Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
,1
"•• ••1. i
'
TESTAMENTO VELHO
TRADUZIDO EM l1 O K T U G U £ Z
•SEGUNDO
A VULGATA LATINA.
TESTAMENTO VELHO
T K A D U' '/. I D O EM PORTUGUEZ
SEGUNDO
A VULGATA LATINA,
1LLUSTRADO DE PREFAÇÕES»
NOTAS,
E LIÇÕES VARIANTES
P O K
ANTÓNIO PEREIRA
DE FIGUEIREDO.
TOM. VIII.
QUE CONTÉM ESDRAS , NEHEMIAS, TOBIAS ,
JUD1TH , ESTHER , E JOB.
Segunda Impre/sâo revijia , e moçada pelo meftno
Autbor.
LISBOA
NA RÉGIA OFFlCINA TYPOGRAFICA.
11. DCC. XCVIIl.
i- S
ÍNDICE
DOS
CAPÍTULOS
Dos Livros, que fé contém nefte Volume.
ESDRASLIVROI.
C A P. I. Cyro permitte aos Judeos tor
nar para Jerufalem , e reedificar o
Jeu Templo. Elle lhes rejlitue os vafòs
Sagrados. Pag. r.
CAP. II. Lifta aos filhos d} IJrael, que vol
tarão de Babylonia para a Judéa com
Zorobabel. p. 7.
CAP. III. Levanta-fe o Altar dos Holo-
caujlos. Celebra-fe a Fefla dos Taberná
culos. Lanção-fe osfundamentas doTem-
flo. p. 20.
CAP. IV. Os Samaritanos accusão os Ju
deos diante d?Artaxerxcs. Efte Prínci
pe prohibe que fé não reedifique Jerafa-
lem. p. 24.
CAP. V. Aggeo , e Zaccarias exhortão os
Judeos A continuarem a conjirucção do
Templo. Os Officiaes de Dario o infor-
mão diflo. p. 33.
CAP. VI. Dario confirma a ordem de Cyro
a favor dos Judeos. Acaba-fe o Templo.
He dedicado. Celebra-fe a Pafcoa. p. 38.
* iii CAP.
n ÍNDICE
CAP. VH. Efdras he enviadi d Judêa por
Artaxerxes. EdiEio dejle Príncipe a fa
vor dos 'Judeos. p. 46.
CAP. VIII. Catalogo dos que 'voltarão de Ba-
bylonia com Efdras. Efdríts mand-a ajun
tar os Levitas. Chega a Jerufalem. p. 53.
CAP. IX. EJaras fabe que muitos Ijraeli-
. tas tomarão mulheres ejlrangeiras. Ora
ção que ellefaz a Deos nejlepajfo. p. 6 1 .
CAP. X. Os Ifraeljtas fé arrependem. Ef^-
dras lhes ordena que demittão defi fuás
mulheres. Lifta dos que t Mão commet-
tido ejla prevaricação. p. 67.
NEHEMIAS, ou II. LIVRO
D' E S D R A S.
CAP. I. Nehérnias he informado d»
trifte eftado de Jerufalem. Oração
que elie dirige ao Senhor. p. 79.
CAP. II. Nehemias alcança d?Artaxerxes
permifsao de a ir reedificar. Vai a Je-
rufalem , e exhorta os Judeos a que ref-
taurem os feus muros. p. 83.
CAP. III. Lifta dos que trabalharão na re-
edificação dos muros de Jerufalem. p. 89.
CAP. IV. Os inimigos dos Judeos perten-
dem embaraçar a reedificação dos mu
ros de Jerufokm, Ordem que dá Nehe
DOS CAPITULO s. iu
mias para fé fegurar da fuá "violên
cia, p. 96.
C A P. V. Murmuração dos pobres contra
os ricos. Exbortação de Nehemias aos
ricos. Seu definterejje. p. 101.
CA P. VI. Os inimigos dos Judeos Jc es-
Jerção inutilmente porfurprender , e in
timidar a Nehemias. Elle acaba os mu
ros de Jerufalem. p. 107.
CAP. VII. Nehemias ejiabelece Guardas
em Jerufalem. Lifta dos que tinhão vin
do com Zorobabel. Offcrenda feita ao
Templo. p. 1 1 T.
CAP. VIII. Efâras lê a Lei diante do Po
vo. Celebração da Fejia dos Taberná
culos, p. 122.
CAP, IX. Penitencia do Povo. Oração que
os Levitas fazem a Deos. Renovação
da Concerto. p. 128.
CAP. X. Nomes dos que ajjignârão o con
certo. Diverjos regulamentos para aob-
fervancia da Lei. p. 139.
CAP. XI. Nomes aos que ficarão em je-
rufalem. Cidades habitadas pelas Tri-
bus de Juda, e de Benjamim, p. 145:.
CAP. XII. Nomes dos principaes tfcntre
os Sacerdotes , e dos Levitas, que vol
tarão com Zorobabel. Dedicação dos mu
ros de Jerufalem. . . p. iji.
* iv CAP.
iv ÍNDICE
CAP. XIII. Tendo Nehemias ido para
taxerxes , ao tornar para Jerufa/em
acha muitas dejordens , a que elle põe
remédio. p. 159.
T O B I A S.
CAP. I. Origem deTobias. A fuá fide
lidade em obfervar a Lei. O (eu ca-
famento. Nafcença defeufilho. Elle per-
fevera fiel nofeu cativeiro. Situação em
que elle fé achafob Salmanafar , fob Sen-
naqueríb , e fob Affarhaddon. p. 171.
CAP. II. Zelo deTobias pelajepultura dos
mortos. Vem a ficar cego. A fuá conf-
tancia no meio das fuás afflicçoes. Im
propérios que lhe dizião Jeus parentes ,
e fuá msfma mulher. p. 177.
CAP. III. Orações de Tobias , e de Sara
filha de Raguel. O Senhor as ouve , e
manda em feu foccorro ao Anjo Ra
fael. . p. 181.
CAP. IV. InftrucçÕes de Tobias a- Jeu fi
lho. Elle lhe dá a Jaber a fomma que
depofitãra nas mãos de Gabela, p. 185".
CAP. V. O Anjo Rafael fé encarrega dja-
companhar até Rages a Tobias o moço.
Lagrimas defuá mãi na dejpedida : con
fiança de Jeit pai. p. 189.
CAP.
DOS CAPÍTULOS. , v
CAP. VI. Caminhando Tobias o moço , hum
peixe o quer devorar. Tobias o apanha
por ordem do Anjo. EJle lhe aconfelha que
café com Sara filha de Raguel. p. 193.
CAP. VII. Cafamento de Tobias o moço
com Sara filha de Raguel. p. 198.
CAP. VIII. Tobias , e Sara pafsão a pri
meira noite da voda em oração. Tobias
não experimenta accidente algumdamno-
fo. Raguel bemdiz, for iffo a Deos , e
lhes fez celebrar a fuá voãa. p. ao 2.
CAP. IX. Vai o Anjo bufcar a Gabélo :
recebe delle o dinheiro depofitado , e o
leva á voda de Tobias. p. 207.
CAP. X. Cuidado do pai , e da mai de
Tobias o moço. Raguel , e Tobias fefe-
parão. p. 209.
CAP. XI. Tobias e moço t e Rafael chegão
a Nini-ve. Tobias pai recobra a vifta.
Chega Sara. Celebra-fe a -voda. 213.
CAP. XII. Tobias quer galardoar a Ra
fael. EJle lhe defcobre quem he , e def-
apparece. p. 21 6.
CAP. XIII. Cântico de Tobias. p. 220.
CAP. XIV. Derradeiras palavras de To
bias. Elle prediz a ruina de Ninfae , e
a reftauração de Jerufalem. Tobias o
moçofahe de Ninive. Sua morte. p.
Totn. VIII. * r J U-
Ti ÍNDICE
,
J U • D I T H.
C AP. I. Forças , e feder
Elle bf vencido por Nabucodonofur ,
o qual depois dffla vifforia , quer que
os Povos vizinhos lhe rendão também
'oajfallagem, p. 232.
CAP. II. Envia Nabucòdonofor a Holo-
fernes com hum poderojo exercito a fu-
jeitar todos os Povos vizinhos. Primei
ras conquiftas defte General. ~Elle fé
avança até Damajco. p. 235.
CAP. III. Diverfot Povos enviao menfa-
geiros a Hohfernes , premei í êndo-lhe obe
diência. Elle defce dos montes a elles j
dfflroe-lhes asfuás Cidades , e corta-lhes
os fetís bofques fagrados , a fim de que
fo Nabucodonojor jíja adorado, p. 138.
CAP. IV. Terror dos Ifraelitas ao appro-
x:mar-fe Holofernes. O Summo Pontí
fice Eliaquim dá ~as ordens necejfarias ,
e exhorta o Povo a implorar o Divino
facearro. p. 141.
CAP. V. Holofernes ouvindo dizer que os
filhos d^Ifrael fé difpunhão a reftftir-
Ibe , que-r faber que gente era efta.
Aquior lhos dá a conhecer. Com o Jeu
dijcurjò fé irrita o exercito, p. 24?-
CAP.
DOS CAPÍTULOS. v«
C A P. VI. Holofernes^jaz terríveis amea
ças a Aquior. Manda que o levem a Ee-
t bulia , e o entreguem aos filhos tflf-
rael. Aquior lhes he entregue , e lhes con
ta o que lhe havia Juccedido. p. 25-1.
CAP. VII. Cerca Holofernes a Betbulia :
jufto , e efpanto dos Ijratlitas. Holofer-
nes fé apodera de todas as fontes. Os
habitantes de Betbulia apertadoy d»
Jede querem render-fe-lhe. Ozias pro-
mette entregar a Cidade paffados finco
dias., „ p. z<r6.
CAP. VIII. Genealogia, e frendas de ju-
dith. Ella depois de ouvir o que Ozias
dijjera , reprehende a fuá rejolução , e
declara que vai executar hum grande
projetlo. p. 2 6 r.
CAP. IX. Faz Judith oração a Deos ,
pedindo-lhe que dirija , e profpere o que
ella medita fazer. p. 268.
CAP. X. Judith fé enfeita ; -e tomando
comfigo huma ejcrava , fahe , e vai 'ter
ao campo dos AJfyrios. He alli apanha
da , e levada d prefenca d1Holofernes ,
o qual fica logo cativo da fuá belle*
za. p. 272.
CAP. XI. Holofernes pergunta a Judith,
por que razão deixou ella o ftu Povo
para vir ter com -elle. Ella U>e refpon-
de,
VHI I K D I C E
\
E S T H E R.
C AP. I. Banquete dado por Affuero.
A Rainha Vaflhi recuja ajftjlir a.
elle. Affuero a repudia. p. 308.
CAP. H. EJlher -vem a fer Efpofa d?AJ-
fuero. Mardoqueo dejicobre a conjura
ção de dous Eunucos. p. 314.
CAP. III. Exaltação tfAman. O jeu ódio
contra Mardoqueo. Aman alcança hunt
fditto do Rei , em que fé mandavao
matar todos os Judeos fujeitos a Af-
faro. P- 3 ^ r.
ClUP. IV. Confternação dos Judeos. Mar*
doqueo informa a EJlher do que je pap
Ja-va. Ella fé dijpõe a ir fallar aã
Rei- p. 3 1. 6.
CAP. V. EJlher fé prefenta diante (PAf
fuero. Convida-o a que venha ao ban~
quete , que elia lhe tempreparado. Afnatt
toma rejòlução de fazer pendurar, a
Mardoqueo. p. 3 19.
CAP. VI. Honras feitas a Mardoqueo.
Confusão d* Aman. p* 333.
CAP. VII. Defcobre EJlher ao Rei a dam-
na-
x ÍNDICE.
. , nada refolução d"1 Aman. He Âman pen
durado no mefmo patíbulo, que tinha man
dado levantar para Mardoqueo. p. 336.
CAP. VIII. Exaltação' de Mardoqueo. Edi-
Elo a favor dos Judeos. p. 339.
CAP. IX. Os Judeos , fegundo a ordem
do Rei , matão a todos os que tinhão
confpirado na fuá perda. Inftituem bu-
. wa Fejla em memória defte Jeu livra
mento, p. 345-.
CAP. X. Grandeza ffAffuero. Poder de
Mardoqueo. Explicação do fonbo que
elle tivera. p. 353.
CAP. XI. Sonho de Mardoqueo. p. 3^6.
CAP. XII. Defcobre Mardoqueo a canfpi-
ração maquinada pelos Eunucos contra
o Rei , como fé vê do Capitulo fegun
do. p. 5 ? 9.
CAP. XIII. Traslado da Carta do Rei
enviada por Aman aos Governadores daf
Provindas , acerca do extermínio dos
Judeos ; e a Oracãs de Mardoqueo pelo
feu livramento. p. 361.
CAP. XIV. Luto , e pranto de EJlher , a
qual em efpirito de humildade faz ora
ção ao Senhor. p. 365".
CAP. XV. Por ordem de Mardoqueo fé
aprefenta EJlher ao Rei , e ao vê-lo def-
maia. p. 369.
CAP.
nos CAPÍTULOS. xt
CAP. XVI. Carta de Affuero pelo livra-
. mento dos Judeos , e extermínio dos feus
inimigos em todas as Provindas do Rei
no , annullando a carta de Aman, p. 373.
J CTB.
CAP. I. Origem de Job. Sua vir-1 ude.
Suas riquezas. Deospermitte ao de
mónio que o tente. Job perde os feus
bens, e os feus filhos. p. 384.
CAP. II. Job ferido d?hum horrorojo mal.
Sua mulher o infulta. Seus amigos , tendo
vindo para oconfolar , deixão-fe ejlar ao
pé delle , fem dizerem palavra, p. 389.
CAP. III. jf'ob amaldiçoa o dia dofeu naf-
cimento , e chora ajua miferia. p. 392-
CAP. IV. Elifaz, accufa a Jol> d> impaci
ência. Sujlenta que o homem não pôde
ffr attribulado , fenão pelos feus pecca-
dos ; e que Job não fé deve crer inno-
ccnte diante de Deos. p. 39^.
AP. V. Elifaz fitfter.ta , que a profpe-
ridade dos ímpios fempre he logo dijfipa*
da. Ellc exhorta ajoè a que recorra a
Deos pela penitencia. p. 401.
AP, V L Jujtifica Job as fuás queixas.
Defeja morrer , por não perder a paci
ência. Eflranha em feus amigos a /»;'#/-
tiça das Juas accujaçõet. . p, 404.
xir ÍNDICE
CAP. VII. Job defcre-ve as calamidades
da vida humana. Elie reprefenta ao Pe
nhor a fuá miferia , e fraqueza , e lhe
fede perdão de feus peccados. p. 409.
CAP. VIII. Baldad fuflenta que as infe-
licidades . de Job são pena de feus pec
cados. Trata dthypocrifia a virtude
de Job , e o exhorta a que recorra a-
Deos. p. 413.
CAP. IX. Job confejfa que Deos he in
finitamente jufto nos feus jui-zos. ExaS-
ta a fabedoria , e o poder do Senhor.
Humilha-fe , e confunde-fe diante del-
le. Pede-lhe que lhe conceda algum alli-
vio. p. 417.
CAP. X. Dirije Job a Deos asfuás quei
xas. Humilha-fe diante delle. Pede-lhe
que lhe dê algum allivio antes da mor
te, p. 423.
CAP. XI. Sofar accufa a Job de prejum-
pção , e de foberba. Exborta-o afé con
verter ao Senhor. p. 426.
CAP. XII. Job reprehende emfeus amigos
a falfa confiança que tem nos feus co
nhecimentos. Engrandece o foberano po
der de Deos. p. 430.
CAP. XIII. Continua Job a defender-fe con
tra as accufacões de feus inimigos. Di
rije a Deos as fuás queixas. p. 433.
CAP.
DOS CAPÍTULOS. xnr
CAP. "XIV. Expõe Job .a brevidade , e aí
•misérias da vida humana. Confola-fe com
a efperança da refurreição. p. 438.
CAP. XV. Elifazaccufa a Job de blasfe
mo, E fuftenta , que os mãof fempre são
atormentados nejta vida. p. 443.
CAP. XVI. Job Je lamenta da dureza de
feus amigos. Repete os Jeus males , e
põe fuá confiança em Deos , que be tefle-
munba da fuá innocencia. p. 448.
CAP. XVII. Job fé queixa dosinfultos de
feus amigos , e os exborta a que entrem
emjl. p. 4? 2.
CAP. XVIII. Ealdadaccufa a Job de def-
ffperacão, e exaggera as infelicidadês ,
e o defgraçado fim dos mãos. p. 45^.
CAP. XIX. Job fé torna a queixar da
obftinação defeus amigos. Expõe asfuás
penas. Confola-fe com a efperança de
réfurgir. p. 4j8.
CAP. XX. Safar continua emdefcrever os
cafiigos , cttn que Deos pune os ím
pios, p. 463.
CAP. XXL Job fajlenta que os ímpios go-
são muitas vezes anhuma longa projpe-
ridade ; e que depois da fuá morte he
. que Deos ordinariamente exerce as fuás
vinganças contra elles. p. 468.
CAP. XXII. Elifa* reprthcndt a Job de
cri-
xiv ÍNDICE
criminofo , e o exhorta a que fé
ta ao Senhor. p. 474.
CAP. XX l II. Defeja prefentar-fe Job no
Tribunal Divino , e apparecer nelle a-*
faiado pelo Mediador , em quem elle ef~
pera. He tocado de confiança , de temor ,
e de reconhecimento. p. 479,
CAP. XXIV. Jobfujlenta que o crime fi
ca muitas vezes impunido nefta vida ,
porque Deos guarda ordinariamente a
vingança para depois da morte. p. 481*
CAP. XXV. Baldad juftenta que o homem
não pôde fem prefumpção pertender juf-
tificar-fe diante de Deos. p. 487*
CAP. XXVI. Job exalta a grandeza , e
poder do Senhor. p. 488.
CAP. XXVII. Job perfífle em defender á
Jua innocencia. Expõe os infortúnios
que ameação ao hypocriía , e ao ím
pio, p. 492.
CAP. XXVIII. Job averiguando a origem ,
o principio , e a fonte da fuá fabedo-
ria. p. 497.
CAP. XXIX. Faz Job a ãefcripção do
feu primeiro ejíado. p. ^or.
CAP. XXX. Defreve Job e dtploravel
eftado em que cabio. p. 508.
CAP. XXXI. Job fé juflificá , expondo o
feu modo de proceder. p. f T 3*
CAP.
DOS CAÍITULOS. xy
CA?. "XXXII. EM accufa a feus amigos
ele faltos de fabedoria , e exalta a fuá
própria capacidade. p. 520.
CA P. XXXIII. Eliú accufa a Job de fé
ter levantado contra Deos , e de ter
abafado dos diferentes caminhos , de
que Deos fé ferve para reprcbender os
homens. p. 5:23.
CAP. XXXIV. Eliú accufa a Job de
blasfemo. Engrandece a juftiça infini
ta de Deos , a fuá fabedoria , o feu
poder. p. 529.
CAP. XXXV. Profegue Elhí em calumniar
a Job. Suftenta , que para conveniência
dos homens ejlâ Deos fempre attento a
premiar o bem , e cajligar o mal. Exhor-
ta a Job , que previna a Jeveridade da
Divina Juftiça. p. 5" 3 J.
CAP. XXXVI. Injlfte ainda Eliú em defen
der a equidade dos juízos de Deos. Ex-
horta a Job a que fé aproveite das pe
nalidades , com que Deos o cajliga. Ex
alça o poder de Deos. p. 538.
CAP. XXXVII. Continua Eliú em defere,
ver os efeitos do poder , e da fabedoria.
de Deos. p. 544.
