O Auto da Barca do Inferno foi escrito por Gil Vicente em 1517, sendo considerado uma
MORALIDADE (peça cujas personagens são simbólicas e encarnam vícios ou virtudes, com o objetivo de
moralizar a sociedade). No que respeita à estrutura externa, o auto não apresenta a divisão em atos e cenas
própria do texto dramático. Pode considerar-se que a peça se desenrola num só ato, uma vez que não há
mudança de cenário. Porém, tendo em conta a entrada e saída de personagens, podemos considerar que a
peça é composta por onze cenas.
O auto representa o juízo final católico (através da metáfora do tribunal) de forma satírica e com
forte apelo moral. Aborda temas muito sérios, como a distinção entre o Bem e o Mal, e pretende funcionar
como uma sátira moralizadora. Este objetivo é atingido pelo autor seguindo o lema “ Ridendo castigat
mores” (a rir se corrigem os costumes) para criticar os usos e os costumes da sua época através do cómico.
Para isso, faz desfilar uma série de personagens-tipo no cais que se sujeitam às críticas do Diabo e do Anjo e
que acabam por embarcar na barca que lhes está destinada.
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pensam que vão usufruir de vários privilégios que tiveram em vida, mostrando assim uma completa falta de
consciência acerca dos seus atos.
Cada PERSONAGEM representa um grupo social, destacando-se enquanto personagem-tipo. Os
elementos que transporta, os símbolos cénicos, e o seu comportamento em cena mostram que estamos
perante personagens que representam grupos sociais com os seus hábitos e defeitos, inconscientes dos atos
praticados em vida. Através do comportamento destas personagens, Gil Vicentes critica a sociedade do seu
tempo, com uma mentalidade medievalesca, apesar de Gil Vicente viver em pleno Renascimento. Para
divertir a Corte e o povo, Gil Vicente utiliza o riso para criticar, pois assim os espetadores ririam do
espetáculo e não sentiriam que a crítica lhes era dirigida.
1.1. Indica se as afirmações são verdadeiras (V) ou falsas (F) e corrige as falsas.
a) Gil Vicente respeitou as regras do teatro clássico no que à divisão em atos e cenas diz respeito.
b) A intenção do autor era, através do riso, criticar os usos e costumes da sociedade quinhentista e
alertá-la para a crise de valores que se atravessava na época.
c) Cada personagem que entra em cena é uma personagem redonda (ou modelada) que, à medida que
a ação se desenrola, altera o seu comportamento.
d) O desenlace de cada miniação está previamente decidido, de acordo com os atos que as
personagens praticaram em vida.
e) O tempo representado corresponde ao final do século XVI.
f) O espaço e a situação representados são alegóricos, sendo que o Anjo e o Diabo representam,
respetivamente, o Bem e o Mal.
g) O ambiente que se vive em cada barca é muito semelhante.
h) A maioria das personagens chega ao cais convencida de que embarcará para o Paraíso e continuará
a usufruir dos privilégios de que beneficiou em vida.
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2. Relembra a obra que leste e completa cada espaço dos textos que se seguem com as palavras adequadas.
Utiliza as palavras da lista abaixo para obteres a síntese de cada cena do auto.
2.2.Cena do Fidalgo
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Entra o Fidalgo, D. Anrique, seguido de um Pajem que lhe segura a cauda do manto e lhe transporta uma
cadeira de espaldas. Entende que não pode ir para o Inferno não só pela sua nobreza mas porque sabe que a
esposa e a amante muito hão de rezar pela salvação da sua 3)______________. Perante a insistência do
Diabo, que entende o contrário, aproxima-se da barca do Paraíso, mas o Anjo repele-o por ter sido
4)______________ e ter desprezado o povo. O Fidalgo regressa, então, à barca do Inferno, onde o Diabo lhe
revela que tanto a 5)______________ como a 6)______________ o atraiçoaram em vida e sentiam-se agora
imensamente felizes nos braços dos seus amantes. O Fidalgo, cabisbaixo e acabrunhado, entra na barca
infernal e o 7)____________, simples elemento ornamental e distintivo, abandona o estrado.
