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Atualmente, uma visão mais contemporânea desse instituto estabelece que os poderes
administrativos são mais uma função pública do que propriamente uma prerrogativa que permite
precisa desempenhar funções públicas para os mais diversos propósitos e cada uma delas será
poder de polícia (que será comentado com maior profundidade, analisando os diversos institutos
P oder Executivo. Noutras palavras, é o poder que o chefe do Executivo possuir de detalhar
estabelecidas.
O poder regulamentar encontra seu fundamento no artigo 84, inciso IV, da C onstituição,
administrador só pode expedir decretos regulamentares com o objetivo de esmiuçar o que a lei
não detalhou, não podendo no ordenamento jurídico. Aliás, isso também decorre da leitura
conjugada do artigo 84, IV, com o artigo 5º, II (princípio da legalidade), ambos da C RFB.
Art. 5º […]
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei;
É por isso que, no Brasil, a doutrina majoritária defende que, em regra, não se admite o
regulamento autônomo, vale dizer, o regulamento que supre lacunas legislativas, editado sem que
Existem exceções pontuais que são admitidas. O assunto é muito bem abordado por Maria
Sylvia Di P ietro, que exemplifica uma exceção de regulamento que inova no ordenamento jurídico
Um decreto pode cuidar da forma como a administração pública será organizada, desde
que isso não crie nem leve à extinção de um órgão público. Trata-se de ato administrativo que
poderá, excepcionalmente, ultrapassar o que uma lei previu, inovando no ordenamento jurídico.
Nesse contexto, pode-se aventar que tanto o C NJ (C onselho Nacional de Justiça) e quanto
o C NMP (C onselho Nacional do Ministério P úblico) têm competência para criar normas primárias
(tais como resoluções) sobre matérias que não foram regulamentadas por lei, cabendo citar a
autônomos, na medida em que se está diante de uma norma que concretiza o texto
que depende de uma lei intermediária para fazer a ponte com o texto constitucional, de modo
que, na ausência da aludida lei intermediária, o regulamento é considerado autônomo por suprir
Destarte, são situações diferentes. Uma coisa é ter uma matéria cuja disciplina depende de
lei, que, por sua vez, não existe, havendo, porém, um regulamento que supre a lacuna legal.
Assim, quando sobrevier a lei, a matéria objeto do decreto não poderá subsistir, se porventura
No caso do C NJ e C NMP , o Supremo permite – como o fez na ADC nº 12 [1] – que esses
conselhos façam uma concretização direta do texto constitucional por meio de resoluções. Logo,
uma resolução que proíbe a contratação de parentes não depende de lei intermediária. Então, não
há que se falar em regulamento autônomo, pois não há autonomia em relação à lei alguma. C om
efeito, se a lei não é necessária, a Resolução nº 07/C NJ, na realidade, dá concretude aos princípios
Nota do monitor:
C ontudo, o mais relevante é saber que isso é possível. Se os atos do C NJ que inovam o
ordenamento jurídico sem que haja previsão legal serão chamados de regulamento autônomo ou
não, isso não é o mais importante. Deve-se focar no fato de que atualmente se admite uma
Outro aspecto importante é que, embora se afirme que o poder regulamentar encontra-se
no rol de competências privativas do chefe do P oder Executivo, esse entendimento, não obstante
ser majoritário, não é unânime. A esse respeito, José dos Santos C arvalho Filho tem sustentado
que não só o chefe do Executivo pode exercer o poder regulamentar, mas também outras
O P rofessor Valter Shuenquener concorda com essa linha de pensamento, pois existem
regulamentam a lei; e atos de regulamentação de segundo grau. Nada impede que exista uma
portaria regulamentando um decreto, que, por seu turno, regulamenta uma lei. Dito
escalonamento é possível. Dessa forma, não há, por esta vertente, como defender que só o chefe
Feitas essas considerações, advirta-se que é mais prudente, em uma prova de concurso,
privativa do chefe do P oder Executivo, a ele cabendo expedir normas dotadas de caráter
regulação é noção mais ampla. É bem verdade que, por meio da regulação, as agências
reguladoras – ou mesmo os entes que, não sendo agências reguladores, desempenham função
reguladores exercem uma discricionariedade técnica que encontra fundamento num ambiente de
deslegalização.