CAP. XXXVIIL O Senhor mojíra a Job
quanta he a diflancia que vai da crea-
tura ao Creador. p. ??8.
. • CAP.
jvi ÍNDICE DOS CA P.
CAP. XXXIX. Continua o Senhor a
irar a Job quanto vai da creatura
Creador. Job reconhece a fuá baixeza ,
e fé condemna ao frlencio. p. 566.
CA P. XL. Continua ainda o Senhor amof^-
trar a Job a diftancia da ercatura ao
Creador. Defcripção de Behemoth , e de
Leviathan. p. ^7 r.
CA P. X LI. Continua-fé em defcrever a L,e-
viathan. p. J 7 S.
CAP. XLII. Job fé humilha diante do Se
nhor. O Senhor reprehende os três ami
gos de Job. Job lhe roga por elles»
Kejtabelecimento de Job. A fuá mor
te. ."-,, ; p.
PRÉ-
I
PREFAÇÃO
AOS LIVROS
D E
E S D R A S.
Q U A sr todos os Interpretes con
vém , que Efdras he o Author do
primeiro dos Livros, que trazem
o leu nome: e também fé pôde dizer,
que fó defte Livro he Efdras o Author :
porque do fegundo chamado d' Efdras
he Author Nehemias. O fer o fegundo
huma como continuação do que lê tra
ta no 'primeiro , foi fem dúvida a cau-
fa por que ambos fé intitularão d' Ef
dras : ou por melhor dizer , o attribui-
rem-fe ambos a Efdras , procedeo de
que entre os Hebreos eftes dous Livros
não fazião fenão hum.
Não obftante porém eftar-fe omef-
mo Efdras dando a conhecer por Au
thor defte primeiro Livro , quando diz
no Capitulo VIL verfo ^7• Bemditofeja
o Senhor , que nioflrou em mim a fuá mife-
ricordio. diante do Rei , e diante dos fetts
Tom. VIII. A Qm-
II PREFAqXo.
Confeiteiros , &c. Mr. Huet nosquiz per-
fuadir que Efdras não fora o que eícre-
veo os primeiros fcis Capítulos dclle.
Mas os argumentos que moverão aquel-
le grande Bifpo a aílim o opinar , já
Calmet ," e outros lhes derao refpoftas
-tão folidas que de todo lhes tirarão a
força.
i Era Efdras da linhagem Sacerdo
tal , defcendente d'Arão por feu filho
Eleazar.
O feu Livro contem a Hiítoria de
quafi fetenta annos : que tantos vão dês
de que Gyro, á tefta do novo Imperia
dos Perfas , deo liberdade aos Judeos
cativos em Babylonia , para poderem
tornar para a lua pátria , anno 536 an
tes da era de Ghrilto; até o fetimo de
Artaxerxes Longimano , em que Efdras
paíTou de Babylonia a Jerufalem , anno
467 antes da mefma era.
A tora o primeiro , e o fegundo
Livro d' Efdras , que fempre na Igreja
forão tidos por Canónicos , correm no
fim das noflas Bíblias outros dous Li
vros com o nome de terceiro , e de
qua-
í R E F A q S Õ. Ill
quatro d'Efdras , os quaes o Sagradd
Concilio Tridentino exckiio do feuCaj
talogo das Divinas Efcrituras } como
dando-os por apocryfos , ou ao menos
d' authoridade duvidofá ; riao obftante
que até o tempo do mefmo Concilio,
e ainda depois até a publicação da Bí
blia de Xifto V. andava o mefmo ter
ceiro Lirro no corpo da Vulgata Lati
na feguido aofegundo d'Efdras, e pre
cedendo o de Tobias.
Eíte terceiro Livro contém a Hifc
toria da Tranfmigração dos Judeos de
Babylonia para Jerufaiem por graça de
Cyro, bem como ella fé refere no pri
meiro d'tefdras : accrefcentando nos Ca
pítulos III. e IV; a Hiftoria do Proble
ma , que três Guardas do corpo de Da-
rio fé propozerão a refolver, depois de
hum grande banquete que aquellePrin-
cipe dera , e eftando elle dormindo a
fcfta. O Problema era : Qual era a cou-
fa mais forte que havia no mundo ? Se o
vinho, fc o Rei^ fé as mulheres, fé a verda*
de. Depois dos dous primeiros terem dada
o léu voto , hum pelo vinho , outro pelo
Aii Rei í
IV P R E F A Ç X O.
Rei: por ultimo o terceiro, que fé cha
mava Zorobabel , tendo difcorrido fo-
bre o muito que podião as mulheres y
fentenciou ainda affim pela verdade. E
ifto foi o que mereceo os vivas , e ac-
clamaçóes de todos , e a approvação do
mefmo Dario já acordado. •
O quarto Livro todo vem cheio
de varias visões , e profecias d' Efdras
fobre o que eftava para vir j e entrellas
algumas que fallão manifeftamente de
Jefu Chriíb. E no Capitulo XIV. def-
te Livro he que fé lê a Hiftoria , de
que tendo-fe queimado no incêndio de
Jerufalem pelos Caldeos os Livros da
Lei , infpirado divinamente Efdras , di-
âára de novo , e fizera efcrever a finco
homens em quarenta dias , todos os Sa
grados Livros que fé tinhão perdido.
Paífando agora a examinar qual
foíTe o conceito que deites dous Livros
fez a Antiguidade , Calmet numa Dif-
fertação que efcreveo defte afíumpto,
reconhece com Xifto de Sena: i.° Que
os Padres Gregos tiverão por Canónico
o terceiro Livro d' Efdras , citando-o
.:VA co-
PREFAÇÃO. v
como parte da Sagrada Efcritura , ain
da nos feus Efcritos Polémicos , como
fizerâo S. Juftino Martyr , Origenes, e
Santo Athanafío. a.° Que com eíTcito
nas Bíblias Gregas vem notado com o
titulo de primeiro d' Efdras o Livro,
queentre nós fé chama terceiro. 3.° Que
dos Padres Latinos citaYão também o
mefmo terceiro Livro d' Efdras como
Canónico S. Cypriano , e Santo Agof-
tinho : o que dá idca que nefte ponto
concordavão os Latinos com os Gregos.
4-° Que quando os Padres, e Concílios
dos primeiros feculos declararão Canó
nicos dous Livros d' Efdras , entendião
elles ifto feguindo os feus Exemplares,
que fazião hum fó Livro do primeiro
d' Efdras , e do de Nehemias á imita
ção dos Hebreos , e que contavão por
legundo d'Efdras o que he terceiro das
nollas Biblias.
Quanto ao Livro quarto, a Igreja
ainda hoje fé ferve no OiEcio Divino
de vários Textos defte Livro : o que
parece não faria , fé o não tivefle por
Efcritura Santa. Eíta Antífona do Com-
mum
vi PREFAÇÃO,
mum dos Martyres no Tempo Pnfcal ,
J-iUX perpetua lucebit Sanftis tuis , Doinitie y
çb" íeternilds temporntn , he tirada do Gap,
U. verfo 35-. O Intróito daMiíTa da ter
ça feifa da femana de Pentecoftcs: ^Âc-*
cipite jucunditatem gloria veftra ; grafias
agentes Deo , qui vof ad ccelefiia régua vá*
cavit , he tirado do rneftno Capitulo II.
verfo 36. As palavras que fé dizem no
fim d' num Refponforio dos Apoftolos ,
Modo coronanttir & accipiunt palmam ,
são tiradas do mefmo Capitulo II. ver
fo 4. Finalmente , aquclle verfo tantas
vezes repetido no Officio dos Defun
tos : Requiem <eternam dona eis Domine ,
cb" lux perpetua luceat eis , he tirado do
mefmo Capitulo II. verfo 34. e 35",
Por outra parte os mais antigos , e
mais graves Padres da Igreja conftan-
temente eftiverão perfuadidos , e aífím
no-lo tranfmittírão como hum fa£lo cer-r
to , que Efdras depois do cativeiro de
Babylonia , infpirado porDeos, e cheio
do Efpirito Santo , diftára de memória,
e fizera efcrever de novo ou todos , ou
parte
' dos Livros Sagrados, cujos Exem-
P R F F A Ç S O.' Vil/
piares fé tinhão perdido no faque , c-
incêndio de Jerufalem, quando osCal-
deos em tempo de Nabucodonofor a
tomarão , e deíhuírao. E cite faílo não
o pudérão tirar os ditos Padres , fé não
do que daquella admirável , e fobrena-
tural reproducção dos Sagrados Livros
fé conta no quarto d'Efdras, Cap. XIV.
verfo 19. e fegg.
Os Padres que affim o atteftão,
são os feguintes: Santo Irineo, S. Cle
mente Alexandrino , Tertulliano, S. Ba-
íilio , S. João Chryfoftomo , aos quaes
feguírão no quinto fcculo Thcodoreto,
e Leoncio ; no fetimo Santo Ifidoro de
Sevilha ; no nono Rábano Mauro. Até>
S. Jeronymo , quando no Livro contra,
Helvidio chama a Efdras Reftaurador do
Pentateitco , parece não alludir a outra
coufa , que a ter Efdras diftado de no
vo ao menos osíincoLivros deMoyfés.
Além dos Padres aíErna nomeados,
temos em Santo Ambrofio hum , que vai
por muitos , o qual não huma , ou outra
vez, mas muitas allega o quarto Livro
d'Efdras , como obra d'hum Author iní-
- •: Pi-
Viu PREFAÇÃO.
pirado : a faber , no Livro De Bono Mor-
ttSy Cap, X. num. 45. eCap. XI. num.
51. no Livro II. De Spiritu SanRo : na
Oração Fúnebre fobre a morte de feu
irmão Satyro : e na Carta a Oronciano.
Eftribado nos íbbreditos fundamen
tos , ainda depois de publicado o De
creto do Concilio Tridentino, que não
reconhece por Canónicos fenão os pri
meiros dous Livros d'Efdras , defendeo
o famofo Arcebifpo de França , e Dou
tor de Paris Genebrardo a Canonici-
dade do terceiro , e do quarto d'Ef-
dras.
Contra efte fentimento publicou
em nofíbs dias huma larga DiíFertação
o grande Agoftinho Calmet , e depois
delle outra o Abbade de Vence : em-
penhando-fe ambos em moftrar , que o
terceiro , e quarto d'Efdras não são,
nem podem fer Canónicos , por fé achar
aquelle na narração de vários factos hif-
toricos em oppofiçao com o primeiro
Livro d'Efdras indubitavelmente Ca
nónico : e por fé achar efte em vários
pontos de dogma , e de doutrina con
tra-
PREFAÇÃO. ix
trario ao que nos eníina a Fé Orthodo-
xa , e Catholica.
Se difputando entre fi tão gran
des , e tão fabios homens , me fbffe per-
mittido a mim em tão grave matéria
interpor o meu juízo ; eu difiera , que
menos perigofo era fuftentar com Ge-
nebrardo a Canonicidade do terceiro,
e do quarto Livro d'Eídras , do que
impugnalla pelo modo que o fizerão
Calmet , e de Vence. E já fé vê que a
Canonicidade de que aqui fé falia , he
a intrinfeca , fundada na Tradição dos
Padres ; e não a extrinfeca , que fó en
tão fé dá , quando a Igreja chega a
declarar Canónico efte, ou aquelle Li
vro.
A razão em que me fundo he : Por
que em dar Genebrardo por Canónicos
o terceiro, e o quarto d'Efdras, fegue
a Tradição de muitos, e graviílimos Pa
dres , que por taes os tiverão , e que
ncfte Juizo que formarão delles, feguí-
rao fem dúvida o que tinhão ouvido a
outros Padres feus Predeceflbres. Pelo
contrario o rejeitar Calrnet , e o rejeitar
o
X' PREFACXO.
o Abbade de Vence aquelles dous Li-*
vros , com o pretexto de que elles con-.
tétn vários erros contra a Hiftoria , e
contra a Fé ? nos quaes não advertirão
tantos Padres graviffimos , e antiquiífi-
mos ; parece que he dar azo aos hereges ,
para quando fé trata de moftrar a Canoni-
cidade d' outros Livros , fazerem com
fernelhante pretexto pouco cafo da Tra
dição que nós lhes oppomos dos anti
gos Padres da Igreja : como^ quando fé
trata da Canonicidade dos Livros de
Tobias , da Sapiência , do Eccleíiafti-
co , dos dous primeiros dos Maccabeos ;
dos Fragmentos d' Efther , que fé não
achão no Hebreo ; da Hiftoria de Su-
fanna , e da outra de Bei , e do Dra-
Bío , que também faltao no Hebreo de
aniel. •
Nem fé pôde òppôr a Genebrar-
do , que o Concilio Tridentino , dan
do-nos hum Catalogo dos Livros que
elle manda que fejão havidos por Caj
nonicos , excluio delle o terceiro , e o
quarto d'Efdras , admittindo fó o pri
meiro, e o fegundo. Porque pôde ref*
^ pon-
PREFAÇÃO. xi
ponder Genebrardo , que o Sagrado Con
cilio , pelo que toca aos dous últimos
Livros d'Efdras, fé houve precifarren'
te pelas razões que lhe ferião prefen-
tes , não approvando , nem reprovando
os taes Livros : e que affim poderá vir
tempo , em que outro Concilio os de
clare Canónicos , fem nifto haver con-
tradicção alguma no modo de proceder
da Igreja. i
Também fé não pôde oppôr a Ge-
nebrardo o ter efcrito S. Jeronymo na
Carta a Domnião , e a Rogaciano , que
o Livro terceiro , e quarto d'Efdras fé
devião rejeitar como apocryfos : Nec
apocryphorum tertii , Ò" quarti Efàra fo->
tnniis deleftetur, Porque ferefponde, que
a eílar a Igreja nefte particular pelos
fentimentos , e princípios de S. Jerony-.
mo, não devia ella admittir por Canó
nico , fenão o que vem dos vinte e qua
tro velhos , ifto he, o que fé acha nos
vinte e quatro Livros que compõe o
Canon dos Hebreos , porque affim o
decide S. Jeronymo na mefma Carta,
E então lá hilo para os apocryfos to
dos
xrr PREFAÇÃO.
dos os Livros , ou Partes de Livros,
que affima apontámos.
PaíTando já aos erros hiftoricosr
e dogmáticos , de que Calmet , e de
Vence pretendem que eftão cheios o-
terceiro, e o quarto d'Eídras, póde-fe.
refponder : Que também por exemplo/
nos Paralipomenos fé encontrão muitos
lugares hiftoricos , que parecem incon
ciliáveis com o que fé lê noutros Li
vros Canónicos : e também no Eccle-
fiaftes fé encontrão lugares , que pare
cem negar a immortalidade da alma,
e a vida futura : e não obftantes eftas
dificuldades, huma vez que os Padres
confpirárão em tranfmittir á Igreja por
Livros Canónicos os Paralipomenos, e
Ecclefiaftes , a Igreja os admittio , e
mandou admittir por Canónicos , dei
xando ao cuidado , e applicações dos
Sábios , e pios Interpretes conciliar
com hypothefes prováveis o que nelles
apparecc oppofto á verdade de certos
fa&os referidos noutros Livros j e ex
plicar em algum bom fentido , o que
nos mefmos apparece oppofto aos do
gmas
PREFAÇÃO. rra
gmas noutras partes claramente revela
dos.
Quem não fabe , que dês dos pri
meiros feculos fuão, e trefluão os San
tos Padres , e Expofítores por enodar
as graviffimas dificuldades que fé en
contrão em conciliar oGeneíis com ou
tros Livros da Efcritura , e os Evange-
liíhs huns com outros ? E acafo deixão
por iflb de ferem tidos por Canónicos
todos eftes Livros ? Acafo recorrerão
alguma vez , ou Africano , ou Orige-
nes , ou S. Jeronymo, ou Santo Agof-
tinho, ou Theodoreto a dizer , que os
íeus Maiores que lhes inculcarão por
Canónicos taes , e taes Livros , não ti-
nhão examinado , nem combinado bem
o que nelles fé continha ?
Todo efte meu Difcurfo a favor
da opinião de Genebrardo , e contra
as Diffcrtaçóes de Calmet , e do Ab-
bade de Vence fé deve entender nos
termos d'huma fimples Difputa Theo-
logica , e Critica , de quem numa ma
téria difficil, efcabrofa , e fobre ifto pou
co debatida ? quiz expor ao Público os
feus
XIV PftEFAqXo,
feus fentimentos , fem animo de fiada
decidir, e prompro para abraçar o que
os mais lábios lhe moítrarem fer mais
íblido , e mais feguro , attentos os im-
moveis Princípios da Fé Gatholica , e
falva fempre a fuprema , e infalliyel
authoridade da Igreja.
E S D R A S
LIVRO L
CAPITULO I.
Cyro permitte aos Judeos tornar para
Jerufalem, e reedificar o feu Tem
plo. Elle lhes refiitue os va/òs
Sagrados. • .
O primeiro anno de Cy
ro Rei dos Perfas, para do M.
fé cumprir (b} a palavra
do Senhor pronunciada por boca de
Je-
( 4 ) No primeiro ttnno de Cyro , &c. Já no fim
<io fcgundo Livro dos Paralipomcnos notámos ,
que cite primeiro anno não era o primeiro dos
trinta , que ao todo attribuem os Antigos a Cyro ;
mas o primeiro dos últimos fete, que ellc reinou,
guando na fuá pcffoa lê unirão os três Impérios
de Medos , c Babyionigs , e Perfas : o que foi no
a E s D R A s.
Jeremias , fufcitou o Senhor o efpirito
de Cyro Rei dos Perfas : e efte fez
pu-
anno do mundo $468 , c antes da era vulgar de
Chrifto 556.
Para a coufa bem fc comprehender , note-fc:
que Cyio teve por pai a Cambyfes primeiro do
nome Rei da Perfia , e por mái a Mandancs filha
d'Aítyages Rei dos Medos, e irmã de DarioMédo.
Aftyages era filho de Cyaxares I. , e D^rio feu fi
lho , que Daniel chama Dario Medo , he o que
os modernos com Xenofome chamáo Cyaxares II.
Logo que Dario Medo, ou Cyaxares II. por mor
te de fea pai Aftyages fuccedeo no Reino dos Me
dos : vendo-fe elle atacado por NeriglilTon Rei de
Babylonia , pedio íoccorro a feu cunhado Cam-
byfes Rei da Perfia , que para efte effeito defpcdio
a feu filho Cyro , feito General d' hum grande
exercito, em idade de quaíenta annos: c do tem
po deita expedição de Cyro , a favor de feu tio
Dario Medo , he que fé começáo a contar os $o
annos de Reinado , que os antigos dão a Cyro.
Tomada Babylonia pelo exercito dos Perfas , ficou
Dario Medo fendo Rei dos Bjbylonios dous an
nos , que foráo os que elle fobrcviveo , e morto
Dario Medo he que Cyro pelo direito de fuá mái
Mandanes fuccedeo ao rio , unindo na fuá pcflòa
as três fobrediras Monarquias , Perfica , Meda , e
Babylonica. Por refpeito a e/Ta união he que na
Efcritura fé alliga a foltura do cativeiro dos If-
raelitas ao primeiro anno de Cyro , iíto he , ao
primeiro depois da união. PER-EIKA.
( b ) A pilavra do Senhor pronunciada por boca
de Jeremias, ó-f. No Cap. XXV. veifp u. e no
L i v. I. CAÍ. L 3
publicar em todo o feu Reino , até por
efcrito , efta ordem, dizendo:
2 Éis-aqui o que diz CyroRei dos
Perfas : (c) O Senhor Deos do Ceo
( d ) me deo todos os Reinos da terra ,
Tom. VIII. B e
Cap. XXIX. verfo 1 1. tinha profetizado Jeremia»
que o cativeiro dos JuJeos em Babylonia duraria
fetenta annos. Como cites fetenta annos , fegundo
vimos na Nota precedente , fé completarão no
anno 536, antes do nafcirnento de Chrifto : fegue-
fe que elles começarão no anno 606. antes do mef-
me nafcimento. PEREIRA.
