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ROTEIRO PARA POD-CAST

HISTÓRIA ANTIGA
“GÊNERO E ANTIGUIDADE”

Legendas
LOC 1: Bruno Augusto da Costa
LOC 2: Andreza Montes Sousa
LOC 3: Ana Laura de Silva Castro
LOC 4: Djalma Araújo Guimarães Neto
TEC: Bruno Augusto da Costa
BG: Background
FADE: Diminui som

Nome do Programa: Pílula Mineira


Locutores: Bruno, Andreza, Ana Laura e Djalma.
Duração:
TEC BG:
LOC1 Hoje no Pod-cast de História Antiga vamos tratar da
discussão de gênero pautada na narrativa historiográfica da
antiguidade. Partiremos da perspectiva mitológica grega sobre
Hermafrodito, que era fruto de um romance adúltero entre
Hermes e Afrodite, e por isso foi criado pelas Ninfas das
florestas da Frídia, se tornando um jovem de extraordinária
beleza. Ele não se interessava pelas mulheres, apenas queria
viajar para conhecer o mundo e aventurar-se por terras
desconhecidas. Bons Estudos!
TEC Sobe:

LOC2 Em uma de suas viagens parou para descansar à beira de um


lago. A Ninfa Salmácis que reinava sobre aquelas águas
apaixonou-se por ele e logo tendo-o visto, tentou seduzí-lo,
mas Hermafrodito não se deixou envolver pelos seus
encantos. Sálmacis tentava obter o amor do rapaz por todos
os meios, mas nada conseguia.
Remoída pelo despeito e consumida pelo desejo que
cada dia se tornava mais intenso, Salmácis ficava de longe
espiando entre as folhagens. Certo dia Hermafrodito resolveu
se banhar nas águas. Quando Salmácis o viu dentro de seus
domínios, despiu-se e entrou nas águas, abraçando
Hermafrodito. Aderindo ao corpo dele, ordenou às águas que
os unisse para sempre e que jamais seus corpos se
separassem. Imediatamente as águas se agitaram e
começaram a girar em volta deles.
Embora Hermafrodito tentasse se afastar, uma atração
além de suas forças fez com que seu corpo se aderisse cada
vez mais ao corpo da Ninfa. Subitamente ele compreendeu a
intensidade do amor que ela sentia, um amor que se infiltrava
por sua pele e invadia seu organismo. Assim ele deixou que
seu corpo se fundisse ao corpo de Sálmacis até que os dois
se transformaram em um único ser.
O momento da fusão definitiva causou-lhe êxtase
tomando-lhe os sentidos, sendo homem e mulher,
participando de uma única natureza, em equilíbrio, perfeito e
completo, em um só ser ao mesmo tempo sendo dois. E
assim ordenou que todos aqueles que se banhassem naquele
lago, poderiam se tornar macho e fêmea, em um só corpo.
Porém os homens evitavam de banhar-se naquele lago
temendo perder a sua virilidade.

TEC BG:

