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Cinthia Helena de Oliveira Bechelaine; Mauro César da Silveira e Camila Barbosa Neves RSP

O modelo de gestão pública


por resultados em Minas Gerais
analisado à luz da experiência
do Programa Estado para
Resultados

Cinthia Helena de Oliveira Bechelaine,


Mauro César da Silveira e Camila Barbosa Neves

Introdução

A ascensão de teorias críticas às burocracias, classificadas como ineficientes e


apegadas à norma, buscou a redução do déficit e a diminuição do setor estatal,
bem como a implantação do modelo gerencial marcado pela influência da iniciativa
privada. Desde então, a ideia de uma gestão por resultados tem dominado a
agenda de reformas governamentais.
No Estado de Minas Gerais, a partir de 2003, foi instituído o programa Choque
de Gestão, cujas premissas abordam o ajuste fiscal e a modernização da adminis-
tração pública. Durante os primeiros quatro anos dessa gestão, foram estabele-
cidos arranjos institucionais como a integração plano-orçamento, o escritório
central de projetos, os acordos de resultados e as avaliações de desempenho.
O Programa Estado para Resultados (EpR), marca da segunda geração de
políticas do Choque de Gestão mineiro, propõe um modelo de gestão pública
por resultados a partir de mecanismos criados para acompanhar resultados, além

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de auxiliar o processo de tomada de deci- programa, bem como os responsáveis


sões na administração. É estabelecido como pelas três unidades que o compõem. O
uma estrutura provisória, extinguindo-se em software ATLAS-ti foi utilizado na pesquisa
31 de janeiro de 2011, cuja coordenação era para apoio às interpretações das entre-
de responsabilidade do vice-governador do vistas e organização documental. O
estado, em parceria com a Secretaria de software foi criado, principalmente, visando
Estado de Planejamento e Gestão (Seplag). à construção de teorias (BANDEIRA -DE -
O programa era composto por três unidades MELLO; CUNHA, 2003), sendo, portanto,
não formais, sendo elas: Unidade de Gestão uma alternativa importante para o
Estratégica, Unidade de Empreendedores e desenvolvimento da grounded theory.
Unidade de Indicadores. De forma esquemática, o trabalho está
Em síntese, o artigo busca compreender organizado em quatro seções principais.
como se articulam as funções e as estru- A segunda seção apresenta, sintetica-
turas no modelo de gestão por resultados mente, a trajetória das reformas gerencias
mineiro. Procura-se, também, evidenciar a na administração pública, desde a crítica
composição do EpR a partir de seu pro- ao modelo burocrático até o advento da
cesso de construção, modelos teóricos utili- gestão pública por resultados. Com vistas
zados e estrutura de funcionamento. a ilustrar e problematizar a elaboração
Para cumprir esse objetivo, optou-se teórica, a terceira seção apresenta o estudo
pela pesquisa descritiva longitudinal, que de caso do EpR. Trata-se, portanto, de uma
permite, segundo Hair Jr, Babin, Money e análise da concepção, evolução e validade
Samouel (2005), mapear elementos admi- do programa a partir da percepção de seus
nistrativos de modo que suas tendências dirigentes. Na última seção, destinada às
sejam observadas cronologicamente. Como considerações finais, cabe a constatação de
método de pesquisa, utilizou-se a grounded que Minas Gerais apresenta um modelo
theory, traduzida por “teoria fundamentada de gestão por resultados marcado pelo
nos dados” e apresentada como uma incrementalismo, e efetivado, em parte,
alternativa atraente para pesquisas qualita- pela experiência do EpR.
tivas sobre fenômenos organizacionais
(BANDEIRA-DE-MELLO; CUNHA, 2006). O A gestão pública por resultados
método originou-se do trabalho de Glaser
e Strauss (1967), e emerge da análise de O termo “Gestão por resultados”
dados e do desenvolvimento, de forma advém da “Administração por objetivos”
progressiva, de hipóteses fundamentadas (APO), mencionado pela primeira vez por
nesses dados. Ao contrário de outros Peter Drucker em 1954, no livro The practice
métodos, a grounded theory não se inicia com of management (Serra, 2008), e é definido
uma teoria preconcebida (hipótese). como um sistema que relaciona metas
Para obter uma compreensão mais organizacionais com o desenvolvimento da
detalhada da realidade e situação dos empresa. Nessa concepção, os objetivos
envolvidos no estudo de caso do EpR, proporcionam um senso de direção para a
foram consultados documentos internos, organização, guiam as decisões e servem de
artigos escritos sobre a experiência e, prin- parâmetros para avaliação de desempenho.
cipalmente, entrevistas semiestruturadas Da administração por objetivos de
realizadas com os coordenadores do Drucker, para a gestão por resultados da

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administração pública atual, foi necessário estratégia de gestão orientada para o