(c) O Senhor Deos do Ceo, <ò-c. Náo foi Cy-
ro o primeiro , nem o único dos Reis Gentios ,
que conheceo que o Império de que gozava , lhe
vinha do Deos d' Ifrael. O mefmo tinha já antes
confcffado Nabucodonofor Dan. n. 47. O me Imo
conheceo depois Dario filho d'Hyftafpcs , Efd. vi.
12. Mas eíta crença extorquida delles pela força
dos prodígios que viáo , ao mefmo tempo que era
gloriofa para Deos , ficava fendo huma crença ef-
terit , e iníruítuofa para os que a tinháo : porque
tendo conhecido a Deos, náo o fouberáo glorificar
como Deos , conforme efcrevco S. Paule. Rom. t.
21. PEREIRA.
(d) Me deo todos os Reinos da terra. Por I faias
tinha Deos predito , que fujeitaria ao Império de
Cyro muitas Nações , e muitos Reis. Hse dicit
Dominus Cbrifto meo Cyro , cajus apprebcndi dex-
teram , Hf fubjiciam ante fadem ejus Gentei , ó4
dorfa regum vertam, <&'C. liai. XLV. 1.2. O que
fé verificou, quando elle feito fenhoi do> tteslm-
4 E S D R A S.
(*) e elle mefmo me mandou que lhe
edifica (Te hum Templo em Jerufalem ,
que he na Judéa.
3 Qual he d' entre vós de todo o
feu povo ? O feu Deos feja com elle.
Vá para Jerufalem , que he na Judéa ,
e edifique a cafa do Senhor Deos d'If-
rael , efle mefmo he o Deos que cftá
em Jerufalem.
4 E todos os varges que tiverem
ficado em os lugares onde habitão , os
ajudem do lugar onde eftão , com pra
ta , e com ouro , c com fazenda , ga
dos , e a fora o que elles oferecerem
voluntariamente ao Templo de Deos ,
que he cm Jerufalem.
E
pcrios de Medos , Bibylonias , c Pcrfas , fé vio
Monarca de toda a Alia. PEREIRA.
(e) E elle mefmo me mandou que lhe tdificafle
hum Templo em Jerufalem. Mandou-lho, em quan
to lhe fez faber , por informação do» Judeos , o
que muito mais de cem annos antes tinha profeti
zado delle Ifaias XLIV. 28. Ego Çum Dominus....
qui elico Cyro : Pajíor meus es <&- omnem volunt.t-
íem meam complebis. Qui dico lerufalem : jfcdifica-
•beris ; é' Templo : fundaberis. Aíhm o refere Jolc
no Livro xi. das Antiguidade* Judaicas. Cap. I.
PEKEIHA.
L i v. I. C A v. I. 5*
5 E os Príncipes das famílias pa
ternas de Juda , e de Benjamim , e os
Sacerdotes , e os Levitas , e todos aquel-
les , cujo coração tinha Deos tocado ,
fé prepararão para ir reedificar o Tem
plo do Senhor , que havia em Jerufa-
lem.
6 E todos os que moravao nos arre
dores , os ajudarão com as fuás baixei-
las de prata , e d' ouro , com os feus
bens, gados, e com os feus móveis, a
fora o que elles tinhão offerecido volun
tariamente.
7 O Rei Cyro entregou também
os vafos do Templo do Senhor , que
Nabucodonofor tinha levado de Jerufa-
lero , e que tinha pofto no Templo do
feu Deos.
8 Cyro Rei dos Perfas os fez en
tregar por Mithridates (/) filho de Ga-
B ii za
(/) Filho de Gazabar , <b*c. O Hebreo , c o
Syriaco dizem fimplcsmente , por Mithndttes The-
foureiro. E aflim o vertem Cilliodoro de ia Reina,
e Mr. lc Qroi. Donde fc vê , que o Author da
Vulçata tomou por nome próprio o que o era ap-
pellaiivo. Os Setenta tomarão Gtzakar por nome
<k terra , por que verterão por Aíithridatts Gazat-
»»r«no.
6 E S D R A S.
zabar , e os deo por conta (g) a Saf-
fabafar Príncipe de Juda.
o. E eis-aqui o número delles : Trin
ta copos d' ouro, mil copos de pra
ta , vinte e nove facas , trinta taças de
ouro,
10 quatrocentas e de/ taças de pra
ta de fegundo tamanho : e outros mil
vaíbs.
1 1 Todos os vafos d'ouro e de pra
ta
A Sá/abafar Prittcipe de Juda. A maior
Earte dos Interpretes tem para íi , que Saílabafar
e o mefmo que Zorobabcl. AíTim Nicoláo de
Lyra , Vatablo , Tornielli, Saliano, Mcnoquio ,
lê Gros , de Carrieret , e muitos outros. Fundáo-
fc em que as coufas que numas partes feattribuem
aSaffabafar, como aqui noverfo 11. e no Gap. V.
verfo 14. c 16. parecem fer as mefmas, que nou
tras partes fé attribuem a Zorobibel , como no
Cap. II. verfo 2. no Cap. III. verío 8. no Cap. V,
vcrfo 2. Defte modo foi Daniel também chama
do BaltafTar. Todavia Junio nio fem bons funda
mentos infifte , em que Safíabafar era hum ho—
mem , e Zorobabel outro. E que o que fé diz de
Salíabafar , fé pôde muito bem verificar , como
à' hum homem diverfo de Zorobabel , em fuppon-
do que Salíabafar era hum Perfa , que Cyro man
dou que fofle c«m os Judeos a mcttellos de poffe
do (eu paiz , e a prefidir ao eQabelccimemo da-
quclla nova Colónia. PEREIKA.
L i v. I. C A P. L 7
ta (A) erao finco mil e quatrocentos:
iodos levou SaíTabafar , com os que tor
narão do cativeiro de Babylonia para
Jerufalem.
(í>) Erao Jínco mil e quatrocentos. As Addiçóes
indicadas nos verfos precedentes não dáo tamanha
fomma. AHim ou numa parte, ou noutra, ha erro
de contas. O Padre Houbigant difcorrc, que tal
vez cm algum Exemplar Hebreo fé tenha ap»n-
tado á margem por números Arábicos a Comina
total , que no Texto vinha em números Hebreos ,
que fendo efta fomma total 2499. os copiltas por
defcuido pozeráo 5 por z , yo por oo. Mas como
tanto os Setenta , corro Jofé concordáo na fomma
total de finco mil e tantos vafos ; parece mais vê-
rofimil , que a falta eiiá nas addiçces , as quaes
elles com criei to trazem maiores , do que as que
2 Yulgata exprimio do Hebreo. PSMIKA.
CAPITULO II.
Lifta dos filhos d' Ifraeí, que voltarão
de Eabylonta fará a ^judéa com
Zorobabel.
CAPITULO III.
Levanta-fe o Altar dos Holocauftos. Ce/e-
bra-fe a Pefta dos Tabernáculos. Lan-
ção-fe os fundamentos do Templo.
CAPITULO iv.
Os Samaritanos accttsão os Jadeos diante
tfArtaxerxes. Efte Príncipe prohtbe
que fé não reedifique Jeraja/em.
CAPITULO V.
•Aggen , e Zaccarias exbortão os Judeos a
continuarem u conflrucção do Templo. Os
Officiacs de Dario o informão difto.
Dii CA-
f' examine na Real Bibliotheca, <t?-c.
O Hcbrco diz : Que fé examine na cajá dos The-
fouros do Rei lá em Babylonia , <&c. O caio he ,
que o mefmo Palácio , que era o rhcfouio » cr*
O Arquivo Real. PEREIRA.
38 E S D R A S.
CAPITULO VI.
Dario confirma a ordem de Cyro a favor
dos Judeos. Acaba-fe o Templo. He
dedicado. Celebra-fe a Pafcoa.
CA-
( e ) Que fé tinbao feparado da corrupto , &c.
Ifto hc , os Profclytos , ou novos convertidos,
que deixado o Gcntilifmo abraçavão a Religião
Judaica , em que entraváo pela Circumcisáo. Por
que fó fendo circumciclados podiáo os cítrangeiros
participar da Pafcoa. Êxodo xn. 48. PEKEIRA.
(/") E tinha mudado o coração do Sei da Af-
fyria. Todos fabcm que depois de Cyro fé tinháo
ajuntado num fó império da Períia os outros an
tecedentemente feparados Impérios dos AíTyrios , dos
Babylonios, e dos Medos. PEREIRA.
4<> E S D R A S.
CAPITULO VII.
Efdras he enviado d Judéa por Arta-
xerxes. Ediflo defle Príncipe a favor
dos Judeos.
CAPITULO VIII.%
Catalogo dos que "voltarão de Babylonia
com Efdras. Efdras manda ajuntar
os Levitas. Chega a Jerufalem,
CA-
L i v R o L 6t
m
CAPITULO IX.
fabe que muitos IJraelitas toma
rão mulheres ejirangeiras. Oração
que elle faz, a Deos nefte paffò.
CA-
Não fé pode eflar em toa prefinça. Enten-
dc-íc , íe nós nos não apoiamos na tua inaniu
.bondade. PEREIRA.
L i v R o L 67
CAPITULO X.
Os Ifraelitas fé arrependem. Efdras lhes
ordena que demitiao de fi fuás mulhe
res. Lifla dos que tinhao commettido
efta prevaricação.
N E H E'M IAS,
C H A M A D.O
O SEGUNDO
E S D k A S.
ESte Livro chama-fe o Segundo de
Efdras , não fó porque he conti
nuação do primeiro , mas também
porque entre os Hebreos fazia hum fó ,
e hum mefmo volume com o d' Efdras.
Chama-fe também Livro de Nehemuis ,
porque Nehemias he quem fé crê que
foi feu Author , ao menos quanto á fub-
ftancia , ou maior parte dos fucceffos
que nelle fé referem.
Digo ao menos quanío d fttbflancia I
porque não faltão Críticos , e Expofíto-
res graves , que nefte Livro obfervão
certas paíTagens , que a elles lhes pa-
recç não fé poderem attribuir a Nehe
mias,
o. 75*
mias , mas que forão depois accrefcen-
tadas por algum outro Author mais mo
derno , ainda que também igualmente
infpirado.
Tal he no fentir de Petau , Livro
XII. DeDafirinaTemporum, Cap. XXV.
o verfo 22. do Cap. XII. onde fé faz
menção do Pontífice Jeddoa , e do Rei
Dario , como contemporâneos hum do
outro : donde parece que Jeddoa he o
mefmo que aquelle Jaddo , do qual re
fere Jofé no Livro XI. das Antiguida
des , Cap. VIII. que recebera em Je-
rufalern a Alexandre Magno vindo da
expedição da tomada de Tyro : e que
confeguintemente aquelle Dario he Da
rio Codomanno , ultimo Rei dos Per-
fas vencido pelo mefmo Alexandre. Ora
a expedição de Tyro foi no anno de
332. antes da era de Chrifto , cento e
vinte e dous annos depois que Nehe-
mias viera a Jerufalem no Reinado de
Artaxerxes Longimano. Como não pa
rece crivei que Nehemias viveiFe até
aquelle tempo , paíTante de cento a qua
renta annos , (pois elle havia de vir a ,
j6 PBEFAÇÍO.
Jerufalem já homem feito , como Go
vernador que lá era mandado por Arta-
xerxes ) conaluc daqui Petau , que o di
to verío 11. do Cap. XII. não podia fcr
cícrito por Nehemias.
Calmet, e oAbbade de Vence ain
da adiantão mais : porque fuítentão, que
todos os primeiros vinte efeisverfos do
dito Cap. XII. forão ajuntados ao Livro
de Nehemias muitos annos depois da
fuá morte, talvez que pelo Pontífice Si-
mão o Jufto , neto de Jaddo.
He também denotar, que nofegun-
do Livro dosMaccabeos Cap. II. verfo
1 3. lê faz menção das Memórias , ou Ef-
critos de Nehemias, e que o que alli fé
refere, não fé acha hoje no Livro, que
tem o feu nome. Donde he neceíTario
concluir huma de iluas coufas : ou que
nós não temos fenáo huma parte , ou
hum refumo das Memórias de Nehe
mias: ou que Nehemias, fora das Me
mórias citadas nos Maccabeos , compoz
ainda o Livro, que nós con fervamos ho
je debaixo do nom.e de Memórias de
Nehemias , Verba Nebemiae , que allím
he
PREFAqXo. 77
he que começa o feu livro. Mas he cri
vei que compozefTe Nehemias duas for
tes de Memórias fobre o mefmo aíTurn-
pto ? Ifto he o que nos não parece pro
vável, diz o Anonymo Efcritor da Pre
fação fobre o Livro de Nehemias , que
anda na Biblia do P. de Carrieres da
Edição do Abbade de Vence. Aflím o
que parece maisfímples ( continua elle )
he dizer que Nehemias tinha comporto
humas Memórias , que ainda exiftião em
tempo dos Maccabeos , e das quaes hum
outro Efcritor teceo, e formou a Obra
que hoje temos , confervando em tudo
osmefmos termos, de que Nehemias fé
fervíra j mas fem fé cftreitar a nada omit-
tir do que elle efcrevêra j nem a não
ajuntar de feu coufa alguma.
Sobre de que Tribu era Nehemias,
ha também variedade d'opini6es. Eufe-
bio, Santo líidoro, Gencbrardo, e EC-
caligero dão por certo, que eliefora da
Tribu de Juda : e por efte fentimento fé
declararão modernamente Calmet , e o
P. de Carrieres. Mas não apontando el-
les Texto algum , que tal decida ; ( por
que
78 PREFAÇXÓ*
que a paflagem do Cap. VI. verfo ir.:
Quis ut ego ingredietur Templum & vivet ,
tem hum fentido mui diverfo daquelle ,
que os referidos Authores lhe dão ; e
quando provaffe que Nehemias não era
Sacerdote, não provava que era daTri-
bu de Juda : ) aVulgata nos Livros dos
Maccabeos nos oíFerece hum Texto ,
que claramente fuppõe ter fido Nehe
mias da Tribu de Levi. Porque no Li
vro II. Cap. I. verfo a i. diz affim : lujfit
Sacerdos Nehemias ajpergi facrifaio aqii<£.
Ifto he : O Sacerdote Nehemias man
dou que fé fízeflem afpersões daquella
agoa fobre as vitimas. Ifto obrigou o
Abbade de Vence a fé determinar pela
outra opinião, que faz a Nehemias da
Tribu de Levi.
Sobre o terceiro , e quarto d'Efdras ,
que pafsão por apocryfos , veja-fe anof-
fa Prefação ao Livro primeiro.
NE-
79
~4\itf* ^»\>t/* <?\>(/*^ »v»t/» ~<^icr» ~*\»c/''
N E H EM I AS,
ou
SEGUNDO LIVRO
D' E S D R A S.
CAPITULO I.
Nehemias he informado do trifle eftado
de Jerufalem. Oração que elle
dirige ao Senhor.
1 1 ST o R i A de Nehemias fi- Anno
lho d' Helquias. E aconte- do M.
ceo (a) no mez de Cãs- *Í5°:
• ,,N • / \ t ant. de
leu, (b) no armo vinte, (c) quando eu j. chr.
eftava no Caftello de Sufa. 454.
E
(«) No mez de Casleu. O nono do anno fa-
Cio , c o terceiro do anno civil , que correfpon-
dia parte a Novembro , parte a Dezembro. Pfi-
KElRA.
(Z>) No anno vinte, &c. No anno vinte d'Ar-
taxerxes Longimano. Adiante Cap. II. verfo i. O
qual anno vinte d' Artaxerxes era o decimo ter
ceiro , depois que Efdras viera a Jerufalem. PE
REIRA.
(c) Quando eu ejtava no Cajlello de Suja. Ifto
8o E S D R A 3.
2 E veio Hanani hum de meus ir
mãos , elle com alguns da Tribu de Ju-
da : e lhes perguntei pelos Judeos , que
tinhão ficado , e íòbrevivião ainda de
pois do cativeiro , e acerca de Jerufa-
lem. . -
3 E elles me refpondêrao : Os que
ficarão depois do cativeiro , (4) e fo-
rão deixados alli na Província , eftão
numa grande afflicção , e em ignomi
nia: (e) e os muros dejerufalem forão
deftruidos, e as fuás portas confumidas
do fogo.
4 E como eu ouvi eftas palavras,
aflentei-me , e chorei , e derramei lagri
mas
he , no Palácio , que os Reis Perfas tinhão em
Sufa , onde Nehemias fazia Corte a Artaxerxes
Longimano , na qualidade que era de feu Copeiro
mor, como he expieflb no verfo ultimo defte Ca
pitulo , e fé confirma do principio do Capitulo fé*
gundo. PEREIRA.
(í/) E forao deixados alli tia Provinda , <b-e.
Na Paleítina reduzida a huma das Províncias do
Império dos Petfas. PEREIRA.
(e) E os muros de Jerufalem forao deftruidos.
Quanto fé pôde inferir do contexto , e fcquito
defte Livro , os muros , e portas de Jeruialcm não
tinhão ainda fido reparados , depois da fuá dcítrui-
çáo por Nabucodonofor. PEREIRA.
L i v. II. GAP. I. 81
mas por muitos dias: jejuei , e orei na
prefença do Deos do Ceo.
5 E difle : Peço-te , Senhor Deos
do Ceo , forte , grande e terrível , que
guardes o teu pafto, e a tua mifericor-
dia para com aquelles que te amão , e
obfervão os teus mandamentos:
6 attendao os teus ouvidos , e os
teus olhos fé abrão para ouvires a ora
ção de teu fervo , que eu hoje faço em
tua prefença de noite e de dia pelos fi
lhos d'Ifrael teus fervos : e confeflb os
peccados dos filhos d'Ifrael , que tem
commettido contra ti : eu , e a cafa de
meu pai peccámos,
7 (/) nós fomos feduzidos pela vai
dade, e não guardámos os teus manda
mentos, e as tuas ceremonias, e as tuas
ordenanças que tu prefcrcvefte a teu fer
vo Moyfés.
8 Lembra-te da palavra , que défte
a Moyfés teu fervo , dizendo : Quando
vós
(/) Nós fomos feduzidos pela vaidade, &c. Pe
la vaidade , e pela mentira , deixando-nos ir apôs
o culto dos falfos Deoíes da Gentilidade. O que
Nehemias diz em nome dos íeus antepaflados. Ps-
8a E s D R A s.
vós tranfgredirdes , eu vos
pelos Povos :
9 mas fé vós vos converterdes a mim,
e guardardes os meus preceitos , e os
cumprirdes j ainda quando vós tenhais
íído efpalhados até as extremidades do
Mundo, eu vos ajuntarei delles paizes ,
e eu vos reconduzirei ao lugar , que
eu efcolhi , para nelle habitar o meu
Nome.
10 E eftes são os teus fervos , e o
teu Povo , os quaes tu refgatafte na tua
foberana fortaleza, e na tua mão pode-
rofa.
1 1 Peço-te , Senhor , que eftejão
attentos os teus ouvidos á oração do
teu fervo , e ás oraçóes dos teus fer
vos , que querem temer o teu Nome :
e conduze hoje o teu fervo , e faze-o
achar mifericordia diante defte ho
mem : porque eu era Copeiro Mor do
Rei.
L I V R O II. 83
CAPITULO II.
Nehemias alcança cPArtaxerxes pérmifsao
de a ir reedificar. Vai a Jerufalem,
e exhorta os Judeos a que ref-
taurem os feus muros.
