. 3, 179. Outra vez, “as pernas de ferro, e o animal terrível
e espantoso, expressavam os romanos, que retêm a soberania no presente.” – Id., Treatise
on Christ and the Antichrist, cap. 28, em ANF, 5:210.
53
Hipólito, “On Daniel”, cap. 4–7, em ANF, 5:179.
54
Em sua exposição de Daniel 11 discutida abaixo, ele se desligou de qualquer narração
ulterior dos eventos dos Macabeus em seguida à morte de Matatias com a observação: “...e
assim por diante, como está escrito em Macabeus.” “On Daniel”, fragmento II, cap. 35,
em ANF, 5:183. Em outro lugar ele deixou de lado a descrição da morte de Antíoco com a
observação: “Se alguém deseja investigar isso de forma mais exata, o encontrará registrado
nos livros dos Macabeus.” – Treatise on Christ and the Antichrist, cap. 49, em ANF, 5:214. Ele
se refere aqui especialmente a 2 Macabeus 9, mas o fato de ele se referir aos livros no plural
indica que ele estava familiarizado com o fato de que havia mais do que um.
55
“On Daniel”, fragmento II, cap. 10, em ANF, 5:180.
56
Ibid., cap. 44, p. 185. Esse número diferente parece ser intencional, sendo que ele
avança sucessivamente nessa passagem dos três tempos e meio ou 1.260 dias, para os 1.290
dias, para os 1.335 dias, para as 1.400 tardes e manhãs.
57
Ibid., cap. 29, p. 183.
58
Ibid.
75
G. L. Archer, Jerome’s Commentary on Daniel (Grand Rapids, 1958), p. 15. Todas as
outras referências ao Jerome’s Commentary on Daniel seguem esta obra em sequência.
76
Ibid., p. 32.
77
Ao criticar esta opinião de Porfírio, Jerônimo errou quando objetou que “os primei-
ros dois desses reis morreram muito antes de Antíoco nascer.” – Ibid., p. 77. Ao contrário,
eles morreram muito depois da morte de Antíoco – em 145.
78
Ibid., p. 80-81.
79
Ibid., p. 129.
80
Diz o restante da passagem citada na nota anterior: “Mas o restante do texto daqui
até o fim do livro, ele interpreta como se aplicando à pessoa de Antíoco que tinha o
sobrenome de Epifânio, irmão de Seleuco e filho de Antíoco o Grande [...] Mas aqueles
de nosso grupo crêem que todas estas coisas são faladas profeticamente do Anticristo que
deve surgir no fim dos tempos.” (Ibid.)
81
Ibid., p. 135.
82
Hipólito, Fragments from Commentaries, “On Daniel”, frag. II, cap. 32, em ANF, 5:183.
83
Quanto à motivação de Porfírio para seu ataque contra o Cristianismo em geral,
escreveu J. Moffat: “Para Porfírio, o sério perigo de sua época não parecia surgir da cres-
cente propagação da religião cristã como uma ameaça à civilização e à filosofia espiritual.
. . . Muito provavelmente, Porfírio foi movido a publicar seu volume por um senso de que
264 o cristianismo era agora o maior opositor do neoplatonismo como uma filosofia da verda-
deira religião para o Império. A Igreja não podia ser mais ignorada, como tinha sido por
Plotino, achava ele; . . . A popularidade da religião cristã lhe parecia exigir uma exposição
racional de suas pretensões de ser a religião final e inspirada.” (Moffat, p. 73.)
84
A. Ferch, “The Apocalyptic ‘Son of Man’ in Daniel 7”, (tese não publicada Th.D,
Andrews University, 1979), p. 201; Orígenes, Against Celsus, livro 6, cap. 46, em ANF,
4:594.
85
Archer, p. 15-16.
86
M. Casey, “Porphyry and the Origin of the Book of Daniel”, JTS 27 (1976): 23ss.
87
Ferch, p. 203. Essa opinião é indubitavelmente verdadeira de certa forma. Na intro-
dução ao seu comentário sobre Daniel, Jerônimo citou mais de uma dúzia de historiadores
dos quais se diz que Porfírio tenha utilizado em seu escrito sobre Daniel. Archer, 18. A ques-
tão é se essas relações podem ser mais refinadas do que deixá-las em seu estado complexo.
88
Como ele conseguiu essa opinião, não podemos saber.” (Moffat, p. 73.)
89
A estreita correspondência cronológica entre estes dois homens pode ser vista a par-
tir do fato de que estima-se que Porfírio tenha nascido no ano 233 d.C., três anos antes da
data em que estima-se que Hipólito morreu – 236 d.C. Quanto a estas datas veja Moffat,
p. 73, e Froom, p. 268, respectivamente.
90
Refutation of all Heresies de Hipólito (escrito depois de 222 d.C.) em dez livros con-
sistindo de aproximadamente 350 capítulos começou primeiro com um ataque contra as
diferentes escolas de filosofia antiga (livro 1, cap. 1-23). A seção mais longa desse livro,
capítulo 16, foi dedicada a uma refutação de Platão, cujos diálogos proviam a inspiração
fundamental para a escola neoplatônica de filosofia à qual Porfírio pertencia. Portanto, ele
tinha boa razão para contender com Hipólito. Além de ser famoso em Roma e na Penín-
sula Itálica, as obras de Hipólito tinham uma circulação que se propagou para o Oriente.
Eusébio e Jerônimo conheciam bem suas obras na Palestina. Posteriormente algumas delas
foram traduzidas para o siríaco, árabe, armênio e etiópico. (Froom, p. 268.)
91
Ainda existem fragmentos do comentário mais antigo de Vitorino sobre o Apocalip-
se, mas a obra como um todo é incompleta.
92
Seus comentários sobre Gênesis, Salmos, Provérbios, e os Evangelhos são pouco
mais do que breves coleções de observações aleatórias. Em ANF, 5:163-76, p. 194-203.
93
Afraate, Demonstration V—Of Wars, cap. 6, em NPNF, 2a série, vol. 13, p. 354.
94
Ibid., cap. 19, p. 358.
95
Ibid.
96
Porfírio apenas defendia que os dez reis representados pelos dez chifres eram uma
coleção dos mais ímpios, não que eles reinassem sucessivamente como defendia Afraate.
97
Ibid., cap. 20, p. 359.
98
Sua referência a esse período de tempo como dez anos e meio em vez de três anos
é ainda mais impressionante considerando que obviamente ele conhecia bem os livros de
Macabeus, e que é onde este período de tempo é dado como exatamente três anos. Parece
muito provável que tal ajuste foi feito a fim de encaixar aqui sua teoria de interpretação. 265
Na discussão da nota anterior ele citou 2 Macabeus sete vezes diferentes, o que atesta seu
adequado conhecimento dessa fonte.
99
Estas incluíam a execução dos justos, a suspensão das observâncias da Lei e da Alian-
ça, a instituição da prostituição cultual nos recintos do templo e a abolição da observância
do sábado e da circuncisão.
100
Ibid., cap. 20, p. 359.
101
Ibid., cap. 22, p. 360.
102
“Os filhos de Israel receberam o Reino do Altíssimo? Deus nos livre. Ou esse povo
veio sobre as nuvens do céu? Isso está longe deles.” – Ibid., cap. 21, p. 359.
103
Ibid., p. 360.
104
Ibid., cap. 22, p. 360.
105
Ibid., cap. 5, p. 354.
106
Ibid., cap. 6, p. 354.
107
Efraim Sírio, Sermo Asceticus, em Opera Omina, ed. greco-latina, vol. 1, p. 44.
108
Efraim Sírio, Opera Omina, 5:215; cf. M. Casey, “Porphyry and the Origin of the
Book of Daniel”, JTS 27 (1976): 24.
109
Ferch, p. 195.
110
Policrônio, In Danielem, em Angelo Mai, Scriptorum Veterum Nova Collectio, vol. 1, 2a
paginação, p. 111.
111
Ibid., p. 126.
Ibid., p. 156.
112
Ferch, p. 196.
113
114
Policrônio, p. 129.
115
Ibid., p. 133.
116
Cipriano, Treatise XI, On Martyrdom, cap. 11, em ANF, 5: 502-5.
117
Cipriano, Epistle 55, cap. 7, em ANF, 5: 349.
118
Lactâncio, Institutes, livro 7, cap. 16, em ANF, 7: 213.
119
Archer, p. 15.
120
Eusébio, Demonstratio Evangelica 2 (New York, 1920): 236-37.
121
Eusébio, Church History, cap. 2, em NPNF, 1:85.
122
Eusébio, Demonstratio Evangelica, livro 8, cap. 2, p. 118-31.
123
Eusébio, The Oration in Praise of the Emperor Constantine, cap. 3, em NPNF, 1:584.
124
Cirilo, Catechial Lectures, no. 15, sec. 13, em NPNF, 2a sér., vol. 7, p. 108.
125
Ibid., sec. 16, p. 109.
126
Ibid., Lecture 12, sec. 19, p. 77.
127
Crisóstomo, Homilies on Second Thessalonians, Homilia 4, em NPNF, 1ª sér., vol. 13, p. 389.
128
Teodoro, Commentarius in Visiones Danielis Prophetae, em Migne, PG, vol. 81, col. 1297.
129
Ibid., cols. 1309-1310.
130
Ibid., col. 1420.
266 131
Ibid., col. 1473.
132
Archer, p. 32.
133
Ibid., p. 75.
134
Ibid., p. 85.
135
Ibid., p. 85-86. Jerônimo declara que Antíoco deveria lançar por terra o lugar do
santuário, e embora ele não explique esta frase, parece aplicá-la figurativamente à profana-
ção do templo, não a qualquer ataque físico contra ele. Isso aconteceu não somente por
causa da proeza militar de Antíoco, mas também por causa dos pecados do povo. Nesse
sentido, Antíoco eclipsou a verdade de Deus e a prática de sua verdadeira religião.
136
Ibid., p. 86.
137
A diferença deve ser notada entre o que a fonte original diz que aconteceu, e o que
Jerônimo diz que aconteceu. 1 Macabeus 1:24 se refere ao derramamento de sangue que
ocorreu naquela ocasião, mas os versículos precedentes não fazem nenhuma menção de
qualquer destruição, seja do templo ou da cidade. O que eles descrevem é o despojo que
Antíoco tomou do templo.
138
Ibid. A diferença entre a extensão de tempo declarada aqui, e aquela que está pre-
sente no original em 1 Macabeus 1:29, é significativa. O original ali declara, “dois anos
depois”, ao passo que Jerônimo estendeu isso para “no terceiro ano.” Quanto ao motivo
disso veja a referência 142 abaixo.
139
Ibid., colchetes no original. Provavelmente ocorreu um erro de escrita ao longo da
linha de uma haplografia ou omissão no texto de Migne que foi usado como a base para
essa tradução inglesa, sendo que esses números não fazem sentido como estão. Eu recons-
truiria a última frase numérica desta declaração como “constituindo um total de 2.300
dias [ou seis anos] mais três meses.” Do que se segue é evidente que Jerônimo estava traba-
lhando com números redondos que eram 2.200 dias = seis anos, e 2.300 dias = seis anos
e três meses. Cf. Archer, p. 11. Veja seu comentário na página 86. Archer fez sua tradução
de Patrologiae Cursus Completus: Series Latina, de Migne, vol. 25.
140
Veja referência 136.
141
Veja referência 137.
142
Isto não é somente uma questão de contagem inclusiva. Envolve uma tentativa
de estender cinco anos para seis a fim de chegar mais perto dos plenos 2.300 dias
de Daniel 8:14. Sabemos que apenas dois anos estavam envolvidos aqui porque 1
Macabeus 1:21 e 1:54 apresentam as datas daqueles eventos nos anos 143 e 145 da
era selêucida.
143
Sabemos que Jerônimo conhecia bem essas datas, sendo que ele citou o ano 143
e deu os meses e anos exatamente como são dados em 1 Macabeus 1:54 e 4:52 a fim de
argumentar contra a interpretação de Porfírio de Daniel 12:7. (Archer, p. 149.) Em seu
comentário sobre esta passagem, ele notou que a tentativa de Porfírio de aplicar os três
tempos e meios/anos de 12:7 (e 7:25) a este período de tempo de 1 Macabeus não funcio-
naria porque aquele tempo era exatamente três anos, não três anos e meio.
144
Ibid., p. 87. 267
145
Em seus comentários sobre Daniel 11:21, 25, 27, 31, 34, 36, 40 e 45.
146
Hipólito não fez nenhuma verdadeira aplicação dupla em Daniel. No capítulo 8
foi Antíoco durante toda a última porção deste capítulo. No capítulo 11 foi Antíoco até
o versículo 35 e o Anticristo depois disto até o fim – não houve nenhuma superposição
entre eles. Veja Hipólito acima.
147
Jerônimo não demonstra nenhuma dependência direta de Hipólito em Daniel 8.
Esses dois intérpretes concordam sobre os principais pontos em que relacionam esta pro-
fecia com Antíoco, mas quando seus detalhes finais são comparados, eles não se asseme-
lham um ao outro em grande extensão. O comentário de Hipólito sobre esse capítulo
era mais breve do que o de Jerônimo, e não foi uma exposição sistemática versículo por
versículo. Como consequência, ele omitiu vários pontos de seu estudo desse capítulo que
Jerônimo absorveu em detalhes. Em termos de história e exegese, Jerônimo foi considera-
velmente mais detalhado e exato. Assim, nenhuma dependência específica de Jerônimo
sobre Hipólito pode ser demonstrada em termos de fraseologia paralela ou detalhes de
exposição. Eles estão relacionados apenas através da principal ideia de encontrar Antíoco
como a figura central no cumprimento desta profecia.
148
Jerônimo observou que se alguém somar os anos desde o retorno de Babilônia
até Cristo, os eventos que demarcaram o início e o fim das 62 semanas para Hipólito,
pode-se chegar a 560 anos, não os 434 anos utilizados por ele. Também observou, com
insinuações suavemente negativas, que Hipólito transferiu a setuagésima semana dessa
profecia para o fim dos tempos e a dividiu pela metade, destinando seu segmento final
ao reino do anticristo.
149
Ibid., p. 81.
150
Veja p. 239-240.
151
Ibid.
152
Ibid., p. 132.
153
Ibid., p. 134.
154
Ibid., p. 135.
155
Ibid., p. 149.
156
Realmente, a interpretação de Jerônimo do capítulo 11 foi um pouco mais comple-
xa do que eu a tenho retratado nesta declaração esquematizadora geral. Na verdade, ele
fez apenas uma aplicação típica em três passagens de seu comentário sobre Daniel 11 nos
versículos 28-29, versículo 30, e versículo 31. Para o restante do capítulo, Jerônimo não
admite realmente a aplicação típica com a qual concordou em sua declaração inicial com
os versículos 21-24. As mais impressionantes passagens que não se ajustam nesta declaração
geral são encontradas em seus comentários sobre os versículos 25-26 e os versículos 27-28.
Nestes dois casos Jerônimo aplicou “tudo isto” e “todas estas coisas” ao futuro anticristo.
Na segunda destas duas passagens ele também se opôs à aplicação de Antíoco que tinha
sido sugerida. O versículo 31 é o último versículo em seu comentário sobre os capítulos
268 11 e 12 em que a aplicação típica recebeu comentário favorável. Pode-se ver, portanto, que
Jerônimo não foi inteiramente coerente em aplicar o princípio de tipo e antítipo em sua
interpretação deste capítulo.
157
Ibid., p. 129.
158
Veja os comentários sobre os versículos 21-24, 25-26, 27-28, 29, 30, 31, 32, 33, 34-
35, 36, 37-39, 40-41, 42-43, 44-45, 12:1, e 12:7 em ibid., p. 130, 132, 133, 134, 135, 136,
138, 139, 140, 142, 146, 149.
II
Estudos exegéticos em 269
Daniel
Daniel 2/ pedra-reino
Daniel 8/chifre pequeno
2.300 ‘ereb bōqer dias
Tradução de nisdaq
Dimensões verticais/espaciais
Linguagem do ritual/contexto do santuário
Interpretações cronológicas
Edito de Artaxerxes & Esdras 4
Daniel 9/ ênfase messiânica
Significado de kipper
A pedra-reino de Daniel 2
Douglas Bennett
S inopse editorial. Quando Deus pretende estabelecer o seu reino universal sim-
bolizado (no sonho dado a Nabucodonosor) pela pedra que demoliu a estátua
de metal e encheu toda a terra? No decorrer da história da Igreja, mais de uma
interpretação tem sido proposta.
A atual opinião crítico-histórica colocaria as profecias de Daniel e o seu cum-
primento no contexto dos Macabeus, no segundo século a.C. Em outros círcu-
los, sugere-se que Deus pretendia o estabelecimento do seu reino no primeiro
século d.C. Uma opinião por muito tempo mantida (fomentada por Agostinho)
defendia que a pedra-reino na verdade simbolizava a Igreja, que, começando com
o primeiro advento de Cristo, finalmente venceria toda oposição e encheria a
terra inteira. Finalmente, outros sugerem um cumprimento duplo da pedra-reino
– um cumprimento parcial em conexão com o primeiro advento, e um cumpri-
mento completo no segundo.
A pesquisa da história da interpretação de Daniel 2 pelo autor realça o fato
de que, apesar dessa variedade de pontos de vista, a mais antiga e mais persistente
posição tem sido a de que a pedra-reino simboliza o estabelecimento do eterno
reino da glória de Cristo em sua segunda vinda.
Como uma profecia apocalíptica, Daniel 2 focaliza a vitória final de Deus
sobre toda autoridade e poder humano. Não há nenhuma sugestão de que a se-
quência dos poderes mundiais (conforme esboçada no sonho) tenha sido vista
como condicional sobre as atividades daquelas nações ou sobre a relação de Israel
com Deus. Daniel 2 demonstra tanto a soberania de Deus sobre os negócios deste
mundo quanto seu conhecimento prévio dos eventos futuros (veja o volume 3, ca-
pítulo 8, sobre a questão da condicionalidade e profecia apocalíptica nesta série).
Uma vez que se observa de maneira específica que a pedra-reino fere a estátua
de metal em seus pés, é evidente que Deus não pretendia o estabelecimento do
seu reino de glória no primeiro século, nem devia ele começar com o primeiro ad-
vento de Cristo. Nosso Senhor viveu e ascendeu ao Céu durante a era das pernas
de ferro de Roma. A história não havia ainda alcançado os pés e dedos da estátua
pela divisão do império nas nações da Europa Ocidental
O ferir dos pés indica que toda a proporção anatômica da estátua terá sido
atingida, isto é, a história humana terá seguido todo o seu curso antes de a pedra-
reino manifestar seu aparecimento. Assim, é evidente que a pedra-reino é um
reino estritamente escatológico. Não será estabelecido durante o curso da história
humana, mas no final. Além disso, a pedra-reino termina a história humana; os
metais da estátua tornam-se como palha diante do vento.
A expressão de que ela seria trazida à existência “sem mãos” indica que a
pedra-reino será de origem divina. Um ato divino (não tentativas humanas) esta-
belecerá o eterno reino de Deus e domínio direto sobre a terra. Nenhum governo
humano o sucederá; todos terão sido exterminados para sempre.
O autor apresenta evidência bíblica para mostrar que era uma prática comum
dos escritores do Antigo Testamento se referir a Deus ou ao Messias pelo símbolo
de uma pedra ou rocha. Jesus e os escritores do Novo Testamento viram cumpri-
mentos messiânicos em várias dessas passagens que mencionam a pedra, particu-
larmente em Isaías 8:14-15, 28:16 e Salmo 118:22-23. Um exame das palavras de
Cristo sugere que Ele se referia a essas passagens bem como a Daniel 2:34-35, 44-
45. Disse Ele: “Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre
quem ela cair ficará reduzido a pó” (Lc 20:18; cf. Mt 21:44).
Com sua solene declaração, Jesus não pretende contradizer a clara perspec-
272 tiva escatológica de Daniel 2, que coloca o estabelecimento da pedra-reino no
final da história humana. Ele não estava indicando que a pedra-reino tinha agora
aparecido por sua presença entre a raça humana. A preocupação primária em sua
advertência é o efeito da pedra sobre as pessoas, e não um elemento de tempo. Du-
rante o tempo de prova, muitos tropeçariam sobre Ele e o rejeitariam. Mas em sua
segunda vinda e no estabelecimento do seu reino eterno, sua presença – como a
queda de uma pedra gigantesca – traria destruição inevitável aos seus opositores.
É a profecia de Daniel 2 que fala do “quando” da ação esmagadora da pedra.
A profecia se estende além da vida terrestre do Salvador para a total erradica-
ção de pessoas e instituições pecaminosas, bem como a permanente nova ordem
mundial de Deus.
Esboço do capítulo
Interpretação cristã
Entre os primeiros escritores cristãos a endossar a norma de interpretação judaica
dos quatro reinos estava Irineu (segundo século). Ele também acreditava que a pedra
representava Cristo, que devastaria os reinos mundiais depois da divisão de Roma.1
Irineu recorria às profecias como um meio de apoiar a veracidade das Escrituras.
Ele concluiu que os quatro metais de Daniel retratavam a progressão dos reinos des-
de Babilônia a Roma, com a “pedra” representando a Cristo, que, em sua segunda
vinda, destruiria os reinos seculares da terra.2
Hipólito (morto em 236 d.C), bispo de Porto, foi um dos mais instruídos eru-
ditos e teólogos do terceiro século. Entre seus volumosos escritos estava um comen- 273
tário sobre Daniel no qual via o retorno pré-milenial de Cristo como o alvo de toda
profecia. Ele enfatizou a natureza paralela de Daniel 2 e 7 e escreveu: “A pedra que
‘fere a estátua e a quebra em pedaços’, e que encheu toda a terra, é Cristo, que vem
do Céu e traz juízo sobre o mundo.”3
Embora seus contemporâneos – Cipriano, Vitorino e Metódio – não deixas-
sem uma exposição de Daniel, é evidente que eles criam que o segundo advento
seria pessoal, literal e pré-milenial, e terminaria a obra do anticristo.4
Começando com Orígenes, presbítero de Cesaréia (cerca de 185 a 254 d.C.),
que espiritualizou a ressurreição e alegorizou as passagens proféticas – foi dado o
primeiro dos três passos fatais no sentido de se subestimar a ênfase nas profecia
e no segundo advento. Igualmente devastador para uma correta compreensão
das profecias foi o novo conceito do reino de Deus que se seguiu à “conversão”
de Constantino. Por volta do quinto século, começou a ser exposta a opinião de
que a prisão do diabo por mil anos começou com a vinda de Cristo como bebê.5
Um dos primeiros defensores do ensino desvirtuado da profecia dentro da
Igreja Cristã foi Policrônio (cerca de 374-430), bispo de Apaméia da Síria, que
identificou o chifre pequeno de Daniel 7 com Antíoco Epifânio. Em Daniel 2, ele
listou os primeiros três metais como Babilônia, Pérsia e o império de Alexandre.
O quarto reino, o de ferro, ele aplicou aos sucessores de Alexandre. A pedra-reino
ele considerou ser a Igreja.6
gundo advento para um reinado contemporâneo de Cristo por meio de sua Igreja,
que se origina no primeiro advento.
Por sua engenhosa influência, o relógio do tempo profético começou a bater
num compasso diferente e, durante sete séculos, a interpretação histórica da profe-
cia foi substituída pelas interpretações espirituais e alegóricas que colocavam o seu
cumprimento na presença da Igreja no mundo. Não foi senão por volta de 1.158
d.C. que essa opinião ticônio-agostiniana começou a ser desafiada.
Foi Anselmo de Havelberg quem primeiro introduziu um esquema esquecido
de interpretação ao comparar a profecia com o desenvolvimento consecutivo e
contínuo da história. Sua explicação do Apocalipse seguiu o curso da história da
Igreja. Assim, Anselmo semeou a semente que produziu o revolucionário Joaquim
de Flores, por meio de quem a tradição ticônio-agostiniana foi revertida.14
Joaquim (1130 d.C.) é um dos notáveis expositores medievais da profecia cuja
posição profética desafiou a antiga tradição ticoniana. Aposentando-se do ofício
de abade, mergulhou em profundo estudo das Escrituras. Sua pesquisa levou a
uma recuperação da opinião histórica da profecia uma vez exposta pelos apóstolos
e primeiros pais da Igreja. O princípio dia-ano foi também aplicado aos períodos
de tempo da profecia.15 Joaquim se afastou da opinião agostiniana da pedra (a
Igreja enchendo a terra). Em vez disso, ele compreendia a pedra-reino como ainda
futura e “desceria do Céu, ... para encher toda a terra. ...”16 275
Arnaldo de Villanova (cerca de 1235-1313 d.C.) associou-se a ele em sua abor-
dagem histórica ao estudo da profecia e à defesa do princípio dia-ano. Embora
mais conhecido como um médico espanhol, Villanova foi também um teólogo lei-
go, que considerou os 2.300 dias e os 1.260 dias como anos. Surgiu uma porta que
a Renascença deveria abrir mais amplamente.17 Universidades foram fundadas, e
teve início uma reforma no saber, que procurava descobrir o passado e compreen-
der melhor o presente e o futuro.
Sob a influência da Renascença, a Bíblia começou a ser propagada e líderes
como John Wycliffe (cerca de 1324-1384), John Purrey (cerca de 1354-1428), John
Huss (1369-1415), Nícolau de Cusa (1400-1464) e Savonarola (1452-1498) defen-
deram uma abordagem histórica ao estudo profético em lugar da alegórica. O
estudo profético tinha estado adormecido, mas a Renascença fez soar um alarme
de despertamento, que levou os estudantes a uma descoberta do que as Escrituras
tinham a dizer quanto ao passado, presente e futuro.
Reforma
A Reforma do século dezesseis foi como um glorioso nascer-do-sol depois de
uma noite sombria. Fundada sobre a recuperação da Bíblia e a verdade acerca
da salvação em contraste com o anticristo, ela deu ímpeto às artes e ciências e à
Contra-Reforma
Como uma fera rapinante ferida, a Igreja Católica se ergueu do grande revés
advindo da forte pregação e escritos dos reformadores protestantes para revidar
contra os dardos inflamados da palavra profética que a havia deixado preocupada
e impotente. A ação dos reformadores levou a uma forte reação pela representação
papal que anteriormente tinha evitado qualquer tentativa para se empenhar em
uma exposição de Daniel e Apocalipse.
Todavia, em resposta ao protesto antipapal de Lutero, dois doutores católicos,
Prierias e Eck, declararam ser a Igreja Católica o quinto reino (ou pedra-reino)
retratado em Daniel 2.20 Mas por causa do difundido descontentamento com a
igreja-mãe, vozes tinham se levantado por toda a Europa apontando para o papa-
do como o anticristo da profecia. Sentindo a pressão dessas denúncias proféticas e
o descontentamento entre seus leigos, os dirigentes da Igreja reconheceram a ne-
cessidade de exposições das profecias que pudessem competir com a eloquência e
saber dos reformadores. Ela devia agora enfrentar com bases proféticas as injúrias
que estavam sendo arremessadas.
Para essa tarefa, os jesuítas foram convocados a vir em seu auxílio, e duas con-
trapropostas foram concebidas. Francisco Ribera (1537-1591) desenvolveu uma
hermenêutica futurista para a profecia, tornando o anticristo um indivíduo, não
um sistema. Um anticristo individual surgiria no futuro distante para operar por
três anos e meio, não por séculos.
O primeiro protestante a adotar a interpretação futurista de Ribera foi Sa-
muel Maitland (1792-1866), autor e crítico que atacou a escola historicista de
interpretação profética, negando que o papa fosse o cumprimento da profecia,
o princípio dia-ano, e o quarto império de Daniel 2 como Roma.21 Seguiram-no
William Burgh, John Darby, James Todd e John Henry Newman. Foi dirigida a
atenção para um futuro anticristo que estaria ligado aos judeus em vez de à Igreja
dos gentios. Esse grupo acusou a teoria do anticristo papal como tendo se origi-
nado tardiamente com os valdenses, cátaros e albigenses, e da ordem católica dos
franciscanos, os fratricelli e os joaquimitas.22
Outra posição, conhecida como preterismo, desenvolvida pelo jesuíta Luiz de
Alcazar (1554-1613), tomou as profecias e as aplicou ao passado. Assim, Apocalipse
1 a 11 fala da rejeição dos judeus até o ano 70 d.C., ao passo que os capítulos 12 a
19 são descritivos da subversão do paganismo romano. Com o tempo, essa opinião
obteve um forte seguimento entre os eruditos racionalistas do protestantismo. Por
volta de 1644, esse novo conceito foi adotado e de certa forma modificado pelo 277
protestante Hugo Grócio, da Holanda, e também por Hammond, da Inglaterra,
que publicou um comentário em 1653.23
Mas a profunda introdução no protestantismo veio por meio de J. C. Eich-
horn, racionalista alemão que, em 1791, republicou a interpretação preterista de
Alcazar. Vários outros eruditos racionalistas que endossaram essa opinião adicio-
naram seu testemunho e influência, entre eles: G. H. A. Ewald (1803-1875), C. C.
F. Lucke (1791-1855), W. M. L. De Wette (1780-1849), Franz Delitzsch (1813-1890)
e Julius Wellhausen (1844-1918). Desde 1830, muitos eruditos britânicos e ameri-
canos têm adotado esse ponto de vista.
O preterismo foi introduzido como uma interpretação viável nos Estados Uni-
dos, em 1842, pelo Professor Moses Stuart of Andover (1780-1852), e em 1844
essa opinião foi endossada na Inglaterra por D. Samuel Davidson.24
Os Irmãos de Plymouth, movimento organizado em 1830 por John Darby, e o
Movimento da Igreja Superior de Oxford (1833-1845) – nome dado ao movimento
do início do século dezenove na Igreja Anglicana – ganharam ascendência na Grã-
Bretanha e ajudaram alguns protestantes a aderir ao o futurismo.
Por meio da Contra-Reforma os protestantes foram enganados e enfraquecidos,
embora um grupo de historicistas tenha exposto os erros de Ribera e de Alcazar.25
Joseph Mede (1586-1639), professor de grego em Cambridge, se apegou à in-
terpretação historicista da profecia, compreendendo as visões de Daniel 2 e 7 como
se referindo aos mesmos quatro reinos. Ensinava que elas “salientam o tempo do
reino de Cristo, que nenhum outro reino deve suceder ou destruir...”26 Mede foi
apoiado por John Tillinghast (1604-1655), graduado de Cambridge, que acreditava
que o quinto reino, o reino visível de Cristo, logo seria estabelecido.27
Ao longo do século 17, a interpretação historicista da profecia foi a opinião
predominante, sendo uma exceção a interpretação católica. Todavia, o século 18
tornou-se um período de contraste. Três competidores lutavam pela supremacia: a
escola historicista continuava sendo forte, a escola preterista encontrou crescente
apoio dos protestantes, e a opinião futurista foi promovida por alguns católicos.
Os protestantes evitaram a adoção da última até o século 19. A ênfase mudou para
Daniel 7 e Daniel 8 a 9. O término dos 2.300 dias parecia apontar para o estabe-
lecimento do reino de Cristo.
O Movimento de Oxford, do início do século dezenove (1833-1841), era um
movimento pró-Roma. Os principais autores foram Newman, Pusey, Keble, Frou-
de, e Williams, que publicou uma série de 90 “Tratados para os Tempos”, em que
os conceitos futuristas de Maitland e Todd eram aplicados às profecias. Em vez de
se voltarem para a igreja apostólica e pós-apostólica em busca de um modelo, eles
extraíram dados do quarto e quinto séculos a fim de restaurar o respeito ao bispo
de Roma. John Henry Newman, ministro anglicano que se converteu ao romanis-
278 mo, uma vez mais aplicou a pedra-reino de Daniel (cap. 2) ao presente reinado da
Igreja sobre a terra.28
Os ensinos variantes do futurismo de Ribera e do preterismo de Alcazar não
foram considerados de forma séria até os séculos 18 e 19. Com a ascensão do
racionalismo na Alemanha, o preterismo começou a propagar-se. Os escritos ra-
cionalistas não apenas tentavam refutar o conhecimento erudito dos sábios, mas
também promoviam um aberto ceticismo religioso.29
posições anteriores. A nova opinião trouxe o livro de Daniel do sexto século para
o segundo século a.C. Afirmou que as profecias não eram realmente predições,
mas história escrita na forma ou molde de profecia. Essa nova escola ofereceu
uma compreensão diferente dos quatro reinos de Daniel 2 e 7, posicionando-os
na época dos macabeus.
Simultaneamente à mudança com relação aos quatro reinos, uma nova opi-
nião se desenvolveu acerca do significado da pedra-reino de Daniel 2. O comen-
tário da Anchor Bible resume essa nova opinião da seguinte forma: “O Deus de
Israel aniquilará os reinos dos homens e, em seu lugar, estabelecerá o seu próprio
reino universal.”31 Todavia, os autores compreendem que a pedra que enche a
terra não é o Céu, mas se aplica, em vez disto, ao fato de que a terra será cheia do
conhecimento de Yahweh.32 Por outro lado, os autores concordam que a pedra é
escatológica, mas eles negam que ela é, estritamente falando, messiânica.33
Não há, porém, nenhum acordo unânime de que a pedra representa Israel34
em vez de um evento escatológico no final da era.35 Aqueles que veem o quarto
reino como Roma em geral apoiam a opinião de que a pedra é um evento escato-
lógico a ocorrer no fim do mundo.36
A profecia singular de Daniel 2 surge de uma situação imposta por Deus sobre
Nabucodonosor, um monarca pagão. Em tal experiência vemos retratada vivida-
mente a verdade neotestamentária de que o Senhor “deseja que todos os homens
280
sejam salvos e venham ao conhecimento da verdade” (1Tm 2:4). Deus leva em seu
coração a preocupação pelos perdidos como é claramente demonstrado nesse capí-
tulo. Por causa de sua violação da aliança, Israel foi para o cativeiro. Deus agora de-
sejava refazê-los e usá-los para atingir os pagãos a quem eles haviam negligenciado.
A fim de chamar a atenção do rei, Deus lhe falou através de um sonho. O
sonho foi dado no segundo ano de Nabucodonosor (603 a.C.). No ano anterior,
suas tropas haviam experimentado considerável dificuldade em destruir Asque-
lom.37 Não há dúvida de que estava preocupado com o que o futuro reservava
para ele e o seu reino.
O momento era oportuno para a transmissão de uma mensagem. Deus não so-
mente introduziu o sonho, mas também removeu sua lembrança a fim de aprofundar
a ansiedade do rei para conhecer o seu significado. Esta ação divina expôs a falsidade
dos “magos” do rei e preparou o caminho para Daniel obter acesso ao monarca.
Nesse cenário Deus provê um esquema da história na forma de uma imagem
metálica que se estende “do exílio ao estabelecimento do reino de Deus”.38 Nada
na profecia se baseia em contingências ou condições humanas. Não há nenhum
indício de que sua sequência de nações estivesse em algum sentido condicionada
à obediência de Israel a Deus. Em vez disso, é uma descrição direta da presciência
de Deus, o que Ele previu que ocorreria no futuro.
Últimos dias
O enfoque culminante do sonho centraliza-se nos “últimos dias”. Parece seguro
sugerir que 2:28-29 faz com que o leitor espere ter, ao longo da profecia, uma pes-
quisa da história desde o próprio tempo de Nabucodonosor até o estabelecimento
do reino de Deus. Contudo, a fim de compreender a interpretação da pedra-reino
encontrada em 2:34-35, 45, é necessário dar atenção à expressão “nos últimos dias”
(2:38) aos quais a profecia se relacionava, conforme dito a Nabucodonosor.
As expressões aramaicas be’aharît yômayyā’ significam “na última parte dos
dias” e é uma versão aramaica exata do hebraico be’aharît hayyāmîm, que é encon-
trada com frequência no Antigo Testamento.39 O significado da expressão varia
com o contexto e, portanto, é dinâmico, não estático. ’Aharît é derivada do verbo
’ahar (“permanecer atrás, demorar, tardar”), e carrega o significado de “posterior”,
“subsequentemente”. É um substantivo abstrato que é mais bem traduzido de
forma neutra. Estando só, seu significado nem sempre pode ser claro, sendo que
o contexto é necessário para suprir o enfoque correto. Seria proveitoso notar as
várias utilizações e significados dados no Antigo Testamento.
1. Há o significado temporal de “depois”, ou “posteriormente” como em Deu-
teronômio 8:16, que se refere a um tempo e condição depois da experiência do
deserto. Jó 42:12 é semelhante: “O Senhor abençoou os últimos [’aharît] dias de 281
Jó mais do que seu início... .”
2. Há também o lógico “depois”, conforme indicado em Provérbios 14:12:
“Há um caminho que parece direito ... mas seu fim [’aharît] é o caminho para a
morte” (cf. 5:4; 20:21).
3. Em algumas passagens ’aharît meramente se refere ao futuro. “Não tenha
o teu coração inveja dos pecadores; antes, no temor do Senhor perseverarás todo
dia. Porque deveras haverá bom futuro; [’aharît] não será frustrada a tua espe-
rança.” (Pv 23:17-18). Também Isaías 46:9-10 fala do Deus incomparável como
alguém que está “declarando o fim [’aharît] desde o princípio.”
4. Às vezes ’aharît significa posteridade ou remanescente. Salmo 109:13 é um
exemplo do primeiro. “Desapareça a sua posteridade [’aharît]; e na geração seguin-
te se extinga o seu nome.” O paralelismo sinonímico hebraico nesta passagem
ajuda a esclarecer o seu significado. Outras passagens em que o termo leva o signi-
ficado de “posteridade” são Daniel 11:4; Salmo 37:38, e Ezequiel 23:25. Às vezes
a mesma palavra é mais bem traduzida por “remanescente”, como pode ser visto
nos seguintes versículos: Amós 4:2; 9:1; Ezequiel 23:25.
5. A palavra pode se referir ao fim de uma transação ou de um evento. Em tais
casos, o significado deve ser encontrado no resultado. Balaão orou: “Que eu morra
a morte dos justos, e o meu fim [’aharît] seja como o dele” (Nm 23:10). Para outros
exemplos, compare com Deuteronômio 32:20; 11:12; Amós 8:10; e Eclesiastes 7:8.
Pedra-reino
A pedra-reino, que demoliu a estátua, é fundamental para a profecia. O leitor
naturalmente indagaria quanto ao tempo do estabelecimento desse reino. As op-
ções parecem ser três: (1) durante o ministério terrestre de Jesus, (2) em sua segun-
da vinda, ou (3) um cumprimento parcial no primeiro advento e um cumprimento
completo no fim dos tempos. Uma vez que todas as três têm partidários, devemos
examinar cuidadosamente o contexto desse sonho profético. 283
Primeiro, há o elemento tempo para a pedra-reino que “feriu a estátua nos pés
de ferro e de barro” (2:34). O leitor pela lógica concluiria que a pedra-reino viria
à existência depois de ter passado os quatro reinos dominantes e não durante a
existência de qualquer um deles. Além disso, o elemento tempo nos assegura que
essa pedra-reino seria estabelecida “nos dias destes reis”, representados pela divi-
são dos dedos e pés (2:43-44). Historicamente, esses reinos não vieram à existência
antes ou durante a vida terrestre de Jesus. Sendo assim, um cumprimento para a
pedra-reino nesse período não é uma opção plausível.
