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| * VILEM FLUSSER © tema destu sula 6 @ tentativa de pdr 4 descobféto equilo que me parece ser a Stica implicita no pensamento germanico, e explicita ém mita filosofia inforna || aa por esse pensamento. Para tanto, permitem que cite um fragmento de um poema ae Schiller. Chama-se "das Glueck", terwo que podemos tradvzir pare o portugues por "felicidade" ou "sorte" ou"destino", de eco1do con o contexto. 0 fragmento & 0 seguinte: "Abey nicht awingt er das Glueck, und was ihm immer die Charis- 4 neidisch geveigertfrringt nimer der stredende Mut.- Vor wnwuerdigem kann dich der Wille, der ernste, bewahren,~ alles foechste, es konmt frei von don Goettern! harab." A tradugap desses dois versos & altamente problemitica e equivale, com efeite, & discussac que pretendo deserwolver neste aula. ¢ verso contém siguns Gos conceitos que sao, a meu ver, fornndures de tice gernonica, e a critica =] versos dever& elucida-los. Dou a tradugeo prima facie como segue; "Nes ele nso forga a sorte, e equilo que a Charis,invejosa, recusou, munca, sera alcangade pe- ln coregem tendente, A vontade, a séria, pode preservar-te da indignidade. do o que @ subline desce livremente dos deuses." 0 sujeito de frase que partie © primeiro verso 6 a corugem, O sujeito da fruse que perfez e primeira mtade do segundo verso € a vontude. Comegurei discussao destes dois conceitos. Traduzi a palavra "Mut" por corugem, Es: tradugeo de um dos conceites funda- mentais do pensemento alemuo' @ ridiculamente inadequade, 0 contr&rio de "hut @ "Unnut", que 6 traduzido Por "m& vontude". Seré "Mut" algo como vontade? Neg vontade 6 "Wille", e assim traduzjssse tergo no segundo verso. existe a pe-', lavra “Matwille", portonto “corcgex-vontade" ov "vontede-vontade", mes que & no; m mente traduzida por "intengao maldosa", Como vém os senhores, & quese im.” posSivel penetrar o pensamento schilleriano com um intelecto informodo pele lin- gnu portuguesa. Entretento, 6 preciso fozer a tentutiva, se realmente querenos | compreender-nos a nés mesmos, Tenterei ducs proximagoes de dois Sngulos difere} tes. Mencionerei tres derivados da paiavra “Mut", @ saber “Anmut", (proximidade da coragem, isto ¢ graciosidade) ,"Grosemut" (grande coragem, iste 6 mognenimidc- de), € "Gemet", (coragesidade, isto € disposigzo do espirito e da elma). F me! eionared a seguinte forma gramitica: "mir ist gumte", que /¢ ume forma total * mente intraduzivel, mas gue elgo a ver com "sinto~me", como na frase "“sinto4 ne bem", e também com * Baiee as duvido", © que esclarecem estes dois Sngulos 4 auxiliores? Que "Kut", além de coregem, € algo como alma, £ claro, dirao os & nhores com um sorriso megnémino. (grossmetig) © arogante (ubermuetig, isto & su percorugogo). Pois nuo existe a palavre "énimo" que € quase singnimo de corage \ Has cuidade. A elma que "Nut"significa nao @ a “anima” dos letinos. Senao co- ho poderia 6 adverbio de "Gemuet™ (aima se quizerem) ser "gemetlich" (eonde a gentese sente a vontade)isto & relaxed e cosy). Nao, a coisa nao & tae facil. fat" tem algo a ver com alma, sem divide, mas com uma alma neda criéta e nade latina, Com uma alma levemente suspeita e pouco respeitivel. Com um aapécto parbaro de alma, se me permitem exprimir-re desta forma. Schiller, o espirito 4 classico e iugogico, sente claramente esse perigo obscuro que se esconde no Nimat® @ no “Gemuet", embora nao possa ter imaginade o seu fruto, o nozieme. Diz num outro poema-"Nut zeiget euch der Nameluck, Gehorsam ist des Christen Schmucl (Goregen, 0 mameluco tanbén s ten, mes obediéncia € a distingao do cristeo). A a hemesma dispoeigao classica e pedagtgica, Schiller a demonstra também no verso qui >ira estamos analisando. Diz que a coragem tendente nao pode forgar a sorte: Ii f gue terme curioso, "tendente”, eetpu empregando para qualificar & coregen? B av me esforgo por traduzir.@ palavre “strebend"..” A coragem tende, e essa “tendenci: laa coragem & com eféito um caracteristica du aime que estamos discutindo. Goetl pense que essa tendencia que cerecterita a alme galvaré a alma "Doch den, der 'Gatrebend cich bemueht, den wollan wir erloesen” (mas aquele que se esforga tendg qo, sera sclvo). lias'a lingua inglezs esclerece de que tendencia se trata. 