um longo percurso que teve início junto desempenho, a obtenção de resultados e
ao processo de se repensar o papel do Esta- efeitos, ao contrário de produtos. De forma
do, otimizar seu desempenho, melhorar semelhante, para Serra (2008), a gestão por
sua eficiência e a qualidade dos serviços, resultados se apresenta como uma proposta
ideias consolidadas no final do século 20. de cultura organizadora de gestão,
O movimento gerencialista e a cultura mediante a qual se põe ênfase nos resul-
do management foram transportados do setor tados e não nos processos e procedimentos.
privado para o setor público, engendrando Complementando a definição de gestão
o movimento “reinventando o governo” por resultados, o glossário relaciona a ges-
concebido pelo trabalho de David Osboren tão com a inclusão de elementos estratégicos,
e Ted Gaebler. Os autores argumentam a
favor de um governo empreendedor,
caracterizado pelo estímulo à competição,
pela transferência de controle aos cidadãos “... o trabalho
e pela focalização nos resultados – orien-
tando-se pela missão e objetivos, em vez
de estipular
de regras e regulamentos (O SBORNE ; indicadores
GAEBLER, 1995). governamentais
Por “resultados” entende-se a mudança dificilmente será
desencadeada na realidade pelo produto neutro e estático,
final (SERRA, 2008). Esse significado refere-
se, também, ao conceito de efeitos uma vez que a
(outcomes): aquilo que uma intervenção implementação
alcançará ou alcançou no curto e no médio das políticas está
prazo (OCDE, 2002). sujeita ao papel
Por produtos, também conhecidos
desempenhado pelos
como outputs, entende-se “bens, equipa-
mentos ou serviços que resultam da inter- agentes encarregados
venção de desenvolvimento” (OCDE, 2002). de colocá-las em
Assim, exemplos de produtos podem ser ação e avaliá-las...”
rodovias pavimentadas, escolas construí-
das, postos de saúde implantados, entre
outros. Entretanto, os produtos gerados
pelas inter venções podem, ou não,
conduzir a resultados/efeitos. Por exemplo, como o estabelecimento de objetivos, metas
um maior número de rodovias pavimen- e indicadores de desempenho (OCDE, 2002).
tadas pode não resultar na ampliação do Os indicadores de desempenho, no campo
dinamismo econômico da região. aplicado das políticas públicas, são medidas
Com o intuito de gerenciar esses usadas para permitir o monitoramento das
produtos, de acordo com o glossário dos condições de vida e bem-estar da população
Principais Termos da Avaliação e da Gestão por parte do poder público e da sociedade
Centrada nos Resultados (OCDE, 2002), a civil, e subsidiar a investigação acadêmica
gestão por resultados compreende uma sobre a demanda social e as atividades de

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planejamento público na formulação de po- resultados foca o cidadão, por meio de


líticas, nas diferentes esferas de governo objetivos governamentais, e orienta a
(JANUZZI, 2005). mudança social.
Como coloca Corrêa (2007), a gestão Como sintetiza Serra (2008), o obje-
pública por resultados foi desenvolvida tivo último da gestão pública por
como uma estratégia que tem início no mo- resultados “é gerar capacidade nas suas
mento do planejamento e vai até o processo organizações para que consigam, median-
de feedback das políticas públicas, podendo te a gestão do processo de criação de valor
ser considerada uma prática de desenvol- público, os resultados estipulados nos obje-
vimento institucional, respeitando princí- tivos do programa de governo” (SERRA,
pios da distribuição eficiente de recursos 2008, p. 32).
públicos e prestação de contas à socieda-
de, como observa a autora: Programa Estado para Resul-
tados, um estudo de caso
Alcançar uma boa prática de gestão
pública por resultados não implica Como indicado no estudo “Minas Gerais
somente a implementação de meca- do século XXI”, em 2003, o Estado de Minas
nismos de avaliação institucional. A Gerais atravessava um contexto de agrava-
gestão pública por resultados é mento do quadro fiscal e graves problemas
viabilizada por diversos mecanismos de desempenho da administração pública
gerenciais, começando pelo planeja- (VILHENA, 2006). Em decorrência desse
mento das ações governamentais – quadro, buscou-se, a partir do programa
sejam elas organizadas em projetos ou Choque de Gestão, uma resposta à crise fiscal
programas; ampliação da flexibilidade e administrativa, num esforço de alcançar o
gerencial; desenvolvimento de indi- equilíbrio das contas públicas e modernizar
cadores de desempenho; e, por fim, a o aparato institucional do estado.
avaliação de desempenho, que, além Como instrumento de planejamento de
da medição das metas estabelecidas, longo prazo, foi aprovado pela Assembleia
fornece subsídios para retroalimen- Legislativa de Minas Gerais (ALMG) o
tação de informações para o desenvol- Plano Mineiro de Desenvolvimento Inte-
vimento de futuras metas gerenciais. grado (PMDI), apresentando-se como o
(CORRÊA, 2007, p. 498) plano estratégico norteador da ação gover-
namental do Estado de Minas Gerais
Finalmente, cabe ressaltar que o (GUIMARÃES; CAMPOS, 2008). Nesse sentido,
modelo de gestão por resultados preo- foram elaboradas três diretrizes estraté-
cupa-se com o processo que assegure a gicas: (i) reorganizar o setor público
criação de valor público dentro de um estadual; (ii) promover, de forma inova-
regime democrático. Por valor público dora, o desenvolvimento econômico;
entendem-se respostas efetivas às deman- (iii) recuperar o vigor político abalado pela
das politicamente desejáveis, com prio- crise fiscal (VILHENA, 2005).
ridade coletiva e que requeiram mudanças A primeira geração desse Choque de
sociais (resultados) que modifiquem Gestão é marcada por dois pontos funda-
certos aspectos no conjunto da sociedade mentais para a implantação do modelo de
(M OORE , 1995). Assim, a gestão por gestão pública para resultados, a saber: o

