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Introdução
A eficiência e eficácia da administração pública, relaciona-se a boa gestão da informação
produzida pelos órgãos que a configuram, daí a necessidade de organização e tratamento da
informação arquivística, de forma que esteja acessível quando precisa em qualquer
circunstância, permitindo que se cumpra o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar
todos aspectos organizacionais (CHIAVENATO, 2003).
Os aspectos acima, não se distanciam dos arquivos, na medida em que estas unidades têm a
função fim de dar acesso à informação arquivística de um dado órgão e, este aspecto só se
efectiva com a existência de um conjunto de procedimentos e operações técnicas que segundo
Paes (1997), se consubstanciam em Gestão de documentos, que é o garante para que o arquivo
na perspectiva administrativa cumpra com sua função e finalidade, operacionalizadas através
de um instrumento agregador de actividades, procedimentos, estratégias, princípios, critérios e
requisitos referentes à produção até a destinação final da documentação produzida, que é o
programa de gestão de documentos.
O nosso trabalho guia-se na perspectiva técnica e teórica, pois são vários aspectos que caso
não sejam aplicados no arquivo, trazem consequências incalculáveis para os acervos e
conjuntos documentais, além das massas documentais acumuladas, daí que para o nosso caso
interessa-nos compreender de que forma a concepção e implementação de um programa de
gestão documental pode viabilizar a avaliação e recuperação da informação na ANE, tendo-se
como objectivo fulcral demonstrar os contornos da sua concepção e aplicação ao contexto em
causa.
A elaboração deste estudo, teve como factor impulsionador a necessidade de discutir de que
forma são concebidos bons arquivos através da implementação de um PGD a nível
institucional, facto que pode ajudar a evidenciar a importância dos arquivos através da
efectivação da recuperação da informação, ajudando inclusive na prossecução de estudos a
este relacionados enriquecendo a literatura existente no que tange aos PGD’s.
O alcance dos pontos observados bem como a resposta às indagações e objectivos traçados,
foi possível através do uso de metodologia que se enquadrasse no contexto delimitado, com
base em um levantamento da bibliografia referente aos arquivos, especialmente a questões
relacionadas aos programas de gestão documental e avaliação, que permitiu responder e
visualizar a real situação do nosso objecto empírico. Ainda dentro disto, foi feito o
levantamento documental de dispositivos legais referentes a ANE (legislação, estatuto
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Fez-se também o uso de técnicas como entrevista, feita aos funcionários afectos ao sector em
causa, que é a Repartição de Gestão Documental e, que estão em contacto directo com a
documentação, trazendo-se subsídios para desmistificar aspectos cruciais referentes à
necessidade de concepção de um PGD e ocorrência da avaliação documental no âmbito do
mesmo. A observação directa que também é uma técnica de colecta de dados, forneceu
elementos complementares e conclusivos que tendo em conta os métodos usados
anteriormente não tivessem sido satisfeitos.
A última fase do nosso trabalho baseou-se na apresentação e análise de dados colhidos, tendo
como recursos para a confrontação da realidade encontrada a fundamentação teórica
concebida, de onde produziu-se resultados e/ou respostas importantes relativamente a situação
do arquivo da ANE, evidenciando a necessidade imediata de concepção e aplicação de um
PGD na instituição antes mencionada, trazendo-se a posterior elementos conclusivos e as
respectivas recomendações de forma a alterar-se o cenário encontrado constituindo-se deste
modo os almejados bons arquivos. Tendo em conta que para a realização do trabalho, várias obras
foram consultadas, são no fim representadas as devidas referências.
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A inserção das estruturas de arquivo, ou seja, o enquadramento institucional dos arquivos, vai
ser objecto de abordagem de Jardim (1986), ao reflectir sobre as instituições arquivísticas,
especificamente, ao referir-se sobre a estrutura organizacional, que para o mesmo, seria o
conjunto de actividades meio e fim, configuradas em unidades administrativas do Estado,
específicas, cuja interacção resulta em uma organização capaz de exercer determinadas
funções e, assim, alcançar objectivos específicos, sendo que nesta perspectiva, colocamos
estes, os arquivos, como objectos que exercem uma, senão várias funções, através da
informação que no seu conjunto preservam independentemente do suporte.
A estrutura a que nos referimos, não se limita apenas a disposição física em si, como também,
o pessoal e recursos materiais, que na sua generalidade colaboram para o funcionamento
pleno do arquivo como instrumento de apoio a decisão e gestão pública, através da
informação registada neles contida.
actividades dentro das etapas mencionadas por Paes (1997), funcionarem de forma integrada
com vista a racionalização de tarefas comuns.
