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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA POLITÉCNICA
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

LUCCAS MENONCIN PACHECO

ENSAIOS TRIAXIAIS COM EMPREGO DE BENDER ELEMENTS

CURITIBA
2018
LUCCAS MENONCIN PACHECO

ENSAIOS TRIAXIAIS COM EMPREGO DE BENDER ELEMENTS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Engenharia Civil da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, como
requisito parcial à obtenção do título de
Engenheiro (a) Civil.

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Moraes da


Silveira

CURITIBA
2018
Aos meus pais, Antônio e Marinêz,
minhas maiores referências.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço o apoio de meus pais Antônio Marcos Pacheco e


Marinêz Menoncin Pacheco e meu irmão Leonardo Menoncin Pacheco, que nos
últimos cinco anos tem me dado todo o apoio para concluir minha graduação e para
que pudesse sonhar. Agradeço também aos meus amigos, que foram grandes
companheiros nesta jornada, compartilhando bons momentos e conhecimentos
durante todas as manhãs nestes últimos anos.
Agradeço à Pontifícia Universidade Católica do Paraná por tornar tudo isto
possível e ao Royal Melbourne Institute of Technology, por ter me recebido durante
um ano desta graduação, complementando meus estudos ao adicionar uma visão
diferente da engenharia.
Agradeço ao Professor Rodrigo Moraes da Silveira pelo apoio e orientação
durante a elaboração deste trabalho e à oportunidade concedida de trabalhar
conjuntamente no Lactec, empresa à qual também agradeço.
Meu agradecimento especial a Camila Barros de Miranda, minha companheira,
que nos momentos mais difíceis me fez sorrir.
Unfortunately, soils are made by nature
and not by man, and the products of
nature are always complex
(TERZAGHI, 1936)
RESUMO

Desde os primeiros conceitos de Theodore von K´arm´an em 1910 os ensaios triaxiais


propostos por ele tiveram uma evolução excepcional, hoje é possível atingir resultados
com grande precisão e relativa rapidez. Equipamentos modernos e automatizados são
norma nos laboratórios de geotecnia atuais, o que permitiu a realização deste trabalho
de conclusão de curso, apresentado ao curso de Engenharia Civil da Escola
Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Este trabalho visa calcular parâmetros geotécnicos de resistência ao cisalhamento de
uma amostra indeformada de solo através de ensaio triaxial com emprego de bender
elements, sendo estes, ângulo de atrito interno, coesão e módulo cisalhante.
Para obter tais parâmetros foi realizado um ensaio triaxial do tipo consolidado e não
drenado, no laboratório de Geotecnia dos Lactec. Foram empregados os bender
elements como método de se obter a velocidade das ondas cisalhantes, necessária
para o cálculo do módulo cisalhante.
Os parâmetros calculados para a amostra de solo se mostraram de acordo com a
literatura de referência e com a teoria da Mecânica dos Solos, estes foram, coesão de
32,8 kPa, o ângulo de atrito interno de 25,9° e o módulo cisalhante máximo de
353,67MPa.
A partir dos parâmetros calculados abre-se a possibilidade para cálculo de fundações
e obras de terra como taludes, muros de arrimo, cortinas, paredes diafragma, dentre
outros, com grande segurança e economia de materiais, em comparação com os
métodos empíricos usualmente empregados nos cálculos deste tipo de estrutura.

Palavras-chave: Ensaios Triaxiais. Bender Elements. Solos. Geotecnia.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Projeto de Célula Triaxial de K´arm´an ................................................................. 11


Figura 2 - Aparato Moderno para Ensaios Triaxiais .............................................................. 12
Figura 3 - Esquemas do atrito entre dois corpos ................................................................... 17
Figura 4 - Transmissão de forças entre partículas de areia e argila ..................................... 19
Figura 5 - Contribuições dos vários mecanismos de ligação para a resistência dos solos ... 22
Figura 6 - Esquema da câmara de ensaio triaxial ................................................................. 24
Figura 7- Envoltória de resistência obtida a partir de ensaios de compressão triaxial .......... 25
Figura 8 - Resultados de Ensaios CD ................................................................................... 28
Figura 9 - Gráficos de Resultados de Ensaio CU .................................................................. 30
Figura 10 - Esquema de Montagem do Equipamento Bender Elements .............................. 32
Figura 11 - Determinação do tempo de percurso da onda. ................................................... 33
Figura 12 - Bloco Indeformado da Amostra de Solo Escolhida ............................................. 36
Figura 13: Corpo de Provas Moldado e Gabarito Plástico.....................................................35
Figura 14 – Camara de Ensaio Utilizada ............................................................................... 37
Figura 15 - Equipamento de Passa-Membranas ................................................................... 37
Figura 16 - Montagem do Corpo de Provas .......................................................................... 38
Figura 17: Montagem do Estágio de Percolação ................................................................... 39
Figura 18 - Rampa de Saturação .......................................................................................... 40
Figura 19 - Gráfico de Comportamento do Solo Sob Adensamento ..................................... 41
Figura 20 - Corpo de Provas Após Ruptura por Cisalhamento ............................................. 41
Figura 21 - Gráfico de Variação de Volume da Amostra Durante Adensamento .................. 45
Figura 22 - Gráfico de Comportamento do Solo no Adensamento........................................ 49
Figura 23 - Círculos de Mohr em Função de Tensões Efetivas ............................................ 50
Figura 24 - Trajetória de Tensões Efetivas ............................................................................ 51
Figura 25 – Gráfico de Comportamento da Onda Cisalhante no Início do Adensamento ..... 54
Figura 26 - Comportamento da Onda Cisalhante no Início do Cisalhamento ....................... 56
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tabela de Anotação de Ensaio Triaxial ................................................................ 43


Tabela 2 - Tabela de Cálculos de Indíces Físicos ................................................................. 44
Tabela 3 - Parâmetros de Ensaio .......................................................................................... 44
Tabela 4 - Dados das Etapas de Adensamento .................................................................... 46
Tabela 5 - Resultados Parciais da Etapa de Cisalhamento da Amostra ............................... 47
Tabela 6 - Condições na Ruptura do Corpo de Provas ......................................................... 47
Tabela 7 - Dados dos Ensaios Fornecidos ............................................................................ 48
Tabela 8 - Dados dos Corpos de Prova na Ruptura .............................................................. 50
Tabela 9 - Dados Parciais de Disparo de Bender Elements Estágio de Adensamento ........ 52
Tabela 10 – Dados Parciais de Disparo de Bender Elements no Estágio de Cisalhamento . 53
Tabela 11 - Relatório de Tempo de Percurso da Onda Cisalhante no Adensamento ........... 54
Tabela 12 - Relatório de Tempo de Percurso da Onda Cisalhante no Cisalhamento ........... 56
Tabela 13 - Resumo dos Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento ............................... 57
Tabela 14 - Valores Típicos de Parâmetros para Solos Argilosos ........................................ 57
Tabela 15 - Valores Típicos de Angulo de Atrito interno e Coesão ....................................... 58
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................................. 13
1.2 OBJETIVOS ................................................................................................. 15
1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................. 15
1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................ 15
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 16
2.1 PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO .......................... 16
2.1.1 ÂNGULO DE ATRITO INTERNO ................................................................. 17
2.1.2 COESÃO ...................................................................................................... 20
2.2 ENSAIOS TRIAXIAIS ................................................................................... 23
2.2.1 Ensaio Isotropicamente Adensado Drenado (CID) .................................. 27
2.2.2 Ensaio Adensado Isotropicamente Não Drenado (CIU) .......................... 29
2.2.3 Ensaio Não Adensado Não Drenado (UU) ................................................ 31
2.2.4 BENDER ELEMENTS .................................................................................. 32
2.3 MÓDULO CISALHANTE .............................................................................. 34
3 PROCEDIMENTO DE ENSAIO .................................................................... 36
4. RESULTADOS ............................................................................................. 43
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 59
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 60
GLOSSÁRIO ............................................................................................................. 62
ANEXO A – RESULTADOS ADICIONAIS DOS ENSAIOS TRIAXIAIS ................... 63
11

1 INTRODUÇÃO

Na Mecânica dos Solos, os ensaios triaxiais têm sido essenciais para a


determinação dos parâmetros de resistência ao cisalhamento de solos, tendo em vista
que apresentam elevada precisão e grande confiabilidade de resultados.
Os registros dos primeiros ensaios triaxiais datam de 1910, tendo sido
propostos e executados por Theodore von K´arm´an, tendo seus resultados
publicados em Húngaro no Journal of Hungarian Engineers and Architects e em
alemão no ano seguinte. Theodore foi um engenheiro húngaro-americano, graduado
na Royal Joseph University, hoje Budapest University of Technology and Economics,
em 1902.
Figura 1 - Projeto de Célula Triaxial de K´arm´an

