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1. RELATÓRIO
A Recorrente, FAZENDA PUBLICA, não conformada com a sentença
proferida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu em 29.07.2011,
que julgou procedente a oposição deduzida por L..., contribuinte n.º
1…, na execução fiscal n.º 2720200401021273 e apensos, instaurada
originariamente contra a sociedade “M…, S.A.”, para pagamento da
quantia de € 161.384,37 respeitante a IVA do ano de 2004, Coimas
Fiscais dos anos de 2003 e 2004 e IRC de 2003.
A) “ Nos presentes autos foi proferida sentença que julgou procedente a presente
oposição por falta de fundamento legal para a reversão operada contra o
revertido/oponente.
B) Está patente na decisão que: “(…) tal como consta dos factos provados, o
oponente, mesmo depois de renunciar ao seu cargo, celebrou um acordo, no
sentido de liquidar as dívidas de IVA e IRC reportadas ao período em que exercia
funções de administrador, no âmbito do PEF nº2720200401012649, tendo liquidado
a totalidade da dívida, o que demonstra a boa-fé do oponente, nomeadamente
por querer regularizar a situação fiscal da sociedade, no período em que as funções
de gestão lhe estavam adstritas.”
C) Contudo, entende a Fazenda Pública, que não é isso que resulta da prova
produzida, uma vez que:
· O acordo de pagamento não foi celebrado em sede de reversão, mas pela
originária devedora, tendo o Sr. L... assinado como seu administrador;
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D) Estes pagamentos não foram, portanto, realizados pelo o oponente, pelo que
não nos encontramos perante o assumir de dívidas do período da sua gerência
(num acto demonstrativo de boa-fé!), mas sim face a verdadeiros actos de gestão
de facto, posteriores à renúncia de tais funções.
F) A Fazenda Pública não pode também conformar-se com o que se retirou dos
autos de declarações dos funcionários da devedora originária, pois que, embora se
refiram ao Sr. F…, são unânimes ao afirmar que o Sr. L…, após Abril de 2004, deu
instruções aos funcionários, assinou cheques e ia com frequência à empresa.
I) Invocou o oponente que não teria culpa pela insuficiência do património dado
não ser gerente de facto à data dos factos.
J) Todavia, provado que está que este era gerente de facto naquele momento,
deveria cumprir o estipulado no art.º 64º do CSC, competindo-lhe promover a
dissolução e liquidação da empresa, assim como a respectiva cessação de
actividade para efeitos de IVA e IRC, que foi efectuada oficiosamente pela
Administração Fiscal.
O Ministério Público junto deste tribunal teve vista nos autos emitiu
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3. JULGAMENTO DE FACTO
No Tribunal a quo, o julgamento da matéria de facto foi efetuado nos
seguintes termos:
“(…) A) Nos autos de execução n.º 2720200401021273 e apensos, instaurados
contra a sociedade “M…, S.A.”, visa-se a cobrança coerciva da quantia de €
161.384,37 (cento e sessenta e um mil, trezentos e oitenta e quatro euros e trinta e
sete cêntimos), respeitante a IVA do ano de 2004, Coimas Fiscais dos anos de 2003
e 2004 e IRC de 2003.
B) O oponente cessou as suas funções, enquanto membro do Conselho de
Administração, mais precisamente enquanto Presidente daquele, mediante
renúncia, em 6 de Abril de 2004, tendo esta sido registada na Conservatória do
Registo Comercial de Viseu através da Ap. 81/20050620, vide fls. 142 dos autos;
C) Após a data da renúncia mencionada no antecedente ponto, o oponente
assumiu um acordo de pagamento no âmbito do processo executivo n.º
2720200401012649, comprometendo-se a liquidar o montante de € 33.517,04,
relativamente a dívidas fiscais de IVA e IRC do período da sua administração,
montante que liquidou na totalidade – cfr. Docs. 1 a 19, juntos com a petição inicial.