Ginsberg compreende que a expressão “nos dias destes reis” (2:44) se aplica
aos quatro grandes reinos da estátua, em vez de às nações que posteriormente
surgiriam.45 Todavia, tal posição parece ser destituída de fundamento, porque a
passagem (2:41-44) indica que a pedra cai sobre a mistura de ferro e barro (pés e
dedos) que representa aqueles reinos que sucederiam o Império Romano. O so-
nho declara o assunto explicitamente (versículo 34).
Os reinos simbolizados pelos dedos e pés são reinos que surgiram depois do
nascimento de Cristo e da Igreja Cristã. Assim, insistir que a pedra-reino tem seu
cumprimento com o primeiro aparecimento de Cristo cria um anacronismo que
está em conflito com a passagem e a história. É evidente que a pedra cai sobre os
pés (versículo 34), o que implica que há também pés a ferir.
se divide, a história do mundo virá a um fim. A pedra que deve ser cortada ‘sem
auxílio de mãos’, e que deve destruir o reino e ela mesma se tornar uma grande
montanha, é uma imagem do reino de Deus que enche toda a terra.”48
A Pedra = Messias
Era inevitável que essa pedra viesse a ser interpretada messianicamente, por-
que é paralela ao celestial Filho do Homem de 7:13.49 Embora continue sendo
argumentado que a pedra representa a conquista gradual do mundo por meio da
comunicação do evangelho pela Igreja Cristã, isso é feito de modo não convincen-
te.50 A evidência controvertida é primeiramente empírica.
Não há nenhuma indicação de que a Igreja Cristã tem destruído as nações
mundiais, ou esteja a caminho de realizar tal façanha, apesar do fato de já haver
tido quase vinte séculos para a realização dessa tarefa. Certamente uma norma
básica no estudo da profecia, pela qual uma interpretação é julgada, reside em se a
interpretação corresponde ao cumprimento. É evidente que a Igreja Cristã, depois
de 1.900 anos, nem de longe chegou a subjugar as nações espiritualmente falando
por meio do evangelho.51
Outra fraqueza desse ponto de vista reside na inconsistência que se segue
quando a pedra-reino é considerada apenas uma representação do domínio espi- 285
ritual estabelecido ou iniciado por Cristo em sua primeira vinda. O paralelismo
da passagem argumenta a favor de um reino físico, terrestre. Isto é o que temos
nos reinos que precedem a pedra-reino, e, pela lógica, a pedra-reino deveria ser
também física.
Os amilenaristas e alguns pós-milenaristas compreendem o reino de Deus
mencionado em Daniel como sendo aquele introduzido por Cristo em sua pri-
meira vinda.52 Tal perspectiva vê a estátua finalmente destruída pela Igreja Cristã.
Contudo, isso não deixa de ter seus problemas. Olhar para o primeiro advento de
Cristo e a Igreja Cristã como o cumprimento da pedra-reino é falsificar a história.
O cristianismo não foi a força decisiva que esfacelou o Império Romano. Antes,
seu fim foi devido à decadência interna – política, social e moralmente.
Outro ponto: o tempo do estabelecimento da pedra-reino tem sido excessi-
vamente longo, já somando 1.900 anos. Walvoord está correto quando observa:
“Ter tão longo período de tempo descrito no simbolismo de uma pedra que fere
os pés de uma estátua e a palha sendo levada pelo vento não corresponde aos fatos
da história,”53 nem se ajusta ao simbolismo da passagem. Nenhum período tão
extenso foi requerido para subverter qualquer um dos reinos precedentes. Conse-
quentemente, parece desnecessário 1.900 anos para a pedra realizar sua missão de
destruir todos os outros reinos. Parece mais razoável, e de acordo com o quadro
retratado pela profecia, concluir que a queda da pedra ainda está no futuro.
Uma evidência adicional para apoiar esse ponto de vista pode ser obtida pela
comparação do capítulo 2 com a profecia paralela do capítulo 7. O quarto animal
(análogo às pernas de ferro) especificamente desenvolveu dez chifres, interpretados
como dez reis (ou reinos) em 7:24. No capítulo 7, é somente depois do surgimento
desses dez reinos que é dado um quadro que inclui um novo tema, a saber, o juízo
(7:26) a ser seguido pelo evento já retratado no capítulo 2, o estabelecimento do
reino eterno (7:27).
Sendo que a subversão de cada reino precedente é literal e histórica no tempo, con-
sistentemente demanda que a subversão de todos os reinos terrestres aconteça literal-
mente. A abrangente destruição cósmica indicada por essa declaração, que não ocorreu
no primeiro século, limita o tempo à segunda vinda para o seu cumprimento.
A profecia provê outra expressão que é fundamental para uma interpretação
válida. Assevera que a pedra foi “cortada ... sem auxílio de mãos” (2:34, 45), o que
sugere que a origem e a natureza da pedra-reino seria sobrenatural, independente
do envolvimento humano.
Embora o reino da graça fosse introduzido durante o ministério terrestre de
Cristo, ele foi confiado ao canal humano da Igreja Cristã. Se a pedra-reino devesse
ser comparada à fé cristã, seria de se esperar que a Igreja esmagasse todos os reinos.
Tal destruição literal não tem ocorrido pelas mãos da Igreja Cristã, nem ocorrerá
por sua atividade na segunda vinda de Cristo. Não seria coerente com as outras 287
porções da profecia, que são claramente compreendidas por todos os comentários
como devendo ser interpretadas literalmente, mudar para um significado figurativo
ou espiritual (a propagação do evangelho) a destruição das nações pela pedra-reino
no fim dos tempos históricos – não durante os mesmos.56
Outra importante expressão fundamental para uma devida interpretação é a
declaração de que a pedra-reino “subsistirá para sempre” (2:44). A durabilidade
desse reino está em direto contraste com todos os outros reinos mencionados na
profecia. Baldwin declara corretamente: “Embora os reinos mundiais tenham sido
assumidos por sucessivos conquistadores, nenhum tomará o reino de assalto.”57
Não há nada inerente na declaração “subsistirá para sempre” que exclua a
compreensão de que a Igreja Cristã está satisfazendo o cumprimento. Todavia, é
mais provável, em vista de todas as características mencionadas na profecia, que o
seu cumprimento deve ser encontrado no estabelecimento do reino da glória.58
O capítulo provê ainda outra expressão-chave que dirige a atenção do leitor
para uma correta compreensão de sua mensagem. A profecia culmina com um
reino duradouro, que domina universalmente. A pedra “se tornou em grande
montanha, que encheu toda a terra” (2:35).
Os eventos que acompanham o primeiro advento de Cristo dificilmente po-
dem ser qualificados como um cumprimento, sendo que a universalidade dessa
claro, fica evidente que somos colocados outra vez face a face com outro relato do
juízo sobre o chifre e o livramento dos santos.
O relato declara que o chifre-reino “chegará ao seu fim, e não haverá quem o
socorra” (11:45). Visto que os capítulos 2 e 7 indicam que a derrocada do tempo
do fim não ocorre por agência humana, podemos concluir que a destruição, sucin-
tamente descrita no capítulo 11, é a mesma. O contexto que envolve a declaração
provê evidência adicional para esse ponto de vista. Os versículos imediatamente
seguintes retratam o posicionamento de Miguel, o começo de um tempo de angús-
tia muito severo, duas ressurreições especiais, e o livramento dos santos (12:1-3).
É a opinião comum dos adventistas do sétimo dia que esses versículos descrevem
o fim do tempo da graça e a angústia que o acompanhará. A passagem é elucidada
pelo revelador em sua descrição das pragas (Ap 16).
Um estudo comparativo das profecias de Daniel 2, 7, 8 e 11 leva a concluir que
não há nenhum cumprimento duplo inerente dentro da profecia da pedra-reino do
capítulo 2. Isto é, não há nenhuma evidência a sugerir um cumprimento parcial em
conexão com o estabelecimento do reino da graça durante o ministério terrestre de
Cristo a ser seguido por um cumprimento completo em sua segunda vinda. Ao con-
trário, não há nada dentro dessa profecia que sugira ou necessite de tal aplicação.
Tem-se sugerido que uma declaração de Ellen G. White em O Desejado de Todas
as Nações, página 34, provê evidência conclusiva de que a autora compreendia que 289
a pedra-reino devia ter um cumprimento duplo; o primeiro estando ligado com a
vinda de Cristo à terra como bebê, e outro em sua segunda vinda. A declaração é
encontrada no capítulo “A Plenitude dos Tempos”, e é circundada por passagens
proféticas do Antigo Testamento que se referem ao ministério de Jesus em seguida
à sua encarnação. Para benefício do leitor, toda a citação é dada:
“As derradeiras palavras de Jacó os enchiam de esperança: ‘O cetro não se arre-
dará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló.’ Gênesis 49:10.
O enfraquecido poder de Israel testemunhava que a vinda do Messias estava às
portas. A profecia de Daniel pintava a glória do seu reino sobre um domínio que
sucederia a todos os impérios terrestres; e disse o profeta: ‘subsistirá para sempre’.
Daniel 2:44. Ao passo que poucos entendiam a natureza da missão de Cristo, era
geral a expectativa de um poderoso príncipe que havia de estabelecer seu reino em
Israel, e que viria como um libertador para as nações.”
Uma regra básica de interpretação é evitar o uso de uma declaração ambígua
para estabelecer o significado de uma passagem. Certamente, essa precaução deve
ser atendida em conexão com esta citação. Uma pesquisa cuidadosa da passagem
indica que a autora está se referindo a certas profecias do Antigo Testamento que
encorajavam os judeus fiéis que ainda “acalentavam a esperança da promessa feita
aos pais” (DTN 34). Entre as passagens que fortaleciam sua fé estava Daniel 2. “A
profecia de Daniel pintava a glória do seu reino sobre um domínio que sucederia
a todos os impérios terrestres; e disse o profeta: ‘subsistirá para sempre.’ Daniel
2:44.” Essa declaração é então seguida por outra referência à sua temporária resi-
dência terrestre. Embora esses fiéis, que pacientemente esperavam pela prometida
redenção, misturassem em sua mente as profecias dos dois adventos, a descrição
da situação por Ellen G. White não é um endosso de um cumprimento de Daniel
2 no primeiro século.60
Na sentença anterior à citação, ela declara: “O enfraquecido poder de Israel
testemunhava que a vinda do Messias estava às portas.” Esta declaração admite
meramente que o Israel judaico estava esperando o reino e reinado messiânicos.
Ellen G. White então nota a antecipação dessas “almas fiéis” do ponto de vista
de uma profecia de Daniel, que olha adiante para o estabelecimento final do seu
reino. “A profecia de Daniel pintava a glória do seu reino sobre um domínio que
sucederia a todos os impérios terrestres.” Em todo caso, tal declaração não deve
ser forçada a prover uma interpretação contrária àquela que pode ser encontrada
em um estudo comparativo das profecias cumulativas de Daniel 2, 7, 8 e 11.
A Pedra
290
Na medida em que a profecia de Daniel 2 move-se na direção do estabelecimen-
to da pedra-reino, é vital para este estudo descobrir o uso bíblico e o significado do
termo “rocha” ou “pedra”. No Antigo Testamento com frequência “rocha” é um
nome para Yahweh.61 Isso provia uma ligação messiânica para muitas das passagens
do Antigo Testamento que são empregadas por escritores do Novo Testamento
para se referir à pessoa de Cristo. J. Jeremias reconhece essa dependência do Antigo
Testamento: “As passagens do Novo Testamento sobre a rocha (ou pedra) cristo-
lógica... repousam quase inteiramente sobre versículos do Antigo Testamento: Sl
118:22; Is 28:16; Dn 2:34s., 44s.; Êx 17:6 e Nm 20:7ss. (Zc 4:10).”62
O conceito de rocha sendo aplicado a Deus pode remontar a uma passagem
básica de Gênesis (49:24) onde se diz que o “Poderoso de Jacó” é a “Rocha de
Israel” (’eben). Daí por diante, esse conceito é repetido em numerosas outras pas-
sagens. Em Deuteronômio 32:4, Deus é mencionado como uma rocha (sûr) e,
posteriormente, em Isaías 8:14-15 Ele é chamado tanto de pedra quanto de rocha
(‘eben, sûr). No capítulo seguinte (Is 9:6) o escritor fala do Messias como Deus.
A partir desse conceito o leitor pode apreciar o significado messiânico da
seguinte declaração: “Portanto, assim diz o Senhor Deus: Eis que eu assentei em
Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada;
aquele que crer não foge” (Is 28:16).
Por causa disso, muitos dos judeus deixaram de discernir a partir das Escrituras
o seu verdadeiro caráter. Embora por causa desse preconceito e ódio Jesus fosse
morto, Deus conhecia o seu verdadeiro valor; o rejeitado foi ressuscitado, e Deus
“o exaltou sobremaneira” (Fp 2:9) para se tornar cabeça de esquina.87 Jesus agora
aplica a lição evidente por si mesma aos seus ouvintes: “Portanto, vos digo que o
reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produza os respectivos
frutos” (Mt 21:43).88 Em conexão com a citação da pedra angular (Sl 118:22-23)
Lucas relata o solene pronunciamento de Jesus: “Todo o que cair sobre esta pedra
ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó” (Lc 20:18).
Mateus registra uma declaração semelhante, mas sua presença nesse Evangelho é
questionada por alguns e aceita por outros.89
Visto que a passagem é considerada uma parte válida do Evangelho de Lucas,
admite-se que sua presença em Mateus, embora possa não ter pertencido original-
mente ao seu Evangelho, não deve ser rejeitada.90 É parte da advertência de Jesus
pronunciada nessa ocasião. Portanto, é necessário que examinemos essa passagem
em nossa análise geral da parábola.
As palavras de Jesus parecem incluir uma alusão a Isaías 8:14-15: “Ele vos será
santuário; mas será pedra de tropeço e rocha de ofensa às duas casas de Israel,
laço e armadilha... Muitos dentre eles tropeçarão e cairão, serão quebrantados,
enlaçados e presos.” 297
Em seu contexto veterotestamentário, Isaías 8:14-15 é uma parte do conselho
dado aos judeus, instando com eles para que pusessem sua confiança no Senhor e
não em Peca e Rezim. É tanto uma promessa quanto uma predição: uma promessa
de segurança e proteção para aqueles que confiam, e uma predição de juízo que
segue aqueles que tropeçam ou rejeitam esse porto de refúgio. Nessa passagem duas
metáforas são usadas para descrever os resultados, um positivo e o outro negativo.
A primeira – santuário (8:14) – é a promessa de abrigo e proteção contra forças
ameaçadoras. A segunda – uma pedra de ofensa – pronuncia juízo sobre aqueles que
tropeçam em desconfiança contra a autoridade do que promete. Há cinco verbos na
passagem que transmitem as consequências da rejeição, a saber, “muitos dentre eles
tropeçarão e cairão, serão quebrantados, enlaçados e presos” (ênfase acrescentada).
A fraseologia dada em Mateus e Lucas, “todo o que cair sobre esta pedra ficará
em pedaços”,91 é reminiscente de Isaías 8:14-15. É aplicada por Jesus aos líderes
religiosos, ao povo de seus dias e a qualquer que se escandaliza nele, e por qualquer
motivo deixa de render-lhe autoridade e senhorio. As passagens de Lucas 20:18 e Ma-
teus 21:44 adicionam outro pensamento não encontrado na passagem de Isaías: uma
ação pela pedra – “quando ela cair sobre alguém, o esmagará”, “o reduzirá a pó”.92
Goebel expressa o pensamento desse versículo quando declara: “Portanto,
uma colisão hostil com essa pedra – quer seja tropeçando contra e caindo sobre
ela enquanto ela jaz no caminho, ou colocando-se no caminho de sua descida e
a pedra assim caindo sobre ele – deve, em cada caso, provar-se fatal àquele que se
empenha em tal conflito.”93
A pedra que Jesus aplica a si mesmo é aquela com plena e final autoridade. Uma
resposta negativa a Jesus resulta em inevitável aniquilação, quer seja o resultado de
tropeço por incredulidade ou desafiadora oposição, que leva a pedra a triturá-los.94
Embora não totalmente provado, parece que a última expressão, “e aquele sobre
quem ela cair ficará reduzido a pó” (versículo 44), combina os conceitos de três passa-
gens do Antigo Testamento. A primeira é Isaías 8:14-15, onde a pedra é mencionada
como “uma rocha de ofensa”, e “muitos dentre eles tropeçarão e cairão, serão que-
brantados, enlaçados e presos”. Uma segunda passagem, em Isaías 28:16, se refere
à pedra como uma “pedra preciosa, angular, solidamente assentada”. Uma terceira
passagem é Daniel 2:34-35, 44-45, onde uma pedra é retratada caindo sobre os vários
metais da estátua, fazendo-os em pedaços, reduzindo-os à “palha das eiras no estio”.
Um contato negativo com a pedra resulta na mesma situação em Isaías 8:14-
15 e Daniel 2:34-35, 44-45, completo aniquilamento. Isaías adverte Judá contra
depender da força da conspiração humana, Rezim e Peca, para se opor à investida
dos exércitos assírios em vez de se confiarem às mãos de Deus. Era uma advertên-
cia contra uma recusa de sua parte a confiar na autoridade da mensagem e dos
mensageiros de Deus.
298 Por outro lado, a passagem de Daniel é uma parte de uma profecia escatológi-
ca que retrata a história humana a partir da perspectiva divina. A profecia começa
nos tempos da antiga Babilônia e conclui com uma pedra-reino, não de origem
humana, que cai sobre os reinos terrestres com força devastadora e, em seu lugar,
“a pedra ... [torna-se] uma grande montanha e [enche] toda a terra”. Embora o
contexto imediato seja diferente em ambas as passagens, o tema é semelhante, o
ilimitado poder inerente à pedra para resistir e subjugar toda oposição.
Parece que Jesus estava usando um bem-conhecido método, “midrash”, para
transmitir uma verdade bíblica. Midrash, um termo hebraico que significa “pes-
quisar”, “investigar com o propósito de explicar” era um método comum de es-
tudo bíblico praticado pelas escolas rabínicas da antiga Palestina.95 Reconhece-se
agora com mais clareza que o uso do Novo Testamento de passagens do Antigo
Testamento com frequência segue uma abordagem midráshica.96 Às vezes é por
meio de uma parábola, que está ligada a outros textos por uma palavra-chave,
tal como “pedra”. Frequentemente citações midráshicas podem envolver citações
completas de várias passagens do Antigo Testamento, que se tornam um jogo de
palavras em vez de um estudado esforço para prover um novo significado exegético
a uma passagem do Antigo Testamento.97
Há suficiente similaridade básica entre Mateus 21:44/Lucas 20:18 com Daniel
2:34-35, 44-45, para que o leitor possa concluir que Jesus está fazendo uma alusão
ao último nessa citação.98 Uma alusão midráshica é feita à pedra de Daniel 2:34-
35, 44-45, e Isaías 8:14-15 reunindo o tema da pedra messiânica de Salmo 118:22,
que foi mencionado em Mateus 21:42/Lucas 20:17 com o propósito de enfatizar a
soberana autoridade e poder de Cristo, que reinará sobre todos.
Portanto, Jesus está fundindo passagens que lidam com diferentes aspectos do
termo messiânico “pedra” para ensinar uma importante verdade acerca de si mes-
mo. Todavia, não era o intento de Cristo afirmar que a pedra-reino estava então
sendo estabelecida da maneira como Daniel 2 se referiu a ela. Gundry reconhece
claramente essa verdade: “o ferir da pedra ainda está no futuro”.99
Em vez de afirmar que a declaração de Cristo era uma interpretação da
pedra de Daniel aplicável aos seus dias, estaríamos mais em harmonia com os
fatos conhecidos vendo isso como um uso tipológico, midráshico de passagens
combinadas para demonstrar a soberana autoridade do Salvador.100
O fato de Jesus combinar uma passagem de Isaías 8:14-15 com uma porção
de Daniel 2:34 não significa necessariamente que Ele provê uma interpretação
neotestamentária da pedra-reino do livro de Daniel. Isso simplesmente demons-
tra que Ele estava usando terminologia do Antigo Testamento para ilustrar
um ponto. Jesus com frequência encontrava, em seus próprios dias, atitudes
e perspectivas que podiam ser ilustradas de incidentes e referências do Antigo
Testamento.101 Oxtoby expressa um ponto frequentemente esquecido: 299
“Passagens ligadas por alguma palavra ou ideia característica tendem a ser
agrupadas, embora possam ter pouco em comum – por exemplo, versículos que
mencionam uma pedra: a pedra rejeitada pelos construtores, a pedra angular
de Sião, a pedra de tropeço, e a pedra que destruiu a estátua.”102
Um exame cuidadoso de Mateus 21:44 sugere que a pedra-símbolo junta
dois eventos relacionados com Cristo, que são separados pelo tempo. Cristo,
em seu estado da encarnação, é a Pedra contra a qual tantos caem; Cristo em
sua glória e exaltação é a Pedra que finalmente, em sua segunda vinda, cai so-
bre os impenitentes.103 À luz da discussão precedente, não parece apropriado
sugerir que o relato de Mateus e Lucas provê o significado do Novo Testamento
para o que Deus originalmente pretendia que fosse compreendido pela pedra-
reino de Daniel 2.
Não há nenhuma evidência de que a pedra-reino foi designada a represen-
tar o estabelecimento do reino de Deus com o ministério encarnado de Jesus.
Ao contrário, a referência à pedra em Mateus (21:44) e Lucas (20:18) aponta
para o juízo escatológico que cairá sobre todos os que deixam de se submeter ao
soberano controle de Jesus. A ligação temática entre a pedra de Daniel 2 e a de
Mateus/Lucas jaz em seu simbolismo comum que retrata o poder duradouro e
a divina autoridade de Cristo.
Conclusão
Notas
1
LeRoy Edwin Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers 1 (Washington, DC, 1940):
p. 245.
2
Ibid.
3
Ibid., p. 272.
4
Ibid., p. 341-48.
5
Ibid., p. 349. Orígenes foi grandemente influenciado pela alegorização de Filo, e tal-
vez, em um grau inferior, Irineu, Tertuliano, Cipriano, Lactâncio, Jerônimo e Agostinho
(veja Froom, vol. 2, p. 186). Lactâncio (cerca de 250-330), pagão convertido, tornou-se
tutor do filho mais velho de Constantino, Crispo, e através disso Constantino foi influen-
ciado para o cristianismo pelos escritos e ensinos do mestre de seu filho. Juntamente com
Hipólito, Cipriano e Vitorino, Lactâncio ensinava que Roma seria dividida em 10 reinos
contemporâneos, que seriam seguidos pelo aparecimento do anticristo e o estabelecimen-
to do reino de Deus. (Ibid., vol. 1, p. 356).
Eusébio Panfílio (cerca de 260-340), pai da história da Igreja e bispo de Cesaréia, co-
mentava as profecias de Daniel, e ele concluiu: “Daniel 2 . . . em nenhum sentido difere
da visão . . . de Daniel 7” – Ibid., p. 363. Ele também reconheceu que Roma seria sucedida
pelo reino de Deus, que viria por intervenção divina. (Ibid., p. 364.) Todavia, em seguida à
“conversão” de Constantino e à exaltação da Igreja, Eusébio posteriormente reverteu sua
posição mais de acordo com os eventos contemporâneos. (Ibid., cap. 17.) Contudo, deve-se
notar que, no primeiro concílio geral da Igreja realizado em Nicéia em 325, a grandiosa
ênfase sobre o evento cataclísmico da Segunda Vinda era muito preeminente.
Vários apologistas surgiram em diferentes lugares enfatizando a Segunda Vinda e re-
lacionando a profecia com esse evento. Entre eles estavam Jacó Afraate (cerca de 290 a
cerca de 350 d.C.), um persa convertido ao cristianismo. Em seus escritos chamados “De-
monstrations”, ele comentou sobre as profecias de Daniel. Afraate entendia que a estátua
de Daniel 2 representava o mundo, começando com Nabucodonosor e continuando da
Medo-Pérsia, Grécia, e “os filhos de Esaú” (Roma) até o ferir da pedra que ele compreen-
dia como sendo o futuro estabelecimento do reino de Deus. (Ibid., p. 404.)
6
Ibid., p. 430-31. Um breve tempo depois, Sulpício Severo (cerca de 363–420 d.C.),
historiador da Igreja que passou os últimos anos de sua vida em um mosteiro em Toulou-
se, escreveu uma história sagrada. Nessa obra ele reconhece o ponto de vista tradicional
de Daniel 2, mas também ensina que a separação permanente em ferro e barro estava em
processo de ser cumprida. A pedra que fere prefigura Cristo e o seu reino futuro, que deve
ser estabelecido. (Ibid., p. 435-36.)
O famoso doutor da Igreja Latina, Jerônimo, (cerca de 340-420) escreveu um comentá-
rio sobre Daniel em que nomeou o quarto reino de Daniel 2 e 7 como sendo os romanos, o 301
que lhe trouxe o perigo de acusação pública. Embora Porfírio afirmasse que a pedra de Da-
niel 2 era o Israel literal, Jerônimo rejeitou o seu ensino e a aplicou a Cristo. (Ibid., p. 443.)
O teólogo, historiador e exegeta grego (cerca de 386-457), que se tornou bispo de Ciro
na Síria cerca de 423, também escreveu sobre Daniel. Em seu comentário, ele nomeou
Roma como o reino de ferro, e também identificou a pedra como sendo Cristo, que feriria
as nações no Segundo Advento. Teodoro repudiou a sugestão de Eusébio de que o ferir
das nações pela pedra representava a obra perfeita de Cristo em seu primeiro advento.
(Ibid., p. 450-52.)
7
Ibid., p. 466.
8
Ibid., p. 470.
9
Ibid., p. 476.
10
Ibid.
11
NPNF (Grand Rapids, 1979), vol. 2, “The City of God”, livro 20, cap. 5, p. 424.
12
Froom, vol. 1, p. 488.
13
NPNF, vol. 7, Tratado 4 sobre o Evangelho de João, sec. 4, p. 26.
14
Froom, vol. 1, p. 565.
15
Ibid., p. 700.
16
Ibid., p. 702.
17
Para gráficos que enumeram várias opiniões, veja Ibid., p. 456-57, 894-95.
18
Ibid., vol. 2, p. 267-68.
19
Ibid., p. 289. Veja Andrea R. Osiander (1498-1552), Ibid., p. 308; David Chytraeus
(1530-1600), p. 330; Tobias Stimmer (1539-1584), p. 347; George Joye (falecido em 1553),
p. 362; e William Fulke (cerca de 1538-1589), puritano inglês, vol. 2, p. 423. João Calvino
foi uma exceção a esta regra. Ele foi o menos decisivo de todos os líderes protestantes em
relação às profecias. Sobre Daniel 2 ele seguiu o conceito de Agostinho, a saber, a pedra
representa a Igreja que triunfará sobre todos os reinos terrestres. Contudo, essa posição é
notavelmente uma variante da multidão de vozes em oposição. Para uma abordagem mais
ampla, veja Ibid., p. 436.
20
Ibid., p. 484.
21
Froom, vol. 3, p. 541-43.
22
Ibid., p. 661.
23
Ibid., vol. 2, p. 510.
24
Ibid.
25
Para uma lista das principais opiniões mantidas pelos expositores da Reforma sobre
Daniel, veja Ibid., p. 528-29. A opinião principal continuou sendo a escola historicista até
o século dezenove.
26
Ibid., p. 545. Joseph Mede, o brilhante erudito de Cambridge, ensinava que a pedra
significava que Deus traria um fim à história humana durante o tempo das nações divididas
que seguem o reino de ferro. (B. W. Ball, The English Connection [Cambridge, 1981], p. 206.)
302 27
Froom, vol. 2, p. 571. A mesma opinião foi sugerida por Thomas Beverley (1670-
1701), ministro na Grã-Bretanha, p. 585; Moise Amyraut (1596-1664), teólogo, p. 633;
Sir Isaac Newton (1642-1727), p. 660-61; Christian Gottlob Thube (p. 777); Richard Ma-
ther (1596-1669), p. 133; Cotton Mather (1663-1728) foi um teólogo, erudito, autor em
Boston, p. 148; Nicholas Noyes (1647-1717), pastor em Connecticut, vol. 3, p. 157-58;
William Burnet (1688-1729), governador de Nova Iorque, p. 170; Benjamin Gale (1715-
1790), médico em Connecticut e escritor, p. 216; Samuel Osgood (1748-1813), Diretor
Geral dos Correios, p. 222; Joshua Spalding (1760-1825), ministro, p. 234-35; Manuel
de Lacunza (1731-1801), sacerdote jesuíta, p. 318; William Hales (1747-1831), ministro,
p. 332; George Faber (1773-1854), ministro, p. 340; Thomas Scott (1747-1821), ministro,
p. 348; Adam Clarke (1762-1832), pregador, comentarista, p. 355; Samuel Toovey (1813),
clérigo, p. 359; William Cuninghame (1776-1849), diretor do New College, Edimburgo, p.
366; James Frere (1779-1866), autor, p. 387; John Bayford, promotor do cristianismo entre
os judeus, associado com Joseph Wolff e Henry Drummond, p. 409; Lewis Way (1772-
1840), advogado, negou que a pedra-reino pudesse se referir ao primeiro advento, p. 421;
William Girdlestone (1786-1840), educador, ministro, p. 433; Henry Drummond (1786-
1860), banqueiro e membro do Parlamento, p. 438; Joseph Wolff (1795-1862), judeu cris-
tão missionário para o mundo, p. 475; John Fry (1775-1849), reitor, p. 490; William Jones
(1762-1846), escritor religioso batista, p. 511; Edward Irving (1792-1834), pregador, p. 521;
Gerard Noel (1782-1851), ministro e escritor, p. 530-31; Alfred Addis (nascido em 1806),
escritor, p. 557; James Begg (1800-1868), autor escocês sobre profecia, p. 562-63; Edward
Veja Gênesis 49:1; Números 24:14; Deuteronômio 4:30; 31:29; Jeremias 23:20;
39
30:24; 48:47; 49:39; Ezequiel 38:16; Daniel 2:28; 10:14; Oséias 3:5; Miquéias 4:1.
40
TDOT, 1:211. Também Hartman e Di Lella concordam que a expressão aramaica
be’aharît yômayyā’ corresponde ao hebraico ’aharît hayyāmîm (Os 3:5; Is 2:2; Dn 10:14;
8:19; 8:23; Nm 24:14; Jr 23:20) e que é um típico termo escatológico.
41
S. R. Driver. The Book of Daniel (Cambridge at the University Press, 1905), p. 26.
42
Edward J. Young, The Prophecy of Daniel (Grand Rapids, 1949), p. 70.
43
Últimos Dias. ’Aharît hayyāmîm geralmente se refere àquele período de tempo
que é futuro e pode envolver um período breve ou longo: (1) O fim dos 430 anos de
peregrinação (Gn 1:13, 16) quando Israel possuiria Canaã (Gn 49:1); (2) o final dos 40
anos de vagueação no deserto (Dt 8:16); (3) algum período futuro de tribulação e exílio
(Dt 4:30; Os 3:5); (4) o final de um período da História (Dt 31:29); (5) o resultado final
de um procedimento (Pv 14:12; 23:32; Is 47:7). Esse termo, quando se refere à profecia
bíblica, é usado para aplicar a: (1) o fim do poder da Grécia (Dn 8:23); (2) o final dos
1.260 e dos 2.300 dias (Dn 10:14; 8:19); (3) a reunião dos gentios no final da era (Is
2:2; Mq 4:1); (4) a batalha de Gogue e Magogue antes do estabelecimento do reino
messiânico (Ez 38:6, 7, 16); (5) o grande dia do juízo final (Jr 23:20; 30:24); (6) o “fim”
dos ímpios (Sl 37:38).
44
Cf. Daniel 8:25 e 11:45 onde o mesmo pensamento é usado para indicar a aniquila-
304 ção total do hostil chifre pequeno e daqueles que se aliam a ele em simpatia e apoio.
45
H. L. Ginsberg, Studies in Daniel (New York, 1948), p. 6-7. Driver aplica também a
esses reis os selêucidas e os ptolomeus. (Driver, p. 30.)
46
Daniel 2:39 estabelece a sequência cronológica de cada reino sucessivo declarando:
“depois de ti, se levantará outro reino.” Colocar o estabelecimento da pedra-reino durante
o tempo da monarquia de ferro distorce a lógica e interrompe a sequência cronológica da
passagem.
47
A. C. Gaebelein, The Prophet Daniel (New York, 1911), p. 35.
48
Gerhard Von Rad, Old Testament Theology 2 (New York, 1965): 311-12.
49
Cf. 4 Esdras 13:6 onde um homem do mar é retratado como uma figura messiânica
que escava uma montanha de pedra em que ele está.
50
João Calvino, Book of the Prophet Daniel (Grand Rapids, 1948), p. 180, 187-88; E.J.
Young, The Prophecy of Daniel (Grand Rapids, 1949), p. 79; Louis F. Hartman e Alexander
A. Di Lella, The Book of Daniel (Garden City, NY, 1978), p. 149.
51
The World Almanac and Book of Facts (New York, 1984), p. 351:
Religião Totais
Cristã 1.028.170.300
Judaica 16.820.850
Muçulmana 548.075.500
Zoroastriana 257.450
Xintoísta 38.135.000
Taoísta 25.000.000
Confuciana 168.615.000
Budista 249.569.400
Hindu 457.881.100
Total de cristãos 1.028.170.300
Total de não-cristãos 1.504.354.300
Total de todas as religiões 2.532.524.600
Total da população mundial 4.680.526.000
52
John F. Walvoord, Daniel, A Key to Prophetic Revelation (Chicago, 1971), p. 74-75.
53
Ibid.
54
Cf. Mt 24:37-44; 45-51; 25:31-46; 2Ts 2:8; 1Ts. 1:7-10.
55
Gaebelein, p. 35; O. T. Allis, Prophecy and the Church (Filadélfia, 1945), p. 123-24;
H. C. Leupold, Daniel (Columbus, OH, 1949), p. 123. Por outro lado, Driver considera-os 305
como sendo os selêucidas e ptolomeus. (Driver, p. 30.) Baldwin sustenta que a expressão
se refere aos reis do último reino mencionado. (Baldwin, p. 93.)
56
E. J. Young é um intérprete que faz essa aplicação espiritual à pedra em seu comen-
tário, The Prophecy of Daniel, p. 78.
57
Baldwin, p. 93.
58
Cf. Apocalipse 11:15 onde o estabelecimento do reino está relacionado com o fim
do mundo. Naquele tempo, é declarado que os reinos terrestres são substituídos pelo reino
de Cristo em que Ele reinará para sempre.
59
Gerhard F. Hasel, Understanding the Living Word of God (Mountain View, CA, 1980), p. 199.
60
Há profecias no Antigo Testamento onde o primeiro e o segundo adventos são às
vezes registrados simultaneamente. Veja Isaías 61:1-2; 40:10-11.
61
Sela‘: 2Sm 22:2; Sl 18:2; 31:3; 42:9; 71:3; 78:16; sûr: Dt 32:4, 18, 31, 37; 2Sm 22:3,
32, 47; 23:3; Sl 18:31, 46; 31:2; 62:2, 7; 78:20, 35; 89:26; 92:15; 94:22; 95:1.
62
TDNT, 4:272.
63
Ibid.
64
O verbo hebraico bāhan no Antigo Testamento, Sirach e nos textos de Qumran
significa “provar”, (isto é, pôr à prova). Na LXX é traduzido pelo verbo grego dokimazein,
“pôr à prova, examinar” – TDOT, 2:69.
65
Colin Brown, ed., The New International Dictionary of the New Testament Theology 3
(Grand Rapids, 1978): 389.
66
R. J. McKelvey, “Christ the Cornerstone,” NTS 8 (1961-1962): 352-59.
67
Os exegetas de Qumran compreendem essa pedra como sendo a pedra fundamental.
Veja McKelvey, p. 355.
68
Ibid., p. 357.
69
Cf. Salmos 118:22: “A pedra que os construtores rejeitaram se tornou a principal
pedra de esquina” (NASB).
70
Cf. 1 Reis 5:17; 7:9-11 onde tais pedras eram usadas nos fundamentos de edifícios.
71
A rocha é um símbolo de firmeza, resolução e resistência. Veja Isaías 50:7; Ezequiel
3:9; Jeremias 5:3.
72
Brown, p. 382.
73
Para uma abordagem proveitosa desses versículos veja Edward J. Young, The Book of
Isaiah (Grand Rapids, 1969), 2:282-88; também vol. 1, p. 311-15.
74
TDNT, 4:272-73.
75
Ibid., p. 273.
76
Ibid., p. 275.
77
Cf. Rm 9:32-33; 1 Pd 2:8; Lc 2:34.
78
TDNT, 4:276.
79
O leitor pode observar o uso das palavras gregas e aramaicas/hebraicas para pedra
em conexão com passagens relevantes para este estudo.
306 A. Petra
1. Rm 9:33 ........................... “Uma rocha de escândalo”
2. 1Co 10:4 ............................ “Uma pedra que os seguia”
3. 1Pe 2:8 .............................. “Uma rocha de ofensa”
4. Mt 16:18 ............................. “Sobre esta pedra”
5. Êx 17:6 ............................... “Ferirás a rocha, e dela sairá água”
6. Nm 20:8 .............................. “Falai à rocha, e dará a sua água”
B. Lithos
1. Mt 21:42 .............................. “A pedra que os construtores rejeitaram”
Mt 21:44 .............................. “Todo o que cair sobre esta pedra”
2. At 4:11 ................................ “Este ... é pedra rejeitada”
3. 1Pe 2:4 ............................... “A pedra que vive”
1Pe 2:6 ............................... “Ponho em Sião uma pedra”
1Pe 2:7 ............................... “A pedra que os construtores rejeitaram”
1Pe 2:8 ............................... “Pedra de tropeço e rocha de ofensa”
C. ’Eben
1. Dn 2:34 ........................... “Quando estavas olhando, uma pedra foi cortada”
LXX = lithos
2. Dn 2:35 ............................... “A pedra que feriu a estátua se tornou”
LXX = lithos
Geralmente a LXX traduz ’eben por lithos (veja Brown, vol. 3, p. 388). Petra é princi-
palmente usada para traduzir o hebraico sûr, um grande pedaço de rocha (p. 381), ou sela‘
(cf. Êx 17:6, Nm 20:8).
80
Jesus empregou palavras semelhantes àquelas encontradas no cântico da vinha
(Is 5:1-7).
81
H.D.M. Spence e Joseph S. Exell, eds., The Pulpit Commentary 34 (Chicago, n.d.):
826; John P. Lange, Commentary on Matthew 1 (New York, 1865): 388.
82
Simon Kistemaker, The Parables of Jesus (Grand Rapids, 1980), p. 95.
83
Isaías 28:16; Daniel 2:34; Zacarias 3:9 eram familiares aos judeus e eram compreen-
didas como messiânicas.