0 | equivelente de streben" em inglez & "strife", portanto-luta e guerra. Schille: “melhor que Goéthe conhecé este aspecto alemao da alma e sente calafrios (es ist | Thm ungemetiich zimte). Gostaria portanto ele equiparar o "Iut" germanico oo a Hybris dos gregos, & @ isto, com efeito, o que tenta fazer no primeiroverso * que eotemes:discutindo, Diz que a dédiva dos deuses, Choris, @ invejosa, e que { o "tut que tende pera forga-la, nao pode faze-lo, porae ele 6 Hybris, portant Condenade. Z interessante observar como num eepirite cléssico como Schiller os elementos gregeg.e germanicos se msituram, sem conseguir eliar-se. ryPorque no ¢ eee eee eCeee eee Ce . 2 ciMREMATLNESERiani cos sobre os do eristianismo. Antes de tirar uma conelusvo dis minhas observagoes sobre a contribuigao ger- manica para a nossa herange como ocidentsis, permitam uma curta referencia aquilo que passa por amor nestecontexto. Na tradigao cléssica 6 o rmor uma capacidade da almi ou do espirito de remper a prisao da individuelidide. Amo; rés Deus sobre todos us coisus, este o umor Judeu que une o homem gom o que 0 trenscende. 0 eros, tul cono foi eluborado por Platao, & 0 daimon que conduz o espirito rumo & verdude, ao Ben e so Belo. Was 0 amor no contexto do pen- somento ateuxe g-rmanico 6 una forma du vontade, quigh a forma mestra da von= tade. Wao 6 identico com o terno “anor”, mas com o termo "libido" da lingua 4 lotina. Se vontude e corajem suc alma, “ntso o omor 6 a propria essencia da alma. Freud 6, neste santido, a expressao.méxim da teorin do amor implici- ta dos germanos. Reparem os senhores como tradugoes suo ongonadoras. Nao nego que o uspecto sexual presente em todos os contextos no quais o termo "nmor" 6 empregado no conversagic ao ocidente, 0 que pretendo sulientar & 0 extrema sexrilizuguo desse conceito dentro do projeto existencinl dos germe~ nos. Se portcnto treduzimos os pensamentos germsnicos para lingurs letines, devemos sempre ter em mente essa corgn sexuol extrema que ecompanhe o termo "amor", e isto especialmente quundo se trata de misticismo. H& um elementa somal nas eopectlagoes misticus germenicas, us quais, embore aperentenente | cristaos, sao fundumentalmente bérboras e enguadrodas naquele conjunto biol6- gico do qual fal@i hé pouco, S6:assim podemos explicur o repentino curgimen- to de um misticismo brutal como o da rego. . Tenterei resumir o mundo dos guvminos ©’ sux contribuigao porn a cena da atu alid. de. Os germnos viviemun projeto totalmente difer=nte to dos povos do Foliterréneo, Um projeto que tinha’o corpo no sentido biologico por centro, 0 corgo e as'suas fungoes eran 1 revelugno do sacro, Fave projete chocou-se durante mitus centenas de unos contra 0 projeto cristao, primaire em forma ga0, mis tarde mm realizaguo, no qual, pelo contrério, 0 eccro se reveleva Gomo uquilo oposto ao corpo. ‘Os grxminos repuesentavam, nesse choque, a pré- oria encernagso do mal, 0 préprio unticriste. Embora tenham os g-rmonicos | subdjugado préticumente toda u purte latina do Ocidente, neo conseguiram ampor 9 seu projeto de vida 908 povos conguistades. Felo contrério, taivez pela profunda rupture que existe dentro do pensamento germenico, ruptura entre vi- da c norte, mostraram os germonos que 0 projoto de vida cristeo era o mais forte. jdapturem-se superficielmente, e em processo mito penoso, & forma orista de existir, ou, como diemos, tornarem-se civilizedos. Mas o projeto existenciel germanico’, euibora vulnerfvel, 6 demesiadamente vital pure ser eliminado mesmo por um’ proceso hist6rico’da milhares d* anos. Conservou-se durante toda Idade média, ne forma da feitiparia ,' om certos aspectos do feu- dalismo, e em certas herésies, para-citar sfmente'uns poucos aspretos. ‘A re- forma, due pretendia ser uma reconstrugso de uma pretensa Igreja original,era com efeito um ressurgir do projeto germnico, exutemente como surge vm com- plexo de maneirs sublimadz. A luta contra Roma € 0 movimento libertader