Olhando para as normas, para que os trabalhos não sofram solução de continuidade e
mantenham uniformidade de acção, é imprescindível que sejam estabelecidas normas básicas
de funcionamento, não só do arquivo em seus diversos estágios de evolução, como também
do protocolo, uma vez que esse serviço é na maioria das vezes desenvolvido paralelamente
aos trabalhos de arquivo. Na óptica de nortear as actividades nos arquivos e permitir
qualidade, Paes (1997), ainda fala da necessidade de capacitar os intervenientes no arquivo,
ou seja, as pessoas encarregadas dos serviços de arquivamento pois, este trabalho
teoricamente é um serviço simples, mas na prática, essa simplicidade desaparece diante do
volume de documentos e da diversidade de assuntos, surgindo dificuldades na classificação
dos documentos.
Olhando para a dinâmica e nova abordagem dentro da gestão de documentos, abre-se também
uma nova vertente, a qual não mais limita-se exclusivamente ao suporte físico, facto aliado a
evolução tecnológica e científica, que segundo Schafer e Lima (2012), é perceptível no
trabalho do arquivista quando se percebe a necessidade de gestão de documentos nestes
ambientes digitais. Acrescentando que as tecnologias estão influenciando sistemas de gestão
de arquivos/documentos, e exigindo mais conhecimento no perfil do arquivista, pois ainda
segundo os autores, o “clássico” arquivista, responsável por acervos exclusivamente em
suporte físico, preocupado com a durabilidade do papel, é estimulado a gerenciar informações
em ambientes virtuais, colocando um sentido inovador e imprescindível para a avanço do seu
trabalho.
Para que a gestão de documentos supracitada possa ocorrer de forma plena e com qualidade
em termos de seus resultados, agrega elementos como profissionais de diversas áreas,
munidos de capacidade técnica indispensável para a organização dos acervos desordenados.
Embora olhe-se dentro da abordagem de gestão de documentos, muitas vezes somente para
documentos no suporte físico, não se deve ignorar esta questão trazida pelas tecnologias, o
manuseio e tratamento destes no ambiente digital de forma a permitir que as intervenções
arquivísticas não se encontrem limitadas em sua acção.
A viabilização dos critérios acima indicados, garantem uma organização e prossecução das
actividades nos arquivos, havendo uma necessidade antecipada de análise e observação das
necessidades, e o critério que melhor se enquadre nas necessidades de acordo com o tipo de
arquivo.
Para que tal se cumpra, encontra-se subjacente a avaliação como uma das fases básicas
enumeradas por Paes (1997), ao retratar a questão etimológica da gestão de documentos.
Nesta vertente, para percebermos na essência esta “função” arquivística, evocamos Indolfo
(2013), ao afirmar que avaliar, significa analisar o uso dos documentos de arquivo para poder
se definir (ou estabelecer) os prazos de guarda na fase corrente e intermediária dos arquivos.
Estes prazos, relativos ao valor primário, podem ser de curta, média ou longa duração, sempre
expressos em anos, eventualmente em meses. Findo o prazo de guarda, o documento de
arquivo terá como destinação final a eliminação ou guarda permanente, o que justifica a
destinação e a existência ou atribuição do valor secundário.
Assim sendo, nota-se a prior, que a avaliação acima definida, refere-se a um processo
composto inicialmente pela análise documental, julgamento da informação nele subjacente,
que vai culminar com a determinação dos valores que estes carregam. Para que esta possa ser
plena, é feito o uso de instrumentos, como a tabela de temporalidade (MAKLOUF E
CAVALCANTE 2008) apud (COUTURE 2002) e o arquivista como o assegurador da
mesma.
Olhando para a função avaliação, há que referenciar a necessidade desta basear-se e/ou
assentar-se não em aspectos empíricos e sim, em princípios básicos que se refiram a
arquivística no geral, pois de acordo com Cook (2002) citado por Maklouf e Cavalcante
(2008), a avaliação deve respeitar princípios essenciais, ser um processo activo e sistemático e
planificado. E ainda, os documentos são avaliados pelo arquivista baseando-se em critérios
predefinidos, e a avaliação não deve ser confundida com aquisição, a mesma é subjectiva e o
arquivista deve ser capaz de defender sua matéria de determinação dos valores dos
documentos com máxima transparência. O que suscita o uso de procedimentos ou critérios de
acordo com o contexto dos arquivos na forma de conjunto de documentos, e aspectos
relacionados a realidade na qual este se informa, aspecto sustentado por Medeiros e Amaral
(2010), ao afirmar que a avaliação e a determinação dos valores dos documentos, acaba por
fornecer à gestão organizacional, um suporte que possibilita a estipulação de regras
apropriadas à sua realidade, para circunscrever procedimentos e operações eficientes de forma
a facilitar a determinação do trânsito dos documentos entre os arquivos, através da aplicação
da teoria das três idades.