84
Mostrando desprezo pelos servos e pelo filho do chefe de família, eles estavam re-
jeitando a autoridade do proprietário e o estavam desafiando, o que lhes traria inevitável
retribuição.
85
TDNT, 1:792; cf. também DTN 597-98.
86
Outras aplicações neotestamentárias da pedra a Cristo são encontradas em Atos 307
4:11; 1 Pedro 2:6; Efésios 2:20-21; Romanos 9:33.
87
O hebraico pinnāh (Sl 118:22). Esta palavra é considerada por judeus e cristãos igual-
mente como messiânica. Tenney, vol. 1, p. 980-81. Cf. Matthew Black, “The Christological
Use of the Old Testament in the New,” NTS 18:13-14.
88
R. Swaeles concorda que o conceito expresso no versículo 43 abrange o todo de
Daniel 2:44, que explica a citação dada no versículo 44; consequentemente o versículo 44
deve ser original. R. Swaeles, NTS 6 (1962): 310-13.
89
Segundo Gundry, Mateus 21:44 “pode ser uma interpolação de Lucas; contudo,
permanece a possibilidade de ser genuína. As pequenas diferenças entre Mateus e Lucas
não são facilmente explicadas sobre a hipótese de interpolação” (Robert Horton Gundry,
The Use of the Old Testament in St. Matthew’s Gospel [Leiden, 1967], p. 84-85). Gundry
ainda sustenta que “a probabilidade de um trocadilho em bēn [filho] e ’eben [pedra] e a
preeminência de citações similares em Atos 4:11; Romanos 9:33; e 1 Pedro 2:6-8 apoiam a
originalidade de Mateus” (Gundry, Matthew, A Commentary on His Literary and Theological
Art [Grand Rapids, 1982], p. 429.)
90
Está incluso como uma nota de rodapé nas seguintes Bíblias: The Jerusalem
Bible, Revised Standard Version, New English, Good News Bible, New American Stan-
dard; e aparece em colchetes na Anchor Bible. Esse versículo é omitido por autoridades
textuais ocidentais e a Antiga Siríaca; daí então o motivo para o acréscimo de notas ao
pé da página em muitas versões modernas. “Esse versículo é posto entre colchetes por
W. H., mas é encontrado em Lucas 20:18 e parece uma interpolação, contudo se adap-
ta à situação, servindo como uma solene advertência aos homens” (Alexander Bruce,
The Expositor’s Greek Testament 1 [Grand Rapids, s.d.]: p. 268). Esse versículo 44 não
aparece em D33 itb, d, e, ff, r syr, Diatessaron, Irineu, Orígenes, Eusébio. Portanto,
alguns críticos textuais suspeitam uma interpolação de Lucas 20:18. Porém, ligeiras
diferenças entre as formas da afirmação de Mateus e Lucas sugerem originalidade em
Mateus. Se Mateus tivesse copiado Lucas, isso provavelmente teria resultado em uma
passagem idêntica à de Lucas. É verdade que o versículo 44 seria mais natural se seguis-
se o versículo 42. Todavia, a colocação ilógica pode ser evidente para a originalidade
de Mateus, sendo que ele estava ansioso para escrever acerca da transferência do reino
como a “maravilhosa” interpretação do versículo 42. Isso dificultou em falar acerca
do evento retratado no versículo 44. Gundry crê que essa inabilidade da colocação
do versículo 44 explica sua omissão no texto ocidental (R. H. Gundry, Matthew, A
Commentary on His Literary and Theological Art, p. 431. Cf. United Bible Society, Bruce
Metzger, Textual Commentary, ad. loc.) Dodd crê que Lucas equacionou a pedra com
Salmo 118:22; Isaías 8:14; e com Daniel 2:34 (veja C. H. Dodd, According to Scriptures
[New York, 1953], p. 69.)
91 “
Será quebrado” (sunthlasthēsetai), destruído em pedaços.
92
Será reduzido a pó. Lenski, Matthew’s Gospel (Columbus, OH, 1943), p. 845;
308 “peneirar, separar o trigo da palha” (TDNT, 4:280.)
93
Siegfried Goebel, The Parables of Jesus (Edimburgo, 1900), p. 338.
94
Colin Brown, ed., The New International Dictionary of New Testament Theology 1
(Grand Rapids, 1975): 610. Cf. os que veem essa conexão: Henry Alford, The Greek
Testament 1 (New York, 1973): 217; John Albert Bengel, Gnomon of the New Testament 1
(Filadélfia, 1860): 391; Lange, p. 388; Spence and Exell, vol. 7, p. 327; IB 3 (New York,
1952): 349; TDNT, 4:275.
95
Havia dois tipos de Midrash: Halachah, que tratava dos ensinos legais da Bíblia,
e a Haggadah (narração) que se relacionava com a porção não legal. Sua ênfase era prá-
tica, homilética. Veja IDB (1962), p. 376. Também Tenney, vol. 4, p. 222-23.
96
E. E. Ellis, Prophecy and Hermeneutic in Early Christianity (Grand Rapids, 1978), p.
152ss. Veja também Black, vol. 18, p. 1-14.
97
Ellis, p. 152, 157-58.
98
Gundry, The Use of the Old Testament in St. Matthew’s Gospel, p. 85, 207; Ellis, p.
192, 205.
99
Gundry, The Use of the Old Testament in St. Matthew’s Gospel, p. 209.
100
Alusões são feitas por E. G. White à necessidade de “cair sobre a . . . [rocha] e
ser quebrado” nos seguintes lugares: Fundamentos da Educação Cristã, p. 284; Mensagens
Escolhidas 1, p. 328, 330; Mensagens Escolhidas 2, p. 389; 2 Testimonies, p. 301; 5 Testi-
monies, p. 218; 6 Testimonies, p. 317; Testemunhos para Ministros, p. 80, 146. Uma leitura
das passagens revela claramente que ela está fazendo um uso homilético e alusão à
expressão para apoiar um ponto de vista, em vez de uma interpretação do que se queria
dizer pelas palavras.
101
Gordon C. Oxtoby, Prediction and Fulfillment in the Bible (Filadélfia, s.d.), p. 45.
102
Ibid., p. 37.
103
Spence and Exell, vol. 34, p. 327.
309
Além disso, o verbo usado para descrever a atividade desse chifre como sain-
do não é um verbo para denotar crescimento. Antes, está descrevendo a expansão
geográfica horizontal do chifre para o sul, para o oriente e para o norte (segundo
a tradução Septuaginta). Se essa interpretação está correta, ela sugeriria que o chi-
fre originou-se no ocidente e moveu-se dali, o que foi historicamente verdadeiro
quanto a Roma, mas não quanto a Antíoco.
Embora comumente mencionado como um chifre “pequeno”, o texto he-
braico simplesmente indica que ele partiu de um pequeno começo para tornar-se
um poder de imensa força. Não apenas se expandiu horizontalmente sobre áreas
geográficas, mas também no devido tempo para cima contra as estrelas do céu.
Algumas destas são lançadas por terra. Tal movimento vertical contra as estrelas é
interpretado por Gabriel como significando a natureza perseguidora desse chifre
e seus ataques contra o povo de Deus.
Esboço da seção
1. Introdução
2. Contexto
312
3. Autenticidade da passagem
4. Tradução
5. Chifre pequeno: origem e primeiras atividades
Introdução
Contexto
A tentação para estudar uma passagem das Escrituras isolada do seu contexto é
um perigo que deve ser evitado. Portanto, será essencial prestar atenção ao contex-
to dos v. 9-14 na visão do capítulo 8, e ao livro de Daniel como um todo.
Os seis v. são parte da revelação do capítulo 8. Essa revelação tem uma intro-
dução claramente demarcada (v. 1-2) e conclusão (v. 27). A revelação em si consiste
de três partes importantes: (1) visão (v. 3-12), (2) audição (v. 13-14),2 e (3) explica-
ção da visão por Gabriel (v. 15-26).
A visão descreve: (a) um carneiro e suas atividades (v. 3-4), (b) um bode e suas
atividades (v. 5-8), e (c) um “chifre pequeno” (v. 9-12) – sua origem (v. 9a), expan-
são (v. 9b), e impressionante atividade (v. 10-12).
A audição é também uma parte da revelação sobrenatural dada a Daniel. Ela
ocorre enquanto os olhos do vidente estão fixos na atividade do chifre pequeno
sobre a terra. Contudo, está separada da parte precedente da revelação por uma
importante mudança de “ver” nos v. 3-12 para “ouvir” nos v. 13-14.
A audição está assinalada pelas palavras introdutórias: “e eu ouvi” no v. 13a. A
audição consequentemente quebra o fluxo do que é mostrado na visão. Introduz
algo novo, a saber, o diálogo pergunta-resposta dos seres celestiais.3 A importância 313
do diálogo pergunta-resposta coloca-o na estrutura de tempo dos eventos que es-
tão além das 2.300 “tardes e manhãs” que o anjo Gabriel descreve como “o tempo
do fim” (v. 17).
Assim, dentro do escopo mais amplo da revelação de Daniel 8, nossa pas-
sagem (v. 9-14) traz quatro v. que lidam com a origem e atividades do “chifre
pequeno” (v. 9-12). Eles são seguidos pelos dois v. pertencentes a uma audição
em que a pergunta, ou melhor, a conclusão da visão, é suscitada e respondida
com o período de tempo das 2.300 “tardes e manhãs”, que culmina no evento
apocalíptico-escatológico: a “purificação do santuário” (v. 13-14).
A mudança de “visão” para “audição” entre os v. 12 e 13 é também indicativa
de um movimento de ênfase puramente horizontal (e, portanto terrestre) em re-
lação ao carneiro medo-persa (v. 3-4, 20) e ao bode grego (v. 5-8, 21), cujo chifre é
quebrado e em cujo lugar quatro chifres ou reinos aparecem (v. 8, 22). A descrição
desses dois impérios mundiais e a divisão do último permanece no nível horizon-
tal-terrestre. Nenhum movimento vertical para a esfera celestial é evidente.
A descrição do “chifre pequeno” igualmente começa retratando sua origem e
expansão horizontal-terrestre (v. 9-10, 23-24). Mas em suas atividades posteriores,
ou segundo estágio (v. 11-12, 25), há um distinto movimento vertical por parte do
chifre. Ele se move para cima aparentemente como uma esfera puramente celestial
na audição dos seres celestes relativamente à “purificação” do santuário e ao tempo
do seu início (v. 13-14). O diagrama seguinte tenta visualizar o aspecto horizontal-
vertical de toda a passagem (v. 12-14):
314
Autenticidade da passagem
O estudante informado de Daniel 8 está ciente de que sua unidade tem sido
questionada em décadas recentes. Foi sugerido por H. L. Ginsberg, em meados
do século 20, que os v. 13-14 (também os v. 16, 26a, 27b) não são partes genuínas
da visão do capítulo 8.4 Isso é parte de sua hipótese de duas grandes fontes para o
livro de Daniel, a saber, Daniel A e Daniel B, cada uma das quais com vários está-
gios editoriais. Embora tal hipótese fosse atacada por H. H. Rowley,5 produzindo
uma contestação por Ginsberg6 , à qual Rowley por sua vez respondeu,7 há um
315
comentário recente que segue a opinião de Ginsberg de que 8:13-14 é uma adição
posterior e não parte da visão original.8
Outro estudo recente afirma que todos os quatro v. de 8:11-14 são uma “interpo-
lação posterior”.9 Ainda mais radical é a opinião de A. Jepsen que sugere que toda
a descrição do “chifre pequeno” tanto na visão (8:9-14) quanto na interpretação (v.
23-26) é uma adição secundária.10 Mas o ponto de vista de A. Jepsen, não tem en-
contrado simpatizantes entre os eruditos e é demasiado radical mesmo para os mais
críticos dos eruditos que seguem a escola crítico-histórica de interpretação.
Devemos ter em mente que a razão primária para a negação da unidade do
livro de Daniel entre os eruditos crítico-históricos é o fato de que o material dos
capítulos 1–6 não pode ser levado a ajustar-se aos eventos que envolvem Antíoco
IV Epifânio no segundo século a.C. A conclusão de H. L. Ginsberg de que os
capítulos 1–6 (que ele chama de Daniel A) não contêm “nada que possa ser inter-
pretado como uma alusão às condições do tempo de Antíoco IV, exceto por uma
exegese distorcida”,11 tem exercido uma forte influência sobre muitos comenta-
ristas crítico-históricos. É invariavelmente sugerido pela erudição crítico-histórica
que estes capítulos, no mínimo 2 a 6, devem derivar de um tempo anterior,12
possivelmente remontando aos tempos exílicos.
E quanto a 8:9-14? Quais são os argumentos da escola crítico-histórica de in-
terpretação para negar que pertencem à visão original? Os seguintes pontos são su-
geridos: (1) Daniel 8:13-14 “definitivamente não é pressuposto por 8:15-25, 26b”,
afirma H. L. Ginsberg,13 seguido recentemente por B. Hassilberger14 argumentan-
do que a interpretação do capítulo 8 não faz nenhuma referência aos versículos
13-14.15 (2) Não há nenhuma motivação para a audição em 8:13-14.16 (3) Daniel
8:11-12 muda o sujeito dos verbos para o masculino enquanto que os versículos
9-10 contêm verbos no feminino.17
Consideremos esses argumentos. Com relação à observação de que 8:13-14
“não é pressuposto por 8:15-25, 26b”, é necessário salientar que é deveras pres-
suposto pelo versículo 16, onde o termo mar’eh (“visão”) reflete uma referência à
audição como faz o mesmo termo em 26a. Ginsberg, contudo, remove essas duas
partes da interpretação através de sua análise crítica. Portanto, se a mão do crítico
remove os versículos 16 e 26a, não há mais nenhuma referência aos versículos 13-
14 na passagem explanatória dos versículos 15-26! Então a mão do crítico pode
também remover os versículos 13-14.
Essa espécie de raciocínio circular do “arquifragmentador”18 do livro de Da-
niel e seus seguidores não é nem um pouco convincente. É claro que a interpreta-
ção, como está no texto, não faz referência a 8:13-14 nos versículos 16 e 26. Assim,
os versículos 13-14 são pressupostos, e é feita referência a eles na interpretação
seguinte (v. 15-26).
316 O argumento de que não há nenhuma motivação para a audição dos versícu-
los 13-14 precisa agora ser tratada. Entre outras coisas 8:13-14 se relaciona com
o elemento tempo. A visão apocalíptica do capítulo 7 contém um elemento de
tempo (v. 25), e a visão apocalíptica dos capítulos 11 e 12 também traz referências
a elementos de tempo (12:7, 11-12). Isso indica que se pode esperar que a visão
apocalíptica paralela do capítulo 8 também tenha referência a um elemento de
tempo. Daniel 8:13-14, 26 realmente contém referências a um esperado elemento
de tempo19 indicando assim suficiente motivação para a passagem. Os eruditos
crítico-históricos em geral acharam essa suposta ausência de motivação uma razão
convincente para negar a genuinidade de 8:13-14.
Isso nos deixa a considerar a integridade da passagem de 8:11-12, da qual é
dito conter uma mudança no gênero dos verbos do feminino (v. 9-10) para o mas-
culino (v. 11-12).
As mudanças no gênero do sujeito não são, de forma alguma, um motivo para
considerar os versículos 11-12 como interpolações. Poder-se-ia afirmar que um inter-
polador não é tão inábil a ponto de pensar que suas atividades não seriam descober-
tas por tal mudança de gênero. A natureza incomum da mudança de gênero aponta
para autenticidade. Além disso, não é correto afirmar que os versículos 11-12 têm o
gênero masculino para os verbos. Somente o versículo 11 tem a forma masculina, en-
quanto que o verbo no 12 é outra vez feminino. Nossa interpretação detalhada abaixo
palavra-por-palavra sugere o motivo para a mudança de gênero no versículo 11.
Tradução
Daniel 8:9-14
10 E tornou-se grande sobre o exército do céu, e fez com que alguns do exér-
cito e das estrelas caíssem por terra, e os pisou.
11 E fez-se grande até mesmo para o Príncipe do exército, e dele foi tirado o
serviço contínuo, e o fundamento do seu santuário foi deitado abaixo.
13 Então ouvi um santo falando e outro santo disse ao indivíduo que estava
falando: “Até quando será a visão, que inclui o serviço contínuo e a
transgressão que causa horror, para fazer com que o santuário e o exército
sejam pisados?”
14 E ele me disse: “Até 2.300 tardes e manhãs, então o santuário será purificado.”
A B
Daniel 8:8 para os quatro ventos de os céus
fem. masc.
A B
Daniel 8:9 e de um de eles
quatro ventos dos céus” seria “para as quatro direções da bússola”.33 É por este mo-
tivo que o sufixo masculino plural hem (deles) pode se referir ao termo “ventos”,
isto é, às quatro direções.
Também podemos nos lembrar de que “através do enfraquecimento da distin-
ção de gênero ... sufixos masculinos (especialmente no plural) são frequentemente
usados para se referir a substantivos femininos.”34
Assim, o sufixo plural masculino hem (deles) pode se referir retroativamente
ao substantivo feminino para “ventos”. Não pode se referir retroativamente à pa-
lavra “chifres” que realmente não está presente no texto hebraico, mas é suprida
nas traduções. Ela é suprida por tradutores porque se alude a ela através de elipse.
É duvidoso, contudo, que se possa falar de um substantivo antecedente como um
antecedente sintático apropriado quando não é expresso. Um antecedente elíptico
dificilmente é suficiente para a construção gramatical.
Isso nos deixa com apenas duas possibilidades para o antecedente para o mascu-
lino plural “deles” – ou (1) “céus” (masculino plural) ou (2) “ventos” (feminino plu-
ral na forma, mas masculino na função). Um ou outro é possível. O primeiro é sin-
taticamente menos complexo, provendo um paralelismo sintático compatível com
o gênero. Qualquer uma dessas possibilidades sintáticas demonstra que o “chifre
pequeno” saiu de uma das direções da bússola e não de um dos quatro chifres.35
A sintaxe hebraica de 8:8-9 torna impossível que o “chifre pequeno” seja de- 321
rivado de um chifre anterior e assim seja identificado com Antíoco IV, que é
realmente um representante do chifre selêucida. Essa conclusão é confirmada por
duas razões: (1) o uso do verbo no versículo 9, e (2) a ligação contextual de referên-
cias geográficas também encontradas no mesmo versículo. Ambas agora merecem
breve atenção.
O verbo na frase inicial do versículo 9 é yāsā’, cujo significado básico é
“sair”ou “vir, mudar-se”.36 Não é a palavra típica para o crescimento de um chifre
no capítulo 8. A ideia de crescimento do chifre é enfatizada duas vezes no capítu-
lo. A primeira referência está no versículo 3, onde um particípio do verbo ‘ālāh
(subir)37 é usado. Essa palavra declara que o chifre mais alto (do carneiro) “subiu
por último”, isto é, ele cresceu por último. No versículo 8, o verbo ‘ālāh aparece38
outra vez com referência aos quatro chifres saindo ou crescendo no lugar do gran-
de chifre que foi quebrado.
Em contraste com a ideia de crescimento de ‘ālāh está o movimento yāsā’ do
“chifre pequeno” – indo, movendo-se, ou saindo no sentido de um movimento
de uma direção da bússola para outra. É descrita uma expansão horizontal, não um
crescimento vertical. Isso é coerente com o uso do verbo yāsā’ no Antigo Testa-
mento e em Daniel. No último, o termo consistentemente expressa um movimen-
to de uma direção da bússola, de uma posição fixa, para outra (veja 9:23-27; 10:20;
11:11, 44). A isto deve ser acrescentado o fato de que yāsā’ no Antigo Testamento
é usado em vários exemplos para movimentos militares de várias espécies (Dt 20:1;
1Cr 5:18; 20:1; Pv 30:27; Am 5:3) ou para um rei saindo com seu exército (1Sm
8:20; 2Cr 1:10).
Resumindo, a ideia não é a de que o “chifre pequeno” origina-se de um dos
ventos do céu, mas que ele sai de uma das direções da bússola em um plano ho-
rizontal e se expande para outras direções. A ideia de expansão militar também
parece estar presente.
O movimento horizontal-geográfico do chifre notado na primeira parte do
versículo 9 é explicado mais detalhadamente na segunda parte do versículo. Aqui
as direções da expansão são indicadas pela frase: “para o sul, e para o oriente, e
para a glória”.
A antiga tradução Septuaginta (tradução grega da Bíblia hebraica feita no ter-
ceiro/segundo século a.C.) tem “o norte” (cujo equivalente hebraico é hassapôn)
em lugar da expressão: “a glória” (hassebî). Se a Septuaginta é uma “confirmação
do TM [texto hebraico massorético]”.39 a direção da bússola da qual o “chifre pe-
queno” saiu pode ser apenas do ocidente.
Seguindo a interpretação historicista, notamos que Roma saiu do ocidente (do
ponto de referência da Palestina). Por outro lado, Antíoco IV, oitavo rei da linha-
322 gem selêucida, não veio de forma alguma do ocidente. O reino selêucida abrangia
o território de Síria-Babilônia, de sorte que esse rei veio do norte. Esses são fatores
adicionais que apoiam a interpretação de que, no início da descrição do “chifre
pequeno”, conforme encontrada em 8:9-12, é Roma em suas fases político-pagã e
eclesiástico-papal que está à vista.
pontos a fim de apoiar suas alegações.44 Mas outros têm corretamente objetado
que tais mudanças são arbitrárias e sem apoio textual de qualquer manuscrito
hebraico conhecido.45
Em harmonia com o texto hebraico, a frase claramente declara que “um chifre
veio da pequenez”, isto é, de pequenos ou insignificantes começos, e saiu em três
direções da bússola enquanto se expandia horizontalmente (v. 9b). É para essa
expansão horizontal que agora nos voltamos em nosso estudo.
esferas horizontais que contribuem para sua excessiva grandeza, força, e riqueza.
O chifre move-se “para o sul, e para o oriente, e para a glória.”
325
S inopse editorial. Nesta seção o autor provê uma análise exegética detalhada
das seis sentenças dos versículos 11-12 e uma discussão em uma nota de final
sobre a palavra hebraica tāmîd. Esse termo é traduzido em nossa versão comum
pela frase “sacrifício diário”. É uma palavra chave para interpretar a parte da
visão pertencente à atividade do “chifre pequeno”. (Para uma história concisa da
interpretação milerita e adventista da frase, o leitor é remetido ao artigo “Daily,
The”, SDA Encyclopedia, ed. rev., p. 366ss.)
Há uma notável mudança no gênero do sujeito entre os versículos 11 e 12.
O gênero feminino do símbolo do chifre (v. 11) é diminuído em favor do gênero
masculino no versículo 12, denotando através disso a realidade para a qual está
o símbolo do chifre. Os intérpretes historicistas reconhecem o “chifre pequeno”
do capítulo 8 como simbolizando as fases pagã e papal de Roma (o equivalente
do quarto animal e seu chifre pequeno do capítulo 7).
Em vez de ver um cumprimento duplo ou simultâneo neste único chifre, o
326
autor sugere que estamos vendo um cumprimento sequencial no único símbolo,
possivelmente sugerido pela mudança de gênero nesses versículos. Isto é, ele su-
gere que os versículos 9-10 devem ser vistos como cumpridos pelas atividades de
Roma pagã, ao passo que os versículos 11-12 devem ser vistos como cumpridos
pela Roma papal ou eclesiástica.
O enfoque dos versículos 11-12 continua sendo movimentos verticais do “chi-
fre pequeno” para cima ao se intrometer nos negócios das realidades celestiais.
O chifre se engrandece contra o Príncipe do exército (Cristo). Isso é feito pela
apropriação de prerrogativas divinas e pela tentativa de anular o ministério sacer-
dotal celestial de Cristo de perdão e salvação. Lança por terra a verdade revelada
de Deus e por algum tempo é visto praticando e prosperando em seus esforços.
Nesta análise das atividades anti-Deus do chifre, o autor observa que ne-
nhuma palavra é usada que denote uma profanação do santuário celestial pelo
chifre. O que, em vez disso, aparece é seu ataque – em diferentes formas – contra
o povo de Deus, o fundamento do santuário e do ministério de Cristo e, assim,
contra o próprio Deus e sua verdade. Prerrogativas que pertencem a Deus são
usurpadas, e o serviço contínuo, divino e mediador de Cristo é tornado ineficaz.
As implicações cósmicas e universais desse ataque recebem maior atenção no
diálogo que se segue entre dois santos personagens (v. 13-14), que o autor revê
na próxima seção.
Esboço da seção
1. Introdução
2. Exegese de Daniel 8:11
3. Exegese de Daniel 8:12
4. Nota de fim: O emprego da palavra hebraica tāmîd no Qumran
e no Antigo Testamento
Introdução
que os versículos 9-10 são cumpridos pela fase de Roma pagã (pré-medieval), ao
passo que os versículos 11-12 são cumpridos pela Roma papal (eclesiástica). Con-
sequentemente, 8:9-12 encontra seu cumprimento sequencialmente em Roma
com os versículos 9-10 em sua fase político-pagã e os versículos 11-12 em sua fase
eclesiástico-papal.66
O versículo 11 contém três sentenças interligadas. Atentaremos para cada
uma delas.
Primeira sentença
1. A tradução literal da primeira sentença no versículo 11a diz: “E ele se en-
grandeceu até mesmo ao Príncipe do exército.”67 O verbo68 é masculino,69 uma
mudança das formas anteriores femininas como já foi discutido.
O termo hebraico gādal é usado aqui em uma forma que significa “provar-se
grande real e eficazmente”.70 O mesmo verbo é usado no versículo 4, onde o car-
neiro se engrandece; no versículo 8, onde o bode se engrandece; e no versículo
11, onde o poder do “chifre pequeno” é eficazmente bem-sucedido em se engran-
decer. A ação e o processo de trazer a grandeza para a operação real e eficaz são
os mesmos.
328 Um estudo desse termo mostra que sempre que o sujeito de gādal (na forma
Hiphil do verbo, como aqui) é um ser humano, sempre significa que engrandecer-
se é um ato arrogante, presunçoso e mesmo de forma ilegal.71 O verbo expressa a
noção de que o poder do “chifre pequeno” tomou para si mesmo de forma ilegal,
arrogante e presunçosa as prerrogativas que não pertencem a nenhum outro senão
“o Príncipe do exército”.
A tentativa de identificar “o Príncipe do exército” (śar hassābā’) tem levado a
opiniões discordantes. Aqueles intérpretes que aplicam 8:9-14 a Antíoco IV Epi-
fânio sugerem que o príncipe (śar) se refere ao sumo sacerdote Onias III, que foi
morto em 171 a.C.72
Como um substantivo por si mesmo, “príncipe” (śar) pode às vezes se referir
ao sumo sacerdote ou principais sacerdotes no Antigo Testamento.73 Contudo, a
expressão “Príncipe do exército” nunca é usada para designar um sumo sacerdote
no Antigo Testamento. Em Josué 5:14, um personagem designado como o “Prín-
cipe dos exércitos de Yahweh” (śar–sebā’ -YHWH) fala a Josué, dizendo-lhe que
descalce as sandálias porque ele está em lugar santo. Portanto, é evidente que o
“Príncipe do exército de Yahweh” é um ser não-terrestre. Pode sua identidade ser
mais precisamente detalhada?
Nas partes proféticas do livro de Daniel a palavra “príncipe” (śar) frequente-
mente designa um ser celestial.74 Seria coerente, portanto, se aqui no versículo 11
o “Príncipe do exército” fosse igualmente compreendido como um ser celestial.
Segunda sentença
Literalmente, a segunda sentença do versículo 11 diz: “E dele foi tirado o con-
tínuo.” Cada parte desta sentença apresenta dificuldades. A expressão hebraica
mimmennû78 não deve ser traduzida por “por ele”, mas “dele”. Quem é o antece- 329
dente de “dele”? Gramaticalmente, o mais próximo e mais natural antecedente é
“o Príncipe do exército”. Isso é apoiado pelas antigas versões.79
Havendo identificado “dele” como uma referência ao “Príncipe do exército”,
voltamos nossa atenção para o verbo que traduzimos por “foi tirado”. O texto
hebraico é às vezes mudado por modernos intérpretes80 por causa da dificuldade
da forma verbal hebraica huraym.81 Achamos, porém, que a tradução “foi tirado”
está bem apoiada no texto.
O que foi tirado do personagem divino do Céu? O texto declara diretamente
que foi o tāmîd. A expressão tāmîd aparece em 8:11 com o artigo definido hattāmîd
(o tāmîd), e, portanto, deve ser compreendida como um substantivo.82 Mais preci-
samente, ele é usado nesse texto (como também em 11:3; 12:11) como um subs-
tantivo adjetival.83
O termo hattāmîd é geralmente traduzido pelos comentaristas como “sacrifício
diário”, 84 “oferta regular”,85 “sacrifício tāmîd”,86 e similares. Tal prática segue as
traduções de “sacrifício(s) diário(s)” nas versões comuns (KJV, NAB, TEV, NIV).
As versões às vezes imprimem a palavra “sacrifício(s) em destaque a fim de indicar
que a palavra não está presente no texto hebraico. A tradução “sacrifício regular”
é apresentada na NASB, “oferta regular” na NEB, e “sacrifício perpétuo” na BJ.
Traduções mais exatas são providas por vários intérpretes. Em um exemplo é tra-
duzido por “o Constante”87, mas interpretado como “o ‘holocausto constante’”88.
Outros traduzem o texto com a expressão “o Contínuo”89, pelo que significa “tudo
o que é de contínuo, isto é, constante, permanente, uso nos rituais do Templo”90,
e não meramente os sacrifícios diários. Ou significa “continuidade”,91 referindo-se
a todas as práticas que regularmente ocorriam no culto hebraico.
Os intérpretes crítico-históricos e outros que interpretam 8:9-14 como se cum-
prindo nos eventos de Antíoco IV são de opinião comum de que o substantivo
tāmîd deve ser interpretado como um termo técnico92 – uma abreviatura da expres-
são bíblica normal ‘ōlat hattāmîd, “sacrifício [regular] diário”.
As dificuldades dessas interpretações são às vezes notadas. Por exemplo, é ad-
mitido que: (1) onde quer que tāmîd apareça no Antigo Testamento em conexão
com o “sacrifício diário”, ele é sempre um adjetivo ligado pelo substantivo “sa-
crifício/holocausto” (‘ōlat);93 (2) nesse suposto sentido técnico, é usado de forma
abreviada somente no livro de Daniel (8:11-13; 11:31; 12:11);94 e (3) apenas no
Talmude (escrito no quarto e quinto séculos d.C.) tāmîd é empregado como um
termo técnico.95 É francamente admitido por esses eruditos que Antíoco IV Epifâ-
nio provê o modelo pelo qual a passagem deve ser interpretada.
Indagamos, porém, se o emprego de um modelo Antíoco e um termo técnico
do Talmude judaico96 são procedimentos seguros para interpretar uma expressão
bíblica de um livro apocalíptico do Antigo Testamento. Por que o escritor de 8:11-
330 12 não usou a expressão normal do Antigo Testamento para “sacrifício diário”
(‘ōlat tāmîd,) se ele tinha isso em mente?
Pode ser visto de um estudo da literatura de Qumran disponível que o termo
tāmîd foi empregado de uma maneira semelhante ao uso do Antigo Testamento
(veja nota de final, pág. 341, “O emprego da palavra hebraica tāmid no Qumran e no
Antigo Testamento”). Seu emprego bíblico como um substantivo adjetival demons-
tra rica associação com todas as fases do ritual hebraico. Assim, embora tāmîd
seja usado em associação com o “holocausto”, não está restrito a esse contexto. É
também usado com a “oferta de cereais”, “pão da proposição”, “incenso”, “luz”,
“concessão”, etc. De acordo com essas ricas e diversificadas relações, não é correto
restringir seu significado, abrangência semântica e associação com o “sacrifício
diário” ou “holocausto contínuo”.
Nossa investigação filológica do uso de tāmîd no Antigo Testamento e na li-
teratura de Qumran aponta em outras direções além da interpretação de “diário
[regular, contínuo] sacrifício”. Tal emprego limitado não aparece em nenhum tex-
to bíblico ou pós-bíblico antes do tempo da escrita do Talmude (quarto-quinto
séculos a.C.). Portanto, não estamos convencidos de que a leitura de 8:9-14 através
do crivo do modelo de interpretação de Antíoco é correta do ponto de vista exe-
gético, contextual ou histórico.
A interpretação de Antíoco toma hattāmîd para se referir normalmente ou
ao(s) “sacrifício(s) diário(s) [da manhã e da tarde]”97 ou, menos restritivamente, a
tudo o que é de uso permanente nos rituais sagrados do culto divino.98 Sugere que
o “chifre pequeno”, isto é, Antíoco IV, “exaltou-se abolindo o culto de Yahweh no
templo de Jerusalém”99 e profanou o “santuário de Deus na terra”.100 Aqueles as-
pectos da passagem que não se ajustam a essa interpretação, tais como a origem do
“chifre pequeno”101, a natureza do “chifre pequeno” como um reino e não como
um rei,102 e as especificações do tempo103 são geralmente desconsideradas.
Sem ser injusto para com esse ponto de vista, terá de ser reconhecido, porém,
que normalmente os exegetas que favorecem tal interpretação tomam o modelo
da perseguição de Antíoco e emendam, mudam, reconstroem, traduzem, e inter-
pretam o texto de tal maneira a pô-lo mais ou menos em harmonia com o modelo
histórico que tem sido selecionado. O recente comentário sobre Daniel da Anchor
Bible Series é um exemplo típico.
A interpretação historicista do “chifre pequeno” compreende o símbolo como
representando Roma104 na amplitude total de suas fases político-pagã e eclesiático-
papal.105 A remoção do “contínuo” é compreendida por muitos como o tirar do
“contínuo ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial (Hb 7:25; 1Jo 2:1)
e ... a verdadeira adoração de Cristo na era evangélica.”106 Ou a expressão é vista
como indicando uma “forma de perversão e blasfêmia” [que] ataca a ideia central
da obra de Cristo como o mediador entre o pecador e seu Deus.”107 Isso inclui a
usurpação de prerrogativas pertencentes ao “Príncipe do exército” em termos de 331
serviço, atividades mediadoras, e um estender a mão na direção da glória e honra
pertencentes a Deus no plano da salvação.
Notamos que 8:11a se refere à auto-exaltação do poder do “chifre pequeno”
até mesmo diante do “Príncipe do exército” celestial. No versículo 11b é feita a
declaração de que “dele” (mimmennû), isto é, do “Príncipe do exército” celestial,
o tāmîd foi tirado. Isso indica que o tāmîd (o contínuo; aquilo que prossegue sem
interrupção) é algo que pertence ao Príncipe celestial.
O que faz o “Príncipe do exército” celestial (Cristo) que pode ser tirado dele?
O “Príncipe do exército” celestial se empenha em uma contínua atividade de me-
diação e intercessão. O Novo Testamento retrata a Cristo (depois da ascensão
e investidura) como sumo sacerdote celestial, atuando como mediador [mesitēs]
entre Deus e os homens” (1Tm 2:5, KJV). Sua função mediadora é enfatizada em
vários exemplos.108 Ele atua também como um intercessor celestial (Rm 8:34; Hb
9:24; 1 Jo 2:1), realizando continuamente sua atividade intercessória “na presença
de Deus em nosso favor” (Hb 9:24, RSV). Consequentemente, o hattāmîd (“o con-
tínuo”) que prossegue sem interrupção e que é tirado “dele” pelo poder do “chifre
pequeno” é esse contínuo ministério e serviço de mediação e intercessão.
A usurpação por parte da fase eclesiástica de Roma reflete as espécies de ativi-
dades do chifre que tornam ineficazes o contínuo ministério e serviço do “Prínci-
Terceira sentença
Agora voltamos nossa atenção para a última sentença de 8:11 e consideramos
primeiro a relação das três sentenças deste versículo. Tecnicamente falando, a ter-
ceira e última sentença do versículo 11 é uma sentença verbal.109 Pode ser correto
sugerir que ela e a segunda sentença são de caráter explicativo. Isto é, elas ampliam
ou explicam as implicações da primeira sentença,110 que retrata a auto-exaltação e,
de certo modo, a usurpação do poder do “chifre pequeno”. Que as três senten-
ças se reúnem é evidente dos pronomes pessoais “dele” e “seu” reportando-se ao
“Príncipe do exército”. O sentido da passagem pode ser assim parafraseado:
“E o chifre se engrandeceu até mesmo sobre o Príncipe do exército, isto é,
332
tirou dele o serviço contínuo e jogou ao chão o fundamento do seu santuário.”
Uma tradução literal do versículo 11c diz: “E o fundamento do seu santuário
foi derrubado.” Ao considerar esta sentença devemos notar que tradutores e in-
térpretes frequentemente se empenham em fazer mudanças substanciais no texto
hebraico da mesma. Todavia, a frase hebraica realmente não contém nenhuma
dificuldade.
Na NEB a sentença é abreviada para “e até derrubou o seu santuário”. A
NAB diz “cujo santuário é desmoralizado”; ao passo que a TEV diz “e arruinou o
Templo”. Essas traduções dinâmicas recentes111 mudam o sujeito, e uma delas até
mesmo omite o pronome possessivo (seu).
Tais traduções modernas seguem uma tendência entre os intérpretes crítico-
históricos. Não é incomum descobrir que o sujeito (fundamento; lugar – KJV,
RSV, NASB, etc.) é totalmente omitido e o termo hebraico miqdāš (santuário),
que está em uma posição genitival atributiva, é convertido em objeto,112 de sorte
que a sentença diz (também com o verbo mudado) “e profanou o santuário”113,
ou “e pisou o santuário”.114 O sujeito é mudado e um novo verbo é introduzido.
Questionamos esses procedimentos.
O verbo hebraico usado no versículo 11c é hušlak, que significa “subverter,
destruir, derrubar”. Os comentaristas o têm mudado arbitrariamente para tirmōs
(“poluiu,115 profanou,116 violou”).117 Contudo, o texto hebraico está bem preservado,118
e há evidência de que sua história remonta a tempo muito distante,119 como tam-
sua atividade anti-Deus procurando tornar ineficaz a obra que está sendo feita no
santuário celestial146 onde Cristo ministra em favor do seu povo.
A dimensão cósmica da subversão do fundamento celestial147 do santuário
comunica a realidade de uma tentativa para anular o ministério celestial de Cristo
através do estabelecimento de um sistema medianeiro rival. Tal sistema rival des-
via a atenção dos homens da obra sumo sacerdotal de Cristo, e assim os priva das
contínuas bênçãos do seu ministério nas cortes celestiais.
Os principais esboços concernentes à atividade do “chifre pequeno” nos ver-
sículos 9-11 podem agora ser resumidos. Entre essas atividades estão: (1) expansão
horizontal partindo de pequenos começos para grandes proporções (v. 9b, 24a),
possivelmente atingindo força através do culto idólatra (v. 10a, 24a); (2) persegui-
ção dos santos de Deus (v. 10bc, 24bc); (3) atribuição para si mesmo das prerrogati-
vas divinas por levantar-se contra o Príncipe do exército (v. 11a, 25ab); (4) remoção
da continuidade dos serviços (divinos) para a salvação do homem (v. 11b, 25c); e
(5) ato de deitar abaixo ou tornar ineficaz o beneficente ministério de Cristo que
tem continuidade, envolve perdão e é o fundamento do santuário celestial (v. 11c).