Fonte: Deák, Ván e Vásárhelyi, 2012

A partir do ensaio de K´arm´an foram desenvolvidos diversos outros aparatos para


testes triaxiais e hoje, equipamentos modernos com trandutores de deformação local,
bender elements e até cargas dinâmicas permitem precisão, automação e
versatilidade dos testes muito aquém daquelas de 1910.
12

Figura 2 - Aparato Moderno para Ensaios Triaxiais

Fonte: GDS Instruments, 2018

Assim a segurança e performance de grandes obras é garantida, já que é possível


determinar os parâmetros de coesão, ângulo de atrito interno e módulo cisalhante de
qualquer tipo de solo em quaisquer tensões de adensamento e condição de drenagem
de maneira extremamente precisa e relativamente rápida.
13

1.1 PROBLEMATIZAÇÃO

Levando em conta que o solo é um material de construção gratuito e abundante


que ocorre na natureza, que serve de base para todos os tipos de obras é de suma
importância o conhecimento de suas propriedades, para que seja possível o
desenvolvimento de projetos aliando segurança e economia.
As patologias em obras de engenharia podem ter causas diversas. Na maioria
dos casos o baixo desempenho das fundações é refletido de maneira a prejudicar
aspectos estruturais, funcionais e arquitetônicos. As fundações de uma estrutura
podem ser dimensionadas incorretamente pela incompetência do engenheiro
projetista, por erros de cálculo e também, por escassez de conhecimento das
propriedades geotécnicas do solo suporte de tais obras.
O procedimento correto ao se desenvolver a fundação de qualquer edificação,
é conhecer bem o solo in situ, pois é este que vai receber os esforços transmitidos
pelas fundações e deve absorver estes esforços, apresentando um desempenho
satisfatório durante a toda a vida útil da obra.
Ainda hoje a grande parte das fundações construídas em ambiente urbano são
estimadas levando-se em consideração as edificações adjacentes, ou seja, se a
edificação vizinha obteve êxito com determinada solução de fundação, é comum o
engenheiro assumir aquela decisão como correta. Isso provoca muitas vezes um
superdimensionamento da estrutura de fundação, ou até mesmo um sub-
dimensionamento, ocasionando, maiores despesas ou expondo a obra à riscos de
ruína.
Em algumas obras de maior importância, comumente são executadas
sondagens para conhecer o solo, normalmente a sondagem mais empregada é a SPT
- “Standard Penetration Test”, que apresenta um número Nspt, o qual é correlacionado
empiricamente com parâmetros de resistência e deformabilidade do solo. Vale frisar
que tais correlações empíricas são estabelecidas com solos de diferentes regiões, não
necessariamente à de onde se encontra o canteiro de obras, o que pode ocasionar
diferenças relevantes nos resultados obtidos, não levando em consideração inúmeros
outros aspectos que interferem nestes parâmetros.
Para evitar riscos são necessários vários estudos e ensaios laboratoriais, com
objetivo de obter os parâmetros como ângulo de atrito e coesão, objetos deste estudo,
14

dentre outros, como, tensão de pré-adensamento, coeficiente de compressão, limites


de Attenberg e granulometria.
Torna-se incontestável a importância do estudo do solo para obras de
engenharia, proporcionando maior segurança, confiabilidade e menores custos às
estruturas.
Nos métodos de dimensionamento de estruturas de fundações, são
considerados critérios que levam em conta coeficientes parciais e globais de
segurança. Estes coeficientes são justificados devido as incertezas quanto as
respostas do solo, quando solicitado no local, comparadas com as respostas em
ensaios amostrais, devido à influência de fatores intrínsecos como ventos, padrões
geológicos de deposição e intemperismo, e também quanto ao modelo adotado para
o dimensionamento. Tais coeficientes podem ser reduzidos, conforme prevê a norma
brasileira de fundações NBR-6122, uma vez que os parâmetros do solo sejam
determinados através de ensaios em laboratório.
Este trabalho foi desenvolvido com objetivo de apresentar um ensaio triaxial
realizado no laboratório de geotecnia do Lactec e seus resultados, a fim de demonstrar
sua precisão de resultados e sua importância na engenharia.
15

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Calcular os parâmetros geotécnicos de resistência ao cisalhamento de uma


amostra indeformada de solo a partir de resultados de ensaio triaxial isotrópico do tipo
CIU com emprego de bender elements.

1.2.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos do trabalho são:


a) Calcular a coesão do solo ensaiado;
b) Calcular o ângulo de atrito interno do solo ensaiado;
c) Calcular o módulo cisalhante do solo;
16

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Conforme Pinto (2006, p. 260) “A ruptura dos solos é quase sempre um fenômeno
de cisalhamento, que acontece, por exemplo, quando uma sapata é carregada até a
ruptura ou quando ocorre o deslizamento de um talude.” Portanto, a resistência ao
cisalhamento de um solo pode ser definida pela máxima tensão cisalhante no plano
em que ocorre sua ruptura ou a máxima tensão cisalhante que este pode suportar
sem sofrer ruptura.
Existem dois parâmetros essenciais que interferem nesta resistência ao
cisalhamento dos solos, o primeiro sendo o ângulo de atrito interno e o segundo a
coesão entre as partículas de solo. Ambos conceitos são abordados a seguir.
17

2.1.1 ÂNGULO DE ATRITO INTERNO

Por analogia com o deslizamento de corpos sobre superfície plana a resistência


por atrito entre partículas pode ser esquematizada na Figura 3 (a), a seguir:

Figura 3 - Esquemas do atrito entre dois corpos

Fonte: Pinto, 2006

Seja N a força vertical chamada “força normal”, transmitida pelo corpo, a força
horizontal T deverá, necessariamente, ser superior a ∗ , sendo f o coeficiente de
atrito entre os dois materiais. Portanto, à proporcionalidade entre a força normal e a
força tangencial, cuja relação pode ser escrita através da Equação (1):
= ∗ tan (Eq. 1)
Fonte: Pinto, 2006
O ângulo de atrito, denominado por é o ângulo formado pela resultante das
duas forças com a força normal.
Este também pode ser compreendido como o máximo ângulo que a força
transmitida pelo corpo à superfície pode fazer com a normal ao plano de contato sem
que ocorra deslizamento. Se este ângulo for atingido, a componente tangencial da
força é maior do que a resistência ao deslizamento, que é proporcional à componente
normal, conforme esquema da Figura 3(b).
Outra maneira de se provocar o deslizamento é pela inclinação do plano de
contato, que altera as componentes do peso próprio do corpo, atingindo o limite a
relação expressa pela Equação 1, conforme a Figura 3 (c).
18

Experiências realizadas com corpos sólidos demonstram que o coeficiente de


atrito é independente da área de contato e da força (ou componente desta) normal
aplicada. Então, a resistência ao deslizamento é diretamente proporcional à tensão
normal e pode ser representada linearmente, como na Figura 3 (d).
O fenômeno de atrito nos solos é diferente do fenômeno de atrito entre dois
corpos, pois o deslocamento envolve muitos grãos, que podem deslizar entre si ou
rolar uns sobre os outros, acomodando-se em vazios existentes no percurso.
Há uma diferença quanto as forças transmitidas nos contatos entre os grãos de
areia e os grãos de argila. Nas areias, geralmente as forças envolvidas são suficientes
para expulsar água da superfície, fazendo com que os contatos ocorram realmente
entre os dois minerais.
Em argilas, por exemplo, o número de partículas é muito maior e, portanto, a
parcela de força transmitida em cada contato é muito menor. Pelas características das
argilas, os grãos são envoltos por moléculas de água adsorvidas a eles e as forças de
contato não são suficientemente grandes para retira-las, sendo então estas moléculas
responsáveis por transmitir as forças. Como ressalta Pinto, essa característica das
argilas é responsável pelo adensamento secundário, provocando uma dependência
da resistência das argilas à velocidade de carregamento a que são submetidas. A
Figura 4, a seguir, mostra, comparativamente, os contatos entre grãos de argila e os
de areia.
19

