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XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”

Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.

INDÚSTRIA 4.0: COMO CONCILIAR


AVANÇO TECNOLÓGICO E
CAPACITAÇÃO DE PESSOAS?

Luiza Baranowski de Castro Faria (UFF)


luizabaranowski@gmail.com
Emmanuel Paiva de Andrade (UFF)
emmanueluff@gmail.com
Stephanie Felix Amaral (UFF)
stephaniefelix@id.uff.br
Maria Alice Caggiano de Lima (UFF)
alicecaggiano50@gmail.com
Walber Santos de Assis (UFF)
wbassis@hotmail.com

As novas tecnologias produtivas vêm se impondo a uma velocidade


imensa, trazendo em seu bojo mudanças não apenas do modo de ser e
de operar das fábricas e organizações, mas também impactando e
transformando a própria vida em sociedade. Se do ponto de vista
estritamente técnico, parece que as forças inventivas e criadoras foram
amplamente libertadas, do ponto de vista da sociedade, parece não
haver ainda um avanço comparável e compatível com o que ocorre do
lado dos artefatos físicos. O presente estudo, aproveitando o ensejo da
temática do Enegep 2017, procura trazer à tona questões pertinentes
aos desafios postos especialmente para as escolas de engenharia como
formadoras do novo operador das novas tecnologias. O método
utilizado foi o estudo da literatura nas bases Scopus e Periódicos
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Capes, tomando como referência a Indústria 4.0, desdobrando as


buscas em função do conjunto de palavras chaves mais frequentes. Os
resultados mostram que os riscos associados à defasagem entre o
avanço técnico por um lado e o letramento tecnológico por outro,
podem ensejar resistências que, se não exatamente reproduzirão o
ludismo da primeira revolução tecnológica, podem impor óbices ao
avanço equilibrado da tecnologia e da sociedade.

Palavras-chave: Indústria 4.0, educação de engenheiros, mediações


tecnosociais

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1. Introdução
A revolução industrial foi marcada, em diferentes momentos do seu transcurso, por
significativos avanços de inovação técnica de ruptura, que a reconfiguravam inteiramente,
como aconteceu com a introdução da máquina a vapor no final do século dezoito (para
muitos, o evento fundante da própria revolução industrial), a produção em massa e o conceito
das linhas de produção no início do século vinte e a automatização da produção nos anos
1970. A grande transformação seguinte, expressão que faz lembrar, pelo seu alcance e
radicalidade, o clássico de Polany (2000), a qual já está em curso e tem sido chamada de
quarta revolução industrial, vai atingir não apenas as formas de produção, mas também a
própria dinâmica das fábricas, das empresas e da sociedade. Também conhecida como a
revolução da internet, essa grande transformação introduz, em intensidade cada vez maior,
sistemas que promovem o diálogo entre homens, máquinas e a cadeia produtiva
(KAGERMANN et al., 2013; BRETTEL et al., 2014)

O termo Indústria 4.0, tradução direta do alemão Industrie 4.0, surge para definir um conjunto
de transformações que modificam radicalmente as interações indústria-homem, a partir da
introdução de novas tecnologias de controle, mediadas pela internet. Anderl (2014) define a
Indústria 4.0 como uma abordagem estratégica de integração do controle avançado de
sistemas a partir da tecnologia da internet, possibilitando a comunicação entre pessoas,
produtos e sistemas complexos.

O conceito de Indústria 4.0 começa a tomar forma a partir da última década na Alemanha, em
consonância com a política econômica daquele país que buscava elevar a sua competitividade
sistêmica pela via do high-tech, a fim de dar o salto mais arrojado, aprofundando a
comunicação entre humanos e coisas (ROBLEK et al., 2016). A Alemanha possui uma das
indústrias manufatureiras mais competitivas do mundo e é líder global quando se trata de
sofisticação e avanço tecnológico em equipamentos utilizados no setor manufatureiro
(KAGERMANN et al., 2013). Ainda segundo os autores, isso é fruto, em grande parte, da alta
especialização alemã em pesquisa e desenvolvimento e na produção de tecnologias
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inovadoras, tanto na área manufatureira como na área de processos industriais complexos.