Entretanto, a avaliação em Arquivística é crucial para manter a informação íntegra, sem que
se preserve o “desnecessário”, através de uma avaliação criteriosa, que vai permitir que a
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posterior se recupere a mesma, pois o fim último da gestão de documentos, que tem como
uma das fases a avaliação que antes referimos, sem a recuperação da informação, torna-se vã
e sem “nexo”, pois esta recuperação é definida por Cesarino (1985) como “ conjunto de
operações consecutivas, executadas para localizar dentro da totalidade de informações
disponíveis, aquelas realmente relevantes, ou ainda segundo Barth (2010) apud Moeers
(1951), processo onde é possível que o usuário de informação converta a sua necessidade de
informação em lista real de citações de documentos armazenados que contenham informações
úteis a ele, no caso vertente, o usuário de arquivo deverá dispor de toda informação que se
julgue importante e disponível no acervo do arquivo que este consulte.
inclusive por uma forte enunciação da teoria das três idades, observando-se por um lado,
dentro da/o experiência/modelo norte-americano/a uma centralização administrativa,
descentralização regional dos depósitos federais e independência dos arquivos estaduais em
relação a estrutura do governo federal.
Os programas de gestão de documentos dentro dos seus marcos históricos, servem como
instrumentos imprescindíveis para a materialização da “record management”, dando uma
visão das actividades executadas nos arquivos, o que seria até certo ponto uma forma de
controlo que a administração adopta (va) para a efectivação dos procedimentos arquivísticos,
pois assinala-se que:
Na perspectiva trazida pela autora acima, é possível observar que os programas de gestão de
documentos, eram o trunfo da administração através do governo para o controle e organização
dos arquivos, tal que podemos associar a perspectiva de Deserno e Kynaston (2005), quando
afirmam que a sua existência é indispensável na medida em que este assegura:
- Uma eliminação ordeira e regular das massas de documentos sem valor secundário além do
administrativo;
Produção dos documentos - onde por parte dos competidos de fazer a gestão de
documentos, devem apoiar na elaboração de documentos fruto das actividades da instituição
ou sector, e é nesta fase que se observa o controlo minucioso para que sejam produzidos
apenas documentos essenciais a administração do órgão, evitando-se a emissão desnecessária
de documentos, por outro lado, propor a consolidação de actos normativos alterados ou
actualizados com certa frequência de forma a garantir a óptima compreensão dos textos.
Ainda envolvendo a responsabilidades destes, os mesmos devem sugerir a criação ou extinção
de modelos e formulários, apresentar estudos sobre a adequação e o melhor aproveitamento
de recursos reprográficos e informáticos, difundindo normas e informações necessárias ao
bom desempenho do órgão e a selecção dos materiais e equipamentos para este.
Avaliação e destinação - sendo considerada a fase mais complexa das três alistadas,
nesta fase requer-se atenção redobrada de forma a evitar-se a mutilação do arquivo através de
maus procedimentos no tratamento destes, visto que é onde acontece a destinação final dos
documentos, podendo ser eliminados ou recolhidos, tal processo é feito através da análise e
avaliação dos documentos acumulados nos arquivos, de forma a estabelecer seus prazos de
guarda, definindo-se aqui de forma certeira e lógica, quais serão objecto de arquivamento
permanente e os que deverão ser eliminados por motivo de terem perdido o valor de prova e
de informação para a instituição.
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Ainda na vertente acima, olhando-se segundo Indolfo (2007) de forma atenta para aspectos
como determinação da temporalidade, para se obter a racionalização do ciclo documental,
reduzir ao essencial a massa documental dos arquivos, e para ampliar o espaço físico de
armazenamento assegurando as condições de conservação dos documentos de valor
permanente e a constituição do património arquivístico nacional.
Para a autora, a determinação dos critérios de avaliação dentro dos programas de gestão
documental, deve efectivar-se nos arquivos correntes, a fim de se diferenciarem os
documentos de valor casual, de eliminação sumária, daqueles de valor probatório ou
informativo, evitando-se a transferência para os arquivos intermediários, documentos que não
tenham sido anteriormente avaliados pois, o desenvolvimento do processo de avaliação e
selecção nestes arquivos tem-se mostrado extremamente pesado do ponto de vista técnico e
gerencial, bem como tem levado a formação de massas documentais volumosas, escondendo a
função primordial dos arquivos de apoio às actividades gerenciais.