Figura 4 - Transmissão de forças entre partículas de areia e argila

FONTE: PINTO, 2006


20

2.1.2 COESÃO

Segundo Vilar “A coesão consiste na parcela de resistência de um solo que


existe independentemente de quaisquer tensões aplicadas e que se mantém, ainda
que não necessariamente em longo prazo, se todas as tensões aplicadas ao solo
forem removidas”.
As origens da coesão são diversas, dentre elas está a cimentação entre
partículas, esta causada pelos carbonatos, sílica e óxido de ferro, dentre outras
substâncias, essa sendo uma fonte de altos valores de coesão. É interessante notar
que os agentes cimentantes podem advir do próprio solo, após processos de
intemperização. Tal ocorre, por exemplo, na silificação de arenitos, quando a
sílica é dissolvida pela água percolante e depositada como cimento.
Excetuando-se o efeito de cimentação, pode-se afirmar serem todas as outras
formas de coesão o resultado de um fenômeno de atrito causado por forças normais,
atuantes interpartículas. Essas tensões interpartículas, também denominadas de
“internas” ou “intrínsecas”, são o resultado da ação de muitas variáveis no sistema
solo-água-ar-eletrólitos, podendo-se destacar as forças de atração e de repulsão
originadas por fenômenos eletrostáticos e eletromagnéticos e as propriedades da
água adsorvida junto às partículas.
A água adsorvida contribui para transmitir e modificar as forças eletroquímicas
atuantes interpartículas.
As atrações de origem eletrostática decorrem da interação entre partículas de
cargas opostas.
Evidentemente também ocorrem forças de repulsão quando as partículas
apresentam cargas de mesma natureza. As forças de atração ganham relevância
quando as partículas se encontram a distâncias menores que 25 Å.
Já as atrações eletromagnéticas, do tipo das forças de Van der Waals, têm
chance de contribuir quando as distâncias entre as partículas são muito pequenas e
quando essas partículas são menores que 1 μm.
As formas complementares de atração interpartículas devem-se a ligações do
tipo pontes de hidrogênio e de potássio.
Um aspecto interessante refere-se aos tipos de ligação proporcionados pelas
forças intrínsecas. Existem evidências de que além de ligações elásticas podem
21

ocorrer funções plásticas, como no caso dos solos pré-adensados, se constata que a
resistência é proporcional a tensão de pré-adensamento.
A despeito das dificuldades de explicação física e da medida de seu valor, tem-
se constatado que a coesão aumenta com:
a) quantidade de argila e atividade coloidal;
b) relação de pré-adensamento (overconsolidation ratio-OCR);
c) diminuição da umidade.
Existe um tipo de coesão, muito comum na natureza, que não tem sua origem na
cimentação e nem nas forças intrínsecas de atração. Esse tipo de coesão,
denominada de aparente, ocorre em solos parcialmente saturados e deve-se ao efeito
de capilaridade na água intersticial. A pressão neutra negativa atrai as partículas
gerando novamente um fenômeno de atrito, visto que ela origina uma tensão efetiva
de igual valor.
Esse tipo de coesão desaparece caso o solo seja totalmente saturado ou secado,
donde o nome aparente. A sua intensidade cresce com a diminuição do tamanho das
partículas.
A Figura 5 ilustra a contribuição para a coesão das diversas fontes citadas.
22

Figura 5 - Contribuições dos vários mecanismos de ligação para a resistência dos solos

Fonte: Monje Vilar, 2004


23

2.2 ENSAIOS TRIAXIAIS

Ensaios triaxiais visam obter os parâmetros de coesão e ângulo de atrito interno


de uma determinada amostra de solo e, segundo Pinto (2006, p. 266), “O ensaio de
compressão triaxial convencional consiste na aplicação de um estado hidrostático de
tensões e de um carregamento axial sobre um corpo de prova cilíndrico de solo.” O
que então induze o cisalhamento do corpo de prova, possibilitando analisar-se os
dados de carga aplicada e deformação para obtenção dos parâmetros desejados.
A realização deste ensaio se dá em sete etapas:
1. Amostragem
2. Moldagem
3. Montagem
4. Percolação
5. Saturação
6. Adensamento
7. Cisalhamento
A etapa de amostragem é considerada uma das mais importantes, pois deve-
se tomar extremo cuidado para obter uma amostra completamente indeformada, para
isto, procede-se com uma escavação no ponto de onde se deseja retirar a amostra,
molda-se cuidadosamente um bloco com dimensão 40cmx40cmx40cm e então aplica-
se parafina para que sua umidade seja mantida até a próxima etapa.
A moldagem da amostra é realizada em laboratório, onde é talhado o corpo de
prova, suas dimensões e formato dependem exclusivamente do equipamento
utilizado, mas usualmente tem formato cilíndrico.
Após a moldagem é realizada a montagem do ensaio,e é de extrema
importância que se garanta a completa vedação da câmara para evitar a saída de
água desta, mas uma linha de drenagem permite que a amostra seja drenada durante
o ensaio. Esta linha é ligada a um registro que pode ser aberto ou fechado, assim
abrindo a possibilidade de se fazer ensaios drenados e não drenados. A diferença
entre drenar ou não a amostra será abordada mais à frente.
Percolar a amostra é um processo para saturar a mesma de modo a preencher todos
seus vazios com água destilada. Este processo é realizado através da aplicação de
uma pressão confinante e uma contrapressão na base da amostra, assim gerando um
24

fluxo de água ascendente e então um volume de pelo menos três vezes o volume de
vazios da amostra deve ser percolado
Conforme podemos observar no diagrama abaixo:

Figura 6 - Esquema da câmara de ensaio triaxial

Fonte: PINTO, 2006

As pressões aplicadas pelo aparato, conforme o esquema acima, são a pressão


confinante ou pressão de confinamento σc, contrapressão sb e o carregamento axial

Δσa, este aplicado de duas formas:


a) Aplicação de força em pistão que penetra a câmara, chamado este, ensaio
com carga controlada;
b) Coloca-se a câmara em uma prensa que a desloca para cima e pressiona
o pistão, chamado este, ensaio de deformação controlada.

Como as tensões aplicadas não geram tensões de cisalhamento na base e nem na


geratriz do corpo de prova, os planos horizontais e verticais de cisalhamento são os
planos principais. Quando o ensaio é de carregamento, o plano horizontal é o plano
principal maior e a pressão confinante atua no plano principal menor na vertical. A
tensão gerada pelo carregamento axial é denominada tensão desviadora ou
acréscimo de tensão axial (σa-σc).
25

Durante o ensaio são medidos o acréscimo de tensão axial e a deformação


vertical do corpo de prova, em diversos intervalos de tempo. Dividindo-se a
deformação vertical pela altura inicial do corpo de prova obtém-se a deformação
vertical específica e em função desta são expressas a tensão desviadora e as
variações de volume ou pressão neutra, dependendo se o ensaio é do tipo drenado
ou não drenado. A partir das tensões desviadoras, podem ser desenhados os círculos
de Mohr correspondentes, como será mostrado a seguir na Figura 07.
A tensão desviadora, expressa em função da deformação específica, cujo valor
máximo indica a situação de ruptura a partir do qual é definido o círculo de Mohr
correspondente. A envoltória de resistência é traçada a partir dos resultados de
ensaios realizados com diferentes corpos de prova (moldados a partir de uma mesma
amostra), conforme a Figura 07.