É de fato correto afirmar que um ataque contra o “fundamento do santuário” é
equivalente a um ataque contra o próprio Deus.148
335
Exegese de Daniel 8:12
Nossa atenção deve agora dirigir-se ao próximo versículo de nossa passagem (v.
12). O leitor que comparar as várias traduções desse versículo notará uma grande
variedade de versões. A primeira sentença pode ser compreendida de duas grandes
maneiras, embora os significados resultantes sejam um tanto similares.
Primeira sentença
1. A sentença pode ser literalmente traduzida para afirmar: “E um exército
foi entregue (contra) o contínuo em transgressão.” O substantivo exército (sābā’)
precede o verbo na estrutura da sentença hebraica,149 e pode ser compreendido
como o sujeito. Sendo que o termo “exército” não tem o artigo definido (o) parece
melhor não ligá-lo ao mesmo termo nos versículos anteriores. A ação do “exército”
(compreendido como sujeito) é diretamente contra “o contínuo”.
Se “o contínuo” (hattāmîd) se refere à mesma coisa que no versículo 11, o
“exército” designa uma entidade que se opõe ao “contínuo”, ou ministério do
“Príncipe do exército” no santuário celestial. Nesse caso, “exército” pode estar
associado com o “chifre pequeno”, isto é, o exército do chifre pequeno é quem
está ativo contra o “contínuo”.
Nesse caso, a ação do versículo 12a parece comunicar a ideia de que a “um
exército” do poder do “chifre pequeno” na forma de Roma eclesiástica (um sím-
bolo que possivelmente poderia se referir ao sacerdócio) foi dado encargo sobre
“o contínuo”, isto é, o contínuo ministério intercessório e mediador do Príncipe
do exército celestial. Intercessão, mediação e outros benefícios associados ao tāmîd
estão plenamente em controle do “exército” do chifre pequeno.
A expressão verbal “foi dado” (tinnātēn) é uma forma passiva feminina do ver-
bo nātan150 Quando é seguida pela preposição ‘al, como é o caso nesta sentença,
frequentemente tem o significado de “trazer algo contra”.151 Consequentemente,
o “exército” do chifre pequeno tem trazido algo contra o ministério contínuo do
“Príncipe do exército”.
O “como” desta atividade negativa pode ser descrito na expressão “em trans-
gressão” (be pāša‘). A preposição “be” normalmente significa “em”,152 mas também
pode significar “[junto] com”.153 Assim, a expressão poderia indicar que o “exérci-
to” do chifre pequeno age “em” ou “com” transgressão.
Outra maneira legítima de compreender a preposição é tomá-la como expres-
sando causa.154 Nesse caso, a transgressão é causada pela ação do “exército” contra
a “continuidade” do Príncipe ou ministério contínuo. Se tal é o intento do texto, e
bem pode ser, o encargo rebelde assumido sem permissão ou contra o tāmîd causa
336 transgressão. A transgressão que é causada pode ser o ato de levar seres humanos a
confiar nos rituais substitutos do ministério contínuo falsificado do chifre.
2. A segunda maneira de interpretar a primeira sentença do versículo 12 toma
“exército” como o objeto da sentença em vez de seu sujeito. Consequentemente,
a sentença pode ser traduzida por “E a [ele] foi dado um exército sobre [contra] o
contínuo em transgressão.”
Nesse exemplo o poder do “chifre pequeno” é compreendido como o sujeito.
Foi-lhe dado um “exército”. Esse “exército” pode ser concebido restritivamente como
um “sacerdócio” ou não-restritivamente como um “grupo de pessoas” que estão sobre
ou contra o contínuo ministério do “Príncipe do exército” no santuário celestial.
As palavras conclusivas “em transgressão” ou “com transgressão” podem assim
significar que o poder do “chifre pequeno” age através do exército com ou em
transgressão. Se, porém, a preposição “be” está expressando causa, o restante da
sentença pode significar que ao chifre foi dado um “exército” que agiu contra o
ministério contínuo do “Príncipe do exército” celestial, causando transgressão. A
transgressão que é causada pode significar uma orientação equivocada dos seres
humanos, levando-os a confiar em atividades falsas em vez da mediação e inter-
cessão salvífica e perdoadora do “Príncipe do exército” celestial. A “transgressão”
seria aquela dos seres humanos.
Deve ser notado que dentro da passagem de 8:9-14 essa primeira sentença do
versículo 12 provavelmente apresenta a maior dificuldade para a compreensão de
seu significado. Assim, qualquer que seja a tradução que se prefira com “exército”
como sujeito ou objeto, a frase permanece obscura.
Notou-se – e é digno de ênfase – que o tāmîd (ministério contínuo) é o que
ocorre no lugar santíssimo do santuário.155 O poder do “chifre pequeno” ainda
é capaz de confundir os seres humanos com respeito ao ministério naquele lugar
(no santuário terrestre o termo tāmîd é usado apenas em conexão com itens e ritu-
ais ligados ao primeiro compartimento). Mas o “chifre pequeno” nunca é capaz de
interferir na atividade do lugar santíssimo no tempo do fim.
Segunda Sentença
A segunda sentença do versículo 12 pode ser traduzida literalmente “e ele lança
a verdade por terra”. O verbo “lança” é novamente escrito na forma feminina. Seu
sujeito poderia ser ou o chifre ou o exército (mencionado na primeira sentença),
sendo que ambos os substantivos são femininos.156 Todavia, é mais natural contextu-
almente ficar com o “chifre pequeno” como o sujeito.157 Esse ponto de vista também
se ajustaria à interpretação da visão dada nos versículos 24-25. Assim, outro aspecto
da atividade do chifre pequeno está agora sendo descrito.
A palavra “verdade” (’emet) tem sido interpretada como significando a “verdadei-
ra religião conforme incorporada nas Escrituras”,158 ou, em um sentido mais limitado, 337
a Torá,159 ou simplesmente “verdade” em um sentido abstrato.160 A ausência do artigo
é característica desse termo específico e não deve ser excessivamente enfatizada.161 Em
quatro das seis ocorrências no livro de Daniel a palavra hebraica se refere à revelação
que tem vindo de Deus que é verdade (8:26; 10:1, 21; 11:2). Tais exemplos se referem
à confiabilidade da verdade revelada em termos da certeza do seu cumprimento no
futuro.162 O quinto uso revela que a calamidade que sobreveio a Israel foi um cum-
primento do que “[tinha sido] escrito na lei de Moisés” (9:13a, KJV), mas nenhum
arrependimento havia ocorrido e nenhuma atenção estava sendo dada à “verdade”
de Deus (versículo 13b).
Baseando-se nesses empregos, a “verdade” do versículo 12 pode ser compreendida
como se referindo à revelação divina em seu sentido abrangente, incluindo “a lei de
Moisés”163 e a revelação profético-apocalíptica contida no próprio livro de Daniel. Esse
contexto daniélico apoia a sugestão de que “verdade” aqui no versículo 12 é um termo
que se refere à verdade divina da revelação que o chifre lançará por terra. Essa verdade
reveladora contém as instruções sobre adoração, salvação e assuntos relacionados, tam-
bém incluindo o plano de Deus para estabelecer o seu reino de graça e glória.
Terceira Sentença
O versículo 12 conclui com dois breves verbos que podem ser literalmente
traduzidos como “e ele foi bem-sucedido e prosperou.” A ideia é clara. O poder
338
tando-se (1Rs 10:8; 2Cr 9:7), guardando (Lv 24:3), buscando (1Cr 16:11), comendo
(2Sm 9:7, 13), sacrificando (2Cr 24:14), e assim por diante.
Em 21 exemplos tāmîd aparece como um adjetivo,194 sendo usado subs-
tantivamente.195 No genitivo,196 na expressão ‘ōlat hattāmîd, “o contínuo197
holocausto”.198 A construção genitiva é traduzida literalmente, “o holocausto de
continuidade”, cujo significado é o holocausto que prossegue sem interrupção
cada manhã e cada tarde.
Contudo, deve ser enfatizado que tal construção específica do tāmîd no Antigo
Testamento não está restrita ao holocausto diário. Em dois exemplos ele é empre-
gado nesse sentido para a “oferta de manjares contínua” (minhat hattāmîd).199 Seme-
lhantemente aparece com outros itens como o “pão contínuo da proposição”200,
“pão contínuo”201, “banquete contínuo”202, “incenso contínuo”203, “lâmpada acesa
contínua”204, “subsistência contínua”205, e “homens de continuidade”206, isto é,
homens continuamente empregados”.207
Resumamos agora os resultados da investigação de tāmîd no Antigo Testa-
mento. Descobrimos que as conexões contextuais e associações semânticas de-
monstram seu emprego como um advérbio e um adjetivo. No último caso ele
é usado substantivamente em uma relação genitiva que virtualmente o leva a
funcionar na língua hebraica como um substantivo no sentido de “continuidade
ininterrupta”208 ou “perenidade”.209 341
Esboço da seção
1 Introdução
2. Exegese de Daniel 8:13-14
3. Conteúdo da pergunta (v. 13)
4. Conteúdo da resposta (v. 14)
Introdução
Nossa investigação das palavras, frases e sentenças de Daniel 8:9-12 tem pros-
seguido lenta e cuidadosamente. Tem revelado muitos detalhes da atividade do
“chifre pequeno”. Tem se tornado evidente uma e outra vez que nada é dito acerca
da profanação do santuário, ou seu lugar, como tal. Os termos típicos hebraicos
para profanação e contaminação não aparecem.210 O que aparece é um ataque –
de formas diferentes – contra o povo de Deus, o fundamento do seu santuário,
e, assim, contra o próprio Deus e sua verdade. As prerrogativas que pertencem a
Deus são usurpadas, e o serviço divino, contínuo, mediador, é tornado ineficaz.
Há conotações cósmicas e universais que recebem atenção adicional no diálogo
contido nos versículos 13-14, ao qual deve ser dada atenção em seguida.
e da manhã... é verdadeira”, mas “se refere a dias ainda mui distantes” (v. 26). No
versículo 19 vem o encorajamento de que a visão “pertence ao tempo determinado
do fim”. Essa ênfase no tempo do fim do capítulo 8 corrobora o significado do
tempo do fim do diálogo pergunta-resposta nos versículos 13-14.
2.300 tardes-manhãs
É necessário agora discutir brevemente a expressão temporal “2.300 tardes-
manhãs” (v. 14). Eruditos têm sugerido com frequência que a expressão “tardes-
manhãs” é simplesmente uma maneira singular de expressar o número total dos
sacrifícios tāmîd omitidos durante o tempo da profanação do templo por Antíoco
IV. Sendo que um sacrifício era oferecido na manhã e na tarde de cada dia, afirma-
se que a omissão de 2.300 de tais sacrifícios indica um período de tempo real de
1.150 dias.219 A Today’s English Version (TEV) realmente traduz a resposta do
versículo 14 como “Isto continuará por 1.150 dias, durante os quais os sacrifícios
da manhã e da tarde não serão oferecidos.” Essa interpretação comum requer
análise e avaliação.
O texto hebraico do versículo 14 (‘ad ‘ereb bōqer ’alpayim ûšelōš me‘ôt) é facil-
mente traduzido em um sentido literal como “até 2.300 tardes [e manhãs]”.220 A
Septuaginta (LXX) traduz a frase interpretando “tardes-manhãs” por “dias” dessa 345
forma: “Até tardes e manhãs, 2.300 dias.”221
Várias observações convincentes militam contra a interpretação de que a frase
“2.300 tardes-manhãs” são 1.150 dias e as “tardes-manhãs” significam sacrifícios
tāmîd. Elas são brevemente resumidas abaixo:
1. O ritual do sacrifício tāmîd no Antigo Testamento emprega a expressão
“holocausto contínuo” (‘ōlat tāmîd) como a designação para o duplo holocausto
da manhã e da tarde. Não designa uma oferta trazida de manhã e outra à tarde.222
A combinação do holocausto da manhã e da tarde é consistentemente mencionada
como ‘ōlat tāmîd. Portanto, uma divisão de 2.300 por dois é injustificada.
2. A sequência de “tardes-manhãs” com as tardes antes das manhãs dificil-
mente se refere aos sacrifícios tāmîd. Os sacrifícios tāmîd são sempre designados
na sequência da manhã antes da tarde: “Holocaustos de manhã e à tarde.”223 Ne-
nhuma exceção à sequência aparece no Antigo Testamento. O período pós-exílico
perpetua a sequência de “tarde e manhã” com respeito aos sacrifícios tāmîd.224
Assim, a expressão “tardes e manhãs” não se refere aos sacrifícios tāmîd, mas a uma
medida de tempo.
3. Falta apoio exegético para contar 2.300 tardes-manhãs separadamente a fim
de se chegar a 1.150 dias completos.225 A sequência de tarde e manhã como uma
expressão para um dia completo aparece pela primeira vez no relato da Criação de
Gênesis 1.226 A linguagem da passagem de Gênesis está refletida aqui em 8:14, 26.227
no final das 2.300 “tardes-manhãs”, não em todo o período de tempo ou em seu iní-
cio. Consequentemente, é correta a expectativa de que o ponto de partida de todo o
período de tempo deve ser encontrado em outro lugar. Essa expectativa encontra seu
apoio contextual no versículo 26, onde o anjo-intérprete chega ao elemento tempo
das 2.300 “tardes-manhãs”, mas não tenta a essa altura explicar o assunto.
Contínuo
A primeira expressão que requer nossa atenção é “o contínuo”.248 Essa frase
ocorreu anteriormente nos versículos 11-12 (o tāmîd). Embora seja costumeiro
suprir a palavra “sacrifício” nesses exemplos, a evidência contextual e manuscri-
ta não apoia tal procedimento.249 O “contínuo” transmite o mesmo significado
que comunicara nos versículos 11-12: o ministério sacerdotal de Cristo no san-
tuário celestial. Veja nossa discussão na seção anterior. A expressão não é qua-
lificada por outra palavra no texto hebraico, embora eruditos tenham sugerido
que uma palavra deve ser adicionada.250 Novamente não há nenhum apoio nos
manuscritos para isso. Parece mais sábio abster-nos das emendas e considerar o
texto hebraico adequado para a identificação do conteúdo da visão.251
Transgressão
A frase “a transgressão que causa horror (wehappeša‘ šōmēm)”252 não tem nehu-
ma variante textual nos manuscritos hebraicos conhecidos. A palavra “transgres-
são” (peša‘) é “a mais profunda palavra do Antigo Testamento para pecado”.253
Significa basicamente uma rebelião ou revolta,254 no mesmo sentido de atos em
que “alguém rompe com Deus tirando o que é dele, roubando, apropriando-se
indevidamente, agarrando o que é dele”.255 Aqui é expresso o peso da atividade do
poder do “chifre pequeno” que leva à “transgressão”.
A essa altura precisamos fazer uma pausa para refletir sobre os vínculos termi-
nológicos e teológicos que peša‘ (transgressão) tem com outras partes das Escritu-
ras. Em 9:24 a palavra aparece na frase “para fazer cessar a transgressão [peša‘]”.
Foi dado a Israel um tempo específico e fixado durante o qual a “transgressão”
terminaria para a nação.
Em Levítico 16:16, 21, o termo é empregado em conexão com a purificação
do santuário no Dia da Expiação. Em Daniel 9:24 e Levítico 16:16, 21, a palavra
é usada em conexão com o povo de Deus. No caso de Levítico 16 a ênfase cúlti-
co-judicial é inconfundível.256 O ambiente cultual é também evidente em Daniel
8:11-14. A transgressão específica mencionada aqui pode ser (como também no
versículo 12) a transgressão do povo de Deus para a qual eles são levados por meio 351
da atividade do poder do chifre pequeno.
Tendo tratado ligeiramente da ênfase cúltico-judicial associada com peša‘ no
Antigo Testamento,257 seríamos negligentes se omitíssemos o fato de que esse ter-
mo expressa a totalidade da transgressão de uma época, um povo, ou uma pessoa
que vem a juízo.258 Evidentemente, ideias cultuais e de juízo259 constituem uma
parte importante do termo “transgressão” e também são focalizadas nesse trecho
do capítulo 8. É evidente aqui que existem vínculos terminológicos, conceituais
e teológicos com Levítico 16.
As palavras “causando horror” traduzem o particípio šōmēm.260 Às vezes šōmēm
é traduzida por “desolação” e está associada com a frase “abominação da desola-
ção” (9:27; 11:31; 12:11). De fato, “nenhuma das duas expressões são idênticas”,261
e apenas o termo šōmēm está relacionado com as outras três passagens.
A KJV traduz a frase wehappeša‘ šōmēm por “a transgressão da desolação”. Al-
guns leitores ligam isso com as palavras de Jesus: “Quando, pois, virdes o abomi-
nável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê enten-
da)” (Mt 24:15). A declaração de Cristo em Mateus 24 indica que “a passagem
em Daniel deveria ser considerada como ainda não cumprida”.262 Certamente a
“abominação da desolação” de Mateus 24:15 é “um evento futuro”.263 A maneira-
pela qual Jesus a mencionou deixa claro que era uma profecia não cumprida que
encontraria um cumprimento no futuro.
Uma importante pergunta que requer uma resposta é essa: Está Jesus em Ma-
teus 24:15 se referindo a Daniel 8:13? A linguagem escolhida por alguns tradutores
para traduzir Daniel 8:13 e Mateus 24:15 parece sugerir isso. Olhemos, portanto,
para o texto que fundamenta a tradução inglesa em Mateus 24:15.
“A abominação da desolação” em Mateus 24:15 é uma tradução da frase grega
to bdelygma tēs erēmōseōs. A fraseologia grega de Mateus 24:15 se assemelha de
perto àquela de Daniel 11:31, bdelygma erēmōseōs (“Teodócio”).264 É idêntica à de
Daniel 12:11 (to bdelygma tēs erēmōseōs).265 Em Daniel 8:13, a Septuaginta tem hē
hamartia erēmōseōs.266 Isso reflete a diferença na terminologia hebraica entre Da-
niel 8:11 e 11:31; 12:11.267
O termo grego bdelygma significa “abominação”268 e traduz o termo hebraico
šiqqûs (“abominação”). Assim do ponto de vista da linguística podemos notar que
a frase de Mateus 24:15 não deriva de Daniel 8:13 (ou 9:27). Antes, tem sido suge-
rido corretamente que Mateus 24:15 (cf. Mc 13:14) “é tirada de Daniel 12:11”,269
ou possivelmente de Daniel 11:31.270
Resumindo, a atividade descrita em Daniel 8:13 com a frase “a transgressão
que causa horror” não é idêntica ao que Jesus em Mateus 24:14 descreve como “a
abominação da desolação” ou, numa tradução possivelmente melhor, “aterradora
abominação”.271 Jesus parece se referir aos eventos descritos em Daniel 12:11 e
352 possivelmente em 11:31.
Voltemos agora para 8:13 e para a linguagem que ele emprega. O significado
de šōmēm pode ser determinado por uma investigação do seu emprego no livro de
Daniel. Em 8:27, é empregada uma forma da raiz šmm, da qual deriva šōmēm. Nessa
passagem Daniel está “aterrado”, “horrorizado”,272 ou estava em “consternação”273
acerca do impacto que a visão exerceu sobre ele. Os significados de estar “aterra-
do”, “em consternação” ou “em horror” parecem estar aqui em primeiro plano.
Vários empregos de palavras que derivam da raiz šmm expressam três ideias:
(1) uma condição psicológica de um chocante horror dentro de uma pessoa;274 (2)
devastação/desolação conforme se relaciona com o santuário/templo;275 e (3) juízo
divinamente decretado.276
Tendo por base esse antecedente, a frase “a transgressão que causa horror”
parece expressar um horror aterrador causado pela transgressão relígioso-cultual
à qual o “chifre pequeno” tem dado origem através de um sistema falso de minis-
tério e mediação. Tal sistema é rival daquele que funciona no santuário celestial e
leva os indivíduos a transgredir a verdade das atividades redentoras de Deus.
emendar o texto hebraico que apoia tal tradução, assim como têm feito em outras
linhas de nossa passagem.277 Como observamos antes, o objetivo dessas tentativas
é reconstruir um texto que favoreça a interpretação de Antíoco IV. No entanto, os
manuscritos hebraicos conhecidos não emprestam apoio a essas tentativas.
Qōdeš, santuário
Um dos fatos significativos na frase em discussão é a mudança da terminologia
de miqdāš (santuário) nos versículos 11-12 para qōdeš (também traduzido por “san-
tuário”) nos versículos 13-14. Essa mudança é acidental ou intencional? Sugerimos
que é intencional por razões que se tornarão evidentes. Alguns exegetas têm tradu-
zido o termo qōdeš como “Heiliges” (do alemão,“coisas santas”),278 referindo-se ao
santuário com o altar de holocaustos,279 ou mais amplamente a “todos os arranjos
e instituições religiosas”,280 ou mesmo como uma referência a ensinos “santos” a
serem restaurados no final das 2.300 tardes-manhãs. Assim, é exigida uma cuida-
dosa investigação do termo.
Precisamos investigar o emprego do termo qōdeš no Antigo Testamento. O An-
tigo Testamento emprega o termo em suas formas singular e plural não menos de
469 vezes.281 É usado no singular em 8:13-14 e aparece assim em 326 aparições no
Antigo Testamento. Quando qōdeš é empregado como um substantivo abstrato,282 353
pode se referir à santidade de Deus.283 Como tal é também frequentemente usado
como uma designação para o santuário terrestre284 e várias vezes para o santuário
celestial.285 Dentro do próprio santuário, qōdeš pode às vezes significar o lugar
santo 286 ou o lugar santíssimo.287
Em suas formas adjetivais qōdeš está associado com sacerdotes288 e levitas289
que serão santos juntamente com suas vestes.290 O adjetivo é também usado para
descrever o povo de Deus como “povo santo”291 e Sua “santa semente”, isto é, o
remanescente santo.292 Um texto problemático pode ser traduzido por “Judá se
tornou o seu santuário.”293 Todavia, não está inteiramente claro se é “santuário”
ou “santidade” que se pretende nesse exemplo.
É evidente que em nenhum só exemplo do Antigo Testamento o termo qōdeš
significa coletivamente “arranjos e instituições religiosas”, “ensinos sagrados”, ou
coisa semelhante. Também qōdeš jamais significa “verdade”. Assim a declaração de
que a “verdade” é purificada ou restaurada depois das 2.300 tardes-manhãs não
parece estar dentro do alcance das possibilidades. Isso também se aplica à interpre-
tação de que qōdeš significa “terra” ou “povo”, quer seja judeus ou cristãos. Tais in-
terpretações não recomendam a si mesmas sobre bases terminológicas e filológicas.
Essa investigação de qōdeš no Antigo Testamento esclarece o seu uso em 8:13-
14, ao qual será dada atenção sucintamente. O livro de Daniel em si não fornece
luz adicional sobre o propósito do termo. Começando dentro do contexto do
capítulo 8, o termo qōdeš pertence aos termos e frases que recapitulam ideias
expressas nos versículos 11-12. Nesses versículos aparece o termo miqdāš (santuá-
rio), e parece certo que qōdeš nos versículos 13-14 recapitula esse termo. Ambas
as palavras são empregadas muito frequentemente no Antigo Testamento para o
santuário/templo, quer seja terrestre ou celestial. Contudo, seu aparecimento na
audição parece sugerir conotações adicionais.
Uma dessas conotações ou associações é inconfundível na frase “o santíssi-
mo [lugar]” (qōdeš qodāšîm), isto é, o santuário, em 9:24.294 A unção do santuário
celestial é o prelúdio para o poslúdio da “purificação” do santuário para a qual
aponta 8:13-14.
Outra associação se relaciona com o povo de Deus ou “santos” e os respectivos
termos e cenários contextuais usados para eles nas várias partes do livro de Daniel.
Várias vezes o capítulo 7 menciona “os santos do Altíssimo” (aramaico, qadaîšê
‘elyônîn). Eles são também simplesmente mencionados como “santos” ou incon-
fundivelmente designados como “o povo dos santos do Altíssimo” (aramaico, ‘am
qaddîšê ‘elyônîn).295
Esses “santos” são perseguidos pelo “chifre pequeno”, e o Ancião de dias os
leva a um juízo celestial antes da mudança das eras.296 Esse juízo é “em favor
dos santos do Altíssimo” (v. 21-22a). Então os santos recebem o reino do Filho
354 do homem.297 O quadro é bastante claro. Os “santos” têm estado sob ataque do
poder anti-Deus, mas são vindicados no juízo. A vindicação dos santos implica na
condenação do “chifre pequeno”.
No capítulo 8, o “chifre” que brota de pequenos começos também ataca ou
persegue “o povo dos santos” (‘am qedōšîm, v. 24). Finalmente, porém, virá um fim
para “a destruição do poder do povo santo [‘am qōdeš]” (12:7).
No livro de Daniel essas associações terminológicas e conceituais de qōdeš
com santuário, santos e juízo dificilmente podem ser acidentais. Evidentemente, o
termo qōdeš em 8:13 tem por objetivo trazer à mente elos terminológicos e concei-
tuais como chaves para os pontos altos das visões dos capítulos 7, 8–9 e 11–12.
Tendo acrescentado detalhes às associações de qōdeš (santuário) no livro de
Daniel, devemos agora voltar a 8:13. Na frase “na qual é entregue o santuário e o
exército a fim de serem pisados” não podemos senão notar que sintaticamente o
termo “santuário” (qōdeš) está correlacionado com o termo “exército” (sābā’).298 O
termo “exército” evidentemente recapitula o que o mesmo termo expressou ante-
riormente no versículo 10, a saber, o povo de Deus que é identificado no versículo
24 como “o povo dos santos”. Embora “santuário” (qōdeš) e “exército” (sābā’) este-
jam correlacionados, eles não devem ser compreendidos como idênticos.
O “santuário” e o “exército” são entregues para serem “pisados” (mirmās).299
Mirmās aparece como substantivo no Antigo Testamento em apenas duas co-
nexões: (1) o “pisar” do chão por animais,300 e (2) o “pisar” do povo por um
do. Por outro lado, há 40 empregos da raiz em quatro diferentes raízes verbais,309
duas formas nominais,310 e uma forma adjetival.311 As duas últimas formas aparecem
juntas não menos de 482 vezes. Embora uma investigação detalhada do emprego
dessas variadas formas não possa absorver nossa atenção aqui, será necessário pro-
ver alguma discussão sobre esse termo enigmático. Seguiremos os principais pro-
cedimentos para a investigação de palavras usadas apenas uma vez nas Escrituras,
observando as antigas versões termos paralelos, e formas verbais cognatas.
1. Antigas versões e nisdaq. As mais antigas versões são as antigas traduções
gregas de Daniel, tais como a Septuaginta e a tradução de Teodócio. Ambas as
versões traduzem nisdaq pelo termo grego katharisthēsetai,312 (“será limpo”). Afirma-
se costumeiramente que isto reflete a experiência dos eventos da (profanação e)
rededicação do templo de Jerusalém no tempo de Antíoco IV Epifânio.
Isso é possível, mas não absolutamente necessário, uma vez que não sabemos
precisamente quando a Septuaginta do livro de Daniel foi traduzida. Se ela foi tra-
duzida antes dos eventos de 167-164 a.C. (o período da profanação por Antíoco),
não conteria nenhuma reflexão sobre eles. Mesmo que ela tivesse sido traduzida
posteriormente, poderia não ser uma reflexão sobre esses eventos. Não devemos
necessariamente ler a Septuaginta através das lentes do relato de 1 Macabeus 4:42-
51. Seja como for, as mais antigas versões gregas – e a Septuaginta é uma versão
356 pré-cristã – dizem “o santuário será limpo.”
A Vulgata Latina, tradução feita por Jerônimo em cerca de 400 d.C., contém
a variante mundabitur (será purificado/limpo).313 A Siríaca Peshitta tem a mesma
tradução, bem como a Cópta.314
Resumindo, todas as antigas traduções (Septuaginta, Teodócio, Vulgata, Siría-
ca e Cópta) traduziram o hebraico nisdaq de 8:14 por “purificado/limpo”.315 Essa
evidência simples e direta é significativa.
2. Termos paralelos na poesia hebraica. Um dos procedimentos de recupera-
ção de significados de palavras no estudo do Antigo Testamento é volver-nos à po-
esia e investigar termos empregados em paralelismo poético. Esse estudo tem sido
empreendido.316 Os resultados indicam que vários derivativos da raiz (sdq) são usa-
dos em paralelismo com zākāh (“ser puro”),317 tāhēr (“ser limpo, puro, purificar”),318
e bōr (“limpeza”).319
O paralelismo zākāh//sādāq (ser puro//ser justo), aparece em Jó 15:14,320 e
25:4321 O paralelismo em Salmo 51:4 diz: “Para que Tu sejas justificado [sādaq]
quando falares, E sejas irrepreensível [sejas puro, zākāh]322 quando julgares” (NASB,
ênfase suprida).
O paralelismo de sādaq//tāhēr (ser justo//ser limpo, puro), é encontrado em
Jó 4:17.323 Em Jó 17:9 o paralelismo é entre o adjetivo saddîq, “o justo”, e “o puro
de mãos”, tāhār-yādayim. Deve ser notado que tāhēr é o termo típico no Antigo
Testamento para limpeza cúltico-ritual.324 É usado para a purificação do santuário
em Levítico 16:9, 30. Mas também pode ser usado mais amplamente para limpeza
física e moral.325 Vários eruditos têm apontado para o significado do paralelismo
sādāq//tāhēr e sua importância para ambos os termos e as conexões que cada um
transmite dessas associações sinônimas.326
O paralelismo de sedeq//bōr (“justiça//limpeza”) é atestado em Salmo 18:20,
onde a “justiça” do crente é igual à “limpeza de [suas] mãos”. A pureza ética está
em primeiro plano.327 Com base nesses termos paralelos e sua íntima associação,
parece razoável sugerir que as ideias de limpo/puro, limpar/purificar deveriam ser
consideradas como parte do conteúdo semântico das várias formas de sādaq, de-
pendendo dos seus empregos contextuais. A unanimidade das antigas versões em
traduzir nisdaq em 8:14 por “será limpo/purificado” pode refletir essas nuanças se-
mânticas de limpo/puro e limpeza/pureza manifestadas nesses termos sinônimos
do paralelismo poético hebraico.
3. Formas verbais cognatas no Antigo Testamento. Não é possível prover
um estudo detalhado das 40 formas verbais do Antigo Testamento da raiz (sdq)
da qual deriva nisdaq. As formas Qal significam “estar no direito, ser justo, ter um
caso justo, ser vindicado, ser justo, íntegro”. As formas intensivas do Piel signifi-
cam “declarar alguém como justo, fazer alguém parecer justo, inocente, desejar-se
a si mesmo justo”. A forma Hiphil causativa significa “dar ou trazer justiça, declarar
357
justo, justificar, vindicar”. E finalmente, aquela forma Hithpael significa “justificar-
se.”328 Três principais ideias inter-relacionadas aparecem no uso das formas ver-
bais: justificar, vindicar, e ser/corrigir.
É evidente, mesmo na língua inglesa [ou portuguesa], que estes conceitos de
justificar, vindicar, corrigir, reparar, ordenar têm fortes conexões com o tribunal e
seus processos judiciais. Esses relações aparecem explicitamente em Isaías 41:26,
onde o pronunciamento legal é mencionado: “Ele é justo [saddîq]” (KJV).329 A
expressão é formulada, então parece, na linguagem do discurso judicial, com o
procedimento de pergunta e contra-pergunta do processo legal.330
Isso vem explicitamente à expressão em Isaías 43:9, com o desafio do Senhor:
“Apresentem as suas testemunhas e por elas se justifiquem [sādāq, Qal].” Este é
outro discurso judicial. Parece que o Senhor está apelando aos deuses pagãos para
que apresentem o seu caso em um tribunal de justiça, diante de testemunhas. O
contexto desse processo judicial é determinar a reivindicação do Senhor de que
“Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões [pešā‘] por amor de mim e
dos teus pecados não me lembro.”
Em Isaías 45:25 é feita a promessa: “Mas no Senhor será justificada [sādāq,
Qal] toda a descendência de Israel e nele se gloriará.” Em Isaías 50:8 (dentro do
terceiro assim chamado Cântico do Servo) a linguagem e o tribunal de justiça
aparece outra vez na declaração: “Aquele que me vindica [sādāq, Hiphil] está perto;
quem contenderá comigo? Levantemo-nos, quem tem um caso contra mim? Que
se aproxime de mim” (NASB, ênfase suprida).
Esta associação forense do tribunal de justiça não deveria vir como uma sur-
presa porque uma associação primária de várias formas da raiz sdq – e, por exten-
são, suas formas nominais – pertencem à linguagem legal do Antigo Testamento e
seus procedimentos de jurisprudência.331
Várias observações resumidas importantes estão agora em ordem: (1) O em-
prego bíblico das formas verbais e adjetivais da raiz sdq coloca-as no contexto da
linguagem do tribunal de justiça e dos processos legais de julgamento. (2) Vários
derivativos de sdq pertencem à linguagem legal-judicial. (3) Yahweh é aquele que
traz vindicação ao acusado, endireitando as coisas, e consertando a questão. (4)
É em um cenário cósmico entre Yahweh e deuses pagãos que a questão deve ser
resolvida quanto a quem apagará as transgressões dos crentes (Is 43:25).
A associação do contexto do juízo com a afirmação de que Yahweh pode apa-
gar a transgressão (peša‘) em uma situação cósmica envolvendo a Deus e as divin-
dades pagãs pode ser uma pista quanto ao porquê do uso do verbo nisdaq em 8:14.
Daniel 8:14 está também num contexto cósmico de juízo divino envolvendo ativa-
mente o santuário celestial e a peša‘ (transgressão) do povo de Deus. O contexto
do juízo no capítulo 8, porém, se relaciona com o tempo do fim (versos 17, 19) e é
358 fortemente iluminado pela visão paralela do juízo de 7:9-19, 13-14.
Essas considerações, baseadas em várias evidências, apontam na direção da
compreensão de nisdaq em 8:14 como uma designação policrômica que inclui
dentro do seu alcance semântico tais significados como “purificando, vindicando,
justificando, endireitando, restaurando”. Seja qual for a maneira como alguém
traduza o termo hebraico para uma língua moderna, a “purificação” do santuário
inclui real limpeza, bem como atividades de vindicar, justificar e restaurar.
Parece que Daniel escolheu o termo nisdaq – palavra de uma raiz com ricas e
amplas conotações, amplamente empregada em contextos de julgamento e proces-
sos legais – a fim de comunicar eficazmente os aspectos inter-relacionados da “pu-
rificação” do santuário celestial no contexto cósmico do juízo do tempo do fim.
Os estreitos e limitados aspectos de outros termos disponíveis não parecem fazer
justiça às implicações de longo alcance da atividade divina no tribunal celestial.
Agora precisamos voltar mais uma vez para o termo “santuário” de 8:14.332 O
texto hebraico tem (como no versículo 13) o termo qōdeš. Nossa discussão anterior,
conforme anotada acima, tem indicado que o termo nunca significa “altar”333 ou
“alguma coisa santa” (Heiliges) no sentido de verdades especiais que devem ser vin-
dicadas nos últimos dias. O termo qōdeš tem sido traduzido por “santuário” desde
as mais antigas versões até ao presente.334 Isto é apoiado por frequentes empregos
do termo com referência ao santuário terrestre e celestial no Antigo Testamento.
Pode-se sumariar o ataque do “chifre pequeno” afirmando que ele está empe-
nhado em uma luta contra o “Príncipe do exército”, usurpando suas funções e as-
sim interferindo nos benefícios que Ele provê para o seu povo em celestial atividade
redentora. Além disso, o chifre persegue o povo do Salvador-Príncipe. Esse retrato
coerente de 8:9-12 é apoiado plenamente pela interpretação angélica em 8:23-25.
Alguém pode falar de uma profanação indireta do santuário celestial pelo poder
do “chifre pequeno” no sentido de que os pecados daqueles que uma vez confiaram
no falsificado sistema de salvação são abandonados e confessados a Deus, porque o
genuíno ministério contínuo é reconhecido por seu mérito salvífico. Visto que os
pecados confessados do antigo Israel profanavam ou contaminavam o santuário ter-
restre, é possível dizer que ele era indiretamente profanado por Satanás. Isto é, por
meio das tentações de Satanás, os membros da comunidade da aliança eram levados
aos atos pecaminosos acerca dos quais o arrependimento e os rituais prescritos de
sacrifício no santuário foram instituídos para os genuinamente arrependidos. No
mesmo sentido, pode ser dito que o poder do “chifre pequeno” (como um agente
satânico) desempenha uma parte indireta na profanação do santuário celestial.
Todavia, devemos ter em mente que a profanação do santuário celestial não
é o problema real na atividade do “chifre pequeno” em 8:9-12. O verdadeiro pro-
blema é uma luta do poder do “chifre pequeno” e a agência que está por trás dele
360 para arrebatar do Príncipe do exército o controle sobre o plano divino da salvação.
Essa luta tem dimensões cósmicas envolvendo o Céu e a terra e o triunfo final do
amor de Deus em salvar a humanidade caída.
O santuário terrestre era purificado no Dia da Expiação dos pecados acumula-
dos do povo no fim de um período ritual de um ano completo. O Dia da Expiação
era um dia de juízo e redenção, um dia de purificação e purgação. De igual modo,
de forma antitípica, a verdadeira realidade do santuário celestial no final do perío-
do do mundo (tempo do fim) será “purificada” dos pecados acumulados da época
anterior, quando as 2.300 tardes-manhãs (anos) são terminadas.
Então os poderes redentores do Céu se encarregam de uma fase adicional de
ministério e atividade de natureza judicial-redentora, restaurando também a ver-
dade do fundamento da obra de Deus, vindicando os santos diante do universo
em uma atividade judicial de uma investigação de seus atos por causa dos seres
celestiais (veja 7:9-10).
As atividades judiciais-redentoras do Dia da Expiação no santuário terrestre
em favor do antigo Israel têm seu equivalente tipológico na atividade judicial-
redentora do santuário celestial no tempo do fim. Temos notado vários elos ter-
minológicos diretos entre Daniel 8 e Levítico 16, que servem para juntar esses
capítulos. A ênfase cúltico-judicial do termo pešā‘ (transgressão) relaciona Levítico
16, Daniel 8 e Daniel 9.342 A expressão da palavra hebraica qōdeš (santuário) tem
uma analogia profunda em Levítico 16. A ideia expressa por nisdaq (purificado)
com sua rica ênfase semântica traz imediatamente à memória o aspecto de “purifi-
cação” do santuário e do povo de Deus em Levítico 16:16, 19, 30.343
Esses elos inconfundíveis são fortes indicadores das conexões conceituais e
teológicas entre Levítico 16 e Daniel 8. O que Levítico 16 descreve como o gran-
dioso ponto culminante de purificação, restauração, justificação e vindicação para
o antigo Israel no Dia da Expiação no fim do ciclo anual, Daniel 8 descreve como
o grandioso ponto culminante para todo o povo de Deus em uma escala cósmica,
universal no final dessa era – o prelúdio para a introdução da nova era, quando
somente o reino de Deus existirá.
dioso ponto culminante é atingido pela vinda da pedra “cortada por nenhuma
mão humana” (v. 34, 45, RSV), que quebra toda a estátua em pedaços e enche toda
a terra (v. 35). Então o próprio Deus estabelece um reino “que jamais será destru-
ído, nem a sua soberania passará a outro povo” (v. 44, RSV). Sua magnitude é de
proporções universais e seu desígnio é de dimensões cósmicas.
