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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.782.024 - RJ (2018/ 0173938-7)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


RECORRENTE : RECANTO - CONSULTORIA, INFORMATICA E PROMOCOESLTDA
ADVOGADOS : GIORGIA CRISTIANE PACHECO - PR023776
EDUARDO GUSTAVO PACHECO - PR027185
FABIO RODRIGUESGUIMARÃESDA SILVA E OUTRO(S) - RJ126478
RECORRIDO : SAO PAULO FUTEBOL CLUBE
ADVOGADOS : CARLOSMIGUEL CASTEX AIDAR - SP022838
ULYSSESECCLISSATO NETO - SP182700
RECORRIDO : INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL
EMENTA

RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. AÇÃO DE NULIDADE DE


MARCA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA.
PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL. ART. 174 DA LEI 9.279/96.
1. Ação ajuizada em 14/1/2010. Recurso especial interposto em 12/12/2016.
Autos conclusos à Relatora em 25/10/2018.
2. O propósito recursal, além de verificar se houve negativa de prestação
jurisdicional, é definir (i) se a pretensão anulatória está prescrita; (ii) se
houve cerceamento de defesa ou má valoração da prova; (iii) se o
julgamento foi extra petita; e (iv) se deve ser declarada a nulidade da marca
titulada pela recorrente.
3. Devidamente analisadas e discutidas as questões deduzidas pelas partes,
não há que se cogitar de negativa de prestação jurisdicional, ainda que o
resultado do julgamento contrarie os interesses da recorrente.
4. O diploma legal que trata especificamente de questões envolvendo direito
de propriedade industrial – Lei 9.279/96 – contém regra expressa acerca da
questão controvertida, dispondo que a pretensão de se obter a declaração
de nulidade de registro levado a efeito pelo INPI prescreve em cinco anos,
contados da data da sua concessão (art. 174).
5. Mesmo tratando-se de ato administrativo contaminado por nulidade, os
efeitos dele decorrentes não podem ser afastados se entre a data de sua
prática e o ajuizamento da ação já houve o transcurso do prazo prescricional
previsto para incidência na correspondente hipótese fática, salvo flagrante
inconstitucionalidade. Precedentes.
6. Entender que a ação de nulidade de marca é, em regra, imprescritível
equivale a esvaziar o conteúdo normativo do dispositivo precitado, fazendo
letra morta da opção legislativa e gerando instabilidade, não somente aos
titulares de registro, mas também a todo o sistema de defesa da
propriedade industrial.
7. Ademais, a imprescritibilidade não constitui regra no direito brasileiro,
sendo admitida somente em hipóteses excepcionalíssimas que envolvem
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direitos da personalidade, estado das pessoas, bens públicos. Os demais
casos devem se sujeitar aos prazos prescricionais do Código Civil ou das leis
especiais. Precedente.
8. Hipótese concreta em que a ação anulatória foi ajuizada depois de
transcorrido o prazo quinquenal estabelecido na lei especial, sendo
impositiva a decretação da prescrição da pretensão anulatória.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira


Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial
nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso
Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram
com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 07 de maio de 2019(Data do Julgamento)

MINISTRA NANCY ANDRIGHI


Relatora

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RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


RECORRENTE : RECANTO - CONSULTORIA, INFORMATICA E PROMOCOESLTDA
ADVOGADOS : GIORGIA CRISTIANE PACHECO - PR023776
EDUARDO GUSTAVO PACHECO - PR027185
FABIO RODRIGUESGUIMARÃESDA SILVA E OUTRO(S) - RJ126478
RECORRIDO : SAO PAULO FUTEBOL CLUBE
ADVOGADOS : CARLOSMIGUEL CASTEX AIDAR - SP022838
ULYSSESECCLISSATO NETO - SP182700
RECORRIDO : INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

Cuida-se de recurso especial interposto por RECANTO -


CONSULTORIA, INFORMÁTICA E PROMOÇÕES LTDA, com fundamento na alínea
"a" do permissivo constitucional.

Ação: de nulidade de ato administrativo, ajuizada por SÃO PAULO


FUTEBOL CLUBE em face da recorrente e do INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL (INPI), por meio da qual objetiva a anulação do registro
da marca mista ST SÓCIO TORCEDOR.

Sentença: julgou parcialmente procedente o pedido, para


“determinar que o INPI consigne no registro marcário nº 819.816.027, da marca
mista ST SÓCIO TORCEDOR, a não exclusividade de uso do elemento nominativo
SÓCIO TORCEDOR” (e-STJ fl. 316).