Acerca do tema, tem-se uma lei-quadro (que não adentra na matéria técnica, apenas fixa
uma moldura normativa) colmatada pelo ato da agência reguladora, que esmiúça as questões
Quanto ao poder regulamentar, há uma lei e um decreto, mas a escolha do decreto que
esmiúça a lei é de cunho político. Na regulação, a escolha é de natureza técnica e tal cenário
para o infralegal ou, como dizem os franceses, a normatização sai do domínio da lei (domaine de
Ainda sobre o assunto, Diogo de Figueiredo cita o instituto da deslegalização, com base no
É preciso realçar que a regulação não se limita ao detalhamento técnico de previsões legais
atuação da Ancine (Agência Nacional do C inema), que, além do fomento de atividades, exerce
adjudicatória – adjudicar é dirimir conflitos, de modo que a agência pode servir de árbitro para uma
José dos Santos C arvalho Filho afirma que, em verdade, a hierarquia é uma característica inerente
à Administração P ública.
Administração P ública está estruturada com base numa hierarquia. Existe uma forma de controle
que o superior hierárquico reveja todos os atos de seu subordinado, conforme explicado no tópico
Em síntese, o poder hierárquico é o que autoriza o chefe a rever, sob a ótica da legalidade
ou do mérito administrativo, os atos praticados pelos seus subordinados. Ademais, referido poder
tem relação muito próxima com a avocação de competência, que se opera quando o superior
hierárquico chama para si, ainda que com caráter temporário, uma competência do seu
subordinado.
Observa-se, portanto, que a avocação pressupõe uma relação hierárquica entre aquele
que avoca para si a competência e aquele que perde esta competência em caráter temporário.
Já no caso da delegação, por mais que normalmente haja relação direta com a hierarquia,
não há dependência quanto a esta. Isso significa que se pode ter delegação sem que se verifique
O artigo 12 da mesma Lei 9.784/1999, não deixa dúvidas de que a delegação não depende
de hierarquia. C onfira-se:
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento
legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que
estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for
conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica
ou territorial.
Um último aspecto a ser destacado quanto ao poder hierárquico é que não há hierarquia
hierárquico frente a uma autarquia vinculada à sua pasta, até porque esse controle que se verifica
na Administração Direta (é dizer, uma pessoa jurídica própria, tal como a União) em relação a uma
Desse modo, para que haja hierarquia, para que o poder hierárquico possa ser exercido,
precisa-se estar no âmbito de uma mesma pessoa jurídica, possibilitando-se, assim, uma relação
Trata-se do poder exercido pelo administrador público com o propósito de aplicar sanções
àqueles que estão submetidos a um estado de sujeição especial. Isso significa que existem
pessoas que tem uma vinculação com a administração pública fundada em uma lei específica,
C omo é sabido, o servidor público é regido por uma lei que prevê as possíveis sanções a
aposentadoria compulsória. Não se pode aplicar uma sanção a quem não faz parte deste regime
jurídico. Fala-se até que o poder disciplinar é uma manifestação de um poder introverso da
A escolha da sanção a ser imposta não é propriamente discricionária, pois a lei, em regra,
prevê quais penalidades devem ser aplicadas em razão das condutas praticadas. Nesse passo,
problema é que, muitas vezes, a lei emprega conceitos jurídicos indeterminados, estabelecendo,
por exemplo, sanções para quem atentar contra os bons costumes; contra a segurança nacional;
faltar com o decoro; apresentar comportamento desidioso; faltar com o zelo etc.
que se atinge uma zona de certeza positiva e se identifica que determinada conduta se encaixa
num dado conceito, provavelmente ter-se-á uma pena específica para a conduta em xeque.
Quando isso não acontece, o administrador terá que aplicar uma sanção pautada pela
proporcionalidade.
Lastreado nesses argumentos, os tribunais têm assentado que não há uma autêntica
discricionariedade, uma eleição da melhor sanção pautada por conveniência e oportunidade, mas
sim uma escolha que deve atentar para o que a lei prevê e, na ausência desta subsunção
específica, atender à proporcionalidade. Tanto é assim que, quando o STJ modifica uma sanção
disciplinar, faz isso com base no princípio da proporcionalidade, alegando que a sanção foi ou
Não é novidade o ordenamento jurídico pátrio veda a dupla punição pelo mesmo fato, ou
seja, proíbe o bis in idem. Inclusive, há entendimento sumulado do STF acerca do tema:
Súmula 19/STF:
“É inadmissível segunda punição de servidor público, baseada no mesmo processo
em que se fundou a primeira”.
