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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE VENDAS NOVAS FICHA DE TRABALHO

9.º Ano de Escolaridade

Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente

1. Lê os textos que se seguem com atenção e responde, seguidamente às questões.

O GÉNERO E A INTENCIONALIDADE DO AUTOR

O Auto da Barca do Inferno foi escrito por Gil Vicente em 1517, sendo considerado uma
MORALIDADE (peça cujas personagens são simbólicas e encarnam vícios ou virtudes, com o objetivo de
moralizar a sociedade). No que respeita à estrutura externa, o auto não apresenta a divisão em atos e cenas
própria do texto dramático. Pode considerar-se que a peça se desenrola num só ato, uma vez que não há
mudança de cenário. Porém, tendo em conta a entrada e saída de personagens, podemos considerar que a
peça é composta por onze cenas.
O auto representa o juízo final católico (através da metáfora do tribunal) de forma satírica e com
forte apelo moral. Aborda temas muito sérios, como a distinção entre o Bem e o Mal, e pretende funcionar
como uma sátira moralizadora. Este objetivo é atingido pelo autor seguindo o lema “ Ridendo castigat
mores” (a rir se corrigem os costumes) para criticar os usos e os costumes da sua época através do cómico.
Para isso, faz desfilar uma série de personagens-tipo no cais que se sujeitam às críticas do Diabo e do Anjo e
que acabam por embarcar na barca que lhes está destinada.

AS CATEGORIAS DO TEXTO DRAMÁTICO – AUTO DA BARCA DO INFERNO

No Auto da Barca do Inferno, a AÇÃO desenrola-se num cenário alegórico onde se representam o


mundo do Bem, personificado na figura do Anjo, e o mundo do Mal, personificado na figura do Diabo. No
que respeita a estrutura interna, a peça não é composta por uma ação única (como o teatro clássico supõe),
mas por um conjunto de miniações, cada uma delas girando em torno de um ou mais protagonistas.
Algumas destas miniações obedecem à estrutura do teatro clássico:  exposição, conflito e desenlace.
A exposição consta de uma breve apresentação da personagem, o conflito de um duplo interrogatório, feito
pelo Anjo e pelo Diabo, e o desenlace é constituído pela sentença proferida pelo Anjo ou pelo Diabo, que
condenam a maior parte das almas recém-falecidas a entrarem na barca do Inferno, início da sua
condenação eterna. Nalgumas miniações, a exposição coincide logo com o conflito, como acontece na cena
do Fidalgo.
Cada miniação funciona como uma espécie de tribunal, onde as personagens protagonistas vão
chegando e vão sendo julgadas pelos atos que praticaram em vida. O Anjo e o Diabo poderão ser
comparados a advogados de acusação, não existindo advogados de defesa. É o réu que tem de defender a
sua própria causa, o que lhe possibilita poucas ou nenhumas oportunidades de defesa e torna este tribunal
bastante rigoroso.
Estas miniações desenrolam-se num ESPAÇO/cenário alegórico, constituído pelas barcas do Inferno
e da Glória, capitaneadas pelo Anjo e pelo Diabo. Os dois batéis estão ancorados num cais, junto a um rio, e
tudo se passa num TEMPO após a morte. Neste ambiente, a barca do Anjo mantém o seu ar sereno e sério,
enquanto na barca do Diabo se vive um ambiente de festa, onde o Diabo e o Companheiro preparam o batel
para a próxima viagem, pois calculam que vão transportar muitos passageiros.
Quando chegam ao cais, as personagens já levam o seu destino traçado, em função dos atos que
cometeram em vida. Todas elas vão convencidas de que o seu lugar é na barca que conduz ao Paraíso, pois

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pensam que vão usufruir de vários privilégios que tiveram em vida, mostrando assim uma completa falta de
consciência acerca dos seus atos.
Cada PERSONAGEM representa um grupo social, destacando-se enquanto personagem-tipo. Os
elementos que transporta, os símbolos cénicos, e o seu comportamento em cena mostram que estamos
perante personagens que representam grupos sociais com os seus hábitos e defeitos, inconscientes dos atos
praticados em vida. Através do comportamento destas personagens, Gil Vicentes critica a sociedade do seu
tempo, com uma mentalidade medievalesca, apesar de Gil Vicente viver em pleno Renascimento. Para
divertir a Corte e o povo, Gil Vicente utiliza o riso para criticar, pois assim os espetadores ririam do
espetáculo e não sentiriam que a crítica lhes era dirigida.

