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METODOLOGIA DA EXPLOTAÇÃO DE PETRÓLEO: DA INTERPRETAÇÃO DE

PERFIS À PREVISÃO DE PRODUÇÃO

Nininberg Nascimento Sales de Sousa


Tiago Nunes
Overlan Santos Andrade
Alexandre Santos Mota
Cláudio Borba

RESUMO

Na indústria do petróleo o melhor momento é quando se comprova a


existência de um reservatório, através da perfuração do poço, antes só observado
pela sísmica. A partir deste ponto se inicia outra fase de estudos que visa mensurar
as propriedades estáticas do reservatório: tipo de rocha, porosidade e saturação de
fluídos. Para a obtenção desses dados é efetuada a perfilagem de poço, que servirá
de fundamento para todos os outros estudos. Com os dados de porosidade e
saturação de óleo obtidos através da interpretação de perfis, se inicia a correlação
de poços a fim de se conhecer a geometria do reservatório, e com a junção dos
dados de porosidade e correlação de poços se obtém o mapa estrutural que fornece
a área do reservatório. Com esses dados se calcula o volume de óleo in place e a
capacidade produtiva do reservatório através da previsão de produção. Com isso as
empresas petrolíferas dão valor a suas reservas assim como desenvolvem seus
projetos de explotação.

PALAVRAS-CHAVES

Previsão de produção, perfilagem, reservatório, correlação de poços, volume in


place.

ABSTRACT

In the petroleum industry the best moment is the proving of the existence of
one producing reservoir, by drilling the borehole, previously only observed on seismic
data. From that point begins another round of studies in order to measure the static
properties of the reservoir: rock type, porosity and fluid saturations. To obtain these
data it is carried out the well logging that provides a foundation for additional studies.
The lithology, porosity and oil saturation obtained from well log interpretation are
used for the well correlation in order to know the reservoir geometry. Then is
elaborated the structural map that provides the area of the reservoir. With this data it
is possible to estimate the oil in place volume and the productive capacity of the
reservoir through the production forecast. The above products are used by the oil
companies to give value to their reserves and develop their production projects.

KEYWORDS

Production forecast, well logging, reservoir, correlation, stock-tank oil initial in place.

INTRODUÇÃO

No processo de exploração e explotação de petróleo, após a interpretação


sísmica e a elaboração do prospecto exploratório e do projeto de poço, é perfurado
um poço pioneiro. Este trabalho parte da reprodução de prática investigativa onde foi
fornecido aos alunos o dado adquirido na perfilagem de um poço pioneiro, fictício,
com os perfis raios gama (GR), resistividade (ILD), densidade (RHOB) e neutrão
(PHIN), de modo a verificar a existência do reservatório. Depois de comprovada a
existência de reservatório, foram perfurados e perfilados novos poços na área da
descoberta, que foram utilizados na construção do mapa estrutural com a
delimitação da área do reservatório através da correlação de poços. De posse do
mapa estrutural foi calculado o volume de óleo da acumulação. Neste trabalho foi
fundamentada a base para a análise e em seguida apresentado os tópicos das
práticas investigativas, fazendo um comparativo e indicando um dos vários métodos
de interpretação dos dados obtidos nas pesquisas sísmicas e de perfilagem de
poços.

Este trabalho busca mesclar a fundamentação teórica com exemplos práticos.


Por isso a metodologia empregada neste trabalho é a mesma utilizada largamente
na indústria de petróleo.
FUNDAMENTAÇÃO: PERFILAGEM DE POÇOS

A perfilagem pode ser realizada em qualquer momento, mas principalmente


logo após a perfuração de um novo poço para se verificar a sua viabilidade produtiva
através de parâmetros físicos (principalmente resistivos, acústicos e radioativos).
Esses dados são interpretados e utilizados para o estudo das propriedades estáticas
das rochas como porosidade, permeabilidade, saturação e identificação dos fluidos,
diâmetro do poço, delimitação da espessura do reservatório, velocidade sônica e
volume de argilas. Existem vários tipo de perfis que usam várias variáveis para a
definição das propriedades estáticas do reservatório, e eles serão abordados a
seguir.