Figura 7- Envoltória de resistência obtida a partir de ensaios de compressão triaxial

Fonte: PINTO, 2006

As pedras porosas colocadas no cabeçote e na base do corpo de provas


permitem que este seja drenado através delas, já que são permeáveis. A drenagem
26

pode ser impedida fechando-se o registro apropriado na base da câmara do


equipamento.
Em casos em que a drenagem é permitida e o corpo de provas está saturado,
ou em um estado elevado de saturação, a variação de volume do corpo de provas
pode ser aferida a partir do volume de água que entra ou sai no corpo de provas, para
tal são acopladas buretas graduadas na saída de água.
Se a drenagem não for permitida, a água dentro do corpo de provas ficará sob
pressão. Esta pressão de água é chamada por opressão, que pode ser medida através
de transdutores de pressão acopladas na saída de água.
Devido as diversas configurações permitidas nos ensaios triaxiais, quanto á
drenagem e adensamento do corpo de prova, temos os seguintes tipos de ensaio:

a) Ensaio Isotropicamente Adensado Drenado (CID);


b) Ensaio Adensado Isotropicamente Não Drenado (CIU);
c) Ensaio não adensado não drenado (UU);

A seguir serão abordados os três tipos de ensaio, incluindo suas


características, aplicações e outros detalhes pertinentes.
27

2.2.1 Ensaio Isotropicamente Adensado Drenado (CID)

O Ensaio Isotropicamente Adensado Drenado é um ensaio no qual há


drenagem constante do corpo de provas. A tensão confinante é aplicada e aguarda-
se o adensamento da amostra, ou seja, espera-se a dissipação da poropressão. Em
seguida a tensão axial é aplicada lentamente, para expulsar a água sob pressão.
Desta forma, a poropressão se mantém quase nula durante todo o carregamento e as
tensões totais são muito próximas as tensões efetivas. A água que sai do corpo de
prova pode ser medida e, se o corpo de prova estiver saturado, indica a variação de
volume do mesmo. A sigla CID origina-se do nome deste tipo de ensaio em inglês
“consolidated undrained”, este também pode ser chamado ensaio lento ou S (do
inglês, slow), expressão que não se refere a velocidade do carregamento em si, mas
sim do tempo necessário para que se dissipe a poropressão. Se a amostra ensaiada
for muito permeável, o ensaio pode ser realizado em poucos minutos, mas, para
argilas, o carregamento axial requer 20 dias ou mais.
Este ensaio replica condições de campo, onde o carregamento parte de zero
para um determinado valor e após um certo intervalo de tempo a poropressão retorna
e a deformação cessa, com algum aumento na densidade do solo.
A seguir na Figura 8 são apresentados resultados de envoltórias de resistência
obtidas a partir de ensaios deste tipo.
28

Figura 8 - Resultados de Ensaios CID

Fonte: Lactec, 2018


29

2.2.2 Ensaio Adensado Isotropicamente Não Drenado (CIU)

Neste ensaio a tensão confinante é aplicada e deixa-se dissipar a poropressão


durante o estágio de adensamento e no estágio de cisalhamento a drenagem é
fechada. Este ensaio também é conhecido como ensaio rápido pré-adensado “R” e
indica a resistência não drenada em função da tensão de adensamento. Caso a
poropressão seja medida através de um transdutor ligado à tomada de drenagem
pode ser obtida a resistência em função de tensões efetivas, por isto esse ensaio é
mais comum do que o Adensado Drenado (CID), pois permite obter a envoltória de
resistência em função das tensões efetivas num tempo muito menor.
Na Figura 9 podem ser observados os gráficos resultantes de um ensaio CIU,
são apresentados quatro gráficos:
1) Poropressão x Deformação Axial;
2) Tensão Desviadora x Deformação Axial;
3) Envoltória de Resistência: Tensão Cisalhante x Tensão Principal Efetiva
4) Tensão Menor Efetiva x Tensão Média Efetiva
Ainda na Figura 9 são apresentados os parâmetros de resistência ao
cisalhamento c e (coesão e ângulo de atrito interno) obtidos a partir das duas
envoltórias mencionadas nos itens 3 e 4 na lista anterior e explanados nas secções
2.1 e 2.2.
30

Figura 9 - Gráficos de Resultados de Ensaio CIU

Fonte: Lactec, 2018


31

2.2.3 Ensaio Não Adensado Não Drenado (UU)

São ensaios em que não é permitida drenagem em nenhuma fase, ou seja, o


corpo de provas não é adensado e a drenagem não é permitida durante a fase de
cisalhamento. Então, o teor de umidade da amostra se mantém constante e, se o
corpo de prova estiver saturado, não há variação de volume.
Os resultados deste ensaio são geralmente interpretados em função de tensões
totais. A velocidade de carregamento axial tem grande influência nos resultados.
Este ensaio também é conhecido por ensaio rápido, ou do inglês, Quick (Q),
por não requerer justamente o tempo para drenagem. E é usado quando se deseja
saber a resistência do solo in situ, onde carregamentos rápidos serão realizados, sem
tempo para que ocorra drenagem, por exemplo em obras de aterro, onde o
carregamento sobre o solo é praticamente imediato.
32

2.2.4 BENDER ELEMENTS

Conforme Georgetti (2014, p.vii),

A deformabilidade é uma propriedade fundamental em projetos geotécnicos.


A constatação de que as deformações em várias obras de engenharia se
situam na faixa de pequenas e muito pequenas deformações e as limitações
das técnicas de ensaio em medir tal nível de deformações levaram ao
desenvolvimento de técnicas com base em solicitações dinâmicas, dentre as
quais, as de coluna ressonante e bender elements. Particularmente, o
emprego da técnica de bender elements tem crescido devido à simplicidade
de execução dos ensaios, e determinação do módulo de cisalhamento
máximo dos solos.

A técnica de bender elements consiste na emissão de uma onda senoidal de


cisalhamento, através de um par de bender elements inseridos em pedestal e
cabeçote de uma câmara triaxial, juntamente com um sistema de aquisição de dados
e um software com osciloscópio, responsável pela geração de sinais e
armazenamento de dados, conforme esquematizado na Figura 10.

Figura 10 - Esquema de Montagem do Equipamento Bender Elements

Fonte: GEORGETTI, 2014

Os dados obtidos de amplitude, distância e tempo de percurso destas


ondas são registrados pelo software e são utilizados à fim de se determinar o módulo
de cisalhamento máximo do solo ensaiado. A distância percorrida pela onda
cisalhante, chamada Ltt, foi tomada como a distância entre as extremidades dos
bender elements, seguindo as sugestões de Viggiani e Atkinson (1995) e Dyvij e
Madshus (1985), entre outros. Para isso, o comprimento saliente dos elementos, que
penetra no solo, foi descontado da altura do corpo de prova. Quanto ao tempo de
33

percurso (t), este foi tomado como a primeira maior deflexão do sinal recebido, como
ilustra a Figura 11. Trata-se este de um método direto, bastante utilizado (Fioravante
e Capoferri, 2001; Lee e Santamarina, 2005; Takkabutr, 2006; Chan, 2010) e que
contribui para a simplicidade da interpretação dos ensaios com bender elements.
Figura 11 - Determinação do tempo de percurso da onda.

Fonte: Georgetti, 2014


34

2.3 MÓDULO CISALHANTE

Segundo a Teoria da Elasticidade toda a tensão aplicada à um corpo gera uma


certa deformação do mesmo, o que não é diferente no caso dos solos. A relação
tensão e deformação é traduzida pelos módulos de Elasticidade de Young (E), Módulo
Cisalhante ( á ) e Coeficiente de Poisson (m), descritas pelas equações abaixo:
= (Eq. 2)

Fonte: Lambe, 1969


= =− (Eq. 3)
Fonte: Lambe, 1969

Sendo, ez , ex, ey as tensões nas direções z, x e y, respectivamente, E o módulo

de elasticidade de Young e m o coeficiente de Poisson.

Em casos em que são aplicadas tensões bidirecionais ou tensões cortantes,


haverá uma deformação cortante, conforme a equação abaixo:
= (Eq. 4)
á

Fonte: Lambe, 1969


As equações apresentadas definem as três constantes da Teoria da
Elasticidade, mas a relação abaixo permite que se obtenha qualquer uma delas
conhecendo-se as outras duas:
á = ( )
(Eq. 5)

Fonte: Lambe, 1969


Estas relações da Teoria da Elasticidade podem ser aplicadas ao estudo dos
solos, mas o comportamento elástico dos solos é mais complexo, pois depende de
fatores que se alteram rapidamente em condições de carregamento, como índice de
vazios, composição, histórico de tensões e até a maneira como está tensão é aplicada.
Como afirmam Lambe e Whitman (1969), a melhor forma de se obter estas relações
tensão/deformação é medir diretamente as tensões produzidas em testes de
laboratório que reproduzem as tensões que ocorrerão naquela determinada massa de
solo.
Por isso, pode-se dizer que um solo não tem módulos cisalhante, de Young e
coeficiente de Poisson constantes e sim um conjunto destas características para cada
estado de tensões em que se encontra.
35

A determinação de G utilizando-se ensaios com Bender Elements, depende


diretamente da velocidade da onda cisalhante, determinada através da seguinte
equação:
= (Eq. 6)

Fonte: Uchimura, 2013

Na qual Ltt é a distância de ponta a ponta dos bender elements, e t o tempo de


percurso da onda cisalhante. Determinada esta velocidade, o módulo Cisalhante pode
ser determinado usando a seguinte relação da mecânica de corpos elásticos,
conforme sugerido por Irfan e Uchimura (2013):
= (Eq. 7)
Fonte: Uchimura, 2013
Sendo p a densidade total do espécime de solo e Vs a velocidade da onda
cisalhante. Por isso, a determinação correta da velocidade desta onda é de extrema
importância para a determinação correta de G.
36