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gerenciamento intensivo dos projetos núcleo estratégico (formulador de políticas)


estruturadores e a contratualização de e as entidades descentralizadas (executoras)
resultados. (DUARTE; LEMOS; MARINI; MARTINS, 2006).
No período, foi determinado um O acompanhamento intensivo dos projetos
portfólio de 30 projetos estruturadores, que considerados estratégicos, assim como os
representavam as ações prioritárias do procedimentos de contratualização e de
governo, submetidos à Gestão Estratégica avaliação de desempenho do acordo de
de Recursos e Ações do Estado (Geraes), resultados foram os pilares da construção
que adquiriu a função de escritório de pro- da gestão por resultados mineira.
jetos do governo. Adquirindo a função de O chamado Choque de Gestão de
escritório de projetos, o Geraes apresentou segunda geração tem suas bases expostas
como principal atribuição o monitoramento no Plano Mineiro de Desenvolvimento
intensivo da carteira recém-criada, ou seja, Integrado 2007-2023 (PMDI) e na estra-
seria responsável por gerenciar os projetos tégia do EpR. O Plano buscou estabelecer
de forma diferenciada, estabelecendo os resultados finalísticos para 11 áreas de
planos, as metas e acompanhando o desem- resultado – “áreas focais” de concentração
penho em relação ao planejado (BORGES, dos esforços e recursos, visando a transfor-
2008). mações e melhorias desejadas. Assim, cada
O instrumento de acompanhamento e área de resultados foi alvo da intervenção
solicitação de cotas orçamentárias dos de um grupo de projetos estruturadores,
projetos estruturadores é o status report, um reunidos em função de sua sinergia, e
dos documentos do projeto em que cons- monitorados por um grupo de indicadores
tam prazos, marcos e orçamento. É atuali- finalísticos (MINAS GERAIS, PMDI, 2007).
zado mensalmente em reuniões de acompa- Nesse sentido, a reforma da segunda
nhamento coordenadas pelo Geraes, geração de políticas deixaria de se concen-
gerente, equipe e demais partes do projeto, trar somente nos órgãos internos da admi-
nas quais há a atualização do cronograma nistração pública e passaria a se preocupar
do projeto, bem como o monitoramento em medir os benefícios e malefícios alcan-
de sua progressão (BORGES, 2008). çados pelas políticas governamentais.
A adoção da contratualização de resul-
tados foi promovida pela Superintendência Qual foi a evolução que mostrou a
Central de Modernização Institucional necessidade da criação de mais uma
(Sumin). “O Acordo é um instrumento de unidade chamada Estado para Resul-
pactuação de resultados, que se dá tados? O que a gente observa é que a
mediante a negociação entre dirigentes dos execução de projetos por si só e a supe-
órgãos e entidades do Poder Executivo, ração de obstáculos que constam da
bem como entre gerentes das unidades agenda, não induziam a busca de resul-
administrativas e autoridades que sobre eles tados entendidos como ganhos sociais
tenham poder hierárquico ou de super- palpáveis. [...] Quando falamos em
visão” (CARNEIRO; BARBOSA, 2007, p. 2). pactuar resultados, falamos em resultados
Essa ferramenta gerencial celebra um expressos, quantificados, traduzidos em
“contrato” que representa um compro- metas e que estejam atribuídos a dife-
misso (negociado entre as partes) que rentes unidades que integram a adminis-
regula as relações (via de regra) entre o tração estadual. (Entrevistado C)

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Os entrevistados foram unânimes em tarefa de assegurar sinergias entre equipes,


afirmar a relação desproporcional entre a processos, unidades de negócio e parceiros
quantidade de informação gerada pelo externos, cujo propósito, segundo Kaplan
Geraes e a capacidade do executivo princi- e Norton (2006), é assegurar que a estra-
pal de filtrá-la, ou seja, toda a informação tégia, como instrumento de comunicação
gerada sobre os projetos não era assimi- e de gestão, chegue aos níveis da organi-
lada satisfatoriamente pelos tomadores de zação e seja compartilhada (K APLAN ;
decisão. A partir dessa demanda, foi desen- NORTON, 2006).
volvida a unidade de gestão estratégica no Assim, a unidade de gestão estratégica
EpR, cujo objetivo é “filtrar” questões dedica-se principalmente às atividades rela-
principais dos projetos estruturadores e tivas a comitês de resultados, planos de
transmiti-las ao executivo principal. ação, apoio a gestão dos projetos estrutu-
No processo de desenvolvimento e radores, associados e áreas estratégicas.
implementação desse filtro de informações, Destaca-se que esta foi considerada a
foram estabelecidas reuniões executivas unidade com as ações mais desenvolvidas
chamadas de Comitês de Resultados, cujo do programa, principalmente porque
objetivo era definir um plano de ação es- contém a realização dos comitês (Entre-
tratégico capaz de auxiliar no alcance dos vistado A).
objetivos perseguidos, bem como delibe-
rar planos de intervenção (Entrevistado A). O comitê propriamente dito é para
No início do programa, as reuniões seriam que o vice-governador tenha uma
uma forma de apresentar os marcos e indi- informação e gere uma tomada de
cadores das áreas de resultado, bem como decisão, uma colagem da estratégia, ou
de atualizar as ações, riscos e dificuldades, seja, fazer que coisas que não estão
em cada área de resultado. caminhando caminhem. [...] (Entrevis-
Outro instrumento adotado foi o plano tado A)
de ação, cujo objetivo é filtrar problemas,
riscos, dificuldades e oportunidades estra- Inicialmente, os comitês eram reali-
tégicas das áreas de resultado (originados, zados somente para as áreas de resultados
ou não, das reuniões de comitês) e descritas no PMDI 2007-2023. A primeira
organizá-los em um sistema de tecnologia “rodada” de comitês apresentou o que foi
da informação. Entende-se por plano de planejado para o governo, até para que os
ação o instrumento pelo qual ações corre- interlocutores se tornassem familiares com
tivas e preventivas de questões envolven- a lógica de indicadores finalísticos (Entre-
do os projetos estruturadores são elabo- vistado C). No entanto, não havia um
radas, documentadas e monitoradas até sua modelo para a apresentação, e não se sabia
finalização. Por meio dele, são atribuídas ao certo o que retratar na apresentação
responsabilidades e determinadas as (Entrevistado A).
circunstâncias em que o trabalho deverá A rodada seguinte concentrou-se nas
ser realizado. entregas estratégicas e em resultados mais
Além das reuniões de comitês e planos importantes, focando algumas áreas de
de ação, havia ainda a necessidade de um resultado em especial. A Tabela 1 apresenta
processo de “alinhamento” dentro da gestão o número de realização de comitês, desde
estratégica. Denomina-se alinhamento a o ano de 2007 até outubro de 2009.