Acórdão: (i) negou provimento à remessa necessária; (ii) deu parcial


provimento ao recurso adesivo da recorrida, para “afastar a prescrição prevista no
art. 174 da LPI, mantendo, porém a determinação prevista na sentença, para que o
INPI promova o apostilamento no registro da marca mista ST SÓCIO TORCEDOR

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(registro n° 819.816.027), a fim de que passe a constar a 'não exclusividade de uso
dos elementos nominativos SÓCIO TORCEDOR'” (e-STJ fl. 504) e (iii) julgou
prejudicada a apelação da recorrente.

Embargos de declaração: interpostos pela recorrente, foram


parcialmente acolhidos, para “sanar as omissões e corrigir a contradição do
acórdão embargado, de maneira a negar provimento à remessa necessária e ao
recurso de apelação da embargante e dar parcial provimento ao recurso adesivo da
1° embargada” (e-STJ fl. 578).

Embargos de declaração: interpostos pela recorrente, foram


rejeitados.

Recurso especial: aponta violação dos artigos 141, 156, 355, I, 375,
492, 997, 1.013 e 1.022, I e II, do CPC/15, 124, VI, e 174 da Lei da Propriedade
Industrial (Lei 9.279/96). Além de negativa de prestação jurisdicional, alega que a
pretensão anulatória deduzida pela recorrida está prescrita, pois decorridos mais
de cinco anos entre a concessão do registro marcário e o ajuizamento da ação.
Entende que, além de cerceamento de defesa, houve má valoração da prova, pois
inexiste elemento nos autos a indicar que a expressão “sócio torcedor” fora
utilizada em momento anterior à data em que registrada sua marca. Afirma que o
exame de registrabilidade é feito pelo INPI, devendo levar em conta apenas o
contexto fático-jurídico existente até a prolação do ato administrativo de
concessão. Aduz que o sinal impugnado não guarda relação com os serviços
identificados pela marca, não havendo, portanto, impedimento ao registro.
Assevera que o julgamento extrapolou os limites do pedido.

Juízo de admissibilidade: o Tribunal de origem negou seguimento à


irresignação da recorrente, tendo sido interposto agravo da decisão denegatória, o

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qual, por ocasião do julgamento do subsequente agravo interno, foi convertido em
recurso especial.

É o relatório.

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MARCA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA.
PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL. ART. 174 DA LEI 9.279/96.
1. Ação ajuizada em 14/1/2010. Recurso especial interposto em 12/12/2016.
Autos conclusos à Relatora em 25/10/2018.
2. O propósito recursal, além de verificar se houve negativa de prestação
jurisdicional, é definir (i) se a pretensão anulatória está prescrita; (ii) se
houve cerceamento de defesa ou má valoração da prova; (iii) se o
julgamento foi extra petita; e (iv) se deve ser declarada a nulidade da marca
titulada pela recorrente.
3. Devidamente analisadas e discutidas as questões deduzidas pelas partes,
não há que se cogitar de negativa de prestação jurisdicional, ainda que o
resultado do julgamento contrarie os interesses da recorrente.
4. O diploma legal que trata especificamente de questões envolvendo direito
de propriedade industrial – Lei 9.279/96 – contém regra expressa acerca da
questão controvertida, dispondo que a pretensão de se obter a declaração
de nulidade de registro levado a efeito pelo INPI prescreve em cinco anos,
contados da data da sua concessão (art. 174).
5. Mesmo tratando-se de ato administrativo contaminado por nulidade, os
efeitos dele decorrentes não podem ser afastados se entre a data de sua
prática e o ajuizamento da ação já houve o transcurso do prazo prescricional
previsto para incidência na correspondente hipótese fática, salvo flagrante
inconstitucionalidade. Precedentes.
6. Entender que a ação de nulidade de marca é, em regra, imprescritível
equivale a esvaziar o conteúdo normativo do dispositivo precitado, fazendo
letra morta da opção legislativa e gerando instabilidade, não somente aos
titulares de registro, mas também a todo o sistema de defesa da
propriedade industrial.
7. Ademais, a imprescritibilidade não constitui regra no direito brasileiro,
sendo admitida somente em hipóteses excepcionalíssimas que envolvem
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direitos da personalidade, estado das pessoas, bens públicos. Os demais
casos devem se sujeitar aos prazos prescricionais do Código Civil ou das leis
especiais. Precedente.
8. Hipótese concreta em que a ação anulatória foi ajuizada depois de
transcorrido o prazo quinquenal estabelecido na lei especial, sendo
impositiva a decretação da prescrição da pretensão anulatória.
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VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