Neste caso, todas actividades devem ser executadas de forma consciente e discriminada, para
manter a integridade do acervo e permitir a organização e funcionamento pleno do arquivo do
órgão.
Os elementos estruturais preponderantes para que o programa possa ser projectado, incluem a
responsabilidade de um profissional de informação ou arquivista. Tais responsabilidades
também devem incluir a gestão de documentos electrónicos. Ressaltando-se ainda, a
necessidade de uma colaboração íntima entre o produtor dos arquivos e o administrador de
arquivos, para além do treinamento do pessoal através do desenvolvimento de ferramentas e
políticas de arquivo, que promovam um entendimento dentro da organização.
Sendo assim, um programa de gestão de documentos provê mais adiante, motivação por
implementar de forma efectiva as práticas de gestão de arquivos. Um programa de gestão de
documentos, salvaguarda e faz acessíveis os registos que devem ser preservados
permanentemente para manter a memória institucional da organização, para seu próprio
benefício e da sociedade como um todo. Portanto, concebe-se boa gestão de arquivos para a
vantagem da organização, criando meta necessária e válida, e uma gestão que esteja
operacional. Unindo os elementos levantados em toda a abordagem, encontra-se o
fundamento para que a posterior se possa observar empiricamente tudo que aqui foi
mencionado, facto que nos garantirá luz e autoridade teórica no acto de confrontação em
nossa análise.
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2.2 Órgãos
O nosso objecto empírico, a ANE, dentro da sua estrutura, apresenta órgãos sendo destacados
num primeiro momento:
Dois órgãos, dos quais um deliberativo e outro executivo, o primeiro refere-se ao Conselho de
Administração, constituído por 5 (cinco) membros não executivos, designadamente:
Executivos
No que se refere ao órgão Executivo o mesmo é constituído pelo Director-Geral que a ele
dirige, Direcções executivas, Departamentos e Repartições, integrando ainda nestas
Delegações Provinciais.
Órgão Deliberativo
A este órgão cabe olhar em termos de suas funções para questões administrativas, competindo
ao mesmo: deliberar as regras de funcionamento dos órgãos da ANE, monitorar as
actividades, apreciar a proposta do sistema de remunerações da ANE, e submeter a despacho
conjunto do Ministro e do Ministro que superintende a área das finanças, apreciar a proposta
de subsídios e regalias para os funcionários da ANE e submeter à aprovação do Ministro que
superintende a área das finanças mediante parecer favorável do Ministro, propor ao Ministro a
nomeação e/ou cessão de funções do Director-Geral da ANE, nomear e mandar cessar
funções aos Directores Executivos da ANE, sob proposta do Director-Geral, nomear e mandar
cessar funções aos delegados provinciais da ANE e secretário do Conselho de Administração,
sob proposta do Director-Geral, apreciar e submeter à aprovação do Ministro as propostas de
classificação de estradas e suas características técnicas, aprovar planos de desenvolvimento
dos recursos humanos da ANE, tomando em consideração as políticas aprovadas.
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Órgãos Executivos
Fazem parte dos órgãos executivos, o Director-Geral, ao qual compete dirigir e coordenar a
realização das actividades a responsabilidade dos órgãos da ANE, representar a ANE em
Juízo e fora dele, praticar actos de gestão de recursos humanos, assessorar o Conselho de
Administração da ANE sempre que este solicitar, prestar informação pública sobre a ANE
suas realizações, políticas e projectos entre outras.
Direcções
A ANE é composta por várias Direcções e Repartições das quais passamos a citar:
Direcção de planificação
-Repartição de Cooperação.
