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FACULDADE RUY BARBOSA

GRADUAÇÃO EM DIREITO

Rafael Rodrigues Dos Santos

LA CASA DE PAPEL E OS LIMITES DA INTERVENÇÃO ESTATAL


NA ECONOMIA

Salvador
2019
RAFAEL RODRIGUES DOS SANTOS
LA CASA DE PAPEL E OS LIMITES DA INTERVENÇÃO ESTATAL
NA ECONOMIA

Trabalho apresentado à faculdade Ruy


Barbosa como requisito parcial de avaliação
da disciplina de Ética Geral e Jurídica.
Orientador: Dejair Júnior
LA CASA DE PAPEL E OS LIMITES DA INTERVENÇÃO ESTATAL
NA ECONOMIA

Rafael Rodrigues dos Santos 1

RESUMO
O presente trabalho pretende analizar a intervenção do Estado na Economia do
País, usando como exemplo para um pontapé inicial à discussão uma famosa série
da Netflix: Lacasa de Papel. Neste artigo será discutida a validade das diversas
intervenções do Estado na Economia e suas consequências.

1. INTRODUÇÃO
Neste artigo a Série “La casa de Papel” será usado, como já dito no
resumo acima, como pontapé para o início da discussão. A referida série trata de
um grupo de criminosos com diversas especialidades, que planejam invadir a
Casa da Moeda da Espanha para imprimir e roubar o máximo de Euros que
conseguissem produzir. O plano foi orquestrado pelo mentor e líder do grupo, O
Professor, quem passou sua vida inteira pensando em como concluir o plano e
conseguir fugir.
O recorte da série que levaremos em consideração para o presente
trabalho será o momento, no final da segunda temporada, do diálogo entre o
professor e a inspetora da policia da Espanha, responsável no comando da
operação para resolver o assalto. Nesse momento, o professor cita o montante
de dinheiro impresso e injetado na economia nos anos de 2011, 2012 e 2013,
pelo Banco Central Europeu, fazendo um comparativo entre o que os assaltantes
estavam fazendo com o que o citado Banco Central faz todos os anos, já que,
basicamente, os assaltantes estavam imprimindo dinheiro da mesma forma que
os bancos centrais fazem, só que numa escala menor.
O presente trabalho não pretende discutir a moralidade do que os
assaltantes em La casa de Papel fizeram, mas sim, usar o citado exemplo
utilizado na série para analisar os impactos causados pela interferencia do
Estado na economia. O exemplo que o professor deu foi só um dos mecanismos
que o Estado tem para manipular a economia ao seu dispor e favorecer, ou não,
quem lhe aprouver. Os limites dessa interferência do Estado e suas implicações,
benéficas e maléficas, será o foco aqui.

1
Graduando em Direito pelo Centro Universitário UniRuy Wyden. Salvador,BA.
rafaelrodrigues.14@hotmail.com
2. HISTÓRIA GERAL E CONJUNTURA ATUAL DA INTERVENÇÃO ESTATAL
NO BRASIL

2.1 UM BREVE APANHADO HISTÓRICO

A intervenção de um Estado na economia é um fator decisivo para saber qual


será o destino de um país. Desde seu início, os Estados interviram na sua economia
local e esta sempre esteve ligada a fatores históricos, políticos e ideológicos, por
isso é importante entender como se deu essa intervenção ao longo da história.

As funções do Estado na sociedade são objetos de estudo desde a era


antiga, com Platão e Cícero, por exemplo, onde a tentativa era traçar uma ordem
política mais completa e benéfica.

Com o fim do Feudalismo e a unificação das regiões, transformadas em


países, a intervenção dos Estados passou a ser mais nítida, já que, antes disso,
cada senhor feudal dirigia como seriam gerenciados os recursos do feudo e
controlava, na medida do possível, a população. A partir da criação de Estados mais
coesos, foi possível a implantação de planos politíco-econômicos mais eficazes.

Após esse período de unificação, com o início do período mercantilista, os


mecanismos de intervenção dos Estados ficaram mais claros, até porque só após o
mercantilismo apareceram as primeiras manifestações de nacionalidade, e de
definição de despesas públicas. Nessa época, a busca por metais preciosos era
incessante, e os Estados financiavam essa busca. Em outros países da Europa, por
outro lado, a economia era baseada na agricultura (como na França), e no processo
produtivo, não existia interferência estatal. Pode-se dizer, que nessa época, em
alguns países, a intervenção do Estado se baseava na cobrança de impostos.

O mercantilismo favoreceu a burguesia da época, já que a economia era


baseada no meio de produção, e quem o detinha, conseguia acumular riquezas e,
consequentemente, mais poder político.