No capítulo 7, as mesmas proporções universais e dimensões cósmicas são
enfatizadas. O ataque do chifre pequeno contra o povo de Deus é seguido por um
juízo investigativo celestial pré-advento em favor dos santos. De acordo com esse
juízo, o povo de Deus torna-se o recipiente do “seu reino” (v. 14), que possuirão
“para sempre e sempre” (v. 18, KJV). Embora o juízo seja em favor dos santos (v.
22), o subproduto é finalmente o fim do domínio do chifre pequeno (v. 26-27).
No capítulo 8, mudamos outra vez dos impérios mundiais para focalizar o
“tempo do fim” (v. 17). Depois da visão do poder do “chifre pequeno” (v. 9-12),
o enfoque central está de acordo com o tempo do fim, o grandioso ponto culmi-
nante da atividade judicial-redentora que se inicia no final dos 2.300 anos no
santuário celestial (v. 14). Essa atividade envolve o santuário celestial e os santos
terrestres em purificação, restauração, justificação e vindicação.
Como na visão apocalíptica anterior, essa atividade tem um efeito sobre o
“chifre pequeno”. Ele é quebrado “sem esforço de mãos humanas” (v. 25). O
362 enfoque da atividade cósmica de Deus é sempre o mesmo. É diretamente por seu
povo que possuirá o reino eterno. Indiretamente tem também implicações para
as forças opostas. Em uma escala mais ampla, reconhecemos novamente o grande
conflito entre Deus e as forças opostas. Em seu sentido mais fundamental isso
envolve vida e morte. Consequentemente, a última grande sequência apocalíptica
dos capítulos 11–12 outra vez se move dos impérios mundiais para o tempo do
fim. Nesse tempo, porém, os resultados das cenas judiciais-redentoras anteriores
(7:9-14; 8:13-14) tornam-se evidentes através da vitória sobre o problema do peca-
do pela ressurreição dos santos para a vida eterna (12:1-4).
Os versículos de 8:13-14 “são o coração do capítulo 8”.348 Eles devem ser vistos,
porém, no contexto dos segmentos do juízo da visão do capítulo 7, bem como dos
eventos culminantes dos capítulos 11–12. A passagem de Daniel 8:13-14 é uma
expansão, suplementação e ampliação da cena do juízo investigativo pré-advento
do tempo do fim de 7:9-10, 13-14, 21-22, 25-27. É pressuposto pelas atividades exe-
cutivas do Príncipe Miguel, que salva a “todo o que está... escrito no livro” (12:1,
NASB) e ressuscita os fiéis para a vida eterna.
Consequentemente, o grandioso ponto culminante do livro de Daniel não é
o juízo, por mais importante que seja, para os propósitos redentores do povo de
Deus. Antes, tudo conduz à ressurreição e à nova era com o reino eterno existindo
por si mesmo. No plano de Deus, o juízo antes da vinda da nova era é designado
para trazer salvação àqueles que são realmente seus.
Notas
1
G. F. Hasel, “‘The Little Horn’, the Saints, and the Sanctuary in Daniel 8”, The
Sanctuary and the Atonement, eds. A. V. Wallemkampf e W. R. Lesher (Washington, D.C.,
1981), p. 177-227 (doravante citado como Hasel, LSS).
2
A importância dessa distinção tem sido notada por comentaristas. É particularmente
enfatizada por O. Plöger, Das Buch Daniel (Gutersloh, 1965), p. 126-27. L. F. Hartman e A.
A. Di Lella, The Book of Daniel (Garden City, NY, 1978), p. 230-31, fazem a distinção entre
“visão” (versículos 1-12) e “revelação” (versículos 13-14).
3
Um diálogo de seres celestiais é também descrito em Zacarias 1:12-21. Em contraste
com Zacarias, a passagem de 8:13-14 não tem nenhum diálogo entre anjo e vidente.
4
H. L. Ginsberg, Studies in Daniel (New York, 1949), p. 32-33, 37. 363
5
H. H. Rowley, “The Unity of the Book of Daniel”, HUCA 33 (1950-51): 233-73.
6
H. L. Ginsberg, “The Composition of the Book of Daniel”, VT 4 (1954): 246-75.
7
H. H. Rowley, “The Composition of the Book of Daniel”, VT 5 (1955): 272-76.
8
Hartman e Di Lella, p. 230-32.
9
B. Hasslberger, Hoffnung in der Bedrängnis. Eine formkritische Untersuchung zu Dan 8
und 10-12 (St. Ottilien, 1977), p. 19-20.
10
A. Jepsen, “Bemerkungen zum Danielbuch”, VT 11 (1961): 386-91.
11
Gisberg, “Composition”, p. 259.
12
Recentemente, por exemplo, Hartman e Di Lella, p. 13; J. G. Gamie, “The Clas-
sification, Stages of Growth, and Changing Intentions on the Book of Daniel”, JBL 95
(1976): 195; J. J. Collins, The Apocalyptic Vision of the Book of Daniel (Missoula, MT, 1977),
p. 8-10; A. Lacocque, The Book of Daniel (Atlanta, 1979), p. 8-10.
13
Ginsberg, Studies in Daniel, p. 32.
14
Hasslberger, p. 19.
15
Ibid.
16
Ibid.
17
Ibid., p. 17-18.
18
Collins, p. 24, n. 19, usa essa designação para Ginsberg.
19
Os intérpretes concordam em grande parte de que Daniel 8 necessite de um elemento
tempo. Veja W. Baumgartner, “Ein Vierteljahrhundert Danielforschung”, TR 11 (1939): 82.
20
Lacocque, p. 165, argumenta contra Ginsberg que 8:13-14 “são o cerne do capítulo 8.”
21
Veja Hasel, LSS, p. 182-87, para um estudo mais antigo e mais breve de 8:9-10.
22
Veja P. Jouon, Grammaire de l’Hébrew biblique (Roma, 1947), p. 262-63; C. Brockel-
mann, Hebräische Syntax (Neukirchen, 1956), p. 75-76; W. R. Harper, Elements of Hebrew
by an Inductive Method, rev. por J. M. P. Smith (Chicago, 1968), p. 171; M. Lambert, Traité
de Grammaire Hébraique (Hildesheim, 1972), p. 211-12; R. J. Williams, Hebrew Syntax: An
Outline (Toronto, 1967), p. 21-22, n. 95.
23
Hartman e Di Lella, p. 235; cf. C. Keil, Biblical Commentary on the Book of Daniel
(1869), p. 295; Plöger, p. 126; e muitos outros. É surpreendente que estes eruditos passem
por alto toda discussão desses problemas gramático-sintáticos.
24
Há alguns manuscritos hebraicos que trazem mhn, um sufixo feminino, em vez da
variante masculina mhm na tradição massorética. Neste caso, a frase inicial do versículo 9
poderia se referir ou aos “quatro notáveis” ou aos “quatro ventos do céu”. Sintaticamente,
a questão do antecedente seria neutra.
25
Veja n. 22 e também R. Meyer, Hebräische Grammatik, 3a ed. (Berlim, 1969), vol. 2,
p. 86, n. 59.1.
26
W. H. Shea, Daniel and the Judgment (Washington, D.C., s.d. [1980]), p. 65.
27
Veja Isaías 62:1b; 28:15; 42:4; 44:3b; Salmos 57:6, 11; 108:6; Jó 5:9; 18:10; Provérbios
5:5; 29:3; cf. W.G.E. Watson, “Gender-Matched Synonymous Parallelism in the OT”, JBL
364 99 (1980): 321-41, principalmente p. 339 onde os exemplos citados são mencionados.
28
Shea, p. 66.
29
Ibid.: “Assim, é sintaticamente impossível que o chifre pequeno de Daniel 8 repre-
sente Antíoco Epifânio.”
30
M. Suring, Horn-Motifs in the Hebrew Bible and Related Ancient Near Eastern Literature
and Iconography (tese doutoral, Andrews University, 1980), p. 410.
31
L. Kohler and W. Baumgartner, Lexicon in Veteris Testamenti Libros (Leiden, 1958), p.
877, doravante citado como KBL.
32
W. L. Holladay, A Concise Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament (Grand
Rapids, 1971), p. 334, doravante citado como CHAL.
33
R. Albertz e C. Westermann, “Rûah Geist”, THAT, 2:729; cf. CHAL, p. 334.
34
E. Kautzsch e A. E. Cowley, Gesenius’ Hebrew Grammar, 2a ed. (Oxford, 1970), p.
440, grifos dos autores.
35
O leitor deve notar que em 8:8 o numeral “quatro” na frase “quatro notáveis” (hāzût
’arba‘) com a palavra “chifre” omitida por elipse é masculino. O numeral feminino “um”
(’ahat) no início do versículo 9 não pode se referir ao numeral “quatro” porque não há
concordância de gênero. Da mesma forma, ’ahat (um) não pode se referir de volta ao
substantivo feminino hāzût (“notabilidade”) porque sintática e logicamente não faz ne-
nhum sentido sugerir que o intento da frase inicial do versículo 9 seja “de um”, isto é,
“da notabilidade dos quatro (chifres) sai um chifre da insignificância.” Desta forma os
problemas permanecem: (1) ambas as expressões, a saber, “de um” (min-ha’ahat) e deles
48
Veja Daniel 9:15; 22-23; 10:20; 11:11, 44.
49
O verbo é novamente um Qal como no exemplo anterior.
50
HAL 1:171.
51
KBL, p. 171.
52
Keil, p. 296; Meinhold, p. 308; Bevan, p. 132; Behrmann, p. 53; G. F. Moore, “Da-
niel 8:9-14”, JBL 15 (1896): 194; Hartman e Di Lella, p. 236.
53
Dt 4:19; 17:3; 2Rs 17:16; 21:3, 5; 23:4-5; 2Cr 33:3, 5; Is 34:4; Jr 8:2; 19:13; Zc 1:5.
54
1Rs 22:19; 2Cr 18:18; Ne 9:6; Jr 33:22.
55
Veja M. Cogan, Imperialism and Religion: Assyria, Judah and Israel in the Eighth and
Seventh Centuries B.C.E. (Missoula, MT, 1974), p. 84-88.
56
Também Hasslberger, p. 55.
57
Veja n. 34.
58
Keil, p. 296; Young, p. 171.
59
G. F. Hasel, “The Identity of ‘The Saints of the Most High’ in Daniel 7”, Bib 56
(1975): 173-92.
60
B. Hasslberger, Hoffnung in der Bedrängnis. Eine formkritische Intersuchung zu Dan 8 and
10-12 (St. Ottilien, 1977), p. 17-22.
61
A unidade do capítulo 8 é defendida por F. Dexinger, ‘Das Buch Daniel und seine
Probleme (Stuttgart, 1969), p. 27-29; F. Nötscher, “Daniel”, Echter-Bibel (Wurzburg, 1948),
366 p. 6; E. W. Eaton, The Book of Daniel (Londres, 1956), p. 48; N. W. Porteous, Daniel: A
Commentary (Filadélfia, 1965), p. 120; e outros.
62
A razão é o fato de que o verbo precede o sujeito animal onde toma um masculino,
enquanto o sujeito é feminino. Esta falta de concordância entre verbo e sujeito segue a
sintaxe hebraica normal.
63
T. Kliefoth, Das Buch Daniels (Schwerin, 1868), p. 268-69, sugere que a mudança
indica uma mudança de visão para predição. H. Junker, Untersuchgen uber literarische und
exegetische Probleme des Buches Daniel (Bonn, 1932), p. 67, acha que os versículos 11-12 des-
crevem realidade e não visão. Hasslberger, p. 18, afirma que os versículos 11-12 são uma
interpretação dos versículos 9-10. Isto, porém, não é correto, porque os versículos 11-12
introduzem elementos nunca mencionados ou aludidos antes.
64
Hasslberger, p. 18.
65
Por exemplo, G. M. Price, The Greatest of the Prophets (Mountain View, CA, 1955),
p. 170, 173, 176-77.
66
Essa opinião supera duas grandes dificuldades: (1) Algumas especificações de 8:9-12
não encontram cumprimento nas fases de Roma pagã e papal. (2) O livro de Daniel não
tem cumprimento duplo em nenhum outro lugar. Daniel 8:9-12 mantém-se dentro do
padrão de cumprimento único de Roma em suas duas fases históricas distintas.
67
Sintaticamente, as primeiras duas sentenças em 8:11 são sentenças verbais inverti-
das, significando que o objeto precede o verbo, contrário à ordem normal das palavras.
68
É o Hiphil perfeito de gādal que tem o significado de “engrandecer-se” (W. L. Holla-
day, A Concise Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament [Grand Rapids [1971]), p.
56, doravante citado como CHAL.
69
Não há nenhuma necessidade de mudar a forma do feminino higdîlāh, como faz A.
von Gall, Die Einheitlichkeit des Buches Daniel (Giessen, 1895), p. 51; G. F. Moore, “Daniel
8:9-14”, JBL 15 (1896): 194; K. Marti, Das Buch Daniel (Tubingen e Leipzig, 1901), p. 58.
70
R. Mosis, “gādhal”, TDOT (1975), 2: 404.
71
E. Jenni, Das hebraische Pi‘el (Zurique, 1968), p. 46-48.
72
Também E. Grotius, Annotations in Vetus et Novum Testamentum (Londres, 1727);
Ephrem, Commentationes Danielii (1740); R. H. Charles, A Critical and Exegetical Commen-
tary on the Book of Daniel (Oxford, 1929), p. 204; M. A. Beek, Das Danielbuch (Leyden,
1935), p. 80.
73
1Cr 24:5; Ed 8:24, 29.
74
Dn 8:11, 25; 10:13, 21; 12:1.
75
A. Lacocque, The Book of Daniel (Atlanta, 1979), p. 162, está correto em apontar para
a identidade de Miguel como o Príncipe do exército, mas a inclusão do Sumo Sacerdote
Onias III é injustificada pelo material.
76
Isto não significa que “o Príncipe do exército” é uma figura coletiva que “designa a
personificação transcendente do ‘povo dos Santos’”, conforme é sugerida por Lacocque,
p. 172.
77
Judas 9 (cf. 1Ts 4:16); Ap 12:7-17. 367
78
Hartman e Di Lella, p. 222, corrigem sem apoio dos manuscritos hebraicos para
mikkannô ou mimmekônô (“de sua posição”) a fim de harmonizar com a interpretação de
Antíoco. Tais mudanças no texto são injustificadas e apontam para os insuperáveis proble-
mas dessa interpretação.
79
Isto é apoiado pela Septuaginta Grega e Teodócio di’ auton e a Vulgata Latina ab eo tulit.
80
L. F. Hartman e A. A. Di Lella, The Book of Daniel (Garden City, NY, 1978), p. 222
sugerem tārîm (ele removeu).
81
A forma huraym (o Qere) é um Hophal (Montgomery, p. 340) com um yod de rûm
inexplicado. O significado é “ser tirado” (l. Kohler e W. Baumgartner, Lexicon in Veteris
Testamenti Libros [Grand Rapids, 1971], p. 881, doravante citado como KBL) ou “ser remo-
vido” (CHAL, p. 335). O Kethib é herîm, um Hiphil da mesma raiz, com o significado de
“tirar” (KBL, p. 881; CHAL, p. 335), enquanto que vários manuscritos hebraicos apoiam a
variante hûram, um Hophal com uma grafia plena. É esta variante que seguimos.
82
F. Brown, S. R. Driver, e C. A. Briggs, A Hebrew and English Lexicon of the OT (Oxford,
1974), p. 556, doravante citado como BDB.
83
No Antigo Testamento tāmîd é usado regularmente e sem exceção, quer seja como
um advérbio ou como um adjetivo.
84
Hartman e Di Lella, p. 222, e outros.
85
Lacocque, p. 158.
86
A. Plöger, Das Buch Daniel (Gutersloh, 1965), p. 120.
87
J. A. Montgomery, The Book of Daniel, ICC (1927), p. 336.
88
Ibid.
89
E. J. Young, The Prophecy of Daniel (Grand Rapids, 1949), p. 172.
90
Ibid.
91
H. C. Leupold, Exposition of Daniel (Grand Rapids, 1969), p. 347.
92
Assim com ênfase Montgomery, p. 336; Hasslberger, p. 100.
93
Hasslberger, p. 100.
94
Montgomery, p. 336.
95
Montgomery, p. 336; Hasslberger, p. 100; A. Bentzen, Daniel (Tubingen, 1952), p.
70; Marti, p. 58.
96
Veja M. Jastrow, Dictionary of the Targumim, the Talmud Babli and Yerushalmi, and the
Midrashic Literature (New York, 1950), 2:1676-77.
97
Por exemplo, Marti, p. 58; Montgomery, p. 336; Bentzen, p. 70; Charles, p. 207; Plöger, p.
126; Hartman e Di Lella, p. 236; Lacocque, p. 159; N. W. Porteous, Daniel (Londres, 1965), p. 125.
98
Entre os mais antigos comentaristas estão E. W. Hengstenberg (1848), H. C. Haever-
nick (1832), R. Kranichfeld (1868), T. Kliefoth, (1868), e C. F. Keil, Biblical Commentary on
the Book of Daniel (Grand Rapids, 1949), p. 298. Entre os mais recentes expositores estão
Young, p. 172; Leupold, p. 347-48; L. Wood, A Commentary on Daniel (Downers Grove,
IL, 1978), p. 157: “Nesta única palavra todo o sistema sacrificial está implícito”; C. Bout-
368 flower, In and Around the Book of Daniel (Londres, 1923), p. 17, n. 2.
99
Hatman e Di Lella, p. 236.
100
Plöger, p. 126.
101
Antíoco foi o oitavo dos 26 reis do quarto império ou império sírio. Ele é parte de
um dos quatro chifres, mas não um chifre separado e distinto. Veja G. M. Price, The Great-
est of the Prophets (Mountain View, CA, 1955), p. 166-167.
102
Antíoco foi um rei do chifre selêucida, ao passo que os “chifres” representam “qua-
tro reinos” (8:22) o que indica que o novo chifre é também um reino e não um simples rei.
Para outras especificações em Daniel 8 acerca da natureza dos chifres que não são compa-
tíveis com Antíoco, veja Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine (Washington,
DC, 1957), p. 327-28.
103
Não há nenhuma contagem das 2.300 “tardes e manhãs” que possa ser harmo-
nizada com os três anos de profanação do templo de Jerusalém (1Mac. 1:54, 59; 4:52);
somente dois anos são mencionados em 2 Macabeus 10:2, ou a extensão total do reinado
de Antíoco. Isto é inadvertidamente admitido. Veja Porteous, p. 127; Young, p. 174; Leu-
pold, p. 335; Bentzen, p. 71; Hartman e Di Lella, p. 237; cf. C.H.H. Wright, Daniel and
His Prophecies (Londres, 1906), p. 190.
104
Por exemplo, I. Newton, Dissertations on the Prophecies (Londres, 1838), p. 247-48; E.
B. Pusey, Daniel the Prophet (Plymouth, 1864), p. 135; S. N. Haskell, The Story of Daniel
the Prophet (South Lancaster, MA, 1908), p. 126-27.
105
U. Smith, The Prophecies of Daniel and Revelation (Nashville, 1944), p. 159-62; Price,
p. 167; SDA Bible Commentary, vol. 4, p. 841. D. Ford, Daniel (Nashville, 1978), p. 172-74,
partilha a interpretação romana em suas fases pagã e papal, e ao mesmo tempo aceita uma
aplicação inicial a Antíoco e à “apostasia final” no futuro. Ele é o único intérprete recente
que aceita várias interpretações, isto é, a preterista, historicista, e futurista pré-milenial que
estão em aparentemente irreconciliável tensão umas com as outras.
106
SDA Bible Commentary, 4:843.
107
Price, p. 173.
108
Hb 8:6; 9:15; 12:24; 1Tm 2:5.
109
E. Kautzsch e A. E. Cowley, Gesenius’ Hebrew Grammar, 2a ed. (Oxford, 1970), p. 455.
110
G. C. Aalders, Daniel (Kampen, 1962), p. 175; Hasslberger, p. 98.
111
Veja G. F. Hasel, Understanding the Living Word of God (Mountain View, CA, 1980),
p. 100-105, para modernos princípios e métodos de tradução.
112
Ginsberg, Studies in Daniel, p. 52; Hartman e Di Lella, p. 222.
113
Hartman e Di Lella, p. 222.
114
Ginsberg, Studies in Daniel, p. 52.
115
Hartman e Di Lella, p. 222, muda o texto hebraico removendo inteiramente o
verbo we hušlak e inserindo em seu lugar wetirmōs (“profanou”). Essa correção foi primei-
ramente sugerida por Ginsberg, p. 52-54. Tanto Ginsberg quanto Hartman e Di Lella tra-
balham com a hipótese de fontes divergentes por trás de Daniel 8 e seguem comentaristas
anteriores que tinham pouco respeito pelo texto hebraico. O desrespeito para com o texto 369
hebraico não pode ser mais mantido em vista dos materiais de texto sobre Daniel encon-
trados nos Rolos do Mar Morto. Os fragmentos publicados de Daniel apoiam fortemente
o texto hebraico. Veja Baldwin, p. 44-45; G. F. Hasel, “Daniel Survives the Critics’ Den”,
Ministry 52 (jan. 1979): 8-11; id., “The Book of Daniel and Matters of Language: Evidences
Relating to Names, Words, and the Aramaic Language”, AUSS 19 (1981): 211-26.
116
Ginsberg, Studies in Daniel, p. 53, argumenta que a correção wtrms que toma o lugar
de we hušlak do texto hebraico, “significa ‘profanar.’ . . . “
117
Plöger, p. 120. Ele admite, porém, que o verbo literalmente significa “e ele foi dei-
tado abaixo” (p. 122).
118
R. Kittel, ed., Biblia Hebraica, 3a ed. (Stuttgart, 1966), e K. Elliger e W. Rudolf, eds. Biblia
Hebraica Stuttgartensia (Stuttgart, 1976), doravante citada como BHK e BHS respectivamente.
119
Um manuscrito babilônio-iemenita recentemente publicado também apoia o texto
massorético; veja S. Morag, The Book of Daniel: A Babylonian-Yemenite Manuscript (Jerusa-
lém, 1973), p. 127.
120
Hasel, Understanding the Living Word of God, p. 86-90.
121
Uma forma Hophal no terceiro perfeito masculino singular (BDB, p. 1021).
122
A raiz triliteral é šlk e aparece no Antigo Testamento somente nas formas Hiphil
(112x) e Hophal (13x). Veja F. Stolz, “šlk hi. werfen”, THAT, 2:916-19.
123
Stolz, col. 916.
124
O cajado de Moisés (Êx 4:3; 7:9, 10, 12), um pedaço de madeira (Êx 15:25), tábuas
de pedra (Êx 32:19), um cordel de medir (Mq 2:5), seres humanos mortos (Js 8:29; 10:27),
etc., e vivos (Gn 37:20, 22, 24; Êx 1:22), etc.
125
Os ídolos (Is 2:20; Ez 20:7-8), a lei (Torá) de Yahweh (1Rs 14:9; Ez 23:35; Ne 9:26),
pecado do homem (Ez 18:31).
126
Stolz, col. 918.
127
Veja Salmos 71:9; 102:10 (11); Jonas 2:3 (4); Lamentações 2:1; Neemias 9:11; 2 Reis
13:23; 17:20; 24:20; Jeremias 52:3; 7:15; 2 Crônicas 7:20.
128
Também BDB, p. 1021; KBL, p. 978; G. Fohrer, ed., Hebrew and Aramaic Dictionary
of the OT (Berlim/New York, 1973), p. 286, doravante citado como HAD. CHAL, p. 373,
dá “seja derrubado, desmoronado.”
129
Há alguns empregos no Antigo Testamento onde não se pode distinguir entre signi-
ficados literais e metafóricos. Veja Isaías 2:20, Ez 20:7-8; cf. Stolz, col. 917.
130
Êx 15:17; 1Rs 8:13, 39, 43, 49; 2Cr 6:2, 30, 33, 39; Ed 2:68; Sl 33:14; 89:14 (15);
97:2; 104:5; Is 4:5; 18:4; Dn 8:11.
131
Salmos 104:5 se refere ao ato de Deus de “estabelecer a Terra “sobre seus fundamen-
tos” (‘al–mekônēyhā). Esta é uma linguagem metafórica referindo-se às bases sobre as quais
a Terra foi fundada. HAL, p. 548.
132
Veja capítulo 10, “Significance of the Cultic Language in Daniel 8:9-14”, por A. M.
Rodriguez, p. 533-34, ao qual eu sou agradecido.
370 133
A frase típica é mekôn šebet, com frequência simplesmente traduzida como “lugar da
habitação” (assim RSV, NASB, etc.).
134
1Rs 8:39, 43, 49; 2Cr 6:30, 33, 39; Sl 33:14; Note particularmente que os três em-
pregos em 2Cr 6:30, 33, 39 enfatizam que Deus deve ouvir “do céu.”
135
A validade da equação entre “lugar da habitação” e “santuário” (miqdāš) é feita em
paralelismo poético em Êxodo 15:17.
136
1Rs 8:13 = 2Cr 6:2; Êx 15:17.
137
Is 18:4.
138
Sl 89:14 (15); 97:2.
139
Ed 2:68; Is 4:5.
140
Esta é uma parte significativa da oração de Salomão de dedicação do templo de
Jerusalém (veja 1 Reis 8:39, 41, 43).
141
O termo significativo mišpāt aparece em 1 Reis 8:49. Veja também mišpāt em cone-
xão com a “base” do trono de Deus (Sl 89:14; 97:2).
142
Este é o principal significado deste termo no Antigo Testamento com seus 74 em-
pregos (veja H. P. Muller, qdš heilig, THAT, 2:594). De forma mais restrita, pode se referir
à cortina e altar (Lv 21:23), o santíssimo dentro do santuário, utensílios sagrados (Nm
10:21), ofertas sagradas (Nm 18:29), todo o recinto ao redor e incluindo o santuário (Êx
25:8; Lv 12:4; 19:30; 20:3; 21:12; 26:2, 31; Nm 3:38; 18:1; 19:20); cf. KBL, p. 559; HAL,
p. 591-592; BDB, p. 874.
143
9:17 refere-se ao santuário/templo terrestre Cf. 11:31.
165
Veja K. G. Kuhn, Konkordans zu den Qumrantexten (Göttingen, 1960), p. 234; Id.,
“Nachträge zur ‘Konkordans zu den Qumrantexten’”, RQ 14 (1963): 234; A. M. Haber-
mann, Megilloth Midbar Yehuda (Jerusalém, 1955), p. 173.
166
1QH 11,6; 12,4; 12,7; f 2,6; 4,17.
167
Tradução de 1QH 11,6 de M. Burrows, The Dead Sea Scrolls (New York, 1955), p.
413; cf. M. Mansoor, The Thanksgiving Hymns (Leiden, 1961, p. 167; S. Holm-Nielsen,
Hôdāyôt (Aarhus, 1960), p. 184; veja também 1QH f 4,17.
168
1QH 12,4 traduzido por Mansoor, p. 172; cf. Burrows, p. 414; Holm-Nielsen, p.
197.
169
1QS 6,7; 9,25; 10,23.
170
1QS 6,7. Veja G. Vermes, The Dead Sea Scrolls in English (Baltimore, 1966), p. 81; E.
Lohse, Die Texte aus Qumran (Munique, 1971), p. 23; Burrows, p. 378.
171
1QS 9,25. Veja Lohse, p. 35; Vermes, p. 88.
172
1QS 10,23. Veja Lohse, p. 39.
173
1QM 2,2.2; 2,3; 2,5; 12,14.
174
Assim datado por Y. Yadin, The Message of the Scrolls (New York, 1962), p. 128-43.
175
1QM 12,14 conforme traduzido por Burrows, p. 398; cf. Lohse, p. 209; Vermes, p.
140.
176
1QM 2,2a conforme traduzido por Burrows, p. 391; cf. Lohse, p. 183.
372 177
1QM 2,2b conforme traduzido por Burrows, p. 391.
178
Lohse, p. 183, traduz “perpetuamente”; e Burrows, p. 391, traduz “sempre”.
179
1QM 2,3 conforme traduzido por Vermes, p. 125.
180
1QM 2,5 conforme traduzido por Vermes, p. 126.
181
Publicado por J. M. Allegro. “Fragments of a Qumran Scroll of Eschatological
Midrašim”, JBL 77 (1958): 350-54.
182
4QFlor 1,5 conforme traduzido por Vermes, p. 246; cf. Lohse, p. 257; Habermann,
p. 173-74.
183
4QŠirŠabb 39,40 conforme publicado por J. Strugnell, “The Angelic Liturgy at
Qumran – 4Q Serek Sîrôt ‘ôlat Haššabbāt”, VTSup 7 (1960): 318-45, e 4QDibHam 7,5 e
7,9 conforme publicado por M. Baillet, “Un recueil liturgique de Qumran, Grotte 4: ‘Les
paroles des luminaires’”, RB 68 (1961): 195-250.
184
Y. Yadin, The Temple Scroll, ed. hebraica, 3 vols. (Jerusalém, 1977).
185
J. Milgrom, “The Temple Scroll”, BA 41 (1978): 119.
186
Cl 23:8; 25:7; 29:5; 57:9; omitimos os quatro exemplos plenamente reconstruídos
de Yadin, Temple Scroll, 2:40, 41, 42, 43.
187
Cl 29:5: “a instrução deste juízo é continuamente [tāmîd] contra os filhos de Israel.”
188
Cl 23:8; 25:7.
189
Para aqueles que datam 8-12 no tempo dos Macabeus ou segundo século a.C., seis
a sete séculos estão envolvidos. Para aqueles que datam o capítulo conforme sua linha de
data– 548/47 a.C. (veja G. F. Hasel, “The First and Third Years of Belshazzar [7:1; 8:1]”,
215
F. Brown, S. R. Driver, e C. A. Briggs, A Hebrew and English Lexicon of the OT
(Oxford, 1974), p. 607, doravante citado como BDB; W. Baumgartner, Hebräisches und
aramäisches Lexicon zum Alten Testament (Leiden, 1974), 2:618, doravante citado como HAL;
CHAL, p. 222.
216
KBL, p. 680: “Bis wann?”; HAL, p. 618; BDB, p. 607. Deve-se notar que no Antigo
Testamento o advérbio interrogativo de tempo é usado apenas no tempo futuro; cf. L. F.
Hartman e A. Di Lella, The Book of Daniel (Garden City, NY, 1978), p. 226: “Literalmente,
‘Até quando a visão?’”
217
E. Jenni, “mātaj wann?” THAT, 1:934.
218
HAL, p. 248-49.
219
A. Bentzen, Daniel (Tubingen, 1952), p. 71; semelhantemente K. Marti, Das Buch
Daniel (Tubingen e Leipzig, 1901), p. 60; J. A. Montgomery, The Book of Daniel (Edimbur-
go, 1927), p. 343; N. W. Porteous, Daniel. A Commentary (Filadélfia, 1965), p. 126-27; O.
Plöger, Das Buch Daniel (Garden City, NY, 1978), p. 127; M. Delcor, Le Livre de Daniel (Pa-
ris, 1971), p. 177; A. Lacocque, The Book of Daniel (Atlanta, 1979), p. 164: “A resposta no
versículo 14 é 2.300 tardes e manhãs pelas quais devemos compreender 2.300 sacrifícios
duplos diários perpétuos ou 1.150 dias”; Hartman e Di Lella, p. 227; J. Baldwin, Daniel
(Downers Grove, IL, 1978), p. 158.
220
“E” é suprido em parêntesis, mas é compreendido nesta expressão abreviada “tarde-
374 manhã” por causa de sua presença no versículo 26.
221
A. Rahlfs, Septuaginta, 7a ed. (Stuttgart, 1962), vol. 2, p. 918.
222
Êx 29:38-42; Nm 28:3-6; 29:1-6, 16, 19, 22, 25, 28, 31, 34, 38; Ed 3:3-5. Veja
particularmente S. J. Schwantes, “‛EREB BōQER of Daniel 8:14 Re-Examined”, AUSS 14
(1978): 375-86, reimpresso neste livro como capítulo 7.
223
Êx 29:39; Lv 6:12-13; Nm 28:4; 2Rs 16:15; 1Cr 16:40; 23:30; 2Cr 2:4; 13:11; 31:3;
Ed 3:3.
224
1Esdras 5:50: “eles ofereciam . . . holocaustos ao Senhor de manhã e à tarde”; cf.
Schwantes, p. 381, ou p. 470-71 deste volume.
225
C. F. Keil, Biblical Commentary on the Book of Daniel (Grand Rapids, 1949), p. 302-5;
E. J. Young, The Prophecy of Daniel (Grand Rapids, 1949), p. 174.
226
Gn 1:5, 8, 13, 19, 23, 31; cf. Êx 20:8-11; 31:15, 17. Para a evidência bíblica de que
o dia foi contado começando com a tarde, veja H. R. Stroes, “Does the Day Begin in the
Evening or Morning?” VT 16 (1966): 460-75.
227
Keil, p. 303; Young, p. 174; Schwantes, p. 384-85, ou capítulo 7 deste volume.
228
K. F. Keil, p. 630.
229
Keil, p. 304.
230
Cf. Gn 7:4, 12; Êx 24:18; 1 Rs 19:8; etc.
231
W. E. Schmidt, Die Schöpfungsgeschichte der Priesterschrift, 2a ed. (Neukirchen-Vluyn,
1967), p. 68, n. 3.
232
E. Jenni, “jom Tag”, THAT, 1:710.
solução onde as 70 semanas se tornam 490 dias literais ou anos proféticos. Os principais
indicadores permanecem dentro dos livros de Daniel e Apocalipse.
246
A sequência ‛ad . . . we significa “até . . . então”; cf. Jz 16:2, BDB, p. 724. Plöger, p.
120, traduz essa sequência temporal como “depois . . . então.”
247
Lacocque, p. 164: “Os termos da pergunta proposta pelo vidente não são reunidos
em termos de gramática ortodoxa. Há artigos definidos onde não deveria haver, e eles
estão ausentes onde deveriam estar.”
248
Montgomery, p. 341, traduz: “o Constante”; Young, p. 173, traduz o termo por “o
Contínuo.”
249
Veja também Schwantes, p. 375-81, ou p. 462-74 deste volume.
250
A. Bevan, A Short Commentary on the Book of Daniel (Cambridge, 1892), p. 135,
sugeriu que o particípio de rûm na forma de mûram (R. Kittel, ed., Biblia Hebraica, 3a ed.
[Stuttgart, 1966], e K. Elliger e W. Rudolf, eds., Biblia Hebraica Stuttgartensia [Stuttgart,
1976], doravante citado como BHK, BHS) “está removido”, (KBL, p. 881; CHAL, p. 335;
HAD, p. 257) deve seguir hattāmîd. Ele é seguido por von Gall, p. 52, e outros. Plöger, p.
122; Lacocque, p. 158, e outros., não seguem esta correção. Hartman e Di Lella, p. 226,
supre o infinitivo hārēm ou hāsēr (remover).
251
Assim também B. Hasslberger, Hoffnung in der Bedrängnis. Eine formkritische Untersu-
chun zu Dan 8 un 10--12 (St. Ottilien, 1977) p. 105; Plöger, p. 122.
376 252
R. J. Williams, Hebrew Syntax: An Outline (Toronto, 1967), p. 10-11, 82, n. 489; E.
Kautzsch e A. E. Cowley, Gesenius’ Hebrew Grammar, 2a ed. (Oxford, 1970), p. 247-48.
253
L. Köhler, Old Testament Theology (Filadélfia, 1957), p. 170.
254
KBL, p. 785.
255
R. Knierim, “paeša‛ Verbrechen”, THAT, 2:493.
256
Ibid., col. 492.
257
Veja também os empregos em passagens cultuais ou cúltico-judiciais como Êxodo
34:7; Números 14:18; 1 Reis 8:50; Salmos 25:7; 32:1; 51:3; Isaías 53:5; 59:12; Miquéias
7:18-20; etc.
258
Veja Êxodo 34:7; Levítico 16:16; Números 14:18; 1 Reis 8:50; Salmos 32:1; Isaías
43:25; 44:22; Miquéias 7:18.
259
Knierim, cols. 493-95.
260
O particípio šōmēm tem sido considerado como um particípio Polel abreviado de
mešômēm (veja E. Konig, Lehrgebäude der Hebräischen Sprache [1881-97], 1:197; G. Behr-
mann, Das Buch Daniel (Gottingen, 1894), p. 55; Marti, p. 59; Charles, p. 210; CHAL, p.
376). Para a tradução de “causando horror” veja S. R. Driver, The Book of Daniel (Cam-
bridge, 1901), p. 150-51; BDB, p. 1031.
261
H. H. Rowley, Darius the Mede and the Four World Empires in the Book of Daniel (Car-
diff, 1964), p. 125. Note as diferenças; happeša‛ šōmēm (8:13); šiqqûsîm mešōmēm (9:27);
haššiqqûs mešōmēm (11:31); šiqqûs šōmēm (12:11).
262
J. C. Fenton, The Gospel of St. Matthew (Baltimore, 1963), p. 387.
mento. Para uma abordagem detalhada deste termo, veja capítulo 8 de N. E. Andreasen
neste volume.
308
Hartman e Di Lella, p. 227.
309
Qal (22x), Hiphil (12x), Piel (5x), Hithpael (1x). Veja K. Koch, “sdq gemeinschaft-
streu heilvoll sein”, THAT, 2:507-530.
310
O substantivo masculino sedeq, “justiça, retidão, sucesso” (CHAL, p. 303) aparece
119 vezes; o substantivo feminino se deqāh, “justiça, retidão, livramento, irrepreensibilida-
de” (CHAL, p. 303) aparece 157 vezes.
311
O adjetivo saddîq, “justo, reto, inocente, inculpável” (CHAL, p. 303) aparece 206
vezes segundo Koch, THAT, 2:511.
312
Rahlfs, p. 918.
313
Lacocque, p. 159.
314
Ibid., Sobre todo o problema de traduções do livro de Daniel, veja K. Koch, T.
Niewisch e J. Tubach, Das Buch Daniel (Darmstadt, 1980), p. 18-23.
315
Também Hartman e Di Lella, p. 222: “Então o santuário será purificado.”
316
J. Justesen, “On the Meaning of sādaq”, AUSS 2 (1964):53-61.
317
CHAL, p. 88.
318
CHAL, p. 122; KBL, p. 347.