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Tabela 1: Número de reuniões de comitê por áreas de resultados

Fonte: Programa Estado para Resultados.


* Número de reuniões de comitê até outubro de 2009.
** A área de resultado Qualidade Fiscal não possui reuniões de comitê.

Nota-se, a partir da tabela, diferenças por projeto, um público menor e tempo


expressivas entre 2007 e 2008. Enquanto, reduzido. Como argumenta o Entrevistado
no primeiro ano, ocorreu uma distribuição C, o pequeno comitê foi uma evolução que
mais equilibrada de comitês por área de proporcionou maior foco para as reuniões
resultado, em 2008, algumas áreas de resul- e ajustou a necessidade de menor quorum.
tados se destacaram por apresentar um
número muito maior de reuniões, diferen- Alguns projetos, até pela sua com-
ciação presente também em 2009. A apa- plexidade, pelo nível de dificuldade,
rente diferença entre o número de comitês justificavam reuniões mais específicas
de uma área de resultado e outra pode ser e com um público menor, pois nessas
entendida como uma focalização maior das reuniões menores você pode tratar do
reuniões para os projetos (reunião de assunto de cada projeto de maneira
pequeno comitê) ou áreas de resultado com mais extensa, até porque, se você
maiores problemas, ou como uma chama mais pessoas para plateia da
priorização de frentes do governo. reunião, você inibe a participação de
O pequeno comitê tornou-se viável todos. [...] (Entrevistado C)
quando o formato único de comitê por
áreas de resultado demonstrou-se incapaz A unidade de indicadores, diferen-
de abordar pontos que exigem mais dis- temente da gestão estratégica, possui como
cussão e possuem mais detalhes. Seu for- atributos a pesquisa, avaliação e apuração
mato é mais restrito, com uma abordagem dos indicadores finalísticos, bem como a

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ponderação sobre a aderência dos indica- um número considerável de indicadores não


dores à estratégia do estado. Como susten- foi avaliado e proxies foram desenvolvidas –
ta Januzzi (2002), para seu emprego na alternativas similares para os indicadores
pesquisa acadêmica ou na formulação e originalmente propostos. Por exemplo, o
avaliação de políticas públicas, o indicador indicador da área de resultados, inovação,
deve gozar de uma série de propriedades tecnologia e qualidade, “dispêndio em P&D
como relevância, validade, confiabilidade, como percentual do PIB”, foi avaliado pela
cobertura, especificidade, historicidade, proxy “recurso do tesouro empenhado pela
atualização etc. Assim, após a primeira ava- Fapemig como percentual do PIB”.
liação dos indicadores estabelecidos no Para a pactuação em 2008, o número
PMDI, uma série de questionamentos a de indicadores passou para 101. Foram
respeito do cumprimento das proprieda- excluídos aqueles cuja apuração não era
des, como as citadas por Januzzi (2002), possível e incorporados novos indicadores.
surgiu. O quadro de 2009 apresentou mudanças
No PMDI, os 106 indicadores finalís- menos significativas que o de 2008 e foi
ticos apresentavam um perfil de maturidade inserido no Caderno de Indicadores do
consideravelmente diferenciado: indicadores Estado, que organiza e problematiza o con-
completos, ou seja, que possuíam metas para junto de indicadores por meio de itens
2007 e 2011; indicadores com metas apenas como fonte, periodicidade, limites e dados
para um dos dois períodos; indicadores estatísticos. Tal caderno se destaca como
somente com valor de referência; e indica- importante fonte de registro.
dores sem nenhum dado apurado. Tal dispo- Outra questão citada pelos entrevista-
sição oferece uma falta de uniformidade dos dos diz respeito à dificuldade em se esta-
indicadores planejados e decorreria em belecer indicadores de resultado e contar
dificuldades para sua avaliação subsequente. com o apoio daqueles que estão sendo
Observa-se que, embora a maior parte dos cobrados pelas suas metas, como os
indicadores do PMDI tenha permanecido, dirigentes das secretarias de estado e as

Fonte: Programa Estado para Resultados.


Figura 1: Diagnóstico da Avaliação dos Indicadores Finalísticos dos Acordos de
Resultado 2007 – MINAS GERAIS, 2008.

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equipes dos projetos estruturadores e asso- indicadores disponíveis às propriedades


ciados. Como comenta o Entrevistado C: necessárias.
Além disso, o trabalho de estipular
Quase ninguém gosta de ter meta indicadores governamentais dificilmente
estabelecida para ele e ser acompa- será neutro e estático, uma vez que a
nhado, porque significa tirar um pouco implementação das políticas está sujeita ao
as pessoas da zona de conforto. E a papel desempenhado pelos agentes encar-
função do EpR é tirar da zona de con- regados de colocá-las em ação e avaliá-las,
forto, tirar da inércia, vencer os pontos impedindo a acomodação de interesses; e
onde o estado não tem feito o melhor o contexto social propõe novos desafios
de si, não tem produzido aquilo que é
desejável. (Entrevistado C)

