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GUARULHOS
2017
ANDRÉ FELIPE BARBOSA DA SILVA SANTOS
GUARULHOS
2017
Santos, André Felipe Barbosa da Silva.
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Mirhiane Mendes de Abreu
Universidade Federal de São Paulo (EFLCH/UNIFESP)
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Pedro Marques Neto
Universidade Federal de São Paulo (EFLCH/UNIFESP)
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Antonio de Moraes
Universidade de São Paulo (FFLCH/USP)
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Leandro Garcia Rodrigues
Universidade Federal de Minas Gerais (Departamento de Teoria Literária/UFMG)
À minha mãe, meus irmãos e Davi.
AGRADECIMENTOS
A Deus.
À Prof.ª Dr.ª Mirhiane Mendes de Abreu, por enxergar em mim um pesquisador e, com
muita sensibilidade, apurar o meu olhar sobre o texto literário.
Ao Prof. Dr. Pedro Marques Neto e Prof. Dr. Marcos Antonio de Moraes, pela leitura
atenta e generosidade demonstradas durante os exames de qualificação e defesa.
Aos docentes e colegas que fizeram parte da minha trajetória na graduação em Letras na
Unifesp. À Prof.ª Dr.ª Mariana Teixeira Marques, pelo incentivo.
À Giovanna Feitosa Rossinhole, pelo apoio constante. Aos amigos Ana Nascimento,
Giovanna Manfro, Alessandra Alves, Jefferson Alves, Francielle Zurdo, Alvaro Felippe
e Fernando Américo, obrigado pela torcida sincera e por tornarem essa jornada mais
leve.
Por fim, à Edna, minha mãe, Thiago e Rebeca, meus irmãos, por compreenderem as
minhas ausências e, apesar delas, estarem sempre presentes.
Definição de Poesia
Aí está a rosa,
aí está o vaso,
aí está a água,
aí está o caule,
aí está a folhagem,
aí está o espinho,
aí está a cor,
aí está o perfume,
aí está o ar,
aí está a luz,
aí está o orvalho,
aí está a mão
(até a mão que colheu).
Mas onde está a terra?
Poesia não é a rosa.
O debate acerca do papel das revistas literárias como parte essencial do movimento
modernista no Brasil tem recebido atenção mais cuidadosa da crítica literária
contemporânea. Com base nisso, o estudo da literatura produzida e veiculada por meio
de periódicos abre espaço para que possamos entender como os artistas compreenderam
os valores da modernidade no início do século XX e os colocaram em circulação mais
ampla através desses veículos. Nesse sentido, o objetivo desta dissertação de mestrado
consiste em reunir e analisar quatorze poemas escritos por Guilherme de Almeida
(1890-1969) e publicados em oito revistas literárias da região sudeste, entre os anos de
1922 e 1929: Klaxon (1922-23), Árvore Nova (1923), Estética (1924-25), A Revista
(1926), Terra roxa e outras terras (1926), Verde (1927), Revista de Antropofagia
(1928) e Movimento Brasileiro (1929). As análises apontam para composições que
elegeriam o ritmo como manifestação poética. A pesquisa destaca, ainda, novas
possibilidades de leitura e interpretação proporcionadas através da relação estabelecida
entre os textos nas páginas das revistas.
The debate concerning the role of the literary journals as an essential part of the
modernism movement in Brazil has received more attention from the contemporary
literary criticism. Based on that, the study of the literature produced and released
through the magazines allows us to realize how the artists comprehended the values of
the modernity in the beginning of the twentieth century as well as they put them into
broader circulation. Therefore, the aim of this M. A. thesis consists of collecting and
analyzing fourteen poems written by Guilherme de Almeida (1890-1969) and originally
published in eight literary journals from the southeast region, between 1922 and 1929:
Klaxon (1922-23), Árvore Nova (1923), Estética (1924-25), A Revista (1926), Terra
roxa e outras terras (1926), Verde (1927), Revista de Antropofagia (1928) and
Movimento Brasileiro (1929). The analyses point to compositions that would promote
the rhythm as a poetic manifestation. Thus, this research emphasizes new possibilities
of reading and interpretation manifested throughout the relationship established between
the texts in the magazines.
Introdução 10
2. Poesia em revistas 41
2.1. Colaborações para Klaxon 42
2.2. ―O fogo na montanha‖: colaboração para Árvore Nova 70
2.3. Colaborações para Estética 77
2.4. ―Pijama‖: colaboração para A Revista 99
2.5. ―Modinha do Pernilongo‖: colaboração para Terra Roxa e outras terras 107
2.6. ―L‘oiseau Bleu‖: colaboração para Verde 119
2.7. ―Fome‖: colaboração para Revista de Antropofagia 127
2.8. ―A rua das rimas‖: colaboração para Movimento Brasileiro 131
Introdução
voltadas às crianças do escritor alemão Wilhelm Busch. Essa habilidade tradutória foi
reconhecida por, entre outros trabalhos, a tradução de As Flores do Mal, de Charles
Baudelaire (1944). A observação das primeiras edições dos seus livros apresenta um
artista detalhista, o qual, além de demonstrar uma elaboração estilística, se preocupou
com a parte gráfica na valorização de ilustrações que acompanhavam os seus textos.
Essa produção multifacetada, paradoxalmente, ainda se encontra em vias de apreciação
e pesquisa por parte da crítica literária.
Diante de tal lacuna ocupada nos atuais estudos críticos, essa dissertação de
mestrado pretende apresentar a reunião e análise de quatorze poemas publicados
originalmente em oito revistas literárias do sudeste do Brasil, entre os anos de 1922 e
1929: Klaxon (1922-23), Árvore Nova (1923), Estética (1924-25), A Revista (1926),
Terra Roxa e outras terras (1926), Verde (1927), Revista de Antropofagia (1928) e
Movimento Brasileiro (1929). Essa região do país teria sido o provável epicentro dos
debates acerca da nova arte e, a partir dela, novos grupos foram criados em outros
estados para se posicionarem frente ao que era produzido. O arco temporal diz respeito
ao período no qual o modernismo se estabeleceu, fundando alicerces para o que viria a
ser difundido a partir da década de 19301. Fez-se um cotejo das revistas publicadas
nesses anos e, aquelas que traziam em suas páginas alguma colaboração de Guilherme
de Almeida – mais especificamente na esfera poética – foram incorporadas ao corpus da
investigação.
Sua poesia, tão facilmente associada ao estilo parnasiano e simbolista, transitou
entre a tradição ibérica medieval, o classicismo atribuído a Camões e a inovação do
verso livre modernista. O traço que uniria os poemas publicados em revistas e escolhido
como principal método de análise diz respeito ao ritmo construído por meio da
sonoridade dos vocábulos em cada composição. A hipótese analítica foi apresentada
pelo próprio poeta, quando, em 1926, escreveu a tese de concurso Ritmo, elemento de
expressão e definiu a sua obra como ―essencialmente rítmica‖ (p. 1). Quando presentes
em um periódico, seus versos seriam cruciais para a observação de como o autor
dialogou com as propostas renovadoras de seu tempo. Nesse sentido, este trabalho
procura compreender como a obra de Guilherme de Almeida, durante a década de 1920,
esteve inserida em um programa coletivo de divulgação da nova arte brasileira,
1
José Aderaldo Castello (1999), apresenta sua posição: ―Consideradas as duas primeiras décadas do
século [...] [XX] como antecedentes imediatos, podemos delimitar o Modernismo propriamente dito entre
os anos de 1920 e 1960. Acatamos o reconhecimento de ―fase heroica‖ pelos anos 20, de lutas e
afirmações e de ―fase áurea‖ a partir dos anos 30 em diante [...]‖ (p. 71).
12
A revista foi, por excelência, o suporte eleito para propagação dos ideais da arte
dos novos intelectuais nos anos iniciais do movimento modernista no Brasil. O estudo
das diversas publicações que eclodiram no período denota um crescente interesse da
crítica literária contemporânea em compreender como os diversos grupos assimilaram,
adaptaram e difundiram os valores da modernidade em nossas letras (MARQUES,
2013; PUNTONI & TITAN JÚNIOR, 2014). A análise dessas fontes permite
aprofundar as relações humanas que se formavam ao redor das publicações e refletir
sobre outras possibilidades de leitura que a revista proporciona. Indispensáveis
enquanto armas na luta travada pela afirmação da arte nova, as revistas abriram diante
do público um novo horizonte de ideias organizadas de modo a provocar o interesse por
determinada corrente de pensamento ou simplesmente chocar com questionamentos
acerca do fazer artístico e do próprio papel da arte na formação cultural de um país.
Diante do cenário proposto, algumas questões são formuladas: em que medida,
os diversos artistas responderam individualmente aos propósitos grupais dos
movimentos de divulgação da arte modernista? Dito de outra forma: seria possível
compreender o projeto estético modernista se nos atentarmos àquilo que foi publicado
em um dos principais veículos de comunicação da década de 1920? A reunião e análise
dos quatorze poemas de Guilherme de Almeida, publicados em oito revistas literárias de
São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, entre os anos de 1922 a 1929, poderiam
indicar passos sólidos na investigação do problema elencado. A atuação do poeta, nesse
sentido, foi essencial para a execução da Semana de Arte Moderna, a criação da revista
Klaxon (1922-23) e a divulgação do projeto modernista em outros estados do país.
Partindo do pressuposto de que a revista forneceria elementos únicos de leitura e
interpretação, procura-se evidenciar, como traço estilístico que uniria os poemas que
compõem o corpus de pesquisa, o trabalho com o ritmo e busca de uma sonoridade
capaz de exprimir beleza e imagens no interior dos versos.
Este primeiro capítulo, portanto, se constitui como base para os argumentos que
serão desenvolvidos no contato com os poemas em revistas. Em um primeiro momento,
serão apresentadas as correntes críticas capazes de demonstrar a relevância dos
movimentos de vanguarda na virada do século XIX para o XX e problematizar essa
15
1.1. Preparando o terreno: reflexões sobre a obra de arte na era das vanguardas
Tempestade
Desvairamento invisível.
Serpentinas de relâmpagos
atravessam o espaço.
E atrás dos montes longínquos, mãos pobres
19
E as nuvens rápidas
agitam-se tanto,
tão nervosamente,
que já não tem mais forças.
de que ―[...] dificilmente pode haver ruptura sem uma adição compensatória: cortar X
inevitavelmente significa abrir caminho para Y‖ (p. 203). Além disso, torna-se
necessário salientar que os estudos de Peter Bürger e Marjorie Perloff, embora de suma
importância para a caracterização do período, estão localizados temporalmente e
geograficamente. Dessa maneira, as afirmações e levantamentos das duas obras
consultadas dizem respeito, em sua maioria, a manifestações artísticas em países
desenvolvidos, os quais vivenciaram os valores da modernidade de forma distinta em
relação à realidade brasileira no início do século XX.
Dentre os estudos existentes sobre o período e as devidas polêmicas no Brasil, se
encontra a tese defendida por Viviana Gelado (2006). Acerca do modernismo paulista, a
autora afirma que o movimento contou com o suporte ―ocasional‖ do governo –
representado à época pelo Partido Republicano Paulista (PRP) e ―[...] com a acolhida
calorosa de alguns salões e colecionadores de arte da alta burguesia; teve, também, à sua
disposição, as páginas do jornal tradicional, o Correio Paulistano‖. Seguindo esse
raciocínio e formulando o pensamento de outra maneira, Gelado complementa: ―Em
outras palavras, e precisamente na fase de destruição, o movimento contou com o
respaldo oficioso da oligarquia cafeeira e de seu braço no poder‖ (p. 137). Nesse
sentido, Frederico Barros (1982) e Carlos Vogt (2001) apontam para a figura de
Guilherme de Almeida como central para a promoção da Semana de Arte Moderna.
Segundo a última referência, o poeta de Nós e Menotti Del Picchia estariam ―bem
situados na imprensa paulistana‖, além de serem ―[...] amigos pessoais de Washington
Luís, na época chefe do governo de São Paulo e depois presidente da República‖ (p.
12). O intercâmbio entre os artistas e o governo seria sintomático de uma classe
econômica privilegiada que estivesse disposta a investir na promoção de eventos
artísticos, provocando um grande estardalhaço para os padrões estabelecidos no período.
No tocante à ―destruição‖ comumente relacionada aos anos iniciais do
modernismo no Brasil, se comparada à obra de Guilherme de Almeida publicada nos
periódicos, perderá parte do seu sentido. Este ato de, entre outras ações, pôr abaixo o
que está estabelecido e construído, não se sustentaria diante da análise dos poemas nas
revistas que compõem o corpus da presente investigação. Dessa maneira, a partir do
capítulo seguinte, se evidenciará, no projeto modernista defendido pelo poeta: uma
apropriação segura de formas e componentes da tradição intelectual em uma escrita
essencialmente rítmica, capaz de traduzir, por um lado, os mesmos anseios e questões
21
de seus contemporâneos; uma poética que seria sua resposta individual às propostas de
renovação estética da acalorada década de 1920.
Voltando à fala de Gelado, vale reproduzir os paradoxos que ela aponta a partir
do advento do modernismo em São Paulo, como a insistência no significante
―civilização‖, ―[...] ao lado de um programa vasto e levado com muito humor, em obras
como as Memórias Sentimentais de João Miramar e Macunaíma, de valorização da
cultura popular e, particularmente, de incorporação dos atos de fala à língua literária‖
(p. 138). No que diz respeito ao aspecto civilizatório, seria possível estabelecer a relação
com parte do texto de abertura da revista Klaxon (1922-23). Sendo assim, na primeira
parte, nos deparamos com um elemento do programa defendido pela publicação: ―E
KLAXON não se queixará jamais de ser incompreendido pelo Brasil. O Brasil é que
deverá se esforçar para compreender KLAXON2‖. Essa ―civilização‖, em concordância
com a pesquisadora, seria baseada ―[...] na incorporação recente [...] da técnica, e
usufrutuária dos bens culturais europeus através do circuito criado principalmente pelo
Teatro Municipal, as livrarias de Tisi e de Jacinto da Silva3 e os salões da alta
burguesia‖ (p. 138). A citação evidencia o aspecto coletivo do movimento e da
apropriação de espaços que pudessem abrigar discussões sobre o papel da arte na
cultura do país.
No início do artigo que Annateresa Fabris escreve sobre o período há a seguinte
afirmação: ―Paradoxal modernidade a de projetar para o futuro o que tentava resgatar no
passado‖. Se recuperarmos a síntese do movimento futurista elaborado por Marjorie
Perloff, veremos que os intelectuais envolvidos no processo olhavam, sobretudo, para o
avanço das técnicas artísticas em um período marcado pela euforia e utopia. Como já
apontara Viviana Gelado, o caso do Brasil se construiu de maneira única e
multifacetada, devido à tensão cultural existente no país na virada do século XIX para o
XX. Annateresa Fabris, nesse sentido, completa o raciocínio: ―Enquanto as vanguardas
2
A REDAÇÃO. ―Significação‖. In: Klaxon: mensário de arte moderna, ano I, número 1, 15 de maio de
1922. O editorial completo, bem como o acesso a todos os números da revista estão disponíveis em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=217417&pasta=ano%20192&pesq=Significa%C3%
A7%C3%A3o. Acesso em 17/04/2016.
3
O estudo de John Nist pode nos trazer outros fatos que comprovariam a forma pela qual os ideais das
vanguardas européias foram recebidos pelos nossos modernistas: ―These knigths of the Modernist
Movement frequented two bookshops in the city – that of the Italian Tisi, located on Largo de São Bento,
where they found all the new European publications, which carried the work of such writers as Marinetti,
Soffici, Pallazeschi, and Papini; and O Livro, on Rua 15 de novembro, a store owned by Jacinto Silva.
[…] Before deciding upon the Municipal Theatre, the Paulista avant garde had entertained the idea of
staging the Modern Art Week Exhibition at Jacinto Silva‘s bookshop‖. In: _____. The Modernist
Movement in Brazil: a literary study. Texas: University of Texas Press, 1967. p. 74.
22
bem como a análise detida de pequenos rastros em nossa cultura seriam parte
fundamental na compreensão das relações humanas e artísticas de um país. Nesse
ínterim, a história dos cafés demonstra a impressão das ―[...] vanguardas artísticas e
intelectuais das mais diferentes nacionalidades. Através desses núcleos de sociabilidade
é possível reconstituir a percepção e a sensibilidade que foram típicas de uma época‖.
Em outro momento, reflete: ―A maior parte das nossas análises historiográficas não
considera a poderosa influência desses canais de sociabilidade‖ (p. 53). Eles
desvendariam os bastidores da circulação da literatura, inserindo seus protagonistas em
um debate maior.
Entre o fim do século XIX e início do XX, houve um crescimento numérico das
publicações periódicas, ―notadamente de revistas‖. Esse fato, na demonstração de
Velloso e em concordância com a fala de Martins que abriu a seção, refletiria a ambição
por mais informação de um público emergente nos centros urbanos e o surgimento de
uma classe média com interesses culturais melhor definidos. Tratando das revistas
cariocas, a autora salienta a tradução de uma ―[...] nova linguagem, mais atraente, mais
ágil, destinada a obter uma comunicação mais eficaz‖ (p. 56). Dessa forma, novos
elementos foram adicionados às técnicas criativas na imprensa do período para
despertar a atenção de novos leitores e possíveis assinantes. Aliás, um sério problema na
transmissão da informação se constituía no que se referia à alta taxa de analfabetos ou
simplesmente ―semi-escolarizados‖ no período. A historiadora declara que, uma das
possíveis formas de enfrentar a situação e propiciar a divulgação das revistas entre as
camadas populares estaria na adesão, em meados do século 19, por parte de intelectuais
humoristas à caricatura, a qual já vinha ―[...] ocupando um espaço expressivo no campo
das revistas‖ (p. 57). Essa manifestação artística, muitas vezes unindo o desenho à
expressão escrita e ligada à ―práxis vital‖ daquela população, seria uma aproximação da
vanguarda carioca com o grande público. Seguindo esse raciocínio, a Revista Ilustrada
(1876-1898) e a D. Quixote (1917-1925) seriam exemplos de uma espécie de âncora
para aqueles que não podiam acompanhar as notícias por intermédio da leitura de textos
regulares.
Outra categoria expressa no estudo das publicações periódicas consiste no que a
pesquisadora define como ―eleição de afinidades‖. De fácil identificação quando
lidamos com essas fontes, essa ―eleição‖ denotaria o processo pelo qual a rede de
comunicação de um grupo funcionava e como os pares se reconheciam e eram
reconhecidos em cada momento. Portanto, bastaria destacar a revista como um ―[...]
27
5
A carta foi reproduzida em BRASIL, 1º tempo modernista (1917-1929), com organização de Marta
Rosetti Batista. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros (USP), 1972, p. 64. Também presente em
ANDRADE, Gênese. ―Klaxon, uma revista gritante‖. In: Klaxon: mensário de arte moderna – edição fac-
28
―Significação‖ aponta para outro caminho, ao afirmar que a ―luta‖ teria tido início no
começo de 1921, ―[...] pelas colunas do Jornal do Comércio e do Correio Paulistano6‖.
O nome da publicação? Klaxon, buzina presente na parte externa dos veículos, tinha por
principal objetivo causar barulho diante do acalorado momento que os artistas viviam,
principalmente após a repercussão das vaias e aplausos que tomaram o Teatro
Municipal em fevereiro daquele ano.
Lima Barreto, conhecido por sua obra literária e seus textos críticos, se
manifestou sobre o nome da publicação: ―Em começo pensei que se tratasse de uma
revista de propaganda de alguma marca de automóveis americanos 7‖. Klaxon, com
redação e administração em São Paulo, representação no Rio de Janeiro, Bélgica e
Suíça, contou com a participação de diversos artistas e intelectuais estrangeiros. Dentre
eles, o francês Charles Baudoin, o belga Roger Avermaete, o suíço Albert Ciana, o
grego Claudius Caligares, o português António Ferro, o japonês Nico Horigoutchi, entre
outros. A língua parecia não ser um obstáculo, já que a revista publicou as colaborações
dos artistas citados e outros na língua original em que foram escritas. Esse fator
contribuiu para que a publicação transpusesse a barreira do estritamente local, firmando-
se no debate intelectual internacional. Embora não haja alguma indicação de quem
compunha a chamada ―Redação‖, Klaxon contou com a colaboração ativa de Mário de
Andrade e Oswald de Andrade, além de Luiz Aranha, Antônio Couto de Barros, Rubens
Borba de Moraes, Sérgio Milliet, Tácito de Almeida e Guilherme de Almeida. Gênese
Andrade reitera a força coletiva: ―Prevalecendo o espírito de grupo, as funções não eram
definidas; não consta expediente, nem havia hierarquia‖ (p. 13).
No número 1, logo acima do sumário, somos informados de que a redação e
administração da revista estavam situadas na Rua Uruguai, 14, no Jardim América. O
número seguinte traz outro endereço, no centro da cidade: Rua Direita, 33, sala 5,
possibilitando a inferência de que se tratava de uma sala comercial nas qual os artistas
se reuniam. Acerca da sociabilidade de nossos modernistas, em concordância com a tese
de Monica Pimenta Velloso, passemos a um episódio narrado por Aníbal Falcão (1935)
e reproduzido por Cecília de Lara8 (1972) e Gênese Andrade. Nele, sobressaem-se as
características pessoais de cada integrante e a importância de estarem juntos na
similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin,
2014. p. 12.
6
Cf. nota 3 para referência completa, bem como link de acesso ao editorial.