319
KBL, p. 146; W. Baumgartner, Hebräisches und aramäisches Lexicon zum Alten Testa-
ment (Leiden, 1974), vol. 2, p. 146, doravante citado como HAL; cf. CHAL, p. 47: “purity” 379
[pureza].
320
Hebraico: yizkēh//yisdaq.
321
Hebraico: yisdaq//yizkēh.
322
Hebraico versículo 6: tisdaq//tizkēh. Algumas traduções recentes traduzem a forma
de zākāh como “ser irrepreensível” (NASB, NAB, RSV, etc.).
323
Hebraico: yisdāq//yithar.
324
H. –J. Hermission, Sprache und Ritus im alttestamentlichen Kult (Gutersloh, 1965), p. 84-99.
325
F. Maass, “thr rein sein”, THAT, 1:646-52.
326
H. Ringgren, “tāhōr”, Theologisches Wörterbuch zum Alten Testament (Stuttgart, 1978),
3:309, 313; Justesen, p. 58-61.
327
V. Hamp, “bār’ar”, TDOT, 2:308-312, esp. 311.
328
CHAL, p. 303; KBL, p. 794; BDB, p. 842.
329
Veja J. L. McKenzie, Second Isaiah (Garden City, NY, 1958), p. 34-35; C. Wester-
mann, Das Buch Jesaja, Kap. 40-66 (Göttingen, 1966), p. 76.
330
Koch, THAT, 1:528.
331
2Sm 15:4; Jó 9:20; Is 5:23; 41:26; 45:25; 50:8.
332
Note que o consenso da tradução é universal com a exceção de apenas alguns exegetas.
333
A. Von Gall, Die Einheitlichkeit des Buches Daniel (Giessen, 1895), p. 53, sugere o
significado “altar” e aponta em apoio de sua alegação para Êxodo 29:37; 30:20, 29; 40:10.
Deve, portanto, ser observado com Hasslberger, p. 107, n. 53, que nestas passagens o altar
não é designado com o termo qōdeš, mas com o termo mizbēah (“altar”). No Antigo Testa-
mento, o termo qōdeš nunca transmite o significado de “altar”.
334
Também a Septuaginta e a versão de Teodócio (to hagion), bem como todas as anti-
gas traduções.
335
A ideia de que ele se refere ao santuário celestial não é completamente nova. Foi su-
gerido no décimo-sétimo século por John Everard (cerca de 1575 a cerca de 1650; também
chamado Ebrard) que “os conteúdos [do versículo 11] se referem aos eventos celestiais, a
tirar o sacrifício diante do trono de Deus e à destruição de um santuário celestial” (tam-
bém Keil, p. 297). Esta parece ser a primeira identificação do “santuário” no versículo 11
com o santuário celestial.
336
Note outra vez a ênfase de que a visão se estende ao “tempo do fim” (8:17), ou ao
“tempo determinado do fim” (8:19). Ênfase especial é dada ao aspecto da visão que fala
sobre “a tarde e a manhã” (8:26a) que “se refere a dias ainda mui distantes.” Cf. Montgo-
mery, p. 352; Delcor, p. 183.
337
As várias versões inglesas traduzem qōdeš ou como “lugar santo” (KJV, RSV, NASB),
“relicário” (NJV), “Lugar Santíssimo” (TEV, NIV), ou “santuário” (NAB, NEB, JB) em
Levítico 16:2-3, 16-17, 20, 23, 27.
338
A frase miqdāš haqqōdeš aparece uma vez em Levítico 16:33, e é traduzida por “santo
santuário” (KJV, NASB, NAB), “sagrado santuário” (NAB), “Relicário interno” (NJV),
380 “santuário” (RSV), ou “Lugar Santíssimo” (TEV, NIV).
339
J. Milgrom, “Atonement, Day of”, IDBS (1976), p. 82, chama o Dia da Expiação de
“o dia anual de purgação.”
340
Lv 16:16, 19, 30.
341
1Cr 23:28. Os levitas são encarregados da “purificação de tudo o que é santo (ou
de todo o santuário).”
342
Lv 16:16, 21; Dn 8:12-13; 9:24.
343
É de se notar que a Septuaginta empregue formas da palavra grega katharizō (purifi-
car), em Daniel 8:14 e Levítico 16. Uma forma da mesma palavra é usada em Hebreus 9:23
onde fala da purificação das “próprias coisas celestiais” (KJV).
344
A. Feuillet, “Le Fills de l’homme de Daniel et la tradition biblique”, RB 60 (1953):
197-98, escreve: “Os três oráculos de 7:13-14; 8:14; e 9:24 complementam-se entre si e con-
tribuem para explicar a mesma verdade? Todo o santuário espiritual que Deus unge (9:24)
é assegurado da presença divina, graças à vinda do Filho do homem nas nuvens (7:13-14),
e esta é a maneira em que Deus vinga (8:14) o Templo material profanado por Antíoco.”
Este autor sugere de forma correta a relação essencial destas partes em 7, 8 e 9, mas ele se
desvia em sua interpretação espiritualizante do santuário em 9:24, e sua interpretação de
8:14. O problema parece ser o modelo de interpretação de Antíoco ligado a uma exegese
espiritualizante do santuário (como povo) em 9:24.
345
Baldwin, p. 149: “o cenário de Daniel 7 é o juízo.”
381
manhã” se referia aos sacrifícios tāmîd fosse correta, seria incorreto partir pela
metade o número 2.300.
3. Deve-se observar que a sequência na expressão “tarde-manhã” não é a lin-
guagem do sistema religioso hebraico. A ordem para falar da unidade de holo-
caustos do tāmîd era “sacrifícios da manhã e da tarde”, com o termo para “manhã”
sempre precedendo o termo para “tarde”.
Na verdade, a expressão “tarde-manhã” é uma frase de tempo que tem suas
raízes em Gênesis 1, onde a unidade de tempo de um dia é expressa nos mesmos
termos e sequência que tarde e manhã (Gn 1:5, 8, 13, 17, 23, 31). Portanto, a fra-
seologia “2.300 tardes-manhãs” é mais naturalmente compreendida como 2.300
dias completos. Em profecia simbólica, este elemento de tempo deveria ser com-
preendido como 2.300 dias simbólicos.
4. A expressão “tarde-manhã” está escrita no singular. Esse fato favorece a opinião
de que a expressão representa uma unidade de tempo, a saber, um dia completo.
5. A Septuaginta Grega (tanto a versão mais antiga quanto a versão de Teo-
dócio do livro de Daniel) compreendia que a expressão denotava “dias”. Ambas
inserem a palavra “dias” na passagem e dizem literalmente: “Até tarde e manhã
dias dois mil e trezentos...”
A expressão ‛ereb bōqer de Daniel 8:14 é interpretada na literatura atual como
384 uma referência aos sacrifícios da manhã e da tarde oferecidos diariamente no
Templo. A omissão de 2.300 de tais sacrifícios corresponderia aos 1.150 dias, o in-
tervalo de tempo durante o qual os rituais do Templo foram suspensos em seguida
à profanação do templo e do altar por Antíoco Epifânio. Esta interpretação tem
se tornado praticamente padrão, de forma que os eruditos modernos raramente
tomam tempo para examiná-la de forma crítica.
Assim, por exemplo, declara A. Bentzen: “2.300 ‘tardes-manhãs’, a saber, 1.150
dias. Essa maneira peculiar de indicar o tempo é explicada pelo fato de que é dado
o número total dos sacrifícios-tamid omitidos, uma vez que a cada manhã e tarde
de cada dia um tamid era oferecido; a omissão de 2.300 de tais sacrifícios significa
1.150 dias.”1 Bentzen acrescenta a interessante observação de que essa interpreta-
ção remonta a Efraim Sírio. A mesma explicação é repetida inquestionavelmente
pela maioria dos mais recentes comentaristas.2
Duas observações devem aqui ser feitas. Primeira, nenhum desses modernos
comentaristas questiona a correção da afirmação de que tāmîd significa cada um
dos sacrifícios diários, o da manhã e o da tarde. Segunda, a razão proposta por
alguns comentaristas para o estranho fato de que “tarde” precede “manhã” em
Daniel 8:14 não é sustentável à luz da aplicação bíblica.
Em um exame da primeira suposição, a saber, que tāmîd pode se referir a cada
um dos sacrifícios diários considerados separadamente, é importante observar que
É provavelmente por causa da incompletude do plano que vinho e gado não são
mencionados. Esta também deve ser a razão por que nenhuma oferta diária é men-
cionada além daquela do príncipe: um cordeiro para um holocausto cada manhã com
uma oferta de produção agrícola e azeite... . Possuímos bastantes evidências de que o
sacrifício diário da tarde foi, realmente, preservado nos tempos pós-exílicos.5
Que as prescrições rituais de Ezequiel não são mais do que um esboço é tam-
bém evidente da referência à celebração da páscoa em 45:21. Esta declaração não
pode ser tomada como nada além da mais limitada referência a um bem-conheci-
do ritual de longa data. É dito que Josias celebrou a páscoa com toda solenidade
no décimo-oitavo ano do seu reinado (2Rs 23:21-23).7 Deve-se ter em mente que
em muitos casos Ezequiel não estava inovando, mas padronizando antigas práticas
segundo um plano ideal.
Além disso, deve-se observar que o texto de 2 Reis 16:15 não exclui a possibili-
dade de que um holocausto da tarde fosse também oferecido. O texto faz referên-
cia ao “holocausto do rei, e a sua oferta de manjares”, bem como ao “holocausto
de todo o povo da terra, e a sua oferta de manjares, e as suas libações.” Disto é
evidente que havia mais do serviço diário mesmo nos dias de Acaz do que “o ho-
locausto da manhã, e a oferta de manjares da tarde”. Os comentários do profeta
Isaías, contemporâneo de Acaz, sobre o cerimonialismo do dia deixa a distinta 387
impressão de que o número de sacrifícios oferecidos no templo em seu tempo
era enorme (Is 11:11-13).8 Não havia nenhuma falta de zelo cerimonial, mas uma
notória ausência de moralidade e racionalidade na religião então praticada.
Nenhuma opinião final pode ser expressa sobre a validade do argumento base-
ado em 2 Reis 16:15 antes do termo minhāh ser claramente definido.
N. H. Snaith expressou a opinião de que no decorrer do tempo minhāh ad-
quiriu o estrito sentido de “oferta de grão (cereal)”, mas que também poderia ter
retido o significado original de “tributo, dádiva”. Ele argumenta que “por causa
disso, ele poderia ser usado em um sentido mais amplo, a saber, aquele de toda
a cerimônia”.9 Como um exemplo desse sentido mais amplo, Snaith se refere ao
‛ōlat hamminhāh de 1 Reis 18:29, 36, evidentemente oferecido à tarde, e ao ‛ōlat
hamminhāh de 2 Reis 3:20, obviamente oferecido de manhã. Ele prossegue dizendo
que “as duas cerimônias mencionadas são o tāmîd, Êx 29:38ss., Nm 28:3ss”.
Parece razoável supor que o minhāh de 2 Reis 3:20, oferecido de manhã, in-
cluía o holocausto padrão. Por outro lado, o minhāh mencionado em 1 Reis 18:29,
36 certamente incluía, entre outras coisas, o holocausto feito naquela tarde pelo
próprio Elias no cume do monte Carmelo. Se esse sentido mais amplo de minhāh
é permitido em 2 Reis 16:15, então não há motivo para excluir a possibilidade
de que um holocausto da tarde poderia ter sido incluído na cerimônia completa
conhecida como o minhāh.
Notas
1
A. Bentzen, Daniel (Tubingen, 1972), p. 71.
2
J. Montgomery, The Book of Daniel (Edimburgo, 1927), p. 343; Jean Steinmann, Dan-
iel (Paris, 1950), p. 124; N. W. Porteous, Das Danielbuch (Göttingen, 1962), p. 104; O.
Plöger, Das Buch Daniel (Gutersloh, 1965), p. 127; M. Delcor, Le livre de Daniel (Paris,
1971), p. 177; André Lacocque, Le livre de Daniel (Paris, 1976), p. 49.
3
Cf. R. Kittel, Biblia hebraica, 3a ed.
4
John Skinner, The Book of Ezekiel (New York, 1905), p. 472-473; G.A. Cooke, The Book
of Ezekiel (Edimburgo, 1936), p. 511; Georg Fohrer, Ezechiel (Tubingen, 1955), p. 256.
5
J. Pedersen, Israel: Its Life and Culture, 3/4 (Londres, 1940): 352.
6
W. Zimmerli, Ezechiel (Neukirchen, 1969), p. 1175.
7
Para a antiga origem da páscoa, veja R. de Vaux, Les sacrifices de l’Ancien Testament
(Paris, 1964), p. 22.
8
Cf. as observações de Miquéias, contemporâneo de Isaías, em Miquéias 6:6-8.
9
N. H. Snaith, “Sacrifices in the Old Testament,” VT 7 (1957): 315.
391
10
Quanto à menção de tāmîd em Ezequiel 46:14, Zimmerli, p. 1168, explica-a como um
acréscimo impróprio do versículo 15.
11
Plöger, p. 127. Todavia, Porteous, p. 104, é cuidadoso em observar a ordem manhã-
tarde: “während dieses Zeitabschnittes wäre das tāmîd-Opfer 2300mal am Morgen oder
Abend dargebracht worden.”
12
APOT, 1:39. Segundo R. H. Charles, a data de Esdras seria “a última era grega.” A
expressão holokautōmata tō kuriō to prōinon kai to deilinon de 1 Esdras 5:49 na LXX não con-
tém nenhum termo técnico, como sugere Montgomery, p. 343, mas simplesmente repete
os termos já empregados em Êxodo 29:30 LXX.
13
J. B. Segal, “Intercalation and the Hebrew Calendar,” VT 7 (1957): p. 254.
14
R. de Vaux, Ancient Israel: Its Life and Institutions (New York, 1961), p. 181.
15
S. J. Schwantes, “Did the Israelites Ever Reckon the Day from Morning to Morn-
ing?” The Ministry, julho de 1977, p. 36-39.
16
Veja O. Neugebauer, The Exact Sciences in Antiquity (Harper Torchbook ed., New
York, 1962), p. 106; A. Parker e W. H. Dubberstein, Babylonian Chronology, 626 B.C.-d.C.
45 (Providence, 1956), p. 26; Jack Finegan, Handbook of the Bible Chronology (Princeton, NJ,
1964), p. 8; E. J. Bickermann, Chronology of the Ancient World (Londres, 1968), p. 13-14.
17
Para a fórmula “dia e noite”, veja Epic of Gilgamesh, Tablet I, 2.24, 4.21, 5.19
(ANET, p. 74-75); The Old Babylonian Version of Tablets II, 2.6 (ANET, p. 77) e X, 2.5,
8 (ANET, p. 89-90); the Assyrian Version of Tablet XI, linhas 126 e 199 (ANET, p. 94-95);
the Sumerian prototype of the Deluge, linha 203 (ANET, p. 44); the Sumerian myth of
Inana’s descent to the Nether World, linha 169 (ANET, p. 55); the Creation Epic, Table
1, linha 50 (ANET, p. 61). Para a fórmula “noite e dia”, veja the Creation Epic, Tablet I,
linha 129, e Tablet III, linhas 19 e 78 (ANET, p. 62, 64-65).
18
Segal, p. 254.
19
IQM 14:13; veja J. van der Ploeg, “La règle de la guerre: Traduction et notes”, VT 5
(1955): 389, 415.
20
Citado por S. Zeitlin, “The Beginning of the Jewish Day,” JQR 36 (1945-46): p. 410.
Deve-se notar que Zeitlin favorece a hipótese de que os israelitas contavam o dia de manhã
a manhã nos tempos pré-exílicos.
21
De Vaux, Ancient Israel, p. 181. De Vaux usa a ordem ‘ereb . . . bōqer como um argu-
mento em favor da hipótese de que nos tempos pré-exílicos o dia era contado de manhã a
manhã. G. von Rad, Genesis (Filadélfia, 1961), p. 51, tira a mesma conclusão: “O dia aqui
parece ser contado de manhã a manhã, em estranho contraste com sua contagem na lei do
ritual.” Deve-se dizer, porém, que Gênesis 1 não foi escrito com o propósito de reconhecer
ou estabelecer algum calendário específico ou método de contar o dia. Para uma opinião
diferente, veja E. A. Speiser, Genesis (Garden City, NY, 1964), p. 5.
22
K. Marti, Das Buch Daniel (Tubingen, 1901), p. 60.
392
S inopse editorial. “E ele me disse: Até dois mil e trezentos dias; então o
santuário será purificado” (KJV). “Será purificado [shal be cleansed]” é uma
frase verbal importante para a interpretação dessa declaração. É uma tradução
inglesa de nisdaq, forma passiva do verbo hebraico sādaq (“ser justo, correto”). A
tradução inglesa foi provavelmente influenciada pela tradução da Septuaginta
Grega (LXX) da mesma palavra hebraica, katharisthēsetai (“será purificado”). Sen-
do que a palavra hebraica aparece somente uma vez na forma passiva (Niphal) no
Antigo Testamento, seu significado neste contexto específico (Dn 8:14) foi muito
estudado. Isso resultou em uma variedade de traduções deste termo em nossas
Bíblias modernas.
Em uma tentativa para verificar seu significado básico, o autor observa que
nisdaq deriva da raiz semítica triliteral ocidental: Sdq. O emprego amplo desta
raiz nas conhecidas línguas semíticas ocidentais e na Bíblia Hebraica indica que
os significados básicos envolvem termos tais como “correto”, “justo”, “verídico”,
e conceitos similares. Todavia, seu uso nas linhas paralelas da poesia hebraica
demonstra que a raiz desenvolveu significados ampliados. Dentre as várias raízes
que ela sobrepôs em significado estão thr/ zkh (puro, limpo). Outra importante
extensão ou sobreposição liga Sdq com a raiz špt, que carrega as nuanças legais da
sala do tribunal: “julgar” e “vindicar”.
Muitos intérpretes crêem que os tradutores da LXX atribuíram o significado
ampliado “será purificado” (katharisthēsetai) a nisdaq em uma tentativa de har-
monizar a passagem de Daniel 8:14 com o evento histórico da rededicação do
templo pelos macabeus, após a profanação por Antíoco IV. Contudo, os mesmos
tradutores também traduziram a raiz sdq em Jó 4:17 por katharos, uma forma
adjetiva da mesma palavra que eles usaram para indicar purificação em Daniel
8:14. O emprego tardio da raiz sdq nos targuns aramaicos indica que o termo
realmente se ampliou para significar tais coisas como “limpo” e “puro”. Nos
Esboço do capítulo
1. O problema
2. A raiz: sdq
3. Significados ampliados de sdq
394
4. Tradução da LXX de Daniel 8:14
5. Sdq no hebraico e aramaico tardio
6. Sdq na literatura apocalíptica
7. Contexto de Daniel 8:14
8. Conclusão
O problema
Um dos problemas de Daniel 8:14 está associado com a palavra hebraica nisdaq.
Este termo é traduzido por “será purificado” na KJV e muitas outras versões que
evidentemente dependem da Septuaginta (tradução das Escrituras hebraicas para
o grego, produzida em algum tempo no terceiro/segundo séculos a.C.; geralmente
designada como LXX). Todavia, é traduzido por “será justificado”, “será restaura-
do”, ou algo semelhante em muitas traduções recentes da Bíblia. Qual tradução
está correta?1
Esse problema é composto pelo fato de que as traduções naturais de nisdaq
seriam “feito justo” ou “justificado”, embora nenhuma dessas pareça muito apro-
priada para o contexto. Assim, os tradutores da Bíblia propuseram um grande nú-
mero de variações, tais como “será restaurado” (TEV), “será devidamente restau-
rado” (NASB), “terá seus direitos restaurados” (BJ), “emergirá vitorioso” (NEB),
“será reconsagrado” (NIV), “será restaurado ao seu legítimo estado” (RSV).
O problema é particularmente acentuado para os adventistas do sétimo dia,
cujas primeiras formulações teológicas eram baseadas na KJV (uma vez que eles
eram geralmente de fala inglesa), e, portanto, acostumados com a tradução “será
purificado”.2 Além disso, essa tradução de nisdaq contribui para uma associação
de Daniel 8:14 e Levítico 16 (a purificação do santuário terrestre no Dia da Ex-
piação), uma associação decisiva para todo o pensamento adventista do sétimo
dia sobre o assunto. De fato, essa associação foi suscitada em nossa discussão da
tradução de nisdaq em Daniel 8:14.3
Consequentemente, o crescente número de traduções da Bíblia (e seu difundi-
do uso na igreja) que abandonam a versão tradicional “será purificado” em favor
de “será justificado” ou coisa semelhante, apresentam um desafio para o pensa-
mento teológico adventista do sétimo dia. Como responderemos a esse desafio?
Qual é a evidência por trás das várias traduções de nossa palavra? E quais soluções
podemos encontrar para o problema?
Ao abordarmos uma solução nos limitaremos neste estudo, até onde for pos-
sível, ao assunto da tradução. Deixamos de lado, por enquanto, as questões inter-
pretativas mais amplas de Daniel 8. Mesmo assim, examinaremos seis problemas
relativos à tradução desse versículo antes de tentarmos tirar uma conclusão. 395
A raiz: Sdq
Sdq (o termo ou raiz da qual a palavra nisdaq é formada) é uma raiz semítica
ocidental. Isto significa (para fins de comparação) que não podemos obter nenhu-
ma ajuda dos extensos textos acádios e babilônios. Entretanto, a raiz ocorre em
várias línguas semíticas ocidentais.4
Por exemplo, aparece no arábico com o significado de “verdade” ou “veraci-
dade”, conforme aplicado às declarações. Em ugarítico ocorre com o significado
de “direito” ou “lícito”. As inscrições fenícias empregam a raiz no sentido de “ser
justo” ou “legítimo” (acerca de um herdeiro). No aramaico antigo significa “leal”
e é usado com referência a rei e sacerdote. Inscrições púnicas sugerem o significa-
do de “piedoso” e siríacas e etiópicas a usam no sentido de “ser justo”, “declarar
justo”, e “falar a verdade”.
O resultado dessa pesquisa nos leva ao significado geral para a raiz nos textos
extrabíblicos de “justo”, “direito”, “verídico”, “lícito”. Isto corresponde bem aos
significados básicos dados à palavra nos dicionários hebraicos e aramaicos do
Antigo Testamento, a saber, “veraz”, “justo”, “direito”.5 Portanto, existe quase
um consenso sobre os significados básicos dessa raiz, um fato que não deve fugir
da nossa atenção.
No Antigo Testamento, a raiz toma várias formas: dois substantivos, sedeq
(masculino) e sedāqāh (feminino); um adjetivo, saddîq; um verbo, sādaq; e um
substantivo aramaico, sidqāh (feminino). Segundo uma contagem,6 a raiz ocorre
523 vezes no Antigo Testamento, dividindo-se entre as várias formas como segue:
sedeq (119), sedāqāh (157); saddîq (206), sādaq (41). Ocorre principalmente em
Salmos (139), Provérbios (94), Isaías (81), Ezequiel (43) e Jó (35).
De máximo interesse para nossa investigação é o verbo sādaq. Ele ocorre 22 ve-
zes na forma ativa do verbo (Qal), 5 vezes na forma intensiva (Piel), 12 vezes na causa-
tiva (Hiphil), uma vez na reflexiva (Hithpael), e uma vez na passiva (Niphal). A última
ocorrência é encontrada em Daniel 8:14; portanto, a forma nisdaq. Esta forma passi-
va da raiz verbal sdq infelizmente é um hapax legomenon (palavra que ocorre apenas
uma vez na Bíblia), o que suscita a interrogação: como ela deve ser traduzida?
Segundo os dicionários, nisdaq é simplesmente o passivo de sdq, e tem o sig-
nificado de “endireitar” “tornar justo” ou coisa semelhante.7 Do mesmo modo, a
forma causativa (Hiphil) significará “causar ser direito” “causar ser justo”.8 A forma
reflexiva (Hithpael) significará “fazer-se direito” ou “justificar-se”.9 Esta seria a tra-
dução mais simples e mais direta, e é a seguida pelos mais recentes tradutores da
396 Bíblia. Eles simplesmente seguiram o significado imediato, comum da palavra.
Todavia, se seguíssemos esse procedimento, nem todas as perguntas seriam res-
pondidas. Teríamos de inquirir mais para determinar o que estava na mente do es-
critor do Antigo Testamento que usou a palavra nesse contexto específico. O que ele
compreendia por “direito”, “justo”, “verdadeiro” quando estava falando acerca do
santuário? Ou, melhor, o termo fazia referência a que em sua maneira de pensar?
Perguntas como essas nos levam ao assunto da interpretação. Elas são geralmen-
te respondidas quando o intérprete examina as ocorrências da palavra no con-
texto para verificar sobre o que está sendo falado quando o termo é usado. Mas,
neste caso, temos apenas uma simples ocorrência da palavra. Consequentemente,
quando nos mudamos dos dicionários para estudos interpretativos, encontramos
muito menos consenso. Sendo que os limites desta seção não permitem uma in-
terpretação completa da palavra, destacamos algumas conclusões bem conhecidas
que foram alcançadas em estudos anteriores.
De início, pode-se dizer que ficou evidente a partir de estudos eruditos que a pala-
vra trata de relacionamentos. Por exemplo, relações entre rei e súdito (1Sm 24:17-18;
2Sm 8:15) ou entre senhor e servo (Gn 30:33). Tais relações são legítimas (sdq) quan-
do existe paz e harmonia. Elas se rompem em ocasiões de interesses conflitantes.
Mas, especificamente, o que determina uma relação correta? Qual é a sua nor-
ma? Aqui, alguns intérpretes pensaram numa norma como o árbitro final (por
Palavras antigas, como suas equivalentes modernas, podem ter seus significa-
dos básicos ampliados. Um olhar de relance para a palavra “direito” no dicionário
confirmará isso. Sendo que a LXX (seguida por várias outras traduções da Bíblia)
tem traduzido sdq por “purificado” em 8:14, é natural perguntar se essa tradução
realmente pertence aos significados ampliados de nossa palavra.14
Um método para encontrar o escopo desse âmbito de significados ampliados é
examinar quaisquer traduções incomuns da palavra que são baseadas no contexto,
e juntar as palavras com que ela faz companhia por meio de contrastes e paralelos.
É isso o que faremos a seguir.
Em várias passagens onde sdq é traduzida de forma inesperada como “inocen-
te” ou “inculpável” têm-se um bom resultado (Gn 20:4; 2Rs 10:9; Jó 9:15). Em
outro lugar, “justo” e “acurado” parecem ser as melhores versões (Lv 19:36; 2Sm
8:15; Ez 45:10). Mesmo “direito”, no sentido de “boa razão”, parece apropriado
em 2 Samuel 19:28. Finalmente, a raiz move-se em direção do significado de “sal-
vação” e “livramento” (Is 51:5; 32:17; 46:13).
Claramente, essas duas linhas estão relacionadas na medida em que ambas fa-
lam da fraqueza e fragilidade do homem. Mas são elas idênticas em significado?16
A passagem vem de um discurso de Bildade, o suíta, que argumenta a favor
da superioridade de Deus, seu domínio, seu poder e sua bondade (Jó 25:1-3). A
essa altura ele pergunta: “Como, pois, seria justo o homem perante Deus (linha
A). Não é dada uma resposta explícita a essa pergunta, mas ela é subentendida na
conhecida distinção entre Deus e o homem. Essa resposta subentendida é então
enfatizada e explicitada no que segue (linha B): Sendo nascido de mulher, o ho-
mem é designado entre os mortais, os impuros, os transitórios que têm início e
fim, e que são, portanto, claramente inferiores a Deus.
Resumindo, as duas linhas A e B não dizem exatamente a mesma coisa. Antes,
elas seguem o modelo: “A, e o que é mais, B”.17 Consequentemente, os termos
únicos sdq e zkh não podem ser considerados idênticos em significado devido ao
fato de que ocorrem em linhas paralelas exatas. Contudo, as duas palavras estão
obviamente relacionadas, da mesma forma que as duas linhas em que ocorrem
estão intimamente relacionadas, de forma que se pode dizer que elas se abraçam
mutuamente em significado.18
Um segundo texto importante para nosso problema é Jó 4:17:
Mais uma vez ambas as linhas estão relacionadas porque elas falam da fraqueza
e fragilidade do homem diante de Deus. Mas são elas idênticas em significado? 399
Nessa passagem Elifaz se refere a uma visão noturna para aconselhar a Jó, que
tem posto a culpa de suas angústias em Deus (Jó 3). Assim, o seu propósito é colo-
car Jó em seu lugar. O “homem” do qual se fala aqui é o próprio Jó (cf. Jó 38:3).
A primeira linha pergunta se o homem (’enoš) pode ser justo à vista de Deus
(’elôah). Aqui são usados dois termos contrastantes. ’Enoš é um dos três termos
usados acerca do homem, e geralmente o caracteriza como fraco (Sl 8:5; 103:15).19
’Elôah é uma palavra para Deus favorita de Jó, e geralmente caracteriza Deus como
forte.20 Portanto, a pergunta é: como pode o homem, que é tão fraco, ser justo à
vista de Deus, que é tão forte?
A segunda linha continua o mesmo argumento, mas usa um raciocínio alter-
nativo.21 Agora, a pergunta é: como pode o homem (geber) ser puro diante do seu
Criador? O termo geber geralmente se refere ao homem como poderoso ou forte.22
Todavia, mesmo esse homem poderoso não pode estar à altura daquele que o fez
(Deus). Em outras palavras, mesmo se descrevermos o homem da melhor forma
possível, ele ainda não chega nem próximo a Deus.
Assim descobrimos mais uma vez (como em Jó 25:4) que as duas linhas não
dizem exatamente a mesma coisa, mas seguem o modelo familiar: “A, e o que é
mais, B”. Consequentemente, os simples termos sdq e thr não podem ser consi-
derados idênticos em significado pela razão de aparecerem em linhas paralelas
exatas. Todavia, como declarado antes, eles estão obviamente relacionados e seus
significados se abraçam mutuamente.23
Portanto, de um ponto de vista metodológico, embora possa existir algum
paralelismo sinonímico exato (cf. Sl 135:13), devemos reconhecer que muitas li-
nhas paralelas estão em uma relação dinâmica uma com a outra, e não podemos
afirmar que há uma relação pessoal em significado entre palavras individuais nas
duas linhas respectivamente. Em nossas duas séries de linhas paralelas, dificil-
mente duas palavras parecem ser inteiramente da mesma forma, mas cada palavra
expressa uma ênfase diferente.
Contudo, este reconhecimento não deve obscurecer o fato de que sdq está em
uma relação paralela a zkh e thr, ambas significando “puro”, “limpo”. O que é expres-
so nas linhas A é semelhante ao que é expresso nas linhas B. Consequentemente, as
ideias-chave dessas séries de linhas trazem uma relação mútua, e os significados de
sdq e zkh/thr devem estar relacionados, ou todo o argumento viria abaixo.
O que temos na terminologia thr/zkh são claramente significados ampliados
de sdq, embora não significados idênticos àquele de sdq. Essa é uma importante
distinção O significado de sdq é aquela palavra ou palavras que melhor expressam
seu intento total. Significados ampliados de sdq são aquelas palavras com cujos
conceitos sdq tem algo em comum, talvez ilustrada por círculos sobrepostos.
400 Uma pesquisa das ocorrências de sdq no Antigo Testamento aponta para mui-
to mais palavras além de zkh/thr em cujos significados sdq amplia o seu próprio.
Entre os mais comuns estão “perfeito”, “irrepreensível” (tām), “verdade” (’emet),
“justo”, “vindicar” (špt), “responsável” (dbr, ‘ah), “fiel” (’emûnāh), “salvação” (yš‘),
“direito” (yšr), “santo” (qdš), “equidade” (mîšôr), “juízo (dîn), “paz” (šalôm), “gló-
ria” (kābôd), “inocência” (nqh), “sabedoria” (hokmāh).
Uma destas parece formar uma relação especial com sdq, a saber, o verbo “jul-
gar” (špt) e o substantivo “juízo” (mišpāt). Não apenas encontramos špt e sdq em
frequentes relações paralelas do tipo discutido acima (Sl 82:3; Is 32:1; Jr 22:13)
indicando que sdq estende seu significado na direção de špt, como faz na direção
de thr/zkh (puro), mas sdq e špt estão também relacionados em outros sentidos.
Por exemplo, várias referências falam de “justiça” e “retidão” simultaneamen-
te, por assim dizer (cf. Sl 97:2; 106:3; Is 59:14; Amós 6:12). Isto sugere que mesmo
quando não existe nenhuma construção paralela, frequentemente se pensa nesses
dois termos em conjunto.
A isso pode ser acrescentado que justiça (Sdq) ocorre em muitas passagens que
têm conotações legais (tais como, Sl 82:3; Is 43:9; 45:24; 50:8; 59:14; 63:1). Isto
é de algum interesse para nossa investigação sendo que o livro de Daniel contém
vários contextos e expressões legais, especialmente 7:10, 22, 26, com referência ao
chifre pequeno. Estes contextos legais de sdq fornecem alguma indicação da relação
entre sdq e špt (um reconhecido termo legal), e que nos leva ao cerne da questão.
Parece que essas palavras estão relacionadas não meramente pelos significados
sobrepostos como nos paralelismos, mas também num sentido causal. Isto é, re-
tidão (sdq) é a consequência de justiça (špt). Ou, afirmando de outra forma, atos
individuais de justiça (špt) levam a uma condição geral de retidão (sdq). Assim, Isa-
ías 43:9 tem um contexto legal em que testemunhas são chamadas para “justificá-
los”, significando que o processo legal de testemunhas leva à justificação (sdq). Em
Isaías 50:8, o acusado está confiante em seu julgamento porque Deus o vindicará
(sdq). Isaías 63:1 anuncia vindicação em seguida ao julgamento. Salmo 82:3 pode
ser um paralelismo dinâmico que tem a mesma finalidade.
À luz disso, o que podemos dizer acerca da tradução de sdq em Daniel 8:14? Pri-
meiro, o significado básico de sdq (direito, justo) não é idealmente apropriado para o
contexto de 8:14, como está indicado pela variedade de traduções em várias recentes
traduções da Bíblia. Segundo, sdq é uma palavra de significados amplos que se esten-
dem em várias áreas, algumas das quais já observamos. Terceiro, ao determinar os es-
pecíficos significados ampliados próprios para a compreensão de sdq nesse exemplo,
devemos considerar o assunto do santuário e o contexto imediato do versículo.
Claramente, thr/zkh (puro, limpo) vem à mente como prováveis significados
ampliados para sdq à luz do contexto imediato, mas outros também podem se
qualificar. Entre eles, špt (julgar, vindicar) salienta-se como uma palavra cujo signi-
ficado precede o significado de sdq neste sentido: nisdaq (endireitar) é uma conse- 401
quência de nišpat (ser julgado), levando à vindicação. Voltaremos a isso, mas pri-
meiro consideraremos outros assuntos que tratam da tradução de sdq em 8:14.
A LXX, antiga tradução grega das Escrituras Hebraicas, foi preservada com duas
diferentes versões do livro de Daniel. Existe a tradução grega mais antiga, seguida
por uma tradução posterior conhecida como a versão de Teodócio. Ambas as ver-
sões usam o verbo katharizō (“tornar puro, limpar, purificar”) em sua terceira pessoa,
na forma do futuro passivo (katharisthēsetai) para traduzir nisdaq em 8:14.24
Katharizō é usado na LXX com referência à purificação física (2Rs 5:10), purifi-
cação cerimonial (Lv 16:30), e também purificação moral (Sl 51:2). Que explicação
podemos dar para o uso desse termo pelos tradutores em 8:14? Aqui estão algu-
mas respostas que têm sido propostas pelos intérpretes bíblicos:
1. A LXX traduziu corretamente do aramaico (original) yidke (“limpou, puri-
ficou”) que um tradutor hebreu confundiu com yizke (“inocente, digno, justifica-
do”) e escreveu nisdaq, como o temos agora.25 Contudo, é impossível no presente
demonstrar esse suposto mal-entendido por parte do texto hebraico. Portanto,
essa proposição deve permanecer hipotética.
2. Muitos intérpretes (quer eles considerem katharizō como sendo uma tradu-
ção exata de uma palavra original aramaica “purificar” ou uma interpretação do
sdq hebraico) associam a explícita referência da LXX à purificação do santuário
em 8:14 com as atividades de Judas Macabeu, quando ele rededicou o templo no
ano 164 a.C.
Além de quaisquer problemas históricos e cronológicos associados a essa inter-
pretação do versículo, há alguma evidência linguística para associarmos a tradução
dos LXX a esta altura com as atividades de Judas Macabeu conforme descritas em
1 Macabeus? O que está aqui em debate não é o significado de 8:14, mas a possível
compreensão da passagem pelos tradutores gregos.
Sem fazer uma pesquisa exaustiva, notamos certos paralelos que aparecem no
texto grego de Daniel e de 1 Macabeus. Por exemplo, a sorte do santuário é descri-
ta em Daniel e em 1 Macabeus como segue:
1 Macabeus 4:41 “até que ele tivesse purificado o santuário” (heōs katharisēi
ta hagia)
Talvez o melhor a ser dito é que embora não possamos excluir a orientação
macabeana da tradução dos LXX de 8:14, esta versão confirma o significado am-
pliado de katharizō para sdq em Jó 4:17 e em Daniel 8:14.
Descobrimos que Sdq (como muitas outras palavras hebraicas) possui uma
ampla extensão de significados. Como a maioria de tais palavras, esses significados
centralizam-se em torno ou se estendem a partir de alguns conceitos básicos. Os
significados básicos para sdq são “direito”, “justo”, ou semelhante. Podemos falar
destes como os significados limitados da palavra no dicionário.
Circundando esses significados básicos estão os significados ampliados, con-
ceitos com que a palavra está claramente associada em significado, um fenômeno
que podemos ilustrar com um diagrama de círculos sobrepostos. No decorrer da
história, a própria raiz recebeu um significado ampliado, conforme ilustrado nas
traduções do hebraico e aramaico tardio (targuns) da Bíblia. Os tradutores da LXX
também parecem estar familiarizados com significados ampliados e extensos.
Essas observações nos oferecem muitas possibilidades quando chegamos à tra-
dução e interpretação de nisdaq em 8:14. Entre os muitos significados extensos e
ampliados, em que direção se move aqui a palavra sdq? Somente o contexto ime-
diato pode nos ajudar a responder à pergunta. O contexto imediato de 8:14 é o
versículo 13, em que a pergunta respondida no versículo 14 é apresentada.