O propósito recursal, além de verificar se houve negativa de prestação


jurisdicional, é definir (i) se a pretensão anulatória está prescrita; (ii) se houve
cerceamento de defesa ou má valoração da prova; (iii) se o julgamento foi extra
petita; e (iv) se deve ser declarada a nulidade da marca ST SÓCIO TORCEDOR.

1. DA NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

Da análise do acórdão recorrido, verifica-se que a prestação


jurisdicional dada corresponde àquela efetivamente objetivada pelas partes, sem
vício a ser sanado. O Tribunal de origem pronunciou-se de maneira a abordar todos
os aspectos fundamentais da controvérsia, dentro dos limites que lhe são impostos
por lei.

Ademais, como é cediço, não se caracteriza, por si só, omissão,


contradição ou obscuridade quando a decisão adota outro fundamento que não
aquele defendido pela parte.

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2. DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO ANULATÓRIA DE
REGISTRO MARCÁRIO

Depreende-se dos autos que o registro da marca impugnada – ST


SÓCIO TORCEDOR – foi concedido à recorrente em 28/5/2002 (e-STJ fl. 178).

A presente ação anulatória, por sua vez, foi ajuizada em 14/1/2010


(e-STJ fl. 2).

É sabido que a Lei de Propriedade Industrial (LPI, Lei 9.279/96), em


seu art. 174, dispõe que “prescreve em 5 (cinco) anos a ação para declarar a
nulidade do registro, contados da data da sua concessão” (in verbis).

O Tribunal a quo, todavia, a despeito de reconhecer o decurso do


prazo citado, afastou o decreto prescricional por entender que os atos
administrativos contaminados por vício de legalidade podem ser invalidados a
qualquer tempo pela Administração, em decorrência de seu poder de autotutela.

Para tanto, invocou a teoria dualista das nulidades – que divide os atos
administrativos defeituosos em nulos e anuláveis – e consignou que o comando
normativo do art. 54 da Lei 9.784/99 refere-se tão somente aos segundos.

Assim, como o registro marcário impugnado teria sido concedido em


desacordo com ditame expresso da LPI (art. 124, VI), a caracterizar sua nulidade,
não haveria que se falar em prescrição.

Vale deixar registrado o teor dos dispositivos legais precitados:

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos


administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai
em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada
má-fé.

Art. 124. Não são registráveis como marca:


[...]
VI - sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou
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simplesmente descritivo, quando tiver relação com o produto ou serviço a
distinguir, ou aquele empregado comumente para designar uma característica
do produto ou serviço, quanto à natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade
e época de produção ou de prestação do serviço, salvo quando revestidos de
suficiente forma distintiva;

Explicitadas essas premissas, passa-se ao exame da insurgência.

Em primeiro lugar, impõe-se destacar que o art. 54 da Lei 9.784/99 é


regra geral que se destina ao administrador público, tratando de conferir-lhe o
direito potestativo de anular seus próprios atos no prazo de cinco anos. Não
exercido tal direito, o ato se convalidaria pelo decurso do tempo.

Consoante os adeptos da teoria dualista – como os julgadores que


prolataram o acórdão recorrido –, apenas os atos anuláveis estariam sujeitos a
referido prazo. Os atos nulos, por seu turno, portadores de vícios insanáveis,
poderiam ser invalidados a qualquer tempo.

Ocorre que, no particular, não se está a discutir se a Administração


pode ou não anular o ato de registro marcário impugnado.

A questão da nulidade, na espécie, foi trazida a juízo por pessoa


jurídica de direito privado (associação desportiva), sendo certo que o órgão
responsável pela expedição do ato impugnado sequer concorda com a posição
defendida pelo autor da demanda.

Com efeito, o que se verifica dos autos é que, desde o início da


relação processual, o INPI tem postulado a decretação da prescrição da pretensão
anulatória e, por outro lado, quanto ao mérito, vem defendendo a higidez do
registro marcário em questão.

Nesse contexto, afigura-se inviável, para resolução da presente


controvérsia, cogitar-se da aplicação de regras gerais conformadoras do processo

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administrativo no âmbito da Administração Pública Federal (Lei 9.784/99).

