Você está na página 1de 8

Transmissão das obrigações (art.

286 a 303)

A relaçã o obrigacional admite alteraçõ es nos elementos essenciais


(objeto ou conteú do; sujeito ativo ou passivo). A mudança no conteú do (por
exemplo, sub-rogaçã o real) será estudada oportunamente.

Conquista do direito moderno, a transmissã o da obrigaçã o de um


sujeito pode ser representada por uma sucessã o ativa (credor) ou passiva
(se atinente ao devedor), a qual nã o altera de forma alguma a substâ ncia da
relaçã o jurídica, que permanece intacta.

Digo que foi conquista do direito moderno, uma vez que no Direito
Romano, nã o se admita a transferência de relaçõ es obrigacionais, pois
tratava a obrigaçã o como um vínculo extremamente pessoal, com exceçã o da
sucessã o hereditá ria (causa mortis).

Atualmente, nã o há qualquer dificuldade, a livre transferência das


obrigaçõ es é aceita no ordenamento jurídico, tendo por precípua finalidade
a circulaçã o de riquezas (desconto bancá rio), tã o necessá rio ao
fortalecimento da sociedade. Deste modo, a transferência pode dar-se ativa
ou passivamente, seja mediante sucessã o hereditá ria ou a título particular,
por ato inter vivos.

O ato determinante para essa transmissibilidade é denominado de


cessão, que vem a ser “a transferência negocial, a título gratuito ou oneroso,
de um direito, de um dever, de uma ação ou de um complexo de direitos,
deveres e bens, de modo que o adquirente, denominado cessionário, exerça
posição jurídica idêntica à do antecessor, que figura como cedente”.
Espécies:
a) Cessã o de Crédito: “É o negó cio jurídico bilateral oneroso ou
gratuito, pelo qual o credor transfere seu direito de crédito, no
todo ou em parte, a terceiro, com todos os acessó rios e garantias
independentemente da anuência do devedor”.
b) Cessão de Débito (Assunção de Dívida): É um negó cio jurídico
bilateral, pelo qual o devedor, com anuência expressa do credor,
transfere a um terceiro, que o substitui, os encargos obrigacionais,
de modo que este assume sua posiçã o na relaçã o obrigacional,
responsabilizando-se pela dívida, que subsiste com os seus
acessó rios.”
c) Cessão de Contrato: “É a transferência da inteira posiçã o ativa e
passiva, do conjunto de direitos e obrigaçõ es de que é titular uma
pessoa, derivados de contrato bilateral já ultimado, mas de
execuçã o ainda nã o concluída”.

CESSÃO DE CRÉDITO (286 a 298)

- Importante instrumento da economia (desconto bancá rio)


- Vida econô mica atual impõ e a circulaçã o de crédito
- Direito de crédito representa um valor patrimonial, podendo ser negociado
ou transferido.

- NJ bilateral (direitos e deveres para ambas as partes)


- Presença dos requisitos do art. 104 (o cedente deve ter capacidade e poder
de disposiçã o, que pressupõ e a titularidade do crédito)

- Ato de disposiçã o gratuito ou oneroso


- Nã o prescinde de consentimento do devedor primitivo (nã o interfere no
negó cio)
- O crédito sai (art. 287) do patrimô nio do cedente para se incorporar ao do
cessioná rio

- Nã o há extinçã o do vínculo obrigacional

- Pode envolver valores diversos tendo em vista a liberdade entre as partes


(ex: A deve cem a B para pagar daqui a seis meses, C entã o se oferece para
adquirir este crédito contra A por oitenta pagando a B a vista; C age na
esperança de ter um lucro ao receber os cem de A no futuro; isto acontece no
comércio no desconto de cheques “pré-datados”).

1) Figuras:
a) Cedente: transmite seu direito de crédito no todo ou em parte;
b) Cessioná rio: Adquire o crédito assumindo sua titularidade

2) Objeto da cessão: (art. 286)

Qualquer crédito, desde que sua natureza permita e nã o haja impedimento


legal ou contratual. Art. 286 C.C.

a) Natureza da obrigaçã o - NÃ O PODEM: Direitos personalíssimos


(direito ao nome), de Direito de Família (Poder Familiar) crédito
alimentício;
b) Art. 497, pará grafo ú nico; herança de pessoa viva (Art. 426); créditos
já penhorados (art. 298); bens inaliená veis, os gravados com clá usula
de inalienabilidade, vencimentos de magistrados, art. 607; 520; 682,
II, etc.
c) Convençã o com o devedor: Art. 286, 2 parte