A Indústria 4.0 surge ainda como resposta a grandes desafios da sociedade tais como a
utilização sustentável de recursos e de energia, uma vez que proporcionará a produção
contínua e flexível de bens e recursos, gerando valor e eficiência ao longo de toda a cadeia
produtiva. Os impactos dessas mudanças serão percebidos tanto em nível das relações sociais
quanto na esfera mais ampla da mudança demográfica (KAGERMANN et al., 2013). Gorecky
et al. (2014) afirmam que mudará profundamente o tipo, a forma e a lógica das atividades e
tarefas dos homens e mulheres dentro das fábricas.

Mas não apenas o chão-de-fábrica sofrerá transformações radicais. Com o advento do que
vem sendo chamado de “big data” e “internet das coisas”, a organização como um todo será
profundamente transformada, tanto internamente, nas suas relações de trabalho e de produção,
quanto externamente na sua relação com clientes, fornecedores e sociedade. A gestão verá
intensificada a sua aplicação em especificidades emergentes como gestão da inovação, do
conhecimento, da informação, da marca, do relacionamento, do clima, entre outras.

As mudanças, certamente, envolverão também a extinção de postos e atividades de trabalho


atuais e, também certamente, criarão outros, inclusive novas profissões. O saldo disso não
podemos afirmar que será positivo ou negativo porque dependerá de mais do que apenas
transformações técnicas. Haverá também transformações sociais, capazes de intensificar a
concentração da renda ou, ao contrário, ampliar o caráter igualitário de um mundo mais justo
e sustentável. Certamente, os homens irão encarar alguns desafios, como a necessidade de
adaptação ao novo meio, desenvolvimento de novas habilidades e competências e choque
entre os conhecimentos acadêmicos obtidos e os que, efetivamente, lhe serão demandados no
mundo do trabalho e da produção (CRUZ, 2015; GARCIA et al., 2017).

É indiscutível que os avanços tecnológicos dos últimos anos foram muito expressivos e
ocorreram em um curto período de tempo. A indústria 4.0 já está se tornando realidade em
cenários internacionais, a tecnologia está cada vez mais inserida no cotidiano das pessoas e
uma questão emblemática começa a chamar atenção: será que o homem, com seus

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conhecimentos acadêmicos atuais, está preparado para se adaptar às exigências do contexto da


Indústria 4.0? Será que os ensinamentos acadêmicos gerados nas universidades atualmente
suprem as necessidades encontradas por esses profissionais no mercado de trabalho?

O presente artigo tem como objetivo apresentar o tema Indústria 4.0, quais foram os impulsos
e motivações para o seu desenvolvimento, quais são os conceitos chave para o entendimento
do tema e, por fim, promover uma discussão acerca das oportunidades e dificuldades que
serão enfrentadas pelo homem, e mais particularmente o engenheiro de produção, na sua
inserção no contexto da indústria 4.0.

2. Metodologia
O trabalho é de natureza eminentemente bibliográfica e por isso iniciou buscando materiais
teóricos e empíricos relevantes e atuais acerca do tema Indústria 4.0 nas bases de dados.
Inicialmente, procurou-se o termo “Industry 4.0” nas plataformas Scopus e Periódicos Capes
e os cinquenta resultados mais relevantes de cada plataforma foram revisados. O mesmo
ocorreu com o termo original em alemão “Industrie 4.0”. O objetivo dessa pesquisa inicial era
encontrar outras palavras-chave que também fossem relevantes para o entendimento da
temática.

A partir de duzentos artigos listados, uma seleção foi realizada tomando por base o título, o
resumo e as palavras chaves do artigo. Para alguns casos foi necessário ler também a
introdução a fim de conseguir um melhor enquadramento no corpus de interesse. Essa busca
forneceu um conjunto de palavras chaves recorrentes que passaram a incorporar o quadro de
referencia, dentre as quais “internet of things”, “internet of service”, “smart factory”, “cyber-
physical sistems” e “big data”.