dos germsnos contra o jugo da vida romanamente civilizada. Com efeito, grosso modo sa0 hoje os germanos os protestantes, Mas 0 processo do ressurgimento | do projeto germunico nao parou com a reforme. Iutdndo sempre contre a tradi~ gao'classica em seu redor e no seu intimo, e infiltrando-se no ,roprio micleu. jo pencemento lutino, expendie-se o projeto germanico no curso todo da Idade Koderna, 0 efeito dessa expangao 6, no campo da religiao, a debilidude da Jgreje que outrora representava o Ocidente. Ne campo da ‘filosofia % o des— Vio da especulagao para o campo da experiencia,vivida. Ko campo dss ciencias € a dissolugeo dos elementos estitivos e a dinamizageo de realidede. No cam po do arte € uni Progressiva ronuntizagao ¢ sentimentalizages, e, mais espect Einente, 6 0 surgir da mfisica como arte suprema do Ocidente. 'No'campo de etiy ca e da politica € @ transferencia do poder para terras germunicas e uma pro- gressive pragnetizagao dos costumes. tecnologio, que tento coracteriza a atuclidade, deve muitos dos seus aspectos 0 projeto germanico, embore ee elementos ictinos dela participem, Bn breve:,o Ocidente, em sue forma atucl, meie germaunico yve crist2o, pelo menos, aparenteuente. Nao creio que SoP hE Ft ee ee, eee Pee ern arene eeemog”enaiaiser-noes ea ein r YILEM, FLU vord@hGisit¥ Siler ce deouonte a ei mesmo. Diz que a vontude sbria pode salvar-te da indignidade. 0 que vem a ser essa vontade oéria no pensemento schilleriano? Pera compreende-la, € preciso que nos lembremos da sua frase “Ernst ist das leben, heiter ist die Kunst" (aéria 6 a vida, alegre a arte), * A vontade séria nuo 6 aquela que cria urte, oa qual discutimos ao considerar @ aspecto estético do pensamento germano. 'f 2 vontade como fundamento da vi- da, ‘Was em Schiller existe ume contradigco entre vida e arte que nro 6 t4pin ca do pensanento alomat; tel como foi explicitamente desenvelvido pelos roman ticos e encontrou sua exprees& m&xina em Schopenhauer e Nietzsche. Também — neste ponto Schiller se revela clissico, isto 6 embuido do pensamento grego. Rao obstente diz de maneira tipicamente aleméque a vontade pode salvar-nos da indignidade. 0 conceito da dignidide tom um papel relevante no século 18 e Schiller o use como contrapartida da graciosidade (Ueber Anmt und Wuerde). Para ele € a dignidade a supressao dos instintos pela forge moral do homen. Has no verso que estamos discutindo Schiller revela, talvez melgré lui, o que ven a ser eesa fore: moral, a suber a vontcde. Aseim o pensamento germonico irrompe pela superficie clkssice ¢ articula~sa imperiosumente, 8 g vontede | i sériu que, pora Schiller, suprime os instintos para sulvar-nog a indignidade. © homen que nfo exerce essa vontade, 6 indigno, € um joguete dos instintos, & ume existencia inautentica, como dirfamos nés modernenente. Kes tembim este contraste entre vontade e instintos & uma concesnad que 0 Classico em Schiller faz A suc heranga grega, judia e Intin. Este contraste, ele também, sera e— liminedo pelo romsntiemo. Que rete contraste ¢ problamético para Schiller, o (timo trecho do verso o prova. ‘biz que tudo que 6 sublime desce livremente dos deuses. Esta frese ¢ curiosissima, porque estabelece uma dicotomin entre vontade e liberdade. A Xkkmavontade age dentro do campo restrito daquilo que os deuses nos concedem, ela @ portento determinada por esse campo. A liberda de est& elém desse campo, Isto 6 wm concoito da liberdade totalmente alheio— A nossa heranga latina, para a quel o exercicio da vontade 6 2 préprin liberaa de. Com efeito, € um conceito da liberdade quetem semelhanga como pensamen= to hind®, pera qual a liberdade reside no sufocar da vontade. Alife Schopen heuer nao vecorre grutuitamente & India pore formular a cua 6tica tdéd tipica- mente germana, Bssa tendencia pura uma Passividade ética, para aquilo que che mom og alemaes de "Kndavergehorsem" (obediencia cadavérica), 6 um trago mestre na €tica dos germinos. & glorificagao da corajem e da vontede pode ser compre endida somente tendo esse passividude como peno de fund Repito, neste ponto do srgumento, o verso de Schiller: “lvas