RAIOS GAMA (GR)

Este tipo de perfil mede a radioatividade natural emitida pela rocha, quando
há presença de Urânio, Tório e Potássio. É utilizado principalmente para
determinação do tipo de rocha, e também para o cálculo de volume de argila
existente na rocha (a argila é nociva à qualidade do reservatório). Logo, os menores
valores indicam arenito quartzoso, calcário ou halita, enquanto valores maiores
indicam argila, folhelho, arenitos feldspáticos, rochas metamórficas ou ígneas. Outra
aplicação deste perfil é a marcação do topo e base das camadas (correlação).

POTENCIAL ESPONTÂNEO (SP)

Este perfil mede a diferença de potencial elétrico que ocorre entre a lama de
perfuração e o fluído existente na rocha, mas para isso a lama deve ser à base de
água. A unidade de medição é o milivolt. A curva deste perfil mostra deflexões, onde
nas ocorrências de deflexões à direita indicam salinidade da formação inferior a
salinidade da lama, deflexões a esquerda indicam salinidade da formação superior
ao da formação e não havendo deflexão é sinal de que a formação é impermeável
ou tem salinidade idêntica a da lama. Este perfil é utilizado na estimativa de
permeabilidade e identificação do tipo de rocha.

RESISTIVIDADE (ILD)

Para a realização deste perfil é descida uma ferramenta que induz uma
corrente elétrica e mede a resistividade da formação em relação à passagem dessa
corrente. A unidade de medida é a ohm.m, que é apresentado na curva geralmente
em escala logarítmica de 0,2 – 200 ohm.m. Como esta unidade mede a resistividade
e conhecendo as propriedades resistivas das substâncias, onde os altos valores de
resistividade podem indicar a presença de água doce (geralmente em baixas
profundidades), óleo, gás ou rocha com baixa porosidade (sem condições de
armazenar hidrocarbonetos). Já baixos valores de resistividade indicam a presença
de água salgada, geralmente em profundidades mais elevadas. Com este perfil é
possível a identificação dos fluidos existentes no reservatório.

DENSIDADE (RHOB)

Uma ferramenta bombardeia a formação com raios gama e em seguida mede


a resposta da formação a esse bombardeio. Ela utiliza a unidade de densidade
segundo o sistema internacional que é a g/cm³, normalmente com valores no perfil
que variam de 2 – 3 g/cm³. Esses dados são utlizados para a identificação dos tipos
de rocha e cálculo da porosidade. Os vários tipos de rochas encontrados no sistema
petrolífero já tiveram suas densidades medidas em laboratório para fim de
correlação com os resultados encontrados no poço, tendo com exemplo o quartzo
(um dos principais compostos do arenito) possui 2,65 g/cm³, o que implica dizer que
um possível arenito, formado por grãos de quartzo, que apresente este valor de
densidade provavelmente tem pouca ou nenhuma porosidade. Logo, quanto menor
o valor da densidade medida, maio será a porosidade. Na curva do perfil a
porosidade pode ser lida diretamente, pois para cada perda de 0,05 g/cm³ há um
ganho de 3% na porosidade. Outra forma de obtenção da porosidade através deste
perfil é utilizando a fórmula:

ρmatriz − ρlida
φ=
ρmatriz − ρ fluido

onde φ é a porosidade, ρ matriz é a densidade da rocha matriz, ρ lido é a densidade


medida pela ferramenta e ρ fluido é a densidade do possível fluido existente nesta
parte da formação.

NEUTRÃO (NPHI)

Utiliza o princípio radioativo do perfil anterior, só que neste caso mede-se a


massa de hidrogênio em resposta ao bombardeio de nêutrons rápidos emitidos pela
ferramenta. Utiliza a unidade de porosidade neutônica (%) e tem como principal
função identificar rochas e fluidos, especialmente gás.

Normalmente este perfil não é lido sozinho, sendo sempre associado ao perfil
densidade. A relação entre as duas curvas pode se comportar das seguintes formas:
curva da densidade à esquerda e neutrão à direita indicam uma possível rocha
reservatório. Curva da densidade à direita e neutrão à esquerda indicam rocha sem
porosidade efetiva, provavelmente folhelho. Curva à esquerda e neutrão à direita
muito afastadas com o neutrão tendendo a zero, formando um padrão semelhante à
uma borboleta, indicam reservatório com gás.