Os Departamentos e a Repartição citados acima, são dirigidos por chefes nomeados pelo
Director-Geral
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Direcção de projectos
Direcção de Manutenção
-Departamento de Património
-Departamento de Finanças
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Esta Direcção tem como funções, criar e fazer cumprir sistemas de Gestão e de administração
dos recursos humanos, financeiros, patrimoniais e informáticos da ANE, criar e gerir o
sistema de avaliação do desempenho dos trabalhadores da ANE baseado em critérios
objectivos, participar nos processos de elaboração dos orçamentos anuais de funcionamento e
de investimentos, monitorar e elaborar relatórios de execução financeiras dos orçamentos de
funcionamento e de investimentos, desenvolver iniciativas de prevenção e combate as
Infecções de Transmissão sexual e HIV/SIDA, e estabelecer o equilíbrio do género nas
vertentes profissional, social, cultural e económica, coordenar e monitorar as acções de gestão
dos especialistas ao serviço da ANE estabelecendo mecanismos que garantam a transferência
de tecnologias para a capacitação institucional, criar e implementar estratégia de formação
técnico-profissional do pessoal da ANE consubstanciado em planos anuais de cursos e acções
de capacitação diversas, gerir o sistema de comunicação de e para a ANE, incluindo o fluxo
de correspondência e a organização do arquivo geral, e realizar outras tarefas afins que lhe
forem atribuídas pelo Director-Geral.
A Repartição de Gestão Documental, é composta por sete (7) funcionários e, todos lidam
directamente com os arquivos, desse total, apenas 3 têm formação superior:
1
Formação superior na área mencionada pela Universidade de competência/faculdade de ciências de
Informação-Madrid/Espanha
Formação superior em história vertente documentação pela Universidade Eduardo Mondlane
2
Formação superior em história vertente documentação pela Universidade Eduardo Mondlane
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sobre os documentos desde a sua produção até a destinação final, facto que é consolidado
através do uso de instrumentos para o efeito.
No caso patente acima, há que evocar a questão da formação e/ou consciencialização de todos
intervenientes que lidam com a documentação para que ajudem a efectivar a questão do
tratamento documental iniciado na secretaria-geral, pois o manuseio, ou seja, o tratamento
documental desprovido de cunho arquivístico, inviabiliza questões de uso da informação para
o seu devido fim, implicando neste caso inclusive por parte das secretárias que intermedeiam
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Pode-se a partir dessa situação, constatar que o controle da informação é deficitário e este
aspecto influencia em demasia na continuidade das acções administrativas e para a tomada de
decisão, o que poderia ser corrigido com a elaboração e implementação de um PGD que
apresente todas as rotinas, em detalhe.
Alguns sectores que lidam com os documentos dentro da instituição, em alguns casos,
mostram uma independência total ao órgão central de recepção e/ou produção dos
documentos que é para o caso especifico a secretaria-geral, não se evidenciando uma razão
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clara para tal, e muito menos coesão nas actividades arquivísticas, criando uma fragilidade e
desconexão no tratamento e controle da informação, o que até certo ponto mutila e quebra a
organização que tanto se espera dos serviços arquivísticos.
Além das actividades acima identificadas como as que são executadas pela secretaria-geral
principalmente, a nível da Repartição de Gestão documental, são executadas actividades como
classificação e avaliação, onde faz-se a verificação da documentação repetida, sendo que os
resultados desta actividade mostra falta de um delineamento do número de vias a serem feitas
no âmbito da produção e reprodução dos documentos, aspecto que torna mais trabalhosa a
actividade de avaliação pelo acúmulo de massas documentais, e a guarda de documentação
repetida, o que além de originar as massas antes referidas, vai diminuindo o espaço físico e
dificultando de certo modo o funcionamento da Repartição de Gestão Documental, pelo facto
de não permitir que se verifiquem os resultados da materialização do ciclo de vida dos
documentos.
arquivísticas deve ser analisada de forma a permitir que todo objectivo a curto e longo prazo
possa ser alcançado.
No que toca a planificação das actividades de arquivo, referiu-se que cada técnico é
responsável pela planificação das actividades na área em que se encontre alocado, o que
demonstra individualismo na execução das actividades desta Repartição de Gestão
Documental, inclusive uma deficiente ligação com outros sectores contendo documentação
produzida e/ou recebida.
Outro aspecto, é a ausência de metas a alcançar num sentido micro e a nível da Repartição por
não se executar as actividades como um todo, o que cria além das massas documentais como
referimo-nos, a questão da execução das actividades sem que se tenha como padrão um certo
modo de execução, o que poderia ser feito através de normas e/ou directrizes para que se
alcance os objectivos fim da Repartição de Gestão Documental, e também do arquivo
propriamente dito, que é a recuperação da informação.