Além da própria natureza dos indica-


dores em estipular metas e cobrar resulta-
dos, não menos importante, está o trade-off “... a
de trabalhar com indicadores: não importa implementação do
se eles são abrangentes ou defasados, Estado para
sempre serão criticados. Nas palavras do Resultados, em
Entrevistado B:
suas três frentes
Nunca vai existir uma estrutura de atuação,
perfeita de indicadores [...] porque contribuiu para
nenhum indicador atende a tudo que que o processo de
você precisa, quanto mais gerais e mais tomada de
abrangentes, mais defasados eles são.
Aí você tem um trade-off entre defa-
decisões fosse
sagem e abrangência que é uma coisa mais efetivo, com
muito difícil. (Entrevistado B) decisões mais
seguras...”
Parte do comentário é comprovado
por Januzzi (2002), que, apesar de admi-
tir que a disponibilidade de um sistema
de indicadores certamente potencializa as
chances de sucesso do processo de formu-
lação e implementação de políticas para o planejamento, necessitando atualizar
públicas (JANUZZI, 2002), argumenta que as medidas de desempenho.
na prática nem sempre o indicador de Para completar a lógica entre as uni-
maior validade é o mais confiável, nem dades dedicadas à estratégia e à medição
sempre o mais sensível possui a periodi- de resultados, foi criada a unidade respon-
cidade requerida, e assim por diante. sável pelos empreendedores públicos.
Ainda que o indicador reúna muitas quali- A figura do empreendedor público
dades, o governo não é dispensado da surgiu para fornecer um apoio técnico e
tarefa de avaliar o grau de aderência dos temporário aos pontos críticos das

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secretarias de estado, dos projetos estrutu- Em Minas Gerais, a partir do Decre-


radores e associados e das áreas estratégicas. to no 44.490, de 2007, instituiu-se o Comi-
A ideia do empreendedor está relacionada, tê para Pré-Qualificação dos Empreende-
portanto, a uma “força tarefa” que propõe dores Públicos (Copep), órgão colegiado
o cumprimento de atividades para o alcance composto por cinco membros (coorde-
de resultados; uma vez alcançados os nador executivo e adjunto do programa e
resultados, o empreendedor deverá ser três profissionais com notória experiên-
realocado ou deixar o cargo. Assim como cia em administração pública indicados
comenta o Entrevistado C, o empreende- pelo vice-governador do estado), cuja
dor não supre a administração pública de ideia principal é “dividir responsabilidades
recursos humanos para as secretarias. e discutir sobre o processo de seleção,
Os 90 cargos de provimento em alocação e avaliação de empreendedores
comissão, de recrutamento amplo para os públicos” (Entrevistado B).
empreendedores públicos, foram criados a O modelo de gestão dos empreende-
partir da Lei Delegada no 174, de 26 de dores públicos apresenta três subsistemas:
janeiro de 2007, sendo 45 empreendedores recrutamento e seleção, desenvolvimento
I e igual número para empreendedor II. e aplicação de pessoas e remuneração
Os cargos são destinados aos encargos (BERNARDI & GUIMARÃES, 2008). O pri-
temporários do EpR, extinguindo-se em meiro diz respeito ao processo de pré-
31 de janeiro de 2011, juntamente com qualificação dos empreendedores, o
o programa. segundo aos programas de desenvolvi-
Tal iniciativa foi inspirada na experiência mento e, por fim, o último sinaliza o
chilena com o objetivo de buscar a monitoramento de seu desempenho, com
profissionalização da alta direção dos a previsão de pagamento de parcela remu-
serviços do Estado. A ideia proveniente do neratória variável.
governo federal do Chile propõe uma As seis etapas para o processo de pré-
modernização da gestão de recursos huma- qualificação do empreendedor são:
nos, tanto em nível gerencial (Alta Direção 1) elaboração do perfil específico do
Pública) quanto nas carreiras funcionais do empreendedor pela entidade solicitante e
serviço público, contemplando três pilares: coordenador do EpR; 2) análise curricular
1) Sistema de Alta Direção Pública (SADP); e entrevistas preliminares; 3) aplicação dos
2) Desenvolvimento de pessoal e carreira métodos de avaliação como teste de
funcional; e 3) Criação da Direção Nacional personalidade, aptidão gerencial e entrevistas
do Serviço Civil (DNSC) (BAU AEDO, 2005). individuais por competência realizados por
Para prover as vagas dos cargos de alta consultoria especializada; 4) deliberação do
direção, o ingresso ocorre por meio da Copep; 5) devolutiva oferecida ao solicitante
Direção Nacional do Serviço Civil do perfil; e 6) sugestão do nome do candi-
(DNSC)1 e do Conselho de Alta Direção dato pré-qualificado indicado encaminhada
Pública2, que convocam um processo de ao governador para nomeação.
seleção pública; os ministros do governo Os programas de desenvolvimento
devem propor os perfis profissionais para ocorrem mensalmente, com apoio de
os cargos e o conselho deve propor ao consultoria especializada, e englobam o
presidente da República uma lista de três a desenvolvimento do grupo de empreende-
cinco candidatos selecionados. dores públicos e não o desenvolvimento

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pessoal do ocupante do cargo, focando as principal instrumento de alinhamento do


experiências do trabalho como empreen- empreendedor público aos resultados e
dedor (BERNARDI; GUIMARÃES, 2008). metas constantes da estratégia de governo
(BERNARDI; GUIMARÃES, 2008).
[...] a proposta desse trabalho de A partir da construção teórica dos dois
desenvolvimento não é uma proposta modelos, o chileno e o mineiro, é possível
de trabalho individual de cada notar o número de diferenças consideráveis
empreendedor, a ideia é desenvolver entre ambos (Quadro 1). Segundo o Entre-
o grupo de empreendedores, é criar vistado D, “o modelo deles (Chile) é muito
laços, é criar identidade entre eles, é mais complexo, amplo, até mais burocrático
fazer uma rede de pessoas que estão – é muito mais parecido com um concurso
trabalhando com desafios, é desen- público que o nosso, e precisava ser adap-
volver um pouco essa “força tarefa”. tado” (Entrevistado D).
(Entrevistado D) Quanto aos 90 cargos, pensou-se, pri-
meiramente, em uma atuação maior dos
O monitoramento e avaliação dos empreendedores como gerentes de proje-
empreendedores públicos são realizados a tos (Entrevistado D), já que os gerentes e
partir do plano de trabalho do empreen- gerentes-adjuntos eram da alta adminis-
dedor (Entrevistado B), sendo este o tração e não se dedicavam exclusivamente

Quadro 1: Principais diferenças entre o Sistema de Alta Dirección Pública e


os Empreendedores Públicos

Fonte: Elaboração própria.