SÔNICO (DT)

A ferramenta sônica consiste, basicamente, no registro do tempo decorrido


entre o momento em que um pulso acústico é emitido por um transmissor, até sua
chegada a dois receptores distintos na ferramenta. A diferença entre os dois tempos
de chegada (transmissor - receptor perto T-RP e transmissor - receptor longe T-RL)
é chamada de tempo de trânsito ou delay time (DT). O tempo de trânsito (DT)
guarda uma relação direta com a porosidade da rocha. Quanto maior o DT, maior a
separação entre os grãos, portanto, maior a porosidade, sendo a recíproca
verdadeira. Conseqüentemente, a maior vantagem do perfil sônico provém da
relação direta que existe entre o tempo de trânsito de uma onda sonora em uma
rocha e a sua porosidade.

O perfil sônico é utilizado, principalmente em poços pioneiros, onde recebe


maior investimento para aquisição de dados, pois esses poços servem como
referência para analisar o potencial petrolífero da área. Uma aplicação importante,
neste caso, é a amarração com o dado sísmico, já que o perfil sônico pode ser
utilizado para a geração de sismogramas sintéticos.

CALIPER (CAL)

Este perfil fornece todo diâmetro medido ponto a ponto em toda a extensão
de um poço. É um indicativo importante da qualidade da leitura dos perfis. Alguns
perfis têm seus limites operacionais limitados, a determinados diâmetros de poços.
Os diferentes perfis de poços são afetados de forma diferenciada pelas variações
observadas no Caliper. Os perfis que correm centralizados no poço são de forma
geral os mais afetados pelas variações no diâmetro dos poços ao passo que os que
correm com sapatas de contato nas paredes do poço são menos afetados. Essa
variável é medida em polegadas.

CÁLCULO DE SATURAÇÃO DOS FLUÍDOS (EQUAÇÃO DE ARCHIE)

Entende-se como saturação de fluidos a quantidade relativa ocupada pelo


mesmo em um determinado espaço poroso, podendo a unidade ser expressa em
valor decimal ou percentual. Toda rocha reservatório terá sempre uma determinada
quantidade de água associada ao óleo. A necessidade de saber a saturação real de
óleo, já que o mesmo não ocupa todo o espaço poroso na rocha, é justamente dar
uma idéia de volume in place mais verdadeiro.
Para fins matemáticos, usam-se os valores em forma de casa decimais com
uma fórmula de representação geral:
Sw + So + Sg = 1

Onde: Sw é a saturação da água, So é a saturação do óleo e Sg é a


saturação do gás.
Por essa representação nota-se que sabendo a saturação da água pode-se
encontrar a saturação de óleo, que é o objetivo. Mas vale ressaltar que este valor de
saturação de água não deve ultrapassar 50%, pois por mais que o reservatório
possua óleo o mesmo não será produzido devido à permeabilidade relativa à água,
nesse caso, geralmente ser muito maior do que a do óleo.
Existem várias maneiras de se obter o valor da saturação da água, mas é
principalmente através de perfilagem, calibrada com ensaios de laboratório. Através
da perfilagem são utilizadas equações empíricas para o cálculo de saturação da
água, dentre elas a mais famosa e básica é a equação de Archie (1947):