7
LARA, Cecília de. Klaxon & Terra roxa e outras terras: dois periódicos modernistas de São Paulo. São
Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), 1972. p. 24.
8
Op. cit., p. 21.
29
9
Cf. FERRAZ, Ana. ―A relação de Guilherme de Almeida e a metrópole‖. In: Carta Capital, edição 834,
25/01/2015. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/revista/834/a-relacao-amorosa-entre-
guilherme-de-almeida-e-a-metropole-3875.html. Acesso em: 20/04/2016.
10
Cito, nesse momento, o número das edições que contaram com a publicação de poemas de Guilherme
de Almeida em O Pirralho. Em 1912, o poeta contribuiu na edição 29, com o poema ―Olhos de santa‖
(p.8), datado de 14-4-1910; edição 31 com um ―Soneto‖ (p. 13); na capa do número 44 com ―N‘y touchez
pas...‖; edição 52, com o poema ―Tapete Oriental‖ (p. 4). Em 1916, o artista publicou na edição 221 o
poema ―O Truão‖ (p.4); o texto poético ―Metempsicose‖ (p. 4) foi publicado na edição 222; ―Última
página‖ estampou a quarta página da edição 223; ―Dom Inverno‖ (p. 4) foi parte da edição 225; ―As
Asiladas‖, página 4, na edição 226; em 1917, o autor contribuiu com ―Cantiga Minhota‖ (p. 6), na edição
231; o ―Soneto II‖ ocupou a página 6 da edição 234; ―Idílio Suave‖ foi impresso na página 9 e contou
com uma ilustração de Di Cavalcanti, na edição 239. Todos os números elencados estão disponíveis
em:http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=213101&pasta=ano%20191&pesq=Guilherme
%20de%20Almeida. Acesso em 15/04/2016.
11
Para um estudo aprofundado do período, bem como o cenário teatral paulistano e as características
francesas nos dois textos dramáticos, ver: GALVÃO JÚNIOR, Heraldo Márcio. Nacionalismo,
cosmopolitismo e afrancesamento em Mon coeur balance e Leur âme, de Oswald de Andrade e
Guilherme de Almeida. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Faculdade de Ciências e Letras de Assis, 2013.
32
Sendo assim, verifica-se que os poemas que fazem parte do corpus da presente pesquisa
vieram a público antes da reunião em livro.
A sua proximidade com Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti e
Menotti Del Picchia, entre outros artistas, fez com que atuasse decisivamente para a
concepção e realização da Semana de Arte Moderna (ANDRADE, 1972;
BOAVENTURA, 2008). Durante o evento, seus versos foram lidos e bem recebidos
pela audiência presente (PASINI, 2013, p. 193). As composições inéditas, ―As galeras‖
e ―Os discóbolos‖ foram recolhidas no livro A frauta que eu perdi (Canções Gregas),
em 1924. A hipótese seria a de que a apropriação de modelos clássicos, na contramão
do choque pretendido pela composição de seus contemporâneos, poderia ter contribuído
para a aceitação dos seus textos literários. Além do mais, seus versos foram proferidos
por Graça Aranha (1969), o qual assim o apresentou, ao lado de outros poetas que
compartilhavam dos ideais da modernidade:
Destes [poetas], libertados da tristeza, do lirismo e do formalismo,
temos aqui uma plêiade. Basta que um deles cante, será uma poesia
estranha, nova, alada e que se faz música para ser mais poesia. De dois
deles, nesta promissora noite, ouvireis as derradeiras ―imaginações‖.
Um é Guilherme de Almeida, poeta de Messidor, cujo lirismo se destila
sutil e fresco de uma longínqua vaga nostalgia de amor, de sonho e de
esperança, e que, sorrindo, se evola da longa e doce tristeza para nos dar
nas Canções Gregas a magia de uma poesia mais livre do que a Arte (p.
172-3).
era o investimento no aspecto visual. Nesse sentido, a capa da revista, de forte apelo e
exemplo do emblema da modernidade que estavam pregando, foi considerada ousada e
irreverente. A peça mostrava um ―A‖ maiúsculo ocupando generosamente o centro da
capa, com o qual se cruzavam todas as palavras ali presentes. O autor? Guilherme de
Almeida, o qual assim depôs sobre o feito em artigo publicado em fevereiro de 1968:
Couto, Tácito, Aranha, Rubens e eu fomos à Tipografia Paulista
de Jose Napoli (Rua da Assembleia), onde eu haveria de
imprimir nas cores preto e verde e sem maiúsculas, os meus
livros Meu e Raça. E aí foi que compus tipograficamente
(sempre adorei arte gráfica) o ―enigma pitoresco‖. Retirei eu
mesmo do caixotim das maiúsculas de madeira o que me
pareceu melhor: um ―A‖ imenso, igual àqueles que estava ali,
num cartaz, na parede: o ―A‖ da ópera Aída, que ia ser cantada
no Municipal. E no componedor, sobre esse ―asão‖, apliquei
todos os dizeres da capa, até mesmo o til de São Paulo12.
A predileção pela ópera e pela arte gráfica seriam, nas palavras de Guilherme de
Almeida, ingredientes essenciais que resultaram na composição da capa de Klaxon. Esse
artigo, originalmente impresso nas páginas d‘O Estado de São Paulo, em 10 de
fevereiro de 1968, foi escrito em resposta a Sérgio Buarque de Holanda, o qual em
depoimento a Aracy Amaral, apresentou uma versão divergente. Publicado na semana
anterior e, portanto, em 3 de fevereiro de 1968, o texto explicitava a defesa de Holanda
por uma influência da capa de um livro do poeta suíço e radicado na França, Blaise
Cendrars. Segundo ele, a criação da capa da revista modernista teria sido feita no
mesmo instante em que Almeida se deparou com o estilo de Fernand Léger na capa de
La Fin du Monde Filmé par l’Ange Notre Dame (1919). Gênese Andrade publica parte
do artigo e argumenta que, independentemente da forma como foi composta, o ―[...]
estilo da capa foi mantido em todos os números, variando apenas as cores e o número da
edição, e teve recepção também controversa entre os próprios colaboradores, no calor da
hora‖ (p. 16). A opção por manter o projeto gráfico, em partes criado pelo poeta,
evidencia o prestígio que ele gozava entre os seus companheiros de luta.
Guilherme de Almeida foi uma figura decisiva na incorporação de propagandas
dos produtos dos anunciantes nas páginas de Klaxon. Talvez a mais famosa delas, a dos
chocolates Lacta, surpreendeu pela inovação no que diz respeito à distribuição dos
elementos na página. O feito poderia ter antecedido, em certa medida, o movimento da
poesia concreta no Brasil, o qual viria a se estabelecer como arte nos anos de 1950
12
ALMEIDA, Guilherme de. ―O nosso Klaxon‖. In: O Estado de São Paulo, 10 de fevereiro de 1968.
34
13
In: Klaxon: mensário de arte moderna. Ano I, número 2, 15 de junho de 1922. p. 18. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=217417&pasta=ano%20192&pesq=A%20obses%C
3%A3o%20do%20s%C3%A1bio. Acesso em: 20/04/2016.
14
In: op. cit., Ano I, número 4, 15 de agosto de 1922, p. 17. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=217417&pasta=ano%20192&pesq=LACTA.
Acesso em: 20/04/2016.
35
carioca, houve uma participação em dose dupla. No primeiro número foram publicados
―A flor de cinza (teoria do amor)‖ e ―Velocidade (96 quilômetros por hora)‖. O terceiro
número (abril-junho de 1925) foi presenteado com ―Febre amarela‖ e ―Policromia
brasileira‖. Esses poemas apresentam uma experimentação com a linguagem
diferenciada por meio dos vocábulos expressos na página de maneira não tradicional.
No ano de 1925, Guilherme de Almeida viajou com uma conferência por meio
da qual se propôs a apresentar a ―nova poesia‖ brasileira. O título da série de palestras
estava totalmente imerso na ideia de que a arte poderia ser um mecanismo valioso para
a compreensão de uma nação: ―Revelação do Brasil pela poesia moderna‖. Através de
um convite de Augusto Meyer e Joaquim Inojosa, o poeta visitou as regiões Sul (mais
especificamente a cidade de Porto Alegre) e Nordeste (visitando algumas cidades de
Pernambuco), entre setembro e novembro daquele ano. A intenção seria a de divulgar os
desdobramentos da Semana de Arte Moderna de 1922, os propósitos do movimento e,
por meio de um recital, proporcionar uma experiência com o que havia de mais novo em
relação à poesia. Segundo Frederico Barros (op. cit.), o conferencista teve êxito na
empreitada, inclusive, ―[...] com grande proveito para os jovens poetas e escritores que
acorriam para ouvir sua palavra‖ (p. 5). A conferência, inédita em livro, foi divida em
duas partes: na primeira, ―afirmação‖, foram proferidos ―fatos, teorias, definições,
comentários‖; no segundo ato, o poeta apresentara a leitura ―dos mais significativos
poemas de poetas que a Semana revelara ou incitara‖. Na introdução que faz ao leitor,
Guilherme de Almeida atenta para o fato que ―tudo – o meu pensamento, minha
expressão e até minha ortografia – data de 1925 (mil novecentos e vinte e cinco)15‖.
Vamos percorrer alguns trechos desse texto.
O autor apresentou o projeto modernista como oriundo de um grupo jovem, com
qualidades e defeitos: ―Movimento de poetas moços, movimento moço: é dizer –
estabanado, desrespeitoso, atrevido: mas sempre nobre, vigoroso, atlético, saudável‖.
Nesse sentido, a primeira consequência natural do agrupamento seria a Semana de Arte
Moderna, a qual por sua vez, teria modificado o pensamento da população paulistana.
Seguindo o raciocínio do poeta, mesmo ―três anos e sete meses‖ depois dos eventos no
Teatro Municipal,
por aquelas ruas cheias de corretores apressados, por aqueles
cafés onde se assinam duplicatas e letras de câmbio, por aqueles
eram assunto único, por aqueles bairros fuliginosos onde o
15
Fonte: Acervo Casa Guilherme de Almeida, São Paulo. A nota ao leitor data de 1962, ―na celebração
do ano XL da Semana de Arte Moderna‖.
36
canto de vapor das usinas abafa a voz dos sinos e não dá tempo
a futilidades – na grande cidade cosmopolita, honesta,
trabalhadora, abastada, que tem mais o que fazer, ainda se
comenta, ainda se discute, ainda se critica a Semana de Arte
Moderna. Por quê? Por quê? Que houve ali de tão
extraordinário ou de tão vulgar, de tão excelente ou de tão
detestável, de tão belo ou de tão horrendo, para impressionar
assim uma cidade indiferente do dinheiro e do conforto? Então
aqueles ―mocinhos inconscientes‖ tiveram mesmo essa força
desconhecida, esse poder imprevisto de sacudir com suas
frioleiras a apatia do grande centro? Mas se foi só um desastre,
uma calamidade, uma palhaçada a tal ―Semana‖, como é que
ainda há quem se preocupe com ela? – É que a ―Semana‖, o
movimento, tornavam-se centrais: – centrífugos para os seus
autores, centrípetos para os seus espectadores (ibidem).
Quintana sobre o evento: ―Achei que ele [Guilherme de Almeida] ‗dizia bem‘, era
bonito ouvi-lo declamar, só isso‖ (p. 243). Dessa maneira, infere-se que a presença do
poeta com as hipóteses para revelar o Brasil através da poesia não teria convencido ou,
simplesmente, não o impressionado. Nesse sentido, Solange Yokozawa (2007)
apresenta outra versão do mesmo fato, ressaltando divergências na recepção das
conferências. Ela estuda as relações existentes entre a arte propagada em São Paulo,
principalmente depois dos festejos da Semana e as obras gaúchas de expressão
moderna, em concordância com as especificidades do local e diferente perfil dos grupos
que se formavam na região. Segundo a autora, por intermédio do depoimento do poeta
Augusto Meyer, a ida do poeta de Messidor para a capital gaúcha ―[...] unificou,
fortaleceu e incentivou o movimento no estado‖ (p. 34).
A boa recepção da conferência em Porto Alegre poderia ter desencadeado em
uma nova ―rede de sociabilidade‖. A aproximação de Guilherme de Almeida com os
intelectuais gaúchos possibilitou, entre outras formas de intercâmbio cultural e
sedimentação dos ideais modernistas no terceiro estado brasileiro mais industrializado, a
publicação de uma revista de arte intitulada Madrugada. Assim como apontara
Annateresa Fabris (op. cit.), a temática da cidade seria evocada pelo nosso modernismo
como cenário propicio à modernização. Dessa forma, a urbanização teria sido eleita
pelos intelectuais da revista gaúcha como espaço de discussão e apropriação da ―nova
arte‖. O seu nascimento ocorreu a partir de reuniões no Café Colombo, frequentado por
jovens intelectuais de classes média e alta na grande Porto Alegre. Faziam parte de seu
―grupo‖ Theodemiro Tostes, Augusto Meyer, Miranda Neto, João Santana e J. M. de
Azevedo Cavalcanti. Esse último, além de assinar ao lado dos outros nomes citados a
direção da revista, também era o responsável por mantê-la financeiramente. Segundo
Cida Golim e Paula Ramos (2007), ―[...] quando o poeta Guilherme de Almeida visita
Porto Alegre em setembro de 1925, dentro da sua turnê de divulgação do Modernismo
no País, encontra um grupo atualizado de escritores, conscientes e críticos em relação às
propostas de renovação estética‖ (p. 6). Sendo assim, percebe-se a relevância da figura
do poeta de Messidor na propagação dos ideais modernos em outras capitais brasileiras.
As revistas foram peça-chave nesse processo e a colaboração do poeta para outras
publicações coletivas se atenuou nos anos seguintes.
Em janeiro de 1926, Guilherme de Almeida publicou o poema ―Pijama‖ nas
páginas de A Revista, fundada pelo poeta Carlos Drummond de Andrade. Essa
composição chamaria particular atenção por conter uma referência textual expressa à
39
Índia, além de trazer para o primeiro plano a reflexão sobre a tensão entre o ócio e
atividade. No mesmo ano, em fevereiro, publica uma espécie de música, com um refrão
que se repete: ―Modinha do pernilongo‖ estampou a primeira página de Terra Roxa e
Outras Terras (ano 1, número 2). As imagens da família, recordações de infância e
descrição de uma cena em que os parentes se reúnem para tirar uma fotografia estão
presentes em ―L‘oiseau Bleu‖. Esse texto poético, dedicado a Henrique de Resende e
Rosário Fusco, foi enviado para publicação em Verde (ano I, n.4, novembro de 1927),
dos jovens de Cataguazes., interior de Minas Gerais. Em maio de 1928, o texto ―Fome‖
foi publicado na polêmica Revista de Antropofagia (ano 1, número 1). Por fim, dedica
um famoso poema a Renato Almeida: ―A rua das rimas‖ estampou as páginas de
Movimento Brasileiro, em março de 1929.
O panorama da contribuição de Guilherme de Almeida em meio às publicações
periódicas da década de 1920 foi feito para sinalizar a importância dessa figura
enquanto agente aglutinador de ideias e pessoas e sua relevância no debate que se
propagava por meio das revistas. Diante de tudo o que foi exposto, algumas
considerações: como forma de pregar o novo em meio à euforia e utopia de ruptura
anárquica com as formas dominantes na arte, as vanguardas europeias conseguiram
difundir as suas ideias e técnicas artísticas. Seus manifestos e obras representativas
atravessaram o Atlântico e foram incorporados por diversos grupos, chegando ao Brasil.
Por sua vez, um país de dimensões continentais não responderia de forma única
às reformas políticas, ao avanço tecnológico, ascensão de uma classe média com
interesses culturais definidos e influências estrangeiras no tocante ao fazer artístico.
Sendo assim, o estudo das publicações periódicas que surgiram como resposta às
questões erguidas nesse cenário, se constitui como caminho imprescindível para o
pesquisador que deseja compreender as diversas configurações estéticas que foram
difundidas na década de 1920. A análise das fontes configura material essencial para
lançar luzes sobre a obra de ―grandes escritores‖ que atuaram decisivamente na
construção de mais um episódio em nossa história cultural, desde a sua gênese.
No caso específico de Guilherme de Almeida, constatou-se que sua presença se
fez notada, comentada e divulgada em meio aos pilares de um modernismo que ajudara
a erguer. O artista esteve envolvido ativamente em questões de ordem política e estética
de seu tempo com produções nas áreas de tradução literária, jornalismo e prática da
advocacia. Sua poética foi construída com base no ritmo nos versos, tal qual expresso
em sua própria fala. Opções que valorizam a sonoridade das palavras foram empregadas
40
com afinco em boa parte de seus textos literários. Publicada em revistas, sua poesia
constitui-se como aquela que oferece, por meio do aspecto grupal a qual está
inevitavelmente vinculada, um novo caminho de interpretação e leitura. Mais do que
romper com o que vinha sendo realizado na poesia brasileira, o poeta parecia mais
preocupado em lançar os fundamentos de seu próprio caminho do que nadar sob o
mesmo curso de seus contemporâneos. A análise de suas composições, bem como
informações relevantes sobre as revistas que as abrigaram serão apresentadas no
capítulo seguinte.
41
2. Poesia em revistas
Sobre a saudade
1
Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros/USP – Fundo Mário de Andrade, MA – C- CPL, 5221 apud
SILVA, Ana Maria Cardoso e. ―Cartas sobre Klaxon‖. In: Remate de Males. v. 33, 2013. p. 355-406.
Disponível em: revistas.iel.unicamp.br/index.php/remate/article/download/4031/3528. Acesso em
03/05/2016.
44
Quando a sede
pôs um beijo seco, de fogo, em minha boca,
eu estendi meus lábios para a argila fosca:
- e o reflexo branco de uma estrela gelada
Boiava na superfície da água exilada.
2
ALMEIDA, Guilherme de. Ritmo, elemento de expressão. São Paulo: Tipografia Garraux, 1926. NOTA:
A edição consultada foi gentilmente cedida pelo Museu Casa Guilherme de Almeida, em arquivo Word e
digitalizada manualmente. Sendo assim, a referência às páginas, em todo esse trabalho, será feita
conforme a disposição do documento no programa.
45
3
Todas as transcrições fonéticas deste trabalho foram feitas conforme a variante padrão do português de
São Paulo, de acordo com o dicionário fonético do Instituto de Linguística Teórica e Computacional
(ILTC). Cf. o link: www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=fonetica. Acessos regulares desde
setembro de 2016.
46
noturna‖, ―argila fosca‖, ―estrela gelada‖ e ―água exilada‖) e seriam indícios de uma
descrição detalhada de uma cena que se desvenda a cada linha, como que camadas de
tinta que compõem um quadro. Os elementos da natureza provocam sensações no
sujeito poético, expresso claramente a partir do segundo verso. Nos primeiros, o leitor é
conduzido a um vale profundo, o qual estaria em vias de transformação: ―Na madrugada
toda rósea,/ eu desci ao fundo do vale verde‖. A madrugada não era completamente
escura, com tons que se aproximariam do roxo ou azul. A descrição da cor do ambiente
permite a inferência de que a ação do eu lírico teria ocorrido ao amanhecer ou
momentos antes da transição completa da noite para o dia. O vale profundo seria, dessa
maneira, ―enfeitado‖ por um nevoeiro (―bruma‖) que envolve o âmbito no qual o eu
lírico se posicionou para encher o seu ―cântaro de argila porosa/ numa água noturna,/
que foi o espelho das estrelas‖. A água, durante a noite, foi comparada ao ―espelho‖ que
refletiria a imagem das estrelas no ―fundo‖ de um ―vale verde‖. Prudente de Moraes,
neto (1925), em artigo veiculado no primeiro número de Estética, refere-se a Guilherme
de Almeida como um poeta ―subjetivo por excelência‖ (p. 92). A expressão dessa
subjetividade pode ser conferida através da observação da segunda estrofe do poema.
Ela foi iniciada com a conjunção temporal ―quando‖ e, da forma como
empregada, daria à segunda estrofe do poema um traço narrativo que teria sido aliviado
na primeira, essencialmente descritiva. A sede personificada aparece como a
responsável por conduzir o sujeito poético ―ao fundo do vale verde‖. A escassez de água
no ―cântaro de argila porosa‖ o teria conduzido às águas noturnas. Essa necessidade
humana seria transposta como um ―beijo seco, de fogo‖. No momento em que há a
sensação do beijo em seus lábios, o eu lírico estende-os ―para a argila fosca‖. Na
superfície da água contida em seu cântaro existe o ―reflexo branco de uma estrela
gelada‖. Esse astro luminoso estaria gelado e a percepção de sua existência se limitaria
ao ―reflexo branco‖ acomodado em um vaso de argila. Nesse ponto, veremos como a
imagem do vaso fora empregada em outras duas composições. A primeira foi publicada
por Alberto de Oliveira (1857-1937):
Vaso Grego
O Vaso
4
OLIVEIRA, Alberto de. ―Vaso Grego‖. In: Poesias completas de Alberto de Oliveira (volumes I, II e
III). Rio de Janeiro: Núcleo Editorial UFRJ, 1978-1979 apud Antologia da poesia parnasiana brasileira.
Organização, notas, prefácio e fixação de texto de Pedro Marques. São Paulo: Companhia Editora
Nacional: Lazuli Editora, 2007. p. 85.
5
ALMEIDA, Guilherme de. ―O vaso‖. In: A frauta que eu perdi (Canções Gregas) (Toda a Poesia, tomo
IV). São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1952. p. 25-6.
48
6
A REDAÇÃO. ―Significação‖. In: Klaxon: mensário de arte moderna, nº 1, 15 de maio de 1922. p. 2.
Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/bitstream/handle/1918/01005510/010055-
1_COMPLETO.pdf. Acesso em 20/10/2016.
50
movimento que, àquela altura, ecoava os primeiros sons da buzina. Sendo assim, através
da exposição desse poema, percebemos Guilherme de Almeida e, por extensão, todos os
intelectuais reunidos em torno daquela uma publicação, supostamente negaram a
tradição. O barulho ecoado pela revista não traria somente gritos de guerra em direção
ao futuro, mas tons de valorização ao legado intelectual deixado pelos artistas do século
XIX.
O próximo tópico trará a leitura de outra composição publicada em Klaxon, ―Os
discóbolos‖.
*
Os discóbolos
54
Todos os olhos
seguiam-no na trajetória efêmera e aérea
e ficavam acesos
do fogo metálico do pequeno sol.
E nem viam o outro sol - o verdadeiro - porque ele era
inatingível e parecia menor.
Maxixe
O chocalho dos sapos coaxa
como um caracaxá rachado. Tudo mexe.
Um vento frouxo enlaça uma nuvem baixa
fofa. E desce com ela, desce.
E não a deixa e puxa-a como uma faixa
e espicha-a e enrolam-se. E o feixe rola
e rebola como uma bola
na luz roxa
da tarde oca
boba
chôcha8.
O ―pequeno sol‖, como ―a flecha do arco forte‖ faz com que todos os presentes
sigam a ―trajetória efêmera e aérea‖ do objeto à medida que são ―acesos‖ de seu ―fogo
metálico‖. Esse objeto fez com que os outros nem percebessem o sol que, na primeira
parte, era ―violento‖ e iluminava a ―poeira olímpica do circo‖. Qual a razão de tamanho
distanciamento? A resposta poderia ser vista se nos atentarmos para o fim do penúltimo
verso e início do último: ―ele era inatingível e parecia menor‖. A questão do tamanho
7
ANDRADE, Oswald de. Literatura Contemporânea. In: Jornal do Comércio (edição de São Paulo) – 12
de junho de 1921. apud BRITO, Mário da Silva. História do Modernismo Brasileiro: antecedentes da
Semana de Arte Moderna. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1964. 2ª edição. p. 242.
8
ALMEIDA, Guilherme de. ―Maxixe‖. In: _____. Meu (Toda a Poesia, tomo V). São Paulo: Livraria
Martins Fontes Editora, 1952. p. 166.
56
estaria essencialmente ligada à possibilidade do toque. O sol poderia ser ―violento‖, mas
diante da impossibilidade de contato, se tornaria menor quando comparado ao disco
lançado pelos ―discóbolos‖.
O tema para a composição não teria sido escolhido em vão. Se o poeta pretendia,
entre os anos de 1921 e 1922, lançar uma coletânea na qual os poemas representassem
as ―canções gregas‖, os Jogos Olímpicos ganhariam força. Em 1920, após dois anos do
fim da primeira Guerra Mundial e um hiato na competição, os jogos foram retomados
na Bélgica, mais precisamente em Antuérpia. Klaxon tinha nesta cidade um
representante, Roger Avermaete, e o endereço da correspondência fora reproduzido
antes do sumário da terceira edição: ―Avenue d‘Amèrique, n. 160‖. Curiosamente, foi
nessa ocasião a estreia do Brasil nos jogos, com três vitórias na modalidade de tiro:
Guilherme Paraense conquistou o ouro e Afrânio da Costa foi premiado com a medalha
de prata através do tiro livre com pistola; os dois primeiros atletas se uniram a Sebastião
Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade e trouxeram ao país a medalha de bronze na
categoria de equipes9. Esse fator histórico e, portanto, externo à produção literária teria
sido recuperado na composição do poema, demonstrando que os jogos oriundos da
Grécia, em Guilherme de Almeida, continham elementos nacionais. O tiro, esporte que
premiou brasileiros durante a estreia, é ágil, veloz, como o disco lançado pelos atletas
no poema. Seguindo esse raciocínio, as cores poderiam ser associadas às medalhas: na
primeira estrofe, há o ―sol violento‖, brilhante como a medalha de ouro e um ―sol de
bronze‖, mesmo aspecto da recompensa oferecida ao terceiro lugar; caminhando para o
fim do texto, somos apresentados à ação do ―fogo metálico do pequeno sol‖. O metal
presente no fogo que envolve o disco, nesse sentido, seria como a medalha de prata.
Sendo assim, a competição adquiriria uma nova importância, tanto para os que
lançavam os discos, quanto para o público presente. O sol que iluminava o circo,
―inatingível‖, ―parecia menor‖ diante da efemeridade da trajetória trilhada pelo disco no
ar. Como na cena de um filme, em câmera lenta, no qual todos os olhos se voltam para
uma única ação, os ―discóbolos‖ e torcedores admiravam o movimento do disco depois
de terem os seus olhos ―acesos/ do fogo metálico‖.
Retomando a fala de Marcelo Tápia, ao destacar a ―construção‖ como principal
sinônimo para ―revolução‖, seria possível afirmar que a publicação de poemas de
9
Cf. o relato completo dos jogos bem como o quadro de medalhas em:
http://olimpiadas.uol.com.br/historia-das-olimpiadas/antuerpia-1920/. Acesso em 10 de novembro de
2016.
57
As cortesãs
Das três estrofes que o compõem, duas possuem quatro versos e a última seis.
São quatorze versos, ou seja, a mesma estrutura do soneto. As diferenças dizem respeito
59
à falta dos dois tercetos e ao posicionamento das rimas. No texto, elas são ora alternadas
(AABB), emparelhadas (CDDC), ora alternadas e emparelhadas (EFEFGG). Há a
predominância de palavras paroxítonas encerrando cada verso. O ritmo é estabelecido a
partir do emprego dos sons nasais (―poente‖ /pwˈẽj.tʃi/, ―junto‖ /ʒˈũ.tʊ/) /s/ (―passam‖
/ˈpa.sam/) e /z/ (―ocaso‖ /ɔ.kˈa.zʊ/), sobretudo nas duas primeiras estrofes: ―Elas
passam no poente, junto ao cais. Seus vultos‖ [...] ―As cortesãs passam no ocaso cor de
malva‖. Nesse texto, há a junção entre o ritmo e as imagens. Octávio Paz (2015), ao
tecer comentários sobre a fronteira existente entre a prosa e a poesia, esclarece: ―Ritmo,
imagem e significado se apresentam simultaneamente em uma unidade indivisível e
compacta: a frase poética, o verso‖ (p. 13). Esse trabalho com a sonoridade justificaria o
que Oswald de Andrade dissera sobre as ―Canções Gregas‖, alegando que a única
restrição de Guilherme de Almeida à arte nova na poesia seria a ―conservação da rima‖,
a qual seria a ―única corda [acrescentada] à lira grega‖ (idem, ibidem). Assim como
ocorrera em ―Os discóbolos‖, o título do poema em questão traz um substantivo pouco
utilizado na contemporaneidade: ―cortesãs‖. Sendo assim, um breve esclarecimento
sobre a palavra empregada pode ser uma boa porta de entrada no texto literário.
Silvana Ruffier Scarinci (2008) esclarece a etimologia do termo ao afirmar que,
durante o século XVI na Europa, tornar-se uma cortesã representava um processo de
―exclusão social‖. Completa: ―[a] mulher que professa este negócio é chamada na
língua italiana de Cortezana, palavra que é derivada do italiano cortesia, que significa
courtesie. Porque este tipo de mulher é conhecido por receber cortesia de seus
favoritos‖. E acrescenta: ―[...] o que as diferenciava das prostitutas comuns era o fato de
buscarem para si uma educação cortigiana – da corte – que as elevasse ao nível
intelectual dos homens com quem almejavam conviver‖ (p. 142). A observação do
poema conduz o leitor a um ambiente diferenciado, sobretudo, pelo relacionamento da
natureza com as ―cortesãs‖. O ―Amor Cortês‖, tal qual compreendido nas composições
dos trovadores da era medieval foi apresentado por José de Assunção Barros (2008):
―[...] foi tão bem traduzido pelas cantigas trovadorescas de amor e pelos romances
corteses do período medieval, não raro podia levar ao desespero, à paixão desmedida, ao
desejo de morte diante da impossibilidade de realização da união com a mulher amada10
10
BARROS, José D‘Assunção. Os trovadores medievais e o amor cortês- reflexões historiográficas. In:
Revista de História, ano 1, volume 1, nº 1, abril/maio de 2008. Disponível em:
http://www.miniweb.com.br/Historia/artigos/i_media/pdf/barros.pdf. Acesso em 15/11/2016.
60
(p. 2). O autor aponta para a não concretização desse amor, tal qual expresso na relação
do sol com o grupo de mulheres.
Na primeira estrofe, as ―cortesãs‖, quando passam pelo cais no pôr-do-sol,
pareceriam ―grandes aves‖. Os seus semblantes e as partes que compõem seus
vestuários fornecem elementos para a comparação: a forma de seus corpos, em
movimento, parecia voar (―vultos/volantes‖); unidos aos ―estrófions curtos, / azuis,
dourados e lilases‖ que estariam cingidos em seus seios, seus ―vultos‖ seriam ―leves e
sutis‖. A delicadeza e agilidade – com o possível movimento das cores nos ―estrófions‖
– fariam delas ―grandes aves‖. A passagem da figura amada como um vulto também foi
expressa no Livro de Horas de Sóror Dolorosa (1920). Não por acaso, Sóror é descrita
como ―a que morreu de amor‖:
Pela alameda
Ainda ontem vi passar pela quieta alameda
um longo vulto silencioso e louro:
ia dizendo adeus, como um lenço de seda,
sob o trêmulo adeus das folhas de ouro.
Azul
[...]
O céu
é um grande linho muito passado no anil
que o vento enfuma num varal de vidro. Ele é o
toldo azul de um bazar
onde brinca vestido de ar
um clown elástico, ágil e sutil
Amarelo
Todas as acácias estão floridas.
Pendentes para o chão suas mãos hirtas
tem cachos de anéis de topázios violentos.
O sol é uma bola de enxofre fervendo
pondo empolhas
redondas como gemas de ovos entre as folhas
das laranjeiras.
Na gaiola de ouro
um canário pálido trila um pio fino
frio como um fio de ouro.
Roxo
Na paisagem litúrgica as coisas estão vestidas
de malva de lilases de violetas de heliotrópios
como os longos, longos corpos
dos santos na quaresma. [...]12
12
ALMEIDA, Guilherme de. ―Arco-Íris‖. In: Meu (Toda a Poesia, tomo IV). São Paulo: Livraria Martins
Fontes Editora, 1952. p. 145-9.
13
Segundo http://www.dicio.com.br/malva/. Acesso em: 03/06/2016.
62
A Iara
Último Porto
14
BILAC, Olavo. ―Iara‖. In: _____. Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997 apud RIBEIRO,
Maria Goretti. ―Divinas mulheres de papel: imaginário do desejo masculino na poesia‖. In: Revista
Interdisciplinar. Ano X, v. 22, janeiro a junho de 2015. p. 245-256. Disponível em:
http://www.seer.ufs.br/index.php/interdisciplinar/article/viewFile/3846/3247. Acesso em: 22/10/2016.
63
O sorriso
15
CORREIA, Raimundo. Poesia Completa e Prosa. Texto, Cronologia, Notas e Estudo Biográfico de
Waldir Ribeiro do Val. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1961 apud Antologia da poesia parnasiana
brasileira. Organização, notas, prefácio e fixação de texto de Pedro Marques. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 2007. p. 128.
16
ALMEIDA, Guilherme de. ―Sorriso‖. In: Encantamento (Toda a Poesia, tomo V). São Paulo: Livraria
Martins Fontes Editora, 1952. p. 47-8.
64
aqui representada por Raimundo Correia e Olavo Bilac. Todos os autores elencados
trabalham a sonoridade em seus textos, os quais possuem o mesmo número de versos. A
diferença, em 1922, fica a cargo do autor de Nós, com número irregular de sílabas
métricas. Seria o poeta como a cortesã em relação à poesia parnasiana? Levando a cabo
essa hipótese interpretativa, seria interessante considerar o sol como a herança
parnasiana na qual o poeta bebe para criar. Assim como as cortesãs iam para o cais no
pôr-do-sol para receber um presente de seu favorito, o poeta receberia do contato com
esses autores os elementos para adornar o seu texto. Sendo assim, a joia que canta ―um
canto fino de ouro‖ seria o próprio poema, essencialmente rítmico e, portanto, com
características musicais. Já foi exposto o quanto o poeta fora admirador da poesia
parnasiana e, a publicação desse texto nas páginas de Klaxon reforçaria a construção de
um modernismo sob bases muito sólidas, as quais alicerçavam as produções dos artistas
da década de 1920.
O próximo tópico diz respeito à leitura de ―Mormaço‖, publicado no último
número de Klaxon.
*
A última edição de Klaxon trouxe a público os números oito e nove
correspondentes aos meses de dezembro de 1922 e janeiro de 1923. A capa cinza trouxe
o ―A‖ em caixa alta e os números na cor vermelha. Todos os textos foram dedicados a
Graça Aranha. A justificativa foi apresentada na última página: ―Este número de
KLAXON é dedicado a GRAÇA ARANHA. Significa toda a alegria de havermos
encontrado em nosso caminho um espirito tão belo e tão alto, que soube sorrir para nós,
emprestando-nos um pouco do seu entusiasmo para multiplicar o nosso‖. Logo abaixo,
lemos: ―O atraso deste número é devido exclusivamente a greve dos gráficos em São
Paulo‖ (p. 32). O próprio escritor de Canaã assinou o texto de abertura, ―Ins‖ (p. 1);
Ronald de Carvalho contribuiu com ―Graça Aranha, criador de entusiasmo‖ (p. 2-3);
Renato Almeida escreveu ―A estética de Malazarte‖ (p. 3-4); Motta Filho assinou ―O
psicólogo da raça‖ (p. 5-7); Rubens de Moraes colaborou com ―Graça Aranha e a crítica
europeia‖ (p. 7-9); Luiz Aníbal Falcão dissertou sobre A Estética da Vida em ―Assim
ele compõe‖ (p. 10-1); Serge Milliet publicou os versos ―Noel‖ (p. 12-3); Mário de
Andrade, por sua vez, expôs o ―Poema Abulico‖ (p. 13-5); A colaboração de Madrid
por parte de Guillermo de Terro foi expressa na página 16 com ―Atmósfera‖. Ainda na
seção de poemas, Carlos Alberto de Araújo assinou a composição de ―Paz Universal‖
(p. 17-8) e Luís Aranha ―Projetos‖ (p. 18-9); A. C. Couto de Barros participou em
65
seguida com ―A extraordinária história da mulher que se tornou infinita‖ (p. 20-1);
Nicolas Beuadin aumentou a lista de colaborações estrangeiras com ―La poésie moderne
a-t-elle besoin d‘une nouvelle techinique‖ (p. 22-3); L. Charles-Baudouin assinou
―Revivescences‖ (p. 24-6); A seção ―Crônicas‖ trouxe a colaboração de A. C. Couto de
Barros (p. 26-7) e Mário de Andrade (p. 27-30). Por fim, a coluna ―Cinema‖ foi
assinada por A. e ―Luzes & Refrações‖, desta vez com o subtítulo ―Na redação de
Klaxon‖ não foi assinada (p. 31-2).
Logo abaixo do texto de Aníbal Falcão, na página onze, foi publicado o poema
―Mormaço‖, o qual, a partir de 1925, viria a ser incluído em Meu. O texto poético, cuja
fonte utilizada foi diferente da empregada em outras partes de edição, apareceu em
negrito e, logo abaixo do título lemos: ―(Para GRAÇA ARANHA)‖. Ao fim, no canto
inferior direito, o nome do poeta em negrito e caixa alta. Os versos não sofreram
alteração alguma no cotejo das edições que o abrigaram posteriormente. Abaixo, a
reprodução tal qual nas páginas de Klaxon:
Mormaço
São dozes versos livres reunidos em estrofe única; em Meu, ―Mormaço‖ foi
disposto em duas estrofes de seis versos cada. A disposição das rimas, mais uma vez,
assim se apresenta: AABB (emparelhadas); CDCDEFEF (intercaladas). Há rimas
consoantes (―palmeiras‖ e ―bananeiras‖). Há a repetição de algumas consoantes, fator
causador da aliteração, como no verso: ―Todas as coisas são mais reais, são mais
humanas‖. Nesse ponto, sonoridade alcançada abrange os sons de /s/ e /z/ na marcação
do plural (―são‖ /sˈəw
̃ / e ―coisas‖ /kˈoj.zəs/). Em outro verso, há assonância: ―Apenas as
taturanas‖, explorando os fonemas da primeira vogal (―apenas‖ /a.pˈe.nəs/, ―taturana‖
66
Segundo o autor de Nós, a língua produz ritmos variados por conta de sua
essência polifônica. Sendo assim, tudo pode ser expresso por meio do ritmo da língua
portuguesa. Nos primeiros versos, há a alternância entre as consoantes nasais e o plural
na construção de um ambiente quente e iluminado: ―Calor. E as ventarolas das
palmeiras/ e os leques das bananeiras/ abanam devagar,/ inutilmente, na luz
perpendicular‖. A natureza exprime as suas forças em oposição, uma vez que o vento
produzido pelas palmeiras e bananeiras não consegue aliviar o calor potencializado pela
luz. Um ambiente iluminado, com uma ―claridade‖ latente também foi tema de outra
composição presente em Meu:
A hora propícia
Resolana
O mormaço é a fumaça da macega.
Treme o longe diluído na quentura
O boi desce a recosta em procura da sombra
mas para logo, abombado.
Lá no alto, voando, bebendo o azul,
subindo sempre – urubu.
Feliz...
O calor queima a terra, ferve no ar.
(Memória de marulhos
gosto de espuma limo areia branca)
A cabeça do alazão é uma chama esbelta
cortando o campo a trote largo.
Vejo as orelhas agudas que se movem,
sinto o corpo fremente do cavalo.
O calor seria capaz de queimar a terra e ferver o ar, além de deixar o urubu feliz.
O eu lírico segue, ―enrolado na força do sol‖, na relação com o ―choque dos cascos‖ e o
seu tronco ―agitado na vibração febril‖. No ambiente criado por Guilherme de Almeida,
só há espaço para lagartas, cujos movimentos são como de suor escorrendo na grama
que queima: ―Apenas as taturanas/ escorrem quase líquidas/ na relva que estala como
17
ALMEIDA, Guilherme de. ―A Hora Propícia‖. In: Meu (Toda a Poesia, tomo IV). São Paulo: Livraria
Martins Fontes Editora, 1952. p. 162-3.
18
MEYER, Augusto. ―Resolana‖. In: Revista de Antropofagia, ano I, número I, maio de 1928. p. 2.
Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/060013-01. Acesso em: 03/01/2017.
68
um esmalte‖. Ao longe, somente uma ―araponga metálica‖ consegue bater o seu ―bico
de bronze‖. Em ―Casa de joias‖ (1925), o poeta atribui características semelhantes, ao
unir o material utilizado na fabricação dos ornamentos com as peças confeccionadas:
Casa de joias
[...]
Lagartas cor de flama
enroladas como pulseiras de âmbar loiro,
aranhas de ágata tecendo filigranas de platina,
gafanhotos de jade verde, borboletas
de madrepérola, besouros
quietos de esmalte, vespas
furiosas de mica, taturanas flácidas
de opalas molengas e pálidas.
E esta cobra-coral:
que lindo colar de coral!
Cateretê
Batuqe
bate-pé
saracoteio.
Pulam pingos brutos pelas telhas pardas;
batem as gotas tontas do aguaceiro
nas folhas lapidadas como esmeraldas.
Pingam
saltam
bolem
bailam bolas brancas
de água na vidraça como contas de miçanga.
[...]
69
Samba
[...]
E o samba
rebenta
retumba
rebomba.
E bamboleando em ronda
dançam bandos tontos e bambos
de pirilampos19.
O som do bico de bronze ecoa na atmosfera que é caracterizada pelo som de uma
―última romântica‖. Nesse sentido, seria interessante ressaltar a descrição que o poeta
fez a respeito dos ―românticos‖, em seu livro póstumo (2010):
Os Românticos
Míticos
místicos,
límpidos
ímpetos,
lívidos
ídolos,
dignos
signos,
líricos
tísicos20.
19
_____. ―Cateretê‖ e ―Samba‖, In: Meu (Toda a Poesia, tomo IV). São Paulo: Livraria Martins Fontes
Editora, 1952. p. 167-8.
20
_____. ―Os Românticos‖. In: Margem. São Paulo: Annablume; Casa Guilherme de Almeida, 2010. p.
38.
70
ser percebido em cada lugar que os artistas estivessem reunidos para discutir os rumos
do movimento ao mesmo tempo em que construíam suas próprias carreiras enquanto
homens de letras. A revista era o espaço ideal para a publicação dessas discussões e as
publicações denotam que as múltiplas vozes tornavam calorosas a atmosfera dos cafés e
outros locais de sociabilidade. O calor oriundo das ideais e empolgação com as
novidades que surgiam, em alguns momentos, impossibilitava a ação daqueles que se
puseram contra a nova estética, da mesma forma que as ―palmeiras e os leques das
bananeiras‖ não conseguiam deter a temperatura potencializada pela ―luz
perpendicular‖. Mesmo algo que, à época, estava sacralizado e com as raízes muito bem
definidas (como a palmeira), não conseguia impedir a luz de tornar tudo a volta mais
real e mais humano. Não haveria espaço para uma descrição científica ou mesmo
idealizada da natureza. O bico de bronze da araponga metálica, através da escrita
rítmica, torna-se resistente e, por isso, sobrevive e se destaca em meio ao desconforto.
