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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


DESEMBARGADORA TEREZA CRISTINA SOBRAL BITTENCOURT SAMPAIO

SÉTIMA CÂMARA CÍVEL


APELAÇÃO CÍVEL N° 0009982-70.2010.8.19.0038
APELANTE: CIA ITAULEASING DE ARRENDAMENTO MERCANTIL
APELADO: MONICA REGINA DE OLIVEIRA GOMES
DESEMBARGADORA: TEREZA CRISTINA SOBRAL
BITTENCOURT SAMPAIO

Ação de responsabilidade civil por danos morais e


materiais. Aquisição de veículo automotor. Contrato
de alienação fiduciária em garantia. Inadimplemento
das prestações mensais pactuadas. Deferimento de
liminar de reintegração de posse. Purga da mora.
Extinção do processo de reintegração de posse,
determinando a entrega do bem à compradora.
Deterioração do veículo no depósito da Ré. Sentença
de procedência parcial do pedido. Inconformismo da
instituição bancária Ré.
1. A autora logrou comprovar documentalmente seu
direito, o que foi corroborado pelas certidões dos
oficiais de justiça e pelas fotos (indexadores 25/29)
que evidenciavam o bom estado que se encontrava o
automóvel antes da imissão na posse;
2. Não merece prosperar as alegações de
ilegitimidade passiva. Tal fato não pode ser oponível
ao apelado, que não mantinha qualquer relação
jurídica com o local responsável pela guarda do bem.
3. Recurso a que se nega seguimento, com fulcro
no artigo 557, caput, do CPC.

DECISÃO

Trata-se de apelação cível interposta contra sentença


proferida em ação de reparação de danos, ajuizada por Monica
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TEREZA CRISTINA SOBRAL BITTENCOURT SAMPAIO:000014999 Assinado em 21/08/2013 14:14:54


Local: GAB. DES. TEREZA CRISTINA SOBRAL BITTENCOURT SAMPAIO
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Regina de Oliveira Gomes em face de Cia Itauleasing de


Arrendamento Mercantil, objetivando a autora a indenização por danos
materiais no importe de R$ 22.180,15, em razão da deterioração do
veículo apreendido durante sua permanência no depósito, bem como
indenização a título de danos morais.

Aduz a demandante, em síntese, que realizou um contrato de


leasing com o réu objetivando adquirir o veículo Fiat, modelo Palio
Young, ano 2000, placa KMH-7233 e, diante do atraso no
adimplemento das prestações, foi ajuizada em face dela ação de
reintegração de posse, onde foi concedida liminarmente a imissão na
posse do veículo.

Na referida ação, a autora realizou o pagamento do valor


estipulado, sendo determinado na sentença a entrega do veículo.
Ocorre que, quando da entrega, o veículo se encontrava totalmente
deteriorado, sendo certo que, no momento da imissão na posse, o
mesmo estava em perfeito estado de conservação, razões por que
ajuizou a presente demanda.

Contestação às fls. 44/55, sustentando a ré, em síntese, a


inexistência de dano moral e que a demanda deveria ser intentada não

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contra o banco, mas em face do leiloeiro, vez que quando da


apreensão de veículos por falta de pagamento, estes são direcionados
ao pátio do Leiloeiro Guariglia, permanecendo este como fiel
depositário do bem, motivo pelo qual pugnou pela total improcedência
dos pedidos iniciais.

Sentença proferida às fls. 88/90, nos seguintes termos, in


verbis:
“(...)ISTO POSTO, rejeito argüição de ilegitimidade passiva,
sem prejuízo de possível exigência do réu perante o guardião por ele
contratado. O certo é que inexiste relação entre a autora e o leiloeiro
que guardara o bem. No mérito tenho que assiste razão à autora quanto
aos danos materiais. O veículo nas condições descritas pelo oficial de
justiça não poderia ser restituído em estado diverso. A certidão de fls.
22 demonstra que o veículo fora restituído em estado de
imprestabilidade, pelo que a de ser indenizado. Não há que se falar em
dano moral porque não atingidos direitos imateriais da parte autora.
Mas o dano material não pode deixar de ser reparado. ISTO POSTO,
julgo procedente o pedido e extinto o feito com fundamento no art. 269,
I do CPC para: 1) Condenar o réu no ressarcimento à autora da quantia
de R$18.888,00, atualizados pelo índice da Ufir e acrescidos de juros
legais de 1% a.m., a título de reparação pelos danos materiais
suportados desde a data de restituição do bem, ou seja, 01/04/2008; 2)
Condeno ainda a ré nas custas e despesas do processo e honorários
advocatícios que arbitro em 10% sobre o valor da condenação; 3) Julgo
improcedente pedido de dano moral. (...).”