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RSP O modelo de gestão pública por resultados em Minas Gerais analisado à luz da experiência do Programa Estado para Resultados

Fonte: Programa Estado para Resultados.


Nota: Situação em 10/06/2009.

Figura 2: Distribuição dos Empreendedores Públicos por Função –


Minas Gerais 2009.

aos resultados dos projetos. Atualmente,


entretanto, a distribuição dos empreende- Temos que conseguir enxergar a
dores distancia-se da hipótese original nossa possibilidade de inovação vis-à-
(Figura 2). vis o nosso direito a nossa cultura
Além disso, a proposta inicial para a política, porque nós estaríamos sujeitos
remuneração variável dos empreende- a muita crítica. Quer dizer, já foi uma
dores era bastante diferenciada da insti- inovação, já teve resistência, imagina
tuída. Ao contrário de até uma remune- se nós tivéssemos uma remuneração
ração por ano, a primeira proposta era variável maior frente a todos os servi-
instituir uma remuneração fixa menor que dores...então, a isonomia nos segurou.
a atual e uma remuneração variável de até (Entrevistado F)
cinco salários por ano, para que os em-
preendedores realmente se mobilizassem A partir do momento em que a lei
a fim de alcançar os resultados pactuados estava publicada, surgiram as dificuldades
(Entrevistado D). para a inserção do empreendedor público
Entretanto, a proposta não prevaleceu nas secretarias, áreas estratégicas e proje-
devido à cultura política mineira (Entre- tos. Os grandes desafios iniciais, nesse sen-
vistado F). Ou seja, as propostas iniciais tido, foram, primeiro, trazer pessoas e de-
recomendavam mudanças expressivas no finir perfis (Entrevistado A) e, segundo,
estado e, caso fossem implantadas, pode- inserir o empreendedor público na ponta
riam encontrar uma resistência maior do (Entrevistado B).
que a ocorrida nos órgãos de alocação dos Nota-se também que ocorreu resistên-
empreendedores. cia quanto “a própria aceitação do modelo”

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Cinthia Helena de Oliveira Bechelaine; Mauro César da Silveira e Camila Barbosa Neves RSP

dos empreendedores (Entrevistado D). a gestão estratégica do grupo de empreen-


Destaca-se entre os opositores parte dos dedores, o alargamento do processo de
servidores, de secretarias e outros órgãos seleção e, por fim, o processo de avaliação
do estado, descontentes principalmente e desenvolvimento do grupo – que também
com a questão salarial, já que muitos foram citados como dificuldades iniciais.
empreendedores recém-contratados pos- Dessa forma, a criação do EpR na
suíam remuneração maior que servidores administração pública mineira deu-se por
públicos que trabalhavam na área há mais dois motivos principais: o primeiro diz
tempo. respeito ao próprio gerenciamento das
Outro grande desafio inicial foi o pro- mudanças da estratégia do governo
blema da “dupla chefia” (Entrevistado B), demonstrada no PMDI 2007-2023 e sua
ou seja, o vínculo formal do empreendedor
está no Estado para Resultados, porém,
alguns lidam com a hierarquia interna da
secretaria, onde trabalham e acabam
absorvendo novas tarefas. Um dos pro-
blemas advindos dessa “dupla chefia” é o
prejuízo do próprio plano de trabalho dos
empreendedores, pois eles se desviam das “...o modelo
atividades que foram contratados para confere grande
fazer. flexibilidade ou
autonomia sobre
Talvez o empreendedor esteja em
os recursos e os
uma secretaria e o chefe dele é um
secretário de estado, mas ele tem um processos aos
vínculo formal com o EpR. Então ele administradores
tem uma dupla chefia que é uma coisa públicos...”
completamente nova e não é fácil. Mas
a escolha é essa mesmo, a gente acha
que é a única forma do empreendedor
não ser absorvido pela estrutura. (En-
trevistado B)

Por fim, com relação à avaliação e ao


monitoramento dos empreendedores,
surgiu a dificuldade de desenvolver e avaliar preocupação em propor indicadores e
(plano de trabalho) o grupo de empreen- traduzi-los em metas; e o segundo aborda
dedores, considerando a heterogeneidade o gerenciamento estratégico das ações de
dos perfis, as diferenças culturais nos governo, transformado em comitês de
órgãos de exercício, a diversidade das resultado, plano de ação e na busca pelo
tarefas desempenhadas por eles e dos resul- aprimoramento do alinhamento estratégico.
tados que precisam ser entregues. A questão relativa à mão de obra do
Como principais desafios da unidade programa foi completada com a lógica dos
de empreendedores públicos, foram citados empreendedores públicos, entendidos