3 PROCEDIMENTO DE ENSAIO

O ensaio triaxial realizado para fins deste trabalho foi realizado no Laboratório
de Geotecnia do Lactec, a convite do Prof. Dr. Rodrigo Moraes da Silveira. A amostra
escolhida foi colhida na região da Serra do Mar no Estado do Rio de Janeiro e mantida
em seu estado indeformado, conforme a Figura 12 abaixo, pela equipe técnica deste
mesmo laboratório.
Figura 12 - Bloco Indeformado da Amostra de Solo Escolhida

Fonte: O Autor, 2018


Deste bloco indeformado foi moldado o corpo de prova em formato cilíndrico,
medindo 100mm de altura e 50 mm de diâmetro, utilizando-se um gabarito plástico
como referência e um paquímetro digital para conferência das medidas.
Figura 13: Corpo de Provas Moldado e Gabarito Plástico

Fonte: O Autor, 2018


37

Em seguida o corpo de provas foi montado na câmara de ensaio triaxial, com


auxílio do passa-membranas como mostrado na Figura 15. A montagem final é
mostrada na Figura 16. A passa membranas funciona de modo a criar um vácuo entre
as paredes do cilindro desmontável e a membrana, garantindo vedação completa
assim que os O-rings são colocados em posição. São feitas ranhuras no topo e na
base do corpo de provas para facilitar o encaixe dos transdutores Bender Elements.

Figura 14 – Camara de Ensaio Utilizada

Fonte: O Autor, 2018

Figura 15 - Equipamento de Passa-Membranas

Fonte: O Autor, 2018


38

Figura 16 - Montagem do Corpo de Provas

Fonte: O Autor, 2018


É de extrema importância durante esta etapa que se limpe os O-rings, e que se
garanta a vedação completa da membrana no corpo de provas e a vedação da câmara
em si, para que não haja vazamentos durante a aplicação das tensões.
Após a montagem do corpo de provas na câmara, inicia-se a etapa de percolação
da amostra, em que se aplica uma tensão confinante de 30kPa e uma contrapressão
de 20kPa, a fim de gerar um fluxo ascendente de água no corpo de provas. O objetivo
desta etapa é facilitar a etapa de saturação. Esta etapa é dada como concluída assim
que um volume de água aproximadamente igual à duas vezes o volume do corpo de
provas dor percolado, ou após 24 horas.
39

Figura 17: Montagem do Estágio de Percolação

Fonte: O Autor, 2018

Após o término da percolação, inicia-se a fase de saturação da amostra, por


meio de incrementos de pressão confinante e contrapressão, mantendo-se a tensão
efetiva constante, visando, como no estágio de percolação, gerar um fluxo ascendente
de água dentro do solo. No ensaio realizado a etapa de saturação iniciou-se com
pressão confinante de 30kPa e contrapressão de 20kPa e durante 3840min foram
feitos os acréscimos de pressão, até que se atingiu 480kPa de contrapressão e
490kPa de confinante, conforme o Figura 18.
40

Figura 18 - Rampa de Saturação

Rampa de Saturação
600

500
Contrapressão (KPa)

400

300

200

100

0
0 50000 100000 150000 200000 250000
Tempo (s)

Fonte: O Autor, 2018

Após o termino da etapa de saturação, é realizado o estágio de checagem do


parâmetro B, em que é lido o parâmetro B de Skempton até que seja igual ou
aproximadamente igual à 1,00 assumindo um valor mínimo 0,95. Tal parâmetro mede
o grau de saturação da amostra de solo, sendo B=1,00 para solos completamente
saturados e B = 0,00 para solos completamente secos.
Atingido o parâmetro B, inicia-se a fase de adensamento da amostra, se aplica a
tensão efetiva de ensaio por meio de aumento da pressão confinante e é medida a
variação do volume da amostra ao longo do tempo. No caso do ensaio realizado a
etapa de adensamento foi do tipo não drenado, pois se trata de um ensaio do tipo CIU,
conforme explicado no item 2.2.2. O ensaio realizado para fins deste trabalho teve sua
fase de adensamento iniciada com uma contrapressão de 500kPa e confinante de
510kPa e por incrementos de pressão confinante, aplicou-se a tensão efetiva (sc - sb)

do ensaio de 600kPa, ou seja, a pressão confinante final foi de 1100kPa. Abaixo o


gráfico da etapa de adensamento demonstra a variação do volume em função da raiz
quadrada do tempo.
41

Figura 19 - Gráfico de Comportamento do Solo Sob Adensamento

Raiz quadrada do tempo (seg)


0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Variação de volume (cm³)

0.00

-5.00

-10.00

-15.00
Fonte: O Autor, 2018
Após o adensamento da amostra se inicia a última etapa do ensaio, a de
cisalhamento, quando é aplicado o carregamento axial s1, rompendo o corpo de

provas sem drenagem. Mede-se a poropressão para que se obtenha os resultados


em função das tensões efetivas, já que sem esta medida obteria-se apenas a
resistência não-drenada da amostra.
Finalizado o ensaio desmonta-se a câmera triaxial, retira-se a membrana para
registro fotográfico da amostra, conforme a Figura 20 e procede-se a um ensaio de
teor de umidade final do corpo de provas, retira-se a camada mais externa do corpo
de provas para descarte da umidade superficial e coloca o em estufa para secagem.

Figura 20 - Corpo de Provas Após Ruptura por Cisalhamento

Fonte: O Autor, 2018


42

Alguns ensaios adicionais são requeridos para a análise completa dos


resultados do ensaio triaxial CIU com emprego de bender elements, entre eles estão
o ensaio de massa específica (ABNT NBR 10838) e teor de umidade higroscópica
(ABNT NBR 6457) inicial e final, cujos resultados são apresentados a seguir e seu
método de execução não será descrito neste trabalho.
43

4. RESULTADOS

Para análise correta dos resultados foram realizados ensaios de massa


específica e umidade higroscópica inicial (na etapa de moldagem do corpo de provas)
e final (após o término do ensaio de compressão triaxial), são feitas verificações de
diâmetro, altura e massa do corpo de provas, os resultados destes ensaios adicionais
são apresentados na Tabela 1, abaixo:
Tabela 1 - Tabela de Anotação de Ensaio Triaxial

Massa específica dos grãos 2.7 (g/cm³)

Fonte: O Autor, 2018

Estes dados apresentados na Tabela 1, são importantes para que se calculem


o volume da amostra, massa específica natural, seca, saturada e submersa, índice de
44

vazios, porosidade e grau de saturação inicial e final, tais cálculos são apresentados
na Tabela 2, abaixo:
Tabela 2 - Tabela de Cálculos de Indíces Físicos

Massa específica natural (g/cm³) 1.78


Massa específica seca (g/cm³) 1.38
Massa específica da água (g/cm³) 1.00
Massa específica dos grãos (g/cm³) 2.70
Massa específica saturada (g/cm³) 1.87
Massa específica submersa (g/cm³) 0.87
Índice de vazios incial 0.95
Porosidade inicial 0.49
Grau de saturaração inicial (%) 81.0
Volume de vazios inicial (cm³) 96.0
Volume de particulas sólidas (cm³) 101.0
Altura de sólidos (cm) 5.1
Índice de vazios final 0.91
Porosidade final 0.48
Grau de saturaração final (%) 94.8
Fonte: O Autor, 2018

A seguir são apresentados, na Tabela 3, os parâmetros adotados para a


realização do ensaio em si, como tempo de saturação, utilização de drenos laterais,
contrapressão inicial de adensamento, velocidade do ensaio e a deformação máxima
programada.
Tabela 3 - Parâmetros de Ensaio

Fonte: O Autor, 2018

Tais parâmetros são adotados conforme o British Standard 1377-8, com


relação ao tipo de solo e tipo de ensaio realizado.
45

O parâmetro B foi calculado da seguinte maneira:


= ∆ /∆ (Eq. 8)
Fonte: Lambe, 1969

Em que,
∆ é a variação de poropressão, medida pelo transdutor
∆ sendo a variação da pressão confinante
Tais dados para cálculo do parâmetro foram obtidos em um estágio específico
do ensaio, em que é feito um pequeno incremento nas pressões confinante e
contrapressão e medida a resposta da poropressão da amostra através do transdutor
de poropresão acoplado à câmara triaxial.
Seguindo a sequência do ensaio, abaixo é apresentado o Figura 21, resultado
da etapa de adensamento da amostra sob tensão efetiva de 600kPa, da variação de
volume em função da raiz quadrada do tempo.