EXEMPLO: o sujeito respondeu a um processo disciplinar e foi punido com uma pena de
advertência. P assado algum tempo, a Administração verificou que a pena correta não era
advertência, mas sim suspensão. Ora, se a sanção de advertência já foi aplicada, essa pessoa não
poderá ser punida novamente pelo mesmo fato. C ontudo, se a penalidade ainda não foi imposta,
sem que isso implique ofensa à regra legal que proíbe a revisão para cominação de pena mais
gravosa, como mostram, por exemplo, os artigos 65 da Lei nº 9.784/1999 e 174 da Lei nº
Art. 65. Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser revistos,
a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou
circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a inadequação da sanção aplicada.
Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar agravamento da
sanção.
Art. 174. O processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer tempo, a pedido ou de
ofício, quando se aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justificar a
inocência do punido ou a inadequação da penalidade aplicada.
Nota do monitor:
parágrafo único, da Lei 8.112/1990, cujo teor é o seguinte: “Parágrafo único. Da revisão do
Denota-se, portanto, que a revisão do processo disciplinar pressupõe fatos novos. O caso
tratado acima não retrata surgimento de fatos novos, mas sim anulação de um ato ilegal e que
previa uma sanção incorreta. Fundamentalmente, o que o parágrafo único do artigo 65 da Lei
9.784/1999 veda é que, sobrevindo fatos, adote-se uma nova interpretação para agravar a
situação da parte.
ATENÇÃ O! A regra de que não se admite dupla punição pelos mesmos fatos comporta
(um) ano. Desse modo, se o Tribunal de Justiça ou o Ministério P úblico local aplicaram uma pena de
advertência para uma conduta gravíssima que deveria supostamente ensejar suspensão de 90
C NMP podem instaurar um processo de revisão, mesmo já tendo sido aplicadas penalidades aos
respectivos membros, e substituir as sanções impostas por outras. Há, portanto, uma situação
em que não há óbice à dupla punição, pois os referidos conselhos podem aplicar nova punição
diante dos mesmos fatos. Aliás, este foi o objetivo pretendido com a criação do C NJ e C NMP :
disciplinar (PAD) admitem o que a doutrina denomina de reformatio in pejus. O artigo 64,
parágrafo único, da Lei nº 9.784/1999 autoriza expressamente esse instituto, o qual permite o
Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar, modificar,
anular ou revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de
sua competência.
Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder decorrer gravame à
situação do recorrente, este deverá ser cientificado para que formule suas
alegações antes da decisão.
Assim, por exemplo, um sujeito punido em uma primeira decisão com suspensão por 10
(dez) dias, considerando a sanção muito alta, recorre solitariamente alegando desproporção da
pena aplicada. Nesse cenário, nada impede que a instância superior decida aplicar uma pena mais
gravosa. Isso se dá com fundamento nos princípios da legalidade e da verdade material, ambos
Oportuno lembrar, ainda, que a sanção disciplinar deve estar prevista no ordenamento, ou
seja, deve ser típica, de maneira que o administrador não pode inventar uma sanção. Além disso,
maiores formalidades. Nesse sentido, a Lei 8.112/1990 estabelece a sindicância para situações de
suspensão por prazo superior a 30 (trinta) dias ou penalidades gravosas como a demissão.
• Instauração;
• Instrução;
• Defesa;
• Relatório; e
• Julgamento.
Eventualmente, pode ocorrer a inversão dessas fases, mas, de toda sorte, sempre se
deve observar o contraditório e ampla defesa. P or exemplo, se a instrução voltou a ser realizada
defesa deve vir sempre após a instrução, o que, aliás, é um vício muito comum.
O P rofessor Valter Shuenquener sugere que o aluno proceda à leitura dos dispositivos da
Lei nº 8.112/1990 a temática do exercício do poder disciplinar, quais sejam, artigos 127 a 182.
Adverte, por fim, que ditas regras devem ser memorizadas, porquanto frequentemente cobradas