Uccedeo pois (a} no mez de
Nilan no anno vigefimo do Rei
nado d'Artaxerxes : e eftava pofto vi
nho diante delle, e eu tomei o vinho,
e o miniftrei ao Rei : e eu citava como
abatido na fuá prefença.
2 E o Rei me dúTe : Porque eftá
triíte o teu rofto , não te vendo' eftar
doente ? Ifto não he fem caufa , ( b ) e
Tom. VIII. G não
(d) No mez de Nifan. O primeiro do anno fa
cto, e o fetimo do anno civil. PEREIRA.^
( b ) E não fei que mal ha no teu coração. Aífim
a Vulgaca : Sed malum nefeio , quod in corde tua
eft. Ò que fé pôde entender de dous modos. Ou
que o Rei defconBou , não lhe andafTe Nehemias
maquinando alguma traição j ou que ío lhe quiz
dizer , que alguma coufa trazia elle no fcu cora
ção, que lhe dava pena. A primeira intelligencia
parece fcr a que o mefmo Nehemias mais concc-
beo , quando confefla que ficara padado de medo
-ao ouvir as palavras do Rei. E aflirn o tem a fen-.
84 E S D R A S.
não fei que mal ha no teu coração. E
eu me enchi de hum temor grande , e
exceífivo :
3 e diíTe ao Rei: (f) O* Rei, vive
eternamente : porque não ha de eílar o
meu rofto amargurado , pois que a Ci
dade que he a caía dos fepulcros de
meus pais , eítá deferta , e as fuás por
tas foráo queimadas pelo fogo?
4 E o Rei me diífe : Que me pe
des tu ? E fiz eu oração ao Deos do
Ceo,
T e diíTe^ ao Rei : Se lie do agra
do do Rei j e fé o teu fervo he accei-
to em tua prefença , peço-te que me
mandes á Judea á Cidade dos fepul
cros de meus pais , e eu a reedificarei.
6 E diífe-me o Rei, ( ^) e a Rai
nha,
tença commam dos Interpretes com Lyrano , Va-
tablo, Calmet, e muitos outros. Todavia deCar-
riercs abraçou a fegunda com Malvcnda, Junio ,
c Pifcador. PEREIRA.
(c) O' Sei , vive eternamente. Affim he que
fé coftumaváo cumprimentar os Reis Perfas. O
que não fó fé confirma de Daniel III. 9. e VI. 6.
mas até d'Eliano no Livro I. Cap. XXXII. PE-
KEIKA.
E a Rainha , qtte ejtava alentada a par dei
Li v. II. GAP. II. 85-
tiYia , que eftava affentada a par dellc :
Que tempos durará a tua jornada , e
quando voltarás tu ? (e) Eu lhe apon
tei o tempo : e aprazeo na prefença do
Rei , e me permittio que foíle.
7 E difle ao Rei : Se ao Rei pare
ce bem , eu lhe fupplico , que me dê
cartas para os Governadores das Pro
víncias d'aiém do Rio , para que me
dem paíTagem , até eu chegar á Judéa :
8 ehuma carta para Afaf (/) Guar
da do Bofque do Rei , a fim de me dar
fnadeiras , com que cubra as portas das
torres da cafa, e os muros da Cidade,
c a cafa , em que eu me alojar. E o Rei
G li me
lt. UflTer cré que era a Rainha Damafpta , que
Creíias dá por mulher a Artaxerxes Longimano.
PEREIRA.
( e ) Eu lhe apontei o tempo. Do Gap. V. verfo
14. confta , que a licença de fé demorar Nehe-
mias na JnJi< fora de doze annos, iftohe, dês do
anno vigefimo d'Artaxerxes até o anno trigefimo
fegundo. PEREIRA.
(/) Guarda do Bofque do Sei. Por efte Bofque
do Rei entende aqui Grocio o paiz , que ficava
entre o Líbano , e Antilibano. Outros julgáo, que
Nehemias fallava dos Cedros do Monte Líbano,
donde até então fé coílumaváo tirar as madeiras
para a fabrica do Templo. PEREIRA.
80 E S D R A S.
me concedeo tudo, fegundo era comi
go a mão favorável do meu Deos.
9 E fui ter com os Governadores
do paiz d'além do Rio, e lhes aprefen-
tei as cartas do Rei. E o Rei tinha en
viado comigo Officiaes de guerra , e
gente de cavallo.
10 E (g-) Sanaballat Horonita , e
Tobias fervo Ammonita o fouberáo : e
ficarão em extremo triítcs , por ter vin
do ruim homem , que bufcava o bem
dos filhos d'Ifrael.
11 E cheguei ajerufalem, e eftive
alli três dias ,
iz e me levantei de noite , eu e
poucas peflbas comigo , e não difle a
ninguém o que Deos me tinha infpira-
do no meu coração para fazer em Jeru-
falcm , e eu não tinha alli cavallo, fe-
não o em que citava montado.
13 E fahi de noite pela porta do
valle , e ante a fonte do Dragão , e á
porta da eíterqueira, e contemplava os
mu-
(#) Sanaballat Horonita, &c. Ifto he , na
tural d' Horonaim , Cidade do Paiz de Moab. PE
REIRA.
Liv. II. GAP. II. «7
muros de Jerufalem deitados abaixo, e
as fuás portas que tinhao íido queima
das pelo fogo.
14 (£) E paíei á porta da fonte,
e ao aqueduclo do Rei, e nãohavia lu
gar por onde pudefle paffar o cavallo,
cm que eu hia montado.
15 E fubi de noite (*') pela torren
te , e eu coniiderava os muros , c vol
tando cheguei á porta do valle , e reco
lhi-me.
1 6 E os Magiftrados não fabião on
de eu tinha ido , nem o que eu fazia :
e até então não tinha eu defcoberto na
da , nem aos Judeos , nem aos Sacerdo
tes , nem aos Magnates , nem aos Ma
giftrados , nem aos mais dos que tinhao
a intendência das obras.
17 E eu lhes diffe : Vós vedes a
afflicção em que citamos ; porque Jeru
falem eftá deferta , e as fuás portas fo-
rao confumidas pelo fogo: vinde, eref-
tau-
( b ) E paffei í porta dafonte. Da fonte de Siloc.
PEREIRA.
( i ) E fubi de noite pela torrente. Pela torrente
de Ccdion. PEREIRA.
88 E S D R A S.
tauremos os muros de Jerufalem , não
fejamos mais o opprobno.
18 E eu lhes referi o como a mão
do meu Deos era favorável para comi
go, e as palavras, que o Rei me tinha
dito, e digo : Vinde, e reedifiquemos.
E as fuás mãos fé fortalecerão para o
bem.
19 Mas SanaballatHoronita, eTo-
bias fervo Ammonita , e Gofem Árabe
o fouberao , e fizerão zombaria de nós ,
e defprezarão-nos , e diirerão : Que he
ifíb , que vós fazeis ? Por ventura vós
vos rebellais contra o Rei ?
20 E eu lhes refpondi , e lhes dif-
fé : O Deos do Ceo he o que nos aju
da , e nós fomos feus fervos : levante-
mo-nos e reedifiquemos : ( k ) porque vós
não tendes parte , nem direito, nem fois
conhecidos em Jerufalem.
CA-
(1^) Porque vos não tendes parte, <b-c. Quer
dizer : Vós , Samaritanos , cuidai da volTa Cida
de , e não vos queirais intrornetrer com osjudeos,
nem com a rccdificaçáo de Jerufalem , paia a qual
o Rei dos Pcrfas me conccdeo plenos , c inteiro
direito , que vós não tendes : e afiim o que vós
dizeis não fcrvirá de embaraço para íc íazct a IO*
edificação da Cidade. PEREIRA.
L I V R O II. 8(J
CAPITULO III.
Lifta dos que trabalharão na reedificação
dos muros de Jerufalem.
CAPITULO IV.
Os inimigos dos Judeos pertendem emba
raçar a reedificação dos muros de Je-
rufalem. Ordem que dá Nehemias pa
ra fé fegurar da fuá violência.
CAPITULO V.
Murmuração dos pobres contra os ricos.
Exhortação de Nehemias aos ricos.
Seu definterejje.
CA-
nho em abundância. O fegundo femido he o que
fé colhe do Hebrco , que diz aflim : Intra. decem
dies omnibus vinum fríbetur : de dez em dez dias
fé dá a todos vinho. E do Syriaco, que diz: Se~
mel denis quibusque diebus multam vini. Porque de
muitos lugares da Eícritura fé fabe , que entre os
Orientaes nem íempre nos banquetes havia vinho ,
mas fomente nos banquetes folemnes. Ecclef. XXXI.
17. XXXII, 7. XLIX. 2. Pelo que Saci, e deCar-
rieres traduzem afhm o preíentc lugar: De dix en
dix jours je diflribuois une grande avondance de vin.
l,e Gros adoptou ambos os fentidos , vertendo:
£t de dix jours en dix jours , jt faifoit fervir diver-
fes fortís de vin en abondance. PEREIRA.
LIVRO II. 107
CAPITULO VI.
Os inimigos aos Judeos fé esforção inu
tilmente por furprender , e intimidar A
Nehemias. Elle acaba os muros de Je-
rujalem.
CAPITULO VII.
Nehemias eftabelece Guardas em Jerufa-
lem. Lifta dos que tinhão vindo com Zo~
robabel. Oferenda feita ao Templo.
CAPITULO VIII.
Efdras lê a Lei diante do Povo. Celebra
ção da Fefta dos Tabernáculos.
CAPITULO IX.
Penitencia do Povo. Oração que os Levi
tas fazem a Deos. Renovação do Con
certo.
CA-
( r ) Elles dominjto feire os tiqffbs corpos. Pelo
muito que nos fazem trabalhar íem falario em uti
lidade íua. PEREIRA.
LIVRO II. 1 39
CAPITULO, X.
Nomes dos que ajjignárao o concerto. Di-
•verjos regulamentos para a obfervancia
da Lei.
CAPITULO XIII.
Tendo Nebemias ido para Artaxerxcs , ao
tornar para Jerufalem acha muitas def-
ordens , a que elle põe remédio.
TO-
~1\ttf* *\>e/'' r^Jv ^t\,iJKi "Wutfx S^«/ÍT~
T O B I A S.
CAPITULO I.
Origem deTobias. A fuá fidelidade emob-
Jèrvar a Lei. Ofeu cafamento. Nafeen-
fa defeu filho. Elle perfedera fiel nofeu
cativeiro. Situação em que elle fé acha
Job Salmanafar , fob Sennaquerib , efob
Ajfarhaddon.
OBIAS da Tribu, e Cidade
| de Nefthali ( que he na par
te fuperior da Galiléa affi-
'ma de Naaílbn, por detrás
do caminho, que guia para o Occiden-r
te , tendo á efquerda a Cidade de Sé-
fet)
i tendo fido levado cativo (í?) em
tem-
( a ) Em tempo de Salmanafar Rti dos 4j/yrhí.
O Grego eícreve Enemeffar , em lugar de Salma-
nafar. E foi cite cativeiro dos Ifraclitas, fcgundo
a Chronologia d'UlTer, pelos annos 721. antes da
Era Chriftá , tendo Tobias de idade quafí 44 an
nos. E deite cativeiro trata a Hifioria Sagrada ,
Livro IV. dos Reis, Cap. XVII. J. PEREIRA.
TôRIAS.
tempo de Salmanafar Rei dos Aflyrios ,
todavia nofeu cativeiro, não abandonou
o caminho da verdade,
Anno 3 de f°rte Sue tudo, quanto podia
do M. ter, diílribuia todos os dias pelos feus
?- irmãos que eftavão Cativos com elle , e
c que erão da fuá linhagem,
' 4 E fendo que elle era o mais mo
ço de todos os da Tribu de Nefthali ,
não obrava com tudo acção alguma
pueril.
y Em fim quando todos hião ado
rar os bezerros d' ouro , que Joroboao
Rei d' Ifrael tinha feito , elle fó fugia
da companhia de todos,
\ 6 e hia a Jerufalem ao Templo do
Senhor, e ahi adorava ao Senhor Deos
d'Ifrael , offerecendo fielmente todas as
fuás primicias , e o dizimo dos feus
bens ,
7 de forte que cada três annos dif-
tribuia aos profelytos e aos eítrangeiros
toda a dizimação.
Ef-
Toda a dizimação. Entre os Hebreos ha
via três forres de dizimo. A primeira , que fé da-
.va aos Levitas , Num. XVIII. 24. A fegunda,
que fé pagava todos os annos , fcivia para comei
CAPITULO L 173
8 Eftas coufas e outras femelhantes
conform.emente com a Lei deDeos ob-
fervava o menino.
9 Porém depois que chegou á ida
de varonil , cafou-fe com Anna mulher
da fuá Tribu , e teve delia hum filho ,
a quem poz o feu nome,
10 ao qual eníinou dês da infância
a temer a Deos , e a abfter-fe de todo
o peccado.
u Por tanto, quando elle foi leva
do cativo com fuá mulher , e filho , e
toda a fuá Tribu á Cidade de Ninive,
12 (ainda que todos comeflem das
viandas dos Gentios) elle confervou a
fuá alma , e não fé manchou nunca com
as fuás comidas.
13 E porque elle de todo o cora
ção fé lembrou do Senhor , (f) Deos
lhe
diante do Senhor com os Levitas. Deut.XlV. 26.
A terceira era aquella , que cada num todos os
três annos ajuntava á fegunda , e fervia para fuf-
icntar os peregrinos , os órfãos , e as viuvas. Deut.
XIV. 28. 29. Dcfta terceira hc que fé falia aqui.
SACI. .
(c) Deos lhe concedeo graça , ò-e. O Grego
ajunta , que Tobias fora Comprador da cozinha
defte Príncipe. PEKKUIA.
174 T o B r A s.
lhe concedeo graça diante do Rei Sal-
manafar ,
14 o qual lhe deo faculdade de ir
aonde quizelTe , tendo liberdade para
fazer tudo o que queria.
15 Hia pois ter com todos os que
eftavão cativos , e dava-lhes faudaveis
confelhos.
1 6 Mas como tiveííe ido a Rages
Cidade dos Medos , e (á) levaíTe dez
talentos de prata daquelles , com que
tinha fido prefenteado pelo Rei:
17 e vendo em neceífidade entre o
grande número dos da fuá Nação a Ga-
belo , que era da fuá Tribu , (e) lhe
deo
(á) Leva/e dez talentos , &c. Pela redacção
do Padre de Carriercs , imporcaváo irais de qua
renta e oito mil libras de França , que são em
moeda Portuguesa fcte contos e íeiscentos e oi
tenta mil reis. PEREIRA.
( í ) Lhe deo a fobreditu quantia Ae prata. A
circumftancia de ler pobre , que a Vulgata aqui
põe em Gabélo , parece denotar , que os dez ta
lentos de prata , que Tobias deo a Gabélo , fora
por empreítmio. Mas o Grego não faz menção ne
nhuma da pobreza de Gabélo , e diz exprefíamen-
te , que Tobias lhe dera aquclla íomma cm depo-
fr.o. PEREIKA.
CAPITULO I.
deo a fobredita quantia de prata debai
xo de hum efcrico de fuá própria mão. "T
iS Mas muito tempo depois, mor- Anno
to o Rei Salmanafar, reinando Senna- d°M.
queribj. feu filho
c,, em leu
,,rr luear
V ,J. fe tendo ant.
^:7',de
em ódio aos filhos d Ifrael em lua pré- j. chr.
fença : 717.
19 Tobias todos os dias hia vifítar
a todos os da fuá parentela , e confola-
va-os , e por cada hum diftribuia dos
feus bens, fegundo as fuás poíTes:
20 alimentava os famintos , e vef-
tia os nus, e cuidadofo dava fepultura
aos falecidos e aos que tinhão fido mor
tos.
ii Finalmente, quando fé tinha re
tirado o Rei Sennaquerib fugindo da
Judéa á praga , com que Deos o cafti-
ga'ra pelas fuás blasfémias, eirado man-
daífe matar a muitos dos filhos d'Ifrael,
Tobias fepultava os feus cadáveres. ——•
2,2 Mas quando ifto fé noticiou ao Anno
Rei , mandou que o mataíTem , e tirou- do M.
lhe todos os feus bens. S2-94-
23 Mas Tobias defpojado de tudo, j"chr!
fugindo com feu filho , e com fuá mu- 710.
lher,
T O B I A S.
lher , fé efcondeo, porque muitos lhe
querião bem.
24 Masdahi a quarenta e finco dias
(f) aíTaffinárão o Rei feus próprios fi
lhos,
*? (ò) e Tobias voltou para fuá
cafa, e toda a fuá fazenda lhe foi ref-
tituida.
CA-
(/) dffâflinárão o Rei fetts próprios filhos. Sen-
naquerib foi morto por dous de feus filhos , Adra-
melcch , e Sarafar , quando clle eítava adorando
no Templo o fcu Deos Ncfroch. Liv. IV. dos Reis,
Cap. XIX. 37. OGrego de Tobias accrfícenta, que
a Scnnaquerib fucccdêra fai filho Saquerdon , que
na Hiftoria dos Reis , e em Ifaias fc chama Af-
farhaddon : o que , fegundo a Chronologia de Cal-
met , foi no anno 710 antes da Era Chriflá. PE
REIRA.
(g) E Tobias voltou para fu* cafa, <b-c. O
Grego nos informa , que ilto fora por mediação
d'Aquiacar, Copriro mor, e gnnde vnlílo de Sa
querdon : o qual Aquiâcar era filho d'Ãnacc irmão
de Tobias. PEAEIHA.
T O B I A S. 177
CAPITULO II.
Zelo de Tobias pela fepultura dos mortos.
Vem a ficar cego. A fuá conflancia no
meio das fuás afflicçoes. Impropérios
que lhe dizião Jeus parentes , efuá mef-
ma mulher.
CA-
( b ) Qut tendo recebido bom cabrito. Ou em pa
ga do feu trabalho, oa por lho terem dado afora
tio que lhe era devido pelo mclmo trabalho , co«
mo í: lê em o Grego. SACI.
T o B i A s. i8r
CAPITULO III.
Orações de Tobias , e de Sara filha de
RagueL O Senhor as ouve , e manda
em feu foccorro ao Anjo Rafael.
C A P I T U L O IV.
InflrucçÕes de Tobias a feu filho. Elle lhe
dá a Jaber a fomma que depofitdra nas
mãos de Gabela.
CA-
enfina que as obras de caridade são de hum gran
de allivio para as mcfmas almas dos defuntos.
ESTIO.
T O B I A S. 189
CAPITULO V.
O Anjo Rafael fé encarrega (Pacompanhar
até Rages a Tobias o moço. Lagrimas
de fuá mãi na dejpedida : confiança de
feu pai.
CAPITULO VII.
Cafamento ãe Tobias o moço com Sara fi
lha de Raguel.
CAPITULO VIII.
Tolias , e Sara pafsao a primeira noite
da voda em oração. Tobias não experi
menta acciâente algum damnofo. RagueJ
bemdiz for iffo a Deos , e Ibts fez ce
lebrar a fuá voda.
CA-
de que Tobias fé retiraíTc , mas fim para ir tct
com Gabélo e citlle receber o dinheiro que devia
a feu Pai , de que levava o efcrito , o que era o
motivo da fuá jornada , inferindo-fe que elle o te
ria dito antes a Raguel feu fogro. SACI.
( t ) Que faáfi com Me duas femanas. Pofto que
as feitas das vodas duraváo fó fetc dias fegundo O
coítume, Genef. XXIX. 27. Raguel quiz prolon
gar mais outra femana para nioítrar a fuá extraor
dinária alegria por cantos , c (ao pafmofos moti
vos. "SACI.
T O B I A S. 207
CAPITULO IX.
