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Hoje vamos começar a estudar sobre as escolas literárias. Vamos começar pelo TROVADORISMO.
O Trovadorismo não é um movimento que ocorreu no Brasil, pois ele é uma expressão
artística da Idade Média. Vamos estudar algumas características, pois elas vão ser importantes para
entendermos algumas escolas que ocorreram posteriormente. Vamos estudar sobre o Trovadorismo
Português, mais especificamente.
Vamos ver que o estudo de Literatura é assim: um movimento se opõe ou retoma
características de um anterior.

TROVADORISMO
Contexto: Idade Média – Feudalismo
Portugal – expulsão dos árabes da península Ibérica e a formação do Estado Português.
Textos escritos em galego-português.
(Spoiler da próxima aula: O português só vai se constituir enquanto idioma com Os Lusíadas, de
Luís de Camões)
Os textos do Trovadorismo português datam do século XII. A produção mais relevante para
o nosso estudo é a da POESIA, mas vamos fazer um apanhado geral da prosa também.

PROSA:
Novelas de Cavalaria: narrativas típicas do período medieval divididas em capítulos e sua
principal característica são os relatos das aventuras fantásticas dos destemidos, leais e honrados
cavaleiros errantes medievais, os quais enfrentavam diversas batalhas sem deixar de lado o amor
por suas belas donzelas. Assim, a principal missão desses cavaleiros era estabelecer a justiça no
mundo e adquirir a glória. Enfrentavam diversos monstros, lutavam em batalhas, prendiam reis
injustos durante o percurso que faziam, no entanto, a história geralmente terminava de forma
trágica.
Hagiografias: as hagiografias representavam os textos em prosa que revelavam a vida ou biografia
dos santos. Eram narrativas muito comuns, uma vez que durante o período da Idade Média, a
religiosidade fazia parte da vida das pessoas.
Crônicões: o nome já revela que os cronicões eram crônicas, ou seja, textos em prosa que focavam
os aspectos contemporâneos da história medieval de maneira cronológica.
Nobiliários: também denominados de "livros de linhagem", os nobiliários focavam nas
características genealógicas de nobres, ou seja, na estrutura hereditária da família, por exemplo, os
bisavós, avós, pais e filhos que constituíam uma família de nobres (reis, fidalgos, cardeais, etc.) no
período do medievo. Além da estrutura familiar, esses textos relatavam as façanhas, riquezas e
conquistas de alguns elementos da família.

→ Um dos cronistas mais relevantes da literatura portuguesa dessa época é Fernão Lopes, que foi
responsável pelo início do movimento humanista em Portugal. Ele é considerado o “pai da
historiografia portuguesa” e uma das principais figuras da literatura medieval.

POESIA
O Trovadorismo representa um período da literatura que ocorreu entre 1189 e 1434. Em
Portugal, esse movimento literário teve início com a “Cantiga da Ribeirinha”, escrita pelo trovador
Paio Soares da Taveirós.
A principal característica da produção literária trovadoresca foi, sem dúvida, a relação entre
a poesia e a música. Isso porque os textos eram acompanhados por instrumentos musicais e, por
esse motivo, são chamados de cantigas. Assim, eles eram cantados em coro e estavam divididos em
cantigas de amor, cantigas de amigo, cantigas satíricas (escárnio e maldizer).
Os cancioneiros são coletâneas que reúnem a produção literária trovadoresca, mais
precisamente, as cantigas. Os principais autores são: Garcia de Resende, João Ruiz de Castelo
Branco, Nuno Pereira, Fernão da Silveira, Conde Vimioso, Aires Teles, Diogo Brandão, Gil Vicente
(falaremos mais sobre Gil Vicente na próxima aula).