Revista do Serviço Público Brasília 63 (4): 455-473 out/dez 2012 467


RSP O modelo de gestão pública por resultados em Minas Gerais analisado à luz da experiência do Programa Estado para Resultados

como uma força-tarefa para as ações consi- informação muito bom para que aquela
deradas importantes no estado. decisão seja tomada. As decisões ten-
Assim, com vistas a proceder à gestão dem a ser mais acertadas e mais
estratégica das áreas de resultado, bem como seguras. (Entrevistado B)
acompanhar os indicadores do PMDI por
meio da alocação de empreendedores Considerações finais
públicos, a criação do programa ocorreu
com base no art. 8o da Lei Delegada no 112, Quanto ao modelo de gestão por resul-
de 25 de janeiro de 2007. Em alusão à tados, destaca-se o direcionamento dos
norma, destaca-se que as atividades listadas organismos públicos para atuar sobre todos
inicialmente para o EpR resumem-se na os aspectos que afetam ou modelam os
“atuação de frentes que viabilizem a estra- resultados da organização, em busca da
tégia de governo” (Entrevistado A). criação de valor público. O modelo supõe
Considerando a função de coorde- essencialmente que os efeitos das inter-
nação do programa e sua relação com a venções públicas, em substituição à coorde-
alta gerência do estado, sua vinculação nação por procedimentos, são o que de fato
à estrutura de governo foi regularizada importa ao cidadão, que é a mudança real
pelo Decreto no 44.447, de 26 de janeiro nas condições de vida.
de 2007, que classificou o EpR como Assim, a gestão pública por resultados
um staff direto do vice-governador do pode ser entendida como um ciclo que se
estado. inicia com o planejamento dos efeitos alme-
Outro ponto importante nessa jados, a partir da operacionalização dos
discussão considera que a vinculação a um objetivos de governo; que prescreve o
ente político – cargo de vice-governador – monitoramento e a avaliação do desem-
transforma, portanto, o EpR em uma uni- penho da organização ou da política pública
dade transitória na administração pública a partir do alcance desses efeitos; e que
mineira, já que não é possível afirmar que retroalimenta o sistema de gestão, propi-
o mesmo vice-governador continuará no ciando o feedback decorrente dessa avaliação.
cargo após quatro anos de mandato. A pro- Ademais, o modelo confere grande flexibi-
posta foi, então, transformar o programa lidade ou autonomia sobre os recursos e os
em uma estrutura provisória da adminis- processos aos administradores públicos, que
tração pública, com início em 2007 e fim estabelecem sanções positivas e negativas
em janeiro de 20113. frente ao desempenho alcançado.
Por fim, como comenta o Entrevis- A gestão pública por resultados
tado B, a implementação do Estado para foi introduzida em Minas Gerais em um
Resultados, em suas três frentes de atua- contexto de reforma administrativa,
ção, contribuiu para que o processo de denominada Choque de Gestão, possuin-
tomada de decisões fosse mais efetivo, do como bases o PMDI 2003-2020 e o
com decisões mais seguras: escritório central de projetos (Geraes), e
Hoje, a alta gerência do governo operacionalizada, em princípio, pelos
(governador, vice-governador, secre- acordos de resultados, PMDI 2007-2023 e
tários) com o fluxo de fazer comitês, Programa Estado para Resultados.
ter empreendedor, medir indicadores, Seguindo os princípios da gestão por
[...] consegue reunir um conjunto de resultados, a contratualização de resultados

468 Revista do Serviço Público Brasília 63 (4): 455-473 out/dez 2012


Cinthia Helena de Oliveira Bechelaine; Mauro César da Silveira e Camila Barbosa Neves RSP

introduziu mecanismos de incentivos e objetivos estratégicos e indicadores


sansão frente ao desempenho alcançado. finalísticos; cultural, quanto à vinculação
Para reforçar o modelo de gestão por resul- dos dirigentes aos resultados perseguidos;
tados, houve a introdução de objetivos e operacional, na aplicação de sanções,
estratégicos e indicadores finalísticos no positivas e negativas, a partir da avaliação
PMDI 2007-2023. Submetido à aprovação do alcance dos resultados.
da Assembleia Legislativa, o plano consti- No entanto, considerando as entrevistas
tui-se um importante marco do modelo, na analisadas e a trajetória em construção pelo
medida em que disponibiliza o conheci- EpR, salientam-se dificuldades e limitações
mento das metas de governo. inerentes ao modelo de gestão pública por
Por fim, o EpR complementa a cadeia resultados, principalmente o feedback das
da gestão por resultados mineira. Suas avaliações realizadas, a partir da apuração dos
funções podem ser entendidas como um indicadores finalísticos, capazes de retro-
processo que se inicia com o estabelecimen- alimentar o sistema de gestão e propiciar,
to dos resultados desejados e prossegue na assim, ações corretivas.
busca por esses resultados, por meio do tra- Nota-se, portanto, na visão dos entre-
balho de empreendedores públicos alocados vistados, a contribuição do modelo
em áreas críticas, no monitoramento da atu- incremental do Programa Estado para
ação por meio dos comitês de resultado e Resultados na busca por uma melhor
na avaliação do desempenho das políticas consecução da estratégia do governo. Nesse
públicas a partir do quadro de indicadores sentido, por meio das análises realizadas,
finalísticos. Assim, o EpR, por intermédio atenta-se para algumas boas práticas
de suas três unidades essenciais, busca per- deixadas pelo programa, como: filtrar in-
mitir que a estratégia do governo seja, de formações estratégicas e transportá-las ao
fato, implementada. executivo principal; selecionar pessoas para
Tendo em vista tais proposições, o a administração pública de forma impes-
modelo mineiro de gestão pública por soal; desenvolver o quadro de indicadores
resultados se apresenta como coerente finalísticos, buscando torná-lo mais rele-
por abordar as três dimensões descritas por vante e confiável.
Serra (2008): conceitual, na medida em que (Artigo recebido em março de 2012. Versão
os resultados almejados são traduzidos em final em dezembro de 2012).