a.Rw
Sw n =
φ m .Rt

Onde: Sw é a saturação da água (decimal), φ é a porosidade (decimal), Rw é


a resistividade da água da formação; Rt é resistividade lida no perfil (ohm.m), a é o
coeficiente de cimentação (para arenitos usa-se 0,81 e carbonatos usa-se 1), m é
coeficiente de tortuosidade (para arenito usa-se 2).
Archie foi um físico que deu uma grande contribuição à indústria de petróleo
desenvolvendo uma equação capaz de calcular o valor da saturação de água em um
dado reservatório, sem que seja preciso se coletar amostras da água e enviá-las
para análises laboratoriais. Archie (1947) chegou a esta equação final após a
observação de três resultados. Ao saturar uma rocha com soluções salinas com
salinidades diferentes percebeu que a resistividade da parte saturada com água foi
relacionada com a resistividade da água. Esses valores variavam de acordo com o
fator da formação que ele fez com que variasse, previsivelmente, com a porosidade
em função de m é uma constante e que seria o coeficiente de cimentação. E por
último, correlacionou os valores de Rt nas partes onde a saturação a água era
inferior a 100%.
O profissional ao efetuar o cálculo de saturação da água deve evitar uma
mentalidade que bloqueia utilização de valores convencionais para m em todas as
interpretações de perfis. Alguns métodos permitem a estimativa de valores para m,
porém nem sempre é possível uma análise mais criteriosa. Já os valores de n
podem variar de acordo com a molhabilidade da rocha. Em sistemas onde há
molhabilidade ao óleo, normalmente os valores de n será maior que 2. E em
sistemas com molhabilidade à água os valores de n podem ser menores que 2
(Asquith & Gibson, 1982).

INTERPRETAÇÃO DE PERFIS DO POÇO UNIT-1

Depois de um estudo sísmico da área (Nascimento e Borba, 2010), foram


definidos locais para a perfuração de poços pioneiros na área adquirida pela
empresa contratante, e a perfuração do poço UNIT-1 trouxe dados animadores.
Através da perfilagem deste poço ficaram evidenciadas camadas que propiciam o
acúmulo de petróleo, duas possíveis rochas reservatórios (arenitos, Zona A e Zona
B) e dois folhelhos logo acima dos arenitos, caracterizando uma função de rocha
selante. Essas colocações podem ser feitas através da interpretação do perfil raios
gama (GR).
Outro perfil utilizado neste poço foi o de Resistividade (ILD), que é usado para
a identificação de óleo, para a identificação de água geralmente salgada, pouco
resistiva a passagem de corrente elétrica. Neste perfil pode se verificar que na parte
superior do arenito chamado Zona B (Figura 1), há uma alta resistividade que pode
indicar a presença de óleo, gás ou baixa porosidade da rocha, e na parte inferior
com 8 metros de espessura acontece uma queda de resistividade indicando a
presença de aqüífero.
E por último, mas não menos importante, foi utilizado os perfis densidade e
neutrão, que são usados para medir a porosidade das rochas e o tipo de fluido. Com
o perfil da densidade encontramos uma boa porosidade na parte de óleo da Zona B,
e usando o de perfil de Neutrão combinado com o de Densidade podemos afirmar
que se não se trata de um reservatório de gás, possivelmente será de óleo.

Agora que está evidenciada a presença de óleo na Zona B, se faz necessário


o cálculo da saturação de óleo, já que esta nunca é 100% e deve estar acima de
50%, se não o reservatório provavelmente só produziria água.

Para se obter o valor da saturação de óleo será utilizada a equação de Archie.


As porosidades médias foram obtidas diretamente no perfil e apresentaram os
seguintes valores: para Zona A =10%, Zona B/óleo =19% e Zona B/água =14%. Na
Figura 1 está apresentado o perfil usado na interpretação e coleta desses dados
com a identificação de cada zona em destaque a Zona B e o contato óleo água,
assim como os perfis GR, ILD e NPHI x RHOB.
Figura 1: perfil do poço UNIT-1 com vários indicativos da interpretação. Fonte: perfil obtido do
material didático sintético de Borba (2009) e modificado pelos autores.

Esses dados são fundamentais para o cálculo da saturação de água e a


conseqüente de saturação de óleo na formação, que é feita através da equação de
Archie, já apresentada anteriormente. No caso aqui analisado, o único valor que não
foi possível se conseguir com os perfis foi o da resistividade da água da formação
(Rw), já que não existem análises de salinidade dessa água. Para encontrar esse
valor é colocado o Rw em evidência na equação e calcularemos a resistividade da
água na Zona B/água, pois como se sabe a saturação de água nessa zona é de
100%. Então a fórmula para a zona de água fica desta forma:

φ2 .Rt
Rw =
0,81
Ou seja, Rw = (0,142 * 1) / 0,81 = 0,024 ohm.m. como a distância entre os dois
reservatórios é pequena, será assumido que a água que satura os dois tem a
mesma resistividade. De posse da resistividade da água da formação, agora é
possível calcular a saturação de água em qualquer ponto de um dos reservatórios.
Então com os valores médios de porosidade já obtidos temos a equação pra cada
zona:

0,81 .0,024
Zona A: Sw = = 0,31 So =1 − 0,31 = 0,69
0,12.20

0,81 .0,024
Zona B/óleo: Sw = = 0,23 So =1 − 0,23 = 0,77
0,19 2.10

E os resultados dos cálculos da saturação da água e do óleo se encontram


resumidos logo abaixo no quadro 1.