Inconformado, o réu interpôs recurso de apelação (fl. 92/97),


argumentando, em síntese, que não possui responsabilidade pelos
danos pleiteados, pois após a apreensão, o veículo foi encaminhado
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ao Pátio Leiloeiro Guariglia, sendo este responsável por sua guarda.


Aduz ainda que, não cometeu nenhum ato danoso ao bem, eis que o
mesmo foi apreendido por meios legais, fundada na inadimplência da
autora, razões por que pugna pelo conhecimento e integral provimento
de seu recurso. Alternativamente, requer a redução do quantum
indenizatório fixado.

Contrarrazões às fls. 102/104.

É o relatório.

Inicialmente, conheço do presente, vez que constato a


presença dos requisitos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade e
passo à apreciação de seu mérito.

Como se vê dos documentos carreados aos autos, as partes


celebraram contrato de alienação fiduciária e, por ter ficado a apelada
inadimplente, o Banco ajuizou a referida ação, sendo-lhe entregue o
veículo no dia 06/07/2005 em cumprimento ao mandado de
reintegração de posse (indexador 16). O auto de reintegração de
posse atesta que o veículo encontrava-se em “bom estado de

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conservação” e “com equipamentos de segurança, rádio cd sem a


frente removível e quatro pneus em bom estado”.

O processo foi extinto por sentença datada de 28/09/2007 por


ter sido purgada a mora, sendo determinada a entrega do veículo à
fiduciante. Diante do precário estado do veículo, a ora autora não
recebeu o bem, como faz constar a certidão datada de 01/04/2008
(indexador 23), a qual atesta que o mesmo apresentava inúmeras
avarias, razão pela qual busca receber o valor de R$ 22.180,15 a título
de danos materiais, conforme pesquisa de preços acostadas aos
autos (indexadores 32/39).

Saliente-se que não foi requerida produção de prova,


limitando-se a ré/apelante a afirmar que não há que ser imputado a ela
qualquer responsabilidade pelo evento danoso.

Já a autora logrou comprovar documentalmente seu direito, o


que foi corroborado pelas certidões dos oficiais de justiça e pelas fotos
(indexadores 25/29) que evidenciavam o bom estado que se
encontrava o automóvel antes da imissão na posse.

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É de se concluir que a apelada desincumbiu-se


satisfatoriamente da prova do dano e do nexo de causalidade entre os
danos alegados e a guarda por parte das empresas subcontratadas
pelo banco, conforme preceitua o art. 333, I do Código de Processo
Civil.

Registre-se que não merece prosperar as alegações da


apelante de que não contribuiu para o evento danoso, por entender
que o responsável seria o pátio para o qual o bem fora enviado,
cabendo, aqui, mencionar o consignado pelo douto Juiz, no sentido de
que “... não foi o leiloeiro nomeado depositário. O veículo foi
apreendido e entregue ao réu, que o conduziu ao destino que quis,
mas sob sua responsabilidade”.

Dessa forma, se de fato o réu acredita que os fatos devem


ser imputados ao operador do depósito para onde o bem foi
conduzido, que adote as medidas cabíveis a fim de evitar situações
como as dos autos, não devendo, contudo, ser tal fato oponível ao
apelado, que não mantinha qualquer relação jurídica com o local
responsável pela guarda do bem.

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Desta forma, cabe à ré responder pelos danos materiais


causados à autora em razão de seu dever de zelar pelo bem quando
em seu poder, devendo permanecer hígida a sentença atacada na
parte que determina o pagamento a título de danos materiais no valor
de R$18.888,00, atualizados e acrescidos de juros, considerando os
valores apresentados nos autos.

No mesmo sentido, seguem os reiterados entendimentos


desta Corte:

EMENTA - AGRAVO INTERNO NA APELAÇÃO CÍVEL


AÇÃO INDENIZATÓRIA - REJEIÇÃO DA PRELIMINAR DE
ILEGITIMIDADE PASSIVA - APREENSÃO DE VEÍCULO EM
PRECEDENTE AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO - PURGA
DA MORA - EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO - IMPOSSIBILIDADE DE
RESTITUIÇÃO DO VEÍCULO DIANTE DO SEU
DESAPARECIMENTO DO DEPÓSITO ALIENAÇÃO DO
BEM APÓS A PROLAÇÃO DA SENTENÇA EXTINTIVA -
OBRIGAÇÃO DO DEPOSITÁRIO DE TER NA GUARDA E
CONSERVAÇÃO DA COISA DEPOSITADA O CUIDADO E
DILIGÊNCIA QUE COSTUMA COM O QUE LHE
PERTENCE ARTIGO 629 DO CÓDIGO CIVIL -
INEXISTÊNCIA DE FORÇA MAIOR A JUSTIFICAR A
EXCLUSÃO DO DEVER DE INDENIZAR - DANOS
MATERIAIS E MORAIS CONFIGURADOS - VERBA
COMPENSATÓRIA ARBITRADA EM CONSONÂNCIA COM
OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE - RECURSO DESPROVIDO -
DECISÃO MANTIDA. (Apelação nº 0004430-

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39.2009.8.19.0207 – Des. Mario Guimaraes Neto –


Julgamento: 06/03/2012 – Décima Segunda Câmara Cível).