3) A cessão de crédito poderá ser:


a) Gratuita ou onerosa: com ou sem contraprestaçã o do cessioná rio;
b) Total ou parcial: Se transferir total ou parcialmente o crédito;
c) Convencional, legal ou judicial: (art. 286, 1 parte)

- convencional: É a mais comum. Decorre do acordo de vontades como se


fosse uma venda (onerosa) ou doaçã o (gratuita) de alguma coisa, só que esta
coisa é um crédito;

- Legal: Imposta pela lei, independentemente da vontade das partes. Por


exemplo: (a) a regra do artigo 287 do CC, a qual impõ e a cessã o dos
acessó rios (clá usula penal, juros, garantias reais ou pessoais; direitos de
preferência; clá usulas relativas ao modo, tempo e lugar de pagamento; foro
de eleiçã o; direitos potestativos inerentes ao crédito – direito de escolha na
obrigaçã o alternativa), em consequência de cessã o da dívida principal; (b)
sub-rogaçã o legal especificada no artigo 346 (O sub-rogado adquire os
direitos do credor primitivo); devedor de obrigaçã o solidá ria que satisfaz a
dívida por inteiro; artigo 786; etc.

- Judicial: Determinada pelo Juiz no caso concreto, explicando os motivos na


sentença para resolver litígio entre as partes. Por exemplo, no caso de uma
sentença homologató ria de partilha, aonde o direito de crédito do falecido
seja atribuído aos herdeiros do credor; de sentença declarató ria que supre a
declaraçã o de cessã o por parte de quem era obrigado a fazê-lo.

4) “Pro soluto” (à título de pagamento, para valer como pagamento) e


“pro solvendo” (destinado ao pagamento, para pagar, para solver
uma dívida)

Pro soluto = quando a NP é entregue à título de pagamento, para solver a dívida de um


contrato anterior, de modo que a obrigaçã o anterior fica automaticamente extinta e se as
NP’s nã o forem pagas, nã o poderá ser cobrado o instrumento anterior
Pro solvendo = Quando a NP é entregue à título de garantia da dívida principal. as
promissó rias pro solvendo nã o foram emitidas para extinguir a dívida oriunda do contrato
de compra e venda, mas tã o-somente para reforçá -la, para facilitar a obtençã o do
numerá rio. E, afinal, se essas notas promissó rias nã o forem pagas? O vendedor poderá
atacar a pró pria compra e venda e considerar o contrato extinto e resolvido, com as graves
consequências que este fato acarreta.

Cessão “pro soluto” = O cedente apenas garante a existência do crédito, sem


responder, pela solvência do devedor. Quando houver quitaçã o plena do débito do
cedente para com o cessioná rio, operando-se a transferência do crédito, que inclui a
exoneraçã o do cedente.

Cessão “pro solvendo” = O cedente obriga-se a pagar se o devedor cedido


for insolvente. O cedente assume o risco da insolvência do devedor

5) Formas (apenas a convencional): (art. 288)

Nã o exige forma especial (nã o solene) para valer entre as partes (art. 904),
salvo se a cessã o tiver por objeto direito que se exige a escritura pú blica
para validade do ato (crédito hipotecá rio).

Para validade contra terceiros o ato deve ser feito por (a) escritura pú blica
ou por (b) contrato assinado e devidamente registrado no Cartó rio de
Títulos e documentos.

ATENÇÃO: Tais formalidades nã o sã o necessá rias em relaçã o ao devedor


cedido, apenas com relaçã o a terceiros, tornando o ato ineficaz.

Títulos de crédito: Art., 904; 919 e 920.


Porém, ao devedor a lei prescreve outro requisito:
(Art. 290) NOTIFICAÇÃO DO DEVEDOR.

O devedor deve ser notificado para ficar vinculado ao cessioná rio, pois até a
data da notificaçã o, a cessã o nã o produzirá efeito jurídico em relaçã o ao
devedor cedido, tanto que até esta data pode o devedor pagar ao cedente e
opor a ele todas as exceçõ es pessoais que tiver.

Nã o é elemento essencial à validade da cessã o de crédito, mas nã o será


eficaz em relaçã o ao devedor. A cessã o terá validade entre as partes, de
modo que se o cedente receber o crédito do devedor terá que devolver
eventuais valores percebidos ao cessioná rio.