Vai o Anjo bufcar a Gabélo : recebe àelle
o dinheiro depofitado, e o Içya á -voda
de Tobias.
r .
Ntao Tobias chamou a ÍI o An-
jo , que elle cria fer homem ,
e lhe diffe: Irmão Azarias, peço-te que
efcutes as minhas palavras.
^ Quando eu me entregafle a ti
por teu efcravo , não poderia correfpon-
der dignamente aos teus cuidados.
3 Peço-te com tudo , que tomes pa-v
rã ti beftas e fervos , e que vás bufcar
a Gabélo em Rages Cidade da Média ,
e lhe entregues o feu efcrito , e recebas
delle o dinheiro , e o rogues que venha
á minha voda. i
4 Porque tu fabes que meu pai con
ta os dias : e que fé eu tardar hum dia
mais, fé contriftará a fuá alma.
5 Tu vês também de que modo Ra-
guel me efconjurou , e eu não poflb def-
prezar fuás tão fortes inftancias.
6 Então Rafael tomando quatro
cria-
208 T O B I A S.
criados de Raguel , e dous camelos,
foi-fé á Cidade de Rages na Média :
e achando a Gabélo , lhe entregou o
feu efcrito, e recebeo delle todo o di
nheiro.
7 E contou-lhe tudo o que tinha
fuccedido a Tobias filho de Tobias : e
o fez vir comfigo á voda.
8 E tendo Gabélo entrado em ca-
fa de Raguel , achou Tobias á frie
za : e levantando-fe fé beijarão mutua
mente : e Gabélo chorou , e louvou a
Deos,
9 e difíe : O Deos d'Ifrael te aben
çoe , porque es filho d'hum homem vir-
tuofiffimo , e jufto, e temente a Deos,
e efmoler:
10 abranja também a benção a tua
mulher, e a voflbs pais:
11 e vejais a voflbs filhos, e aos fi
lhos de voflbs filhos , até á terceira e
quarta geração : e a tua defcendencia
feja bemdita do Deos d'Ifrael , que rei
na por feculos de feculos.
12 E tendo todos refpondido , Amen,
pozerão-fe á meza : e também com o te
mor
CAPITULO IX. 209
mor do Senhor celebravão o banquete
da voda.
CAPITULO X.
Cuidado do pai , e da mal de fobias 9
moço. Raguel , e Tobias fé feparão.
•.
.
•
•
CAPITULO XI.
Tobias o moço , e Rafael chegão a Nitti-
•vê. Tobtas fai recobra a vi/ia* Chega
Sara. Celebra-fe a liada*
CAPITULO XII.
Tobias quer galardoar a Rafael. Efte lhe
defcobre quem he , e defapparece.
, C A P I T U L O XIII.
. , . .; Cântico de Tobias.
CAPITULO XIV.
Derradeiras palavras deTobias. Elle pre
diz a ruína de Nini-ve , e a reflaura-
ção de Jerufalem. Tobias o moço fahe
de Nini-ve. Sua morte.
J U D I T H.
T Em efte Livro o nome de Judith ,
porque neile te refere a Hiítoria
defta Illuftre Judia , defcrevendo
como ella , fendo protegida do foccor-
ro do verdadeiro Deos , a quem fem-
pre fervio fielmente , foube livrar não
fó a Cidade "de Bethulia fuá Pátria ,
mas também toda a Judca da cruel op-
prefsão d'Holofernes , chefe do Exer
cito de Nabucodonofor , Rei d'AíTyria.
Ignora-fe quem foíTe o Author def
ta Hiftoria: alguns a attribuem aoSum-
mo Sacerdote Eliaquim , de quem fé
falia no Cap. IV. verfo 5". : e outros a
attribuem a Jofué , filho de Jofedec ,
que voltou de Babylonia com Zoroba-
bel (I. Efdras Cap. II. v. 2. e Cap. III.
v. 2. ) ; mas todos fem o provarem; e
o que mais verofimilmente fé pôde di
zer , he que efte Livro foi efcrito por
. hum
hum Author que viveo depois do Ca-
ptiveiro ; pois que foi efcrito em Cal-
deo ; e que de hum femelhante Exem
plar que hoje não exifte, he qUe S. Je-
ronymo o verteo para Latim , como no-
lo-aífirma o mefmo Santo Doutor no
Prefacio a'efte Livro. Antes porém já
efte Livro tinha fido traduzido em Gre
go pelos Setenta , e não fimplesmente
por Theodocion , como alguns fé per-1
fuadem ; por quanto efte Livro ainda
que não fé comprehendia no Canon dos
Hebreos , os Padres da Igreja Chrifta ,-
logo deíde os primeiros fecuios o al-
legavao como hum Livro Canónico: a
faber , S. Clemente Romano na fegun-
da Carta aos Corinthios , S. Clemente
Alexandrino nos Stromas , Livro IV. ,
Ori genes , HomiL XXIlr. m Jerem. , e
ÍX. ia Libr. Judie. , Tertulliano , e ou
tros ; e S. Jeronymo na citada Prefação-
attelta que o Concilio Niceno Primeiro
o contara entre as Sagradas Efcrituras,
pois diz : Hmc Librnm Synodus Nicdna
in numero Sanftarum Scripturarum kgitur
fomputâffft.
23° PREFAÇÃO.
Além difto também o reconhece
rão como Canónico o Concilio d'Hip-
pona , o Terceiro de Carthago , o Con
cilio Romano em tempo de S. Gèla-
íio I. , e Santo Innocencio I. e em ulti-
timo lugar o Concilio GeralTridentino.
Pofto que n,ão fé porta fixar época
certa , ern que fuccedeo efta Hiftoria ,
por ferem muito differentes as opiniões,
que versão a efte refpeito , e muitas as
dificuldades que fé offerecem por qual
quer dos partidos que fé figa , com tu
do amais commum , e a que parece mais
bem fundada , he a que fuppõem ter
acontecido efte fuccelTo no tempo , em
que ManáíTes , Rei de Juda , foi levado
captivo para Babylonia , como fé pôde
ver da Nota ao verliculo i do Ca p. I.
deite Livro ; e que a expedição d'Ho-
lofernes principiou pelos annos do Mun
do 3348 antes de J. C. 65-6., vinte an
nos depois que voltou Manáfles do ca-
ptiveiro de Babylonia para ajudéa: que
então fuccedeo o cerco de Bethulia , a
morte d'Holofernes , e a viftoria deJu-
dith: e que ManáíTes fobreviveo a efte.
•• ' fuo-
fucceflò paflante ainda de doze annos
ate ao anno do Mundo 3361 antes de
JefuChrifío 643, em que elle morreo;
e Judith viveo ainda quarenta e dous
annos depois do livramento de Bethu-
lia ; e dahi a vinte e quatro annos he
•que aconteceo o grande cerco que Na--
bucodonofor poz a Jerufalem em tem
po de Joakim , Rei de Juda ; o qual,
depois de arruinada a Cidade, edeíbui-
do o Templo, foi levado captivo com os
principaes do Povo para Babylonia, fi
cando difperfos os Judeos por entre a-
quelles Idólatras.
231
e
J U D J T H.
CAPITULO I. ' -
Forças , e feder d'Arfaxad. Elle be ven
cido por Nabucodonofor , o qual depois
defta vittoria , quer que os Povqs vizir
whos lhe rendão também •vaffallagem.
/
CAPITULO I. 135"
dignado contra toda aquella terra jurou
pelo feu Throno e pelo feu Reino, que
lie vingaria de todas eftas Regiões.
CAPITULO II.
Etrvia Nabucodowfor a Holofernes com
hum poderojb exercito a Jujeitar todos
os PÓTOS vizinhos. Primeiras conqttijlas
defte General. Elle fé avança até Da-
niafco.
O anno decimo terceiro do Anno
Reinado de Nabucodonofor , do
aos vinte e dous dias do primeiro mez,
fé fez Confelho no Palácio de Nabuco- J.Chr.
donofor Rei dos AíTyrios, fobre elle íe 6s6-
vingar.
i E chamou todos os mais velhos ,
c todos os feus Generaes , e Guerrei
ros , e communicou-lhes o fegredo do
feu confelho:
3 c declarou que o feu penfamen-
to era fujeitar ao feu império toda a
terra.
4 O qual projefto tendo parecida
bepi a todos , chamou o Rei Nabuco
J U D I T H.
donofor a Holofernes General das fuás
tropas ,
y c difle-Ihe : Vai atacar os Reinos
do Occidente , e principalmente aquel-
les, que defpre/árao o meu mandado.
6 O teu olho não perdoe a Reino
algum , e tu me fujeitarás todas as Ci
dades fortes.
7 Então convocou Holofernes os
Chefes , e OfHciaes das Tropas dos Af-
fyrios : e contou para fé pôr em cam
panha , lègundo a ordem que lhe deo
o Rei , cento e vinte mil combaten
tes de pé , e doze rml frecheiros a ca-
vallo. i
8 E fez marchar adiante toda afua
bagagem em numa multidão iunumera-
vel de camelos , com copiofos provi
mentos que podião fer necefiarios aos
exércitos , e também manadas de bois ,
e rebanhos de ovelhas, fem número.
9 Mandou que em toda a Syria fé
apromptaíTe trigo para a fuá paífagem.
10 E levou da Gafa do Rei fom-
mas immenfas de ouro e de prata.
í i E partio elle , e todo o exerci
to'
CAPITULO II. 237
to com as carroças , e cavallaria , e fre
cheiros , que cubrírao a face da terra ,
como gafanhotos.
12 E tendo pafíado os confins d*
Afíyria , veio aos grandes montes d'An-
gé , que ficão á efquerda da Cilicia , e
entrou por todos os fcus Cailellos , e
fé apoderou de todas as íbrtalezas.
13 E deftruio a famofiflima Cidade
de Melothi , e faqueou todos os filhos
de Tharlis , e os filhos d'Ifmael , que
habitavao em frente do delerto , e ao
meio dia da terra de Cellon.
14 E paflbu o Eufrates , e veio á
Mcfopotamia : e levou á força todas
as grandes Cidades que alli havia , dês
da ribeira de Mambre até chegar ao
mar:
15 e fez-fé fenhor dos feus terri
tórios , dês da Cidade até aos confins
de Jafeth , que são ao meio dia.
1 6 E levou comfigo todos os filhos
de Madian, e faqueou todas as fuás ri
quezas, e paflbu ao fio daefpada todos
os que lhe refiftião.
17 E depois defeco aos campos de
Da-
238 J U D I T H,
Damafco ao tempo da feifa,. c queimou
todas as fearas , e fez cortar todas as
arvores , e as vinhas :
1 8 e o .temor delle feefpalhou por
todos os habitantes da terra.
CA P I T U L Q III.
Diverfos Povos envião menfageiros a Ho-
lofernes ,promettendo-lhe obediência. El-
le defee dos montes a elles , dejiroe-lhes
as fuás Cidades , e corta-lhes os feus
bojques fagrados , a fim de que fó Na-
bucodonofor feja adorado.
CA-
J U D I T H. 145-
CAPITULO V.
Holofernes ouvindo dizer que os filhos d?
Ifrael fé âifpunhão a refiftir-lhe , quer
faber que gente era efta. ' Aquior lhos
dá a conhecer. Com o feu dtfcurfo fé
irrita o exercito.
CA-
J U D I T H. 25:1
"CAPITULO vi.
Hplofernesfaz terríveis ameaças a Aquior.
Manda que o levem a Bei bulia , e o en
treguem aosfilhou cPIfrael. Aquior lhes
he entregue , e lhes conta o que lhe ha
via Juccedido*
CA-
Dentro da I%rejt. lílo hc noj lugaret pú
blicos , que havia fora de Jerufalem , aonde fé
ajuntaváo os Ifraclitas para fazer oração , c par»
ouvirem ler o Livro da Lei : pelo dccurfo do tem
po fé chamarão cftes lugares SynagogM , t IgrtjéU»
156 , J U D I T H.
CAPITULO VII.
Cerca Holofernes a Bethulia : fufto , e efi-
panto dos Ifraelitas. Holofernes fé apo
dera de todas as fontes. Os habitantes
de Rethulia apertados da fede querem
render-Je-lhe. Ozias 'prometie entregar
a Cidade paffados finco dias.
\
'.- C A P I T U L O X.'
Judith fé enfeita , e tomando comfigo hu-
ma efcrava. , fahe , e vai ter ao campo
dos Afjyrios. He alli apanhada , e le
vada áprefença d^Holofernes , o qual fi-
W logo cativo da fuá belleza.
CA-
(rf). E osfeas Officiaes lhe di/erao. O Grego
diz : £ w feus Officiaes di/erão entre ft , g>c.
SACI.
(c) O adorou , proftrando-fe em terra. Nifto
praticou Judith a etiqueta praticada para com os
grandes Príncipe». MENOQVIO.
J U D I T H. 477
,; CAPITULO XI.
Holofernes pergunta a Judith , por que
razão deixou elia o feu Povo para vir
ter com elle. EHa lhe refponde , lifon-
geando asfuás efperanças. Elle lhe fazí
grandes promejjas.
CAPITULO XIII.
i
^fudith , ficando fó ao pé d' Holofernes ,
lhe corta a cabeça , e fahe fará fora
com a Jua efcrava. Chega a Bet bulia ,
onde he recebida com ejpanto , e com
applaufo. Manda-fe vir Aquior , que re
conhecefer aquella cabeça a d"1Holofernes.
CAPITULO XIV.
Judith aconfelha aos Ifraelitas , que in-
•viftao aos Affyrios. Aquior abraça a Re
ligião dos Judeos. Os Ifraelitas avan-
ção aos Affyrios , os quaes fabendo da
morte d\Holofernes , são ajfaltados de
turbação.
PRÉ-
PREFAÇÃO
AO LIVRO
DE
E S T H E R.
S Obre quem fofle o Author defte Li
vro ha huma grande variedade de
opiniões : huns fundados no tefte-
munho de Santo Epifanio , Santo Agof-
tinho , e Santo Ifidoro o attribuem a Ef-
dras : outros pelo contrario julgão que
o feu Author foi pofterior a Efdras , os
Talmudiftas crem que foi obra da gran
de Synagoga , e não falta quem o at-
tribua ao Summo Pontifice Joachim ne
to de Jofedec : mas a fentença mais ve-
rofimil he a de S. Clemente de Alexan
dria , que lhe chama o Livro de Mar-
docheo , fundado no que fé refere no
Capitulo IX. verfo ao , e Cap. XII.
veríb 4 ; e alguns ha também que jul-
gão que a Rainha Efther teve parte na
fuá compolição , como expreflamente fé
diz no texto dos Setenta.
A'cerca de quem foi efte Rei Af-
fue-
306 PREFAÇÃO.
fuero , marido da Rainha Efther, con-
cordão os maiores Críticos , combina
dos os teftemunhos dos Authores Pro
fanos, que foiDario filho d'Hyftafpes ,
hum dos fete conjurados que aflaffinárão
Oropaftes , que fíngindo-fe irmão de
Cambyfes, fé havia apoderado do Im
pério dos Perfas.
O Livro d' Efther fempre foi tido
por Canónico , tanto na Igreja , como na
Synagoga , de forte que não ha Cata
logo algum dos antigos Padres , ainda
dos que fé cingirão meramente ao Ca
non dos Hebreos , como fizerão Meli-
tao de Sardes , e Origenes , que o não
traga.
A dúvida entre os Expoíltores , e
Theologos Polémicos he fobre huns
fete Additamentos , que na Vulgata fé
feguem depois do verfo 4 do Capitu
lo X. por diante, os quaes alguns cora
Xifto de Sena julgão , que não são Ca
nónicos , pela razão de fé não acharem
no Hebreo, mas fó na Versão dos Se
tenta.
Porém o verdadeiro Fiel deve ter
ef-
PREFAÇÃO*
èftes Additamentos na mefma venera
ção, e refpeito, em que os tem a Igre
ja. E o Sagrado Concilio de Trento ,
quando no Decreto dos Livros Canó
nicos ordena na Sefsão IV. debaixo d*
excommunhão , quefejãoadmittidos por
taes todos eftes Livros com todas as
fuás Partes , conforme os traz a Vulga-
ta : parece deixar fora de dúvida , que
os ditos Additamentos d' Efther fé de
vem reputar Canónicos , como o mais
refto do Livro. Nem o faltarem eftes
Additamentos no Hebreo de hoje pro
va ineluftavelniente não ferem effes Ca^
nonicos : porque também no Hebreo dê
Daniel falta a Hiftoria de Sufanna , a
de Bei, 'è do Dragão, .e oHymno dos
três Meninos de Babylonia : e com tu
do a Igreja todas eftas três Partes re
conhece por Canónicas , fundada na
Tradição dos Maiores.
.• .1
,'•>'
. viu "•* .
1\,tF* T\»tíH» 1\,cf* ^F\>tr» <?\»e/*^ ~^aJV
^.&&
-(.n v •' -.- •'
-T H E R;«'" •••^
'• T ~
CAPITULO L
"Banquete dado por Affuero. À Rainha
yafthi recufa ajfiftir a élle. Affuero a
repudia.
. ' u .":"•.. 'j '..•'
temP° f Affuero,
que remou dês da ín
dia até a Ethiopia fo-
bre cento e vinte fete
Províncias: :- i-->
* ..'r;, quan-
(«) Em tempo d'Jffiicro, &c. De todas a«
opiniões que correm entre antigos , e modernos,
fobre qual Rei foi cite AíTuero marido cTEftlicr ,
três sáo as mais bem recebidas entre os fegundos.
ífimeira , a que tem , que efte Affuero foi Dario
Medo , Hlho, e fucceflbt d'Aftyages. E por efta
corre imprefía huma erudita Diflertaçáo do Jcfuita
Poílin. Segunda, a que tem, que cite AlTuero foi
Dario filho d'Hyftafpes , fucceffor de Cambyfes.
E efta he a que com Uíter fegue Calmet. Tercei
ra , a que tem , qnc efte AíTuero foi Artaxerxe»
Longimano , ifto he , Artaxerxes da Longa Mão ,
filho , e fucccflbr de .Xerxes. E efta he a qoc com
Jofé Hcbreo , c Severo Sulpiciò íègue tí Abbadc
CAPITULO I*
l quando clle fé aíTentou no Thro*
fio do feu Reino , era a Cidade de Sufa
a Capital do feu Império. m
3 E no anno terceiro do feu Impe* ^m
rio fez hum grande convite a todos os do
Príncipes , e gentes da fuá Corte, aos í4
mais valerofos dos Perfas , e illuftres j"
dos Medos ,• e aos Governadores das fi
Províncias eftando elle prefente^
4 para oftentar as riquezas da glo
ria
í
do
r
feu iReino, e moftrar
•
a grandeza
& r
do leu poder , por muito tempo ^ a ia-*
ber, de cento e oitenta dias,
5: E quando fé cumprião os dias
defte convite , convidou a todo o Povo }
cjue fé achava em Sufa defde o maior
até ao menor : e ordenou que por fete
dias fepreparafle hum banquete no átrio
do jardim , e do bofque , que eftava plan
tado de Real mão e com magnificência
Real.
6 E pendiao de todas as partes pá-
X ii ri
de Vence. Ora fcgundo a Chroriologia d'Ú(Tef i
que he a que fcmpre feguc Calmet , Datio Medo
começou a reinar no anno 559 antes da Efa Chri*
ftá: Dano filha d'Hyltafpes, noanntf 521 , Ana*
xerxes da Longa Mão , no anno 470. PEREIRA*
3 IO E S T H E S."
vilhões de cor celefte , e branca e dê
jacintho , fqftidos de cordões de finiffi-
mo linho , e de purpura , que paflavão
por anneis de marfim , e fé foftinhão em
columnas de mármore. Havia também
difpoftos leitos de ouro, e de prata fo-
bre o pavimento , femeado de efmeral-
das e de mármore de Paros : embutido
com admirável variedade de figuras.