No tocante ao sentido e à oportunidade dos poemas de Guilherme de Almeida
nas revistas do modernismo, seria possível estabelecer uma relação mais profícua entre
―Mormaço‖ e Canaã, de autoria do homenageado nas páginas de Klaxon. Ao trazer ao
primeiro plano o olhar do estrangeiro através da imigração de dois jovens alemães, há a
valorização da natureza, a qual teria um papel essencial na narrativa, inclusive sendo
apresentada com cores exuberantes. Nesse sentido, o poema em questão, ao mencionar
uma ―araponga‖, ―as ventarolas das palmeiras‖, ―o leque das bananeiras‖ e a ―atmosfera
timpânica‖, estaria direcionando um olhar lírico para a obra de Graça Aranha,
dialogando com esse traço estético em específico21. Dessa maneira, o poeta não
demonstraria apreço pelo legado do autor somente através de uma dedicatória no texto
literário. Sua visão crítica de uma descrição romântica da natureza resgataria, de certo
modo, elementos utilizados recorrentes na obra citada.
No próximo tópico, será apresentada a leitura de ―O fogo na montanha‖,
presente nas páginas de Árvore Nova (1923).
A revista Árvore Nova foi veiculada a partir do Rio de Janeiro e era dirigida por
Rocha de Campos e Tasso da Silveira. Esse último poeta congregou ao seu redor um
grupo de artistas comumente conhecido como ―espiritualistas‖ (GOMES, 1999). Como
21
Possível relação estabelecida pelo Prof. Dr. Marcos Antonio de Moraes, durante o exame de defesa.
71
22
A referência diz respeito aos três exemplares presentes no Instituto de Estudos Brasileiros (USP) e
disponibilizados no site da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, através do link:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=359483&pasta=ano%20192&pesq=. Acesso em
15/04/2016.
72
Rocha Pombo e Peregrino Júnior. Sua matéria é estritamente literária, com a divulgação
de poemas, crônicas, resenhas, críticas de livros e pequenas inserções de gravuras. Na
edição em questão, há uma ilustração sem título, de João da Silva. Nas últimas páginas,
após o endereço de sua redação, lemos: ―Árvore Nova só publica inéditos23‖ e
testificamos a necessidade de negociação para que um texto viesse a integrar um de seus
números: ―Anúncios e demais publicações mediante prévia combinação‖. América
Brasileira, outra publicação periódica do Rio de Janeiro, na seção de ―avisos‖, noticia o
lançamento de uma nova edição da revista de Rocha de Campos e Tasso da Silveira, em
março de 1923: ―Este interessante mensário de arte e literatura [...] apresenta mais um
número, que lhe assegura o maior triunfo das nossas letras24‖. A citação evidencia a
circulação da literatura por meio dos periódicos, antes mesmo da reunião definitiva das
composições em livro. A revista reproduzia, na coluna ―Árvore Nova e a imprensa‖,
comentários veiculados em jornais e revistas acerca do que era publicado em suas
páginas.
O poema de Guilherme de Almeida ocupou a página nove de Árvore Nova,
depois do conto ―Filosofar Acreano‖, de Carlos de Vasconcelos e antes do poema
―Clamor‖, de Arnaldo Damasceno Vieira. ―O fogo na montanha‖ foi reunido, assim
como outras três composições veiculadas em Klaxon, no livro A frauta que perdi
(1924). Logo abaixo do título da composição, temos a indicação do subtítulo do
conjunto de poemas que estava sendo preparado: ―(Das <<Canções Gregas>>)‖. Esse
livro faz parte do tomo IV de Toda a Poesia, organizada pelo próprio poeta e publicada
pela editora da Livraria Martins Fontes (1952). O texto poético também compõe a
antologia estabelecida por Carlos Vogt (2001), na seção que abarca a ―segunda fase: o
espírito moderno‖. Nessas duas últimas referências, o poema foi disposto em uma única
estrofe. No entanto, fez-se a opção de manter as duas estrofes originais, em uma
tentativa de reproduzir o texto tal qual fora veiculado pela revista.
O fogo na montanha
23
Embora não haja numeração, a informação encontra-se nas últimas páginas do periódico, antes da seção
―Anunciantes‖. Disponível para consulta no site da Hemeroteca Digital, através do link:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=359483&PagFis=142&Pesq=. Acesso em
20/04/2016.
24
América Brasileira, ano II, n. 15, março de 1923. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=158089&PagFis=0&Pesq=. Acesso em
20/04/2016.
73
dois primeiros versos: ―Os pastores haviam feito, / de noite, um grande fogo na
montanha‖. O ambiente precisava de luz e calor. A caminhada poderia ter sido longa,
fator que contribui para o entendimento do terceiro e quarto versos: ―Eles tinham os
braços cruzados no peito/ e estavam sentados na sombra incerta,‖. Não se
comunicavam, ―olhavam o fogo, e ouviam a história‖. A incerteza da ―sombra‖ na qual
todos os pastores estavam sentados poderia ter sido gerada pela ação do vento, que
movimenta as chamas e, por consequência, as sombras dos pastores.
Por se tratarem de homens do campo, certamente estariam familiarizados com o
manejo dos elementos disponíveis na natureza, bem como a necessidade do trabalho em
grupo durante a noite escura no topo de uma montanha. Se eles estavam ouvindo uma
história, precisavam de um locutor; alguém que, nesse momento, se dispusesse a atrair a
atenção dos presentes. Os pastores ―olhavam o fogo, e ouviam a história/ noturna e
estranha/ que a chama sonora,/ agitada como uma língua inquieta,/ ia contando‖. A
―chama‖ é ―sonora‖ – como todos os versos ritmados - e essa personificação confere a
capacidade de emitir um som que prende a atenção dos ouvintes reunidos em torno de
uma fogueira. Em um poema de A flor que foi de um homem (Narciso) (1925), o poeta
trouxe ao primeiro plano uma chama que espantava em um ambiente construído em
meio às sombras e o canto:
O’Phis
25
ALMEIDA, Guilherme de. ―O‘Phis‖. In: A flor que foi de um homem (Narciso) (Toda a Poesia, tomo
III). São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1952. p. 188.
75
―inquieta‖, que conta uma história. Há um paradoxo existente entre ação dos pastores,
completamente imóveis diante de uma ―chama sonora‖, associada a ―uma língua
inquieta‖ que relata algo capaz de entreter em uma noite escura e possivelmente fria. A
―chama sonora‖ da primeira estrofe compõe uma ―labareda‖. A metáfora empregada
aproximaria o movimento das chamas com o de uma ―dançarina de cabelos livres‖, a
qual dança entre os ―perfumes bárbaros de resina‖ e os ―estalos dos toros de cedro na
argila‖. Em A Frauta que eu perdi (1924), Guilherme de Almeida aponta para as cores
das faíscas e os movimentos que fazem ao redor do fogo:
A Colmeia
26
_____. ―A colmeia‖. A frauta que eu perdi (Canções Gregas) (Toda a Poesia, tomo IV). São Paulo:
Livraria Martins Fontes Editora, 1952. p. 37-8.
27
QUINTANA, Mário. ―Inscrição para uma lareira‖. In: Nova antologia poética. 12ª edição, 1ª
reimpressão. São Paulo: Globo, 2007. p. 197.
76
O ritmo, segundo esse excerto, traz vida à palavra do mesmo modo que trouxe à
pupila os olhos dos pastores. Antes da fogueira acesa, o ambiente era de total escuridão,
com pouco ou nenhum acesso à luz. A ―chama sonora‖ contava-lhes uma história e a
ação da labareda foi, através da metáfora, associada à dançarina cuja dança podia
movimentar os véus furiosamente. A partir do contato com esse fogo, a pupila passa a
preencher o vazio no olhar daqueles que acompanham o movimento das chamas. No
momento em que uma nova estética pretendia se firmar nas letras, um novo tratamento à
poesia, por meio do ritmo, seria indispensável. Seguindo esse raciocínio, a chama que
iluminava o ambiente trazia consigo os sons que também foram responsáveis pela nova
atitude vista no grupo de homens no topo da montanha. Seriam eles como os artistas
que se consideravam no auge de sua carreira literária através de práticas estilísticas
sacramentadas? Além da metrificação, o ritmo, em ―O fogo na montanha‖, contribuiu
para uma nova percepção. Dessa maneira, os poetas naqueles primeiros passos da arte
77
Estética foi dirigida por Prudente de Moraes, neto e Sérgio Buarque de Holanda.
Egressos da Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro, os dois estavam com
vinte e vinte e dois anos de idade, respectivamente. Portanto, era uma publicação
comandada por jovens que queriam, para além de causar estranhamento ou barulho,
fazer uma revisão interna do movimento modernista. A capa, em cor bege, apresenta o
título da revista em negrito e centralizado na página. A tipografia simples e sem cores
ou formas ousadas foi mantida durante os três números de existência do periódico. Na
apresentação que faz à edição fac-similada da publicação, Pedro Dantas (1974) –
pseudônimo de Prudente de Moraes, neto – salienta que o objetivo seria o de congregar
textos não exclusivamente pertencentes à esfera literária, ―[...] mas de cultura geral,
aspirando obter colaboração científica e filosófica‖ (p. 7). Mário Camarinha da Silva
organiza, na mesma edição citada, o ―Glossário de homens e coisas da Estética (1924-
1925)‖. No documento, o pesquisador reproduz um depoimento de Prudente de Moraes,
neto para o Diário Carioca, em maio de 1952:
frequentávamos (Sérgio e eu) reuniões semanais: às terças-
feiras, do Ronald de Carvalho; às sextas-feiras, do Guilherme
de Almeida [...]. E foi nesse ambiente, nesse fervor literário, de
preocupação absorvente, que me ocorreu, em 1924, fazer uma
78
A citação é crucial para a questão que este trabalho vem desenvolvendo por
meio da reunião e análise da colaboração de Guilherme de Almeida para revistas
literárias da década de 1920. A fala de Prudente de Moraes, neto evidencia a relevância
do autor de Canções Gregas enquanto agente de sociabilidade e fomento ao
desenvolvimento dos debates sobre arte moderna do período. As revistas nasciam
através dessas redes que se formavam em todo o país. Como estava residindo no Rio de
Janeiro desde o seu casamento com Baby Barroso do Amaral, o poeta recebia em sua
casa muitos artistas e intelectuais e promovia a leitura e discussão de seus poemas e de
outros autores. Em um desses encontros, provocadores de um ―fervor literário‖, a ideia
de criar uma revista teria sido discutida e aprovada entre os jovens diretores. Dantas
segue afirmando na introdução que a chamada para colaboração era feita por meio de
correspondência e destaca que o pedido a Guilherme ―[...] foi conversado pessoalmente‖
(ibidem). Com os textos chegando à redação da revista, faltava-lhes um nome. Várias
sugestões foram feitas, mas Graça Aranha sugeriu o título definitivo e a escrita do
editorial ―Mocidade e estética‖:
O generoso oferecimento do artigo de apresentação era
irrecusável. O nome de Estética... Bem, Sérgio passou algumas
noites a extrair de sua cultura, já então de opulência insondável,
uma série de tangentes por onde pudéssemos justificar esse
título. [...] A primazia da publicação do ensaio ―Mocidade e
Estética‖ (ao qual o escritor acrescentou algumas linhas em
nossa intenção) foi a recompensa de nossa renúncia. Dias
depois, recebíamos os originais manuscritos, no belo cursivo do
romancista de Canaã. Valeu a pena. Era ao menos, um nome de
imenso prestígio a nos acobertar a aventura (p. 12).
A flor de cinza
(Teoria do Amor)
voava ligeiro
Parlapatão!
como uma flecha venenosa.
sob o braço da princesa, que era um arco curvo e leve,
leve e curvo, de marfim...
E a rosa no ar...
Par-
e o guante de prata...
-la-
Um salto...
-pa-
E assim,
-tão!
lá vi o cavalo
Parla-
e o seu cavaleiro...
-patão!
Lá vão quatro nuvens baixinhas no chão...
Lá vai uma rosa vermelha na mão...
Parla-patão!
Par-la-pa-tão!
II
III
E o cavaleiro
82
Parlapatão! Parlapatão!
de esporas de prata, de plumas de neve,
voava ligeiro
Parlapatão!
como uma flecha venenosa.
E a rosa no ar...
Par-
e o guante de prata...
-la-
Um salto...
-pa-
E assim,
-tão!
lá vi o cavalo
Parla-
e o seu cavaleiro...
-patão!
Lá vão quatro nuvens baixinhas no chão...
Lá vai uma rosa vermelha na mão...
Parla-patão!
Par-la-pa-tão!
O Indiferente
[...]
Mulheres... Movem-se como uma
pluma ao vento...
Mas – ah! – quem é que empresta à pluma
movimento?
29
Debate proposto pelo Prof. Dr. Marcos Antonio de Moraes, durante o exame de defesa.
84
num instante!30
As Rosas
Rosas que desabrochais,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores
Matinais;
31
ASSIS, Machado. ―As Rosas‖. In: Obra Completa, volume II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Disponível em: http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/poesia/maps01.pdf. Acesso em 20/11/2016.
86
32
Cf. o site ―Mitos Gregos‖, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, campus Bento Gonçalves.
Disponível em: http://greciamitos.blogspot.com.br/2012/08/as-musas-erato.html. Acesso em: 23/11/2016.
87
Velocidade
as distâncias...
E dispara,
nunca pára,
nem repara
para os lados,
para frente,
para trás...
Bailado Russo
89
O complexo sonoro e o alto teor imagético, com alguns versos com maior recuo
à margem, permitem a visualização de um pião de sete cores. O mesmo ocorre no
poema publicado em Estética, o qual recorre aos sons e às cores na construção de uma
estória que remete ao conto de Charles Perrault (1628-1703), ―O Pequeno Polegar‖. A
narrativa, recolhida na tradição oral europeia em fins do século XVII, trazia como
protagonista um garoto pequeno, o qual, por conta de sua estatura, era chamado
pejorativamente como ―Pequeno Polegar‖ ou ―Polegarzinho‖. Filho de camponeses
pobres, que tinham mais seis filhos, foi abandonado na floresta com seus irmãos para
33
_____. ―Bailado Russo‖. In: Encantamento (Toda a Poesia, tomo V). São Paulo: Livraria Martins
Fontes Editora, 1952. p. 29.
90
morrer de fome. Em meio à escuridão e chuva, ele avistara uma luz que conduziu o
grupo à residência de um terrível gigante que se alimentava de crianças. Muito esperto,
o garoto observou que o gigante tinha outras sete filhas e, através da astúcia e
perspicácia, conseguiu com que elas fossem mortas em seu lugar e de seus irmãos. No
momento da descoberta do ato, o homem grande saiu em busca da família do Pequeno
Polegar calçando botas mágicas que fariam com que ele alcançasse sete léguas de
distância com um passo apenas. Outra reviravolta ocorre e traz à luz a esperteza do
menino pequeno, o qual, além de roubar as botas do gigante e salvar os irmãos da
morte, consegue retornar e levá-los de volta à casa dos pais em segurança. Por meio de
uma oportunidade em um reino vizinho, o Pequeno Polegar conquista o dinheiro que
mudaria a sorte de sua casa, proporcionando um período de bem-estar e prosperidade34.
No texto de Guilherme de Almeida, o jovem pequeno parece ser perseguido pelo
gigante. Há o contraste entre o tamanho do garoto, cuja cabeça demonstra espanto e o
homem de elevada estatura cujo vestuário faria parte do seu nome: ―Gigante das Botas
de Sete Léguas‖. No primeiro verso, a pergunta ―Não se lembram do Gigante das Botas
de Sete Léguas?‖ aponta para a seguinte hipótese: se há a necessidade de lembrança, há
a possibilidade de esquecimento. A retomada, nesse sentido, de um tema recorrente na
tradição oral e proveniente da literatura infantil seria uma das formas de impedir que
esse episódio fosse esquecido.
Os versos seguintes podem ser uma resposta à pergunta e narram as ações do
gigante, o qual percorre longas distâncias: ―Lá vai ele: vai varando, no seu voo de asas
cegas,/as distâncias‖. O ritmo é reforçado pela assonância e tons variados: (agudo: ―lá‖
/lˈa/; anasalado e decrescente com o ditongo em ―distâncias‖ /dʒis.tˈə.̃ sjəs/). Em
seguida, a disposição das palavras e reiteração sonora indicam a rapidez daquele
―pária‖:
E dispara,
nunca pára,
nem repara
para os lados,
para frente,
para trás...
Vai como um pária...
34
A paráfrase apresentada foi composta com base em: PERRAULT, Charles; PERRIN, Clotilde. O
Pequeno Polegar. Tradução de Rosa Freire d‘Aguiar. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2005.
91
Gainsborough
No vestido longo de listas nota-se o desleixo das fitas que se movimentam junto
ao corpo. Em ―Velocidade‖, o limite máximo seria atingido, provavelmente os ―96
quilômetros por hora‖ no momento em que o gigante ultrapassa o vento, o qual, mais
intenso, ―desembaraça o novelo, penteando com dedos de ar/ o feixe fino de riscas‖. A
metáfora aproxima a ação do vento com a mão que molda as riscas. O desembaraço é
visual, com um recuo da margem bem marcado à esquerda acompanhando o ritmo
acentuado pelas paroxítonas no plural. Em seguida, mais uma vez, a reiteração sonora e
disposição dos versos na página demonstram paralelismo na construção da cena:
tiras,
fitas,
faixas,
listas...
E estira-as,
puxa-as,
estica-as,
espicha-as bem para trás
Canto Matinal
35
Idem, p. 49-50.
92
[...]
Eu canto um canto matinal. Minha voz única
risca, reta, o ar frio. As guardadoras das cabras,
que vão para as montanhas,
voltam-se ao ritmo das minhas palavras.
A luz horizontal banha-as
nos olhos e nos cabelos. E todas elas
cantam um canto matinal. Seu canto é suave
como a cantiga das sereias.
E, atrás delas,
como uma nave
sobre ondas brandas,
navega o dia de velas brancas36.
O canto constrói uma linha reta, como as cores que sobem e descem. As botas
proporcionam a velocidade capaz de mover o vento que desembaraça o novelo de fitas
que o gigante levava consigo. As cores e formas se movimentam no ―voo de asas cegas‖
até descerem devagar ―sobre a cabeça espantada do Pequeno Polegar...‖. Diante do que
foi exposto, duas hipóteses interpretativas: a primeira, relacionada ao contexto de
publicação, dialoga com o grupo de Estética e a divulgação de seu primeiro número. Os
seus diretores, como fora explicitado, eram jovens e estavam empenhados na divulgação
do modernismo a partir do Rio de Janeiro. No texto de abertura, ―Mocidade e estética‖,
Graça Aranha defendeu a tese de que os jovens eram os grandes agentes de mudança.
De certa maneira, almejavam acelerar o acesso à arte moderna e propiciar seu debate.
Arte essa que traria em seu bojo vocábulos concernentes ao movimento, à síntese, à
rápida visualização e absorção do conhecimento. Esses fatores estão presentes no poema
de Guilherme de Almeida, o qual se alinha aos propósitos grupais e, de forma peculiar
imprime sua marca no heterogêneo movimento modernista.
A segunda seria formulada a partir do momento em que o novelo do gigante
começa a ser desembaraçado pelo vento. Nos últimos versos, as cores estão ―retesas‖ e
o movimento sugere a ação de uma bandeira. Levando adiante essa hipótese, seria o
gigante como os bandeirantes, os quais, entre meados do século XVI e XVIII, foram
responsáveis pela exploração das riquezas a partir das vilas de São Paulo e São Vicente?
As bandeiras, nesse sentido, eram as tentativas de captura de mão de obra escrava para a
retirada de ouro e, por conseguinte, colonização e ocupação de territórios. O Pequeno
Polegar, com a ―cabeça espantada‖ diante da velocidade das botas de ―Sete Léguas‖
36
_____. ―Canto Matinal‖. In: A frauta que eu perdi (Canções Gregas) (Toda a Poesia, tomo V). São
Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1952. p. 16.
93
poderia ser associado aos habitantes desses locais desbravados. As reticências ao final
reforçariam a intensidade dessas bandeiras e o medo causado por quem, de repente, se
deparou com elas. A partir desse ponto, passemos à colaboração do poeta para o último
número de Estética.
*
A ―revista trimestral‖ encerrou o seu expediente com uma edição que
comportava os meses de abril a junho de 1925. No ano II, volume 1, a capa ainda
apontava para a direção e administração de Prudente de Moraes, neto e Sérgio Buarque
de Holanda. O estilo das letras foi o mesmo da primeira aparição e à capa, em tons
marrons, seguiram-se os anúncios de livros, do guaraná espumante, dos chocolates
Lacta e charutos Dannemann. A matéria literária teve início com a publicação de um
longo poema de Mário de Andrade, ―Noturno de Belo Horizonte‖, dedicado a Elísio de
Carvalho (p.233-247). Escrito em São Paulo, entre 1922 e 1923, o texto ―Ônibus –
Imunização Brasileira‖, de A. C. Couto de Barros, ocupou as páginas 248 a 255. Os
poemas ―O cacto‖, ―Mulheres‖, ―Não sei dançar‖ e Pensão familiar‖, de Manuel
Bandeira, foram dispostos até a página 258. Sérgio Milliet publicou em seguida, de seu
livro Charutaria, alguns fragmentos dedicados a Tarsila do Amaral, Oswald e Mário de
Andrade (p. 259-265). A página seguinte trouxe duas contribuições do autor de
Messidor: ―Febre Amarela‖ e ―Policromia Brasileira‖. Ainda colaboraram para o
número Prudente de Moraes, neto, Afonso Arinos Sobrinho, Sérgio Buarque de
Holanda, Carlos Drummond de Andrade, Andrade e Almeida, Teixeira Soares, Menotti
Del Picchia, Rodrigo M. F. de Andrade e Mário de Andrade.