ZONA TOPO BASE h (m) Φ (%) Rt (Ω.m) Rw (Ω.m) Sw (%) So (%)

A 1761 1771 4 10 20 0,024 31 69

Bóleo 1778 1798 20 19 10 0,024 23 77

Bágua 1798 1806 8 14 1 0,024 100 0

Quadro 1: resumo dos cálculos de saturação da água através da equação de Archie.

Notar que tanto a porosidade quanto a saturação de água em ambas as


zonas satisfaz as exigências mínimas e estão acima do cut-off de 8% e 50%
respectivamente, mas pela pequena espessura e composição litológica (alta
argilosidade devido ao folhelho intercalado com arenito) observada no perfil raio
gama (GR) o reservatório da Zona A provavelmente apresentarão baixa
produtividade, e por isso as pesquisas a partir de agora serão focadas no arenito da
Zona B.

CORRELAÇÃO DE POÇOS E SEÇÃO GEOLÓGICA


A correlação de poços é a identificação de camadas semelhantes entre perfis
de diferentes poços, tendo como produto final a seção estrutural. Esse processo
envolve muita experiência do geólogo envolvido neste trabalho, sendo possível ser
feita por computadores - já existem vários programas que auxiliam nesse processo.
A Figura 2 mostra uma correlação com base em perfis raio gama (GR) e
resistividade (ILD), onde apresenta um reservatório que se estende entre os poços.
O contato óleo/água pode ser marcado prolongando uma linha horizontal (perfil ILD),
note que melhor zona com saturação de óleo é a região do poço 1, enquanto a zona
do poço 3 poderia ser usada para uma futura injeção de água.

Figura 2: Correlação de poço através do perfil GR e ILD.

Fonte: Dikkers (1985).

Contudo, a seção estrutural não é um documento absoluto e imutável, muito


pelo contrário, tratando-se de um trabalho prévio para a elaboração de trabalhos
futuros. Vale ressaltar também que algumas vezes, depois da seção estrutural tiver
sido aprovada quando colocado em prática através do projeto de explotação pode se
verificar ser incompatível com a realidade. Por exemplo, uma conectividade antes
indicada pode não existir devido à presença de uma falha geológica inicialmente não
detectada pelos perfis e sísmica. Por isso há a necessidade da constante
atualização da seção estrutural a fim de torná-la sempre o mais real possível
(Dikkers, 1985).

A Figura 3 apresenta uma seção geológica da área estudada. Depois de


ligadas as camadas semelhantes, outro dado deve ser acrescentado, que é a
presença de uma falha entre os poços UNIT-1 e UNIT-3, contudo vale ressaltar que
somente através da correlação não é possível afirmar a sua exata posição. A figura 7
mostra a linha entre os poços UNIT-2 e UNIT-3 com contato óleo/água, a zona de
óleo e o local suspeito da falha com aproximadamente 150m de rejeito. A ligação
das camadas e a seção estrutural é mostrada na Figura 4 que mostra a linha entre
os poços UNIT-4 a UNIT-6 com a identificação do contato óleo/água e a zona de
óleo.

Note que há uma variação de espessura ao longo do reservatório e que há


um aqüífero presente em volta do mesmo, o que é uma boa notícia, já que pode ser
um indício de mecanismo de produção com influxo de água, tendo este tipo de
mecanismo um elevado fator de recuperação.

Figura 3: Correlação de poços UNIT-2 a UNIT-3, no sentido Oeste – Leste. Fonte: material
didático sintético de Borba (2009) modificado pelos autores.
Figura 4: Correlação de poços UNIT-4 a UNIT-6 no sentido Sul – Norte. Fonte: material didático
sintético de Borba (2009) modificado pelos autores.