1.1. Indica se as afirmações são verdadeiras (V) ou falsas (F) e corrige as falsas.

a) Gil Vicente respeitou as regras do teatro clássico no que à divisão em atos e cenas diz respeito.
b) A intenção do autor era, através do riso, criticar os usos e costumes da sociedade quinhentista e
alertá-la para a crise de valores que se atravessava na época.
c) Cada personagem que entra em cena é uma personagem redonda (ou modelada) que, à medida que
a ação se desenrola, altera o seu comportamento.
d) O desenlace de cada miniação está previamente decidido, de acordo com os atos que as
personagens praticaram em vida.
e) O tempo representado corresponde ao final do século XVI.
f) O espaço e a situação representados são alegóricos, sendo que o Anjo e o Diabo representam,
respetivamente, o Bem e o Mal.
g) O ambiente que se vive em cada barca é muito semelhante.
h) A maioria das personagens chega ao cais convencida de que embarcará para o Paraíso e continuará
a usufruir dos privilégios de que beneficiou em vida.
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2. Relembra a obra que leste e completa cada espaço dos textos que se seguem com as palavras adequadas.
Utiliza as palavras da lista abaixo para obteres a síntese de cada cena do auto.

alma ganância cantar formas Inferno mulher Companheiro


amante mártires palavra comprar libertinagem Pajem tirano
condenados escolhidos prostituição juro aguardar carinhosas Joane
purificação desprezo amante ingénua dinheiro imparcialidade Brísida Vaz
confessou subornos mártir confessado esgrima omitiu bode

2.1.Cena de introdução: Diabo e Companheiro


O Diabo dialoga com o 1)______________, ordenando-lhe que apronte a barca para a partida. Aquela é
festivamente embandeirada porque se prevê o transporte de grande número de 2)______________.

2.2.Cena do Fidalgo

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Entra o Fidalgo, D. Anrique, seguido de um Pajem que lhe segura a cauda do manto e lhe transporta uma
cadeira de espaldas. Entende que não pode ir para o Inferno não só pela sua nobreza mas porque sabe que a
esposa e a amante muito hão de rezar pela salvação da sua 3)______________. Perante a insistência do
Diabo, que entende o contrário, aproxima-se da barca do Paraíso, mas o Anjo repele-o por ter sido
4)______________ e ter desprezado o povo. O Fidalgo regressa, então, à barca do Inferno, onde o Diabo lhe
revela que tanto a 5)______________ como a 6)______________ o atraiçoaram em vida e sentiam-se agora
imensamente felizes nos braços dos seus amantes. O Fidalgo, cabisbaixo e acabrunhado, entra na barca
infernal e o 7)____________, simples elemento ornamental e distintivo, abandona o estrado.

2.3.Cena do Onzeneiro
A segunda personagem a entrar em cena é o Onzeneiro, que viveu a sua vida a amealhar dinheiro à
custa dos outros, emprestando dinheiro com um 8)______________ excessivo (11% - onzena). O Diabo quer
que ele entre desde logo na sua barca, mas o Onzeneiro, recusando, dirige-se à barca da Glória.
Na barca da Glória, o Onzeneiro é repelido pelo Anjo que o acusa de cobiça e de 9)______________.
De facto, o Onzeneiro traz uma bolsa tão grande que quase não cabe na barca, mas diz estar vazia. Pede ao
Diabo que o deixe voltar à terra para ir buscar um 10)______________ que deixou escondido e o Diabo
obriga-o a embarcar.

2.4.Cena do Parvo
A terceira personagem a entrar é o Parvo, chamado Joane, que insulta o Diabo, quando este o
convida a entrar na barca. Por ser uma personagem simples e 11)______________, que não se pode
responsabilizar pelos seus atos, o Anjo promete levá-lo para o Paraíso e manda-o 12)_____________ no cais.

2.5.Cena do Sapateiro
O Sapateiro, João Antão, é a quarta personagem a apresentar-se no cais, com o seu avental e
carregado de 13)______________ de sapatos. Como passou a vida a roubar o povo, é condenado à barca do
Inferno pelo Diabo. Uma vez que se 14)______________ e comungou, ouviu missas, deu esmolas e assistiu a
funerais, tenta a salvação junto do Anjo. Rejeitado pelo Anjo, não tendo alternativa, o Sapateiro entra na
Barca do Diabo.