7 E os convidados bebiao por va-
fos de ouro , e os manjares fé ferviáo
em baixella fempre differente. Servia-
fe affim mefmo vinho em abundância , e
excellente, como correfpondia á magni
ficência de hum Rei.
8 Ninguém conftrangía a beber os
que o não querião : antes tinha orde
nado o Rei que hum dos Grandes da
fuá Corte preíidifle a cada níeza , pa
ra que cada hum tomafle o de que gof-
tava.
9 (è) A Rainha Vafthi também fez
hum banquete para as mulheres no Pa-
la-
O) A Rainha rafthi, &c. Efta Faflbit julga
Ufícr, que he a Atoffa filha de Cyro, que Hero-
doto conta pela primeira das «es mulheres que dá
a Dyrio.
v V
CAPITULO I. 31 r
lacio , em que o Rei AíTuero coftumava
reíidir.
10 E ao dia fetimo, quando o Rei
eftava mais alegre , e no calor do vi
nho , que elle tinha bebido com excef-
fo , mandou a Mau man , e Bazatha , e
Harbona , e Bagatha , e Abgatha , e Ze-
thar , e Garças , fete Eunucos , que aflhr
tião ao feu ferviço,
1 1 que introdu ziíTem á prefença do
Rei a Rainha Vafthi , com o feu dia
dema na cabeça, p ara que todos osfeus
Povos , e Grandes da Corte riflem a
lua belleza : porque era em extremo fer-
mofa.
12 Porém ella recufou obedecer, e
fé dedignou *de ir , conforme o Rei lhe
tinha mandado intimar pelos Eunucos.
Do que irado o Rei , e todo tranfporta-
do em furor,
13 confultou os Sábios , que fem-
pre andavão junto da fuá peflba , con
forme o coftume ordinário de todos os
Reis, e por cujo confelho fazia elle to
das as coufas , porque fabião as Leis,-
€ Ordenações antigas :
(ora
315 .TiSTHEK.
14 (ora os primeiros e os mais pró
ximos eráo Caríena, eSethar, eAdma-
tha , e Tharíls , e Mares , e Marfana ,
e Mamucan , que erao os fete principaes
dos Perfas , e dos Medos , que nunca
perdiao de vifta o Rei, e que cofluma-
vão fer os primeiros , que fé aflentavão
go pé delle) \
i f a que pena eftava fujeita a Rai
nha Vafthi , por não haver obedecido
i ordem delRei AíTuero, que lhe havia
enviado pelos Eunucos.
1 6 E refpondeo Mamucan em pré-
fença do Rei , e dos Grandes : A Rai
nha Vafthi não fomente ofíendeo ao
Rei , mas também a todos os Povos,
e a todos os Príncipes, que ha por to*
(Ias as Províncias do Rei Afluero.
17 Porque o que fez a Rainha che
gará á noticia de todas as mulheres ,
para. que tenhão em pouco a fcus mari
dos. , e digão : O Rei Afluero mandou
vir a Rainha Vafthi á fuá prefença , e
ella não quiz,
1 8 E á fuá imitação as mulheres de
ps Perlas e Medos defprezaráój
os
l
CAPITULO I. 313
os mandados de feus maridos : o que
fuppofto a ira do Rei he juftiíUma.
19 Se he pois do teu agrado , f^ze
que fé publique hum edi£lo , e que fç
eícreva conforme a Lei dos Perfas c
Medos, (c) que não hepermittido vio
lar , que a Rainha Vafthi não torne a.
entrar já mais á prefença do Rei , fenão
que receba o feu Reino outra , que feja
melhor que ella.
10 E ifto feja publicado por todo
o dominio das tuas Provincias (que he
mui dilatado) e todas as mulheres tan
to de Grandes , como de pequenos da
rão honra a feus maridos :
2 1 pareceo bem o confelho ao Rei ,
e aos Grandes : e o Rei o fez conforme
ao confelho de Mamucan.
2,2 E enviou Cartas a todas as Pro
vincias do feu Reino, em diverfas lin-
guas, e carafteres, conforme cada Na
ção
(c) Que não be pemittido violar. Eftas Leis fé
faziáo com cercas folemnidades , e com o confen-
timento dos Grandes , e Confelheiros ; e não po-
diáo desfazer-fe , nem ainda pelo mefmo Rei. Na
hiftoria de Daniel , Cap. IV. fé pôde ver hum
exemplo fetnclhantc. PEREIRA. ' •' j
E S T H E R.'
çao o pudeíTe entender , e ler , dizendo ,
que os maridos são os fenhores , e os
fuperioresjem fuás cafas: e que ifto fé
publicafle por todos os Povos.
CAPITULO H.
EJlher vem afer Effofa tfAJpuero. Mar-
doqueo âefcobre a conjuração de deus
Eunucos.
i T)- Afiadas aífim as coufas , quan-
JL do a ira do Rei era já appla-
cada , (a} lembrou-fe elle de Vafthi,
e do que ella tinha feito , e do que ti
nha padecido:
i ( b ) e diflerao-lhe os Criados do
Rei , e feus Miniftros : Bufquem-fe para
o Rei donzellas , que fejão virgens e
fermofas ,
3 e enviem-íe por todas as Provín
cias pefíbas que efcolhao donzellas de
bom
(<f) Lembrou-ft tile de yajlhi,'&c. Lembiou-
fc ao que parece, com faucadcs delia, c inclinado
8 tornalla a admittir. PEREIKA.
( b ) E díjjerão-lhe os Criados do Rei , &c. Te-
nscndo Tcro dúvida , que clle não tornafle a chamai
para O thalamo a Vaíthi. PEREIRA,
CAPITULO II. 315"
bom parecer e virgens : e tragão-as á
Cidade de Sufa , e ponhão-fe na cafa
(c) das mulheres em poder do Eunuco
Egèo , que eftá encarregado de guardar
as mulheres do Rei : e apromptem-fe-
Ihes todos os feus atavios , e o mais que
houverem mifter.
4 E aquella que entre todas mais
agradar aos olhos do Rei, efía fera Rai
nha em lugar de Vafthi. Agradou eftc
parecer ao Rei : e mandou-lhes que fi-
zeflem, conforme tinhão aconfelhado.
5 Havia na Cidade de Sufa hum
homem Judeo , por nome Mardoqueo ,
filho de Jair , filho de Semei , filho de
CiSj da linhagem de Jemini,
que
(f) Das mulheres, <b-c. Havia duas habitações,
ou Palácios fcparados ; hum para as virgens , ou
tro para as concubinas do Rei : cada hum tinha
hum Eunuco por Governador, ou Prefeito, como
fé vê do verf. 14. Ifto que aconfelháo aqui a Af-
fuero , parece que eftá todavia cm ufo na Pcrfia,
Os Reis tem hum Palácio que chamáo Haram , que
he como o Serralho na Turquia , onde náo cntráo
íenáo as que são virgens ; e quando fé fabe que
em toda a extensão do Império ha alguma de ex
traordinária belleza , a pedem para o Haram , a cu
jo viciuno nenhuma já mais íc nega. PEHEIAA.
E S T H E R.
—— 6 (d) que tinha íído trasladado de
Anno Jerufalem naquelle tempo , que Nabu-
doM. codonofor Rei de Babylonia tinha fei-
anf^ic to levar Para e^â Cidade ajeconias Rei
J.Chr. dejuda.
59p. 7 Tinha elle criado huma filha de
feu irmão , chamada Edifla , e por ou-
tro nome Éflher : e que tinha perdido
e mai : era em extremo fermofa,
anr. de e engraçada. E havendo falecido feu
J. Chr. paj ? e fua mgj ? Mardoqueo a tinha ado-
ptado por filha.
8 Como pois por toda a parte fé
tivefle publicado o mandado do Rei,
e fé trouxeíTem a Sufa^ muitas donzellas
' fer-
(á) Que tinha fido trasladado, &-T. Do tempo
do cativeiro de Jeconias Rei de Juda até o princi
pio do Reinado d'Artaxerxes da Longa Mio , de
correrão pela Chronologia d* UíTer cento e vinte
nove anniis. Como Mardoqueo em todo o Livro
d'Efther apparece numa idade ainda robu(ta , e flo
rente , como hum homem que fervia na Cone de
Primeiro Miniftro d'Afluero , querem os Authores
da terceira opinião , que aquclle que no prefentc
lugar fé diz que fora tranfportado de Jerufalem pa
ra Babylonía com Jeconias , não fofle o mefmo
Mardoqueo, mas feu bifavô Cis. E Duhamel ad
verte , que pelo Original Hcbreo fé não pôde de
terminar de qual dos dous fé íallc. PKKEIRA.
CAPITULO II. 317
fermoílífimas , e fé entregaíTem ao Eu
nuco Egeo ; trouxerão-lhe também entre
as outras a Efther , para fer guardada
com as mulheres.
9 Ella lhe agradou , e achou graça
cm feus olhos. E mandou a hum Eunu
co , que fé déíTe prefla aos enfeites, e
lhe déíTe o que lhe pertencia , c fete
donzellas das de melhor parecer da ca
ía do Rei, e que attendefle ao adorno
e bom tratamento aflim delia , como
das fuás criadas.
10 Efther não lhe quiz dizer de que
terra nem de que Nação era : porque
Mardoqueo lhe tinha ordenado , que
guardaífe niflb hum grande fegredo:
1 1 elle todos os dias pafleava dian
te do veftibulo da cafa , onde eftavão
guardadas as virgens efcolhidas , cuida-
dofo do eftado em que fé acharia Ef
ther , e defejofo de faber o que lhe a-
conteceria.
12 E quando chegou o tempo em
que cada huma das donzellas peia fuá
ordem devia fer aprefentada ao Rei, e
concluídas todas as coufas que corref-
pon-
318 E S T H E R.
pondião ao feu adorno , hia já correndo
o mez duodécimo: porquanto, por féis
mezes fé ungirão com óleo de myrrha ,
e por outros féis ufavão de certos un
guentos e aromas.
13 E quando fé havião de aprefen-
tar ao Rei lhes davão tudo quanto pe-
dião concernente^ao feu adorno , e ata-
viando-fe a feu gofto , defde a habita
ção das mulheres paíTavão á camará do
Rei.
14 E a que havia entrado á noite,
fahia pela manhã, e dalli era levada a
outra fegunda habitação, que eftava ao
cuidado do Eunuco Sufagazi, que tinha
o governo das Concubinas do Rei : e
não podia já voltar de novo ao Rei , fé
o Rei o não quizeíTe , e por leu nome
a mandaffe vir.
15- Paffado pois hum certo tempo,
eftava já próximo o dia , em que devia
fer aprefentada ao Rei Efther , filha de
Abigail , irmão de Mardoqueo , á qual
efte havia adoptado por filha. Não pe-
dio ella nada para fé ataviar ; mas o
Eunuco Egeo, que"tinha infpecção fobre
as
CAUTULO II.
as donzellas , lhe deo o que quiz para
que fé cnfeitaíTe. Porque era dehum ar
mui fermofo , e de incrivel belleza , c
parecia aos oJhos de todos engraçada,
e amável. ___-
1 6 Foi pois levada á camará do T
Rei AíTuero no decimo mez , chamado j0 jvi.
Tebeth, nofetimo anno *lofeu reinado. 3490.
17 O Rei a amou mais do que a "nt-clc
todas as outras mulheres , e ella achou ' *
graça , e favor diante delle mais que
todas as mulheres , e poz fobre a lua
cabeça a Coroa Real , e a fez Rainha
em lugar de Vafthi.
1 8 E mandou que fé preparaITe hum
banquete Ynagnifícentiífimo para todos
os Grandes , e para os feus criados pé-,
Io cafamento, e vodas d'Efther. Econ-j
cedeo allivio a todas as Provincias , e .
fez donativos dignos da magnificência'
d'hum tão grande Príncipe, ..'
19 (e) E em quanto afegunda vez
fé
(e") E em qa<tnto afegunda vez fé bufcavão v/r-
fenj , <&c. Elta diligencia que fé diz fazcr-fc era
Dufca de donzellas por iodo o Império fé chama
ftgundit , e diz relação á primeira , executada an
tes da» vodas da Rainha Vafthi ; e a Efciituia a
J2O / E S f H E K.
febufcavao virgens, e feajuntavão num
rhefmo lugar , efteve Mardoqueo fempre
áffiftindo á porta do Rei :
ao Efther , conforme a fuá ordem ,
com tudo não havia ainda manifeftado
a fuá pátria , e Nação. Porque Efther
cumpria pontualmente quanto elle man
dava: e tudo fazia do mefmo modo que
coftumava fazello , quando fendo meni
na a criava. ' .
21 Naquelle tempo pois em que
Mardoqueo eftava aporta do Rei, moG-
trarão-fe mal contentes (/) Bagathan ,
e Tharés dois Eunucos do Rei , que
erao
. f•
repete aqui de novo , para que pofla entcnder-fe o
modo com que fé defcobrio por Mardoqueo a conf-
piraçáo que vai a defcobrir-fe dos dois Eunucos
contra a vida do Rei AiTuero, A principal cauía
do ódio implacável , que Aman concebeo contra
elle , como fc dcprehende do Cap. XII. verf. 6.
foi que os dois Eunucos erao Íntimos amigos feus,
c tinháo concertado com elle tirar a vida a AlTue-
ro , para lhe pôr a Coroa na cabeça. Daqui de
pende todo efte 'grande íbcceiTo , que tem por
objeíto a Liberdade dos Judeos , e he a matéria
dcfte Livro. PEREIRA.
(/) Bagathan , e Tbarés , &c. A amiga Ver
são ítala os nomêa , £artbageo e Tbidetlts. CA w
HET.
.CAPITULO II. 321
erao Porteiros, c cuidavão da primeira
entrada do Palácio : e intentarão levan*
tar-fe contra o Rei , e matallo.
22, O que defcobrio Mardoqueo, e
immediatamente deo diíTo parte á Rai*
nhã Efther : e ella ao Rei em nome
de Mardoqueo , que ihe havia dado
avifo. '-.>«•,...::
•'23 Fizerão-fe as averiguações, e fé
achou fer verdade : e ambos morrerão
em huma forca. E tudo foi regiftado nas
Hiftorias , e pofto nos Annaes na pre-
fença do Rei. a f
s CAPITULO IIL
"Exaltação d*Aman. Ofeu ódio contra Mar
doqueo.- Aman alcança hum ediRo d<t
Rei , em que fé manda-vão matar todos
os Judetfs fujeitos a Ajjuero.
• i T\ Epois difto exaltou o Rei Af-
JL/ íuero a Aman filho d' Ama-
dathi, (a) que era da linhagem d'Agag:
* (<0 Qúf tfA àA linhagem &' Agag. Quer dizer ,
que era Amalecita , e delcendentc do tamoío Rei
Âgag , a quem Saul vcnceo , e a quem Samuel
fez em quartos. I. Keg. Gap. XV. CALMET.
E S T H E R.
e poz o feu aflento fobre todos os Prín
cipes que tinha. .
2 E todos os fervos do Rei , que
eftavão aporta do Palácio, dobravão os
joelhos diante d'Aman , e o adorarão:
porque aflím o tinha mandado o Impe
rador r fó Mardoqueo não dobrava os
joelhos diante delle, nem o adorava. /•
3 E os fervos do Rei , que prefi-
dião ás portas do Palácio, lhe diíFerãot
Porque não cumpres as ordens do Rei
como os outros?
4 E depois de lhe dizerem ifto mui
tas vezes, vendo queelle os não queria
ouvir , diflerão-no a Aman , querendo
faber fé elie perfiftiria nefta refolução:
porque lhes tinha dito que elle era Ju-
deo. -.t^-l -.„...
5- O que ouvido por Aman , e ten
do conhecido por experiência que Mar
doqueo não dobrava os joelhos diante
delle , e não o adorava , concebeo gran
de ira ,
6 mas elle reputava por nada em
pregar as fuás mãos fó em Mardoqueo :
porque tinha ouvido que era Judeo de
Na-
CAPITULO III. 313
Nação : e quiz antes acabar com toda
á Nação dos Judeos , que afliftiao no
Reino d'AíTuero.
7 No anno duodécimo do Reina-
do d'Afluero , no primeiro mez ( chá- do
toado Nifan ) (b) foi diante d' Aman *>4
lançada na urna a forte , que em He- j Q
breo fé chamava Phur , para fé faber 5io.
em que dia e em que mez fé devia ma
tar toda a Nação Judaica : e cahio a
forte no duodécimo mez , chamado
Adar.
8 Então diíTe Aman ao Rei AíTue-
ro : Ha hum Povo difperfo por todas
Tom. VIII. Y as
(i>) .Foi diante £ Amán larícad/t tia urna a for-
tt. Os Pcrfas , e outras muitas Nações pcrtendiáò
conhecer o bom , ou máo fucceflb dos negócios •
por meio das forces aflim como os Romanos pelos
agouros , e arufpicios í Sc as couías fuccedêráo
com a mefma orderri com quê aqui fé referem ,
fc vê claramente que Aman lançou a forte ao dia
cm que haviáo de perecer todos os Judeos antes
de dar parte ao Rei do feu projecto. Ta! he o ca-
raíier de hum Miniftró , quê chega á dominar o
tfpirito do feu Soberano: conta deíde lo^o com o
feu confcntimento ; e aílim ou lhe encobre muitas
vezes os negócios , ou fé julga que he necelTario
fallar-lhe nelles , riáo lhe falia , féháõ depois dtf
haver difpolto tudo para a execução. PEREIRA.
324 E S T H E R.
as Províncias do teu Reino , e fepara-
dp entre li mutuamente , que prática
novas Leis e ceremonias, e que demais
a mais defpreza as ordenações do Rei.
E tu fabes muito bem que he do in-
terefle do teu Reino não íbffrer que a
licença o torne ainda mais infolente.
9 Ordena logo , fé te praz, que
elle pereça , e eu pagarei aos The-
foureiros do teu Erário dez mil talen
tos.
10 Então o Rei tirou do feu dedo
o annel , que coftumava trazer , e o deo
a Aman filho d'Amadathi da linhagem
d'Agag, inimigo dos Judeos, .
1 1 e difle-Ihe : Guarda para ti a
prata , que me offereces , e no tocante
ao Povo faze o que quizeres.
Anno 12, E forão chamados os Secretários
do M. do Rej no mez prjmeiro de Nífan, no
Im. d'c ^'a freze ^° memio mez : e foi efcrito ,
J. Chr. como tinha ordenado Aman, a todos os
5°i»' Sa'trapas do Rei , e aos Juizes das Pro
víncias , e das diverfas Nações, como
cada huma delias o podia ler , e ouvir
conforme a variedade de Linguas em
no-
CAPITULO III. 32 f
nome do Rei Afluero : e as Cartas fel-
Jadas com o feu annel ,
13 forão enviadas pelos Correios
do Rei a todas as Províncias 5 para que
mataflem e acabaflem com todos os Ju-
deos , dês de o menino até ó velho,
meninos , e mulheres , em hum mefmo
dia , ifto he , a treze do mez, duodéci
mo, que fé chama Adar, e faqueaflem
os feus bens.
14 E efta era a fubftancia das Car
tas, para que todas as Províncias ofoU-
belfem , e fé preveniíTem para o dito
dia.
i? Os Correios , que fé enviarão,
fé apreflavão a cumprir a ordem do Rei.
E logo fé affixou em Sufa o Edidlo, a
tempo que o Rei e Aman fazião ban
quete , e que todos os Judeos , que ha
via na Cidade , fé debulharão em la
grimas.
Yii CA-
E S T H E B.
CAPITULO IV.
Confternação dos Judeos. Mardoqueo in
forma a EJiher do que fé pajjava. Ella
fé difpõe a ir faliar ao Rei.