Figura 21 - Gráfico de Variação de Volume da Amostra Durante Adensamento


Raiz quadrada do tempo (seg)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Variação de volume (cm³)

0.00

-5.00

-10.00

-15.00
Fonte: O Autor, 2018

Percebe-se que aproximadamente 90% da variação de volume acontece antes


dos 6 minutos e 40 segundos e que o ensaio, por recomendação de norma, tem
duração mínima de 120 minutos. Para seguir esta recomendação de norma a etapa
de adensamento foi dividida em duas, uma com duração fixa de 120 minutos e outra
na qual o software automaticamente encerra a etapa quando a variação de volume for
menor de 0.05% em um período de 5 minutos, os dados retornados para estas duas
etapas são apresentados abaixo, na Tabela 4:
46

Tabela 4 - Dados das Etapas de Adensamento


Time
Stage Radial Back Back Pore
since start
Number Pressure Pressure Volume Pressure
of stage

- (s) (kPa) (kPa) (mm³) (kPa)


3 0 510 497 16903 486
3 6 603 504 15135 494
3 15 742 512 13230 502
3 41 1197 506 9144 495
3 110 1199 501 7119 490
3 297 1200 501 5993 489
3 807 1200 500 5326 489
3 2194 1200 501 4982 488
3 5963 1200 500 4766 489
4 0 1199 500 4730 489
4 300 1200 500 4722 488
4 600 1200 500 4714 489
Fonte: O Autor, 2018

Dada a etapa de adensamento como concluída e a amostra então já adensada


sob a tensão efetiva do ensaio de 600kPa, iniciou-se a etapa de cisalhamento da
amostra com velocidade de carregamento axial de 0.05mm/min e deformação
programada de 25%, conforme explicitado na Tabela 3. A Tabela 5, a seguir apresenta
alguns resultados extraídos desta etapa, a totalidade destes dados se mostra muito
extensa para ser apresentada neste trabalho, por este motivo são apresentados
apenas uma parte destes dados.
47

Tabela 5 - Resultados Parciais da Etapa de Cisalhamento da Amostra


Time since
Stage Time since Radial Radial Back Back Pore Axial
start of Load Cell
Number start of test Pressure Volume Pressure Volume Pressure Displacement
stage
- (s) (s) (kPa) (mm³) (kPa) (mm³) (kN) (kPa) (mm)
5 433170 1800 1200 3621 561 4509 0.075 549 1.407
5 433200 1830 1200 3617 569 4509 0.163 557 1.429
5 433230 1860 1200 3612 578 4509 0.226 567 1.448
5 433260 1890 1200 3611 589 4509 0.28 577 1.468
5 433290 1920 1199 3606 598 4509 0.325 587 1.486
5 433320 1950 1200 3602 607 4509 0.367 596 1.509
5 433350 1980 1199 3597 617 4509 0.406 605 1.53
5 433380 2010 1200 3593 626 4509 0.442 614 1.552
5 433410 2040 1200 3587 634 4509 0.475 623 1.573
5 433440 2070 1200 3585 643 4509 0.504 632 1.594
5 433470 2100 1199 3582 652 4509 0.533 641 1.617
5 433500 2130 1200 3579 661 4509 0.56 649 1.641
5 433530 2160 1200 3574 670 4509 0.585 659 1.667
5 433560 2190 1200 3569 678 4509 0.609 667 1.691
5 433590 2220 1200 3566 687 4509 0.628 675 1.711
5 433620 2250 1200 3563 695 4509 0.649 684 1.735
5 433650 2280 1200 3565 704 4509 0.668 692 1.758
5 433680 2310 1200 3561 711 4509 0.687 700 1.782
5 433710 2340 1200 3560 720 4509 0.703 708 1.807
5 433740 2370 1200 3560 726 4509 0.718 715 1.829
5 433770 2400 1200 3561 732 4509 0.733 721 1.854
5 433800 2430 1201 3554 736 4509 0.746 725 1.88
5 433830 2460 1200 3550 740 4509 0.759 729 1.902
5 433860 2490 1200 3541 745 4509 0.771 733 1.928
5 433890 2520 1200 3538 749 4509 0.781 737 1.949
5 433920 2550 1200 3531 753 4509 0.793 741 1.974
5 433950 2580 1200 3528 757 4509 0.803 746 2

Fonte: O Autor, 2018

A Tabela 6 apresenta os dados do corpo de provas na ruptura, ou seja, as


condições em que este se encontrava quando da sua ruptura por cisalhamento. Estes
dados foram extraídos da tabela de dados de cisalhamento, conforme exemplificado
pela Tabela 5.
Tabela 6 - Condições na Ruptura do Corpo de Provas
σ' - Tensão efetiva de ensaio 600 kPa
σd (kPa) - Tensão desvio máxima 523.5
σc (kPa) - Tensão confinante 1199.0
σ1' (kPa) - Tensão principal maior efetiva 787.5
σ3' (kPa) - Tensão principal menor efetiva 264.0
u (kPa) - Poropressão 386.0
ξ (%) - Deformação axial 3.3
s' (kPa) - Tensão desvio média efetiva 525.8
t (kPa) - Tensão desvio menor efetiva 261.8
ΔV (cm³) - Variação de volume 0
Fonte: O Autor, 2018
48

A partir dos dados da etapa de cisalhamento de apenas um ensaio pouco pode-


se concluir sobre a resistência da amostra de solo, pois, para que seja traçada a
envoltória de resistência são necessários, no mínimo 3 pontos, ou seja três ensaios
realizados em tesões efetivas diferentes, para efeitos deste trabalho, apenas um
ensaio foi realizado, mas por cortesia da equipe técnica do Laboratório de Geotecnia
dos Lactec, foram disponibilizados os resultados de outros 3 ensaios realizados nesta
mesma amostra, sob tensões efetivas de 100, 200 e 400kPa. A Tabela 7, abaixo,
condensa os índices físicos, os parâmetros de ensaio e os dados após o estágio de
adensamento destes ensaios fornecidos.
Tabela 7 - Dados dos Ensaios Fornecidos
Dados iniciais
σ' - Tensão efetiva de ensaio 600 kPa 400 kPa 200 kPa 100 kPa
ρna t (g/cm³) - Massa específica natural 1.78 1.76 1.75 1.73
ρd (g/cm³) - Massa específica seca 1.38 1.40 1.35 1.37
w (%) - Teor de umidade 28.5 25.8 30.1 26.0
e - Índice de vazios 0.95 0.93 1.01 0.97
n - Porosidade 0.49 0.48 0.50 0.49
S (%) - Grau de saturação 81.0 75.0 80.7 72.3

Dados após o adensamento


σ' - Tensão efetiva de ensaio 600 kPa 400 kPa 200 kPa 100 kPa
Volume inicial da amostra (cm³) 196.95 207.73 203.76 200.88
Volume final da amostra (cm³) 184.71 193.68 198.95 197.51
Variação de volume da amostra (cm³) -12.24 -14.05 -4.82 -3.37
Altura inicial da amostra (cm) 10.02 10.00 10.08 10.07
Altura final da amostra (cm) 9.81 9.77 10.00 10.01
w (%) - Teor de umidade 31.9 28.8 35.0 34.1
e - Índice de vazios 0.91 0.89 0.99 0.96
n - Porosidade 0.48 0.47 0.50 0.49
S (%) - Grau de saturação 94.8 87.8 95.6 95.8
Fonte: Lactec, 2018

O comportamento do solo no estágio de adensamento destas amostras é mostrado


na Figura 22, abaixo.
49

Figura 22 - Gráfico de Comportamento do Solo no Adensamento


400 kPa
Raiz quadrada do tempo (seg)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0.00
Variação de volume (cm³)

-5.00

-10.00

-15.00
200 kPa

Raiz quadrada do tempo (seg)


0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0.00
Variação de volume

-1.00
(cm³)

-2.00
-3.00
-4.00
-5.00
-6.00
100 kPa
Raiz quadrada do tempo (seg)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0.00
Variação de volume

-1.00
(cm³)

-2.00

-3.00

-4.00

Fonte: Lactec, 2018

Os dados das condições de ruptura nestes ensaios acima mencionados são


fornecidos pela Tabela 8. Tais dados serão utilizados para traçar as envoltórias de
resistência do solo.
50