O material examinado no primeiro momento, predominantemente, focou sua atenção nos


aspectos tecnológicos no seu sentido mais hard, de artefatos físicos e suas novas capacidades
relacionais. No entanto, pouca atenção era dada à dimensão propriamente humana. Que novo
homem/mulher emergem desse quadro? Que novos profissionais estarão envolvidos no
cotidiano dessa indústria? Que sociedade se ergue sobre esses novos padrões? Tais perguntas

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suscitaram a necessidade de avançar na compreensão de aspectos dos estudos de inovação e


sobre o papel do homem no contexto da Indústria 4.0. A intenção era propor pontos para
discussão acerca da defasagem entre formação teórica e o modelo de ensino atual em relação
às novas exigências do mercado de trabalho.

3. Impulsos e motivações para o desenvolvimento da Indústria 4.0


Desde a segunda revolução industrial, a indústria vêm se automatizando e criando
mecanismos que proporcionam maior eficiência produtiva. Com o passar dos anos, a demanda
por produtos mais personalizados cresceu e a indústria encarou o desafio de se reinventar.
Schlechtendahl et al. (2014) afirmam que os sistemas de produção deverão se desenvolver de
forma que atenda a forte individualização dos produtos e, para isso, necessitarão de processos
produtivos altamente flexíveis. Para explorar esse potencial de flexibilização da produção, a
cadeia de suprimentos deve, por um lado, ser desenhada de forma que adaptações nas rotas,
nos tempos e nas configurações sejam possíveis. Para aumentar a agilidade, por outro lado, os
níveis de estoque e o tempo de preparo da produção devem ser reduzidos (BRETTEL et al.,
2014).

Segundo Reinhart et al. (2013), para atender essas expectativas, sistemas de produção “cyber
físicos” deverão ser integrados nas áreas de produção, criando o que tem sido chamado de
fábricas inteligentes (smart factory). A integração desses sistemas ao sistema produtivo total
irá possibilitar um aumento na produtividade e na satisfação dos clientes (FORSTNER e
DUEMMLER, 2014).

Outro fator relevante para a modernização dos processos produtivos e que impulsionou o
amadurecimento do conceito da Indústria 4.0 foi a necessidade do desenvolvimento rápido de
novos produtos. Os constantes aprimoramentos tecnológicos e os investimentos em inovação
têm proporcionado o lançamento acelerado de novidades no mercado. Com isso, os períodos
de criação, desenvolvimento e produção do produto são reduzidos e a capacidade de se
utilizar alta tecnologia está se tornando essencial para o sucesso de fábricas e empresas na

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disputa de uma posição no mercado (LASI et al., 2014; FORSTNER e DUEMMLER, 2014).

A necessidade de descentralizar os modelos organizacionais de produção também pode ser


caracterizada como uma das motivações para a quarta revolução. Aqui também, o
encurtamento do tempo de desenvolvimento de produtos exige estruturas mais ágeis,
passando pela reconstrução da própria ideia de burocracia e hierarquia (LASI et al, 2014). Do
ponto de vista da comunicação, a maioria das plantas de produção atualmente ainda são
estruturadas de maneira hierárquica entre o shop floor e os níveis de planejamento, seguindo a
representação descrita na Pirâmide de Informação da Automatização (SCHLECHTENDAHL
et al., 2014; FORSTNER e DUEMMLER, 2014).

Nessa representação, os níveis hierárquicos são bem definidos entre operacional, gerencial e
estratégico e a comunicação ocorre sempre entre as fronteiras dos níveis, o que torna o
processo de tomada de decisão mais lento. Com a implementação dos conceitos trazidos pela
Indústria 4.0, esse modelo de comunicação irá se transformar drasticamente. Ao invés do
níveis bem definidos, a comunicação ocorrerá de maneira mais fluida entre os stakeholders e
os sistemas físicos, que também trocarão informações de maneira independente por meio da
Internet das Coisas.