➢ Lírica:
• Cantigas de Amor - Nas cantigas de amor o homem se refere à sua amada como sendo uma
figura idealizada, distante. O poeta fica na posição de fiel vassalo, fica as ordens de sua
senhora, dama da corte, onde esse amor é considerado como um objeto de sonho, ou seja,
impossível, que está longe.
• Cantigas de Amigo - ela apresenta um eu-lírico feminino, porém com um autor masculino,
ele canta seu amor pelo seu amigo, em um ambiente mais natural, em grande parte, faz um
diálogo com as suas amigas ou com a sua mãe. Na cantiga de amigo, a figura feminina é de
uma jovem que começa a amar, lembrando as vezes da ausência do amado, ou cantando a
sua alegria por um encontro com ele. Essa cantiga pode mostrar também a tristeza da
mulher, pelo fato do seu amado ter ido para a guerra.
→ O amor é um dos temas centrais do trovadorismo. É o eixo condutor das cantigas de amor e das
cantigas de amigo. É comum o tema da coita (coyta), palavra que designa a dor do amor, do
trovador apaixonado que sente no corpo a não realização amorosa. Daí a origem da palavra
“coitado”: aquele que foi desgraçado, vítima de dor ou mazela.

Cantiga de Amor Cantiga de Amigo

Ai eu coitad! E por que vi Mal me tragedes, ai filha,


a dona que por meu mal vi! porque quer ‘ aver amigo
Ca Deus lo sabe, poila vi, e pois eu com vosso medo
nunca já mais prazer ar vi; non o ei, nen é comigo,
ca de quantas donas eu vi, no ajade-la mia graça
tam bõa dona nunca vi. e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
Tam comprida de todo bem, filha que vos assi faça.
per boa fé, esto sei bem,
se Nostro Senhor me dê bem Sabedes ca sen amigo
dela! Que eu quero gram bem, nunca foi molher viçosa,
per boa fé, nom por meu bem! e, porque mi-o non leixades
Ca pero que lh’eu quero bem, ver, mia filha fremosa,
non sabe ca lhe quero bem. no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
Ca lho nego pola veer, filha que vos assi faça,
pero nona posso veer! filha que vos assi faça.

Mais Deus, que mi a fezo veer, Pois eu non ei meu amigo,


rogu’eu que mi a faça veer; non ei ren do que desejo,
e se mi a non fazer veer. mais, pois que mi por vós v~eo
Sei bem que non posso veer Mia filha, que o non vejo,
prazer nunca sem a veer. no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
Ca lhe quero melhor ca mim, filha que vos assi faça,
pero non o sabe per mim, filha que vos assi faça.
a que eu vi por mal de mi[m].
Por vós perdi meu amigo,
Nem outre já, mentr’ eu o sem por que gran coita padesco,
houver; mais s perder o sem, e, pois que mi-o vós tolhestes
dire[i]-o com mingua de sem; e melhor ca vós paresco
no ajade-la mia graça
Ca vedes que ouço dizer e dê-vos Deus, ai mia filha,
que mingua de sem faz dizer filha que vos assi faça,
a home o que non quer dizer! filha que vos assi faça.
(Pero Garcia Burgalês) (Julião Bolseiro)
➢ Satírica:
• Cantigas de Escárnio: o eu – lírico, faz uma crítica (sátira) indireta e com duplos
sentidos a alguém. Para os trovadores fazerem uma cantiga de escárnio, ele precisa
compor uma cantiga falando mal de alguém, ou seja, fazendo uma critica a alguma
pessoa, através de palavras de duplo sentido, através de ambiguidades, trocadilhos e
jogos semânticos, através de um processo denominado pelos trovadores equívoco.
• Cantigas de Maldizer: Esse tipo de cantiga também traz criticas, ou seja, sátiras diretas,
porém não são acompanhadas de duplos sentidos. É normal que ocorra agressões verbais
à pessoa que está sendo criticada, satirizada e geralmente usa-se até mesmo palavrões
para compor esse tipo de cantiga. O nome da pessoa que está sendo agredida
verbalmente pode ou não ser revelado.

Cantiga de Maldizer
com as mãos tapo as orelhas,
Marinha, o teu folgar os olhos e as sobrancelhas,
tenho eu por desacertado, tapo-te ao primeiro sono;
e ando maravilhado com a minha piça o teu cono;
de te não ver rebentar; e como o não faz nenhum,
pois tapo com esta minha com os colhões te tapo o cu.
boca, a tua boca, Marinha; E não rebentas, Marinha?
e com este nariz meu, (Afonso Eanes de Coton)
tapo eu, Marinha, o teu;
Cantiga de Escárnio

Ai, dona fea, foste-vos queixar


que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!…

(João Garcia de Guilhade)

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