Art. 294: A notificaçã o ganha maior importâ ncia a partir do momento em


que é facultado ao devedor, no momento em que tiver ciência da cessã o,
opor as exceçõ es cabíveis contra o cedente (compensaçã o – art. 377; pgto;
etc). Vícios que afetam a natureza do título podem ser alegados a qualquer
tempo (incapacidade; erro; dolo)

Prazo: Nã o há prazo estipulado pelo có digo, mas deve ser feita antes do
vencimento do crédito.

6) Efeitos da cessão de crédito:

a) Art. 295 (título oneroso ou gratuito com má -fé): Responsabilidade de


garantia pela existência do crédito a época da cessã o (titularidade e validade
– nã o esta sujeito à impugnaçã o, novaçã o, compensaçã o, anulaçã o, nulidade,
etc.)

- Somente poderá demandar o cedente apó s ter agido contra o devedor.

b) Art. 296: Nã o responde pela solvência do devedor. Somente responderá


pela higidez econô mica, caso tenha assumido por convençã o. Em regra a
responsabilidade nã o irá além do que o cedente recebeu no tempo da cessã o.

Art. 297 - A responsabilidade do cedente refere-se a solvabilidade na época


da cessã o, pois nã o é fiador nem avalista do cessioná rio, respondendo só
pelo que recebeu mais os juros. Ou seja, limita-se ao que recebeu do
cessioná rio.

Cessã o gratuita. O cedente nã o responde, assim como nã o responde na


cessã o por lei, APENAS SE TIVER DE MÁ -FÉ !

7) Cessão de crédito penhorado:

Uma vez penhorado o crédito nã o pode mais ser cedido e nem o devedor
apó s ser cientificado efetuar o pagamento, pena de responder por fraude
contra credores, podendo ser compelido a repetir o pagamento. Art. 298 C.C.

ASSUNÇÃO DE DÍVIDA (Art. 299 a 303 do C.C).

- Novidade no CC de 2002 (nã o tinha no CC de 16)

CONCEITO. (Silvio Rodrigues)

“É um negó cio jurídico bilateral, pelo qual o devedor, com anuência expressa
do credor, transfere a um terceiro, que o substitui, os encargos
obrigacionais, de modo que este assume sua posiçã o na relaçã o obrigacional,
responsabilizando-se pela dívida, que subsiste com os seus acessó rios”

- É a substituiçã o do devedor, que transfere sua obrigaçã o para terceiro. O


devedor transfere sua posiçã o na relaçã o jurídica, alterando o pó lo passivo
da obrigaçã o.

- Enunciado 16 na I Jornada de direito Civil: pode haver assunçã o cumulativa

- Ex: venda de fundo de comércio (é o que uma empresa tem de valor acima do seu
patrimô nio líquido avaliado a preço de mercado = é o “algo a mais”), em que o adquirente
declara assumir o passivo

- cessã o de financiamento para aquisiçã o de casa pró pria


- REQUISITOS.

Concordâ ncia expressa do credor. Art. 299 C.C: Na assunçã o de dívida a


pessoa do devedor é de suma importâ ncia, pois em relaçã o à s suas
qualidades pessoais e patrimoniais, a dívida poderá ser paga ou nã o. Assim,
pode nã o convir ao credor a alteraçã o do pó lo passivo da obrigaçã o.

1. As partes podem assinar prazo para que o credor consinta na


assunçã o, interpretando-se seu silêncio como RECUSA.

2. A assunçã o nã o será vá lida se o terceiro for insolvente e tal fato era do


credor desconhecido.

MODOS:
Expromissã o (NJ que uma pessoa assume espontaneamente a dívida de
outra): Mediante contrato entre o terceiro e o credor, sem a participaçã o ou
anuência do devedor;

Delegaçã o (por ordem ou autorização): Mediante acordo entre terceiro e o


devedor, com a concordâ ncia do credor;

- EFEITOS DA ASSUNÇÃ O. O devedor é substituído e a partir da assunçã o as


garantias consideram-se extintas. Art. 300 C.C.

- ANULAÇÃ O DA ASSUNÇÃ O. O débito é restaurado, bem como as garantias


prestadas por terceiro que conhecia a nulidade sã o restauradas. Art. 301 C.C.

- IMÓ VEL HIPOTECADO. Quem adquire imó vel hipotecado pode pagar
o crédito garantido, se o credor notificado, no prazo de trinta dias nã o
manifestar sua discordâ ncia. Art. 303 C.C.

Neste caso, a segurança reside muito mais no bem objeto da hipoteca, do que
propriamente dito na pessoa do devedor

Você também pode gostar