Esta questão de falta de planificação das actividades, remete-nos a falta de coordenação antes
mencionada e também planeamento mencionada por Paes (1997), que seria uma abordagem
integrada do tratamento documental, o que para Rosseau & Couture (1998), faz-se partindo de
uma abordagem integrada, que permite a Arquivística e os arquivos principalmente, dotarem-
se de uma imagem forte e consequentemente, serem reconhecidos institucionalmente e
socialmente, relacionando-se todos elementos/instrumentos, inclusive os de
operacionalização, no caso as tabelas de temporalidade seja para actividades meio, bem como
fim, aspecto que faria com que a divisão estrutural do órgão, não influenciasse na falta coesão
e padronização das actividades, permitindo maior entendimento e intercâmbio entre os
diversos sectores e manutenção de actividades arquivísticas íntegras.
A execução plena dos elementos acima arrolados, resultaria conforme indica Paes (1997),
num plano arquivístico que tivesse em conta, tanto as disposições legais, bem como as
necessidades da instituição a que pretende servir, sendo considerados no âmbito da concepção
desse plano, a posição do arquivo na estrutura do órgão, centralização ou descentralização e
coordenação dos serviços de arquivo, escolha de métodos de arquivamento adequados,
recursos humanos qualificados e mais, para que se garanta conforme Spagnollo (2009), a
máxima utilização da informação, menos tempo, dinheiro e pessoal.
Mas, a atenção para os aspectos acima, depende em grande parte do que Chiavenato (2003),
denomina de administração, que envolveria o planeamento, organização, capacidade de dirigir
e controlar o uso de recursos a fim de alcançar objectivos organizacionais num todo,
principalmente no sector dos arquivos. Abrindo espaço para que todos caminhos sejam
traçados de antemão, e permitir que o improviso possa ceder a ciência e planificação.
Tal como fizemos menção anteriormente, a escolha dos recursos materiais merece atenção por
parte dos intervenientes na organização dos arquivos, assinalando Paes (1997), que esta
escolha deve ser precedida de pesquisa juntos aos órgãos especializados, para permitir a sua
longevidade e menos custos ao arquivo, havendo ainda segundo Jardim (2011), neste
momento, a busca da economia e eficácia nos recursos que directa ou indirectamente
encontram-se associados a produção, manutenção, uso e destinação final dos documentos, que
permita evolução dos arquivos a longo prazo e a instituição num todo, o que por um lado
permite o desenvolvimento ininterrupto do arquivo, e por outro lado, o alcance efectivo dos
seus objectivos, mais do que sua organização, o acesso e recuperação da informação que se
julgue necessária.
Ainda no âmbito dos recursos materiais na ANE, foi-nos informado que esta não existe uma
máquina trituradora de documentos, o que dificulta o descarte e limita gestão de espaço, e o
edifício ora em construção, sem que se tenha concluído já alberga documentos provenientes
de alguns sectores da mesma instituição, que não tiveram nenhum tratamento arquivístico,
encontrando-se dentro destes conjuntos documentais, objectos e/ou materiais pessoais, como
cabelos e convites. E ainda produtos alimentares como bolachas, leite e castanha de cajú o que
demonstra uma autêntica imaterialização dos preceitos arquivísticos no armazenamento,
conservação e guarda dos documentos.
Assim sendo, é no edifício em construção que antes fez-se menção onde são guardados os
documentos dos sectores antes referidos, de forma a obter espaço sem que haja um controle e
periodicidade, inclusive mecanismos bem fundamentados para que se transfira documentos
conforme a literatura arquivística orienta, sendo esta feita a “belo prazer” segundo o dia e a
hora que os dirigentes dos sectores queiram “livrar-se” de alguns documentos, o que origina
as massas documentais até no edifício ora em construção. Em suma, um dos aspectos bastante
enfatizado é a inexistência de espaço para o armazenamento e organização dos documentos
produzidos e/ou recebidos, e também os que foram dados como desprovidos de valor,
esperando desde a primeira avaliação por sua eliminação, o que é um entrave para a
prossecução das actividades na Repartição de Gestão Documental.
A falta de tratamento dos documentos tem suas consequências, sendo uma delas a
constituição de massas documentais acumuladas e, por sua vez a inutilização do arquivo, na
medida em que este já não servirá como caminho para constituição da memória institucional,
facto que para o nosso objecto é notável, olhando-se para estado actual, onde suas
repercussões têm como um dos resultados imediatos a deficiência na recuperação da
informação e espaço físico para o armazenamento de documentos.
A ausência de critérios para a transferência dos documentos, é um dos factores que corrobora
para esta “anarquia” que resulta na transferência de documentos para o arquivo que ainda
encontra-se em construção, o que evidencia uma tentativa de resolução dos problemas vividos
pelos arquivos na instituição em causa.