Além disso, esta Corte Superior de Justiça tem entendido que, mesmo
tratando-se de ato administrativo contaminado por nulidade, os efeitos dele
decorrentes não podem ser afastados se entre a data de sua prática e o
ajuizamento da ação já houve o transcurso do prazo prescricional previsto para
incidência na correspondente hipótese fática, salvo flagrante
inconstitucionalidade. Nesse sentido, os seguintes julgados: AgInt no AREsp
232.977/DF, 1ª Turma, DJe 31/3/2017; REsp 1.757.27/RS, 2ª Turma, DJe
21/11/2018; AgInt no REsp 1.444.111/RN, 1ª Turma, DJe 12/03/2018.

Por outro lado, cumpre registrar que o diploma legal que trata
especificamente de questões envolvendo direito de propriedade industrial – lei
especial – contém regra expressa acerca da questão controvertida, dispondo,
conforme referido linhas atrás, que a pretensão de se obter a declaração de
nulidade de registro levado a efeito pelo INPI prescreve em cinco anos,
contados da data da sua concessão (art. 174 da LPI).

Como tal dispositivo não dá margem a interpretações distintas e dele


não se extrai qualquer diferenciação entre atos nulos e anuláveis, não cabe ao
julgar fazê-lo, sob pena de limitar indevidamente o alcance da norma. Na lição de
CARLOS MAXIMILIANO,

[q]uando o texto dispõe de modo amplo, sem limitações


evidentes, é dever do intérprete aplicá-lo a todos os casos particulares que se
possam enquadrar na hipótese geral prevista explicitamente; não tente
distinguir entre as circunstâncias da questão e as outras; cumpra a norma tal
qual é, sem acrescentar condições novas, nem dispensar nenhuma das
expressas.
(Hermenêutica e aplicação do direito. 21ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2017, formato digital, p. 233)

Destaque-se que a aplicabilidade desse dispositivo tem sido

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reiteradamente reconhecida por esta Corte Superior, conforme se pode verificar
dos seguintes precedentes: REsp 1.306.335/RJ, 4ª Turma, DJe 16/5/2017; REsp
899.839/RJ, 3ª Turma, DJe 01/10/2010; e AgRg no REsp 1.353.422/RJ, 3ª Turma,
DJe 3/3/2015.

Acerca da incidência do prazo prescricional em hipótese como a


presente – em que se discute eventual violação do art. 124, VI, da LPI – estudo
doutrinário conduzido por GIACCHETTA e LEITE elucida:

[...] nos termos do Artigo 174 da Lei da Propriedade Industrial,


prescreve em 5 (cinco) anos a ação para declarar a nulidade do registro,
contados da data da sua concessão, o que, segundo alguns autores, tornaria o
registro inatacável.
E, de fato, isso ocorre com as marcas que tiveram algum
vício na sua concessão, em quaisquer das hipóteses do artigo 124 da
Propriedade Industrial, e, em especial, o mencionado inciso VI. O
instituto da prescrição tem como finalidade garantir a segurança jurídica e a
estabilidade das relações sociais, fulminando qualquer pretensão de nulidade 5
(cinco) anos após a concessão do registro.
Ora, qualquer terceiro eventualmente prejudicado teve diversas
oportunidades para opor-se ao registro, instaurar processo administrativo de
nulidade e, ainda, cinco anos para ajuizar uma ação de nulidade.
(GIACCHETTA, André Zonaro e LEITE, Márcio Junqueira. Ação
declaratória e a relação jurídica tripartite decorrente dos direitos de propriedade
industrial, in ROCHA, Fabiano de Bem da (Organizador), Capítulos de Processo
Civil na Propriedade Industrial, Lumen Juris, 2009, p. 22)

Entender que a ação de nulidade seria imprescritível equivaleria a


esvaziar completamente o conteúdo normativo do dispositivo invocado, fazendo
letra morta da opção legislativa.

Outro efeito deletério advindo dessa compreensão seria a


instabilidade jurídica que acarretaria ao titular do registro e, por contaminação, a
todo o sistema de defesa da propriedade industrial.