2.3.Cena do Onzeneiro
A segunda personagem a entrar em cena é o Onzeneiro, que viveu a sua vida a amealhar dinheiro à
custa dos outros, emprestando dinheiro com um 8)______________ excessivo (11% - onzena). O Diabo quer
que ele entre desde logo na sua barca, mas o Onzeneiro, recusando, dirige-se à barca da Glória.
Na barca da Glória, o Onzeneiro é repelido pelo Anjo que o acusa de cobiça e de 9)______________.
De facto, o Onzeneiro traz uma bolsa tão grande que quase não cabe na barca, mas diz estar vazia. Pede ao
Diabo que o deixe voltar à terra para ir buscar um 10)______________ que deixou escondido e o Diabo
obriga-o a embarcar.
2.4.Cena do Parvo
A terceira personagem a entrar é o Parvo, chamado Joane, que insulta o Diabo, quando este o
convida a entrar na barca. Por ser uma personagem simples e 11)______________, que não se pode
responsabilizar pelos seus atos, o Anjo promete levá-lo para o Paraíso e manda-o 12)_____________ no cais.
2.5.Cena do Sapateiro
O Sapateiro, João Antão, é a quarta personagem a apresentar-se no cais, com o seu avental e
carregado de 13)______________ de sapatos. Como passou a vida a roubar o povo, é condenado à barca do
Inferno pelo Diabo. Uma vez que se 14)______________ e comungou, ouviu missas, deu esmolas e assistiu a
funerais, tenta a salvação junto do Anjo. Rejeitado pelo Anjo, não tendo alternativa, o Sapateiro entra na
Barca do Diabo.
2.6.Cena do Frade
O Frade Gabriel é a quinta personagem e entrar em cena, a cantar, e trazendo consigo uma moça,
Florença, sua 15)______________. O Frade está convencido de que vai para o Paraíso e que será perdoado
graças à sua condição de frade. Amante da 16)______________, o Frade faz uma demonstração ao Diabo
para mostrar que é bom praticante da modalidade. Depois da lição de esgrima, acompanhado da amante,
dirige-se à arca do Anjo, que mostra a reprovação total do seu comportamento ao nem sequer lhe dirigir a
17)______________. É o Parvo que denuncia a sua vida de pecado e de 18)______________. Sem mais
alternativas, conformado, o Frade e a sua amante entram na barca do Inferno.
2.7.Cena da Alcoviteira
A Alcoviteira Brísida Vaz é a sexta personagem a entrar em cena e, embora tenha vivido da
19)______________ de moças, altiva perante o Diabo, acha-se digna de ir para o Céu. A Alcoviteira
considera-se uma 20)______________ por ter sido vítima de perseguição por parte da Justiça (açoitada),
argumenta que fez “cousas mui divinas”, que “forneceu” as moças para os sacerdotes, orientou-as para
arranjarem maridos ou amantes e refere que “converteu” mais moças do que Santa Úrsula, de forma que se
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acha meritória do Céu. O discurso argumentativo da Alcoviteira perante o Anjo, pejado de palavras
21)______________, também não convence. Depois da condenação do Anjo, resignada, Brízida Vaz entra na
barca do Diabo.
2.8.Cena do Judeu
A sétima personagem a entrar em cena é um Judeu que traz um 22)______________ às costas. O
Judeu, provavelmente chamado Semah Fará, dirige-se diretamente à barca do Diabo, com o objetivo de
23)______________ a passagem para ele e o bode. Como é fanático da religião – o judaísmo – nem sequer
se dirige à barca da Glória.
O Diabo recebe-o com 24)______________, ao contrário da satisfação com que recebeu os outros
passageiros, e não o quer deixar entrar na barca. Depois da discussão sobre o embarque do bode,
25)______________ denuncia os seus pecados – a violação de sepulturas cristãs e o consumo de carne em
dias de jejum. O Diabo acaba por permitir que ambos se desloquem a reboque da barca – “ireis à toa”.
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