elo, nse forga a sox te, e aquilo que @ Charis, invejosa, recusou, munca ser& clcengado pola coregel tendente. A vontude, a-eériu, Pode preservar—te da indignidade. Tudo o que & sublime desce livremente dos deuses." Repito ainda que o verso € tirado de‘unl poema chomado “a felicidude". A nossa anGlise demonstrou como oscila Schiller entre dois polos, ao tentar formular o gue 6, con efeito, a sus ética profunda,| enta desesperadamente conciliar o seu pensomento germanico com a herenga cl&s4 sica grego-judia, Nesee tentativa cai de uma contradigao para outre. Temos aqui en miniatura o drama do pensemento germ:nico no conjunto do Ocidente, e eg sa miniature 6 um dos exemplos mais empolgantos e admiriveis deese drama), per— que Schiller €, para min, © pensudor mais nobre que o povo alemao preduziu, 0 que fez Schiller.no verso que discutimos? Primeiramente opoe a corajem 2 feli Cidade. Depois define a corajem como vontade, e diz que ela evita e indignidey fe. Por fim opoe a vontade & liberdade. & tudo iste ele faz jogando com con- ceitos alemses carregados de segundos significedos obscuros. Observem comoede se embrulha,- Ao opor a corajem A felicidade, perece desvalorizar © corajem ce mo hybris. Was como "Sut" nao 6 hybris, was 'ulgo como alma, desvaloriza. com efeito a felicidade. Se a corajem nao pode forger a felicidade, e felicidade. que se dene, Agora Schiller parece cencordar com essa ética do desespero, ao fdentificer corajem com vontade. A vontade nés preserva da indignidade. Els ‘asaume feigoes do supremo valor, embora s6mente como vontade séria, isto ¢ co= no forga moral oposte eos instintos. Was essa propria oposigao entre vontade @ instintos, Schiller nao conspgue mente-la. Admitindo, como admite, que a vorl Sica subreP- sade @ determineda, ¢ que a UitHdede yogsae no ulém dele, ident ' 1 i 1 acer VIKEM FLUSSER tdcianente vontade com instintos, embora com instintos digemos "nobres" Fopente @ supremo bem @ aquilo que desce livrenente dos deuses, portanee oefee jicidade. uo sei se Schiller sabia dessu profunda divergencia que se articuln’ no seu verso, nus nbs, os testenunhos dos acontecimentos dos secules 196 a6 Podenos avaliar essa divergenciu em suvs conseyuenciae mus nefrates. Scho iter & dus undexe Deutschland” (x outra Alemunha), squels portento que se integron | no tecido do Ocidente, Mus nao consegue suprimir em si, a despeite de tods es= forgo, "das wahre Deutschland" (v verdadeira Alemonhu).’ 8 & considersgze dessa: eutenticu germonicidade que dodicurei o resto desta aula, 40 discutir a opistemologia germmica, sulientei o conceito an verdade como fi- delidade ¢ defesa da autenticidade. Ao discutir a estética, salientel 6 cones to do belo como um eapléndido engodo. so discutir » ontologia, saliented 6 cot ceito du realidade como conjunto de processes que tendem © superar-se. 0 cone] ceito do supremo Bem ge ongucdre nessa cena gerul do pensumente. 2, pare frier nos auito muitn superficivlmente, o vida. B € uma vida muito biolégica, mater oxgémica e muito tnimilescr. A palevro "wide". (Leben) ¢ a palovraeorne” oa sco du mesma origem ¢ usaese eu i lemao u expressno “Leib und Leben" (corpo e vi de). Em inglez usi-se a pelevirs "body" como sinénimo de "sessoa" (onybody=qual: quer pessoa). © biologismo que pervade todo pensemento germ: nico, informa tom bém o @tica & qual deu origem, Esse biologiemo de bestie loira trensprrece nos coneeitos que acubsymos de discutir no verso de Schiller. & corajem da qual ele truta ¢ o élun vital bergsoniono, @ neste sentido a alms. A vontude da quel els fila eso os instintos, e essa vontede & identica com a forgo morrly se fOr sérig porque representa os instintos nobres, isto 6 aqueles destinedos a monter o prod prgar a vido. A dignidude que t:nto proocupa Schiller & a dedicegao & vocagno fia -vidu, Kas todo este conjunto de valores, eparentemente tao pujonte @ saudi- vel, tem como ponte de referencia a norte, ésso meta da vida. & esse ponto de referencia problematisa todos os seus valores. A 6tica gnrmenica, com sue insti tenciu prigmiticu sobre a vide, € uma 6tica profundamente pessimista. Todos os