Os dois textos poéticos de Guilherme de Almeida foram apresentados ao público
na página 266, a qual trazia o título ―Poemas‖ centralizado na parte superior. Em fonte
menor e em caixa alta, os dois textos foram reproduzidos e, ao rodapé, a indicação de
autoria. Se comparados aos poemas anteriormente veiculados por meio da revista
carioca, veremos que são textos mais curtos, mantendo as características de ritmo
acentuadas nas leituras previamente expostas nesse trabalho37. Abaixo, o poema
―Policromia Brasileira‖ será reproduzido de acordo com a presente ortografia:
Policromia brasileira
37
NOTA: o poema ―Febre Amarela‖, por manter semelhança em forma e conteúdo com ―Modinha de
Pernilongo‖ veiculada em Terra Roxa e outras terras, será apresentado na seção correspondente à
publicação paulista. Portanto, nessa parte, ―Policromia brasileira‖ será destacado.
94
38
Embora de conhecimento antológico, os poemas serão reproduzidos de modo a manter o padrão que foi
estabelecido para as análises.
95
Canção do Exílio
A palmeira é o local onde o sabiá pousa para cantar. A paisagem descrita gera
prazer. No trecho selecionado do poema Navio Negreiro (1869), em meio à elaboração
estilística e vocabular, há a expressão de desespero gerada durante o trajeto dos negros:
Navio Negreiro
[...]
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
39
DIAS, Gonçalves. ―Canção do Exílio‖. In: Cantos. Organização de Cilaine Alves Cunha. São Paulo:
Martins Fontes, 200, p. 63.
96
Na noite escura do poema exposto, não há canto, pois, a estrela se cala diante do
sofrimento dos guerreiros feitos escravos e mulheres que não possuem o que dar aos
seus filhos. O céu da composição publicada em Estética é azul, mas não inspira ―ordem
nem progresso‖, em referência à citação da filosofia positivista que influenciou a
criação da bandeira, em 1889. Há uma voz que expressa contentamento ao ouvir/ler o
que fora expresso no início do texto: ―- Bravo! Lindo verso!‖. Seria essa a voz dos
críticos literários que valorizariam as cores locais, embora elas aparentemente não
conduzissem ao progresso almejado? Seria a voz dos poetas e outros artistas que se
reuniam em meio às revistas para discutir os propósitos, modos e efeitos da nova arte
nacional? De todo modo, o poema conduz o leitor à observação de um negro que come
uma laranja ao pé de uma palmeira. Ao contrário da canção de Gonçalves Dias, não há
nenhum sabiá cantando. Em situação oposta à descrita por Castro Alves, não há
referência à fuga de nenhum cativeiro, tampouco de sofrimento provocado por algum
algoz. As cores, unidas ao som das repetições, traz à tona a exaltação de algumas
40
ALVES, Castro. ―Navio Negreiro‖. In: Obras Completas. Volume único. Organização de Eugênio
Gomes. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1997, p. 281.
97
tonalidades (―negro bem negro‖ e ―laranja bem laranja‖), com outra voz ao fim que
exclama: ―Laranja da China!‖. Essa expressão foi utilizada por Mário de Andrade
(1922), no poema ―O domador‖:
O domador
[...]
Mas... olhai, oh meus olhos saudosos dos ontens
esse espetáculo encantado da Avenida!
Revivei, oh gaúchos paulistas ancestremente!
e oh cavalos de cólera sanguínea!
Uma canção
41
ANDRADE, Mário de. ―O domador‖ In: Poesias Completas. Edição crítica de Diléa Zanotto Manfio.
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1987. p. 92.
42
Relação proposta pelo Prof. Dr. Marcos Antonio de Moraes, durante o exame de defesa.
98
43
QUINTANA, Mário. ―Uma canção‖. In: Poesias. Porto Alegre: Editora Globo, 1962. p. 76.
99
44
A participação de Ronald de Carvalho no modernismo brasileiro é um dos tópicos da pesquisa de Aline
Pasquoto Perissinotto. Cf: _____. ―A percepção da americanidade em Ronald de Carvalho‖. In: Sensações
viajantes: a América para Ronald de Carvalho e Albert Camus. Dissertação de mestrado. Guarulhos:
Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2017. p. 19-45.
101
Pijama45
Espreguiçamento-Faquirização-ESPREGUIÇA...
São treze versos, dispostos em três estrofes, com o esquema de rimas alternadas
AABBCCDD e intercaladas EFFE. Temos exemplos de rimas toantes (―eletrizada‖ e
―cauda‖) e consoantes (―espreguiça‖ e ―cortiça‖). Como em outras composições desse
corpus, há a reiteração dos sons nasais. Alguns exemplos: ―longos‖ /lˈõ.gʊ/, ―unhas‖ /
ˈu.ɲə/, ―sangue‖ /sˈə.̃ gi/, ―junco‖ /ʒˈũ.kʊ/. Há aliteração, entre outros momentos, nos
seguintes versos: ―grandes peles de leopardo ao pé das árvores‖ e ―petrificada, de pé,
na ponta da cauda‖ – ―petrificada‖ /pe.tɾi.fi.kˈa.də/, ―pé‖ /pˈɛ/, ―ponta‖ /pˈõ.tə/. A
assonância também é recorrente, além dos versos anteriores – com os fonemas /e/ e /ɛ/ ,
no seguinte: ―com filós verdes – mosquiteiras. O sol desdobra‖ – ―com‖ /ˈkom/ ,―filós‖
/ fi.lˈɔ/, ―sol‖ / sˈɔw/.
Três momentos podem ser discernidos a partir da análise da matéria poética: o
primeiro, de uma passividade misturada à vontade de erguer-se; o segundo diz respeito a
breves movimentos que nos fariam pensar que o terceiro momento traria a representação
45
NOTA: o título do poema foi apresentado com a ortografia vigente do ano de 1926. Sendo assim,
algumas palavras e expressões empregadas no texto poético foram atualizadas quando reunidas em Toda
a poesia (1952) e na seleção feita por Carlos Vogt (2001) em Os melhores poemas de Guilherme de
Almeida. Um exemplo claro está no próprio título grafado como ―Pyjama‖. Manteve-se a ortografia
atualizada, com a disposição das estrofes tais quais publicadas no periódico mineiro. As versões
posteriores apresentam itálico em palavras estrangeiras, como ―jungle‖ e ―bungalows‖. Na revista esse
estilo não foi utilizado, e, portanto, optou-se por reproduzi-lo dessa maneira.
102
da ação em oposição à apatia. Isso não ocorre e, portanto, o fim do texto artístico remete
a uma paralisação ainda maior do que no início. O título poderia ser associado ao campo
semântico ligado ao descanso, ócio, sono, relaxamento do corpo e da mente. Esse
vestuário caseiro, composto de casaco e calças, normalmente é utilizado durante a noite,
nos primeiros momentos que sucedem o despertar ou, ainda, antes de um dia de
atividades.
A leitura aponta para as contradições das imagens evocadas e seus respectivos
campos de significado. Sendo assim, a distinção entre o oriente e ocidente, jejum versus
prazer e alimentação, preguiça e apatia em oposição ao movimento e ação, saltam diante
do estudo do texto. Na primeira estrofe, o alongamento dos braços, modo de mover-se
que prende a circulação do sangue, concentrando uma porção deste na ponta dos dedos,
é expresso no primeiro verso: ―Gestos longos que terminam com dedos de unhas cor de
sangue‖. Os juncos na floresta (―jungle‖), com caules cilíndricos e três fileiras de folhas
verdes são caracterizados como uma ―moleza indiana‖. As sequências de frases não
verbais, representativas de uma fragmentação da imagem por meio da linguagem,
reforçam a tentativa de distender os braços e pernas de forma voluntária:
―Espreguiçamento‖. Uma espécie de batalha é travada entre o desejo de permanecer
deitado e/ou prostrado diante da possível necessidade de movimento. Nesse ponto, a
―[f]aquirização‖ seria o nome dado à prática da renúncia pública de algum prazer,
geralmente vivenciado por ascetas muçulmanos ou hindus. Precisamente nesse verso, há
uma luta ainda maior, representada pela escolha da caixa alta, interrompida pelas
reticências que denotam uma provável derrota: ―ESPREGUIÇA...‖. Vejamos como o
faquir é descrito em Encantamento (1925):
Faquirismo
46
_____. ―Faquirismo‖. In: Encantamento (Toda a Poesia, tomo V). São Paulo: Livraria Martins Fontes
Editora, 1952. p. 57-8.
103
O Faquir
47
_____. ―O faquir‖. In: Rua. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1961. p. 25.
104
Alvorada
48
O que pode ser afirmado, respeitando os limites do corpus dessa pesquisa, bem como o contato com a
obra do poeta é que pouco se sabe de relações mais profundas com a Índia manifesta em outros poemas.
O texto poético, originalmente reunido nas páginas de A Revista, foi publicado posteriormente no volume
de poemas Acaso (1938), no qual temos a presença de outras composições que se remetem a outras
nações: ―L‘oiseau Bleu‖, com referências à Paris; ―Poema para Lisboa‖, enaltecendo as características da
capital portuguesa e ―Rumba‖, escrito em tributo a Cuba, descrita no primeiro verso como ―a maior das
Antilhas‖. Outros poetas brasileiros manifestaram profundo interesse pessoal e artístico pela Índia. É o
caso de Cecília Meireles e os Poemas escritos na Índia (1953). O livro forneceria mais elementos para o
debate acerca da filosofia hindu, bem como questões relativas à brevidade da vida e culto aos deuses. Cf:
MELLO, Ana Maria Lisboa de & UTÉZA, Francis. Oriente e Ocidente na poesia de Cecília Meireles.
Porto Alegre: Libretos, 2006.
49
Conforme informações disponíveis em: http://www.padmaa.com.br/rabindranath-tagore-e-guilherme-
de-almeida-afinidades-eletivas/. Acesso em 10/05/2016.
105
Poética
50
_____. ―Alvorada‖. In: Meu (Toda a Poesia, tomo IV). São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora,
1952. p. 126.
51
Cf. nota 51.
106
Sifilítico.
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
52
BANDEIRA, Manuel. ―Poética‖. In: A Revista. Ano I, número 3. Belo Horizonte: Tipografia do Diário
de Minas, setembro de 1925. p. 12. Reproduziu-se, inclusive, a disposição dos versos como publicados na
página da revista.
107
em sua língua nativa, descrevesse o que viu (―os juncos na jungle‖, ―Bungalows
coloniais na relva‖, ―Song of India‖). Seguindo esse raciocínio, os gestos ―longos que
terminam com dedos de unhas cor de sangue‖ representariam, entre outras
possibilidades, parte das tintas que revestem o corpo indígena, bem como os seus
movimentos; as ―molezas indianas‖ dos elementos naturais ao redor daquela população
poderia ser a resposta do ambiente à ação dos primeiros habitantes, em concordância. O
sol, nesse sentido, estaria presente na mesma condição do poema ―As Cortesãs‖,
publicado em Klaxon (1922). Naquele texto, a oferta que o grande astro ofereceu ao
grupo de mulheres eram as ―sombras roxas sobre as pedras pretas‖, como violetas. Em
―Pijama‖, as cores ganham tons claros e alegres: ―O sol desdobra/grandes peles de
leopardo ao pé das árvores‖. Essas peles poderiam, inclusive, compor o vestuário
indígena em oposição ao pijama estrangeiro expresso no título. A cobra encantada e a
música poderiam ser facilmente relacionadas ao culto aos deuses e outros rituais
religiosos. Por fim, a rejeição ao café e à ―pilha novidadeira/ dos jornais e magazines do
ocidente‖, indicaria a despretensão em apreender e incorporar o que fosse julgado
importante para a cultura colonizadora. Dessa forma, o poema e, em última instância, a
revista que o abrigou primeiramente, demonstrariam a preocupação em revisitar as
bases constituintes de nossa civilização heterogênea, como o próprio movimento que se
expandia pelo Brasil.
O próximo tópico diz respeito à análise de ―Modinha de pernilongo‖, publicado
nas páginas de Terra roxa e outras terras.
53
Carta de Antônio de Alcântara Machado a Prudente de Moraes, neto, em 31/12/1925 apud LARA,
Cecília de. ―Terra Roxa....e outras terras, um periódico Pau Brasil‖. In: Terra Roxa e outras terras.
Edição fac-similar. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1977, p. 7. Cf. outra referência: PICOLI, Fabiola.
Terra Roxa e outras terras: modernismo e paulistanidade. Dissertação de mestrado. Campinas:
IEL/Unicamp, 1997. p. 10-11.
109
diretórios políticos, ônibus e até literatos‖. O único elemento incapaz de surgir nesse
meio é o ―homem que lê‖. Dessa forma, ―[...] não é o leitor à procura de um jornal, mas
o jornal à procura de um leitor. Ensinemos esse leitor a ler. Sem cartilha. Sem bolos.
Sem prêmio de fim de ano‖. Se o propósito seria o de formar um público leitor, qual
seria a recompensa ou o atrativo para aquele que fosse educado a ler por meio das
páginas do jornal? ―Quem o ler, com aquela assiduidade que sempre comove as
administrações jornalísticas, poderá facilmente aprender, distrair-se e, como se diz no
nosso admirável idioma ítalo-pau-brasil, bancar o intelectual‖. Os trabalhos publicados
prometiam obedecer ao ―espírito moderno‖ de forma variada: ―[...] crônica literária,
crônica artística, crônica filosófica, crônica musical e teatral, ensaios de crítica, ensaios
de história, criações de poetas, novelas, romances, todos os gêneros, menos, esperemos
em Deus, esse gênero pau [...] de que fugiremos como da peste54‖.
Além dos diretores e secretários, colaboraram em Terra Roxa: Mário de
Andrade, Carlos Alberto de Araújo, Menotti Del Picchia, Ronald de Carvalho, Manuel
Bandeira, Paulo Prado, Blaise Cendrars, Luiza Guerrero, Carlos Drummond de
Andrade, Teobaldo Fagundes, Réné Thiollier, Affonso d‘E. Taunay, Martins de
Almeida, Prudente de Moraes, neto, Ribeiro Couto, Oswald de Andrade, Jorge
Fernandes, Sérgio Buarque de Holanda, Luís da Câmara Cascudo, Teobaldo Vieira,
Gregório Warchavtchi, Clodomiro Santarém, Cândido Motta Filho. A diversidade de
colaboradores poderia representar um programa homogêneo e coerente com a proposta
romântica da busca pela formação de um público leitor. Cecília de Lara (1972)
reconhece em sua análise um eixo unificador no que diz respeito ao que foi veiculado
nas páginas do jornal:
Assim desde o título até os ensaios e artigos mais
consistentes, as criações, as transcrições e notas,
aparentemente desconexas, se estruturam através de um
veio profundo, que percorre o interior de todas as
colaborações: é a intenção de trazer à tona, não só nas
manifestações artísticas, mas nos fatos, nos
comportamentos - no presente ou no passado - os indícios
de um "caráter brasileiro", no âmbito amplo e profundo do
homem e da cultura brasileira55.
54
―Apresentação‖. In: Terra Roxa e outras terras. Ano I. Número I. São Paulo: Tip. Paulista, 20 de
janeiro de 1926. p. 1.
55
LARA, Cecília de. Klaxon e Terra Roxa e outras terras: dois periódicos modernistas de São Paulo. São
Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros, 1972. p. 40.
110
56
PRADO, Antonio Arnoni. Terra roxa e outras terras. In: PUNTONI, P. & TITAN JÚNIOR, S. (org.).
Terra Roxa e outras terras. Edição fac-similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,
Biblioteca Guita e José Mindlin, 2014. p. 10.
111
superior direito, há a carta que Oswald de Andrade escreveu para o livro Pathé- Baby
(1926), de Alcântara Machado, de modo a prefaciá-lo. A obra foi classificada pelo
escritor modernista como ―cinema com cheiro‖. Abaixo, a seção ―Outras terras‖ trouxe
uma entrevista: ―Dez minutos com Blaise Cendrars‖. Na estadia do poeta francês em
São Paulo, Sergio Milliet interrogou-o acerca do nu artístico, opinião sobre o fascismo,
relação entre o futurista Franco e Marinetti, além do pensamento sobre o jornal. Ao
centro da página, em destaque, foi publicada a ―Modinha do pernilongo‖, poema-canção
de Guilherme de Almeida. Antes de analisarmos o texto, passemos a alguns
esclarecimentos sobre o gênero ao qual o poeta se dedicou.
As discussões sobre a nacionalidade da modinha, se portuguesa ou brasileira,
além de parecerem inférteis, fogem ao propósito desse trabalho. No Brasil, segundo
Edilson Vicente de Lima (2005), manifestou-se em meados do século XVIII, com o
surgimento dos grandes centros urbanos e a necessidade de entretenimento por parte da
classe média emergente. Dessa forma, a modinha começou a ser praticada e designa
―[...] um tipo de canção lírica, singela e de duração reduzida, composta para uma ou
duas vozes acompanhadas por guitarra ou teclado. Cultivada, inicialmente, pelas classes
mais abastadas, aos poucos, vai se popularizando […]57‖. A querela existente entre
música popular e erudita, igualmente, não pertence ao escopo dessa dissertação. Da
citação selecionada, alguns pontos: trata-se de uma canção com traços de lirismo;
infere-se que um dos principais temas seja o amor e seus desdobramentos; um dos
traços da composição da canção diz respeito à síntese e repetição de vocábulos que
interferem, inclusive, na memorização da letra e ritmo. No texto de Guilherme de
Almeida, percebe-se a repetição de um ―estribilho‖, bem como de alguns sons no
interior dos versos. O poema será reproduzido, respeitando a disposição das estrofes tal
qual foram apresentadas nas páginas de Terra Roxa e outras terras, em fevereiro de
1926. A única diferença consta da atualização ortográfica:
Modinha do pernilongo
57
LIMA, Edilson Vicente de. A modinha e o lundu no Brasil: as primeiras manifestações da música
popular urbana no Brasil. In: Revista do IEEE América Latina. Brasília, 10 de julho de 2005. p. 46-52.
Disponível em: http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista12-
mat6.pdf. Acesso em 12/10/2016.
112
É a insônia amarela
que escorre da lua,
que pula a janela,
que ondula e flutua
na sala caiada
da chácara, em torno
da rede parada,
pesada de sono
(ESTRIBILHO)
A rede resmunga
nos ganchos, rezinga,
e zanga-se e funga
blasfêmias, e xinga.
E o alado, sinuoso
deusinho da insônia
ciranda, fanhoso,
ao som da sanfona...
(ESTRIBILHO)
(ESTRIBILHO)
E tudo se anima.
Começa o Outro-Mundo.
Porque a lamparina
de azeite abre, ao fundo,
nas sombras inquietas,
o olhar mole, de óleo,
dos santos patetas,
de pé no oratório...
(ESTRIBILHO)
Lá fora, os coqueiros
dos montes redondos,
picando ligeiros,
levantam calombos
na pele da terra
113
suada e já tonta
da febre amarela
do dia que aponta...
(ESTRIBILHO)
vogais átonas em fim de palavra pode ser evidenciado com a sua transcrição fonética.
Em negrito estão representados os sons que se repetem: ―Bambo, /bˈə.̃ bʊ/ lento,
/lˈẽj.tʊ// langue, /lə.̃ ge/ longo, /lˈõ.gʊ//sonolento / so.no.lˈej̃ .tʊ/‖.
115
PERNILONGO
Funga, emaranhada
na trama que envolve a cama,
uma alma penada74.
74
In: Toda a poesia (tomo VI). São Paulo: Martins Fontes Editora, 1952, p. 139.
116
onda sonora que invadiu o espaço: ―E o som, pouco a pouco,/ desdobra-se em ondas,/
povoa o bojo oco/ das sombras redondas‖. A forma dessas ondas, reforça a opção
rítmica expressa nos versos iniciais e traz em seu ―bojo‖ vazio as ―mulatas‖,
personificando a alegria expressa no movimento corporal: ―mulatas que em bambos/
maxixes molengos/ rebolam molambos,/ teteias e dengos‖. O estudioso Edilson de
Lima relata que as modinhas praticadas no século XVIII traziam consigo características
muito peculiares incorporadas em outras modalidades: ―[...] a frase sincopada, [...]
associada ao staccato monótono da viola ou guitarra [...] [antecipa] em
aproximadamente um século as características musicais que vão ser associadas ao
choro, ao maxixe e, posteriormente, ao samba [...]‖ (op. cit., p. 50). O poeta aproximou,
nesse sentido, a modinha, o maxixe e, muito provavelmente o samba por meio das
ondas de som que povoaram o ―bojo‖ das ―sombras‖.