4. Conceitos fundamentais

4.1. Cyber Physical Systems (CPS)


Lee (2009) caracteriza os sistemas cyber físicos como integrações de computação e dos
processos automatizados com processos físicos. Ele sugere ainda que sistemas
computacionais embarcados monitoram e controlam processos físicos e, usualmente, esses
processos físicos dão respostas que alimentam os sistemas computacionais e vice-versa.

Segundo Kagermann (2013), os sistemas de produção cyber-físicos contemplam máquinas


inteligentes, sistemas de centros de armazenamento e instalações de produção que foram
desenvolvidas digitalmente, caracterizando um sistema integrado end-to-end, desde a cadeia
logística, englobando marketing e serviço. Isso não só proporciona uma produção mais

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flexível, como também oferece oportunidades para uma gestão diferenciada e maior controle
do processo.

4.2 Fábricas Inteligentes (Smart Factories)

O termo sugere fábricas que sejam completamente equipadas com sensores e sistemas
autônomos, o que as tornam capazes de lidar com a complexidade e produzir de forma mais
eficiente. De acordo com o Kagermann (2013), nas fábricas inteligentes, pessoas, máquinas e
recursos se comunicam entre si. Os produtos têm a capacidade de saber em detalhes como
foram produzidos e quais são os seus usos, por exemplo, controlando, portanto, a sua própria
produção de forma autônoma. A manufatura passará a não ser fixa e pré definida, mas capaz
de setar as configurações de produção caso por caso.

Uma outra definição proposta por Radziwon et al. (2014) considera a smart factory como uma
solução que promove flexibilidade e adaptação aos processos de produção. Essa solução pode
ser por um lado relacionada a automação, que seria a combinação de softwares, hardwares ou
mecanismos que devem otimizar a manufatura, resultando numa redução de práticas
desnecessárias e desperdício de recursos. Por outro lado, pode ser também uma perspectiva de
colaboração entre stakeholders industriais e não industriais, onde a inteligência surge da
formação de uma organização dinâmica.

4.3 Internet das Coisas (Internet of Things - IoT)

Através de tecnologias diferentes, a Internet das Coisas é capaz de promover o diálogo entre
produtos e objetos. A IoT, como tem sido conhecida, terá, em poucos anos, uma grande
atuação não só no meio industrial como também no cotidiano das sociedades. Na Disney, por
exemplo, visitantes já recebem uma pulseira com chips de identificação por radiofrequência
(RFID) que servem de ticket e possibilitam também a compra de produtos. Essa pulseira
conecta os visitantes com a central de dados da Disney, que recebe todas as informações dos
usuários. Dentro das fábricas, produtos receberão identificações como essa, que serão capazes
de informar ao sistema produtivo suas especificações, os processos pelos quais ele deve
passar e também os processos que ele sofreu (LEE e LEE, 2015; WORTMANN;
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FLUECHTER, 2015).

Segundo Lee e Lee (2015), a tecnologia RFID possibilita a identificação e captação de dados
a partir de ondas de rádio, uma ficha (tag) e um leitor. Atualmente existem três tipos
diferentes de fichas (tags): passiva, ativa e semi-passiva. As fichas passivas não possuem
bateria. A energia utilizada para carregar a ficha é proveniente do leitor. Esse tipo de ficha é
muito utilizado em supply chains e para monitorar e rastrear objetos. As fichas ativas possuem
bateria e podem provocar a comunicação com os leitores. Essas fichas são mais utilizadas em
sensores para o monitoramento de temperatura, pressão, reações químicas e outras. As semi-
passivas possuem bateria para carregar seus microchips enquanto se comunicam com os
leitores (LEE e LEE, 2015).