Notas

1
A Direção Nacional do Serviço Civil (DNSC) é um serviço descentralizado do Ministério
da Fazenda, que coordena, supervisiona e aperfeiçoa os recursos humanos do Estado. Sua mis-
são é de “institucionalizar uma nova política de gestão e desenvolvimento de pessoal da admi-
nistração pública, baseada no mérito e na idoneidade, que contribua para melhorar a eficácia e a
eficiência de serviços em prol da cidadania.”

Revista do Serviço Público Brasília 63 (4): 455-473 out/dez 2012 469


RSP O modelo de gestão pública por resultados em Minas Gerais analisado à luz da experiência do Programa Estado para Resultados

2
O Conselho de Alta Direção Pública possui como funções principais a condução e regulação
do processo de seleção de candidatos a cargos do sistema de alta direção. Os integrantes do
conselho são quatro membros nomeados pelo presidente e ratificados pelo Senado, por 4/7 dos
senadores em exercício.
3
Dessa maneira, todos os cargos associados à estrutura do programa também seriam provi-
sórios, incluindo os cargos de empreendedores públicos, com fim em janeiro de 2011.

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Revista do Serviço Público Brasília 63 (4): 455-473 out/dez 2012 471


RSP O modelo de gestão pública por resultados em Minas Gerais analisado à luz da experiência do Programa Estado para Resultados

Resumo – Resumen – Abstract

O modelo de gestão pública por resultados em Minas Gerais analisado à luz da


experiência do Programa Estado para Resultados
Cinthia Helena O. Bechelaine, Mauro César da Silveira e Camila Barbosa Neves
O presente trabalho almeja investigar o processo de desenvolvimento da gestão por resulta-
dos em Minas Gerais, marca da segunda geração de políticas mineira intitulada Choque de
Gestão. Em termos específicos, objetiva-se analisar o Programa Estado para Resultados (EpR),
sua composição, processo de construção e estrutura de funcionamento. Como método de pes-
quisa, utilizou-se a grounded theory, traduzida por teoria fundamentada nos dados e apresentada
como uma alternativa para pesquisas qualitativas sobre fenômenos organizacionais. Apresenta-
se uma discussão teórica que visa a definir o conceito de gestão pública por resultados, cuja
finalidade é a criação de valor público. As implicações dessa discussão são ilustradas e
problematizadas em um estudo de caso do EpR, à luz de seus antecedentes. Por fim, conclui-se
que o EpR constitui um modelo híbrido e particular da gestão por resultados mineira que visa,
essencialmente, a consecução da estratégia de governo e o suporte aos processos de tomada de
decisões no estado.
Palavras-chave: Gestão; público; resultados

El modelo de gestión pública por resultados en Minas Gerais analizado a la luz de


la experiencia del programa ‘Estado para Resultados’
Cinthia Helena O. Bechelaine, Mauro César da Silveira y Camila Barbosa Neves
El presente estudio tiene como objetivo investigar el proceso de desarrollo de la gestión
por resultados en Minas Gerais, marca de la segunda generación de la política titulada Choque
de Gestão. Tiene el propósito de analizar la composición del Programa Estado para
Resultados (EpR), su proceso de construcción y la estructura operativa. Como método de
investigación, hemos utilizado la grounded theory, traducido por la teoria firmada en una base de
dados y presentada (la teoria) como una alternativa a la investigación cualitativa sobre los
fenómenos organizacionales. Se presenta una discusión teórica destinada a definir el concepto
de gestión pública por resultados. Las implicaciones de este debate se ilustran y se
problematizan en un estudio de caso del EpR, bajo la luz de sus antecedentes. Por último, la
conclusión de que el EpR es un determinado modelo híbrido de gestión de Minas Gerais, que
tiene como objetivo primordial el logro de la estrategia del gobierno y el apoyo de los procesos
de toma de decisiones en el estado.
Palabras clave: Gestión; público; resultados

The model of the results-based management in Minas Gerais: analyzing the


experience of the Estado para Resultados Program
Cinthia Helena O. Bechelaine, Mauro César da Silveira and Camila Barbosa Neves
This paper aims to investigate the process of development of the results-based
management in Minas Gerais, label of the second policy generation entitled Management
Shock. The main goal is to analyze the composition of the Estado para Resultados program
(EpR), its construction process and operating structure behind the program. The research method
used is the grounded theory. This paper presents a theoretical discussion aimed at defining the

472 Revista do Serviço Público Brasília 63 (4): 455-473 out/dez 2012


Cinthia Helena de Oliveira Bechelaine; Mauro César da Silveira e Camila Barbosa Neves RSP

concept of the results-based management in the public sector. The implications of this
discussion are illustrated and problematized in a case study of the EpR, based in its background
stemming. Finally, the conclusion that the EpR is a particular hybrid model of Minas Gerais’s
management and that aims primarily achieving the government strategy and support the decision-
making processes in the state.
Keywords: Management; public; results

Cinthia Helena de Oliveira Bechelaine


Mestranda em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e bacharel em administração pública
pela Fundação João Pinheiro. Analista de desenvolvimento do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S/A (BDMG).
Contato: cinthia.bechelaine@gmail.com
Mauro César da Silveira
Doutorando em administração pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em administração pela UFMG
e bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Especialista em Políticas Públicas e Gestão
Governamental do Governo do Estado de Minas Gerais. Contato: maurocsilveira@hotmail.com
Camila Barbosa Neves
Bacharel em administração pública. Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Governo do Estado de
Minas Gerais. Contato: camila.neves@planejamento.mg.gov.br

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