1(um) Jurista;
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1(um) Documentalista;
E 1 (uma) secretária;
Facto que contribui para a não efectivação da avaliação documental, é a falta de planificação e
um programa claro para que se efectue e/ou efective a mesma, aliada a inexistência de um
programa de gestão de documentos que olhasse para avaliação trazendo aos mínimos detalhes
este aspecto, sendo inclusive a falta deste, principal elemento que interfere de forma clara na
sua materialização, inclusive na determinação do que se deve preservar e o que deve-se
eliminar. Aspecto que se fosse materializado, favoreceria à gestão organizacional, um suporte
que possibilita a estipulação de regras apropriadas à sua realidade para circunscrever
procedimentos e operações eficientes de facilitar a determinação do trânsito dos documentos
entre os arquivos através da aplicação da teoria das três idades.
(2008), que a avaliação deve respeitar princípios essenciais, ser um processo activo,
sistemático e planificado, os documentos são avaliados pelo arquivista, baseando-se em
critérios predefinidos, a avaliação não deve ser confundida com aquisição, a mesma é
subjectiva e o arquivista deve ser capaz de defender sua matéria de determinação dos valores
dos documentos com máxima transparência. Facto que se deve determinar dentro de um
programa claro de gestão documental, permitindo que cada documento cumpra com seu ciclo
vital, evitando-se deste modo o acumulo de massas documentais.
Embora fale-se da execução da avaliação documental, segundo os dados colhidos, esta não
está a ser efectivada por falta de espaço, também pelo facto de se usar os anexos do SNAE
(plano de classificação e tabela de temporalidade) para o tratamento de documentos anteriores
a este, o que segundo o SNAE, não deve acontecer pelo facto dos seus anexos no caso
concreto o plano e a tabela de temporalidade não terem efeitos retroactivos. Mesmo com os
problemas identificados, são elaborados relatórios trimestrais e semestrais, no que tange a
Gestão documental, tendo-se como limitações graves, a falta de pessoal capacitado para
desenvolver actividades no arquivo.
Os elementos acima, constituem um embaraço crítico, pois conforme afirma Paes (1997),
partindo da prerrogativa que o arquivo tem valor inestimável, para a autora uma das vantagens
técnicas que o arquivo deve adoptar é a capacitação dos responsáveis pelo arquivamento e no
geral na gestão da memória institucional. Elemento que a exemplo dos demais, deverá ser
bem detalhado e tratado num programa de gestão de documentos, sem que se ignore a
capacitação do pessoal que executa as actividades pois, para Maklouf & Cavalcante (2008)
apud Couture (2002), além dos demais aspectos, o arquivista é o principal interveniente e
elemento assegurador da ordem e organização dos arquivos.
Na ANE, mesmo com a execução das actividades referentes (e com vista) a organização da
informação no arquivo central, afirma-se que somente 70% da informação é recuperável,
embora existam instrumentos elaborados para facilitar esta questão, como catálogos que se
referem a projectos de estradas e legislação, sendo que neste tipo de documentos o
arquivamento é por assunto aliado ao método geográfico. No entanto, a partir da observação e
dos problemas acima arrolados, mostra-se praticamente impossível que se consiga recuperar a
informação nos níveis atrás mencionados.
A recuperação da informação nesta instituição, tem uma das raízes da sua deficiência a
questão da avaliação que não ocorre, criando partilha de documentos sem valor administrativo
e os que já responderam as razões de sua criação. Outra questão, é onde é buscada a
informação necessitada pois, cada sector controla sua documentação e não interage com a
secretaria-geral, muito menos com o arquivo propriamente dito, pois nem toda a informação
tratada tem o mesmo destino, que seria o arquivo central que responderia informacionalmente
por toda instituição como um todo.
Além da organização física da informação, a instituição em questão conta uma base de dados,
I-Doc’s, porém esta ainda não permite a recuperação da informação por estar ainda em uma
fase experimental, aliada a actividade de inserção de dados em curso, enfatizando-se falta de
espaço para a melhor organização da documentação, que mais uma vez é causada pela falta de
avaliação e destruição dos documentos a nível físico que já não tem nenhum valor.
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Quanto a base de dados aqui aludida, seu fracasso é eminente, pois a capacitação dos
profissionais para a organização de documentos neste ambiente é essencial, conforme afirma
Brito (2005) citado por Schafer e Lima (2012), os novos desafios que aparecem para o
Arquivista, o convidam a desenvolver conhecimentos comuns com profissionais de outras
áreas, para permitir que este usufrua da facilidade que estas ferramentas proporcionadas pelas
tecnologias ajudem no seu dia-a-dia, sem que o mesmo perca sua essência, e para o caso
vertente, em nenhum momento a gestão electrónica de documentos poderá ganhar vida, sem
que se corrija as irregularidades segundo as formas tradicionais de tratamento da
documentação.