Uma outra tecnologia utilizada pela Internet das Coisas é a Wireless Sensor Networks
(WSN). Segundo Yinbiao et al. (2014), o WSN é uma rede formada por um extenso número
de nós de sensores, onde cada nó está equipado com um sensor capaz de detectar fenômenos
físicos como luz, pressão e calor, por exemplo. Ainda segundo Yinbiao et al., a utilização
dessa tecnologia irá melhorar significativamente a eficiência e a confiabilidade dos sistemas,
podendo ser considerada um método revolucionário na coleta de informações. A solução
WSN apresenta a grande vantagem de não possuir fios, o que a classifica como uma solução
mais flexível do que outras soluções que possuem a necessidade de fios. Além disso, redes de
sensores apresentam uma implementação mais fácil (YINBIAO et al, 2015).

A tecnologia WSN tem diferentes possibilidades de aplicação. Ela pode ser utilizada em
cadeias logísticas que transportam produtos sensíveis a mudanças de temperatura, por
exemplo, como também para estudos sobre manutenção de equipamentos ou sistemas de
rastreamento. Um bom exemplo é a General Electric, que utiliza sensores em suas turbinas e
parques eólicos, para monitorar seus funcionamentos e promover manutenções preventivas,
reduzindo seus gastos (LEE e LEE, 2015; YINBIAO et al, 2015).

5. A inovação, o homem e o seu papel no contexto da Indústria 4.0


A julgar pelo que foi exposto anteriormente, as demandas e condições tecnológicas

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necessárias para justificar e implementar a Indústria 4.0 são realidades consistentes e atuais.
No entanto, fica a indagação se o homem está preparado, dentro das suas competências e
escolaridade, para acompanhar e atuar nesse novo cenário. Nas próprias escolas de
engenharia, onde se estaria em princípio formando a linha de frente dos atores para operarem
no cenário, ainda falta muito para alcançar resultados palpáveis. Segundo Pereira, Hayashi e
Ferrari Junior (2016), falta investimento para melhorar a prática do trabalho em equipes
multidisciplinares, a valorização profissional com ênfase no futuro e a visão crítica e ampliada
da dinâmica social.

Alguns autores, como Cruz (2015), chegam a dizer que o ensino atual de engenharia forma
quadros técnicos que concorrem para a manutenção ou o aprofundamento do quadro atual de
gestão tecnocrática da vida social. Esses autores sugerem incorporar novos componentes na
formação em engenharia que passam pela ampliação da reflexão histórica, sociológica e
filosófica. No nível mais amplo, de políticas públicas, Prizon e Pereira (2016), propõem o
conceito de “sistema nacional de aprendizagem” para correlacionar a mudança técnica com a
mudança institucional, ambas fundamentais para o desenvolvimento capitalista, mormente em
tempos de mudanças profundas como é a emergência da Indústria 4.0.

À medida que as fábricas estão preparadas para reduzir o tempo de produção e lançar novos
produtos em tempos cada vez mais curtos, a demanda por novas criações também aumenta
consideravelmente, retroalimentando um círculo virtuoso de consumo e produção. Torna-se
inevitável refletir sobre inovação e capacidade das sociedades atuais em inovar, criar novos
produtos e serviços e gerar novos valores.

A inovaçaõ tem se tornado, nos últimos anos, prioridade naõ apenas na academia, mas
também no mundo da produçaõ e do trabalho. Carlomagno e Scherer (2012) comentam
resultado de pesquisa indicando que 80% dos executivos colocam a inovaçaõ como
prioridade, ainda que essas prioridades naõ sejam exatamente transformadas em açaõ
concreta. Conclui-se que há muita intenção em inovar e muito se comenta sobre o tema,
porém, a inovação, muitas vezes, não é colocada em prática.

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Weber (2015) aponta que há um medo enorme da redução de empregos em massa, uma vez
que as profissões que hoje existem estão sendo substituídos por robôs. Ele sugere ainda que o
desenvolvimento tecnológico é tão antigo quanto a humanidade e que, nem por isso, houve
falta de emprego. As profissões foram mudando ao longo do tempo e, é provável que o
cenário da quarta revolução industrial apenas exija adaptações no mercado de trabalho.