Tabela 8 - Dados dos Corpos de Prova na Ruptura


Dados do corpo de prova na ruptura
σ' - Tensão efetiva de ensaio 600 kPa 400 kPa 200 kPa 100 kPa
σd (kPa) - Tensão desvio máxima 523.5 280.4 279.6 201.1
σc (kPa) - Tensão confinante 1199.0 810.0 699.0 601.0
σ1' (kPa) - Tensão principal maior efetiva 787.5 423.3 367.5 263.2
σ3' (kPa) - Tensão principal menor efetiva 264.0 142.9 87.9 62.1
u (kPa) - Poropressão 386.0 261.5 115.8 38.9
ξ (%) - Deformação axial 3.3 3.1 2.6 19.9
s' (kPa) - Tensão desvio média efetiva 525.8 283.1 227.7 162.7
t (kPa) - Tensão desvio menor efetiva 261.8 140.2 139.8 100.6
ΔV (cm³) - Variação de volume 0 0 0 0
Fonte: Lactec, 2018

Finalmente, com os dados da Tabela 8 e dados adicionais dos ensaios de


tensão efetiva 100, 200 e 400 kPa pode-se traçar os círculos de Mohr em termos de
tensões efetivas e, através da equação da reta de resistência, extrair os parâmetros c
e f do solo, o que pode ser observado abaixo no Figura 23.

Figura 23 - Círculos de Mohr em Função de Tensões Efetivas

c=32.8 kPa
600
φ=25.9°

500 y = 0.486x + 32.8


Tensão cisalhante (kPa)

400
100 kPa
300
200 kPa
200
400 kPa
100
600 kPa

0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Tensão principal efetiva (kPa)

Fonte: O Autor,2018

A trajetória de tensões efetivas, gráfico da tensão média efetiva (s’) em tensão


menor efetiva também pode ser plotado através dos dados apresentados, tal trajetória
é apresentada no Figura 24.
51

Figura 24 - Trajetória de Tensões Efetivas

a=29.5 kPa
700 α=23.6°

600 y = 0.4371x + 29.539


R² = 0.9801
Tensão menor efetiva, t (kPa)

500 100 kPa

400 200 kPa

400 kPa
300
600 kPa
200

100

0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Tensão média efetiva, s' (kPa)

Fonte: O Autor, 2018

Correlacionando os parâmetros encontrados pela equação da envoltória da


trajetória de tensões e da envoltória dos círculos de Mohr, utilizando relações
trigonométricas, temos que:
= tan

=
tan

Como α = 23.6º e = 29.5 , pelas relações anteriores chega-se à ′=


25.91° e ′ = 32,802 , provando assim a utilidade da trajetória de tensões, já que
é um gráfico mais apresentável, por ser menos poluído que os círculos de Mohr e
apresentar uma boa correlação dos parâmetros de resistência.
Os bender elements, conforme mencionado no procedimento de ensaio,
fornecem dados de comportamento de uma onda cisalhante em disparos realizados
logo após o estágio de adensamento e após o cisalhamento da amostra. Nas Tabelas
9 e 10, são mostrados os dados fornecidos por esses dois disparos, é importante notar
que ambas as tabelas apresentam apenas uma parte dos dados para fins de
exemplificação, já que os dados retornados pelo software de aquisição de dados
utilizados, o GDS Bender Elements Software, tomariam cerca de 10.000 linhas.
52

Tabela 9 - Dados Parciais de Disparo de Bender Elements Estágio de Adensamento

C:\#ENSAIOS2018#\2.4004.18\BE_1510
Nome do Arquivo
0853_2_2.4004.18_600kPa_CIU_Adens
amento R1.bes
Altura da Amostra (mm) 100
Tipo da Origem S-Wave Pair 1
Forma da Onda Senoidal
Período da Onda(ms) 0,2
Amplitude da Onda (V) 14
Frenquência de Amostragem (Hz) 2000000
Disparo Único ou Multiplo? Único
Estágio Adensamento
Tempo (s) Origem Recebido
0 0,2423096 -2,14E-03
0,0000005 0,5761719 6,41E-03
0,000001 0,7287598 2,14E-03
0,0000015 0,7971191 6,41E-03
0,000002 1,046753 1,46E-02
0,0000025 1,408691 -6,10E-03
0,000003 1,59668 -2,72E-02
0,0000035 1,693726 -2,29E-02
0,000004 1,954956 -2,72E-02
0,0000045 2,322998 -2,72E-02
0,000005 2,477417 -6,10E-03
0,0000055 2,546997 6,41E-03
0,000006 2,77832 -1,04E-02
0,0000065 3,143311 -1,04E-02
0,000007 3,314209 -1,04E-02
0,0000075 3,392334 -1,86E-02
0,000008 3,636475 -2,29E-02
. . .
. . .
. . .
Fonte: O Autor, 2018
53

Tabela 10 – Dados Parciais de Disparo de Bender Elements no Estágio de Cisalhamento

C:\#ENSAIOS2018#\2.4004.18\BE_15100853_2_2
Nome do Arquivo
.4004.18_600kPa_CIU_Cisalhamento R1.bes

Altura da Amostra (mm) 100


Tipo da Origem S-Wave Pair 1
Forma da Onda Senoidal
Período da Onda(ms) 0,2
Amplitude da Onda (V) 14
Frenquência de Amostragem (Hz) 2000000
Disparo Único ou Multiplo? Único
Estágio Cisalhamento
Tempo (s) Origem Recebido
0 0,2429199 -6,13E-02
0,0000005 0,5969238 -8,85E-03
0,000001 0,7489014 6,96E-02
0,0000015 0,8135986 5,65E-02
0,000002 1,046753 3,02E-02
0,0000025 1,411743 5,65E-02
0,000003 1,582642 5,65E-02
0,0000035 1,660156 -6,13E-02
0,000004 1,903076 -3,51E-02
0,0000045 2,289429 -1,27E-01
0,000005 2,487183 -6,13E-02
0,0000055 2,573853 -8,73E-02
0,000006 2,822876 -1,53E-01
0,0000065 3,164673 1,71E-02
0,000007 3,323364 -8,85E-03
0,0000075 3,395386 1,71E-02
0,000008 3,62854 1,71E-02
0,0000085 3,989258 4,33E-02
0,000009 4,161377 3,02E-02
0,0000095 4,262695 -6,13E-02
0,00001 4,512329 -1,00E-01
0,0000105 4,868774 -3,51E-02
0,000011 5,014648 6,96E-02
0,0000115 5,079346 4,33E-02
0,000012 5,300903 4,27E-03
. . .
. . .
. . .

Fonte: O Autor,2018
54

A partir dos dados obtidos através do software de aquisição de dados, a


ferramenta para Microsoft Excel, chamada GDS Bender Elements Excel Add-In,
fornece um relatório de comportamento da onda, com os cálculos de tempo de
percurso, pontos notáveis, diagnósticos das frequências, dentre outras métricas da
onda. Para os objetivos deste trabalho, interessam apenas os tempos de percurso das
ondas nos dois estágios, para cálculo do módulo cisalhante G0 e Gmáx,
respectivamente. O Figura 25 apresenta o comportamento da onda no início do
adensamento.
Figura 25 – Gráfico de Comportamento da Onda Cisalhante no Início do Adensamento
20

15

10
Source
5
Amplitude

0 Received

-5
Travel time (Freq. domain:
-10 0.64ms)

-15 Travel time (Time-domain:


0.55ms)
-20
0 1 2 3 4 5 6
Tempo (ms)

Fonte: O Autor, 2018

Já a Tabela 11 mostra o relatório gerado pelo software para o tempo de


percurso da onda cisalhante para o mesmo estágio de adensamento.