O ritmo tem, para Guilherme de Almeida, um poder que impulsiona todo o
corpo e estimula o movimento. Citando Goethe, assim se expressa: ―Aquele que cria um
ritmo novo, faz circular de uma nova maneira o sangue das nossas veias: ele é o senhor
de nossas pulsações‖. Tudo passa a ser diferente a partir da quarta estrofe. A ―sala
caiada‖, outrora silenciosa, com poucos ecos de murmúrio como efeitos diretos da ação
do mosquito, passa a ser iluminada. Quando o azeite produz o combustível necessário
para trazer luz à sala, um ―olhar mole de óleo‖ se abre ―ao fundo/ das sombras
inquietas‖. Esse olhar, que não provoca mudança, seria como o dos ―santos patetas,/ de
pé, no oratório‖. O ―Outro-Mundo‖ reconhecido por intermédio da luz – e não mais o
som – acentuou o tom cético iniciado com as ―blasfêmias‖ proferidas na segunda
estrofe. As imagens de elementos religiosos (lamparina de azeite, óleo, santos, oratório)
não trazem credibilidade advinda da crença. Embora tudo esteja aparentemente
animado, os ―santos‖ são ―patetas‖. O pernilongo foi descrito, até o momento, como um
inseto sonolento que é embalado pela insônia que vem da lua, acompanha o som da
sanfona e ciranda ao redor de uma rede zangada. A transcrição fonética evidencia a
opção por vogais abertas, alternando o ritmo: ―óleo‖ /ˈɔ.ljʊ /―oratório‖ /o.ɾa.tˈɔ.ɾjʊ /.
A última estrofe aponta para o lado exterior, onde os coqueiros no alto dos
montes agem como o pernilongo: picam ―ligeiros,/ levantam calombos/ na pele da terra/
suada e já tonta/ da febre amarela/ do dia que aponta...‖. Os sintomas vistos na ―pele da
terra‖ (suor e tontura) são indícios de que a modinha, em meio à sonoridade dos
vocábulos escolhidos para compor os versos, descreve a contaminação da ―terra‖ com a
febre amarela. Aliás, no ano anterior, Guilherme de Almeida publicou um poema com
117
esse título nas páginas da revista carioca Estética (1925). O texto antecedeu ―Policromia
Brasileira‖, já lido e comentado em sua respectiva seção. ―Febre amarela‖ direciona o
leitor para a doença causada pela picada de um pernilongo. A natureza (vento,
coqueiros, sol) influencia diretamente na ação em mais um texto essencialmente rítmico
e imagético. Passemos a analisa-lo a partir desse ponto.
Febre amarela
Que calor!
Olha a cara amarela
do sol redondo
redondo
redondo75!
O poema foi composto em versos livres, que variam entre três e oito sílabas
poéticas. São três estrofes de, respectivamente, dois, três e cinco versos, dispostos na
página de modo a representar o movimento do som emitido pelo vento. Ao contrário da
maioria dos textos poéticos selecionados para essa pesquisa, ―Febre Amarela‖ não foi
publicada novamente. Uma das hipóteses seria a de que já estaria em curso a escrita de
outra composição que versaria sobre a mesma temática. Com os mesmos procedimentos
estéticos e fonéticos de ―Modinha de Pernilongo‖, o vento atravessa a fronteira da copa
das árvores e produz um ruído agudo. O ritmo é prolongado com pelo emprego das
consoantes nasais. Dessa vez, o coqueiro assume o posto de mosquito e fere a terra:
―Foi o coqueiro pernilongo/ que picou e fez um calombo/ na terra‖. Exatamente a
mesma ação na última estrofe da modinha. A repetição do adjetivo ―redondo‖ ao fim do
poema, com recuos diversos em relação à margem da página, remete à tontura sofrida
pela ―pele da terra‖ no texto de Terra Roxa e outras terras.
Aleydis Hernández Tasco e Cristina Campos (2014) apontam para o surto de
febre amarela, primeiramente no Rio de Janeiro, a partir do ano de 1849. Entre 1903 e
1907, o médico Oswaldo Cruz chefiou a campanha do governo de Francisco Rodrigues
75
In: Estética, ano II, volume I. Rio de Janeiro: Livraria Odeon, abril-junho de 1925. p. 266.
118
Alves contra as doenças epidêmicas. O mosquito Aedes aegypti foi vencido no período
mencionado, após um saldo de mais de 60 mil mortos. No entanto, no ano de 1923, um
novo surto atingiu a região Norte do Brasil. Um acordo foi estabelecido com uma
organização filantrópica estrangeira, a Fundação Rockfeller, para que uma nova batalha
fosse travada. As autoras complementam: ―[...] [a ação] concentrou sua atenção nas
cidades interioranas [...] entre os estados do Rio de Janeiro e do Amazonas. Segundo a
fundação, o declínio da doença era manifesto e, em 1925, a instituição anunciava como
certa a proximidade da extinção do mal no continente americano76‖. Sendo assim, essa
poderia ser uma justificativa para a escrita do poema, além de ser sintomática da
atualidade do assunto e sua repercussão em nível internacional. Tristão de Ataíde, em
crítica veiculada em O jornal, na edição do dia 21/02/1926, comenta o poema:
Esse poema é a coisa mais original que o Sr. Guilherme de
Almeida tem feito. Naturalmente poeta como é; preferindo às
profissões de fé a fé em sua profissão; tendo recomeçado a
compreender parece, que o número é um admirável elemento da
expressão e que o ritmo inteiramente arbitrário é uma negação
de si próprio; com a tonalidade que vem recentemente
revelando em seus versos, especialmente no jogo de vogais
surdas, tão evocativo de coisa brasileiras (chamo a atenção para
uma "modinha do pernilongo", que publica no último número
da "Terra roxa" e que é de um movimento sonoro muito
sugestivo), começa a tirar desta sua inserção na matéria
brasileira — si evitar o puro regionalismo, a ilusão da
facilidade, a afetação de prosaísmo, o impressionismo arbitrário
— uma poesia que não seja apenas sua, mas nossa também77.
76
TASCO, Aleydis; CAMPOS, Cristina. Dossiê História e Saúde: a febre amarela ataca o Rio. Disponível
em:http://www2.uol.com.br/historiaviva/artigos/dossie_historia__e__saude_a_febre_amarela_ataca_o_rio
.html. Acesso em 19/10/2016.
77
Apud ALMEIDA, Guilherme de. Ritmo, elemento de expressão (tese de concurso). São Paulo:
Tipografia da Casa Garraux, 1926. p. 36. Arquivo pertencente à Casa Guilherme de Almeida.
119
visão projetada do país no exterior. Ao ser publicado em um jornal literário que tinha
como principal objetivo a formação de um público leitor, ―à luz da inteligência‖,
―Modinha do pernilongo‖ cumpre o propósito: ao mesmo tempo em que se apropria de
um gênero lírico, expõe de forma metaforizada o mosquito – os versos são delineados
privilegiando suas ações e efeitos sobre a terra – e contribui na educação do leitor que o
jornal tanto procura. Os coqueiros, tanto no texto de 1926, quanto em ―Febre Amarela‖,
podem ter representado o litoral brasileiro, palco da luta contra o mosquito causador da
doença. O ―olhar mole de óleo dos santos patetas‖, unido às ―blasfêmias‖ podem ser,
em uma instância maior, relacionados à possível falta de fé nas divindades em meio aos
mais de 50 anos de mortes e falta de saneamento no cenário brasileiro. As outras terras,
presentes no título do quinzenário, seriam as terras assoladas pelo mosquito; cada uma
como uma ―terra suada e já tonta‖ após os constantes ataques dos ―coqueiros‖ que
picavam ―ligeiros‖.
O foco da próxima seção será a contribuição de Guilherme de Almeida para a
revista Verde (1927), do interior de Minas Gerais.
Verde, ―revista mensal de arte e cultura‖, foi publicada pela primeira vez em
setembro de 1927. Nascida no interior de Minas Gerais, a cidade de Cataguases, teve
como grupo formador jovens entre os dezoito e vinte anos, aproximadamente. O título
seria inspirado em poemas de Henrique de Resende ou até mesmo em um conjunto de
textos poéticos de autoria de Rosário Fusco. Outra hipótese que ganhou força foi a de
que o vocábulo ―verde‖ se referia a algo ainda em processo de maturação e, portanto,
facilmente associável à tenra idade dos seus responsáveis (GUIMARÃES, 2014, p. 14).
Foi contemporânea da espiritualista Festa (1927-1928; 1934-1935), Revista de
Antropofagia (1928-1929) e Movimento Brasileiro (1928-1930).
O aspecto gráfico do número de estreia foi alvo de críticas, sobretudo pelo
excesso de informação visual. A capa trazia uma moldura verde, em tons que remetem
às folhas das árvores, cobrindo toda a margem da página. No centro superior, o nome da
revista, o qual, também em verde, foi apresentado em uma fonte que conduz o leitor à
natureza. Abaixo do título, o subtítulo da publicação em fonte verde, caixa alta e letras
―s‖ invertidas. No canto superior esquerdo, dentro de uma caixa com moldura preta,
temos o nome do diretor: Henrique de Resende; redatores: Martins Mendes e Rosário
120
Fusco. No canto superior direito, contamos com o ano, número e endereço da redação e
administração: ―Rua Cel. Vieira, 53 – Cataguases- Minas‖. Duas outras molduras, uma
que lembra um bambu e outra faixa preta em negrito, envolvem a seção ―NESTE
NÚMERO DE ‗VERDE‘‖, a qual dispõe dos nomes dos colaboradores e respectivos
textos. Sem marcação das páginas, ao fim lemos: ―NOTAS DE ARTE E OUTRAS
NOTAS‖.
As páginas seguintes (zero a oito) foram destinadas à publicidade, financiadora
do projeto. Os anúncios são apresentados também ao fim da edição, entre as páginas
trinta e dois e trinta e quatro. Para cada um há uma moldura preta que reveste a peça e
os anunciantes oferecem serviços variados: desde ―massas alimentícias‖, passando por
alfaiataria, pelo Ginásio Municipal de Cataguases, ―manteiga de 1ª‖ e ―Agência Geral
de Loterias‖. Em todas as páginas temos um cabeçalho, muito parecido com o presente
em Estética. No canto superior esquerdo, a data (mês e ano), ao centro o nome da
publicação em caixa alta e no canto superior direito a numeração. Um grande traço
separa essas informações do conteúdo da revista.
A ―Apresentação‖, sem assinatura, traz uma espécie de manifesto condensado e
algumas sentenças foram dispostas como versos em um poema. O grupo reconhece
quão desafiadora era a missão e pareciam dispostos a contribuir para a construção de
uma identidade nacional:
Somos novos. E viemos pregar as ideias-novas da Nova-Arte.
E só.
E está acabado.
E não precisa mais.
***
Abrasileirar o Brasil – é o nosso risco.
Pra isso é que VERDE nasceu.
Por isso é que a VERDE vae (sic) viver.
E por isso, ainda, é que a VERDE vae (sic) morrer.
***
Ponto. Leitor camarada: muita honra e muito prazer em
conhece-lo. Disponha78.
78
―Apresentação‖. In: Verde: revista mensal de arte e cultura, ano I, número I. Cataguases/Minas Gerais:
Tipografia A Brasileira, setembro de 1927. p. 9. Disponível em:
http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/06001410#page/1/mode/1up. Acessos regulares em novembro
de 2016.
121
79
GUIMARÃES, Júlio Castañon. ―Verde- uma revista e arredores‖. In: PUNTONI, P. & TITAN
JÚNIOR, S. (org.). Verde. Edição fac-similar. São Paulo: Imprensa Oficial; Biblioteca Brasiliana Guita e
José Mindlin, 2014. p. 22.
122
A citação revela que, além de sugerir nomes para publicar em Verde, Alcântara
Machado ainda pede para ver as provas da revista. De um modo ou de outro, é notória a
influência exercida sobre o grupo de Cataguases. Ana Lúcia Menezes (2013) advoga
pela forte presença de Mário de Andrade nos bastidores da revista e credita a ele a
contribuição de outros artistas: ―[...] por intermédio do autor de Macunaíma, também
apareceram na Verde, Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Paulo Prado e
escritores modernistas de outras regiões, como por exemplo, Ruy Cirne Lima, do Rio
Grande do Sul‖ (p. 280). Em outro momento de sua tese, a pesquisadora esclarece ainda
que, em carta de Henrique de Resende a Mario de Andrade em janeiro de 1928, este
agradece ao autor paulista ―[...] por ter conseguido colaboração de Guilherme de
Almeida‖ (p. 357). A gratidão seria sintomática do grande prestígio que o poeta de Meu
gozava entre os seus contemporâneos.
O quarto número foi publicado em dezembro de 1927, com algumas mudanças
significativas: não há mais o excesso de molduras envolvendo as colaborações e um
equilíbrio entre prosa e poesia passa a ser visto nas páginas da edição. Na capa, o
expediente também sofreu alterações, já que a direção passou a ser compartilhada entre
Henrique de Resende, Rosário Fusco e Martins Mendes. O ―Sumário‖ encontra-se logo
abaixo do título da publicação. Ao pé da página lemos: ―Apontamentos de Rosário
Fusco, Francisco Peixoto, Ascanio Lopes, Henrique de Resende‖. O número custava
1$000 e a assinatura 11$000. As páginas dois a seis foram destinadas aos anúncios,
dispostos de forma mais organizada, sem o choque causado pelas diferentes fontes
empregadas. O mesmo ocorre entre as páginas vinte e sete e trinta e dois. O editorial
―Verde, Poemas Cronológicos e outros poemas‖ foi assinado por Henrique de Resende
e, nele, o autor discorre sobre como conheceu Rosário Fusco em maio daquele ano,
como o grupo ao redor de Verde se formou, reforça a tese de que a correspondência com
Mário de Andrade e Alcântara Machado teria sido um dos alicerces da revista,
demonstra surpresa pelo recebimento de um bilhete de Blaise Cendrars e anuncia a
publicação de um livro pela mesma tipografia que imprimia o periódico. Nessa edição
colaboraram com poemas o poeta argentino Marcos Fingerit, Mario de Andrade e
Oswald de Andrade, Marques Rebello, Francisco Ignácio Peixoto, Rosário Fusco,
Affonso Arinos, sobrinho, Pimenta Velloso, Carlos Drummond de Andrade, Albano de
Moraes, Henrique de Resende, Guilhermino Cesar, Edmundo Lys e Guilherme de
Almeida.
123
O poema ocupou toda a página 19, a qual, além da margem, tinha uma moldura
na cor preta, com o traço forte. Os versos foram vem distribuídos ao longo da folha,
utilizando a mesma fonte encontrada nos outros textos. Percebemos, além da dedicatória
a Henrique de Resende e Rosário Fusco, a assinatura do poeta e data de composição.
Embora não haja nenhuma menção explícita, a hipótese seria a de que fora escrito
especialmente para Verde:
L’oiseau Bleu
Este retrato...
GUILHERME DE ALMEIDA
S. Paulo, 26-11-926
do Natal. Enquanto observam seus vizinhos abastados, recebem a visita de uma fada, a
qual lhes convida para uma missão: encontrar um pássaro azul. Sem qualquer outra
descrição, ela lhes entrega um chapéu com um diamante mágico que possibilita
enxergar todas as coisas ao redor de forma diferente, além de abrir a percepção acerca
da alma dos objetos, animais, árvores e outras divindades. Os irmãos seguem
acompanhados pela Luz, responsável por indicar o caminho e ensinar-lhes lições de
moral acerca da vida e do homem durante o percurso. Após atravessar o passado – com
visita aos seus avós e irmãos falecidos -, presente – visitando a noite e descobrindo os
mistérios da floresta – e futuro – com a visão de todos os bebês que estão para nascer,
bem como suas respectivas missões entre os humanos, eles percebem que o pássaro azul
poderia ter sido uma grande obra da imaginação. Ao acordarem na manhã seguinte,
recebem em sua humilde residência uma senhora muito parecida com a fada que haviam
encontrado anteriormente, cuja filha clama por um pássaro azul em posse dos irmãos
Mitil e Tiltil. Como não haviam percebido a presença da ave anteriormente, os dois
ficam estarrecidos e decidem entrega-lo como um presente à garota. Quando ela vai
retribuir o irmão mais velho com um beijo de agradecimento, o pássaro escapa e a busca
se inicia mais uma vez80.
O poema foi composto em treze versos, sendo dez dispostos em uma única
estrofe e os três últimos escritos separadamente. As rimas são alternadas no esquema
ABAB CDCD EFGEF, além de serem ora consoantes (―solteirões‖ e ―Pinhões‖), ora
toantes (―velho‖ e ―sério‖). Os versos são livres, embora a metrificação não seja
empecilho à construção do ritmo. Na referida tese de Guilherme, ―[...] quando
verdadeiro, isto é, quando da ideia e da expressão há um tempo, é superior ao metro,
não se prende ao estrito rigorismo de um certo número de sílabas ou de certa
acentuação81‖. Não há metrificação explícita, mas há certo paralelismo na estrutura do
texto, como por exemplo, o emprego das reticências e pontos de exclamação. Nesse
sentido, salta aos olhos do leitor os versos entre parênteses que se alternam ao longo do
poema com outros que terminam em reticências. Em uma primeira leitura, passam a
impressão de que são poemas distintos que se constroem simultaneamente. Essa
característica, inclusive, foi apontada por Mário de Andrade como uma das tendências
da poesia moderna no início do século XX. Nas palavras do ensaísta: ―Estou
80
MAETERLINCK, Maurice. O pássaro azul (L‘oiseau Bleu). Tradução de Carlos Drummond de
Andrade. Rio de Janeiro: Editora Delta, 1962.
81
Acervo da Casa Guilherme de Almeida, p. 5.
125
convencido que a simultaneidade será uma das maiores senão a maior conquista da
poesia modernizante. No seu largo sentido poder-se-á dizer que é empregada por todos
os poetas modernistas que seguem a ordem modernizante82‖. A simultaneidade, no caso
de ―L‘oiseau Bleu‖ estaria mais atrelada às reminiscências desse sujeito poético que
observa um velho retrato. Antes, contudo, da análise dos versos, percebe-se que esse
recurso foi empregado em outros poemas de Guilherme de Almeida, dos quais somente
as primeiras estrofes serão reproduzidas:
Repuxo
As histórias bonitas
82
ANDRADE, Mário de. A escrava que não é Isaura: discurso sobre algumas tendências da poesia
modernista. Rio e Janeiro: Nova Fronteira, 2010. p. 91.
83
In: ______. Encantamento (Toda a Poesia, tomo V). São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1952,
p. 93.
84
In: ______. Acaso (Toda a Poesia, tomo V). São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1952. p. 151-
2.
126
Retrato
Eu não tinha esse rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Oswald de Andrade. O desenho, ―Abaporu‖, seria ―[...] um quadro que figurará na sua
próxima exposição de Junho na Galeria Percier, em Paris86‖. O ―Abre-Alas‖ foi
assinado por Antônio de Alcântara Machado e cumpriu a função de editorial do número,
embora o texto mais famoso tenha sido o ―Manifesto Antropofágico‖, escrito por
Oswald de Andrade e disposto em três colunas nas páginas cinco e sete.
Publicaram no primeiro número do ano I: Mário de Andrade, com ―Manhã‖,
poema estampado na capa; na página dois, além de dois anúncios de quatro livros no
prelo e outra propaganda de Gustavo Zieglitz, foram publicados os textos poéticos de
Augusto Meyer (―Resolana‖ – Rio Grande do Sul, do livro ―Giraluz‖), Abguar Bastos
(―Poema‖ - Pará) e Jacob Pim-Pim (―Vaca Christina‖- do livro a sair ―Ai, se Mé‖). O
texto ―Seis Poetas‖, de Antônio de Alcântara Machado, ocupou a página quatro. As
seguintes (cinco e seis) foram destinadas ao texto ―A Língua Tupi‖, de autoria de Plínio
Salgado. A coluna ―Brasiliana‖ não foi assinada e a página seguinte trouxe as
colaborações de Oswaldo Costa (―A ―Descida‖ Antropófaga‖), Álvaro Moreira (―Visita
de São Tomé‖) e Antônio de Alcântara Machado e Raul Bopp (―Nota insistente‖).
Todas as edições da primeira fase tinham oito páginas. Nos números posteriores, vários
colaboradores de outras regiões do Brasil publicaram em suas páginas. Eucanaã Ferraz
(2014) disserta sobre o diálogo:
O Modernismo, pelo menos em suas linhas gerais, àquela altura,
já se espalhava pelo país e a origem dos colaboradores da
revista revela não só uma abrangência geográfica, quanto um
mapa em que se pode ver outras publicações periódicas, livros e
ações fundamentais para o processo de modernização da
literatura no Brasil desde a Semana de 1922 (p. 12).
86
Nota que acompanha a ilustração ao centro da página 3, ilustrando o famoso ―Manifesto Antropófago‖,
assinado por Oswald de Andrade.
129
Fome
87
ANDRADE, Oswald de. ―Manifesto Antropofágico‖. In: Revista de Antropofagia, ano I, número I,
maio de 1928. p. 5 e 7. Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/060013-01. Acesso em:
25/11/2016.
130
Antropofagia
O corpo da mulher é desejado na cama à noite e suas formas são comparadas aos
metaforicamente aos animais selvagens. O intuito do sujeito poético seria o de ter a
amada deitada em seu peito em um momento em que o impulso sexual atingiria o seu
ápice e extrapolaria todos os limites. O apetite relacionado ao sexo, na composição
publicada na Revista de Antropofagia, seria potencializado pelo jejum descrito no
primeiro verso e a descrição com adjetivos coloquialmente associados ao sexo oposto:
131
O tom paródico pode ser evidenciado através dessa contribuição individual, que
visa ao cômico, provoca o riso por meio das associações presentes e demonstra total
concordância com a teoria antropofágica veiculada na publicação. Sendo a poesia o
―amorzinho‖ da vida do poeta antropofágico, não haveria espaços para enfeites
desnecessários. Até o pronome ―ti‖, entre aspas‖, denotaria certa repulsa à elaboração
vocabular e distanciamento das raízes da língua. A aproximação seria efetuada com
toques de coloquialismo. Mesmo com rimas e métricas, não haveria a menor
possibilidade de deglutir a poesia e aprimorá-la aos moldes parnasianos. Nesse caso, a
fome geraria a vontade de explorar cada vez mais outras maneiras de fazer versos.