MAPA BASE, MAPA ESTRUTURAL E MAPA VOLUMÉTRICO

O próximo passo é a confecção do mapa estrutural do campo de petróleo.


Este mapa é uma representação da possível área do reservatório com curvas de
níveis dando uma idéia da profundidade do reservatório. Mas para isso se faz
necessário a perfuração de novos poços na região onde serão corridos os mesmos
perfis usados no poço UNIT-1. Com essas informações foi feita a correlação de
poços descrita anteriormente.

Assim como na correlação de poços, utiliza-se geralmente como datum o


nível do mar, razão pela qual as profundidades estão apresentadas em valores
negativos. Foram utilizados os cinco poços perfurados, formando uma espécie de
cruz com três em uma linha e três em outra com o poço UNIT-1 ao centro. Os poços
estão em linha, a direção e sentido desses poços estão mostrados no Mapa Base da
Figura 5.
Figura 5: Mapa base com posição dos poços exploratórios. Fonte: material didático sintético
de Borba (2009).

A interpretação da seção geológica permite a construção do mapa estrutural,


que nada mais é do que a visão aérea do reservatório. As curvas de nível do mapa
estrutural representam a variação de profundidade do reservatório através da
indicação do topo do reservatório em cada poço. O contato óleo-água e as falhas
limitantes também são representadas no mapa (Figura 6).
Figura 6: Mapa estrutural com identificação do contato óleo/água e variação de profundidade
do reservatório.
Figura 7: Mapa de espessura porosa de óleo.

A grade no mapa da Figura 7 tem a função de dividi-lo em células, onde cada


célula possui uma espessura média que será obtida através das curvas de nível.
Esses valores serão inseridos para cada célula numa tabela de Excel facilitando o
cálculo volumétrico. Assim, é calculado o volume de cada célula separadamente e
depois o somatório destes valores é obtido o volume de óleo in place (VOIP) total.
Então, com os valores do VOIP total e do volume recuperável em m³, se tornará
possível realizar a previsão de produção.

O cálculo do VOIP de cada célula é feito com a fórmula:

A.ho .φ.So
VOIP =
Bo
Onde VOIP = volume in place, A = área de cada célula, que é de 250.000 m², ho=
altura de óleo na formação, coletada no mapa da Figura 7, Φ= porosidade - usado o
mesmo valor apontado no Quadro 2, So= saturação de óleo - usado o valor
apresentado no Quadro 1, Bo= fator volume inicial de formação do óleo; será usado
o valor de 1,33, um valor médio compatível com a profundidade do reservatório e
tipo de óleo esperado.

O Quadro 2 apresenta o resultado, com a totalização do VOIP para todas as


células. Como simplificação, foram adotadas porosidades e saturações de óleo
constantes.

CÉLULA ÁREA(m2) ho PHI So Bo VOIP(m3) VOIP(bbl)


1 250000 0,50 0,19 0,77 1,33 13750,00 86350,00
2 250000 1,00 0,19 0,77 1,33 27500,00 172700,00
3 250000 4,00 0,19 0,77 1,33 110000,00 690800,00
4 250000 4,50 0,19 0,77 1,33 123750,00 777150,00
5 250000 5,00 0,19 0,77 1,33 137500,00 863500,00
6 250000 4,00 0,19 0,77 1,33 110000,00 690800,00
7 250000 3,00 0,19 0,77 1,33 82500,00 518100,00
8 250000 1,25 0,19 0,77 1,33 34375,00 215875,00
9 250000 4,00 0,19 0,77 1,33 110000,00 690800,00
10 250000 9,00 0,19 0,77 1,33 247500,00 1554300,00
11 250000 15,00 0,19 0,77 1,33 412500,00 2590500,00
12 250000 16,00 0,19 0,77 1,33 440000,00 2763200,00
13 250000 17,00 0,19 0,77 1,33 467500,00 2935900,00
14 250000 6,00 0,19 0,77 1,33 165000,00 1036200,00
15 250000 2,00 0,19 0,77 1,33 55000,00 345400,00
16 250000 5,00 0,19 0,77 1,33 137500,00 863500,00
17 250000 3,00 0,19 0,77 1,33 82500,00 518100,00
18 250000 11,00 0,19 0,77 1,33 21,78 136,78
19 250000 17,25 0,19 0,77 1,33 36,05 226,41
20 250000 19,25 0,19 0,77 1,33 42,35 265,96
21 250000 19,50 0,19 0,77 1,33 45,05 282,88
22 250000 1,00 0,19 0,77 1,33 2,42 15,20
23 250000 3,00 0,19 0,77 1,33 82500,00 518100,00
24 250000 6,50 0,19 0,77 1,33 178750,00 1122550,00
25 250000 12,00 0,19 0,77 1,33 330000,00 2072400,00
26 250000 16,50 0,19 0,77 1,33 453750,00 2849550,00
27 250000 8,00 0,19 0,77 1,33 220000,00 1381600,00
28 250000 1,00 0,19 0,77 1,33 27500,00 172700,00
29 250000 3,00 0,19 0,77 1,33 82500,00 518100,00
30 250000 7,00 0,19 0,77 1,33 192500,00 1208900,00
TOTAL 4.324.522,65 27.158.002,23
Quadro 2: cálculo do volume in place por células e a soma total.