Para que seja viável uma análise consistente dos impactos econômicos e sociais resultantes da
Indústria 4.0, é necessário levar em consideração vários fatores, como o desaparecimento de
profissões e postos de trabalho como também a criação de novos; a transformação das
exigências dos consumidores; desenvolvimento de novos produtos; maior eficiência dos
processos; mudança nos preços, ofertas e compras. Em estudo realizado na Alemanha pelo
Instituts für Arbeits- markt- und Berufsforschung, concluiu-se que o aumento da
produtividade e das exigências de qualificação dos trabalhadores, resultará em um aumento
nos salários (WEBER 2015).

Parece não haver dúvidas quanto ao fato de que um dos desafios a serem enfrentados será a
transformação na oferta de profissões: enquanto algumas irão deixar de existir, outras irão
surgir. Weber (2015) afirma que as profissões relacionadas às áreas de tecnologia da
informação e ciências exatas terão mais chances no mercado. É interessante ressaltar que a
Indústria 4.0 também revolucionará a área da saúde. Já existem tecnologias capazes de
monitorar pacientes e fazer diagnósticos extremamente precisos, que pouquíssimos médicos
são capazes de realizar.

A existência e urgência do problema, parece estar colocada. A novidade poderia ser se, desta
vez, o fator humano será levado em conta em toda a extensão da sua complexidade mas
também da capacidade de contribuição que o correto equacionamento da questão poderia
fornecer.

5. Conclusão
Nos últimos anos, os termos Industry 4.0 e Industrie 4.0 foram muito comentados no cenário
internacional. A literatura pertinente, embora crescente, parece ainda estar muito longe do que

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seria desejável, considerando a profundidade, a extensão e o impacto que causará sobre as


organizações e a sociedade. Se o fenômeno promete suprir muitas demandas atuais da
sociedade, como produzir produtos mais individualizados, lançar produtos em um curto
período de tempo no mercado, flexibilizar os meios de produção e tornar a produção mais
sustentável, evitando desperdícios, o lado humano dos seus impactos está ainda a merecer
muito maior aprofundamento.

Embora não se vislumbre explicitamente nenhum movimento ludita, a exemplo do que


ocorrera na primeira revolução industrial, de rejeição violenta da inovação e do avanço
tecnológico com quebra de máquinas, há de fato o risco de que o ludismo de hoje seria mais
bem representado pelo desconhecimento e pela ignorância, o que coloca o desafio de pensar
como capacitar, formar e difundir o conhecimento básico para não se criar uma sociedade de
analfabetos tecnológicos, tanto em nível da produção propriamente dita, quanto do consumo e
da convivência social. Significa dizer que a visão corrente e ingênua da neutralidade da
tecnologia precisa ser questionada, na linha do princípio da responsabilidade de Jonas (2006)
com desdobramentos no chamado “ludismo metodológico” (EDGERTON, 2011, GARCIA et
al., 2017).

Não se trata de alarmismo nem pessimismo, mas antes, de fazer avançar em sintonia a
tecnologia e a compreensão da tecnologia. Nesse sentido, as escolas de engenharia possuem
um papel insubstituível como formadoras e preparadoras da nova sociedade embarcada na
nova Indústria 4.0.

Um tema tão profundo, tratado de maneira tão rápida, evidentemente tende a deixar muito
mais sugestões de trabalhos futuros do que propriamente achados de pesquisa. Mas o
momento pareceu oportuno aos autores, despertados pela proposição do tema do próprio
Enegep 2017 – A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0,
manufatura aditiva e outras abordagens avançadas de produção” - e pela perspectiva
descortinada no Enegep 2016 em João Pessoa de que a Associação Brasileira de Engenharia
de Produção irá abrir, como nova área de conhecimento, justamente a Indústria 4.0.

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