Na próxima seção, será apresentada a leitura de ―A rua das rimas‖,
originalmente presente em Movimento Brasileiro.
obra-
prima88.
Em ―Da Rima‖, o poeta sintetiza o labor com a palavra a fim de extrair dela sons
que provoquem ritmo aos ouvidos. O propósito dessa seção é tecer comentários
analíticos a respeito de uma das mais famosas composições do poeta, a qual foi
veiculada em uma revista. Primeiramente denominada Movimento, passou a circular a
partir do Rio de Janeiro em outubro de 1928, sob direção de Renato Almeida. A
primeira edição apresenta a redação à Rua da Quitanda, nº 63, 1º andar. A partir de
1929, o endereço mudara: Rua D. Manuel, nº 62. Nesse mesmo ano, o adjetivo
Brasileiro foi acrescido ao nome da revista, a qual ficou conhecida, até encerrar suas
atividades, em setembro de 1930, como Movimento Brasileiro. O estilo gráfico
permaneceu o mesmo em todos os números, com a palavra ―Movimento‖ centralizada
no alto da página, em vermelho e caixa alta; com a mudança no título, ―Brasileiro‖ foi
disposto logo abaixo, com a mesma cor e tamanho menor em relação à palavra
antecessora. No canto superior esquerdo, temos a indicação do ano e número; no direito,
o nome do diretor. O trabalho visual da publicação foi restrito às capas: em todas as
edições temos uma ilustração ao centro da página, seguida da assinatura do artista que a
compôs. No canto inferior esquerdo, localizamos o mês, em caixa alta; no direto, o
preço. Ao centro, no fim da página, o local de origem, na cor preta, assim como todas as
outras informações, exceto o nome da revista. Segundo Maria Eugênia Boaventura
(1978), a publicação seguia um estilo conservador ―[...] variando apenas as ilustrações
que procuram refletir os fatos mais importantes da época, no campo da cultura, da
ciência e da tecnologia‖ (p. 7).
De todos os períodos elencados nessa investigação, Movimento Brasileiro foi a
única revista que trouxe alguma ilustração como parte permanente na capa, além de ser
a de maior duração: encerrou suas atividades em setembro de 1930, após 24 edições. Os
desenhos retratam, em sua maioria, invenções modernas e representavam, nas palavras
da referida pesquisadora, certo ―[...] entusiasmo pelo progresso material e
desenvolvimento científico- tecnológico [...]‖ (p. 8). O culto à novidade, nesse sentido,
poderia ser percebido na observação da matéria da publicação, a qual se inclinava para
trabalhos ―[...] sem preocupação literária de caráter teórico experimental rigorosa‖ (p.
9). Sendo assim, os artigos, resenhas, ensaios, críticas, comentários, crônicas, poemas e
88
ALMEIDA, Guilherme de. ―Da Rima‖. In: Margem. São Paulo: Annablume; Casa Guilherme de
Almeida, 2010. p. 17.
133
apresentados ao índice, o qual pode ser visto abaixo do título da revista e seu
complemento ―Revista de crítica e informação‖. O texto de abertura, ―O ensino
primário‖, não contém assinatura e disserta sobre a alta taxa de analfabetismo à época.
Na página 4, lemos uma crítica, ―José de Alencar‖ destinada à presença do índio em
seus romances, bem como a importância da obra do escritor para nossas letras. Nas
páginas cinco e seis, pequenos quadros dispostos no canto superior direito apresentam
duas notícias: a primeira diz respeito à opinião de Alberto de Oliveira acerca do
Dicionário da Língua Portuguesa lançado recentemente pela Academia Brasileira de
Letras; a segunda noticia o pedido feito ao governo francês para reconhecer a casa de
Augusto Comte como monumento histórico do país. O único poema da edição dividiu a
página oito com um texto sobre a sinfonia de Hamburgo, por Marianno de Medeiros. ―A
rua das rimas‖ foi destacado por Maria Eugênia como ―evocações da infância de
Guilherme de Almeida‖ (p. 38). A única referência presente no texto é a dedicatória ao
diretor Renato Almeida. Um dos poemas mais conhecidos do autor de Nós foi disposto
na página com letras cuja fonte se diferencia da empregada no restante da edição. Segue
a reprodução do poema escrito em versos livres e que foi reunido posteriormente no
conjunto intitulado Você (1931).
[repito
e que rima com mocidade, liberdade, tranquilidade: RUA DA FELICIDADE...
Poema de Encantação
[...]
Arroio dos Quilombolas de Palmares,
Arroio do Desemboque do Quizongo,
Arroio do Exu do Bodocô,
Vos ofereço maconha de pito, Quitunde, quibembe, quingombô.
Assim, sim!
Arraial d‘Angola de Paracatu,
Arraial do Campo de Goiás,
Arraial do Exu do Aussá,
Vos ofereço quisama, quinanga, quilengue, quingombô.
Tomai acassá, abará, aberem, abaú!
Assim, sim!
Tirai-me essa murrinha, esse gôgo, esse urufá!
Vos ofereço Quitunde, quitumba, quelembe, quingombô.90
89
―Berceuse das rimas riquíssimas‖. In:_____. Você (Toda a Poesia, tomo V). São Paulo: Livraria
Martins Fontes Editora, 1952. p. 196-7.
90
LIMA, Jorge de. ―Poema de Encantação‖ (do livro Poemas Negros, 1947). In: GALVÃO, Walnice
Nogueira (seleção e prefácio). Roteiro da poesia brasileira: modernismo. São Paulo: Global, 2008. p. 39-
40.
137
para o meu destino pequenino/ é uma rua de poeta, reta quieta, discreta‖. O quarto verso
traz a visão dos portões e partes das residências em uma construção rítmica que
privilegiou os ditongos em final de palavras e, por consequência, o jogo sonoro com as
oxítonas: ―com pregões matinais de jornais, aventais nos portais, animais e varais nos
quintais‖. As flores são da espécie das ―acácias amarelas‖ e todas unidas paralelamente
na rua direita de poeta estariam ―debruçadas como namoradas para as calçadas‖.
O verso seguinte traz o mesmo som representado por letras diferentes: ―e um
passo, de espaço a espaço, no mormaço de aço baço e lasso‖. A transcrição fonética das
três últimas palavras permite enxergar a semelhança nas rimas toantes: /ˈa.sʊ/ /bˈa.sʊ/ e
/ lˈa.sʊ/. O piano ―provinciano‖ é o responsável por trazer, ―de vez em quando‖, uma
―escala‖ capaz de embalar em meio à clara luz de uma sala. A agitação do dia, passando
pelo barulho da tarde, conduz ao ―ócio‖ noturno cuja serenata ―Mulher ingrata que
mata‖ é entoada com violões que precedem o ―silêncio, o denso, o intenso, o imenso
silêncio‖. Esse último verso é importante porque pode ser contraposto à música
apresentada nos anteriores. Nesse sentido, a rua que o poeta construiu adquire um status
soberano: o verso ao qual somos apresentados ao silêncio, paradoxalmente, possui uma
sonoridade própria, com tom mais grave se comparado às ―acácias paralelas, todas elas
belas, singelas, amarelas‖.
Luiz Dantas (2002) enxerga nesse poema ―[...] [algo] como um território, muito
circunscrito na verdade, implantado na grande cidade, equivalendo, em sua máxima
extensão, ao comprimento de uma única rua, embora compreendendo, de preferência, a
área métrica de um sobradinho paulistano, com quintal e jardim91‖. De fato, a rua que o
poeta imaginara para o seu pequeno destino tinha uma mulher desfolhando um
―malmequer‖. O desejo da mulher é latente e as calçadas são como ―duas calças nuas‖
que correm em paralelo rumo ao ―infinito‖. A ―felicidade‖ aludida ao fim do texto traz
consigo outras três características presentes na rua ―perfeita‖ ―de poeta‖: ―mocidade,
liberdade, tranquilidade‖. Sendo assim, sem poesia e, por extensão, sem a música
oriunda dela, não haveria felicidade. Os jovens encontrariam calma, sossego e estariam
livres neste espaço permeado por palavras. A rua sonora não teria curvas e as ações
descritas são, em sua maioria, diurnas. A título de contraponto, o mesmo não ocorre no
poema de Cassiano Ricardo (1947):
91
DANTAS, Luiz. ―Prefácio‖. In: ALMEIDA, Guilherme de. Encantamento, Acaso, Você, seguidos dos
haicais completos. Apresentação, edição e notas de Suzi Frankl Sperber. Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 2002. p. 8.
138
Serenata sintética
Rua
Torta.
Lua
Morta.
Tua
Porta92.
A rua, nesse caso, é ―torta‖ e o caminho até a ―porta‖ onde será feita a serenata
pode ser igualmente irregular. Não há verbos nesse poema, tão pouco referências a
momentos alegres. Vejamos outro exemplo, dessa vez extraído de um dos últimos livros
de Guilherme de Almeida (1961):
Rua
A rua mastiga
os homens: mandíbulas
de asfalto, argamassa,
cimento, pedra e aço.
A rua deglute
os homens: e nutre
com eles seu sôfrego,
onívoro esôfago.
A rua digere
os homens: mistério
dos seus subterrâneos
com cabos e canos.
A rua dejeta
os homens: o poeta,
o agiota, o larápio,
o bêbado e o sábio93.
92
RICARDO, Cassiano. ―Serenata Sintética‖. In: Poesias completas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957.
p. 27.
93
ALMEIDA, Guilherme de. ―Rua‖. In: Rua. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1961. p. 10.
139
em que são misturados ao interior dela – como nutrientes e em meio aos seus mistérios
―subterrâneos‖. No poema de 1929, a rua é construída pelo poeta e os sons são seus
componentes. A rua é formada por palavras, as quais quando são ritmadas, conduzem o
poeta, em seu sonho alimentado desde menino, à felicidade.
Em todo esse trabalho, procurou-se evidenciar o quanto uma leitura pode ser
influenciada pelo suporte no qual o objeto está vinculado. Nesse caso, ―A rua das rimas‖
ganharia uma nova conotação se observarmos, também, o número da revista que o
abrigou primeiramente. Como fora mencionado, o editorial ―O ensino primário‖ não
recebeu assinatura, porém poderia fornecer subsídios à leitura do poema publicado a
seguir. Critica-se, sobretudo, a alta taxa de analfabetos no país, a qual chegara em
meados de 1929 aos impressionantes 75%. A redação de Movimento Brasileiro
argumenta que a escola, por si só, não bastaria. A necessidade apontava para a
relevância dela, sendo o seu ―[...] papel de uma complexidade extraordinária, dentro da
mais modesta simplicidade‖ (p. 3). O alto índice de pessoas sem acesso à educação
básica seria um grave empecilho ao progresso. O grande questionamento presente no
texto era o do valor atribuído às reformas nas leis ao mesmo tempo em que a maior
parcela da população não teria ―consciência precisa para recebê-las‖ (idem, ibidem). O
fim da argumentação foi além ao afirmar que aquela grande massa estaria se deixando
―[...] escravizar e espoliar, sem força e sem ânimo para afirmar sequer os seus direitos
humanos‖ (idem, ibidem).
Na mesma edição foi publicado um texto cujo principal elemento fundador na
rua imaginada pelo eu lírico era a palavra. Essa seria elevada à uma nova condição ao
ser ritmada. Os sons expressos na leitura dos versos evidenciariam a maestria técnica do
autor. A ―rua da felicidade‖ que rima com ―mocidade‖ seria somente acessível por meio
da palavra e, em última estância, da leitura. Mesmo que o poema fosse declamado para
que outros tivessem a oportunidade de ter contato com o ritmo, só o faria por intermédio
das letras. Nesse sentido, o poema seria sintomático de uma visão utópica, com cenas
que, apesar de não terem compromisso algum com a realidade do contexto de produção,
se distanciariam enormemente do cotidiano de, pelo menos, 75% daquela população.
Por outro lado, poderia igualmente ser uma ferramenta crítica demonstrando a
importância da palavra e, por extensão, da língua. O ritmo que ecoa dessa rua de poeta
seria a valorização desse patrimônio imaterial. Em suas calçadas, para frente, correria a
―sorte diferente de toda gente‖. Dessa forma, todos seguiriam na mesma direção, rumo
ao ―infinito‖.
140
3. Considerações Finais
Estética também contou com a ativa contribuição do poeta, recebendo quatro poemas
em duas edições. A conferência ―Revelação do Brasil pela poesia moderna‖, nesse
sentido, foi um outro marco, pois com seu prestígio foi convidado a falar sobre o papel
da poesia naquele tempo, explicar os propósitos do movimento à nova audiência e ler
poemas de seus contemporâneos. Esse documento revela certa afinidade com o que
estava sendo feito, além de demonstrar que as diferenças entre os compositores dariam o
tom da música entoada. O modernismo não foi homogêneo e a observação dessas fontes
permitem reavaliar julgamentos e entender o contexto de produção de obras
significativas no período.
A ideia preconcebida de que os movimentos de vanguarda europeus - sobretudo
o futurismo - seriam definidos pelo prefixo ―anti‖, de certo modo, perde parte de sua
força quando analisamos a adaptação desses ideais por nossos intelectuais. A reflexão
de Marjorie Perloff foi valiosa para relativizar a noção de ruptura na gênese do
modernismo e formação de grupos vanguardistas. Viviana Gelado e Annateresa Fabris
foram responsáveis por apresentar a forma pela qual esse novo modo de pensar a arte
foi incorporado às nossas letras. O evento que abalou os lustres do Teatro Municipal,
em fevereiro de 1922, contou com o apoio da elite cafeeira, da imprensa e de um seleto
grupo de admiradores. A intenção seria de romper, sem destruir. Mesmo o editorial de
Klaxon não afirmou que o ideal da revista era o de criar algo novo partindo do zero. A
própria presença de Guilherme de Almeida em todos esses acontecimentos seria
sintomática de uma estética que se erguia de mãos dadas com a tradição intelectual,
valorizando o que poderia ser incorporado à nova manifestação artística. Ser moderno
não implicaria em destruição abrupta da produção do século anterior em uma pretensa
tentativa de estabelecimento do novo. Houve ruptura, mas não no sentido destruidor e
literal do termo. Ela ocorreu no modus operandi de fazer versos, escultura, música,
pintura, cinema, entre outras artes. O pequeno grupo de apreciadores de literatura, à
época, estaria acostumado com outras abordagens estilísticas quando as primeiras
produções modernistas foram divulgadas por intermédio das revistas.
Os espaços elegidos para os debates se tornaram verdadeiras testemunhas de um
movimento que marcaria a história literária. Estudar as publicações periódicas implica
em citar os cafés, salões, exposições, reuniões em escritórios de modo a perceber como
a coletividade se formava de forma crítica. O ensaio de Jean- François Sirinelli, o livro
de Monica Pimenta Velloso e o depoimento de Inojosa citado no início do segundo
capítulo, contribuíram para enxergarmos a força do diálogo, da discussão e
143
por meio da leitura dos poemas nas revistas e espera contribuir para investigações
futuras.
4. Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Guilherme de. ―Sobre a saudade‖. In: Klaxon: mensário de arte moderna. n.
1, 15 de maio de 1922. São Paulo: Tipografia Paulista, p. 7.
_____. ―O fogo na montanha‖. In: Árvore Nova: do movimento cultural do Brasil. ano
II, num. I (2ª série). Rio de Janeiro: Tipografia do Anuário do Brasil, janeiro de 1923. p.
9.
_____. ―A flor de cinza (Teoria do Amor)‖ e ―Velocidade (96 quilômetros por hora)‖.
In: Estética: revista trimestral, ano I, vol. I. Rio de Janeiro: Livraria Odeon, setembro de
1924. p. 37-40.
_____. ―Febre amarela‖ e ―Policromia Brasileira‖. In: Estética: revista trimestral, ano II,
vol. I. Rio de Janeiro: Livraria Odeon, abril a junho de 1925. p. 266.
_____. ―Pijama‖. In: A Revista, ano 1, n.3. Belo Horizonte: Tipografia do Diário de
Minas, janeiro de 1926. p. 14.
_____. ―Modinha do pernilongo‖. In: Terra Roxa e outras terras, ano I, n. 2. São Paulo:
Tipografia Paulista, 3 de fevereiro de 1926. p. 1
_____. ―L‘oiseau bleu‖. In: Verde: revista mensal de arte e cultura, ano I, n. 4.
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1
Segundo informações extraídas de: FABRIS, Mariarosaria. Um ―mundo novo‖ segundo os futuristas e
modernistas. In: Artelogie: recherches sur les arts, le patrimonie et La littérature de l‘Amérique Latine.
Número 1 (Dossier thématique: Brésil, questions sur le modernisme), 2011. Disponível em:
http://cral.in2p3.fr/artelogie/spip.php?article68. Acesso em: 30/03/2016.
154
2
―Não se trata de um pseudônimo, mas de partes de seu nome completo, que era Carlos Tácito Alberto de
Almeida Araújo. O objetivo do poeta era distanciar-se da identificação com o irmão Guilherme de
Almeida, poeta que já gozava de prestígio à época.‖ Citação presente em: PASINI, Leandro. ―A Semana
de 22 e a poesia: contradições e desdobramentos‖. In: Remate de Males. Campinas/SP. v. 33, 2013. p.
191-210. Disponível em: revistas.iel.unicamp.br/index.php/remate/article/download/3877/3472. Acesso
em: 30/03/2016.
3
Conforme estudo de: CAMARGOS, Márcia. Semana de 22: entre vaias e aplausos. São Paulo:
Boitempo, 2002. A autora se refere à seção sobre cinema em que estariam publicados ―[...] artigos do
múltiplo Mário de Andrade, assinados sob pseudônimos de R. de M., G. de N., Ínterim ou simplesmente
‗A‘.‖ (p. 127).
155
4
Cf. nota 3.
157
6
Cf. nota 3.
159
NOTA: ―Enrique Loudet‖ (p. 103), ‖Há cem anos‖ (p. 104), seção de crítica literária
intitulada ―Livros‖ (p. 110-4), seção ―O homem e as cousas...‖ (p. 122-3), ―Ronda
Crepuscular‖ (p.126) e ―Árvore Nova e a imprensa carioca‖ (p.127) sem assinatura.
NOTA: seções ―Arte‖ (p. 169-172) e ―O homem e as cousas...‖ (p. 182-3) sem
assinatura.
1 F.** - -
5 Carlos de Cabo Verde 6 de setembro de
Vasconcelos 1883
9 Guilherme de Campinas/São 24 de julho de 1890
Almeida Paulo
10 Arnaldo Porto Alegre 22 de abril de 1876
Damasceno Vieira
11 Prado Kelly Niterói 10 de setembro de
1904
12 Ildefonso Falcão Rio de Janeiro 1º de maio de 1894
13 Francisco Costa Lisboa
15 Jaime d‘Altavilla Maceió 16 de outubro de
1895
17 Juan W. Goz Buenos Aires 1865
24 Ângelo Guido Cremona 10 de outubro de
1893
28 Perillo Gomes Portugal 1884
30 Jorge de Lima Alagoas 23 de abril de 1893
34 Álvaro Moreyra Porto Alegre 23 de novembro de
1888
36 Carlos Rubens Rio de Janeiro 1888
38 Silveira Netto Paraná 4 de novembro de
1872
41 Rocha Pombo Paraná 4 de dezembro de
1857
42 P.G.** - -
45 Peregrino Júnior Natal 12 de março de
1898
Andrade 1898
45 A. C. Couto de Campinas/São 19 de setembro de
Barros Paulo 1896
55 Afonso Arinos, Belo Horizonte 27 de novembro de
sobrinho 1905
57 Prudente de Morais, Piracicaba/São 19 de junho de
neto Paulo 1895
65 Teixeira Soares São Fidelis/Rio de 8 de agosto de 1861
Janeiro
86 Américo Facó Ceará 21 de outubro de
1885
91 Sérgio Buarque de São Paulo; 11 de julho de
Holanda e Pudente Piracicaba/São 1902; 19 de junho
de Morais, neto Paulo de 1895
95 Teixeira Soares São Fidelis/Rio de 8 de agosto de 1861
Janeiro
98 Sérgio Buarque de São Paulo; 11 de julho de
Holanda e Pudente Piracicaba/São 1902; 19 de junho
de Morais, neto Paulo de 1895
Janeiro
210 Renato Almeida São Paulo 6 de dezembro de
1895
213 Rodrigo M. F. de Belo Horizonte; 17 de agosto de
Andrade; Sérgio São Paulo; 1898; 11 de julho
Buarque de Piracicaba/São de 1902 e 19 de
Holanda e Prudente Paulo junho de 1895
de Morais, neto
228 Prudente de Morais, Piracicaba/São 19 de junho de
neto Paulo 1895
7
Com base no ―Glossário e homens e coisas da Estética‖, escrito por Mario Camarinha da Silva e
presente na edição fac-similar (1974): ―Poeta, irmão de Guilherme de Almeida, colaborador de Estética 3
(ver Carlos Alberto de Araújo)‖ (p. 17). Na seção em que apresenta as dedicatórias da revista, Silva
afirma: ―[...] Tácito de Almeida (irmão do poeta modernista: Carlos Alberto de Araújo).‖ (p. 26). In:
Estética: 1924/1925, edição fac-similada. Rio de Janeiro: Gernasa, 1974. p. 13-53. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=098531&pasta=ano%20192&pesq=. Acesso em:
31/03/2016.