O VOIP totalizou aproximadamente 27 milhões de barris, um valor compatível


com um campo de petróleo médio. Mas esse é o valor de todo o óleo existente na
parte saturada de óleo. Como se sabe que é impossível produzir todo esse VOIP
existe sempre o fator de recuperação que é o percentual de óleo que se pode
produzir. Parte do óleo, devido à saturação de óleo residual, nunca sairá do
reservatório. Como fator de recuperação, devido ao aqüífero detectado através da
seção estrutural, o valor adotado será de 30%. Multiplicando o VOIP pelo fator de
recuperação tem-se um volume recuperável de 8.147.400,67 bbl.

Apesar deste reservatório provavelmente ter um bom fator de recuperação, é


necessária a realização de estudos chamados de previsão de produção, que busca
antecipar o comportamento do reservatório através de equações de declínio, este é
o próximo passo.

PREVISÃO DE PRODUÇÃO
A previsão de produção é uma atividade da engenharia de reservatórios. Um
dos métodos mais utilizados é o da curva de declínio.

A análise das curvas de declínio é um método simplificado e largamente


usado pela indústria de petróleo para o ajuste de histórico ou previsão de um futuro
reservatório, bem como poços isolados ou campos inteiros. Podendo ser aplicado
também para se estimar o comportamento (produção e recuperação) quando há
pouco ou nenhum dado sobre o poço, reservatório ou campo (Thomas, 2001).

Para a realização de um estudo de previsão do comportamento da vazão, e


conseqüentemente da recuperação de óleo, é necessário o conhecimento da taxa
de declínio α. O valor de α é determinado pelo estudo do histórico de produção ou
a partir de comportamento de reservatórios semelhantes na região. A taxa de
declínio do poço, reservatório ou campo produtor de óleo é dada pela equação:

dq
α =−
dt

Onde: q é a vazão de produção e t é o tempo. Observações empíricas dos


comportamentos de poços, reservatórios ou campos mostram que a taxa de declínio
na prática obedece à multiplicação entre o declínio inicial e a divisão entre a vazão
em determinado tempo e a vazão inicial.
PRÁTICA INVESTIGATIVA: PREVISÃO DE PRODUÇÃO

Finalmente chega-se à parte final do trabalho, que é a previsão de produção e


seu resultado econômico. Com os dados obtidos nos cálculo volumétricos obteve-se
um VOIP de 4.324.522,65 m³ de óleo e com o Volume Recuperável de 1.297.356,79
m³ com o valor do barril a U$ 70,00 tem-se o valor estimado da reserva de U$ 570
milhões. A partir de agora o trabalho da geologia é passado para a engenharia de
reservatórios que estudará a melhor forma de se produzir este óleo.

Existem três tipos gerais de curvas de declínio, o declínio hiperbólico,


exponencial e harmônico. O primeiro, típico de reservatórios com mecanismo de gás
em solução, é o mais conservador, e será utilizado neste trabalho. Estes cálculos
serão feitos com a utilização de uma planilha do Excel, usando a seguinte equação
para a obtenção da vazão num determinado momento:

Q = Qi .e −α.t

que é a equação do de declínio exponencial para cálculo da vazão final e


tempo de vida do reservatório. Qi é a vazão inicial, α é a taxa de declínio e t é o
tempo decorrido. Para obter o declínio, utilizamos:

Qi − Q
α=
Np

Onde Np é a produção acumulada no final da vida do reservatório (ou seja, é


o volume recuperável ou reserva no início da vida do reservatório).