A natureza e extensão dessa pergunta são importantes, porque nos dará uma in-
dicação da abrangência da resposta a ela. Por exemplo, poderíamos indagar quanto
está incluído na visão (versículo 13)? São somente os versículos 9-12 que contêm a
descrição do chifre pequeno, ou é todo o capítulo 8 (8:1 também fala de uma visão,
hāzôn)?35 No entanto, para a finalidade específica deste capítulo, nossa preocupação
não é com a abrangência da pergunta (Quando começou a visão?), mas com a par-
406 ticularidade dela (O que está em jogo?). Especificamente, ela fala de:
Conclusão
Que tradução de nisdaq seguiremos em Daniel 8:14 – aquela das antigas ver-
sões e de algumas traduções ainda mais antigas em inglês, ou aquela da maioria
das recentes traduções inglesas (e não-inglesas)? Com base nessa visão geral do
assunto, recomendam-se as seguintes conclusões:
1. A versão hebraica (sdq) em vez da tradução de uma versão e tradução poste-
rior deve ser o ponto de partida de qualquer exame desse assunto.
2. O significado básico de sdq é “justo”, “direito”, ou algum termo semelhan-
te. A ideia geral desta tradução mostra nisdaq como uma resposta adequada em
Daniel 8:14 para a pergunta apresentada no versículo 13.
3. Sdq não está restrito a um significado limitado. É um termo dinâmico que
funciona em várias áreas da vida e fé bíblicas. Sua perspectiva, portanto, é sempre
ampla e inclui uma variedade de significados. Além disso, sua função passou por
um desenvolvimento, de sorte que em escritos apocalípticos tais como Daniel ela
veio a se referir especificamente à restauração de todas as coisas no final.
4. Partindo dos significados da raiz, os significados extensos e ampliados, e o
contexto imediato à promessa feita em 8:14 concernente ao santuário por meio
da palavra sdq parece incluir ações tais como: a “restauração” do ministério do
santuário, sua “purificação” de horrível pecado, e a “elevação” ou “vindicação”
dos santos e do santuário que têm sido espezinhados. Idealmente, nenhum desses
conceitos mais limitados deveria servir como a tradução de nisdaq, mas eles bem
se ajustam à gama interpretativa de significados para a palavra nesse versículo.
Assim, devemos distinguir entre a tradução limitada de nisdaq por um lado e a
interpretação do seu pleno significado (dentro do contexto de Daniel 8) por outro.
“Restaurado”, “restaurado à sua condição legítima”, “ter seus direitos restaurados”
pode ser a melhor tradução que podemos encontrar. Contudo, à luz do amplo
escopo de significados do termo e do contexto imediato, sua interpretação deve
incluir conceitos adicionais, tais como purificação/limpeza e vindicação/elevação.
Tal distinção entre a tradução limitada e a interpretação mais ampla dessa palavra
pode servir para elucidar a mensagem de Daniel 8:14 em seu pleno escopo.
408 Notas
1
O problema foi revisto de forma sucinta pela publicação da Associação Geral, Proble-
ms in Bible Translations (Washington, DC, 1954), p. 174-77.
2
Veja R. W. Olson, ed., “A Historical Survey of the Heavenly Sanctuary”, E. G. White
Estate, 1980.
3
Veja Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington, DC, 1955), 4:844-45.
4
Várias pesquisas úteis da função de sdq na literatura extrabíblica estão disponíveis: J.
P. Justesen, “On the Meaning of SADAQ” AUSS 2 (1964): 53-55; H. H. Schmid, Gerechtig-
keit als Weltordnung (Tubingen, 1968), p. 69-75; J. F. Jean e J. Hoftijzer, Dictionnaire des
inscriptions sèmitiques de L’ouest (Leiden, 1965), p. 242; THAT, 2:507-510.
5
Koeler-Baumgartner, Lexicon, p. 794-1115, doravante citado como K-B.
6
THAT, 2:511.
7
K-B 794; BDB, p. 842-43.
8
K-B 794; BDB, p. 842-43; 2 Sm 15:4; Dt 25:1; Is 53:11.
9
K-B, p. 294; Gn 44:16.
10
Por exemplo, E. Jacob, Theology of the Old Testament (New York, 1958), p. 94.
11
Exceto para Deuteronômio 4:8; Salmos 19:9; a justiça não está frequente e explicita-
mente associada com a lei (torah); veja THAT, 2:515.
12
Por exemplo, W. Eichrodt, Theology of the Old Testament (Filadélfia, 1961), 1:241-41.
13
Schmid.
A Homem Mortal
B Deus
B’ Seu Criador 409
A’ Homem
TDOT, 2: 377-78
22
24
Também seguido pela Vulgata, mundabitur sanctuarium.
25
Assim L. F. Hartman e A. A. DiLella, The Book of Daniel (New York, 1978), p. 227;
A. Lacocque, The Book of Daniel (Atlanta, 1979), p. 159; cf. F. Zimmermann, “The Aramaic
Origin of Daniel 8:12”, JBL 57 (1938): 258-72; H. L. Ginzberg, Studies in Daniel (New York,
1948), p. 42.
26
Hartmann e Di Lella, p. 222, 227.
27
Por este meio, U. Smith defendeu a tradução da LXX do verbo nisdaq e argumentou
que a purificação não é inapropriada para um santuário celestial. The Prophecies of Daniel
and the Revelation (Mountain View, CA, 1944), p. 179-80.
28
Veja neste volume, capítulo 4 de W. Shea, “Desenvolvimento Inicial da Interpreta-
ção de Antíoco Epifânio”, para discussão adicional desse assunto.
29
Assim, Justesen, p. 60. Note o comentário editorial que atribui a tradução dos LXX
de Daniel 8:14 à crise dos Macabeus (p. 60-61).
30
Shea.
31
Leia, p. 32-33. Oito diferentes palavras aramaicas são usadas para traduzir sdq nos Targuns.
32
Ibid.
Também em Daniel 4:27 (24). M. Jastrow, A Dictionary of the Targumim (New York,
33
410
1. Introdução
2. Dimensões horizontais e verticais de Daniel 7
3. Dimensões horizontais e verticais de Daniel 8
4. Fase horizontal do chifre pequeno
5. Primeira fase vertical do chifre pequeno
6. Segunda fase vertical do chifre pequeno
7. Resumo e conclusão
Introdução
Existem vários pontos de vista diferentes a partir dos quais uma profecia apo-
calíptica como Daniel 8 pode ser examinada. Por exemplo, pode-se trabalhar dire-
tamente com a descrição dessa profecia e esboçar os elementos sucessivos que ela
apresenta. Ou, em nível de maior detalhe, é possível trabalhar com uma análise
versículo por versículo ou mesmo palavra por palavra ou exegese da passagem.
Ainda em outro processo – em termos de comparações mais amplas – é possível
procurar diferentes elementos na profecia que são particularmente característicos
O carneiro persa
A primeira atividade relaciona-se com as ações do carneiro com os chifres despro-
porcionados que representavam o reino compartilhado da Medo-Pérsia (v. 3-4, 20). É
importante notar (em contraste com os símbolos animais do capítulo 7) que a ativi-
dade direcional ocorre imediatamente, logo que o símbolo aparece no cenário de
ação. O carneiro é descrito como estando à margem do rio Ulai (v. 2-3). Do ponto
de vista do narrador, e do que se segue, esta é a margem oriental do rio sobre o
qual ele está. Dessa posição vantajosa, o profeta observa enquanto ele dá marradas
para o ocidente, norte e sul (v. 4).
Essas três direções de movimento simbólico se ajustam bem geográfica e his-
toricamente com as três importantes conquistas ocidentais da Pérsia – Babilônia
ao ocidente, 539 a.C.; Lídia ao norte, 546 a.C.; e Egito ao sul, 525 a.C. Essas três
grandes conquistas no ocidente combinam bem com as três costelas na boca do
urso medo-persa (cap. 7). Contudo, o urso não é descrito como saindo para essas
três direções a fim de empreender suas conquistas. As costelas já estão presentes
na boca do urso quando ele é descrito. No capítulo 8, o carneiro tem de viajar
nessas direções para fazer suas conquistas.
Deve-se notar a orientação dessa ação simbólica na direção oeste. Historica-
mente, o Império Persa também estendeu suas fronteiras orientais por meio da
conquista. Essas conquistas orientais, porém, não foram tão relevantes historica-
mente para as finalidades da visão. A expansão para o oeste levou o carneiro na
direção da terra do povo de Deus. Também o colocou em conflito com o bode
416 grego. Tais movimentos os levaram para um eventual combate. A dimensão hori-
zontal das atividades do carneiro persa pode ser diagramada como segue:
O bODE grEgO
Outro movimento direcional é descrito nas atividades do bode grego. Ele vem
do ocidente e voa sobre o chão em direção ao oriente (v. 5). Após a chegada no
lugar onde se encontra com o carneiro persa, o bode ataca com grande fúria (v. 6).
Ele lança o carneiro por terra e o pisa.
Assim, a visão simbolizava a vitória da Grécia sob o comando de Alexandre
sobre o reino persa. Enquanto o carneiro persa vinha do oriente e atacava o oci-
dente, o bode grego vinha do ocidente e atacava o oriente. Seu vôo sobre o chão
é muito expressivo, simbolicamente, da grande rapidez da conquista do Oriente
Médio por Alexandre.
O bode grego não toca o chão porque seu movimento é retratado como ex-
tremamente rápido (cap. 8). Por contraste, o leopardo grego (cap. 7) não se move,
apesar do fato de que ele tinha quatro asas em suas costas. Em conexão com esse
símbolo, o elemento direcional do capítulo 8 é omitido no capítulo 7.
A conclusão para a seção sobre a Grécia de Alexandre é encontrada na primei-
ra frase do versículo 8: “O bode se engrandeceu sobremaneira (higdîl ‘ad-me’ōd).
A forma verbal usada para descrever o poder do carneiro pode ser traduzida por
“ele magnificou-se” ou “ele tornou-se grande”. No caso do bode, ela é usada em
um sentido comparativo pela adição de uma frase adverbial modificadora, “ele
magnificou-se excessivamente” ou “ele tornou-se muito grande”. As relações dire-
cionais envolvidas aqui podem ser diagramadas como segue:
417
relAções direcionAis do cArneiro e do bode
O chifre pequeno
O chifre pequeno aparece no cenário de ação no versículo 9. Há dois grandes
problemas ligados ao seu surgimento: sua origem e sua identificação histórica.
Embora esses dois problemas não sejam o enfoque principal deste estudo, eles
estão relacionados até certo ponto com a dimensão espacial da visão. Portanto,
algumas respostas preliminares a essas perguntas devem ser aqui fornecidas como
uma base para outro exame de nossa passagem.
1. Origem. A origem do símbolo do chifre está envolta em um crux interpretum
ligado à sintaxe no final do versículo 8 e início do versículo 9. O chifre pequeno sai
de um dos quatro chifres ou de um dos quatro ventos? Sendo que já falamos sobre
esse assunto em outro lugar,2 a discussão anterior não precisa ser repetida aqui.
Será suficiente dizer que, embora a possibilidade de que o chifre tenha se
originado de um dos quatro chifres não possa ser excluída, parece mais provável
que ele tenha vindo de uma das direções dos quatro ventos. Em qualquer dos
dois casos, a decisão tomada a respeito desse ponto exegético não é decisiva para
418
a identificação histórica do chifre pequeno.3
2. Identificação histórica. Duas importantes possibilidades têm sido propos-
tas: o rei selêucida Antíoco Epifânio ou Roma. É possível chegar à conclusão sobre
este assunto somente por um exame de todas as características do chifre pequeno
nessa passagem e em passagens paralelas em outro lugar em Daniel. Sendo que esse
tipo de exame não é o enfoque central deste presente trabalho, o leitor interessado
é remetido a um estudo anterior que trata mais especificamente desses pontos.4
Nesse estudo, conclui-se que a identificação do chifre pequeno com Roma é
preferível à identificação dele com Antíoco Epifânio. Além dos pontos conside-
rados no estudo anterior, sugere-se que um discernimento adicional relacionado
com as dimensões espaciais das ações dos símbolos presentes nessa visão pode
apoiar ainda mais essa conclusão.
3. Três cenas. A título de introdução ao chifre pequeno, deve-se notar que
suas atividades são descritas em uma série de três cenas separadas. A primeira fase
de suas atividades é descrita no versículo 9, onde ele é visto estendendo-se em três
direções : para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa ou Palestina.
A segunda fase de suas atividades é descrita no versículo 10. Nesse versículo,
ele é descrito atingindo as estrelas, o exército do céu, e lançando alguns deles por
terra e pisando-os.
Na terceira cena, o chifre pequeno é visto atingindo outra vez o céu. Desta vez,
porém, ele se encontra com o Príncipe do exército. Embora ali não haja descrição
seções, todas tratando do chifre pequeno, ele funciona como a palavra de abertura
e introdutória. A junção na qual essa transição no emprego de gādal ocorre está
localizada entre o versículo 8 e o versículo 9, onde é dada a descrição do surgimen-
to do chifre pequeno.
As diferentes maneiras pelas quais as preposições hebraicas são usadas com as
ocorrências de gādal também adicionam ênfase às dimensões espaciais descritas
na visão. Por exemplo, para indicar que o bode grego se engrandeceu, Daniel
empregou a preposição ‘ad (“até que, mesmo para, até”) na frase adverbial que
modifica o verbo (v. 8). Essa é também a preposição que ele usará nas descrições
subsequentes da atividade do chifre pequeno.
No caso encontrado aqui no versículo 9, porém, a preposição usada com todas
as três das direções descritas é ’el (uma preposição que denota movimento para ou
direção para). Nesse caso, a preposição ’el foi usada para descrever movimento no
plano horizontal enquanto a preposição ‛ad foi usada para descrever movimento na
dimensão vertical. Este uso de ‘ad torna-se mais claro nos versículos sucessivos.
Tanto quanto diz respeito ao cumprimento histórico, essa descrição da obra
do chifre pequeno no versículo 9 se ajusta muito bem com a extensão do chifre
pequeno para a área do Mediterrâneo oriental, ao passo que se ajusta menos com
a obra de Antíoco Epifânio.5
420 Uma observação adicional poderia ser feita aqui com respeito a essa diferen-
ciação. Pode-se inferir que o carneiro persa veio do oriente porque ele se movia
para o ocidente, norte e sul (v. 4). Igualmente, pode-se inferir que o chifre peque-
no veio do ocidente, sendo que ele se movia para o sul, para o oriente, e para a
terra gloriosa (v. 9). Essa foi também a direção da qual Roma Imperial veio quando
ela abria seu caminho através da bacia do Mediterrâneo oriental.
Há um número suficiente de correspondências entre as características do chi-
fre pequeno do capítulo 7 e do capítulo 8 para identificá-las como representando
o mesmo poder.6 Contudo, há algumas diferenças em suas ações simbólicas. Uma
diferença significativa envolve mais uma vez a dimensão espacial.
No capítulo 7, o chifre pequeno surge da cabeça do animal indescritível e con-
duz sua obra a partir dessa posição vantajosa. Ele não se estende para nenhuma das
direções da bússola partindo desse ponto. Em Daniel 8, por outro lado, o chifre
pequeno é descrito se estendendo nas direções mencionadas no versículo 9. Trata-
se apenas de mais um caso onde a dimensão horizontal da atividade simbólica atua
na visão do capítulo 8 de uma forma pela qual não opera na visão do capítulo 7.
Essa primeira e horizontal fase da obra do chifre pequeno pode agora ser
diagramada:
Sendo que o povo de Deus, “o povo dos santos”, é o objeto específico dessa nova
fase de atividade, é evidente que esse ataque é de caráter religioso. Esse movimento
não é mais apenas com a finalidade de conquista territorial. Desse modo, é desta-
cada uma fase nova e mais distintamente religiosa do chifre pequeno. Isso é enfati-
zado pela descrição daquelas ações ocorrendo simbolicamente sobre o eixo vertical
de ação, quando o chifre pequeno exaltou-se em direção ao céu. Pode-se fazer uma
comparação neste ponto entre a obra do chifre pequeno de Daniel 7 e de Daniel 8.
Em ambos os casos, o poder é descrito como um poder perseguidor. Em ambas as
passagens, o objeto da perseguição é o mesmo: “o povo dos santos do Altíssimo” na
primeira (7:22, 25, 27), e simplesmente “o povo dos santos” na segunda (8:24).
Um novo elemento, porém, é introduzido com a descrição da perseguição no
capítulo 8. No capítulo 7, a vindoura ocorrência de perseguição é simplesmente
declarada como um fato, que o chifre pequeno cumprirá. No capítulo 8 ela é
descrita com símbolos apocalípticos. Em contraste com a descrição anterior das
atividades do chifre pequeno e dos outros símbolos do capítulo 8, o símbolo do
chifre agora parte na direção vertical para os céus. Ali ele faz dano às estrelas que
representam os santos de Deus.
O verbo e a preposição usados com ele (v. 10) são significativos. O verbo é
gādal (“tornar-se grande, magnificar-se”). Ele aparece outra vez na forma causativa
422 no início do versículo. Desta vez, está escrito na forma feminina para concordar
com o gênero do seu sujeito, o chifre pequeno. Ligando seu objeto (o “exército do
céu”) com gadal está a preposição ‘ad (“mesmo para, até”).
Em contraste com a preposição ’el (“para, em direção de”) usada com as dire-
ções sobre a terra no versículo anterior (v. 9), ‘ad é usada para indicar a partida do
chifre pequeno em sua direção vertical da terra. O contraste é deliberado e enfati-
za a diferença entre as ações envolvidas nas dimensões horizontal e vertical.
A dimensão vertical de ação, nesse caso, foi exercida em duas direções. Pri-
meira, o chifre pequeno atingiu o céu. Segunda, ele lançou por terra algumas das
estrelas. Foi uma rua de duas mãos. Uma vez que as estrelas tinham sido lançadas
por terra, elas foram pisadas pelo chifre pequeno.
Sendo que as expressões anteriores acerca das ações do chifre pequeno nesse
versículo constituem frases completas, essa expressão final e solitária (“e os pisou”)
pode ser identificada como um verbo projetado. Essa espécie de identificação é
útil para comparação com as descrições das outras duas cenas que lidam com o
chifre pequeno. Na primeira cena (v. 9) não há nenhum verbo projetado. Na cena
2 (v. 10) está presente um verbo projetado (“pisou”). Na cena terceira e final (v. 11-
12) estão presentes dois verbos projetados (“e o que fez prosperou”). Essa progres-
são sistemática parece ser uma construção literária deliberadamente planejada.
Com esses aspectos do versículo 10 examinados, as ações do chifre pequeno
descritas nessa porção da visão podem ser agora diagramadas como segue:
vErsíCulO 11
A sequência comum de palavras é invertida no início do versículo 11 a fim
de enfatizar a posição importante que o Príncipe do exército ocupa. Sua conexão
com o exército de estrelas (v. 10) enfatiza sua função política como o Líder do exér-
cito dos santos. Entretanto, nessa terceira cena (introduzida pelo versículo 11) é a
sua função sacerdotal que está sendo enfatizada em virtude de sua conexão com o
santuário celestial e seu ministério.
Todas as ações do chifre na descrição dessa cena (v. 11-12) descrevem ataques
contra o Príncipe. O ponto culminante da visão é o seu enfoque sobre o conflito
entre o Príncipe e o chifre pequeno. O objeto específico em disputa entre eles é
o santuário e seu ministério. Embora o chifre pequeno não seja capaz de infligir
qualquer dano corporal pessoal contra esse Príncipe celestial, sua atividade afeta
o seu ministério sacerdotal.
O primeiro efeito da interrupção da obra do santuário celestial pelo chifre
pequeno está ligado ao tāmîd (traduzido em nossas versões comuns como “sacri-
fício diário”/“holocausto contínuo”). Esta palavra é usada como um advérbio ou
adjetivo em outro lugar no Antigo Testamento e se refere a uma atividade que é
constante ou repetida em uma base regular, uma que é “contínua” ou ocorre “dia-
riamente”; daí as traduções comuns da palavra aqui.
Geralmente, essa palavra modifica um substantivo, mas aqui ela está sozinha
com o artigo definido (“o tāmîd”). Obviamente, portanto, deve-se perceber que
uma ideia adicional a acompanha. No Antigo Testamento, tāmîd é comumente
usada (30 vezes) em conexão com vários tipos diferentes de atividade dos sacerdo-
424 tes no santuário (cf. Êx 25:30; 27:20; 29:38; 30:8, etc.). O denominador comum
de todos esses tipos de atividade é o ministério (sacerdotal).
Assim, a tradução preferível dessa palavra em Daniel é “o contínuo/diário
(ministério)”. A conexão de tāmîd com o santuário é especialmente enfatizada por
sua repetição no versículo 12. Dessa maneira, a palavra tāmîd, usada nos versículos
11 e 12, acompanha a palavra para santuário no final do versículo 11. Assim, a
ordem dessas relações é tāmîd-santuário-tāmîd. A relação próxima e estreita entre
esses conceitos realça o fato de que esse ministério tāmîd do Príncipe está ligado a
esse santuário celestial.
É o seu ministério que o chifre pequeno deveria usurpar por algum tempo,
ou ao menos tentaria usurpar. O verbo com essa declaração está posto na forma
passiva (“foi tirado”). Todavia, sendo que essa passagem como um todo está preo-
cupada com as ações do chifre pequeno, é evidente que ele é o poder responsável
por tirar o ministério tāmîd do Príncipe.
A próxima declaração no versículo 11 refere-se ao próprio santuário. O verbo
está na forma passiva (“foi lançado, ou foi deitado abaixo”). Novamente, não pode
haver dúvida de que o chifre pequeno é o agente responsável por tal efeito sobre o
santuário. O fundamento desse santuário deveria ser “deitado abaixo”, significan-
do do céu para a terra. A raiz verbal presente neste caso é šālak, comumente usada
em outro lugar no Antigo Testamento para o ato de lançar ou atirar. A tradução
de lançado, derrubado, subvertido não capta plenamente essa ideia. É inferior à
tradução de lançar por terra, deitar abaixo. Isso é confirmado pelo uso do mesmo
verbo no versículo seguinte, no qual é a verdade que seria lançada por “terra”.
Deve-se notar que o objeto que seria lançado por terra aqui não era o santuário
em si, mas o lugar ou “fundamento” do santuário. A palavra hebraica usada para
essa expressão não é a comum para “lugar” (māqôn, 400 vezes). Em vez disso, o pro-
feta empregou o termo mākôn que vem da raiz kûn (“colocar, fundar, estabelecer”).
Esse termo ocorre 16 vezes no Antigo Testamento fora de Daniel, sendo que
em 15 desses exemplos, ele se refere ao lugar da habitação de Deus ou no santuá-
rio terrestre ou no celestial. Salmo 104:5 é a única exceção; ali ele é usado para os
fundamentos da terra que foram lançados por Deus na Criação. Nas 15 ocorrên-
cias que se referem ao santuário, dois terços das passagens se referem ao santuário
celestial e um terço ao santuário terrestre.
Portanto, esse termo é usado no Antigo Testamento basicamente como uma pala-
vra para santuário. Faz referência tanto ao santuário terrestre quanto ao celestial como
um lugar para a habitação de Deus, o local para o seu trono, e o lugar a partir do qual
Ele age. Refere-se mais comumente ao santuário celestial do que ao terrestre.
As atividades de Deus descritas ali são especificamente responder à oração
e administrar a justiça e retidão através do pronunciamento de juízo. Em alguns
lugares, tais como Salmos 89:14 e 97:2, esse fundamento do trono de Deus não é
compreendido tanto como uma posição física, mas como uma realidade espiritual 425
expressa desse trono. É nesse sentido que o fundamento do seu trono pode ser
descrito como “retidão e justiça”.
Sendo que os símbolos empregados na visão apocalíptica de Daniel pertencem
mais à natureza espiritual do que literal, poder-se-ia procurar essas referências para
suprir algum tipo de significado especial envolvido com o uso desse termo para
“fundamento” em Daniel. Por exemplo, esses dois Salmos (89:14; 97:2) relacionam
as três palavras: sedeq (“justiça”), mišpat (“juízo/justiça”) e mākôn (“fundamento”)
do trono de Deus, que estão ligadas às atividades divinas no santuário celestial.
Uma ênfase adicional sobre essa relação ocorre por meio do uso da mesma raiz sdq
na forma verbal (nisdaq) em 8:14.
Qualquer que seja o aspecto especial da obra de Deus enfatizado aqui pelo uso
de nisdaq, o lançar por terra pode certamente ser considerado como a usurpação
de sua obra, ou tentativa de usurpação, pelo poder do chifre pequeno.
Versículo 12
Na próxima frase da profecia (v. 12a) a descrição da visão retorna ao assunto
do tāmîd. No versículo 11, é declarado que o tāmîd foi tirado do Príncipe do exér-
cito. Subentende-se aqui que o chifre pequeno foi responsável por essa remoção.
O texto não diz, porém, onde o tāmîd foi tirado, ou o que foi feito com ele. A
segunda dessas duas perguntas é aqui respondida nessa declaração paralela acerca
do destino do tāmîd.
Algumas dificuldades de tradução estão presentes nessa declaração, mas nós a
traduziríamos um tanto literalmente: “A ele [o chifre pequeno] foi dado um exér-
cito sobre o tāmîd por meio da transgressão.”
Um exército foi mencionado antes no ataque do chifre contra as estrelas (v.
10). Pode-se indagar se o mesmo exército de estrelas está em vista aqui. Contudo, a
sintaxe dessa difícil declaração parece indicar que outro exército é mencionado. O
verbo está no feminino singular, portanto seu sujeito deve ser o chifre (feminino),
não pode ser o exército (masculino) e concorda em gênero com o verbo. Assim, a
construção da sentença indica que ao chifre foi dado um exército.
Mas havia um propósito nisso. Ao chifre, por meio do seu exército, foi tam-
bém dada alguma medida de controle “sobre” (‘al) o tāmîd. Assim como o Prín-
cipe tinha o seu exército que o chifre perseguiu, assim o próprio chifre pequeno
tem aqui o seu próprio exército. Embora essa palavra seja comumente usada no
Antigo Testamento para se referir a um grupo corporativo militar, o conflito aqui
é espiritual em vez de literal; assim não se deve esperar um exército literal.
É por meio do seu exército que o chifre pequeno chega a exercer controle so-
bre o tāmîd. Sendo que o tāmîd lida com o ministério sacerdotal do Príncipe (veja
426 discussão anterior), o exército seria muito naturalmente um exército espiritual,
um sacerdócio, por meio do qual o chifre pequeno operaria. Em contraste com a
justa atividade do Príncipe e seu exército, essa atividade por parte do chifre e seu
exército é injusta ou rebelde para com Deus (bepeša‛).
Assim, a atividade sacerdotal do Príncipe, mencionada previamente como ten-
do sido removida dele, foi agora substituída pelo chifre pequeno e as atividades
do seu exército. Nenhuma direção específica é mencionada em conexão com essa
atividade. Não é dito explicitamente que o tāmîd foi lançado por terra como o
lugar do santuário. Contudo, pode-se provavelmente pensar nisso como algo que
o acompanha, visto que o ministério do tāmîd funciona no santuário e envolve a
própria essência das atividades salvíficas do Céu.
A próxima frase do versículo 12 declara que a “verdade” foi lançada por terra.
A terceira cena que lida com o chifre pequeno começou com uma visão de sua
chegada ao céu para batalhar contra o Príncipe. Assim, isso termina agora com
a verdade lançada por terra como resultado da atividade do chifre. A ação na
dimensão vertical viaja nessa cena em ambas as direções, precisamente como na
cena anterior, no versículo 10. O verbo “lançar” é o mesmo que aquele usado para
o deitar abaixo o lugar do santuário no versículo 11 (šālak).
Essa correlação linguística, a posição dessa declaração como um resumo da
cena final da visão, e a posição dessa declaração na estrutura literária de sua descri-
ção combinam para indicar que a “verdade” afetada aqui não é apenas a verdade
exaltou-se
rEsumO DO gráfICO
429
Resumo e conclusão
Por outro lado, as ações dos animais e chifres do capítulo 8 são descritas com
muita movimentação direcional. O carneiro persa investe na direção do ocidente
e então o bode grego lança-se para o oriente a fim de confrontar-se com ele. Os
quatro chifres que saíram do bode grego partem na direção dos quatro ventos. Em
seguida, o chifre pequeno estende-se para o oriente, o sul, e a “terra gloriosa” ou Pa-
lestina. Até aqui, por meio da narração das ações dos animais envolvidos, a visão do
capítulo 8 é muito mais direcionalmente orientada do que a visão do capítulo 7.
É em torno do fim de ambas as visões que a dimensão vertical atua. Isso é
exercido de uma maneira diferente nas duas visões. No capítulo 7, é a visão do
profeta que muda da terra para o Céu e volta novamente. O chifre pequeno nessa
visão não atinge o céu, nem quaisquer dos outros seres vistos no tribunal celestial
descem para a terra.
A diferença no capítulo 8 é que um dos atores move-se de um domínio para
outro. O chifre pequeno, que primeiro é visto atuando sobre a terra, estende-se
para o céu a fim de lançar por terra algumas das estrelas e pisá-las. Outra vez, ele
chega até ao céu para se intrometer nos assuntos do santuário. Assim, no capítulo
8, o chifre pequeno move-se da terra para o céu, volta outra vez e repete o ciclo.
Dada a maneira como a dimensão vertical da apocalíptica é exercida aqui, o
caráter simbólico dessas ações deveria ser novamente enfatizado. O chifre pequeno
na realidade não atingiu os céus celestiais para lançar por terra estrelas literais. Essa 431
ação simbolizava sua perseguição dos santos. Da mesma forma, o chifre pequeno
não chegou até o céu para lançar por terra um santuário de tijolo e argamassa.
Essa ação simbólica do chifre pequeno aqui na terra tem ramificações que se
estendem até o ponto de afetar a obra daquele santuário celestial. O ministério
do Príncipe celestial naquele santuário é exercido para a salvação da humanidade.
Esse é o propósito de toda ministração nos santuários de Deus, terrestre ou celes-
tial. Assim, em virtude do caráter de suas atividades, o chifre pequeno é visto in-
terferindo na obra de salvação da humanidade conforme é exercida no santuário
celestial, daí o emprego da descrição desse tipo de ação simbólica.
A descrição dessas ações verticais tem alguma influência sobre a identificação
histórica do chifre pequeno do capítulo 8. Um grupo preeminente de intérpretes
sustenta que o chifre pequeno representa Antíoco Epifânio, o rei selêucida do se-
gundo século a.C. que perseguiu os judeus e interrompeu os rituais em seu templo
de Jerusalém. Segundo essa escola de pensamento, o santuário mencionado no
capítulo 8 é o templo terrestre de Jerusalém.
Partindo da análise precedente da linguagem simbólica empregada, pode-se
concluir que o santuário dessa passagem não se refere a um templo terrestre em
qualquer sentido básico da palavra. É um santuário celestial que está em disputa
entre o chifre pequeno e o Príncipe do exército. No sentido primário do seu voca-
bulário apocalíptico, essa profecia se refere a um santuário celestial.
Pode-se indagar aqui acerca da coerência. Se o símbolo das estrelas no céu re-
presenta os santos de Deus na terra, então não deveria o santuário do céu, afinal
de contas, representar um templo literal sobre a terra? Vários pontos devem ser
levados em conta ao se respondera essa pergunta.
Primeiro, essas duas cenas (v. 10 e v. 11-12) parecem ter sido distinguidas uma
da outra uma vez que são de natureza um tanto diferente. Uma lida com pesso-
as, que podem interagir espiritualmente com o Céu; daí sua conexão simbólica
com o céu (estrelas) expressar uma certa verdade teológica. De um ponto de vista
humano, porém, um templo é uma entidade mais concreta e material, embora o
significado dessa entidade material transcenda sua realidade concreta. O que é
especialmente importante acerca de um templo é o que acontece nele – os ritos
que reconciliam o homem com Deus – não sua construção.
Esse ponto é enfatizado especialmente pelas referências ao ministério tāmîd
mencionado aqui. Ele é mencionado duas vezes, ao passo que o templo é mencio-
nado apenas uma vez nos versículos 11-12. Portanto, não era apenas o templo que
seria atacado. Antes, era o ministério que ocorria naquele templo. Na verdade,
conforme notado acima, não é declarado especificamente que o ministério foi
lançado por terra, por assim dizer, embora essa possa ser uma boa inferência.
O ministério no Céu não é tão tangível que possa ser embalado para entrega
432 ou passado de uma pessoa para outra. Esse tipo de ministério é relacional, exer-
cido pelo Príncipe sacerdotal em favor do seu povo. A correspondência terrestre
a isso deve, portanto, ser algum tipo de ritual ou ministério exercido pelo chifre
pequeno que tem por objetivo interromper o relacionamento previamente estabe-
lecido pelo Príncipe no Céu.
Outro ponto a ser considerado aqui é o fato de que na linguagem da visão
o Príncipe nunca é lançado por terra como as estrelas. E é Ele quem exerce esse
ministério no santuário celestial. Também deve-se enfatizar que o que é declarado
especificamente como lançado por terra é o “lugar” ou fundamento do santuário.
Esse “lugar” ou fundamento tem suas dimensões espirituais, como indica o uso
dessa palavra nos Salmos.
O resumo do efeito sobre essas relações espirituais está na seguinte até a últi-
ma declaração da descrição da visão. Essa declaração indica que a verdade (acerca
do ministério tāmîd do Príncipe em seu santuário celestial) foi também lançada
por terra. Essa declaração acerca de lançar a verdade por terra usa o mesmo verbo
que a declaração acerca de lançar por terra o lugar ou fundamento do templo. No-
vamente, essa verdade é um objeto abstrato - assim, mais do que o concretamente
literal pode ser mencionado nessa cena da visão. Essas são ações simbólicas empre-
endidas contra a obra de Deus no Céu em favor do seu povo terrestre.
Resumindo, essa cena da atividade do chifre pequeno descreve as ações que ele
empreendeu contra o templo celestial e sua obra no sentido teológico e espiritual.
Reduzir isso a uma mera correspondência física sobre a terra – com um edifício tal
como o templo de Jerusalém – parece reduzir as concepções acerca do santuário
aqui envolvidas a um horizonte de cumprimento excessivamente estrito.
O ponto que temos tentado enfatizar é que no nível básico de sua linguagem apo-
calíptica e simbólica essa visão se refere a um santuário celestial, não importa como
alguém aplique a interpretação ou cumprimento desses símbolos secundariamente.
Seu nível de linguagem primário não se refere diretamente a um templo terrestre.
Naturalmente, as ações descritas nesses termos simbólicos têm relações terres-
tres. Se eruditos da escola crítico-histórica de pensamento desejam aplicar essas
ações simbólicas a eventos históricos que ocorreram em Jerusalém no segundo
século a.C. é prerrogativa deles. Deve ser enfatizado, porém, que a linguagem da
profecia em si não se refere àquele templo terrestre em um sentido primário. Além
disso, pode-se oferecer explicações razoáveis para interpretar essas ações simbóli-
cas executadas contra o santuário celestial.
Um ponto adicional acerca da identificação histórica do chifre pequeno deve
ser aqui enfatizado. Foi salientado no passado por intérpretes historicistas que
Antíoco Epifânio não se ajusta muito bem ao chifre pequeno por causa da im-
portância progressivamente maior dos atores sucessivos nas cenas dessa profecia.
O bode grego é maior, mais forte e mais importante do que o carneiro persa. O
chifre pequeno é grande, mais forte e mais importante do que o bode grego. Essa 433
progressão não se ajusta bem a Antíoco Epifânio, sendo que ele não foi tão impor-
tante historicamente como o Império Persa ou o Império Grego sob o domínio de
Alexandre. Ele foi apenas um rei, em uma linhagem de muitos, de uma das quatro
divisões daquele império.
Por outro lado, essa progressão no simbolismo se ajusta muito bem a Roma.
Ela evidentemente foi maior, mais forte e mais importante do que os impérios per-
sa ou grego que a precederam. Pode-se chegar à mesma conclusão acerca do quarto
animal do capítulo 7, o animal indescritível que ali representava Roma.
A análise da linguagem usada na visão do capítulo 8, contribui ainda mais para
ressaltar a importância dessa progressão. A maneira como o verbo gādal (tornar-se
grande) é usado com seus vários modificadores e objetos enfatiza essa progressão
do comparativo para o superlativo de maneira ainda mais forte. A introdução da
dimensão vertical na obra do chifre pequeno acentua essa progressão, a qual se
ajusta ainda mais adequadamente com uma aplicação histórica a Roma em suas
fases política e religiosa.
Uma ênfase final aqui tem a ver com a posição ocupada pelo Príncipe do
exército no Céu. Um aspecto interessante da descrição dessa visão é o de que a
palavra para Deus nunca aparece. Seu lugar é ocupado pelo Príncipe celestial. O
santuário do qual o fundamento foi simbolicamente lançado por terra pertencia
a Ele, assim como o ministério tāmîd exercido naquele santuário. A essência do
ponto culminante dessa visão é, portanto, uma luta entre o chifre pequeno e o
Príncipe sobre o santuário celestial e seu ministério.
O Príncipe não é apenas soberano sobre seu exército ou povo; Ele é também
um Sacerdote celestial ministrando por eles em seu santuário. É esse aspecto es-
pecífico de sua obra que é da máxima importância, e que é atacado pelo chifre
pequeno. A razão evidente para isso é que o ministério naquele santuário lida
com a salvação da humanidade. Portanto, é relatada uma luta sobre o plano da
salvação. A dimensão espacial empregada com o simbolismo dessa visão realça o
impacto da descrição desse conflito.
A visão encerra-se à vista do profeta com o chifre pequeno ainda exercendo
algum controle no versículo 12. Contudo, o balanço da profecia do capítulo 8,
além da própria visão, e as passagens paralelas em outras profecias de Daniel, asse-
guram ao crente que Deus e seu Príncipe emergirão vitoriosos no final. Os santos
do Altíssimo um dia entrarão no reino eterno que tem sido preparado para eles.
Notas
1
A literatura sobre a apocalíptica é extensa. Para algumas referências úteis sobre as ca-
racterísticas da apocalíptica o leitor é remetido a K. Strand, Perspectives in the Book of Revela-
434 tion (Worthington, OH, 1975), p. 41-43; D. P. Hanson, The Dawn of Apocalyptic (Filadélfia,
1975), p. 6-7; K. Koch, “What Is Apocalyptic? An Attempt at a Preliminary Definition”,
em Visionaries and Their Apocalypses, ed. P. D. Hanson (Filadélfia, 1983), p. 16-36.
2
W. H. Shea, Estudos Selecionados em Interpretação Profética, Série Santuário e Profecias
Apocalípticas , vol. 1 (Unaspress, 2007), p. 41-43.
3
O chifre pequeno deve ser identificado historicamente a partir de uma combinação
do cumprimento de todas as suas características, não apenas essa acerca de onde ele vem.
Há mais de meia dúzia de características do chifre pequeno em Daniel 8 que precisam ser
analisadas a fim de se estabelecer uma identificação histórica, e além disso há passagens
paralelas em outras profecias de Daniel acerca do mesmo poder que também devem ser
levadas em consideração.
4
Veja Shea, cap. 2, p. 25-55.