Nesta época, o Estado não taxava as riquezas de diversas formas, mas havia
um protecionismo nacionalista muito forte e a taxação de produtos importados era
grande, o que acentuava a intervenção do Estado naquele período.
No século XVII, com a repercussão das ideias liberais, que tinham o
pensamento voltado para os direitos individuais, conhecidos como direitos de
primeira dimensão, e para o afastamento da intervenção do Estado na economia e
na vida privada, várias constituições foram mudadas para que essa nova ideia fosse
incorporada ao texto da Lei Maior dos países Europeus.

A partir desse momento, a intervenção do Estado, na economia e também no


âmbito social era entendido como maléfico para qualquer país. No século XVIII, as
ideias de Locke e Montesquieu começaram a contestar o absolutismo e a
monarquia, com a intenção de diminuir o poder dos estados e fazer com que a ideia
de Estado menos intervencionista fosse realmente adotada. Nessa mesma época
se iniciou a revolução industrial, acontecimento que fomentou mais ainda o
pensamento liberal.

Até o século XIX, países europeus tinham a economia baseada em produção


industrial interna, a na conquista de mercados, através das colônias espalhadas pelo
mundo. Desta forma os países Europeus enriqueceram, e praticamente não
interferiam na atividade interna de seus países, já que ficavam responsáveis pela
busca e manutenção das colônias ao redor do globo.

O ápice do desenvolvimento econômico da época se deu no final do século


XIX e início do século XX.

Principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra monopólios foram criados e,


com a industrialização a todo vapor, uma crescente exploração dos trabalhadores foi
notada. Juntamente com esses fatores, veio a quebra da bolsa de valores
americana, situação que colocou o pensamento liberal de mercado em xeque. A
partir daí, se iniciaram os movimentos contrários ao liberalismo. Os países
começaram a instituir leis antitruste, para combater os monopólios e tentar manter
uma concorrência saudável.

Com a crise econômica também ocorrendo na Europa, se iniciou a discussão


acerca de qual deveria ser a intervenção do Estado na economia. Com isso,
surgiram estudos sobre a economia do bem estar (welfare economy), em paralelo a
estes estudos, surgiram políticas econômicas voltadas para uma economia de bem
estar. O pensamento geral mudou. Onde antes se pensava que o Estado não
deveria adentrar na esfera econômica porque o mercado se auto regulava e a
intromissão do Estado só atrapalhava a economia, passou-se a pensar que a mão
invisível do mercado não existia e que a intervenção do Estado na economia era
necessária para a manutenção do equilíbrio.

Diversos estudos foram feitos com o intuito e analisar o mercado, notar suas
falhas e pensar como o Estado poderia corrigir aquilo. Se antes o mentor da ideia de
um Estado liberal foi John Smith, a partir daquele momento o economista John
Maynard Keynes se destacava com os seus estudos sobre a necessidade da
atuação Estatal para a manutenção da economia. Além de Keynes, no plano
econômico, outro estudioso que ganhou notoriedade e influenciou diversos países
no mundo foi Karl Marx, contribuindo, inclusive, com a implementação do socialismo
na Rússia.

A preocupação com recessões, alta da inflação e colapso da economia


dominou a maioria dos países, foram acompanhadas de diversas normas
regulamentadoras com o intuito de prevenir possíveis falhas do mercado, e inibir o
declínio econômico.

Nesse momento, profundas mudanças no mundo jurídico aconteceram. O


tratamento dos Estados para com a propriedade privada até então era diferente da
atual, a noção de propriedade privada era total, inviolável. A partir do declínio dos
Estados liberais, a noção de função social da propriedade passou a dominar,
trazendo uma relativização à propriedade privada. A propriedade privada teria que
ter sua função social. A liberdade contratual existente no Estado liberal deu espaço
para o dirigismo contratual, em que o Estado regula os contratos para a proteção
das partes mais frágeis na relação. Direitos trabalhistas começaram a receber
códigos próprios, com o intuito de proteger os trabalhadores. Leis antitrustes foram
instituídas, normas e regulamentações para a economia foram feitas.

A partir desse momento, o mundo passou a viver a tensão entre liberalismo e


dirigismo econômico, o que se estende até os dias atuais.

2.2 ANÁLISE DA ORDEM ECONÔMICA BRASILEIRA

André Ramos Tavares concebe a ordem econômica com uma ordem jurídica da
economia, a define como sendo “a expressão de um certo arranjo econômico, dentro
de um específico sistema econômico, preordenado juridicamente. É a sua estrutura
ordenadora, composta por um conjunto de elementos que confronta um sistema
econômico.” (TAVARES, 2006, p. 81). Neste tópico analisaremos a ordem
econômica brasileira, a partir da Constituição Federal de 1988.

A nossa Carta Magna tem vários artigos que versam sobre direito econômico.

Logo no início, no artigo 3º, trás como objetivos fundamentais objetos relevantes
para o direito econômico, como:

“ [...]

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;”

[...]

No artigo 24, dispõe sobre a competência para legislar sobre matéria econômica:

“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;

[...]”

além desses, os artigos 6 e 7 versam sobre os direitos sociais, que impactam


de diversas formas na economia e no nível de intervenção estatal.