Na Figura 8 estão os valores da curva de produção com a vazão versus


tempo que mostra como se comporta o declínio. Considerando uma vazão inicial de
1400m3/d de óleo, o acentuado declínio faz com que este reservatório tenha uma
vida produtiva de 15 anos.
Vazão (m3/d)

1600,0

1400,0

1200,0

1000,0

800,0

600,0

400,0

200,0

0,0
0 5 10 15 20 25 30

Figura 8: gráfico de declínio com vazão (m³/d) x tempo (anos).

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos no exemplo apresentado foram satisfatórios para uma


acumulação de petróleo. Apesar de em casos reais serem utilizados muitos outros
métodos para a delimitação de reservatório e previsão de produção de um
reservatório de petróleo, não fogem muito a metodologia apresentada neste
trabalho.

Em relação à de Interpretação de perfis, constata-se que nenhum perfil


resolve o trabalho sendo utilizado sozinho. Eles sempre devem ser analisados com
as informações cruzadas.

Quanto às seções estruturais, como se trata de uma atividade interpretativa,


pode-se acrescentar que na prática a mesma correlação de perfis pode ser feita por
mais de um geólogo separadamente, e os dados finais normalmente divergem em
alguns pontos. Neste trabalho houve uma divergência sobre a existência de uma
falha entre os poços UNIT-1 e UNIT-4 e no final optou-se em desconsiderar esta
hipótese.

Portanto, a prática de vivências profissionais ainda na faculdade é de suma


importância para os acadêmicos, pois os mesmo já passam a ter contato direto com
o que os esperam ao concluírem o curso.

SOBRE OS AUTORES

Nininberg Nascimento Sales de Sousa é graduando (2011/1) em Tecnologia de


Petróleo e Gás pela Universidade Tiradentes e Técnico (2002/2) em Eletromecânica
pela CEFET-SE/UNED Lagarto. Tiago Nunes é graduando (2011/1) em Tecnologia
de Petróleo e Gás pela Universidade Tiradentes, Especialista em Educação
Ambiental (2009/1) pela Faculdade Atlântica e Licenciado (2007/2) em Geografia
pela Universidade Tiradentes. Overlan Santos Andrade é graduando (2011/1) em
Tecnologia de Petróleo e Gás pela Universidade Tiradentes. Alexandre Santos Mota
é graduando (2011/1) em Tecnologia de Petróleo e Gás pela Universidade
Tiradentes. O presente trabalho foi originado a partir do estudo da disciplina
Geologia do Petróleo (2009/2), sob orientação do professor Cláudio Borba que é
geólogo formado pela UFPR, com mestrado em Geoengenharia pela Unicamp-SP e
doutorado em Geologia pela Unisinos-RS. Contato com os autores
imeiodoberg@hotmail.com (Nininberg), tiago_nsm@hotmail.com (Tiago),
overlan_81@hotmail.com (Overlan), alexandremariaclara@yahoo.com.br (Alexandre),
clborba@uol.com.br (Borba).

REFERÊNCIAS
ASQUITH, G. B. & GIBSON, C. R. Basic Well Log Analysis for Geologist, The
American Association of Petroleum Geologist, Tulsa – Oklahoma USA, 1982.

BORBA, C. Geologia do Petróleo, Notas de aula, 2° edição, Aracaju – SE, 2009.

DIKKERS, A. J. Geology in Petroleum Production, Elsevier Science Publishers,


Amsterdan – Holanda, 1985.

NASCIMENTO, E.S. e BORBA, C. Metodologia de análise exploratória de uma


área petrolífera: da sísmica ao projeto de poço de um poço. Cadernos de
graduação, UNIT, 2010 (em preparação).
THOMAS, J. E. Fundamentos de Engenharia de Petróleo, Editora Interciência, Rio
de Janeiro - RJ, 2001.

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