Dentro do “draft” acima referido, não foi incluída a questão de formação e capacitação,
fundamentado segundo os nossos entrevistados por existir uma política de formação e um
sector com esta competência a nível da ANE. Facto que para a nossa colocação acima, não
impede que esta questão conste no programa de gestão documental, pois segundo a
observação feita, mesmo com a existência deste sector, não se observa mudança, ou em
termos concretos a capacitação neste sector é deficiente e quase não chega a acontecer. Além
deste ponto, não está claro o proceder ou, como organizar o arquivo da ANE e analisar o valor
da documentação em termos do seu conteúdo e ainda como seleccionar a documentação para
a transferência ao arquivo intermediário e/ou eliminação. Afirma Paes (1997), que
teoricamente, lidar com o arquivo é uma tarefa superficialmente fácil, o que desvanece na
prática diante de vários metros lineares de documentos e diversidade de assuntos, surgindo até
a dificuldade na classificação dos mesmos. Tudo isto tem sua origem na falta de um programa
de gestão de documentos, e não só, a ausência de políticas de formação interna a luz do
mesmo programa, o que também revela como cita Jardim (2011), a falta de uma racionalidade
administrativa.
A questão acima, tem uma relação intrínseca com a avaliação, visto que questões de
periodicidade, como proceder e questões relacionadas a transferência de documentos para o
arquivo intermediário, seriam aí destacadas e delineadas para permitir que os sectores
interajam de maneira saudável com a Repartição de Gestão Documental, formando uma rede
senão um sistema de gestão e controle integrado da Informação arquivística a nível micro e
macro, institucionalmente. Mais que um programa de gestão documental, os elementos que o
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Olhando para o arquivo e para a gestão de documentos dentro da nossa análise, pôde-se
constatar que, ainda que uma e outra questão seja seguida, a ausência de um programa de
gestão de documentos para materializar a gestão de documental e principalmente a avaliação é
um factor que colabora para o estado crítico em que se encontra o arquivo da Administração
Nacional de Estradas, pois o mesmo seria o guia, pelos constituintes ou elementos que traria,
olhando para o arquivo na perspectiva integrada e ainda mais de forma minuciosa, cabendo
neste, questões como a estrutura básica dos arquivos, capacitação e formação do pessoal que
intervém directa ou indirectamente no tratamento, organização e arquivamento de
documentos.
E ainda segundo o aludido acima, os programas de gestão documental, dariam uma visão
ampla do arquivo, ajudando no controle, circulação, produção e expedição de documentos,
planificação e mais elementos que se julguem pertinentes de forma a melhorarem as
actividades do arquivo. Sendo o arquivamento uma actividade importante, a mesma não seria
ignorada dentro do programa de gestão documental, o que traria lógica e bases na sua
adopção, multiplicando-se as chances de se recuperar eficiente eficazmente a informação que
seja necessária, aspecto que não acontece nesta instituição.
5. Referências Bibliográficas
BARTH, Fabrício J. Uma introdução ao tema recuperação de informações textuais.
Faculdade de tecnologia Bandeirantes (BandTec).R.Estela, 268.Vila Mariana. São Paulo-
SP.2010
JARDIM, José Maria. Em torno de uma política nacional de arquivos: os arquivos estaduais
brasileiros na ordem democrática (1988-2011). In: Reunião Brasileira de Ensino e Pesquisa
em Arquivologia, II, 2011. Rio de Janeiro, 16-18 nov. 2011
Kynaston, Donna & Deserno, Ineke. A Records Management Program that works for
Archives. The information Management Journal, May/June, 2005.
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MEDEIROS, Nicélia Lage de & AMARAL, Cléia Márcia Gomes do. A Representação do
ciclo vital dos documentos: uma discussão sob a óptica da gestão de documentos. Porto
Alegre, v.16, n.2, p.297-310, jul./dez.2010
PAES, Marilena Leite. Arquivo Teoria e Prática. 3a edição Ampliada. Fundação Getúlio
Vargas. Rio de Janeiro. 1997.
Legislação
______ Diploma Ministerial n.º 19/2012 de 15 de Fevereiro. Aprova o Estatuto Orgânico da
Administração Nacional de Estradas.
_______Decreto 36/2007, de 27 de Agosto. Institui o Sistema Nacional de Arquivos do
Estado
(SNAE)