LOC 3 O mito de Hermafrodito é a imagem da experiência de


sermos inteiros e completos. O masculino e feminino
representam muito mais do que simples identificações do
corpo; são as grandes polaridades que circundam todos os
opostos da vida. É o símbolo da integração em potencial dos
opostos dentro de uma personalidade.
O mito de Hermafrodito contado por Ovídio é uma
narrativa do início do primeiro século de nossa era, de forma já
completamente dominada pelo patriarcado, para o qual toda
característica feminina num homem o denigre. Todavia, a
narrativa construída por Ovídio não é a única que diz respeito
ao mito, uma vez que ainda há uma discussão sobre as
evidências literárias e artísticas que apontam a possibilidade
de sua versão original ter características opostas. A soma do
masculino e do feminino seria dotada do simbolismo da
fertilidade e seria o dom de deuses. Pela classificação acima
descrita, Hermafrodita não seria um transexual, mas
intersexual. E na versão de Ovídio a transformação foi uma
violência imposta de modo que ficaria fora de ambas as
classificações: trans e intersexualidade.
A história está cheia de mitos que refletem como a
multiplicidade de culturas interpretavam fenômenos sociais e
usavam de uma mesma história ou evento para dar a ela
diferentes sentidos a partir de narrativas diferentes. Um dos
mais famosos é certamente a história mítica da Bíblia sobre
Adão e Eva. Mais precisamente, Deus criou Adão à sua
imagem. Então ele criou Eva a partir de uma das costelas de
Adão para que esse tivesse companhia. Existe, no entanto,
outra interpretação menos conhecida do texto de Gênesis.
Adão foi referido pela primeira vez como um homem sem
gênero, dessa forma, um “homem e mulher” e, finalmente,
como homem, uma vez que Eva foi criada. Portanto, de acordo
com uma tradição rabínica pré-cristã, Adão era de fato um
hermafrodita capaz de procriar por si mesmo. No entanto,
Deus pensou que Adão não deveria ser solteiro e, portanto,
decidiu dar-lhe uma companheira. Ele criou assim, uma mulher
de um dos lados de Adão.
A noção de um indivíduo dividido também é descrita por
Platão. Ele conta em seu Symposium uma história em que um
grupo de homens eminentes comparece a um banquete onde
eles são convidados a fazer um discurso em louvor ao amor.
Aristófanes, um dos participantes, diz que é preciso entender a
natureza humana para que se possa entender as origens do
amor, e essa ordem de entendimento se devia que as pessoas
primitivas eram criaturas esféricas, com quatro mãos, quatro
pernas e duas faces olhando para direções opostas. Devido à
sua força, eles representavam uma ameaça potencial aos
deuses e, portanto, Zeus decidiu cortá-los em dois. No
entanto, assim que foram separados, procuraram voltar a se
unir.
Desde a antiguidade, cada época e cultura desenvolveu
teorias relacionadas de como a determinação do sexo pode
ser influenciada: do enfaixamento dos pés da mulher ou os
testículos do homem, até a ingestão de tipos específicos de
alimento. Em tempos antigos, crianças do sexo masculino
eram geralmente muito mais bem-vindas do que do feminino,
pois dessa forma era mais provável acalmar a ira dos deuses.
De fato, essa preferência por produzir filhos masculinos foi o
principal incentivo à busca de entender como o sexo é
determinado para poder controlá-lo.
O conceito de determinação do sexo foi uma questão de
debate para muitos filósofos gregos antigos. O filósofo pré-
socrático Parmênides hipotetizou que o sexo da criança era
determinado por sua posição no útero, de forma que homens
no lado direito e mulheres no lado direito. Anaxágoras
acreditava que o pai determinava o sexo de uma criança,
sendo que os homens eram formados a partir do sêmen do
testículo direito, enquanto as mulheres eram formadas no
testículo esquerdo.

LOC 4 As diferenças de sexo intrigaram a humanidade desde os


tempos antigos e o interesse para entender, explicar e
justificar essas diferenças, tanto do ponto de vista médico e
biológico quanto das práticas culturais pautadas nessas
diferenças levaram à criação de mitos desenvolvidos por
diversas narrativas em direções diferentes e muitas vezes
opostas. Essas diversas narrativas derivaram regras e normas
sociais que moldam em maior ou menor nível, culturas inteiras.
Em meio a isso, atualmente as discussões sobre gênero,
determinação sexual e papais sociais ganharam uma força
dentro da academia, sendo bastante discutido nas ciências
humanas e biológicas, apesar disso, as narrativas de herança
mitológica ainda exercem grande influência nas normas
sociais contemporâneas quando se tratando de gênero.
Considerando tudo isso exposto, é possível vislumbrar
como o interesse pelo entendimento da determinação do
sexto, assim como a busca por esse controle são fatores
importantes que vão contribuir para a significação do conceito
de gênero, tanto nas culturas da antiguidade quanto para
nossa sociedade contemporânea. Essa significação tem como
efeito o favorecimento de determinadas formas de explicar e
justificar esse tema social, o que, por sua via contribui para o
desenvolvimento e adoção de determinadas narrativas. Na
antiguidade isso acontecia por meio dos mitos e hoje isso
acontece também por meio dos resultados de pesquisas
científicas em diversos campos do conhecimento.
Um dos meios que as narrativas são produzidas e
selecionadas é o ambiente das escolas e faculdades. Mais
especificamente, o professor de história é componente
imprescindível para a propagação do conjunto de narrativas
que estruturam a base da sociedade contemporânea.
Contudo, compreendendo que o valor social de determinadas
normas é pautado pela adoção de determinadas narrativas e
que, por sua vez essa escolha sempre acontece em favor de
um conjunto de interesses em detrimento de outros, é de
grande importância que professor de história e historiador da
antiguidade conheça o mecanismo histórico e compreenda a
importância do seu trabalho para a construção de nossa
sociedade.

