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VANGUARDA
by Ricardo Marques | Jan 1, 2010 | V | 0 comments
https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/vanguarda/ 1/5
01/05/2020 VANGUARDA - E-Dicionário de Termos Literários
dos artistas por um gosto burguês estafado e obsoleto, alimentado por uma poesia nissecular
assente em lugares-comuns, mas igualmente por uma autêntica revolução das mentalidades,
provocada, entre outros, pelos trabalhos seminais de Einstein e Freud sobre a relatividade e a
psicanálise (a que os poetas e artistas do período claramente aderiram de imediato, como é
exemplo D. H. Lawrence).
Esta experimentação estaria então ligada intrinsecamente à polémica literária, que
em Portugal é concomitante com o aparecimento do próprio Modernismo, com a
revista Orpheu, em 1915. Neste sentido, há aqui uma clara co-existência temporal entre o
conceito de Vanguarda e de Modernismo (ainda que tal termo não existisse e estivesse ainda
para ser atribuído retrospectivamente). O crítico e poeta E.M. de Melo de Castro, ele próprio
um (neo)vanguardista dos anos 60, esclarece, já em 1980: “Foi no nível de teorização que ela
[Vanguarda] começou a ganhar peso internacionalmente e desde o começo da década de 60 se
transformou num motor auto-re exivo sobre a produção da arte ou de anti-arte, de cultura ou
de contra-cultura.”
Assim se vê igualmente o carácter dinâmico deste conceito operativo – a vanguarda
ocorre sempre dialecticamente, num sentido lato, ocorre num determinado momento
temporal. Reage a um tempo eminentemente conservador, respeitoso da “tradição”,
produzindo ‘manifestos’ que a rmam uma diferenciação ao tempo vigente (pense-se
no Manifesto Anti-Dantas, do futurista Almada Negreiros). Por outro lado, certas vanguardas
podem ser herdeiras de outro tempo, tal como as (neo)vanguardas dos anos 60, em que
teóricos da vanguarda como Ana Hatherly e o próprio Melo e Castro, eram eles próprios
vanguardistas, bem como herdeiros de outros ismos como o Futurismo, o Surrealismo, e as
práticas dadaísticas. Neste sentido, a Vanguarda começa a ser contraditória, porque ao querer
libertar o homem-artista e o objecto artístico por si produzido, acaba por circunscrevê-lo ao
próprio objecto e à sua prática artística através da sua teorização, quando começa a recepção
literária e a aceitação na academia (de lembrar que Roland Barthes defende “a morte das
vanguardas” já nos anos 60, quando precisamente nasce verdadeiramente esse pendor
re exivo e crítico acima descrito).
Talvez pelas palavras de Ionesco se entenda, em suma, o conceito de Vanguarda:
Eu pre ro de nir a vanguarda em termo de oposição e ruptura. Enquanto a maior
parte dos escritores, artistas e pensadores acreditam que pertencem ao seu tempo, o
dramaturgo revolucionário sente que está a correr contra o seu tempo…Um homem de
vanguarda é como um inimigo dentro de uma cidade que ele pretende destruir, contra o
qual ele se rebela; porque como qualquer sistema de governo, uma forma estabelecida de
expressão é também uma forma de opressão. O homem da vanguarda é o opositor de um
sistema existente. (Eugène Ionesco, Notes andCounter-Notes, London, J. Calder, 1964, pp.
40-41, apud Calinescu, 1999, p. 110)
{bibliogra a}
BÜRGER, Peter, TheTheoryofthe Avant-Garde, Minneapolis, Universityof Minnesota
Press, 1974. [Vega, 1993].
CALINESCU, Matei, Five Faces of Modernity: Modernism, Avant-Garde, Decadence, Kitsch,
Post-Modernism, Durham : Duke University Press, 1987. [Vega, 1999.
GUIMARÃES, Fernando, Simbolismo, Modernismo e Vanguardas, Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 1982.
HATHERLY, Ana, O Espaço Crítico do Simbolismo à Vanguarda, Lisboa: Caminho, 1979.
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