seus valores sao tao fugezes yuonto o 6 @ autenticidede da verdade, tao engena— dores quanto 0 € 0 esplendor do belo, e tao fluidos quento os processos que pert fugem a realidade. Pois isto @ justumente o ccracteristico de toda étita prag- mitiea: a fluidez dos valores. “Rao se trata de uma fluidez ‘histérica, na qual os valores se desenvolvem e completam, mac ums fluidez biol6gica, na qual os ve lores se adaptam erraticamente as exigencias do lugar e do momento. "Recht ist was dem deutschen Volke nuetzt, unrecht, was ihm schedet" (justo 6 o que favore— ce o povo alemao, injusto o que lhe prejudica). Ou, em forma um pouco mitigaday “right or wrong, my country”. Bese imagrm que acabo de lhes propor da ética germanica, & uma simplificegao. ex trema, e consegui elabora—la séments com um esforgo de abstragso violento. Ne- nhum pensador alemao ou inglez, nem mesmo Nietzsche e James, subsereverion ela. E isto por duas razoes diferentes. A primeira razao € a obscuridade dos termos germanicos, e em consequencia do pensumento que neles se baseia, tasa obscuri dude permite jogos e milaberismos que muscaram 2 estrutura profunda de pensemen to, mesmo ante os olhes do proprio pensador que o formln, A segunda razao 6-0 fato de muncu ter sido formuleda a ética germonica em seu estade puro, porque sempre infiltrade por elementos cristéos que a modulam. Was, embora nunca for- mulada, tem sido a 6tica germanica pruticeda com os efeitos conhecidos. Besa pr&tica barbara acompenhava a historia do Ocidente durante a Idade m$dia como corrente subterrénea e rperimida pela ética oficial da,Igreja que se beseava sob reavalores etgrnos,; lias a partir do renascimento essa pr&tica surge sempre mais & tona e tende a dominer mesmo oficialmente a cena, Também no sentido ético os germunos estao dominande o Ocidente. 5 curioso que cheman e essa btica.biol6gil ca de “humaniemo". & verdade que se trata de humanismo, desde que identifique- mos germonicemente "vida humena" com “corpo humano” e "alme humane" com "instin)| tos". Mas como ocidentais temos um conceito diferente do homem, por exemplo o /} conceito germanico do homem como imegvm de Deus, ou o conceito grego do hemem co mo medida de todas as coisas, Neste s@ntido qquilo que representa a ética atual certamente noo pede ser chumado de humenismo. A decadencia do Ocidente, da qual feloi 36 repetidas vezes, tem tembém esto aspecto: a progressiva predomin | cane -5- devo clef GRUESER com uma palavra de cautela. Sou, como scben os senho- §| res, produto de uma sociedede que € extremamente ocidental no sentido come de- gi fini este termo. Sou de Praga. A cultura cléssica pr-valesce nesca cidade funz Gad pelas legices ronenas, e sobre esse fundamento degladeian-s germancs © esi Javos. una cidade catélica, na qual os judeus tiveram influencia decisiva, e2| @ a cidade na qual se deu a primeira reforma. a capital do Santo Imperio Remad no, mes fazia parte de Bizancio e foi catequizade por gregos. Bra a capital aa uma Repéblica ne qual o capitalismo liberal funcicnava como talvez em nenkun oug: Fo paiz da Buropa, e & agoFu a vitrine dos paizes socialistas. Talvez por istos| estou extremanrnte sensivel 2 varicdade des influencias que contrituen pare a fax magno a mentalidade do Ocidente. Nao creio que exagerei aimportneia dos ger-_ manos, mas 6 possivel que oa senhores assim pensem, j& que vs senhores sao uro- dutos de uma socied.de muito menos diretemente adubada pelos germanos. ssa pe~ Javra de ciutela ter& valor #edobrodo quindo for tratar, ne préxima eula, da in- fiuencia dos eslvos. Afinal, Portugal tinhe os seus godes, e saus inglezes, ¢ o Brasil tem seus americanos.” Mas tchecos, polonezes e russos nao se encontran _| na sua hist6riz, pelo menos hao m. histori do paceado. Neo ebstente, diz um edo que neo se deve dizer: dessa Ggua nuo beberei, e grande parte do Ocidente Ja beben da figua esleva, Com esta referencia uos éeluvos, esses bérbaros post- germanicos, encerro as consideragoes de nossa heranga germenica, pere voltar a Gla quando tratarmos da sintese deste curso.

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