A discussão de gênero pautada na narrativa historiográfica da


antiguidade:

1. Mito de Hermafrodito

Hermafrodito era fruto de um romance adúltero entre Hermes e Afrodite, e


por isso foi criado pelas Ninfas das florestas da Frídia, se tornando um jovem de
extraordinária beleza. Ele não se interessava pelas mulheres, apenas queria viajar
para conhecer o mundo e aventurar-se por terras desconhecidas.
Em uma de suas viagens parou para descansar à beira de um lago. A Ninfa
Salmácis que reinava sobre aquelas águas apaixonou-se por ele e logo tendo-o
visto, tentou seduzí-lo, mas Hermafrodito não se deixou envolver pelos seus
encantos. Sálmacis tentava obter o amor do rapaz por todos os meios, mas nada
conseguia.
Remoída pelo despeito e consumida pelo desejo que cada dia se tornava
mais intenso, Salmácis ficava de longe espiando entre as folhagens. Certo dia
Hermafrodito resolveu se banhar nas águas. Quando Salmácis o viu dentro de
seus domínios, despiu-se e entrou nas águas, abraçando Hermafrodito. Aderindo
ao corpo dele, ordenou às águas que os unisse para sempre e que jamais seus
corpos se separassem. Imediatamente as águas se agitaram e começaram a girar
em volta deles.
Embora Hermafrodito tentasse se afastar, uma atração além de suas forças
fez com que seu corpo se aderisse cada vez mais ao corpo da Ninfa. Subitamente
ele compreendeu a intensidade do amor que ela sentia, um amor que se infiltrava
por sua pele e invadia seu organismo. Assim ele deixou que seu corpo se fundisse
ao corpo de Sálmacis até que os dois se transformaram em um único ser.
O momento da fusão definitiva causou-lhe êxtase tomando-lhe os sentidos,
sendo homem e mulher, participando de uma única natureza, em equilíbrio,
perfeito e completo, em um só ser ao mesmo tempo sendo dois. E assim ordenou
que todos aqueles que se banhassem naquele lago, poderiam se tornar macho e
fêmea, em um só corpo. Porém os homens evitavam de banhar-se naquele lago
temendo perder a sua virilidade.

2. discussão e interpretação do mito:

O mito de Hermafrodito é a imagem da experiência de sermos inteiros e


completos. O masculino e feminino representam muito mais do que simples
identificações do corpo; são as grandes polaridades que circundam todos os
opostos da vida. É o símbolo da integração em potencial dos opostos dentro de
uma personalidade.
O mito de Hermafrodito contado por Ovídio é uma narrativa do início do
primeiro século de nossa era, de forma já completamente dominada pelo
patriarcado, para o qual toda característica feminina num homem o denigre.
Todavia, a narrativa construída por Ovídio não é a única que diz respeito ao mito,
uma vez que ainda há uma discussão sobre as evidências literárias e artísticas
que apontam a possibilidade de sua versão original ter características opostas. A
soma do masculino e do feminino seria dotada do simbolismo da fertilidade e seria
o dom de deuses. Pela classificação acima descrita, Hermafrodita não seria um
transexual, mas intersexual. E na versão de Ovídio a transformação foi uma
violência imposta de modo que ficaria fora de ambas as classificações: trans e
intersexualidade.
A história está cheia de mitos que refletem como a multiplicidade de
culturas interpretavam fenômenos sociais e usavam de uma mesma história ou
evento para dar a ela diferentes sentidos a partir de narrativas diferentes. Um dos
mais famosos é certamente a história mítica da Bíblia sobre Adão e Eva. Mais
precisamente, Deus criou Adão à sua imagem. Então ele criou Eva a partir de uma
das costelas de Adão para que esse tivesse companhia. Existe, no entanto, outra
interpretação menos conhecida do texto de Gênesis. Adão foi referido pela
primeira vez como um homem sem gênero, dessa forma, um “homem e mulher” e,
finalmente, como homem, uma vez que Eva foi criada. Portanto, de acordo com
uma tradição rabínica pré-cristã, Adão era de fato um hermafrodita capaz de
procriar por si mesmo. No entanto, Deus pensou que Adão não deveria ser solteiro
e, portanto, decidiu dar-lhe uma companheira. Ele criou assim, uma mulher de um
dos lados de Adão.
A noção de um indivíduo dividido também é descrita por Platão. Ele conta
em seu Symposium uma história em que um grupo de homens eminentes
comparece a um banquete onde eles são convidados a fazer um discurso em
louvor ao amor. Aristófanes, um dos participantes, diz que é preciso entender a
natureza humana para que se possa entender as origens do amor, e essa ordem
de entendimento se devia que as pessoas primitivas eram criaturas esféricas, com
quatro mãos, quatro pernas e duas faces olhando para direções opostas. Devido à
sua força, eles representavam uma ameaça potencial aos deuses e, portanto,
Zeus decidiu cortá-los em dois. No entanto, assim que foram separados,
procuraram voltar a se unir.
Desde a antiguidade, cada época e cultura desenvolveu teorias
relacionadas de como a determinação do sexo pode ser influenciada: do
enfaixamento dos pés da mulher ou os testículos do homem, até a ingestão de
tipos específicos de alimento. Em tempos antigos, crianças do sexo masculino
eram geralmente muito mais bem-vindas do que do feminino, pois dessa forma era
mais provável acalmar a ira dos deuses. De fato, essa preferência por produzir
filhos masculinos foi o principal incentivo à busca de entender como o sexo é
determinado para poder controlá-lo.
O conceito de determinação do sexo foi uma questão de debate para
muitos filósofos gregos antigos. O filósofo pré-socrático Parmênides hipotetizou
que o sexo da criança era determinado por sua posição no útero, de forma que
homens no lado direito e mulheres no lado direito. Anaxágoras acreditava que o
pai determinava o sexo de uma criança, sendo que os homens eram formados a
partir do sêmen do testículo direito, enquanto as mulheres eram formadas no
testículo esquerdo.