Ação ordinária de responsabilidade civil por danos morais e


materiais. Aquisição de veículo automotor. Contrato de
alienação fiduciária em garantia. Inadimplemento de uma das
prestações mensais pactuadas. Deferimento de liminar de
busca e apreensão. Purga da mora. Extinção do processo de
busca e apreensão sem resolução do mérito. Não restituição
do bem à compradora. Deterioração do veículo no depósito
da Ré. Sentença de procedência parcial do pedido.
Inconformismo da instituição bancária Ré. Entendimento
desta Relatora quanto à incidência dos ditames do Código de
Defesa do Consumidor à espécie. Apelante e Apelada
enquadrados, respectivamente, nas definições legais de
fornecedor de serviços e consumidor. Artigo 3º, Lei nº
8.078/90. Responsabilidade civil objetiva do fornecedor de
serviços, na forma do Artigo 14 do mesmo diploma legal. Ao
aceitar a purga da mora, o banco Recorrente assumiu a
obrigação de restituir o bem apreendido, devendo entregá-lo
à Recorrida no estado em que o mesmo se encontrava na
ocasião em que foi apreendido liminarmente, o que não
ocorreu. A deterioração do bem, que permaneceu
indevidamente no depósito da Apelante, exposto às
intempéries, dá ensejo ao inegável reconhecimento da
existência de danos materiais a serem indenizados. Danos
morais configurados, já que inconteste o constrangimento
experimentado pela Apelada, que se viu privada do uso de
seu veículo automotor por longo período, mesmo tendo
efetuado o pagamento da integralidade do seu preço.
Quantum indenizatório dos danos morais arbitrados em R$
10.000,00 (dez mil reais) em atenção aos Princípios da
Proporcionalidade e da Razoabilidade, bem como às
peculiaridades do caso concreto e à orientação da
jurisprudência dominante desta Egrégia Corte de Justiça
relativa a casos análogos. Apelo manifestamente
improcedente e confrontante com a jurisprudência dominante
do TJERJ. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO, na
forma do Artigo 557, caput, do CPC. – (APELACAO CÍVEL
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Nº 2009.001.39986. REL. DES. CONCEICAO MOUSNIER -


Julgamento: 24/08/2009 – VIGESIMA CAMARA CIVEL)

AGRAVO INOMINADO. RATIFICAÇÃO DA DECISÃO


MONOCRÁTICA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.
RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZATÓRIA. DANOS
MATERIAIS E MORAIS. CONTRATO DE FINANCIAMENTO.
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. BUSCA E
APREENSÃO. DEVOLUÇÃO DO BEM COM AVARIAS.
DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIZAÇÃO
OBJETIVA DO AGENTE FIDUCIÁRIO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. Veículo apreendido em ação de Busca e
Apreensão por inadimplência da autora. Purga da mora.
Veículo entregue danificado em razão de sua guarda
negligente e inadequada pelas empresas subcontratadas
pela financeira. Dano material configurado, sendo objetiva a
responsabilidade do credor fiduciário ao subcontratar
empresas prestadoras de serviços para a guarda dos
automóveis apreendidos, nos termos do art. 14 do Código de
Defesa do Consumidor respondendo ela, independente de
culpa, pela reparação dos danos causados a seus
consumidores pelo defeito do serviço prestado. Manutenção
da sentença quanto a condenação em danos materiais no
valor de R$16.851,96. Dano moral in re ipsa que decorre do
atingimento de sua honra objetiva. Majoração do quantum
indenizatório a título de danos morais para o patamar de
R$5.000,00, de acordo com os princípios da razoabilidade e
da proporcionalidade. Correção monetária a contar desta
data, nos moldes da Súmula 97 deste Tribunal. Juros
moratórios, que devem incidir a contar da citação. Custas e
honorários periciais pela parte sucumbente. NEGATIVA DE
SEGUIMENTO DO 1º RECURSO E PROVIMENTO DO
RECURSO ADESIVO QUE SE
RATIFICA.DESPROVIMENTO DO RECURSO. (Apelação nº
0097438-77.2007.8.19.0001 – Des. Leila Mariano –
Julgamento: 23/09/2009 – Segunda Câmara Cível).

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Pelo exposto, nego seguimento ao recurso, com fulcro no


artigo 557, caput, do CPC.

Rio de Janeiro, 21 de agosto de 2013.

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Desembargadora Relatora

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