5
O chifre pequeno se estendeu para o sul, o oriente, e a “terra gloriosa” em suas
conquistas. Essas direções de conquista obviamente se ajustam muito satisfatoriamente a
Roma Imperial, uma vez que ela se estendeu para a bacia do Mediterrâneo oriental e con-
quistou a Síria, Palestina, e Egito. Antíoco IV, por outro lado, teve apenas algum sucesso
militar parcial no Egito por um ano antes que os romanos o expulsassem dali. Ele possuía
a Palestina como uma parte do seu reino quando subiu ao trono, mas foi o monarca se-
lêucida responsável pela perda desse território. Morreu na única campanha oriental que
conduziu, aparentemente de causas naturais, não em batalha.
6
Veja Shea, p. 27-34.
S inopse editorial. É exegeticamente correto explicar Daniel 8:14 (“Até dois mil
e trezentos dias; então o santuário será purificado”) em conexão com o ritual
do Dia da Expiação em Levítico 16? Segundo a tese deste capítulo não é somente
apropriado fazer isso, mas é uma questão de necessidade para que a visão seja
compreendida corretamente.
O autor examina várias palavras e expressões da passagem (8:9-14) que estão
direta ou indiretamente relacionadas com o ritual hebraico, isto é, o sistema de
adoração no santuário hebraico. Os eruditos comumente usam os termos “culto”,
“cultual”, ou “cúltico” para se referir aos sistemas de adoração dos antigos. Trata-
se de uma terminologia neutra e não carrega nenhuma nuança depreciativa.
As palavras que Daniel emprega nessa passagem tais como “lugar/fundamen-
to” (mākôn), “santuário” (miqdāš; qōdeš), “contínuo” ou “sacrifício diário/holocausto
contínuo” (tāmîd) estão diretamente relacionadas com o sistema de adoração hebrai-
co. O verbo rûm na expressão “foi tirado” também tem ligações com o santuário (em
sua forma Hophal). O mesmo pode ser dito a respeito do verbo “ser correto/justo”
(sādak) e seu substantivo e formas adjetivas; ele é usado por Daniel em sua forma
passiva simples, nisdaq (v. 14), mas sua raiz, sdq, aparece muitas vezes nos Salmos,
os “hinos” do ritual hebraico. Outros termos que aparecem na passagem tais como
“exército” (sābā’), “chifre” (qeren), “verdade” (’emet), e “transgressão/rebelião (peša‛)
podem ser relacionados indiretamente com o sistema do santuário, isto é, são termos
usados em conexão com o ritual, mas podem aparecer também noutros contextos.
Esse uso do santuário ou terminologia cultual indica claramente um vínculo en-
tre essa profecia de Daniel e o ritual hebraico conforme apresentado em Levítico. O
corolário é que terminologia semelhante pressupõe conceitos semelhantes, ou seja,
tanto a profecia como Levítico lidam com o conceito e a realidade do santuário. A
fim de compreender o emprego de Daniel dos termos do santuário o estudante deve
retornar a Levítico e ao ritual hebraico para sua adequada explicação.
Um importante termo usado por Daniel enfatiza esse procedimento. Esse ter-
mo ou expressão é “o tāmîd”. Segundo a profecia, o chifre pequeno ataca o Prínci-
pe do exército. Ele tira o tāmîd do Príncipe celestial e lança por terra “o lugar” do
“santuário” do Príncipe. Um estudo dos empregos de tāmîd no livro de Levítico
revela que o termo estava intimamente ligado ao ministério dos sacerdotes no
primeiro compartimento do santuário. Ele nunca é usado em conexão com o mi-
nistério do segundo compartimento. Portanto, a expressão hattāmîd (o tāmîd) em
Daniel seria mais corretamente traduzida por “a contínua intercessão” em vez de
“o sacrifício diário” como em nossa versão comum.
A profecia de Daniel indica que o Príncipe do exército não é apenas uma
figura real, mas também uma figura sacerdotal. Assim, isso chama a atenção para
a intercessão do Príncipe em favor do seu povo no lugar santo do santuário ce-
lestial. É esse ministério que o chifre tenta interromper e é bem-sucedido. Sendo
que “o tāmîd” se refere apenas ao ministério do Príncipe no primeiro comparti-
mento, naturalmente surge a pergunta: O que dizer da obra sacerdotal do lugar
santíssimo? O chifre pequeno também afeta a purificação anual do santuário?
Daniel 8:14 responde à pergunta.
Segundo seu emprego nos Salmos, o verbo sādaq (ser correto, justo) e suas
formas substantivas e adjetivas relacionadas expressam (no contexto do culto do
436 santuário) as ideias de justiça, purificação e vindicação. Sendo que os termos e
ideologia cultuais predominam em Daniel 8:9-14, o autor argumenta que estamos
livres para postular um emprego cultual para a raiz Sdq nessa passagem (nisdaq).
Consequentemente, ele traduz nisdaq como “ser declarado justo/ser vindicado/
ser purificado”. Ele sugere que Daniel usou nisdaq e não tāhēr (“limpar, purifi-
car”), outro termo cultual, porque o primeiro tinha um significado mais rico e
mais amplo e assim poderia abranger mais adequadamente os processos judiciais e
salvíficos de julgar, absolver e salvar que estão envolvidos no escopo cósmico dessa
profecia apocalíptica.
A expressão “o tāmîd” usada nessa profecia aponta para a atividade sacerdo-
tal do Príncipe no lugar santo do santuário celestial. Sendo que o santuário é a
estrutura conceitual da profecia, seria lógico encontrar uma referência também à
sua atividade sacerdotal no lugar santíssimo. Nisdaq provê essa referência (v. 14).
A atividade do Dia da Expiação era o único dia no ritual quando o santuário era
purificado/vindicado.
A purificação/vindicação do santuário (v. 14) não é uma reação exigida pelo
ataque do chifre. O chifre pequeno ataca, mas ele não contamina. A pergunta do
versículo 13 (“Até quando?”) tem a ver com o fim da atividade do chifre pequeno.
A resposta é: a visão e atividade do chifre continuarão até o fim dos 2.300 dias, até
esse tempo em que o santuário será purificado, isto é, até o Dia da Expiação. O chi-
fre afetaria a obra do Príncipe no lugar santo, mas não seria capaz de interferir em
sua obra no lugar santíssimo. Essa obra começaria no final dos 2.300 dias e poria
um fim à tentativa do chifre de controlar o santuário.
À luz do tipo do Dia da Expiação, os processos de purificação/vindicação que
ocorrerão no antitípico Dia da Expiação envolverão vários assuntos: Deus e seu san-
tuário serão vindicados, seu povo será julgado e purificado, isto é, os fiéis serão reafir-
mados e o registro de seus pecados cancelado, e os infiéis serão retirados. Satanás e as
agências por ele empregadas – as forças do mal – serão para sempre subvertidas.
Esboço do capítulo
1. Introdução
2. Terminologia cultual
3. Sdq na terminologia cultual
4. Sdq em Daniel 8:14
5. O Dia da Expiação e Daniel 8:14
6. Conclusão
437
Introdução
Terminologia cultual
1. Lugar do seu santuário (mekôn miqdāšô). Daniel 8:11. Tanto mekôn (“lu-
gar”) quanto miqdāš (“santuário”) em Daniel 8:11 são termos cultuais. Mākôn (lu-
gar) é usado no Antigo Testamento cerca de 17 vezes, sendo que em 14 delas é
usado em conexão com o santuário. Em duas das outras três ocorrências é usado
em conjunção com o trono de Deus, sugerindo uma relação indireta com o santu-
ário – “Justiça e juízo são a base [mākôn, ‘apoio, suporte, sustento’] do seu trono”
(Salmos 89:14, 97:2).
Mākôn é usado para designar o santuário. Aplicado como tal, pode significar
“habitação” (Êx 15:17; 1Rs 8:13; 2Cr 6:2; Is 18:4). A ideia de “fundamento” po-
deria também ser expressa por mākôn (Sl 104:5). A palavra parece designar uma
base.1 A tradução “lugar” deveria então ser compreendida como “um lugar para
estar.”2 Quando mākôn é usado com respeito ao santuário, poderia designar o
lugar onde está o santuário terrestre de Deus (Ed 2:68; Is 4:5) ou o celestial (1Rs
8:39, 43, 49; 2Cr 6:30, 33, 39; Sl 33:14).
Miqdāš (Dn 8:11) é um termo muito comum no Antigo Testamento emprega-
do para designar o santuário. Refere-se ao “santuário” como um todo. Em muitos
casos, denota o santuário terrestre (Êx 25:8; Lv 26:2, etc.). Contudo, há algumas
passagens em que miqdāš se refere à habitação celestial de Deus (Sl 68:33-35;
96:5-6).3 O termo é também usado com muita frequência para identificar o san-
tuário como o objeto de ataque dos inimigos de Deus (Sl 74:7; Is 63:18; Jr 51:51;
Lm 1:10).
2. Santuário (qōdeš). Daniel 8:13-14. Trata-se de outro termo usado para
438 designar o santuário. Poderia se referir ao santuário em sua totalidade (Êx 30:13;
Nm 3:28; 1Cr 9:29), o lugar santo (Êx 28:29; 29:30; 1Rs 8:8), ou mesmo o lugar
santíssimo (Lv 16:2). Qōdeš é a palavra usada em Levítico 16 para designar o san-
tuário como o objeto de purificação.4
3. Exército (sābā’). Daniel 8:10-13. Este é um termo militar usado para
denotar um exército.5 É empregado com muita frequência em contextos cultuais.
De fato, é usado em sua forma plural como um nome cultual para Deus (Yahweh
Sebā’ōt, “Senhor dos Exércitos”).6 É interessante notar que sābā’ (“exército”) é usa-
da em relação à obra dos levitas no santuário (Nm 4:3, 23, 30; 8:24-25). Portanto,
parece que há uma clara conexão entre sābā’ (“exército”) e o ritual.
4. “Foi tirado” (huraym). Daniel 8:11. Esta expressão verbal deriva do
verbo hebraico rûm, que significa “erguer, carregar”. Rûm é usado com muita fre-
quência em contextos cultuais no sentido de “doar, dar um presente” (Nm 15:19-
21), e “remover, pôr de lado” (Lv 2:9; 4:8).7 Daniel usa nesse exemplo a forma
Hophal ou causativa passiva do verbo rûm. Quando essa formação verbal é usada
em contextos cultuais designa o ato de remover do sacrifício a parte que pertencia
de uma maneira especial a Deus (Lv 4:10; cf. 22:15), ou aos sacerdotes (Êx 29:27).
A responsabilidade de remover isso dos sacrifícios era designada aos sacerdotes.
5. Chifre, verdade, rebelião (qeren, ’emet, peša‘). Daniel 8:9-14. Há outros
três termos em Daniel 8:9-14 que têm ou podem ter algum significado cultual. Um
deles é “chifre” (qeren) em 8:9 que nos relembra dos chifres dos quatro cantos dos
altares do santuário (Êx 27:2; 29:12; Lv 4:7; 16:18). Esses chifres eram provavel-
mente símbolos do poder de Deus.8 Outro termo é “verdade” (’emet) em 8:12. Pro-
priamente falando, “verdade” não é necessariamente um termo cultual,9 todavia,
pode possuir significado cultual. Por exemplo, em Malaquias 2:6 a instrução que o
sacerdote deveria transmitir ao povo era chamada “a lei da verdade”.10 Finalmente,
encontramos o termo “rebelião/transgressão” (peša‘) em 8:12. Esse mesmo termo
é usado em Levítico 16:16 para designar os pecados que podiam ser expiados no
Dia da Expiação se o povo se humilhasse e se arrependesse.
6. Contínuo (tāmîd). Daniel 8:11-13. Há mais um termo cultual que devemos
analisar. O termo parece ser um termo-chave na passagem, a saber, tāmîd, que é
sem dúvida um termo cultual. Geralmente tāmîd é compreendido como signifi-
cando “diário”, mas ele é mais aplicável a “contínuo, incessantemente”.11
Muitos comentaristas têm traduzido tāmîd de 8:11-13 como “sacrifícios diários”.
O motivo básico para essa tradução é que tāmîd é usado com muita frequência em co-
nexão com os sacrifícios da manhã e da tarde. É muito comum encontrar tāmîd quali-
ficando o holocausto: ‘ōlat tāmîd – um holocausto contínuo (Êx 29:42; Nm 28:3; Ne
10:33). Todavia, em Daniel, tāmîd não funciona como um adjetivo ou um advérbio.
Tem o artigo definido (o) antes dele, hattāmîd (o tāmîd). Portanto, ele funciona como
um substantivo. Esse emprego absoluto do termo é singular em Daniel. 439
Sendo que o termo ‛ōlāh (holocausto) não é usado por Daniel junto com tāmîd,
é inadequado introduzi-lo na tradução. Além disso, o termo tāmîd não é usado
somente com respeito a sacrifícios no Antigo Testamento, mas é usado também
em relação ao “pão da proposição” (Êx 25:30; Nm 4:7), “lâmpadas” (Êx 27:20; Lv
24:2), “incenso” (Êx 30:8, e o fogo sobre o altar (Lv 6:13). Limitar o significado de
hattāmîd a sacrifício é passar por alto a variedade de empregos de tāmîd dentro do
ritual. Hattāmîd deve ser compreendido no sentido mais amplo possível.
Um estudo de tāmîd nos contextos cultuais revelaria que ele era usado em co-
nexão com as muitas atividades que o sacerdote devia realizar continuamente no
santuário. Além disso, o tāmîd era usado com referência às atividades sacerdotais
realizadas no pátio e no lugar santo do santuário. Não devemos esquecer o fato
significativo de que tāmîd nunca é usado com referência a uma atividade realizada
no lugar santíssimo.
É muito provável que quando tāmîd é usado na forma absoluta, como em
Daniel, refere-se aos atos cultuais realizados no lugar santo ou que tinham uma
relação indireta com o lugar santo. O conceito teológico implícito nessas ativida-
des era o de intercessão. A expressão hattāmîd poderia ser mais bem traduzida por
“intercessão contínua”. Referir-se-ia, então, ao ministério contínuo do sacerdote
no santuário em favor do povo.
Resumo parcial
Façamos uma pausa por um momento para ver como a terminologia cultual
que temos estudado até aqui nos ajuda a compreender 8:9-14.
Primeiramente, a linguagem cultual encontrada na perícope em discussão
deixa claro que existe ao menos uma “conexão terminológica” (mesmos termos)
entre essa passagem e o ritual ou sistema de adoração do santuário. Portanto, é
apropriado fazer referência a Levítico na tentativa de compreender o que o profeta
está tentando nos dizer.
Segundo, também devemos ter em mente que a terminologia é usada para
transmitir ideias e conceitos. Nesse exemplo, o conceito do santuário. Sendo esse
o caso, também é correto propor uma “conexão conceitual” entre 8:9-14 e o ritual
hebraico. O profeta pressupõe que seus leitores estão familiarizados com o sistema
de adoração, assim ele usa o vocabulário cultual sem explicá-lo.
Terceiro, a terminologia cultual ajuda na compreensão da natureza e atividade
do chifre pequeno. A passagem ignora os interesses políticos do chifre pequeno. É
a atitude do chifre para com o ritual e a comunidade cultual (povo de Deus) que
é realmente enfatizada. O chifre pequeno é essencialmente um poder anticultual,
mas ele não está simplesmente em oposição a qualquer prática cultual. Esse chifre
age contra o culto jeovístico. Torna-se grande em uma direção em que nenhum
440 dos outros animais se engrandece, a saber, para cima.
O chifre pequeno ataca o “exército do céu”. Esse exército sābā’ provavelmente
designa uma guarda cultual, uma espécie de guarda levítica. Entre os deveres dos
levitas, estava a responsabilidade de proteger o santuário da intromissão de pes-
soas que não fizessem parte do serviço no templo (Nm 3:5-10; 18:1-10; 1Cr 9:23-
27).13 Essa era uma das suas mais importantes responsabilidades. O santuário não
devia ser profanado de forma alguma.
Quando o chifre pequeno ataca o santuário, ele primeiro tem de combater
o sābā’, a guarda cultual. Na luta, alguns do exército cultual (min-hassābā’) são
“lançados por terra”. Essa última expressão é usada no Antigo Testamento para
indicar derrota.14 O chifre é capaz de vencer a guarda.
Agora, ele vai atrás do Príncipe do exército (śar-hassābā’) e o – santuário –
seu real interesse, sendo poderoso o suficiente para tirar (rûm, forma Hophal) do
Príncipe seu contínuo ministério sacerdotal no santuário, o tāmîd. Tirando do
Príncipe o que pertence exclusivamente a Ele, o chifre indica que ele mesmo de-
seja agir como sacerdote. Em um esforço para obter ainda mais exaltação, o chifre
lança por terra o “lugar” do santuário do Príncipe. Isso sugere uma destruição
literal ou metafórica da base do santuário. O chifre pequeno é bem-sucedido em
sua atividade antijeovística.
Segundo 8:12, o chifre fez algo mais. Há algumas dificuldades nesse versículo;
mas a ideia geral é muito clara. O verbo tinnāten (foi dado) é passivo. Seu sujeito
Segundo Josué 5:13-15, esse Príncipe é um ser celestial.19 No livro de Daniel Ele
é também chamado “o Príncipe dos príncipes” (8:25), “Messias o Príncipe” (9:25,
KJV),20 e “Miguel, o grande príncipe” (12:1). Esse Príncipe é provavelmente o mes-
mo ser chamado “o Filho do Homem” no capítulo 7.21 Esses títulos tendem a
sugerir que o Príncipe é também uma figura real; nele temos uma combinação das
funções reais e sacerdotais.
No capítulo 8, a função sacerdotal do Príncipe é enfatizada. A atividade em
que Ele está envolvido é interpretada de forma cultual por meio do emprego do
termo tāmîd. Isto é, a obra do sacerdote israelita realizada continuamente no san-
tuário é usada para descrever a atividade do Príncipe. Ele está encarregado do
tāmîd, a contínua obra intercessória no santuário.
O tāmîd é usado apenas em conexão com o lugar santo e tem a ver com a
obra do sacerdote nesse lugar. Portanto, é adequado inferir que o Príncipe estaria
fazendo uma obra equivalente àquela realizada pelo sacerdote no lugar santo. Se
estamos certos, podemos concluir que o chifre pequeno, de certo modo, afetará a
obra do Príncipe no lugar santo. Diz Daniel: ele tirará do Príncipe o tāmîd, isto é,
o ministério contínuo no lugar santo.
Qualquer um que esteja familiarizado com o ritual hebraico imediatamente
levantará a pergunta: “O que dizer da obra sacerdotal no lugar santíssimo? O
442 chifre pequeno afeta a purificação anual do santuário? Aqui 8:13-14 torna-se
muito importante.
Adorador: Tal é a geração dos que o buscam, dos que buscam a face
do Deus de Jacó.25
O livro de Salmos revela o fato significativo de que a raiz sdq estava no próprio
coração do ritual. O ritual, em sua inteireza, parece revolver-se em torno do con-
ceito de Sdq: o adorador entra no templo pelas “portas da justiça” (Sl 118:19);41
ele leva um “sacrifício de justiça” (Sl 4:5, KJV; 51:19; Ml 3:3); e o sacerdote “ves-
tido de justiça” (Sl 132:9), intercede em favor do ofertante diante de Yahweh, “o
Deus de justiça” (Sl 11:7). Como resultado, o adorador recebe no templo “justiça
de... Deus” (Sl 24:5, KJV). Por intermédio do sacerdote, Deus declara o indivíduo
justo. Uma vez que o crente foi declarado justo/purificado/vindicado, ele pode
participar plenamente do ritual e regozijar-se diante do Senhor.
Nossa análise anterior mostrou que a raiz sdq é usada em diferentes lugares junta-
mente com vocabulário e ideologia cultuais. É, portanto, muito normal encontrá-la
em 8:14 rodeada também por vocabulário cultual. O que torna o uso de sdq particu-
larmente difícil em 8:14 é o fato de que sua forma verbal, nisdaq, é única no Antigo
Testamento. Nisdaq é a forma Niphal do verbo sādaq. Nessa forma, o verbo expressa
uma ideia reflexiva ou passiva. O contexto sugere que o verbo deve ser tomado aqui
446
como um passivo. A pergunta é: “Como devemos traduzi-lo?” Diferentes sugestões
têm sido apresentadas: “será purificado”, “será justificado”, “será reintegrado em seu
direito”, “será trazido de volta aos seus direitos”, “será vindicado”, etc.
Já vimos que em contextos cultuais a raiz sdq pode expressar as ideias de jus-
tiça, purificação, vindicação. Daniel 8:14 pertence a uma perícope em que a ter-
minologia e a ideologia cultuais predominam. Estamos, consequentemente, livres
para postular aqui um emprego cultual da raiz sdq.
Poderíamos traduzir nisdaq por “ser declarado justo/ser vindicado/ser purifi-
cado”. Daniel usou nisdaq e não tāher (limpar/purificar) porque Sdq “é uma raiz
ampla muito rica em significado. Sua ênfase central é descrever um processo judi-
cial e soteriológico de julgar, absolver e salvar.”42 Ajustava-se muito bem ao escopo
cósmico de sua profecia apocalíptica.
Daniel 8:14 aponta para um tempo em que o santuário seria declarado justo/
purificado/vindicado. Havia tal tempo dentro do calendário cultual hebraico? O
Dia da Expiação era o único momento no ritual hebraico em que tal pronuncia-
mento poderia ser uma realidade. Essa, nos parece, é a única conclusão lógica a
que alguém familiarizado com o ritual israelita poderia chegar.
O Dia da Expiação era o único dia no ritual em que o santuário era purifica-
do/vindicado. Além disso, o contexto de Daniel 8 apoiaria nossa conclusão. Já
salientamos que nos versículos anteriores é feita referência apenas à atividade sa-
cerdotal no lugar santo. Seria muito lógico ter também uma referência à atividade
sacerdotal no lugar santíssimo. Essa referência é encontrada em Daniel 8:14.
Com muita frequência é pressuposta uma conexão entre nisdaq e o chifre
pequeno. Acredita-se que a purificação do santuário é necessária por causa da
atividade desse chifre. Devemos prosseguir explorando esse problema à luz da
linguagem cultual usada em 8:9-14.
Vimos que a atividade do chifre pequeno é anticultual. Ele é bem-sucedido em
vencer o exército, o santuário e em controlar o tāmîd, a obra sacerdotal no lugar
santo. Em tudo isso o chifre prosperou (8:12). A pergunta óbvia era: “Até quan-
do?” (8:13). Veio a resposta: “Por duas mil e trezentas tardes e manhãs;43 então o
santuário será [declarado justo/purificado/vindicado” (8:14).
No versículo 13, é suscitada a pergunta que tem a ver com o fim da atividade
do chifre pequeno. A pergunta tem a ver com o fim do período de tempo. A res-
posta é clara: A visão44 e a atividade do chifre continuarão até o final de 2.300 dias,
até o tempo em que o santuário será purificado, isto é, até o Dia da Expiação.
A purificação/vindicação do santuário mencionada no versículo 14 não é efe-
tuada por causa do chifre pequeno. Já indicamos que o vocabulário cultual usado
em 8:9-14 não fornece nenhuma evidência que apoie a ideia de que o chifre peque-
no contaminou o santuário. É dito a Daniel que o chifre pequeno afetaria a obra
do Príncipe apenas no lugar santo, e não seria capaz de interferir em sua obra no 447
lugar santíssimo. Essa obra se iniciaria no final dos 2.300 dias e poria um fim ao
controle do chifre sobre o santuário.
Se a purificação/vindicação do santuário em 8:14 não é uma necessidade cria-
da pelo chifre, ficamos com a importante pergunta: por que o santuário precisa
ser purificado? O contexto imediato não responde a esta pergunta. Mas note que
o tāmîd é mencionado nos versículos anteriores, e não nos é dito por que ele é im-
portante e necessário, nem mesmo o que ele é. Quando quisemos saber o que era
o tāmîd, tivemos de reconhecer que ele era um termo cultual. Então prosseguimos
para examinar o seu emprego em contextos cultuais. Se agora queremos saber o
que é a purificação/vindicação do santuário e por que ela é necessária, devemos
examinar o ritual do Dia da Expiação no culto hebraico. É, portanto, correto mudar-
mos de Daniel 8:14 para Levítico 16.
são Levítico 16 e 23:26-32. Os rituais realizados durante esse dia parecem ter tido
o propósito de expressar no mínimo três ideias básicas:
1. Deus e seu santuário eram vindicados. A remoção do pecado/impureza do
santuário revelava algo significativo acerca da natureza de Deus e de sua habitação.
Por meio dos sacrifícios expiatórios diários, o pecado confessado era transferido
para o santuário em favor do pecador arrependido.45 Somente para a finalidade de
expiação era permitido que o pecado/impureza fosse à própria presença de Deus.
Mas nem mesmo os pecados expiados poderiam permanecer indefinidamente na
santa habitação de Deus. O Dia da Expiação proclamava que a santidade/pureza
não tem nada em comum com o pecado/impureza. Eles eram separados um do
outro de uma maneira permanente, revelando de uma forma especial a verdadeira
natureza de Deus e de seu santuário.
Durante aquele dia importante, o pecado/impureza não era somente removi-
do do santuário, mas era também transferido para Azazel, uma figura demoníaca
que parece representar a própria fonte da impureza. Transferindo-a para Azazel,
Yahweh estava devolvendo a impureza para sua própria fonte. Forças malignas
eram vencidas por Yahweh durante o Dia da Expiação. Enquanto o povo estava
descansando, o Senhor estava ativo em seu favor.
2. O povo era purificado. A purificação do santuário e a purificação do povo
448 estavam intimamente relacionadas entre si. Na purificação do santuário no Dia da
Expiação, a purificação do povo atingia sua consumação. Seus pecados eram final-
mente removidos da presença do Senhor. Agora eles mesmos podiam permanecer
na presença de Deus. O próprio propósito da aliança era então restabelecido:
Deus continuará habitando entre seu povo; Ele será o seu Deus e eles continuarão
sendo o seu povo escolhido.
3. Deus julgava o seu povo. Durante o Dia da Expiação, Deus ordenava ao
seu povo que repousasse e afligisse suas almas (Lv 16:29). Afligir a alma (‛ānāh
nepeš) significa “humilhar-se”, provavelmente por meio do jejum. Repousar e
humilhar-se revelava uma atitude de completa dependência da misericórdia de
Yahweh. Essa atitude pessoal estava relacionada com a purificação do santuário.
A remoção do pecado do santuário significava purificação final somente para
aqueles que permaneciam em uma atitude de absoluta dependência da graça e do
poder divinos. Nesse dia, o Senhor julgava o seu povo. O indivíduo que não se hu-
milhava, nem repousava, era declarado culpado. Essa pessoa era “extirpada do seu
povo”, destruída do seu povo (Lv 23:29-30). Essa fórmula de extermínio era um
veredito negativo pronunciado depois da investigação divina. O veredito positivo
era uma declaração de pureza. Yahweh estava julgando o seu povo.
Os três conceitos já discutidos parecem ter sido de fundamental importância
no Dia da Expiação dentro do ritual israelita. Com base em nossa discussão an-
esses eventos serão finais em uma escala cósmica, e o mal será finalmente extir-
pado do Universo.
Conclusão
Nosso estudo mostrou que Daniel usa linguagem cultual em 8:9-14 com a fina-
lidade de expressar ideias cultuais. Portanto, há uma conexão entre essa perícope
e o ritual. Um estudo do termo tāmîd indicou que o termo designa a obra media-
dora sacerdotal efetuada em favor do povo no lugar santo do santuário. Nossa
investigação da raiz sdq revelou que ela é usada em contextos cultuais, e que era
um conceito-chave dentro do ritual. O emprego de sdq, especialmente nos Salmos,
indica que ela expressava no ritual a mesma ideia expressa por tāhēr em Levítico.
Daniel estava ciente desse fato e sentiu-se livre para usar sdq para se referir à obra
sacerdotal no lugar santíssimo durante o Dia da Expiação.
Salientamos que o chifre pequeno, em sua atitude anticultual, é capaz de
controlar o santuário. Ele afeta a obra do Príncipe no lugar santo. Quando chega
o tempo de o Príncipe iniciar a sua obra no lugar santíssimo, o chifre pequeno
perde o controle sobre o santuário. Ele não pode afetar a obra do Príncipe no
450
lugar santíssimo. Essa obra e seu significado são descritos em Levítico 16. Sua
obra no lugar santíssimo inclui, portanto, a vindicação do caráter de Deus, a
purificação do seu povo, e o juízo dos santos antes que o reino de Deus seja esta-
belecido sobre a terra.
Notas
1
Veja James A. Montgomery, A Critical and Exegetical Commentary on the Book of Daniel
(Edimburgo, 1927), p. 336.
2
William L. Holladay, A Concise Hebrew and Aramaic Lexicon of the OT (Grand Rapids,
1971), p. 194, doravante registrado como CHAL.
3
Veja Niels-Erik Andreasen, “The Heavenly Sanctuary in the Old Testament”, The
Sanctuary and the Atonement, ed. Arnold V. Wallenkampf and W. Richard Lesher (Washing-
ton, DC, 1981), p. 70; Gerhard F. Hasel, “The ‘Little Horn,’ the Saints, and the Sanctuary
in Daniel 8”, em The Sanctuary and the Atonement, p. 192. Veja também neste volume, cap.
6, “O ‘Chifre Pequeno,’ o Santuário Celestial e o Tempo do Fim: Um Estudo de Daniel
8:9-14” de G. F. Hasel
4
Veja Hasel. Em Levítico 16:33 encontramos a frase peculiar miqdaš haqqōdeš como
uma designação para o “Lugar Santíssimo”; veja Martin Noth, Leviticus: A Commentary,
The OT Library (Filadélfia, 1977), p. 126.
5
B. W. Anderson, “Hosts, Hosts of Heaven”, IDB 2 (1962): 655.
33
Sobre declarações sacerdotais veja Rolf Rendtorff, Die Gesteze in der Piesterschrift
(Göttingen, 1954), p. 74-76; Gerhard von Rad, “Faith Reckoned as Righteousness”, Prob-
lem of the Hexateuch, p. 125-30; H. Ringgren, “hu”, TDOT, 3:342-43.
34
La Rondelle, p. 127.
35
Von Rad, “Faith”, p. 128.
36
W. Zimmerli declara: “Ezequiel 18 reflete uma ação real que costumava ser realizada no
santuário [em Jerusalém] na porta do templo” (Ezekiel Hermenia [Filadélfia, 1979], p. 376).
37
Ibid.; von Rad, “Faith”, p. 128; Ringgren, p. 343.
38
Veja Rodriguez, p. 283-301.
39
Ibid., p. 291-92.
40
Jerone P. Justesen, “On the Meaning of Sādaq”, AUSS 2 (1964): 53-61; W. E. Read,
“Further Observations on S ādaq”, AUSS 4 (1966): 29-36; Hasel, p. 203-4.
41
A porta do templo é assim chamada não simplesmente porque os justos entram
por ela, (Anderson, Psalms, 2:802), mas também porque atrás dessa porta a justiça era
encontrada no Justo. Mowinckel diz: “O próprio fato de que era permitido à congregação
entrar pela Porta da Justiça era ao mesmo tempo uma corroboração de sua justiça e uma
comunicação do poder da ‘justiça’ e felicidade.” (Psalms, 1:181).
452 42
Justesen, p. 61.
43
A expressão “tardes e manhãs” não é uma expressão cultual. Não deve ser igualada
com o tāmîd. Sobre este assunto veja S. J. Schwantes, “‛Ereb Bōqer of Dan 8:14 Re-exami-
ned”, AUSS 16 (1978): 375-85. Veja também o capítulo 7 deste volume.
44
Shea, p. 81, sugere que, sendo o termo “visão” usado no versículo 13, o período de
tempo abrange não somente o tempo em que o chifre está ativo, mas também o período
para o cumprimento de toda a visão do capítulo 8.
45
Veja Rodríguez, “Transfer of Sin in Leviticus”, The Seventy Weeks, Leviticus, and the
Nature of Prophecy (Washington, DC, 1986).
46
Hasel, p. 206-7.
B
Barnabé, Epístola de, 220
Belsazar, evidência do reinado, 80-82
Datas para (Dn 7:1; 8:1), 87-88
Nabucodonosor, “pai” de, 81-82
C
Calendário caraíta, Dia da Expiação, usado pelos mileritas (para outro modo
de determinar datação antitípica, veja vol. 1, cap. 6)
Cânon do AT, prosição do livro de Daniel no, 104-105
Chifre pequeno (Dn 7), características do, identificação histórica do, 144-146
Chifre pequeno (Dn 8), ataque contra o santuário, 160-161, 440-442
expansão do, 323-324
*
Os principais temas da obra Estudos Selecionados em Interpretação Profé-
tica (vol. 1, Série Santuário e Profecias Apocalípticas) estão inclusos neste índex.
D
Daniel, “terceiro” governador em Babilônia, 85
454 Daniel, livro de, propósito, 56-57
teologia de, 36-56, 106-107
anjos, 41
escatologia, 49-56
Deus, 37-41
história, 44-48
homem, 42-43
Daniel 2, primeiras testemunhas favorecem Roma como o quarto reino; pedra
como segundo advento/reino de Deus, 274
importância de sua natureza apocalíptica, 279-280
reino da pedra, interpretação do, 271-300
Daniel 7, exegese de, veja vol. 1, cap. 5
aspectos específicos de, 141-146
Daniel 7, 8, relações, cenas finais, 167-169
Daniel 7, 8, 9, profecias relacionadas em termos de extensão, 189-192
Daniel 8, aspectos específicos, 154-177
análise/interpretação de, 311-363
v. 9-14, contexto de, 313-315
autenticidade de, 315-317
tradução de, 317-318
v. 9-12, cumprimento sequencial, 327-328
E
Eclesiástico, autor omite referências a Daniel, 106
Efraim Sírio, pai sírio, adota os pontos de vista de Porfírio, 245
Enoque, primeiro livro de, 213-214, 219-220
‛Ereb bōqer (“tarde-manhã”, 2.300), reexaminado, 383-391
Esdras, quarto livro da, 216-217
Estruturas literárias (Dn 7), 134-135, 141-142, veja também vol. 1, cap. 5
em Daniel 9, 195-198
produz unidade do livro todo, 201-204
Eusébio de Cesareia, 246
Expiação, Dia da, relação com o santuário celestial, 360-361
relação com Daniel 8:14, 448-450
identidade com 22 de outubro de 1844, veja vol. 1, cap. 6
G
Grócio, Hugo, adotou o preterismo, 277
H
Hātak, “cortar/determinar, decreto”, significado de, avaliado, 185
Hazôn (“visão”), 178, 184-185, 346-349; veja também vol. 1, p. 56-57
Hipólito, se baseia em 1 Macabeus para interpretar Daniel 8, 224-226
exposição de Daniel 11, inconsistente, 226-228, 230
primeiro cristão a identificar o chifre pequeno (Dn 8) com Antíoco, 229
a aplicar Daniel 11 a Antíoco, 224-230
456 historicista, preterista e futurista, 224-231
interpreta Daniel 2, 223, 273
coloca a setuagésima semana no final da era , 228-229
Historicistas, lista de, primeiros expositores de posturas futuristas/preteris-
tas, 277-278
Huss, John, 275
I
Interpretação futurista da profecia, origem da, 276
Interpretações rabínicas, 217-220
Intérpretes judeus de Daniel, 289-298
Intérpretes cristãos de Daniel, primeiros, 220-222
Irineu, 221
sobre Daniel 2, 190
J
Jerônimo, 248-254
provavelmente concorda com Porfírio, interpretação de Daniel 11:1-21,
235-236, 252
(provavelmente) sobre a identidade do chifre pequeno (Dn 8)
L
457
Lactâncio, 246
Levítico, relações com Daniel 8, 163-167
Levítico 16, relações com Daniel 8, 359, 360-361, 434-450
Linguagem cultual, significado da, em Daniel 8:9-14,157-159, 435-450
Lutero, Martinho, 276
M
Macabeus, primeiro livro de, 212, 219
Maitland, Samuel, primeiro expoente protestante do futurismo de Ribera, 276
Mākôn (lugar do seu santuário), 171-173, 333-335, 425, 437-438, 441
Mar’eh, 178-179, 184, veja também vol. 1, p. 56-57, 346-349
Melâncton, sobre Daniel 2, 276
Messias, figuras pessoais de, em Daniel, 192-194
Metódio, sobre o segundo advento, 189
Milênio, ponto de vista do quinto século, começa com o primeiro advento, 189
Movimento Oxford, 278
N
Nabucodonosor, 76-80
Empreendimentos, 76-77
juramento de lealdade, planície de Dura, datado, 80
loucura, possível evidência não-bíblica para, 77-79
Nicolau de Cusa, 275
Nisdaq, significado de, 161, 355-359, 393-411, 443-448
tradução de, 393-410
problema de tradução, 394-395
Raiz Sdq, 395-397
Significados amplos de, 399-403
na literatura apocalíptica, 405
no contexto de Daniel 8:14, 405-408
no hebraico tardio e aramaico, 404-405
nos Salmos e outros livros do AT, 443-449
tradução da Septuaginta, 356-357, 401-405
O
22 de outubro de 1844, verificação por meio de sistemas de calendários anti-
gos, veja vol. 1, cap. 6
“Oração de Nabonido”, 78-79
458
Oráculos sibilinos, 212-213, 219-220
Orígenes, 222, 273
P
Padrão de pensamento semita, raciocínio do efeito para causa, 190-196
Parábola dos lavradores maus, comparada com Daniel 2, 294-300
Pedra, uso do termo no AT, 290-294
Períodos de tempo (Dn 8-9), ligações entre, 183-185
Personagens históricos de Daniel, 78-82
Peša‛ (trangressão), 351-352, 438-439
Plymouth, Irmãos de, desenvolveram a interpretação futurista, 340-341
Policrônio, pai sírio adota o ponto de vista de Porfírio, 245, 273
Porfírio, terceiro século d.C. neoplatônico, 231-243
Hipólito, fonte de seus pontos de vista sobre Antíoco, 236-239, 240-243
Comentário de Jerônimo, apenas a preservação de seus pontos de vista, 233-234
retifica a exposição de Hipólito de Daniel 11, 235-237, 241-243
Preterismo, defendido pela primeira vez por Luis de Alcazar, 277
Profecia apocalíptica, características da, 145, 281-282, 414-416
Profecia messiânica (Dn 9), 185-189
Profecias (Dn 7-9), extensão, comparadas e relatadas, 189-192
R
Reforma, século dezesseis, 275-276
Ressurreição, clímax do livro de Daniel, 362
Ribera, Francisco, desenvolveu o futurismo na interpretação profética, 276-277
Rolos do Mar Morto, constatações em Daniel, 102-104
S
Sābā’ (“exército”), 324-325, 335-337, 421-423, 438, 440-442
Santuário (qōdeš), ataque do chifre, 361-362, 440-442
centro de salvação, 160
limpeza, restauração do, 358-361
nenhuma resposta ao ataque do chifre, 436, 447-448
linguagem cultual (Dn 8) identifica, explica, 157-159, 435-450
pisando o santuário, 353-355
termo, hebraico, usado em Levítico 16 e Daniel 8, 359, 438
Savonarola, 275
U
Últimos dias, significado de (Dn 2), 281-283
Unidade de Daniel, 16-35, 133-206
W
Wycliffe, John, 275