3. Conclusão

As diferenças de sexo intrigaram a humanidade desde os tempos antigos e


o interesse para entender, explicar e justificar essas diferenças, tanto do ponto de
vista médico e biológico quanto das práticas culturais pautadas nessas diferenças
levaram à criação de mitos desenvolvidos por diversas narrativas em direções
diferentes e muitas vezes opostas. Essas diversas narrativas derivaram regras e
normas sociais que moldam em maior ou menor nível, culturas inteiras. Em meio a
isso, atualmente as discussões sobre gênero, determinação sexual e papais
sociais ganharam uma força dentro da academia, sendo bastante discutido nas
ciências humanas e biológicas, apesar disso, as narrativas de herança mitológica
ainda exercem grande influência nas normas sociais contemporâneas quando se
tratando de gênero.
Considerando tudo isso exposto, é possível vislumbrar como o interesse
pelo entendimento da determinação do sexto, assim como a busca por esse
controle são fatores importantes que vão contribuir para a significação do conceito
de gênero, tanto nas culturas da antiguidade quanto para nossa sociedade
contemporânea. Essa significação tem como efeito o favorecimento de
determinadas formas de explicar e justificar esse tema social, o que, por sua via
contribui para o desenvolvimento e adoção de determinadas narrativas. Na
antiguidade isso acontecia por meio dos mitos e hoje isso acontece também por
meio dos resultados de pesquisas científicas em diversos campos do
conhecimento.
Um dos meios que as narrativas são produzidas e selecionadas é o
ambiente das escolas e faculdades. Mais especificamente, o professor de história
é componente imprescindível para a propagação do conjunto de narrativas que
estruturam a base da sociedade contemporânea. Contudo, compreendendo que o
valor social de determinadas normas é pautado pela adoção de determinadas
narrativas e que, por sua vez essa escolha sempre acontece em favor de um
conjunto de interesses em detrimento de outros, é de grande importância que
professor de história e historiador da antiguidade conheça o mecanismo histórico e
compreenda a importância do seu trabalho para a construção de nossa sociedade.

ESTRUTURA:

Apresentação do mito de Hermafrodito

- Adultério
- Desejo
- Dualidade sexual
- Importância da virilidade.
- Significados.
- Construção da narrativa.

Desenvolvimento

- Como as narrativas são construídas ao longo do tempo


- Discussão de gênero Grécia Antiga
- Discussão de gênero atual

Conclusão

- Impacto da narrativa sobre gênero na antiguidade no significado atual


- Importância do professor na manipulação das narrativas.

Referência:

Mittwoch, U. (2005). Sex Determination in Mythology and History. Arquivos


Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, (49)1, 7-13.
Stévant, I., Papaioannou, M. D. & Nef, S. (2018). A brief history of sex
determination. Molecular and Cellular Endocrinology, 468, 3-10.

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