Tabela 11 - Relatório de Tempo de Percurso da Onda Cisalhante no Adensamento

Travel time [ms]

www.gdsinstruments.com

Frequency domain Time domain


Filename
(FFT) (Cross-correlation)

BE_15100853_2_2.4004.18_600kPa_ 0,641 0,549

Fonte: O Autor, 2018


55

Seguindo as orientações de Rees, Le Compte e Snelling (2013), adota-se o


tempo de percurso calculado pela função cross-correlation da ferramenta GDS Bender
Elements Excel Add-In, já que esta mostrou dados mais consistentes durante sua
pesquisa comparativa da ferramenta. Portanto, determinando a velocidade da onda:
= −
= 100,22 − 4 [ ]
= 96,22

96,22 ∗ 10 [ ]
=
0,549 ∗ 10 [ ]

= 175,26412

Assim determinada a velocidade da onda, parte-se para o cálculo de G0:


= ∗ ²

Da Tabela 2 tem-se = 2700 Kg/m³, portanto:

= 2700 ∗ (175,26412)² [ ]
= 82,93728175 ∗ 10 Pa
= 82,93728175 Mpa

Para o estágio de cisalhamento da amostra, utilizando-se a totalidade dos


dados exemplificados na Tabela 10, é traçado o comportamento da onda cisalhante
no Figura 26, abaixo:
56

Figura 26 - Comportamento da Onda Cisalhante no Início do Cisalhamento


20
15
Source
10
Amplitude
5
0 Received
-5
-10 Travel time (Freq.
-15 domain: 0.29ms)
-20 Travel time (Time-
0 1 2 3 4 5 6 domain: 0.26ms)
Time [ms]

Fonte: O Autor, 2018

Assim como apresentado na Tabela 11, a Tabela 12 apresenta o relatório de


tempo de percurso da onda, mas agora para o estágio de cisalhamento, com a
amostra completamente adensada sob a tensão efetiva do ensaio, de 600 kPa.

Tabela 12 - Relatório de Tempo de Percurso da Onda Cisalhante no Cisalhamento

Travel time [ms]

www.gdsinstruments.com

Frequency domain Time domain


Filename
(FFT) (Cross-correlation)

BE_15100853_2_2.4004.18_600kPa_ 0,288 0,260

Fonte: O Autor, 2018

Procedendo assim os cálculos da mesma maneira aos realizados para o


estágio de adensamento, utilizando a altura final adensada da Tabela 7:
= −
= 98.10 − 4 [ ]
= 94,10

94,10 ∗ 10 [ ]
=
0,260 ∗ 10 [ ]
57

= 361,92308

Calculando-se Gmáx, agora para a amostra já adensada:


á = ∗ ²
á = 2700 ∗ (361,92308)² [ ]
á = 353,66845 ∗ 10 Pa
á = 353,66845 Mpa

Percebe-se que o módulo cisalhante da amostra cresce de 82,94 Mpa em seu


estado não adensado, para 353,67 MPa em seu estado completamente adensado,
sob tensão efetiva de 600 kPa. Tal diferença se deve ao comportamento plástico dos
solos, refletido pelo índice de adensamento S (%) dado pela Tabela 7.

Um resumo dos parâmetros de resistência encontrados através do ensaio


realizado se encontra na Tabela 13.
Tabela 13 - Resumo dos Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento

Resumo
Parâmetro Valor Unidade
c 32.8 kPa
f 25.9 °
82.9373 MPa
á 353.6685 MPa
Fonte: O Autor, 2018

Para comparação, as Tabela 14 e 15 apresentam valores típicos de c e f para

solos argilosos. Pela densidade natural γ de 1.78 g/cm³, apresentada na Tabela 1,

classifica-se o solo amostrado como argila média.


Tabela 14 - Valores Típicos de Parâmetros para Solos Argilosos

Fonte: Marangon, 2009


58

Tabela 15 - Valores Típicos de Angulo de Atrito interno e Coesão

Fonte: University of Texas,2018


59

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho apresentou resultados de ensaios triaxiais com emprego dos


bender elements, visando obter os parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo
amostrado e o parâmetro de deformabilidade deste mesmo solo. Foram descritos os
procedimentos de realização deste ensaio, com objetivo descritivo para referência
futura.
Os resultados apresentados se mostraram coerentes com os descritos na
literatura de referência e com a teoria da Mecânica dos Solos. Os resultados dos
ensaios com bender elements foram interpretados por cruzamento do domínio de
tempo com o domínio de frequência, por meio do software GDS BEAT com o tempo
de percurso da onda de cisalhamento sendo definido como a primeira maior deflexão
do sinal recebido.
As envoltórias e trajetórias de resistência traçadas apresentaram
comportamento típicos de argilas médias e resultaram em valores de c e  de 32.8
kPa e 25.9°, respectivamente, enquanto que a literatura descreve que argilas médias
apresentam, tipicamente, valores de coesão entre 2,5 e 5,0 t/m² ou 24,50 kPa e 50kPa
(MARANGON, 2009).
Os objetivos propostos para este trabalho foram atingidos de maneira
satisfatória, permitindo ter-se a percepção da real importância dos ensaios triaxiais na
Geotecnia e das possibilidades que podem ser exploradas com o emprego de ensaios
de última geração, como os Bender Elements.
60

REFERÊNCIAS

Chan, C.-M. Bender element test in soil specimens: identifying the shear wave arrival
time. Electronic Journal of Geotechnical Engineering, v. 15M, p. 1263-1275,
2010.
DAVID SUITS, L. et al. Measurement of Gmax and Estimation of K0 of Saturated
Clay Using Bender Elements in an Oedometer. Geotechnical Testing Journal, v.
28, n. 3, p. 11318, 2005.
DEÁK, F.; VÁN, P.; VÁSÁRHELYI, B. Hundred years after the first triaxial test.
Periodica Polytechnica Civil Engineering, v. 56, n. 1, p. 115, 2012.
Dyvik, R.; Madshus, C. Lab measurements of Gmax using bender element.
Advances in the Art of Testing Soils under Cyclic Conditions. Proceedings… New
York: ASCE. 1985. p.186-196.
Fioravante, V.; Capoferri, R. On the use of multi-directional piezoelectric transducers
in triaxial testing. Geotechnical Testing Journal, v. 24, n. 3, p. 243-255, 2001.
GEORGETTI, Giovana Bizão. Deformabilidade de um solo laterítico não
saturado. 2014. Tese (Doutorado em Geotecnia) - Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2014.
LAMBE, T. WILLIAM. Soil mechanics. New York: Wiley, 1969.
Lee, J.-S.; Santamarina, J.C. Bender elements: performance and signal
interpretation. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, v.
131, n. 9, p. 1063-1070, 2005.
MARANGON, Márcio. Geotecnia de fundações. Notas de aula. Universidade
Federal de Juiz de Fora–UFJF. Juiz de Fora, 2009
MONJE VILAR, ORENCIO; DE SOUZA BUENO, BENEDITO. Mecânica dos Solos -
Volume 2. 1ª ed. São Carlos: USP, 2004.
Pinto, C. (2006). Curso básico de mecânica dos solos. 3ª ed. São Paulo: Oficina
de Textos.
Some Useful Numbers on the Engineering Properties of Materials. Disponível
em: <https://www.jsg.utexas.edu/tyzhu/files/Some-Useful-Numbers.pdf>. Acesso em:
18 nov. 2018.
Takkabutr, P. Experimental investigations on small-strain stiffness properties of
partially saturated soils via resonant column and bender element testing. 2006.
Ph.D. Dissertation - University of Texas at Arlington, Arlington, 2006.
Uchimura, T.; Irfan, M. In: International Conference on Urban Earthquake
Engineering, 10º., 2013, Tokyo.CRITERIA FOR DETERMINING GMAX IN
LABORATORY ELEMENT TESTS USING DISK TYPE PIEZOELECTRIC
TRANSDUCERS. Tokyo Institute of Technology, 2013. P.555-560.
61

Viggiani, G.; Atkinson, J. H. Interpretation of bender element tests. Géotechnique, v.


45, n. 1,p. 149-154, 1995.
62

GLOSSÁRIO

GDS BEAT Excel Add-in – Pacote de software distribuido pela GDS Instruments para
tratamento de dados de ensaios com bender elements dentro do Microsoft Excel
GDS Instruments – Fabricante de equipamentos laboratoriais nas áreas de pesquisa
em estruturas, geotecnia e materiais.
Lactec – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento, instituto de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico instalado em Curitiba, Paraná.
Microsoft Excel – Software distribuído pela Microsoft com finalidade de criação e
edição de planilhas de dados.
63

ANEXO A – RESULTADOS ADICIONAIS DOS ENSAIOS TRIAXIAIS

600

500
Tensão desvio (kPa)

400

100 kPa
300
200 kPa

200 400 kPa


600 kPa
100

0
0.0 5.0 10.0 15.0 20.0
Deformação axial (%)

500.0
450.0
Variação da poropressão (kPa)

400.0
350.0
300.0
100 kPa
250.0
200 kPa
200.0
400 kPa
150.0
600 kPa
100.0
50.0
0.0
0.0 5.0 10.0 15.0 20.0
Deformação axial (%)

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