163
A Revista
(pseudônimo de
Carlos Drummond
de Andrade8)
42 A Redação - -
43 J. do C.** - -
48 Mário de Andrade São Paulo 9 de outubro de
1893
49 Emílio Moura Dores do 14 de agosto de
Indaiá/Minas 1902
Gerais
50 Carlos Drummond Itabira/Minas 31 de outubro de
de Andrade Gerais 1902
52 Pedro Nava Juiz de Fora/Minas 5 de junho de 1903
Gerais
53 Emílio Moura Dores do 14 de agosto de
Indaiá/Minas 1902
Gerais
54 Mário de Andrade São Paulo 9 de outubro de
1893
55 Iago Pimentel São João Del-Rei/ 22 de março de
Minas Gerais 1890
55 Carlos Drummond Itabira/Minas 31 de outubro de
de Andrade Gerais 1902
57 Austen Amaro Belo Horizonte 12 de dezembro de
1901
8
―A Revista nos legou algumas contribuições notáveis: [...] uma comédia de Antônio Chrispim
(pseudônimo de C. D. A) [...]‖ (p. 105). Extraído de: BUENO, Antônio Sérgio. ―Revistas modernistas em
Portugal e no Brasil‖. In: O eixo e a roda: v. 21, n.1, 2012. p. 96-110. Disponível em:
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/viewFile/4137/3998. Acesso em:
31/03/2016
165
9
Cf. nota 8.
167
10
Em carta a Carlos Drummond de Andrade (Ano Bom de 1926), Mário aponta para o surgimento de um
―jornalzinho quinzenal moderno‖ (p. 64). A nota explicativa nos traz mais informações: ―MA, ora com o
pseudônimo Pau d’Alho, ora com o próprio nome, colaborou escrevendo não só sobre música, mas
também sobre pintura, teatro e outros assuntos [...]‖ (p. 65). Cf. Carta 13. In: ANDRADE, Carlos
Drummond de. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1982.
11
Cf. nota 10.
168
12
Cf. nota 10.
169
2 Biva Bigode** - -
3 Pau D'alho13 - -
3 Antônio de São Paulo 25 de maio de 1901
Alcântara Machado
3 A Redação - -
3 Teobaldo Fagundes Pernambuco 1898
3 Carlos Drummond Itabira/Minas 31 de outubro de
de Andrade Gerais 1902
4 Sérgio Milliet São Paulo 20 de setembro de
1898
4 Luiza Guerreiro Porto Alegre 18 de maio de 1850
4 Manuel Bandeira Recife 19 de abril de 1886
13
Cf. nota 10.
170
1898
NOTA: os textos "Resposta de Affonso De Taunay" (p.1), "Pingos nos is" (p. 3) e "O
modernismo na academia" (p. 4) não possuem assinatura.
14
Pseudônimo do crítico literário Antônio Gabriel de Barros Vale (Juiz de Fora/ Minas Gerais, 1899). In:
NUNES, Raimundo. Pedro Nava: memória. São Paulo: Editora Ateniense, 1987. p. 335.
172
Achilles
Vivacqua15)
27 Henrique de Cataguazes/Minas 13 de agosto de
Resende Gerais 1899
28 Emílio Moura Dores do 14 de agosto de
Indaiá/Minas Gerais 1902
29 Martins Mendes Ubá/ Minas Gerais 1903
30 Christóphoro Fonte- São Cotardo / 1906
Boa Minas Gerais
30 Oswaldo Abritta Cataguazes/Minas 1908
Gerais
31 Rosário Fusco São Geraldo/ Minas 19 de julho de 1910
Gerais
NOTA: o artigo "O 7 de setembro e o coronel José Vieira de Resende e Silva" (p. 20)
não possui assinatura.
15
―Em 1922, assumindo o pseudônimo de Roberto Theodoro, o escritor adentrou no mundo das letras.
Participou ativamente do movimento modernista mineiro, e fez parte do grupo da revista Verde, de
Cataguases [...]‖ (p. 82). Cf: CARVALHO, Juliana Cristina de. O modernismo em Belo Horizonte: a
contribuição de Achilles Vivacqua. Dissertação de Mestrado (Estudos Literários). Universidade Federal
de Minas Gerais, UFMG, Minas Gerais, 2013. Disponível em:
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/ECAP962H8V/disserta__o._juliana_
__completa_final_s_anexo.pdf?sequence=1. Acesso em: 01/04/2016.
16
Cf. nota 14.
173
Peixoto Gerais
19 Camilo Soares Ubá/ Minas Gerais 1869
20 Camilo Soares Ubá/ Minas Gerais 1869
21 Martins de Oliveira
Rio Novo/ Minas 21 de junho de
Gerais 1896
22 Martins Mendes Ubá/ Minas Gerais 1903
22 Oswaldo Abritta Cataguazes/Minas 1908
Gerais
23 Emílio Moura Dores do 14 de agosto de
Indaiá/Minas Gerais 1902
24 Edmundo Lys17 - -
25 Rosário Fusco São Geraldo/ Minas 19 de julho de 1910
Gerais
26 Rosário Fusco São Geraldo/ Minas 19 de julho de 1910
Gerais
26 Yan de Almeida Rio Claro/ São 8 de dezembro de
Prado Paulo 1898
17
Cf. nota 14.
174
sobrinho 1905
13 Francisco Inácio Cataguazes/Minas 5 de abril de 1909
Peixoto Gerais
13 Pimenta Velloso Minas Gerais 1897
14 Antônio de São Paulo 25 de maio de 1901
Alcântara Machado
16 Carlos Drummond Itabira/Minas 31 de outubro de
de Andrade Gerais 1902
18 Ildefonso Falcão Rio de Janeiro 1º de maio de 1894
18 Albano de Moraes Minas Gerais 1896
19 Guilherme de Campinas/ São 24 de julho de 1890
Almeida Paulo
20 Henrique de Cataguazes/Minas 13 de agosto de
Resende Gerais 1899
21 A. Fonseca Lobo Santa Quitéria/ 4 de novembro de
Minas Gerais 1892
21 Guilhermino César Eugenópolis/ Minas 1908
Gerais
22 Edmundo Lys18 - -
23 Francisco Inácio Cataguazes/Minas 5 de abril de 1909
Peixoto Gerais
24 Francisco Inácio Cataguazes/Minas 5 de abril de 1909
Peixoto Gerais
24 Ascânio Lopes Ubá/Minas Gerais 11 de maio de 1906
25 Henrique de Cataguazes/Minas 13 de agosto de
Resende Gerais 1899
25 Francisco Inácio Cataguazes/Minas 5 de abril de 1909
Peixoto Gerais
26 Francisco Inácio Cataguazes/Minas 5 de abril de 1909
Peixoto Gerais
18
Cf. nota 14.
176
14 A. Fonseca Lobo
14 João Dornas Filho Itaúna/Minas Gerais 7 de agosto de
1902
15 Peregrino Júnior Natal 12 de março de
1898
16 Ubyratan Valmont Belo Horizonte 1895
17 Willy Levin Berlim 1860
18 Francisco I. Peixoto Cataguazes/Minas 5 de abril de 1909
Gerais
19 Ildefonso Falcão Rio de Janeiro 1º de maio de 1894
20 Jorge Fernandes Rio Grande do Norte 22 de agosto de
1887
21 Francisco I. Peixoto Cataguazes/Minas 5 de abril de 1909
Gerais
22 Affonso Arinos, Belo Horizonte 27 de novembro de
sobrinho 1905
23 A. Fonseca Lobo Santa Quitéria/ Minas 4 de novembro de
Gerais 1892
23 F.** - -
24 Guilhermino Cesar Eugenópolis/ Minas 1908
Gerais
24 F.** - -
25 Guilhermino Cesar Eugenópolis/ Minas 1908
Gerais
26 F.** - -
26 Peixoto Cataguazes/Minas 5 de abril de 1909
Gerais
NOTA: o texto ―Jorge de Lima – poemas‖ (p. 25) não possui assinatura.
Almeida 1887
4 Carlos Drummond Itabira/Minas Gerais 31 de outubro de
de Andrade 1902
5 Rosário Fusco São Geraldo/ Minas 19 de julho de
Gerais 1910
5 Antônio de São Paulo 25 de maio de 1901
Alcântara Machado
6 Ascânio Lopes Ubá/Minas Gerais 11 de maio de 1906
7 Peregrino Júnior Natal 12 de março de
1898
8 Murilo Mendes Juiz de Fora/ Minas 13 de maio de 1901
Gerais
9 Ascenso Ferreira Palmares/Pernambuco 9 de maio de 1895
10 Ildefonso Pereda Tacuarembó/Uruguai 1899
Valdés
10 Martins Mendes Belo Horizonte 1893
11 Guilhermino César Eugenópolis/ Minas 1908
Gerais
12 Ascânio Lopes Ubá/Minas Gerais 11 de maio de 1906
14 Francisco Inácio Cataguazes/Minas 5 de abril de 1909
Peixoto Gerais
15 Walter Benevides Minas Gerais 1903
15 Henrique de Cataguazes/Minas 13 de agosto de
Resende Gerais 1899
16 Carlos Chiacchio Januária/Minas 1884
Gerais
18 N. da R.** - -
22 Graça Aranha São Paulo 21 de junho de
1868
23 Mário de Andrade São Paulo 9 de outubro de
1893
Revista de Antropofagia
Raul Bopp19)
3 Oswald de Andrade São Paulo 11 de janeiro de
1890
4 Antônio de São Paulo 25 de maio de 1901
Alcântara Machado
5 Guilherme de Campinas/São 24 de julho de 1890
Almeida Paulo
5 Plínio Salgado São Bento do 22 de janeiro de
Sapucaí/São Paulo 1895
7 Oswald de Andrade São Paulo 11 de janeiro de
1890
8 Álvaro Moreyra Porto Alegre 23 de novembro de
1888
8 Antônio de São Paulo 25 de maio de 1901
Alcântara Machado
e Raul Bopp
19
Cf. BOAVENTURA, Maria Eugênia. A vanguarda antropofágica. São Paulo: Ática, 1985. p. 198.
20
De acordo com informações extraídas do verbete ―WELLINGTON BRANDÃO‖. Cf.: Dicionário do
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC). Disponível em:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/brandao-wellington. Acesso em:
01/04/2016.
180
1908
5 Nicolás Fusco Uruguai 03 de outubro de
Sansone 1904
6 Augusto Meyer Porto Alegre 24 de janeiro de
1902
7 Carlos Drummond Itabira/Minas 31 de outubro de
de Andrade Gerais 1902
7 Plínio Salgado São Bento do 22 de janeiro de
Sapucaí/São Paulo 1895
8 Ascenso Ferreira Palmares/ 9 de maio de 1895
Pernambuco
21
Pseudônimo de Oswald de Andrade. In: NETTO, Adriano Bitarães. Antropofagia oswaldiana: um
receituário estético e científico. São Paulo: Annablume, 2004. p. 103.
181
Gerais
4 Antônio de São Paulo 25 de maio de 1901
Alcântara Machado
5 Mário de Andrade São Paulo 9 de outubro de
1893
6 Augusto Meyer Porto Alegre 24 de janeiro de
1902
6 Mário de Andrade São Paulo 9 de outubro de
1893
7 Yan de Almeida Rio Claro/ São 8 de dezembro de
Prado Paulo 1898
NOTA: Os seguintes textos não possuem assinatura: ―Cidade do Natal do Rio Grande‖
(p. 3) e ―Brasiliana IV‖ (p. 8).
Gerais
2 Franklin Ceará 1898
Nascimento
2 Ruy Cirne Lima Porto Alegre 23 de dezembro de
1908
3 José Américo de Areia/ Paraíba 10 de janeiro de
Almeida 1887
4 Antônio de São Paulo 25 de maio de 1901
Alcântara Machado
4 João do Presente22 - -
4 Azevedo Corrêa São Paulo 1898
Filho
5 Ascenso Ferreira
Palmares/ 9 de maio de 1895
Pernambuco
6 Jorge de Lima União dos 23 de abril de 1893
Palmares/ Alagoas
6 Sebastião Dias Pernambuco 1897
7 Yan de Almeida Rio Claro/ São 8 de dezembro de
Prado Paulo 1898
1908
5 Jorge Fernandes Rio Grande do 22 de agosto de
Norte 1887
6 Mário Graciotti São Paulo 18 de fevereiro de
1901
6 Brasil Pinheiro Ponta Grossa 12 de dezembro de
Machado 1907
7 Yan de Almeida Rio Claro/ São 8 de dezembro de
Prado Paulo 1898
24
Segundo Maria Eugênia Boaventura (op. cit., p. 169) trata-se de um ―[...] autor [brasileiro] que adota
pseudônimo e língua franceses‖.
184
Segunda dentição
25
Cf. verbete ―PRUFENTE DE MORAIS NETO‖ do dicionário eletrônico do Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil - CPDOC/FGV:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/prudente-de-morais-neto. Acesso em:
02/04/2016.
185
26
Cf. GELADO, Viviana. Poéticas da transgressão: vanguarda e cultura popular nos anos 20 na América
Latina. Rio de Janeiro: 7 Letras; EdUFSCar; FAPESP, 2006. p. 150.
27
op. cit., p. 168.
28
Maria Eugênia Boaventura (op. cit., p. 90) afirma que o texto ―De antropofagia‖, de autoria de Japy-
Mirim, possui ―[...] as mesmas características estilísticas de Oswald de Andrade‖.
29
Maria Eugênia Boaventura refere-se ao autor do artigo como o ―[...] encarregado do comentário das
revistas que surgem na época‖. (op. cit., p. 45).
30
Pseudônimo de Oswald de Andrade. In: Revista do livro (edições 40-43), Instituto Nacional do Livro,
1970. p. 63.
186
NOTA: ―Algumas notas sobre o que já se tem escrito em torno da nova descida
antropofágica na nossa literatura‖ sem assinatura.
31
Cf. nota 21.
32
Personagem do romance A queda do anjo, de Camilo Castelo Branco, publicado em fins do ano de
1865. Maria Eugênia Boaventura (op. cit., p. 44) disserta sobre a existência de nomes reais e inventados
ao longo da revista: ―Os nomes próprios que desfilaram na revista variam entre nomes verdadeiros e
inventados. Esses últimos, às vezes, têm um referente real, são homônimos de nomes reais e,
consequentemente, possuem um valor paródico‖.
33
Cf. nota 23.
34
De acordo com Maria Eugênia Boaventura (idem, ibidem): ―Júlio Dante, alusão ao escritor português
Júlio Dantas; Braz Bexiga, paródia do título de Alcântara Machado [...]‖.
35
Cf. BOAVENTURA, op. cit., p. 179.
36
Cf. nota 29.
37
―Cabo Machado, [...] título de um poema de Mário de Andrade‖. In: BOAVENTURA, op. cit., p. 44.
187
Odjuavu49 - -
François Mauriac Bordéus (França) 11 de outubro de 1885
A Redação - -
Darwin Reino Unido 12 de fevereiro de 1809
Japy-Mirim50 - -
Menelik51 - -
Aristides Silva Rio de Janeiro 27 de fevereiro de 1907
49
Cf. nota 24.
50
Cf. nota 23.
51
Cf. notas 37 e 41.
52
Cf. nota 29.
53
In: BOAVENTURA, op. cit., p. 189.
54
Uma das ―colagens-provérbios‖, conforme destaca Maria Eugênia Boaventura (op. cit., p. 79).
55
Cf. nota 26.
56
Mesmo caso de ―Calisto Eloi‖. Cf. nota 26.
57
Cf. nota 24.
58
Nome incluso por Augusto de Campos (op. cit.) na lista de pseudônimos ―[...] mais ou menos
botocudos ou trocadilhescos‖. Cf. nota 37.
59
Sobre esse caso, Boaventura afirma: ―Acontece ainda nomes verdadeiros pouco conhecidos, ou
apelidos, funcionarem como nomes fictícios para os não-iniciados [...]‖. (op. cit., p. 45).
189
60
Cf. BOAVENTURA, op. cit., p. 45.
61
Cf. nota 39.
62
Cf. nota 36.
63
Esse pseudônimo consta na lista feita por Augusto de Campos. Cf. nota 37.
64
Cf. nota 14.
65
Cf. nota 34.
66
Cf. nota 23.
67
Cf. nota 39.
68
Cf. nota 29.
190
69
Cf. nota 53.
70
Cf. nota 39.
71
Cf. nota 24.
72
Cf. nota 53.
73
Cf. nota 21.
74
Tal qual aponta Maria Eugênia Boaventura, op. cit., p. 45.
75
Idem, ibidem.
191
76
Boaventura (op. cit., p. 45) afirma que houvera ―[...] também a possibilidade de nomes reais figurarem
como pseudo-autores. Muitos deles aludem a fatos ou personagens históricos [...]‖.
77
Cf. nota 29.
78
Pseudônimo de Oswald de Andrade. Cf. nota 30 para referência completa.
192
Movimento Brasileiro
79
Cf. nota 16.
193
Almeida Paulo
8 Mariano de Rio de Janeiro 1902
Medeiros
9 Luís da Câmara Natal 30 de dezembro de
Cascudo 1898
10 Emílio Pettoruti Argentina 1 de outubro de
1892
11 Aníbal Machado Minas Gerais 9 de dezembro de
1894
16 A. Teixeira Soares Manadas 12 de setembro de
1827
1868
21 Homero Pires Bahia 7 de fevereiro de
1887
24 Augusto Frederico Rio de Janeiro 18 de abril de 1906
Schimidt
25 Rubens Borba de Araraquara 23 de janeiro de
Morais 1889
Sobre a saudade
Quando a sede
pôs um beijo seco, de fogo, em minha boca,
eu estendi meus lábios para a argila fosca:
- e o reflexo branco de uma estrela gelada
Boiava na superfície da água exilada.
Os discóbolos
Os seus gestos
eram certos
e os seus pés tinham força sobre a areia móvel
E o pequeno sol rápido de cobre
fugia dos seus braços tesos
e lustrosos de óleos,
como a flecha do arco forte. Todos os olhos
seguiam-no na trajetória efêmera e aérea
e ficavam acesos
do fogo metálico do pequeno sol.
E nem viam o outro sol, o verdadeiro, porque ele era
Inatingível e parecia menor.
As cortesãs
Elas passam no poente, junto ao cais. Seus vultos
volantes, nos stróphions curtos,
azuis, dourados e lilases,
são leves e sutis: parecem grandes aves.
Mormaço
Apenas as taturanas
escorrem quase líquidas
na relva que estala como um esmalte.
E longe uma última romântica
- uma araponga metálica – bate
o bico de bronze na atmosfera timpânica.
O fogo na montanha
E a rosa no ar...
Par-
e o guante de prata...
-la-
um salto...
-pa-
E assim,
-tão!
lá vi o cavalo
Parla-
e o seu cavaleiro...
-patão!
Lá vão quatro nuvens baixinhas no chão...
Lá vai uma rosa vermelha na mão...
Parla-patão!
Par-la-pa-tão!
II
III
202
horizontais,
sobre a cabeça espantada do Pequeno Polegar...
Febre amarela
Que calor!
Olha a cara amarela
do sol redondo
redondo
redondo!
Policromia brasileira
Pijama
Espreguiçamento-Faquirização-ESPREGUIÇA...
Modinha do pernilongo
É a insônia amarela
que escorre da lua,
que ondula e flutua
na sala caiada
da chácara, em torno
da rede parada,
pesada de sono
(ESTRIBILHO)
A rede resmunga
nos ganchos, rezinga,
e zanga-se e funga
blasfêmias, e xinga.
E o alado, sinuoso
deusinho da insônia
ciranda, fanhoso,
ao som da sanfona...
(ESTRIBILHO)
(ESTRIBILHO)
E tudo se anima.
Começa o Outro-Mundo.
Porque a lamparina
de azeite abre, ao fundo,
nas sombras inquietas,
205
(ESTRIBILHO)
Lá fora, os coqueiros
dos montes redondos,
picando ligeiros,
levantam calombos
na pele da terra
suada e já tonta
da febre amarela
do dia que aponta...
(ESTRIBILHO)
L’oiseau Bleu
Este retrato...
Fome
80
Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01005510#page/1/mode/1up. Acesso em:
20/12/2016.
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Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01005520#page/22/mode/1up. Acesso em:
20/12/2016.
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Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01005530#page/6/mode/1up. Acesso em:
20/12/2016.
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Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01005550#page/1/mode/1up. Acesso em:
20/12/2016.
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Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01005580#page/1/mode/1up. Acesso em:
20/12/2016.
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Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=359483&pasta=ano%20192.
Acesso em: 20/12/2016.
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Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/06005310#page/39/mode/1up. Acesso em:
20/12/2016.
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Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/06005330#page/1/mode/1up. Acesso em:
20/12/2016.
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Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01956130#page/1/mode/1up. Acesso em:
20/12/2016.
89
Reprodução da edição fac-similada. In: PUNTONI, P. & TITAN JÚNIOR, S. (org.). Terra Roxa e
outras terras – Revistas do Modernismo 1922-1929. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,
Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, 2014.
90
Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/06001440#page/1/mode/1up. Acesso em:
20/12/2016.
91
Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/060013-01#page/1/mode/1up. Acesso em:
20/12/2016.
92
Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/060062-03. Acesso em: 20/12/2016.
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