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Calamidade pública

Alguns estados e municípios decretaram Calamidade pública. Isso tem gerado um debate
muito fervoroso pois, segundo o eleitorado do Presidente da República Jair Messias
Bolsonaro, está havendo uma violação da lei.
O argumento utilizado se baseia no Artigo 84 da constituição que dá ao Presidente poder
de decretar estado de defesa, estado de sítio e fazer intervenções federais:

"Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...)


IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
X - decretar e executar a intervenção federal; (...)"

Segundo o eleitorado os Estados estariam decretando estado de defesa de acordo com


Artigo 136. E que isso não compete aos representantes dos estado mas sim ao Presidente:

"Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o


Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente
restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social
ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades
de grandes proporções na natureza.
§ 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração,
especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas
coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
b) sigilo de correspondência;
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; (...)"

Porém, nenhum líder dos estados ou municípios declarou estado de defesa. Foi requerido
que o Executivo federal reconhecesse o estado de calamidade pública. Essa decisão está
fundamentada no Decreto nº 7.257 de 4 de Agosto de 2010. Nesse documento é decretado
que o Executivo federal deverá se comprometer em apoiar os Estados, municípios e o
Distrito Federal em situações de calamidade:
“O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84,
incisos IV e VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Medida
Provisória no 494, de 2 de julho de 2010, DECRETA:
Art. 1º O Poder Executivo federal apoiará, de forma complementar, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios em situação de emergência ou estado de calamidade pública,
provocados por desastres. (...)
IV - estado de calamidade pública: situação anormal, provocada por desastres, causando
danos e prejuízos que impliquem o comprometimento substancial da capacidade de
resposta do poder público do ente atingido; (...)”

No Capítulo II do decreto fica claro a quem cabe o reconhecimento de situações de


emergência e calamidade pública - O Executivo federal - e que o mesmo é feito sob
requerimento do Executivo do Distrito Federal, Executivo Estadual e Executivo
Municipal.

"CAPÍTULO II
DO RECONHECIMENTO DA SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA E DO
ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA
Art. 7
O reconhecimento da situação de emergência ou do estado de calamidade pública pelo
Poder Executivo federal se dará mediante requerimento do Poder Executivo do Estado,
do Distrito Federal ou do Município afetado pelo desastre. (...)"

O Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, solicitou ao congresso o


reconhecimento de situação de Calamidade pública através da seguinte mensagem:

Mensagem nº 93, de 18 de março de 2020.

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

DOU de 18/03/2020 (nº 53-A, Seção 1, pág. 1)

“Senhores Membros do Congresso Nacional,


Em atenção ao disposto no art. 65 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000,
denominada de Lei de Responsabilidade Fiscal, solicito a Vossas Excelências o
reconhecimento de estado de calamidade pública com efeitos até de 31 de dezembro de
2020, em decorrência da pandemia da COVID-19 declarada pela Organização Mundial
da Saúde, com as consequentes dispensas do atingimento dos resultados fiscais previstos
no art. 2º da Lei nº 13.898, de 11 de novembro de 2019, e da limitação de empenho de
que trata o art. 9º da Lei de Responsabilidade Fiscal. (...)"

O Senado, em resposta ao Presidente da República, coloca em vigor o Projeto de Decreto


Legislativo (PDL) 88/20 que diz:

"Faço saber que o Congresso Nacional aprovou, e eu, Antonio Anastasia, Primeiro Vice-
Presidente do Senado Federal, no exercício da Presidência, nos termos do parágrafo único
do art. 52 do Regimento Comum e do inciso XXVIII do art. 48 do Regimento Interno do
Senado Federal, promulgo o seguinte:

DECRETO LEGISLATIVO
Nº 6, DE 2020
Reconhece, para os fins do art. 65 da Lei Complementar nº 101,
de 4 de maio de 2000, a ocorrência do estado de calamidade
pública, nos termos da solicitação do Presidente da República
encaminhada por meio da Mensagem nº 93, de 18 de março de
2020."

Com isso não há nenhuma inconstitucionalidade com o decreto de calamidade pública e


com as medidas que os Estados estão tomando para amenizar a Pandemia.

A polêmica da MP 926/20

Bolsonaro editou a MP 926/20 no intuito de tirar a autonomia dos estados em restringir a


locomoção municipal e interestadual decretada em situações de calamidade pública:

"O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 62 da


Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:
Art. 1º A Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, passa a vigorar com as seguintes
alterações:
“Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas
competências, dentre outras, as seguintes medidas:
.......................................................................................................
VI - restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e fundamentada
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por rodovias, portos ou aeroportos de:
a) entrada e saída do País; e
b) locomoção interestadual e intermunicipal;
.......................................................................................................
§ 8º As medidas previstas neste artigo, quando adotadas, deverão resguardar o exercício
e o funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais.

§ 9º O Presidente da República disporá, mediante decreto, sobre os serviços públicos e


atividades essenciais a que se referem o § 8º. (...)"

Porém, a MP foi dada como assim inconstitucional pois fere o Artigo 23 da Constituição,
mais precisamente no inciso II:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:

I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e


conservar o patrimônio público;

II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas


portadoras de deficiência; (...)"

Com base nos dados apresentados resumo que os Estados requereram do Presidente da
República reconhecimento de calamidade pública. O mesmo, através da mensagem nº 93
de 18 de Março de 2020 e amparado pelo Decreto nº 7.257 de 4 de Agosto de 2010;
Capítulo II; Artigo 7, solicitou reconhecimento ao congresso. O Senado respondeu com
o DECRETO LEGISLATIVO Nº 6, DE 2020. Então a situação de Calamidade Pública
foi reconhecida. Os Estados amparados do Artigo 23, inciso II da Constituição
derrubaram a MP 926/20 por inconstitucionalidade e continuam a exercer autonomia nas
decisões que envolvem a saúde pública de suas localidades. E o poder Executivo federal
deve, obrigatoriamente, fornecer ajuda complementar com base no Artigo 1º do Decreto
nº 7.257/2010.

Windson Trevizoli
Quarta-feira, 22 de Abril de 2020, 17:01 horas.

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