De fato, como bem anotado por DANNEMANN (et al.), entender que o
titular da marca esteja indefinidamente sujeito à decretação de invalidade do

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registro obtido, mesmo depois de ter seguido todas as etapas do longo período de
tramitação do procedimento administrativo para sua aquisição – acrescido dos
cinco anos do prazo para ajuizamento da ação de nulidade – teria como
consequência instaurar o pânico em relações e situações jurídicas perfeitas e
acabadas, indo de encontro àquilo que o instituto da prescrição justamente visa
proteger: a segurança jurídica e a estabilidade das relações sociais (Propriedade
intelectual no Brasil. Rio de Janeiro: PVDI Design, 2000, p. 321)

De se registrar que não se desconhece o teor do art. 6º bis (3) da


Convenção da União de Paris (promulgada no Brasil pelo Decreto 75.572/75),
segundo o qual os países signatários do Tratado se comprometem a não fixar prazo
para requerer o cancelamento ou a proibição de uso de marcas registradas ou
utilizadas de má-fé quando em conflito com sinal notoriamente conhecido.

Todavia, conforme reconhecido pelo juízo de origem, “no caso, não


restou demonstrada, pela autora, qualquer evidência de que a ré tenha agido de
má-fé, a qual, vale dizer, não pode ser presumida. Ressalte-se, ainda, que a
circunstância da má-fé sequer foi alegada pela parte autora” (e-STJ fl. 316).

Vale consignar, outrossim, a existência de relevante posição


doutrinária no sentido de que nem mesmo a existência de má-fé na obtenção do
registro ensejaria o reconhecimento da imprescritibilidade da pretensão
anulatória, conforme anotado por JOSÉ ROBERTO D´AFFONSECA GUSMÃO (A
Proteção da Marca Notória no Brasil. In RDM 70, p. 79), JOSÉ CARLOS TINOCO
SOARES (Marcas Notoriamente Conhecidas - Marcas de Alto Renome vs Diluição.
Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2010, p. 119) e MARCELO AUGUSTO SCUDELER, de
cuja lição extrai-se a seguinte passagem:

Como se sabe, o fundamento da prescrição é de ordem pública,


visando assegurar a estabilidade social e respeitar situações adquiridas. Por esse
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mesmo motivo, ações imprescritíveis não são da tradição do direito pátrio,
apenas verificadas em casos excepcionalíssimos.
Muito embora a Convenção da União de Paris (CUP) tenha sido
incorporada no ordenamento jurídico nacional através do Decreto 75.572/75, a
LPI, por sua vez, foi omissa no que diz respeito às ações anulatórias
de registros marcários chamadas imprescritíveis, dando a entender
pela sua não incorporação, especialmente por sua falta de tradição
no direito pátrio (Do Direito das Marcas e da Propriedade Industrial.
Campinas: Servanda, 2008, p. 231).

Ademais, de acordo com o assentado por ocasião do julgamento do


REsp 1.149.403/RJ (3ª Turma, DJe 29/11/2013), a imprescritibilidade não constitui
regra no direito brasileiro, sendo admitida somente em hipóteses
excepcionalíssimas que envolvem direitos da personalidade, estado das pessoas,
bens públicos. Os demais casos devem se sujeitar aos prazos prescricionais do
Código Civil ou das leis especiais.

Diante de todo o exposto, a conclusão inafastável é a de que o


acórdão impugnado, ao reconhecer a imprescritibilidade da pretensão deduzida
pelo recorrido, está a merecer reforma.

3. CONCLUSÃO

Forte em tais razões, DOU PROVIMENTO ao recurso especial, para


decretar a prescrição da pretensão anulatória deduzida na inicial.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2018/0173938-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.782.024 / RJ

Números Origem: 08009297920104025101 201051018009296

EM MESA JULGADO: 07/05/2019

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MÁRIO PIMENTEL ALBUQUERQUE
Secretário
Bel. WALFLAN TAVARES DE ARAUJO

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : RECANTO - CONSULTORIA, INFORMATICA E PROMOCOES LTDA
ADVOGADOS : GIORGIA CRISTIANE PACHECO - PR023776
EDUARDO GUSTAVO PACHECO - PR027185
FABIO RODRIGUES GUIMARÃES DA SILVA E OUTRO(S) - RJ126478
RECORRIDO : SAO PAULO FUTEBOL CLUBE
ADVOGADOS : CARLOS MIGUEL CASTEX AIDAR - SP022838
ULYSSES ECCLISSATO NETO - SP182700
RECORRIDO : INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Propriedade - Propriedade Intelectual / Industrial - Marca

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do
voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco
Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro (Presidente) votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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