CAPITULO V.
EJlher fé prefenta diante cPAffuero, Con
vida-o a que venha ao banquete , que
ella lhe tem preparado. Aman toma re-
folução defazer pendurar a Mardoqueo.
CAPITULO VI.
Honras feitas a Mardoqueo. Confusão
d' Aman.
CAPITULO VIL
Defcobre Efther ao Rei a damnada refo-
lução d"1 Aman. He Aman pendurado no
mefmo patíbulo , que tinha mandado le
vantar para Mardoqueo.
C A P I T U L O VLII.
Exaltação de Mardoqueo. Editto a faiior .
*'•'-' \ - .- dos Juàos,
. • • i.
i 7VT ^ rnefrtto dia doou o Rei Af-
JL^I fuero á Rainha Efther a cafa
d*Aman inimigo dos Judeos, e Mardo
queo foi prefentado ao Rei. Porque Ef
ther lhe tinha confelTado que elle era
feu tio paterno. . ;
2, E o Rei tomou (a") o annel , que
Tom. VIII. •=: Z < ti-
i
(*)0 annet qoe tinha mandado titar a Amtin.
Alguns entendem que efte annel tode o fello que
Aman tinha como Chanceller do Império , para
íeJlar os Ediflos , e Canas do Rei; c outros jtílv
34O ." ' E S T H E R. ''
tinha mandado tirar a Aman , e o deo
a Mardoqueo. Efther fez também a Mar-
doqueo Intendente da fuá cafa.
3 E não contente com iíto , ella fé
lançou aos pés do Rei , e com lagrimas
lhe fallou e pedio , que défle ordem,
para que não tivefle effeito o máo defi-
gnio de Aman filho de Agag , nem as
fuás iníquas maquinações , que havia ex-
cogitado contra os Judeos.
4 E o Rei fegundo o cofiume ef-
tendeo com a fuá mão para ella o fce-
ptro d'ouro , para lhe dar moftras de
clemência : e levantando-fe ella, fepoz
em pé diante do Rei,
5T e difle : Se affim apraz ao Rei,
e fé tenho achado graça nos feus olhos ,
e não lhe parece fer injufto o meu ro
go , fupplíco , que com novas cartas
fejao revogadas as primeiras de Aman,
perfeguidor e inimigo dos Judeos, com
as quaes mandava que foliem eftes ex
terminados em todas as Províncias do
Rei. Por-
gáo foíTe hum atinei que os Reis Perfas cofluma-
vão dar aos Grandes da fuá corte , cm final (k
CAPITULO VIII. .1
6 Porque como poderei eu foffrer a
matança e eftrago do meu Povo?
7 E o Rei Afluero refpondeo á
Rainha Efther , e ao Judeo Mardoqueo :
Eu doei a Efther a cafa d'Aman , e a
clle (b} mandei-o pregar numa Cruz,
porque fé atreveo a eftender a fuá mão
contra ,os Judeos.
8 Efcrevei pois aos Judeos em no*
2 ii me
M/tnAei-o fregar nuntí Cruz. Alguns Iti-
tcrprctcs duvidarão , fc o fupplicio da Cruz era
u fado entre os Pcrfas. Mas além dcfte lugar , em
que a Vulgata Latina diz exprefTamente , & ipfunt
juffi &ffigi critci ; o Rei Dario no feu Decreto pe
la reedificaçáo do Templo de Jerufalem , que le
mos no primeiro Livro de Efdras Cap. Vi. , v. n.
manda que os que o contravierem , fejáo pregados
rum páo , que fé tirará de fuá cafa. Tollatur li-
fnum de domo ipfius , & erigatur , &• cenfigàtui'
tn co. E na Hiítoria dllcrojoto temos a Oroetes
Governador do mefmo Dario , mandando crucifi
car a Folycrátes de Samos. Finalmente , por huma
Lei de Theodofio o Moço , que vem no Livro
XVI. do feu Código , Titulo VIII. fabemos que
os Judeos, depois do tempo de Cluifto, tinháo o
coftume de queimar numa das fuás Fcftas huma
figura d'Aman , e com ella huma Cruz , como em-
memória daquelía , que dle tinha preparado a Mar
doqueo ; mas na realidade em derisáo da Religião*
Chrilti , e da Cruz do Salvador, PEREIRA»
34-i E S T H E R.
me do Rei, como bem vos parecer, e
fellai as cartas com o meu annel. Por
que efte era o coftume , que ninguém
fé atrevia a oppôr-fe ás cartas, que fé
cnviavao em nome do Rei, e erão fel-
ladas com o feu annel.
9 E chamados os Secretários e Ef-
crivaes do Rei (e como então era (c)
o terceiro mez , que fé chama Siban )
e o dia vinte e três do mefmo mez (d)
forao efcritas as cartas , da maneira que
quiz Mardoqueo , e dirigidas aos Ju-
deos , e aos Príncipes , e aos Governa
dores e aos Juizes, que preíidião acen
to e vinte iete Provindas do Reino,
dês da índia até á Ethiopia , Provincia
por Provincia, e Povo por Povo, con
forme as fuás linguas e caracteres , e
aos Judeos , para que pudeíTem lellas ,
e entendellas.
10 E eílas cartas , que fé enviavao
em
(r) O terceiro mez que fé chama Siban. Efte mez
correfponde em parte ao noílo mez de Maio , e de
Junho. SACI.
( d ) Forao efcritas as cartas , <&c. O rheor def-
ta carta fé acha dento adiante Cap. XVI. PE
REIRA,
CAPITULO VIII. 343
cm nome do Rei , forão felladas com o
feu annel , e levadas pelos feus pofti-
IhÕes : os quaes difcorréndo com dili
gencia rjor todas as Províncias, preve-
nilTem as primeiras cartas com eftas fe-
gundas ordens.
11 O Rei lhes mandou ao mefmo
tempo, que em cada Cidade bufcaíTem
os Judeos , e lhes ordenaflem que fé
ajuntaíTem e fé apromptaflem todos ,
para defenderem as fuás vidas, e para
matarem e exterminarem os feus inimi
gos, (tf) com as fuás mulheres e filhos
e todas as fuás cafas, e que faqueaffcm
os feus defpojos.
12 E affinou-fe a todas as Provin-
cias hum mefmo dia para a vingança , a
faber , (f) o dia treze do duodécimo
mez chamado Adar.
E
(e) Com as fuás mulheres, &c. Efte era o cof-
tume dos Pcrfas , involvcr nas penas d hum crimi-
nofo toda a fuá família. Unius ol> noxam omnis pof-
teritas perit , diz Ammiano Marcellino. Por mui
to injuíta , e cruel que folie cita Lei , os Judeos
em a executarem contra os feus inimigos , não
obraváo fenáo por authoridade pública , e por or
dem do Príncipe. PEREIRA.
(/) O dia trgze do duodécimo mez. Era o mef-
344 E s T H B R.
. ; 13 E a fubitancia da carta foi efta,
que fé notificafle em todas as terras e
" Povos fugeitos ao domínio do Rei Af-
fuero , que os Judeos eftavão promptos
para tomarem vingança de feus inimi
gos,
14 E partirão em continente ospof-
tilhões levando os avifos , e o Edifto
do Rei foi aíExado em Sufa.
15: JMardoqueo pois fahindo do Pa
lácio , e da prefença do Rei, refplen-
decia com a Real opa cor de jacintho
e d' azul celefte , levando huma coroa
d'ouro na cabeça , e veftido d'hum man
to de feda e de purpura. E toda a Ci
dade fé encheo de regozijo , e de ale-
16 E aos Judeos parecia-lhes ter-
lhes nafcido huma -nova luz , gofto,
honra, e alvoroço.
17 Em todos os Povos , Cidades,
ç Províncias, onde chegarão as ordens
do Rei , havia huma alegria extraordi-
na.-
fno dia que cfhva determinado por Aman pau
mnw os Judeos. AHima Çap, III. v. 7,
C AT i TU L o VIII.
•tiaria, banquetes e convites, e dias de
feitas : de tal forte que muitos das ou
tras Nações e feitas abraçarão a fuá Re
ligião e ceremonias: porque o nome do
PovoJudaico tinha enchido d'hum gran
de terror a todos os efpiritos.
•-CAPITULO IX. y
Cs Judeos , fegundo a ordem do Rei , ma-
tão a todos os que tMão confpirado na
fuá perda. Inflituem huma Fejla em me
mória defte feu livramento. /
CA-
E s T H E R.
CAPITULO XIII.
Traslado da Carta do Rei enviada per
Aman aos Governadores das Provindas ,
acerca do extermínio dos Judeos ; e a.
Oraçã« de Mardoqueo pelo feu livra
mento.
CAPITULO XIV.
Luto , e pranto de Efther , a qual em ep- .
pirito de humildade faz oração ao Se
nhor.
.-
í
CAPITULO XIV. 369
za de Aman , nem me tem fervido de
gofto os convites do Rei, (f) nem te
nho bebido vinho das libações :
1 8 e que atua ferva, dês de o dia,
cm que fui trasladada para aqui até ao
prefente, nunca teve contentamento, fe-
não em ti , Senhor Deos de Abraham.
1 9 Deos forte fobre todos , ouve a
voz daquelles , que não tem nenhuma
outra efperança , e livra-nos da mão dos
iníquos , e livra-me do meu temor.
(/) Nem tenho bebido vinho das libações. En-
tcndc-íe em geral das mczas profanas , e de toda»
as libações , e coufns offerecidas fobre o Altar dos
ídolos , que expreflamente são prohibidas pela Lei.
PEREIRA.
CAPITULO XV.
Por ordem de Mardoqueo fé aprefenta Ef-
ther ao Rei , e ao vê-lo defmaia.
Também achei eftas addiçoes na edição
Vidgata.
Enviou a dizer-lhe (fem dúvi-
da que foi Mardoqueo a Efther)
pata que entraíTe á prelença.do Rei, e
lhe
370 E s T H E a."
lhe rogaíTe pelo feu Povo e pela fttâ
pátria.
^ Lembra-te (lhe diíTe) dos teus
dias humildes , e de como fofte criada
pela minha mão , pofto que Aman , que
he ofegundo depois do Rei, tem falia-
do contra nós para nos fazer morrer:
• 3 tu pois invoca ao Senhor, e falia
por nós 'ao Rei , e livra-nos da morte.
E cijjim mefmo também o que fé fegtte.
4 E no dia terceiro deixou ella os
veftidos do feu luro, e adornou-fe cora
os da fuá gloria.
í E brilhando nefte traje real , e
invocando a Deos , que he Governador
e Salvador de todos , tomou duas das
fuás Criadas ,
6 e fé hia firmando fobre huma,
como fé por delicadeza e demaziada de
bilidade não pode/Te fufter feu corpo:
7 e a outra Criada hia detrás de
fuá Senhora , levando-lhe a cauda que
hia arraftando pela terra.
8 E ella banhado feu rofto em hu
ma viva cor de rofa , e com os olhos
engraçados e brilhantes , occultava a
tnf-
•
APÍTULO
triftéza do feu coração , penetrado dei
lium vivo temor.
9 E tendo paliado huma por huma
todas as portas , fé poz defronte do
Rei , onde elle eftava fentado fobre o
folio do feu Reino , veftido de manta
real , e refplendecendo com o ouro, e
pedras preciofas , e õ feu afpe&o era
terrível.
10 E haverido levantado o rofto, é
manifeftado em fé us olhos fcintillantes
o furor do feu peito, defmaiou a Rai-5
nhã , e trõcando-fe a fuá cor em palli-
dez , deixou cahir a fuá cabeça vacillany
te fobre a Criada.
1 1 Mas Deos trocou em clemência
o coração do Rei , e aprefurado e tc-
merofo faltou do throno , e fuftendo-*
com feus braços, até que tornou emíi^
a animava com eftas palavras j
12 Que tens, Eíther? (a) Eufoti
teu irmão, não temas.
í 3 Não morrerás : pofqtié eftai Lei
Tom. VÍIÍ. Bb não
Ía*)Eufoti teu irmão. Palavras áeqiíe afã aSa-J
grada Efcritura para fignificar ornais cíireitò amor,
affirn como nos Cantares VIIK l. oEfpofo chama
InAá á Efpofa Santa. PEREIRA.
371 E S T H E R.
não foi eftabelecida para ti , fenão para
todos.
14 Chega-te pois , e toca o íce-
ptro.
15: E como ella não fallaffe , tomou
a vara de ouro , e poz-lha fobre b feu
collo , e beijou-a, e diíTe : Porque não
me falias a mim ?
1 6 Ella lhe refpondeo : Eu te vi,
Senhor , como hum Anjo de Deos , e o
meu coração fé turbou com o temor da
tua mageftade.
17 Porque tu , Senhor , es em extre
mo admirável , e o teu rofto eftá cheio
de graças.
1 8 E eftando ainda fallando , def-
maiou de novo , e ficou quaii fem fen-
tidos.
,19 E o Rei fé perturbava j e todos
os feus Miniftros a confolavão.
CA-
È S T lí E R.
CAPITULO XVI.
Carta de Affaero pelo livramento dos Ju*
deos , e extermínio dos feus inimigos ení
todas as Prurineias do Reino , annullando
a carta de Aman;
DO LlVRO DE E S THE R.
PRÉ-
3 Só
P R E F A" Ç AO
AO LIVRO
D E
J O B.
A Sentença commummente recebi
da entre os Padres da igreja, e Ex-
poíítores tem que Job tão célebre
pela fuá virtude , e paciência , habitara
na terra de Hus fronteira á Iduméa , e
á Arábia , que julgão verdadeiramente
fer ao Oriente do Jordão , e da terra
de Galaad, nas vizinhanças da Cidade
de Bofra , na Província conhecida pelos
Antigos debaixo do nome de Auíltide
na Iduméa , e que oJobab , de que fé fal
ia no Genefis Cap. XXXVI. verfo 33.
lie o mefmo Job : que fuá mai foi Bof
ra , e feu pai Zara filho de Rahuel, c
neto de Efaú , e que fé deve contar o
quinto na defcendencia dê Abrahão , e
por tanto contemporâneo de Moyfés ,
o que combina com hum Additamento
antiquiílímo , que pofto fé não acha ho
je no Hebreo , nem a Igreja o repute
- Ca-
PREFAqXo. gSl
Canónico, he com tudo de fumma au-
thoridade , e fé , vifto achar-fe na Ver
são dos Setenta , que allega com a Sy-
riaca , e na de Theodocio, e viíto ter
paíTado deites para a Vulgata ítala., de
que os Padres Latinos ufárão por mui
tos feculos. E aífim a opinião , que em
noffbs dias propozerao alguns Críticos
de França , que Job vivera em tempo
do cativeiro de Babylonia , foi jufta-
mente impugnada pelo Abbade de Ven
ce , e por outros.
Sobre quem fora o Efcritor defte
Livro , ha diverfas opiniões : 'huns fe-
guindo Origenes" , S. Gregorio , e ou
tros são de parecer que o mefmo Job
he quem o compozera em Arábigo,
lingua própria daquelle paiz , fundan-
do-fe nas palavras de Job referidas no
Cap. XIX. verfo 23., e Cap. XXXI.
• verfo 35". , e que fora traduzido para o
Hebreo porMoyfés. Outros pertendem
que Moyfés não foffe fomente o Tra-
duftor defte Livro , mas o feu Author ,
,e que o compozera em Madian , em ca
ía de Jethrp feu fogro , ajiguns annos
381 PREFAÇÃO.
antes da fahida do Egypto , procurando
cor. foi ar com o exemplo da paciência
de Job os líraelitas feus irmãos , que
então viviáo debaixo do pezado jugo
de Faraó.
Ha também outros que julgao fer
o Author deíte Livro pofterior a Job ,
c a Moyfés , e o attribuem huns a Sa
iam ao , e outros a Ifaias : defte fenti-
mento forão entre os Antigos S.Grego-
rio Nazianzeno, e Polycronio, e entre
os Modernos no noffo feculo Harduin ,
Jaquelot, eSpanheim. Pelo que não he
muito que Grocio fé perfuadifle , que
o Livro de Job fora efcrito depois do
tempo de David, e deSalamão; movi
do de que nefte Livro fé achão muitas
fentenças que fé encontrão também nos
Salmos, e nos Provérbios.
Foíle porém quem quer que foíTe .
o Author do Livro de Job , he fora de
toda a controverfia, que quem o efcrc-
veo foi hum Author divinamente infpi-
rado: porque nefta conta o teve fempre
a Synagoga, e a Igreja.
Algurjs Rabbinos , e Authores Ma*
der-
PREFAÇÃO. 383
dérnos , negando a exiftencia de Job ,
pertcndião que ifto que temos efcrito
delle , fofle huma Parábola , ou ficção
Poética ; mas eíte modo de penfar fc
defvanece per íi mefmo , pois as muitas
particularidades , tão circumftanciadas
que fé lem na ferie defta hiftoria , não
convém de nenhum modo a huma fim-
ples Parábola : além de que no Livro
de Tobias Cap. II. verfo 12. fé fallou
da paciência de Job , e no d'Ezechiel
Cap. XIV. verfo 14. fé conta a Job no
número dos Juftos , com Noé , e Da
niel j e Sant-Iago na fuá Epiftola Ca- •
tholica Cap. V. verfo ri. o propõem
aos Chriftaos como modelo de paciên
cia com que devem fofirer feus traba- .
lhos, e ultimamente fé acha admittido
como hum fafto , de que fé não p^de
duvidar pela confiante tradiçãp dos He-
breos, e dos Chnftãos»
JOB.
J O B.
CAPITULO I.
Origem de Job. Sua virtude. Suas rique*
zás. Deos permitte ao demónio que a
tente. Job perde osfeus bens ,- e os Jeus
filhos.
Pelos i (a) lí^^l AVIA hum Varão na ter-
anno Dffifi ra ^'Hus, (*) pornoma
do M. [l|s|||job , e era efte Varão
ant. de fíncero , e reftò , e que temia a Deos ,
J. Chr. e fé retirava do mal,
»4«4. ; E
C A P í T Ú L O II.
'fiob ferido tfhum horrofo ntaL Sua mulher1
o infulta; Seus antigos , tendo vindo pa
ra o coHfúlar , deixão-fe eflar ao pé dei*
lê , fem dizerem palavras
CA P I T U L O III.
Ijob amaldiçoa o ata dofeu nafcimentOj
e chora a fuá miferia.
CA-
1 *
(/) Por ventara nSo dljirmilei ? &c. Entendc-fe
ou no governo do meu Povo , ou noa males que
padeci. MCNOQVIO. ••- '
J o B. 397
CAPITULO IV.
Elifaz accufa a Job d1 impaciência. Suf-
tettta que o homem não pôde jer attri-
. bulado , fenão pelos feus peccados ; e que
Joé não fé deve crer innocente diante
de Deos.
CA-
Que morao em eafas de lodo, &e. Enterr-
de-fc que são formados de cerra , e expoítos á po
dridão. MENOQUIO.
(e) MorreràS, e não em fíbedoria. Ifto hej
morrerão na mel ma loucura em que viverão, fent
fabedoria, nem reflexão: nifto alludc aos Grandes
da terra , cjuc prcoccopados do feuluzimcnto , mor
rem na fuá vaidade , fetn faber diícernir o* verda
deiros bens dos males. CALKKT.
, -J O B. 4OI
C A P I T U L O V. \
JElifaz fuflenta , que a prosperidade dos
ímpios fempre be logo dijfipada. Elle exi
borta a Job a que recorra a Deos pela
penitencia.
CAPITULO VI.
Job as fuás queixas. Dejeja
morrer , por não perder a paciência.
EJiranha emfeus amigos a injujliça das
Juas accujaçõcs.
CAPITULO VIII.