Cumpre salientar os artigos 173 e 174, que determinam o Estado como


agente fiscalizador, planejador e normativo da ordem econômica, indicando que o
constituinte entendeu que o modo liberal de economia não deve ser levado à risca e
que o Estado deve fiscalizar e definir planos estratégicos para a economia do país.
Essa noção na intenção do constituinte em fazer do Estado o agente fiscalizador da
economia se torna mais claro quando vemos que nos fundamentos, a Constituição
Federal de 1988 traz “os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”, e entre os
Direitos Fundamentais: “XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a
propriedade atenderá a sua função social”. Nota-se que a Constituição traz uma
ideia de defesa da livre iniciativa, trazendo mecanismos de proteção e regulação da
economia.

A intervenção do Estado na economia pode ser classificada de duas formas:


direta e indireta.
A intervenção direta do Estado na atividade econômica ocorre quando estão
presentes o interesse coletividade e a segurança nacional. Em um sistema
capitalista, o Estado brasileiro age de forma subsidiária, ou seja, para uma
intervenção econômica direta, é necessário, em tese, estar presentes duas
circunstâncias: 1) a necessidade da ação do Estado tendo em vista o interesse da
coletividade ou da segurança nacional e 2) que a iniciativa privada se mostre
ineficiente para suprir essas necessidades.

A intervenção indireta, se dá pela regulação, fiscalização, incentivo e


planejamento da atividade econômica. Está regulada no artigo 174, citado acima, e
parágrafos seguintes da Constituição Federal de 88. As agências reguladoras são
um exemplo da intervenção indireta do Estado na economia (Anvisa, Anatel e etc.)

A nossa Constituição, ora tende para a defesa do livre mercado, ora para a
defesa dos direitos sociais e regulamentação da economia. Corroborando com o
nosso pensamento, Raul Machado Horta afirma que o texto constitucional na ordem
econômica está “impregnada de princípios e soluções contraditórias. Ora reflete um
rumo do capitalismo liberal, consagrando os valores fundamentais desse sistema ora
avança no sentido de intervencionismo sistemático e do dirigismo planificador, com
elementos socializadores”(HORTA apud MORAES, 2008, p. 796.). Já no que tange
às leis (Federais) infraconstitucionais, estas pendem mais para o lado regulador e
protetor da economia, intervindo na autonomia contratual, e nas relações de
emprego, respectivamente no Código civil e na Consolidação das leis de trabalho,
são dois ótimos exemplos.

Com relação ao Código civil e ao Código do consumidor, ora vigentes, nota-


se claro dirigismo contratual, em que o Estado age com intenção de proteger a parte
menos favorecida da relação ou diminuir danos exagerados para uma das partes.

Com relação ao dirigismo contratual, o parágrafo único do artigo 421 do


Código Civil de 2002 , foi adicionado recentemente, e seu texto indica uma cerca
mudança no pensamento acerca desse tema:

“A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.

Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da


intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.”
há uma tensão constante: de um lado, uns alegam que este fenômeno traz
insegurança jurídica para o país, afastando possíveis investimentos, já que não se
sabe quando um contrato será cumprido sem a intervenção do Estado. De outro,
quem vise a posição dos menos favorecidos na relação contratual, que, muitas
vezes ficam obrigados à imposição de outro, perdendo neste momento igualdade
perante o outro contratante, e, desta forma necessitando de auxilio do Estado para
não sofrer perdas tão grandes.

Com relação a este tema, vale destacar o que ensina Humberto Theodoro
Júnior:

“Por meio das leis de ordem pública, o legislador desvia o contrato de seu leito natural dentro
das normas comuns dispositivas, para conduzi-lo ao comando daquilo que a moderna doutrina chama
de”dirigismo contratual”, onde as imposições e vedações são categóricas, não admitindo possam as
partes revogá-las ou modificá-las.”

O pensamento de dirigismo contratual era dominante aqui no Brasil, mas


atualmente vem sendo combatida com mais frequência, como, por exemplo, com a
inclusão do parágrafo único do artigo, acima citado, do Código Civil.

3 DESENVOLVIMENTO 2
REFERÊNCIAS

CONTEXTO HISTÓRICO DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO E A


CONSTITUIÇÃO DE 1988. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
constitucional/contexto-historico-da-intervencao-do-estado-no-dominio-economico-e-a-constituicao-
de-1988/>. Acesso em: 19/08/20.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 19/04/20.

SILVEIRA, Júlia. A INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA. Disponível em: <


https://juliassilveira.jusbrasil.com.br/artigos/343650099/a-intervencao-do-estado-na-economia>.
Acesso em: 19/04/20.

ALVES, Márcio Antônio. DIRIGISMO CONTRATUAL E FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO.


Disponível em: < https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=857>. Acesso em: 19/04/20.

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