D) Por despacho para audição de 5 de Fevereiro de 2007 do Chefe de Finanças do
SF de Viseu - 1, constante de fls. 145 e 146 dos presentes autos, foi determinada a
preparação do processo para efeitos de reversão da execução fiscal contra o
oponente, na qualidade de administrador da devedora principal;
E) Por despacho de 7 de Março de 2007, a execução reverteu contra o responsável
subsidiário, o aqui oponente, L...;
F) Do despacho de reversão, com interesse para a decisão da causa, consta, para
além do mais:
“…
Através da análise do presente processo, constata-se a inexistência/insuficiência de
bens, pertencentes à originária devedora, M..., S.A., NIPC 5..., com sede em Campo,
Viseu, que garantam o pagamento da dívida exequenda e acrescido.
Assim, em 2007-02-05, foi proferido despacho para reversão da presente execução
contra o seguinte administrador:
- L... (...)
Como sendo subsidiário responsável por toda a dívida exequenda, que está na
origem da instauração do presente procedimento executivo, referente a:
- IVA de 2004 (de Abril a Agosto), no valor de € 66.760,12.
- Coimas relativas ao ano de 2004, no valor de € 21.742,00.
- IVA de 2004 (Setembro e Outubro), no valor de € 22.585,75.
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*
A base probatória radica nos documentos neles referidos. (…)”
*
3.1. Alteração à matéria de facto.
Nos termos do art.º 712.º, nº 1, al. a), do CPC (atual n.º 1 do 662.º do CPC)
por estar documentalmente demonstrada nos autos altera-se o facto
da alínea C), nos termos seguintes:
4. JULGAMENTO DE DIREITO
4.1. A principal questão que cumpre resolver, consiste em apreciar se
houve erro de julgamento de facto e de direito da sentença recorrida
ao ter decidido que a Recorrente não fez prova que o Recorrido
exerceu a administração efetiva ou de facto na sociedade originária
devedora.
Importa referir que a execução fiscal tem por objeto a cobrança
coerciva por dívidas provenientes de IVA e IRC de 2003 e 2004 e coimas
Fiscais dos anos de 2003 e 2004.
A responsabilidade dos administradores ou gerentes de sociedades
pelas dívidas tributárias, responsabilidade está prevista no artigo 24.º
da LGT.
O artigo 24.º da LGT estabelece o seguinte: “1- Os administradores,
directores e gerentes e outras pessoas que exerçam, ainda que somente de facto,
funções de administração ou gestão em pessoas colectivas e entes fiscalmente
equiparados são subsidiariamente responsáveis em relação a estas e
solidariamente entre si:
a) Pelas dívidas tributárias cujo facto constitutivo se tenha verificado no período
de exercício do seu cargo ou cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha
terminado depois deste, quando, em qualquer dos casos, tiver sido por culpa sua
que o património da pessoa colectiva ou ente fiscalmente equiparado se tornou
insuficiente para a sua satisfação;
b) Pelas dívidas tributárias cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha
terminado no período do exercício do seu cargo, quando não provem que não lhes
foi imputável a falta de pagamento.”.
A responsabilidade subsidiária dos administradores / gerentes, por
dívidas da executada originária, tem por pressuposto o exercício
efetivo do cargo.
Na Lei Geral Tributária retira-se da interpretação do exórdio do n.º 1 do
art.º 24.º, onde se menciona expressamente o exercício de funções. “Os
administradores, […] e outras pessoas que exerçam […] funções de
administração ou gestão em pessoas colectivas e entes fiscalmente
equiparados…”
A responsabilidade subsidiária aí prevista não exige a gerência nominal
ou de direito quando refere que “ Os administradores, directores e gerentes
e outras pessoas que exerçam, ainda que somente de facto, funções de
administração ou gestão em pessoas colectivas e entes fiscalmente equiparados”
(destacado nosso).
Desde logo, resulta do citado normativo, que a responsabilidade
subsidiária é atribuída em função do exercício do cargo de
administrador / gerente e reportada ao período do respetivo exercício.
Ou seja, administração / gerência de facto constitui requisito da
responsabilidade subsidiária dos administradores e gerentes,
www.gde.mj.pt/jtcn.nsf/89d1c0288c2dd49c802575c8003279c7/e25176a0b41b894e802580dd005224ed?OpenDocument 6/10
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5. DECISÃO
Nestes termos, acordam em conferência os juízes da Secção de
Contencioso Tributário deste Tribunal, em conceder provimento ao
recurso anular a sentença recorrida, ordenando-se a baixa do processo
ao Tribunal de 1ª instância para conhecimentos das demais questões
equacionadas.
Sem custas.
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