Ealdadfujlenta , que as infelicidades de Job
são pena de Jeus peccados. Trata d'hy-
pocrijia a virtude de Job , e o exborta.
a que recorra a Deos.
CAPITULO IX.
Job confeffa que Deos he infinitamentejuj-
to nos feus juízos. Exalta ajabedoria ,
e o poder do Senhor. Humilha-fé , e con-
funde-le diante delle. Pede-lhe que lhe
conceda algum allivio.
CAPITULO XI.
Sofar accuja a Job de prefumpção , e âe
foberba. Exhorta-a a fé converter aã
Senhor.
CA-
(á) E te levantará pela. tarde , <&c. Quer di
zer : O refto de teus dias fcráo para ti claros e fe
lizes ; e das trevas , e efcuridáo das miferias , paf-
farás para a luz alegre das felicidades * e da con-
folaçáo. PEREIRA.
(e) Na efperanç* , ' que te propuzefte , &c. En-
tendc-fe da eíperança com que morrem os jultos
da recompenfa eterna. PEREIRA.
(/) £ aefperança delles, &t. Iftôhe, asmef-
mas couías em que puzeráo a fuá efperança , co
mo honras , e riquezas lhes feráo abomináveis , p
lhes feryira'0 de tormentos. PEKEIKA.
430 J o B.
: CAPITULO XII. .
Job reprehende emfeits amigos afalfa con
fiança que tem nos /eus conhecimentos.
Engrandece o foberano poder de Deos.
- íi < • • ~ .
CAPITULO xm.
Continua Job a defender-fe contra as ac«
eufacões defeus inimigos. Dirije a Deos
AS juas queixas. ;
CAPITULO XIV.
Expõe Job a brevidade , e as miferiaf
da vida humana. Confola-fe com a efpe-
rança da rejurreição.
CA-
Chorará fôbre fi mefmo , é^p. Depois de M
dito Job no vcrfo antecedente que- o homem de
pois de morto não terá mais conhecimento do que
refpeita a fuá família , ajunta agora que em quan
to vivo tem de padecer aíflicçóes e dores do cor
po , e d'aima , e- que efta triíir confaieraçáo o in-
clinava a preterir a morte a huma vida cheia de mi-
ferias , e qe trabalhos, PEUEIRA. •• •: •
J o B, 445
CAPITULO XV.
EUfaz accufa a Job de blasfemo. E Juf-
tenta , que os mãos fvmpre são at&rmen->
tados nefta -vida.
1 -LVJL
1V/T Eu tenho ouvido muitas
vezes femelhantes difcurfos, todos vós
fois huns confoladores importunos.
3 Acafo não fé acabarão nunca ef-
tes difcurfos de vento ? ou te dá algu
ma moleftia o fallar?
4 Eu também pudera fallar como
vós: (a} é oxalá que a voíTa alma efti-
rera em lugar da minha.
5 Eu também vos confolaria c'os
meus difcurfos , e moftraria c'o movi
mento da minha cabeça o que fentia de
vós.
Eu
( A ) E oxalá que <t voffa *lma cjlivera em /B-
gar da minha, <&~c Job não faliu alíim por cípiri»
to de vingança ou- mal volfncia , ames quer dizef
que fé elle vide os feu- amidos no eHado em qoe
elle fé achava , não obraria, nem iaH.ina como d-
ICS. PtRElKA. . •
CAPITULO XVI. 449
r 6 Eu vos fortaleceria com às rai
nhas palavras , e moveria os meus lá
bios , como compadecendo-me de vós.
. 7 Masque farei? Se eufallar, nem
por iflb fc aplacará a minha dor : e fé
eu me calar , nem por iiíò me deixará
ella.
8 Más agora me aperta a minha
dor, e todos os meus membos eílao re
duzidos a nada.
9 (b] As minhas rugas dão tefte-
munho contra mim , e fé levanta hum
calumniador para me contradizer na mi
nha cara.
10 (f) Recolheo o feu furor con
tra
As minhas rogai, <b-t. Iftohc, omeufem-
blatite macilento , c afflifto, parece favorecer aos
meus calumniadores , e moQrar que íbu caítigado
pelos meus deliátos ; porém a prova diftp he a mul
tidão das minhas dores , e os mefmos de quem eu
cfperava confolação me contradizem na minha ca
ra , o que fé deve applicar a Elifaz. PERKMIA.
( c ) Recolheo o feu furor tontra mim , «&-f. Job
começa aqui a fazer huma forte c pathetica refa-
cão dos males que padecia. Alguns Interpretes jul-
gáo que Elifaz he o cruel inimigo , de quem fé fal
ia ; mas parece que deve eftender-fe á multidão de
afflicçócs , com que o demónio pot permifsáo de
Dcos o aifiigiâ , valendo-fe paia iflo até de
45TO J O B,
tra mim , e ameaçando-me, ratigeô o*
feus dentes contra mim : com olhos ter*
riveis me olhou o meu inimigo»
li Abrirão as fuás bocas contra
mim , e cubrindo-me d'opprobrios me
ferirão no queixo, e fé fartarão das mi
nhas penas.
i z Deos me fechou debaixo do po
der do injufto, e me entregou nas mãos
dos ímpios.
13 Eu aquelle erri outro tempo tão
opulento de repente fui reduzido a pó:
tomou-me pelo pefcoço , quebrantou-
me, e poz-me por alvo dos feus tiros.
14 (d) Cercou-me com as fuás lan
ças, atraveflbu-me os rins, não me per
doou , e derramou fobre a ttrra as mi
nhas entranhas. .
1 5: Defpcdaçou-me com feridas fo
bre ferida%: lançou-fe a mim como hurn
gigante.
1 6 Levo hurh cilicio cozido fobre
a
maiores amigos. E aífim fé entende , porque huma*
vezes filia no fíngular , e outras no piorai, tanto
nefte verfo , como nos feçuinteí. PEREIRA.
(<0 Cercou-me com asfitas lanças. lítohe, cora
dores agudas. PEREIRA.
CAPITULO XVI.
a minha pelle , e cubri de cinza a mi
nha carne.
17 O meu rofto inchou á força de
chorar, e as minhas pálpebras fé efcu-
recêráo.
1 8 Padeci ifto fem maldade das mi
nhas mãos, quando euotferecia aDeos.
puras rogativas.
i 19 (e ) Terra, não cubras o meu
fangue , nem os meus clamores achem
lugar de fé efconderem no teu feio.
ao Porque eis-aqui a minha tefte-
rounha eftá noCeo, e nas alturas o que
me conhece.
21 Os meus amigos fé desfazem
em fallar : mas o meu olho fé desfaz
cm lagrimas diante de Deos. ,
i2 E oxalá fé fizera o juizo entre
Deos , e o homem , como fé faz o de
hum filho do homem com o feu vizinho.
Tom. VIII. Gg Vê
(e) Terra, não cabras o meu fangae, <frc. Eftc
fangue he o que corria das fuás chagas , tcftemu-
nho dos Teus inales e das fuás dores , por ilío roga
va á terra de o náo feccar, nem cobrir, para que,
diz Job , as minhas afflicçóes náo fejáo defconhe-
cidas dos homens , pois náo me baila que Deos
íó feja fabcdor dot meus males. SACI.
J O B.
• a 3 Vê pois que pafsão os meus bre
ves annos, (/) e eu caminho porhuma
varéda , pela qual não voltarei.
(/) E eu caminho por hama varéda , <&c. Ifto lie ,
caminho para a morte , e o tempo pelado não vol
ta. SACI.
• j , .j.'. . .; • .
CAPITULO XVII.
"Job fé queixa dosínfuítos defeus amigos,
e os exhorta a que entrem emji.
CAPITULO XVIII.
Baldad accufa a Job de defefperaçao , *
exaggera as infelicidades , e o defgra-
çado fim dos mãos.
CAPITULO XIX.
a queixar da obflinação de
feus amigos. Expõe as fuás penas.
Confoia-fe com a efperatica de rejurgir.
CAPITULO XX.
fofaf" continua em defcrever os cafllgos ,
com que Dèos pune os ímpios. f
CAPITULO XXL
Job fujlenta que os ímpios gozão muitas
vezes tfhinna longa profperidade ; e que
âefois da fuá morte be que Deos ordi
nariamente exerce as fuás vinganças
contra elie.
• ia :T7^ Refpondendo Job , diíTe :
.' ' .Ijf i Ouvi vos peço as minhas
razoes, (a) e fazei penitencia.
3 Soffrei-me , e eu fallarei, e de
pois , íe vos parecer, zombai das mi
lhas palavras.
Por
••"(4) E fazei penitencia. Iftohe, mudai de pen-
'íatnenro , íegundo lem o* Setenta , para que M
uhtt fequer de vos ejla confolação.
CAPITULO' XXI. 465»
... 4 - Por ventura he com hum homem
a minha difputa , para que não tenha
motivo de anguftiar-me ?
jT Olhai para mim , e pafmai , e
ponde p dedo fobre a voíTa boca : ;
6 E eu mefmo quando me recordo,
me aííbmbro , e eftremece toda a mi
nha carne.
7 Por que razão pois vivem os- ím
pios , porque são exaltados, e crefcenj
em riquezas? l}
8 Seus filhos fé confervão diante
delles , á fuá vifta tem huma multidap
de parentes , e de netos.
9 As fuás cafas eítão feguras, e em
paz ., e a vara de Deos não eftá fobre
elles.
10 A fuá vacca concebco , e não
abortou : pario .a fuá vacca , e não fé
lhe malogrou a fuá cria.
11 Sahem cornou manadas os-feus
filhos , e os feus pequenos faltão , e brin-
cão. '-
i> Levão."pandeiro, e alude, e fal
cão ao fom dos inítriimentos muíicos. -
Elles pafsão os feus dias em
Hh ii pr?-
470 J o B. ,
prazeres, e num inomcnto defcem á fé-
pultura.
14 Eftes são os que diflerão a Deos í
Retira-te de nos, pois nós não quere
mos conhecer os teus caminhos.
i y Quem he o Todo-poderofo, pa
ra que o firvamos? e que nos aproveita
que Jhc façamos orações ?
1 6 Mas por quanto -não eílao na
mão delles os fcus bens , longe efteja,
de mim o confelho dos ímpios. t
17 (b) Quantas vezes fé apagará
a lucerna dos ímpios, (c) e lhes fobrc-
virá inundação , e lhes repartirá as do
res do feu furor?
1 8 Serão como as palhas ao foprar
do vento , e como a cinza efpalhada
pelo redemoinho.
"-• 19 Deos refervará para feus filhos
f
(b) Quantas vezes fé ap.igtrâ a lurerna dos tm-
-fios , &c. Entende-fe da decadência da fortuna , e
profperidaJe do ímpio , para hum aby(mò de mi-
ferias , e defefires, com que Dco$ caftiga os feus
exccíTos. Também alguns Interpretes o entendem
da morte do ímpio , o que liga melhor com o Teí»
CO que fegue. PERIIRA.
(c.) £ lhes fobrevirá inundação, &c. De males,
SACI.
CAPITULO XXI. 471
a pena do pai : e quando lhe der o pa
go, (d) então eícarmentará.
10 Verão os feus próprios olhos a
fuá total ruina, e do furor do Omnipo
tente beberá.
21 Pois que fé lhe dá a elle do que
fjrá feito da fuá cafa depois da fuá mor
te? e que Ocos corte pela ametade (e)
o número dos fcus mezes?
12 Acafo pertenderá alguém enfi-
nar alguma couia a Deos, que julga os
mais elevados?
23 Hum morre robufto e são, rico
e feliz.
24 As fuás entranhas eírão cheias
de gordura , e os feus oíTos eítão rega
dos de tutanos:
25 Outro porém morre em amargu
ra da fuá alma fem bens alguns.
E
(á) Então efcarmentarã. Ifto he, quando o pai
vir p.los feus crimes caftigado o (eu filho , então
conhecerá que cxiftc huma Providencia , que .vi
gia (obre todis as acções dos homens , e huma
JultiçM que caftiga os peccaJores. PEREIRA.
( e ) O niimtro dos feus mezts ? Dos mezes de
quem ? Dos mezes de icus filhos , expõem de Cat-
rteies, c Calmet, os quaes fuppõem que cite vct*
fo 21 depende do mio iy. PEREIRA.
471 J o B.
26 E todavia ambos clles dormem
igualmente no pó , e os bichos os co
merão.
- 27 (/) Eu conheço bem os voflbs
pcnfamentos , e injuftos juizos contra
mim.
a8 Porque vós dizeis : Onde eftá a
cafa defte Príncipe ? e onde as tendas
dos ímpios?
39 (g) Perguntai a qualquer dos
viandantes, e fabereis qae elle entende
ifto mefmo.
c 30 Porque o máo he refervado pa
ra
(/) Eu conheço bem os voj/bs ptnfamentos, érc.
Job vai a refpondcr nefte vcrfo c feguintes á ob
jecção qucfeus amigos Ihcpodiáo cppôr , que hc:
fendo vcrdnde que Deos concede aos ímpios dila
tadas profperidades , dizei-nos que fim tiveráo ef-
fes Tyrannos , cflcs ímpios , que tio grande brado
dcrão durante a lua vida ? não fé fabe que eflci
mor-cráo debaixo'da máo de Deos? CALNET.
(^) Perguntai, &c. Segue-fe a refpoít» de
Job j que diz : Perguntai a qualquer paflageiio ,
aos mefmos que tem decorrido mais Provindas , c
clles vos refponderáó , que fé encontrão muitos
ímpios opulentos , como também muitos homens
recíos na defgraça. O ímpio ainda que nelta vida
tenha profperidades , fica-lhe refervado para o dia
da perdição o caftigo de feus crimes , como Job
diz no veria íeguinte. CALMET. ...
CAÍITULO XXI. 475
rã o dia da perdição, e fera conduzido
ao dia do furor.
31 Quem -accufará diante delle o
feu caminho ? e quem lhe dará o pago
do que fez ?
32 Elle mefmo fera levado aos fe-
pulcros , e eftará vigilante no montão
dos mortos.
33 (&) Doce foi elle ás áreas do
Cocyto, e arraftará atrás de íi todo o ho
mem , e diante de fi a innumeraveis.
34 Comopois meconfolaisemvão,
tendo-fe vifto que as vofías refpoftas fé
oppõem á verdade ?
CA-
Doce foi elle ás areAÍ ao Cocyto. O Cocyto
hc hum dos rios fabulofos , que banhío O Infer
no , ícgundo a opinião dos Poetas : e Homero faz
fer o Cocyto hjim dos ramos da Eflygc. S. Jcro-
nymo mctteo na Aia Traducçáo ctte termo para
dcíignar a defcida do ímpio ao Inferno. Mas nem
o Hebreu , nem as Versões Gregas dizem algo
deite rio. Nem parece crivei que Job alludifle a
huma fabula, cuja invenção feíuppóe que foi mui
to pottctior a elle. CAI.MKT.
474 i J o B.
CAPITULO XXII.
E/ifaz reprebende a Job-de criminofo , e
0 exborta a que fé converta ao Senhor.
CAPITULO XXIIL
Defcja prefentar-fe fjob no Tribunal Di-
•uino , e apparecer nelle apoiado pelo Me
diador , em quem elle ejpera. He tficado
de confiança , de temor , e de reconheci
mento.
CAPITULO XXIV.
Job fuflenta que o crime fica muitas vrzcs
, émputíido nefta vida , forque Deos guar
da ordinariamente a vingança faro, de
pois da morte.
.j
O Todo-poderofo os tempos
não são occultos: (a) mas os
que o conhecem a elle , ignorao os feus
dias:
•2, (í>) Huns paflarão além dos li
mites , roubarão rebanhos , e os apaícen-
tárao.
3 Levarão o jumento dos pupillos ,
e tomarão em penhor o boi da viuva.
4 Tranftornárao o caminho dos po
r • • • :. . -
bres,
. *
CAPITULO XXVI.
Job exalta a grandeza , e poder do Se
nhor.
CA-
(f ) 'A coiro, tortoefa. Sobre qual feja cfta fer-
pente tortuofa, formada nos Ceos, ha grande va
riedade de parecerei. Huns querem que feja o de-
tnonio , que Deos creou pelo feu poder, e preci
pitou pela fuá juftiça. Affim os Setenta Interpre
tes , e S. Grcgorio Magno. Outros que Yeja o Dra
gão , ou monftro marinho, AfllmCalmet, feguin-
do a Malvenda. Outros que feja aquelle complexo
de certas eftrellas, que chamáo PiaLaftea, e que
forma a figura d'huma ferpente. Aflim o Padre
de Carriercs. Outros outras coufcs mui divcrfas.
PEREIRA. ••
J o B.
CAPITULO XXVII.
pfrfijle em defender a fuá innocencía.
Expõe es infortúnios que ameação ao
bypocrita , e ao ímpio.
CA
CO .E lançara fobrelle, <&c. Iftohe, Deos lan-
ç/trá Jobre o ímpio males /obre males, e não lhe per
doará : fará todo o poffivel parafugir das(nas mãos ,
m*s inutilmente. PEREIRA.
(O Batera fobrelle as fuás mãos , &c. Por cf-
tarnco, e admirando os juíios juízos dehuraDetM
vingador dos fcus aggravos. PEREIRA.
J o B. 497
CAPITULO XXVIII. ..
Job averiguando a origem , o principio ,
e a fonte da fuá fabedoria.
CA-
opiniões , c tradições que correm no vulgo , como
noutra fane advertimos , expondo os Salmos. PE»
BEIRA.
(/) NHo cahiA no chão. Qacr dizer , que qual
quer ar d'agrado nos olhos , que elle mothaffe,
nada paliava por alto aos circumltantcí. FERE IRA.
J o B.
CAPITULO XXX.
Defcreiie Job o deplorável ejlado em que
cabio.
CAPITULO XXXII.
Eliú accufa a feus amigas âefaltos defa-
bedoria , e exalta a Jua própria capaci
dade.
CAPITULO XXXIV.
Eliú accufa a Job de blasfemo. Engran
dece ajujíiça infinita de Deos , a fuá.
fabedori* , o feu poder.
CAPITULO XXXV.
Pr'ofegue Eliú em calumniar a Job. Suf-
tènta , que para conveniência dos homens
eftd Deos Jempre attento a premiar o
bem, e cajiigar o mal. Exhorta ajob,
que previna afeveridade da Divina Juf-
tiça.
CA-
Que deo ctnfití n* noite. A canção n» noi
te hc a alegria na tribulação. S. GRCGOKIO.
J ó B.
CAPITULO XXXVI.
Infifle ainda Elhí em defender a equidade
dos juiz-of de Deos. Exhorta a jfofc a
que fe aproveite das penalidades , com
que Deos o cajliga. Exalça e poder de
CA-
Í44 ,.' J o »•
CAPITULO xxxvrr.
Continua Eliú em defcrewr os efeitos d»
poder , e da fabedoria de Deos.
CA-
ítnende o gálio ', e ó inftinfto que Deos lhe deo
para cantar ao meio dia, á meia noite, e ao ama
nhecer. Os Setenta vertem : Quem deo á. mulher a
une de tecer t e afciencia de bordtri
J o B.
CAPITULO XXXIY.
Continua o Senhor a moftrar a 'Job quan
to vai da creatura ao Creador. Job ré-
conhece afuá baixeza ,efe condemna a»
Jilencio.
CAPITULOXL.
Contim/a ainda o Senhor a woflrar a ^ob
a diftftncia da creatura ao Creador. Def-
cripção de Bebemoth , e de Leviathan.
CAPITULO XLI.
Continua-fe em deferever a Le-viathan.
..CAPITULO XLII.
Job fé humilha diante do Senhor. O Se
nhor reprehende os três antigos de Job.
Job lhe roga por elles. Reftabelecimeri*
to de Job. A fuá morte. ,
»
,
r
M-