Você está na página 1de 2

17/10/13 VISUALIZAÇÃO DE RESUMO

IMPRIMIR VOLTAR

F. Ciências Sociais Aplicadas - 4. Direito - 4. Direito Constitucional

MECANISMOS CONSTITUCIONAIS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR

Frederico Menezes Breyner 1


José Luiz Quadros de Magalhães 1

(1. Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG)

INTRODUÇÃO:

A legitimidade do Estado, bem como do ordenamento jurídico por ele posto, é objeto de
constantes questionamentos, presente em estudos dos diversos ramos das ciências
humanas. Principalmente no tocante à Constituição, percebe-se que a questão da
legitimidade, devido à dinamicidade inerente ao seu conceito, não é alcançada em um
momento determinado e único. Fato é que a maioria dos textos constitucionais da
atualidade prevê algum tipo de participação popular na formação da vontade estatal
durante toda a sua vigência. Isso se deve à constante busca de legitimidade do
ordenamento jurídico constitucional, com objetivo de acompanhar a evolução da
sociedade. Assim, fator importante para a manutenção da legitimidade do Direito como
sistema é a possibilidade da participação popular, já que, através dela a sociedade
pode influenciar o Direito de forma direta, diminuindo a distância entre os dois sistemas
(jurídico e social), concretizando a cidadania e a junção das normas e da vontade
popular. Na presente pesquisa analisou-se, por meio da evolução do
constitucionalismo (investigação histórico-jurídica), a positivação nos textos
constitucionais de mecanismos que permitem ao cidadão, individualmente ou através
de grupos sociais representativos, participar diretamente do poder normativo do
Estado. A partir disso, verificou-se como a utilização destes mecanismos influencia as
decisões estatais e quais suas implicações.
METODOLOGIA:

Partiu-se da pesquisa jurídico-teórica sobre os mecanismos constitucionais de


participação popular, sua interpretação doutrinária e seus embasamentos filosóficos.
Tais fontes ofereceram uma visão prospectiva dos mecanismos de participação,
oferecendo bases para a correlação entre democracia e legitimidade. Para uma análise
da efetiva utilização dos mecanismos constitucionais de participação popular, mostrou-
se necessária a pesquisa jurídico-social ou empírica, com o objetivo de verificar
quando tais mecanismos foram utilizados, qual o contexto da época respectiva e quais
foram os efeitos da participação no referido momento histórico. Neste ponto, verificou-
se que a participação popular é conquistada em momentos de distanciamento entre o
poder e seus destinatários, e que em sociedades onde há um nível mínimo de
implementação de direitos fundamentais a participação é mais efetiva, pois a existência
de condições materiais e econômicas possibilita o acesso aos centros de decisão e
um debate igualitário entre os diversos segmentos sociais. A análise dos dados deu-se
através da leitura reflexiva e crítica, levando em consideração sempre o marco teórico
utilizado, que preconiza a participação como vetor fundamental da nova democracia,
tendo como norte a busca de uma maior legitimidade do Estado e do ordenamento
jurídico através da participação popular (investigação jurídico-prospectiva).
RESULTADOS:

Historicamente, o apelo ao povo sempre foi utilizado como forma de legitimação de


poderes e interesses, geralmente instrumentalizados por normas de conduta, impostas
aos destinatários do poder. Porém, o apelo ao povo por si só não garante a influência
do mesmo nos rumos a serem seguidos pelo Estado. Isso porque a participação
popular nos assuntos estatais não deve se dar de forma contingencial, somente em
momentos que atendam a interesses que dirigem a sociedade e impõem a ela padrões
www.sbpcnet.org.br/livro/58ra/SENIOR/RESUMOS/resumo_3127.html 1/2
17/10/13 VISUALIZAÇÃO DE RESUMO

específicos de conformação e exclusão. A participação popular que permite a


democracia é aquela que, invariavelmente conquistada por meio de lutas e
reivindicações, possibilita aos cidadãos influenciar permanentemente o uso do poder
estatal na escolha dos rumos sociais e econômicos, na edição de normas e
implementação de direitos (democracia participativa). A possibilidade dos destinatários
das normas se reconhecerem como autores das mesmas ameniza conflitos e legitima
o Estado. Resulta disso que a democracia e a participação devem ser compreendidas
no contexto dos direitos fundamentais entendidos globalmente, ou seja, sem divisão
em dimensões estanques (individuais, sociais e difusos). Tais direitos se entrelaçam
de forma que um seja pressuposto do outro, todos efetivados pela participação
democrática, integrante da última geração dos direitos fundamentais. Portanto, como
direito, a participação deve ser implementada, servindo ao mesmo tempo de
mecanismo de implementação de outros direitos.
CONCLUSÕES:

Em razão do princípio democrático, a leitura da Constituição não deve culminar na


conclusão de que houve a adoção de uma ideologia constitucional estática. O grande
princípio norteador da hermenêutica constitucional é a democracia. As decisões
fundamentais tomadas pelo poder constituinte originário não implicam a cristalização
da vontade popular, seja por impossibilidade de se realizar previsões futuras, seja pela
crise de legitimidade que tal situação ensejaria. Sendo assim, a Constituição conforma
não só o Estado como também a sociedade, de forma a possibilitar a permanente
mobilização e participação da mesma nos assuntos estatais. Reafirma-se, contudo,
que não é a outorga jurídica de mecanismos de participação que induz a democracia,
mas sim a existência de uma sociedade com nível mínimo de direitos fundamentais
implementados, que mantenha um sentimento de pertencimento ao Estado e uma
vontade de influenciar o mesmo. A existência destes mecanismos jurídicos de
participação tem uma função legitimadora, desde que sejam permanentes e efetivos.
Numa visão global, o sentimento de pertencimento ao Estado, o nível mínimo de
direitos básicos implementados, a vontade popular de participação e a existência de
mecanismos jurídicos conformadores desta participação constituem elementos que
propiciam uma deliberação democrática mais forte, atuante e eficiente; dirigente e
legitimadora do Estado e do Direito.
Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Legitimidade; Estado Constitucional; Democracia participativa.


Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006

www.sbpcnet.org.br/livro/58ra/SENIOR/RESUMOS/resumo_3127.html 2/2

Você também pode gostar