2.6.Cena do Frade
O Frade Gabriel é a quinta personagem e entrar em cena, a cantar, e trazendo consigo uma moça,
Florença, sua 15)______________. O Frade está convencido de que vai para o Paraíso e que será perdoado
graças à sua condição de frade. Amante da 16)______________, o Frade faz uma demonstração ao Diabo
para mostrar que é bom praticante da modalidade. Depois da lição de esgrima, acompanhado da amante,
dirige-se à arca do Anjo, que mostra a reprovação total do seu comportamento ao nem sequer lhe dirigir a
17)______________. É o Parvo que denuncia a sua vida de pecado e de 18)______________. Sem mais
alternativas, conformado, o Frade e a sua amante entram na barca do Inferno.

2.7.Cena da Alcoviteira
A Alcoviteira Brísida Vaz é a sexta personagem a entrar em cena e, embora tenha vivido da
19)______________ de moças, altiva perante o Diabo, acha-se digna de ir para o Céu. A Alcoviteira
considera-se uma 20)______________ por ter sido vítima de perseguição por parte da Justiça (açoitada),
argumenta que fez “cousas mui divinas”, que “forneceu” as moças para os sacerdotes, orientou-as para
arranjarem maridos ou amantes e refere que “converteu” mais moças do que Santa Úrsula, de forma que se

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acha meritória do Céu. O discurso argumentativo da Alcoviteira perante o Anjo, pejado de palavras
21)______________, também não convence. Depois da condenação do Anjo, resignada, Brízida Vaz entra na
barca do Diabo.

2.8.Cena do Judeu
A sétima personagem a entrar em cena é um Judeu que traz um 22)______________ às costas. O
Judeu, provavelmente chamado Semah Fará, dirige-se diretamente à barca do Diabo, com o objetivo de
23)______________ a passagem para ele e o bode. Como é fanático da religião – o judaísmo – nem sequer
se dirige à barca da Glória.
O Diabo recebe-o com 24)______________, ao contrário da satisfação com que recebeu os outros
passageiros, e não o quer deixar entrar na barca. Depois da discussão sobre o embarque do bode,
25)______________ denuncia os seus pecados – a violação de sepulturas cristãs e o consumo de carne em
dias de jejum. O Diabo acaba por permitir que ambos se desloquem a reboque da barca – “ireis à toa”.

2.9.Cena do Corregedor e do Procurador


O Corregedor chega ao cais carregado de processos jurídicos e com a vara na mão. O Diabo acusa-o
de 26)______________, malícia, corrupção e exploração de lavradores ingénuos. O Corregedor defende-se,
argumentando que um juiz não pode ser condenado, que era a sua mulher quem recebia os
27)______________ e que a culpa dos seus atos é da própria Justiça, que se deixa subornar.
Entretanto, o Procurador, carregado de livros, chega também ao cais e encontra o Corregedor. O
Procurador, cúmplice do Corregedor na prática fraudulenta da Justiça, é também condenado pelo Diabo. O
Procurador, em conversa com o Corregedor, afirma não se ter 28)______________, pois não considerava a
hipótese de morrer repentinamente. O Corregedor afirma ter-se confessado antes de morrer, mas admite
que 29)______________ alguns pecados para não ter de devolver o dinheiro roubado.
Ambos se dirigem à barca da Glória para tentar a salvação, mas o Anjo condena-os e o Parvo
denuncia a sua desonestidade. A cena termina com uma discussão entre o Corregedor e
30)______________.

2.10. Cena do Enforcado


O Enforcado, com a corda ao pescoço, é a décima personagem a chegar ao cais e a dirigir-se ao batel
do Diabo. De imediato, o Diabo dá-lhe as boas vindas e pergunta-lhe o que disse Garcia Moniz, um possível
tesoureiro da Casa da Moeda de Lisboa. Ora, o Enforcado foi convencido por Garcia Moniz de que a morte
na forca era uma forma de 31)______________ dos pecados e que a prisão era o lugar dos
32)______________, de “santa gente”. Assim, o Enforcado acreditou que iria para o Paraíso. Desenganado e
desiludido pelo Diabo, resta-lhe entrar na barca do Inferno.

2.11. Cena dos Quatro Cavaleiros


Quatro cavaleiros, trazendo a cruz de Cristo, entram a 33)______________ no cais e dirigem-se à
barca da Glória. Ao passar em frente da barca do 34)______________, o Diabo, confuso com a indiferença
dos Cavaleiros, manda-os entrar na sua barca. Os Cavaleiros, com arrogância, afirmam que quem morre em
nome de Jesus Cristo não entra na barca do Inferno. Na sua barca, o Anjo já esperava os 35)___________ da
Igreja que refere merecerem “paz eternal”. O Auto termina com os cavaleiros a embarcar rumo ao Paraíso.

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