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Lallement inicia sua obra destacando a sociologia não como acumulação de ideias ao

longo do curso da história, mas sim como uma evolução constante de ideias que se apoiam umas
nas outras – todavia, não num sentido evolucionário, isto é, com o intento de chegar à verdade
última, porém com a finalidade de melhor contextualizar, sob a lupa de ferramentas como a
estatística, a história e a análise social, a realidade social de determinado período histórico, bem
como os seus possíveis reflexos em estruturas sociais futuras.

Iniciando pelos ideários sociais gregos, principalmente através de Platão e Aristóteles, o


autor demonstra, em grande parte, a busca pelos mesmos em tentar explicar e modelar a ordem
social através de ideários naturalistas e metafísicos – como, por exemplo, através da atribuição
de papéis sociais fixos a determinados setores da sociedade, aliado a uma ideia de determinismos
divinos/biológicos – que culmina em obras como A República e A Política, ambas uma tentativa
notável de criar um modelo sócio-político ideal.

Após passar por um significativo período de inatividade, as tentativas de fazer ciência


política e social voltam a vida através da Igreja Católica na Idade Média, com destaque para
Santo Agostinho, que, em A cidade de Deus, refuta ideias milenaristas (que defendiam, em suma,
a autoridade da fé como meio de diluir as desigualdades sociais) através da defesa de uma cidade
constituída na fé, humildade e natureza cosmopolita – nota-se aqui o início de tendências a fazer
teoria política através da fé, o que, mais tarde, vai dar luz ao direito divino e a noção do soberano
como escolhido divino. Com a Reforma Protestante, e o concomitante Renascimento, vem à tona
uma série de mudanças radicais no pensamento sociológico primitivo, com Maquiavel marcando
a massiva ruptura entre a esfera política e religiosa.

Mais tarde na modernidade, inicia-se o racionalismo através de pensadores como


Bacon, que une a razão a experimentação, e Descartes, que postula o conhecimento como meio
de tornar o homem senhor da natureza. A ascensão do racionalismo como ideologia levará ao
surgimento das teorias de contrato social e estado de natureza, fundamentais para o
desenvolvimento futuro da sociologia – através de Hobbes, Locke, Rousseau e outros autores,
que postulam o estado natural do ser humano de maneiras variadas, porém todos concordando
que, através de um meio ou de outro, o estado de natureza é superado através do contrato social,
que consiste na entrega do poder do indivíduo para o Estado, ou ainda para a formação de um
único indivíduo massivo, que vem a constituir a sociedade em si.
Junto com os contratualistas, nasce o ideário liberal, principalmente através de autores
como Locke, Smith, Constant e outros, que virá a determinar o início da formação da sociedade
capitalista de mercado, ordem social que predominará – com evidentes alterações e vicissitudes –
até o séc XX. Com as revoluções francesa, inglesa e americana, a monarquia absolutista perde a
força, e dois grandes modelos políticos vem à tona: a monarquia parlamentarista e a república
democrática. Os dois modelos, ao longo do séc XVIII – a Idade das Luzes – vão ganhando força
em conjunto com o iluminismo e o positivismo, que, rompendo definitivamente com o ideário
medieval, colocam a razão em posição metafísica, como meio único e definitivo de atingir o
progresso humano. Grande ideário positivista e fundador da sociologia, Augusto Comte marca o
surgimento definitivo da sociologia, que passa, aos poucos, a se consagrar na academia europeia.

A revolução industrial – com destaque para a inglesa – marca o fim do modelo


econômico agrícola e manufatureiro, que dá lugar para a era do maquinário e do surgimento de
novas angústias sociais através do sistema industrial de produção capitalista, marcado, de início,
pelos conflitos entre o proletariado e a nobreza – e mais tarde, entre o proletariado e a burguesia.
Chevalier coleta a ideia de ideólogos burgueses e nobres que classificam o proletariado como
classe – ou mesmo raça – perigosa, preguiçosa e parasita, que visa, com vícios e violência, retirar
o que a burguesia conquistou com “trabalho e parcimônia”.

As indisposições sociais entre as duas classes, divididas por proporções abissais, aliado
ao desemprego, as más condições de trabalho e a sensação de mal-estar social como um todo,
tornar-se-ão terreno fértil para a gênese das teorias sociais socialistas, com destaque para Karl
Marx e Friedrich Engels. Começando com Polanyi, Owen, Godwin e, principalmente, Saint-
Simon, Proudhon e Bakunin, surgem as bases teóricas para o anarquismo, o socialismo (utópico
e, muito mais tarde, o científico) através da caracterização da propriedade como roubo e a
criação de conceitos como a alienação e a exploração, que mais tarde irão protagonizar a obra de
Marx por um bom tempo.

Marx, advogado, filósofo e economista alemão, fortemente influenciado (inicialmente,


numa inspiração que mais tarde irá tornar-se crítica) por Hegel e Proudhon, começa a formular as
teorias socialista e comunista com o auxílio de Engels, proletário trabalhando na Inglaterra,
numa lenta porém constante ruptura com o idealismo de suas inicias inspirações, no que
culminará nas noções de mais-valia, comunismo, alienação econômica e fetichização da
mercadoria, através de obras como O Capital e o Manifesto Comunista, que irá influenciar na
transformação da Liga dos Justos na Liga dos Comunistas e na fundação da Associação
Internacional dos Trabalhadores, marcando, portanto, as primeiras tentativas – que irão
manifestar-se com mais proeminência no séc. XX – de superar o modo de produção industrial
capitalista.

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